CORRESPONDENTES DO KIMBO
Do Nosso embaixador do Kacuacu
Esta noticia passou-me ao lado mas, a tal Ilha existe! ( O Soba T´Chi...)
A ultima novidade do Governo socialista do senhor presidente do Conselho é uma coisa chamada Fundação para as Comunicações Móveis.
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
O Soba da Catumbela domestica jacarés
Li no jornaldeangola.sapo.ao que o Soba da Catumbela, autoridade tradicional de nome Augusto Raul, também conhecido por Cambéu, tem lá em casa no Bairro do Chiulo I dois jacarés domesticados.
O Soba Augusto têm quatro mulheres, 28 filhos e os ditos jacarés com mais de dois metros; estes estão em um aquário improvisado aonde aprendem a ser civilizados, segundo diz.
Augusto disse que os jacarés actuais do rio Catumbela não atacam pessoas ao contrário dos jacarés de outros rios e disse mais:
- "O maior problema é quando o dono do jacaré morre; o bicho fica furioso atacando à toa e, principalmente aos que não são da terra. O jacaré não gosta de óbitos, mesmo que tenha muita comida e bebida".
Mostrou as mulheres a lavar roupa no rio com crianças a nadar com jacarés ao lado ou a apanharem sol na margem e, disse: - "Isto só é possivel dado ao poder que nos foi transmitido pelos nossos mais-velhos. É mesmo um poder de outro mundo".
- Estes jacarés estão como na escola; estou a ensiná-los a viver connosco e também a ensinar as crianças a lidar com eles, os bichos.
Augusto escapou um pouco do segredo do seu sucesso ao dizer que prepara raizes de 40 arvores diferentes, junta mais uns milongos que não .especificou e dá-lhes a comer com 3 quilos de carne. Isto repete-se de três em três meses.
Alguêm mostrou espanto!
- Não há razão para muito espanto; nós aqui tratamos e ensinamos jacarés mas, há outros sítios lá no mato aonde as pessoas ensinam os leões a conviver com eles.
- Aqui, eu mesmo cuido da comunidade, na saúde e "comportamentos desviantes" e mambos do espírito. O mais difícil mesmo é resolver os problemas de ciúme; as meninas de agora têm muitos mujimbos e são os mais-velhos que têm de os resolver.
Augusto Raul, só não acredita que um jacaré possa voar, pois nunca viu nenhum mas, muita gente diz que é verdade.
Preocupado. Augusto foi dizendo que está difícil passar o testemunho; os mais jovens recusam aceitar o poder dos nossos ancestrais. Assim, os jacaré, no futuro, não vão querer continuar amigos. As pessoas arriscam-se a ficar sem pernas ou a vida, porque não querem aprender a lidar com o mau humor dos bichos.
Esta crónica serve para mostrar que estamos no fim da História oral que caracterizou os povos de África. As crenças e superstições dos mais-velhos passam para as bibliotecas ou NET. Angola entra rápidamente para essa nova era.
O Soba T´Cingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
Menssagem da kianda Pieter
Já começaram a chegar peregrinos à festa religiosa da Mamã Muxima com início a quatro de Setembo de 2009.
A missa solene de abertura irá ser celebrada pelo núncio apostólico em Angola, D. Angelo Beccio. Dia cinco de Setembro a missa terá o reitor do Santuário de Fátima, padre Virgílio Antunes na celebração. O encerramento das festas está ao cuidado de D. António Jaca, Bispo da arquidiocese de Caxito.
Muxima, um local de quase quatro séculos de devoção de fieis católicos, continua a atrair centenas de milhar de peregrinos; este ano deve receber mais de 150 mil fieis .
A primeira peregrinação a Muxima, aconteceu em 1650 quando se repôs a imagem da santa no altar-mor de uma capela de pau-a-pique que o Kwanza engoliu numa de suas cheias. Os Holandêses flamengos aqui conhecidos por Mafulos, adversos à religiosidade, tinham sido expulsos de Angola por Salvador Correia de Sá e Benevides (ver crónicas anteriores).
A kianda, Januário Pieter de Cabo Ledo, enviou-me uma menssagem a recordar este acontecimento e, fiquei sem saber se ainda se encontra em Cádiz da Espanha ou se, se transladou por algum tempo para o seu Kwanza; isto porque tenho um encontro marcado em Granáda, no lugar de Alhambra (um tempo que já passou, mas não foi feito letra).
A porta aberta com o passado, encontro do presente e sonhos que se baralham, não têm ordem cronológica; não é de admirar que a escrita dos encontros tenha um capricho louco de andar á frente dos acontecimentos.
Não importa, kianda é livre de andar no tempo e, neste momento, recorda-me a Muxima cujo reitor se chama de Januário Bernardo, talvez um seu conterrâneo ou um primo de gerações passadas.
Mamã Muxima está sempre de braços abertos dando "graças, paz e proteção divina" disse Januário Bernardo.
Muxima, Cabo Ledo, Massangano, Sangano, Calumbo, Bom Jesus e todo o Bengo vai estar em festa.
As Kiandas de Toledo decerto não faltarão; as boas e de muito "Suco", como "Simbi" e sua comitiva de "Mutakalombos", os Mwana-Pwós e toda a comunidade Kalunga.
Muxima,... um dos lugares misticos de àfrica. Um verdadeiro "Pambu N´Jila".
O Soba T´Chingange
CORRESPONDENTES DO KIMBO
A PRETO E BRANCO
Discurso de defesa de Michael Richards em tribunal: Orgulho
Michael Richards conhecido como Kramer da série televisiva Seinfeld, levantou um bom problema. O que se segue é o seu discurso de defesa em orgulho de ser BRANCO
No tribunal depois de ter feito alguns comentários raciais na sua peça, uma comédia. Ele levanta alguns pontos muito interessantes.
Orgulho em ser Branco. Finalmente alguém diz isto.
Quantas pessoas estão actualmente a prestar atenção a isto? Existem Afro-Americanos, Americanos Hispânicos, Americanos Asiáticos,Americanos Árabes, etc.
E depois, há os apenas Americanos.
Vocês passam por mim na rua e mostram arrogância. Chamam-me "White boy", "Cracker", "Honkey", "Whitey", "Caveman" e... está tudo bem. Mas quando eu vos chamo Nigger, Kike, Towel head, Sand-nigger, Camel Jockey, Beaner, Gook, or Chink, vocês chamam-me racista. Quando vocês dizem que os Brancos cometem muita violência contra vocês, então porque razão os ghettos são os sítios mais perigosos para se viver?
Vocês têm o United Negro College Fund.
Vocês têm o Martin Luther King Day.
Vocês têm Black History Month.
Vocês têm o Cesar Chavez Day.
Vocês têm o Yom Hashoah.
Vocês têm o Ma'uled Al-Nabi.
Vocês têm o NAACP.
Vocês têm o BET [Black Entertainment Television] (tradução: Televisão
de Entretenimento para pretos)
Se nós tivéssemos o WET [White Entertainment Television] seriamos racistas.
Se nós tivéssemos o Dia do Orgulho Branco, vocês chamar-nos-iam racistas. Se tivéssemos o mês da História Branca, éramos logo taxados de racistas.
Se tivéssemos alguma organização para ajudar apenas Brancos a andarem com a sua vida para frente, éramos logo racistas.
Existem actualmente a Hispanic Chamber of Commerce, a Black Chamber of Commerce e nós apenas temos a Chamber of Commerce.
Quem paga por isto?
Uma mulher Branca não pode ser a Miss Black American, mas qualquer mulher de outra cor pode ser a Miss America.
Se nós tivéssemos bolsas direccionadas apenas para estudantes Brancos, éramos logo chamados de racistas.
Existem por todos os EUA cerca de 60 colégios para Negros. Se nós tivéssemos colégios para Brancos seria considerado um colégio racista..
Os pretos têm marchas pela sua raça e pelos seus direitos civis, como a Million Man March. Se nós fizéssemos uma marcha pela nossa Raça e pelos nossos direitos seriamos logo apelidados de racistas.
Vocês têm orgulho em ser pretos, castanhos, amarelos ou laranja, e não têm medo de o demonstrar publicamente. Mas se nós dissermos que temos "Orgulho Branco", vocês iriam chamam-nos de racistas.
Vocês roubam-nos, fazem-nos carjack, disparam sobre nós. Mas, quando um oficial da policia Branco dispara contra um preto de um gang ou pára um traficante de droga preto que era um fora-da-lei e um perigo para a sociedade, vocês chamam-no racista.
Eu tenho orgulho.
Mas vocês chamam-me racista.
Do noss Embaixador do Kacuacu e Soba honoraário da Catumbela
Transcrito pelo Soba T´Chingange
do Rei Grafanil I
Deixem que vos mostre a minha terra,
na sua imensidão, na sua grandeza,
na espectacularidade impar da beleza
da vida sã e primitiva que ela encerra...
Vejam como é belo ali viver,
naquele meio puro e selvagem,
na maravilha daquela paisagem
razão do meu orgulho de lá nascer
Eis o porquê desse saudosismo
que não conseguem compreender
e sempre usam para nos ofender...
Nós que, afinal, sem perder o lusismo
que tanto existe no vosso como no nosso ser,
filhos de África somos. Nunca deverão esquecer...
Rei do Grafanil (extraído)
Quantos herdeiros de Viriato
das fráguas beirãs paridos
terão tantos dias sofridos
pela saudade do mato,
da anhara e do leão,
da pacaça e do capim
como eu, pobre de mim,
que sonho c'o meu sertão?
UM KANDANDU INENE PARA o soba
CORRESPONDENTES DO KIMBO
Do NOSSO Embaixador do Kakuacu e Soba honorário da Catumbela
DE ANGOLA PARA O PUTO
Custa a acreditar, as normas para aquisição de bens são iguais em todo
lado: Estão definidas por LEI.
No entanto para salvaguarda bo Bom Nome de Instituições e de Pessoas,
seria bom que se investigasse, até porque estas notícias circulam e
rarmente as pessoas têm possibilidade de se defenderem....
Alguém conhece alguém a quem isto chegue e esclareça???????????????
Não acredito nisto....
O Tribunal de Contas ou outro orgão similar não supervisiona estas contas?
Ou não haverá nenhum serviço que o faça? Porque isto passa-sea nível da
Administração Local.
Dinheiro Público
a SEM vergonha pública
Administração Regional de Saúde do Alentejo, I. P. - Aquisição de:1
armário persiana; 2 mesas de computador; 3 cadeiras c/rodízios, braços
e costas altas: 97.560,00€
Eu não sei a quanto está o metro cúbico de material de escritório mas
ou estes armários/mesas/cadeiras são de ouro sólido ou então não estou
a ver onde é que 6 peças de mobiliário de escritório custam quase 100 000€.
Alguém me elucida sobre esta questão?
Matosinhos Habit - MH - Reparação de porta de entrada do edifício: 142.320,00 €
Alguém sabe de que é feita esta porta que custa mais do que a minha casa?
Universidade do Algarve - Escola Superior de Tecnologia - Projecto
Tempus - Viagem aérea Faro/Zagreb e regresso a Faro, para 1 pessoas no
período de 3 a 6 de Dezembro de 2008: 33.745,00 €
Segundo o site da TAP a viagem mais cara que se encontra entre
Faro-Zagreb-Faro em executiva é de cerca de 1700€. Dá uma pequena
diferença de 32 000 €. Como é que é possível???
Município de Lagoa - 6 Kit de mala Piaggio Fly para as motorizadas do
sector de àguas: 106.596,00 €
Pelo vistos fazer um "Pimp My Ride" nas motorizadas do Município de
Lagoa fica carote!!
Município de Ílhavo - Fornecimento de 3 Computadores, 1 impressora de
talões, 9 fones, 2 leitores opticos: 380.666,00 €
Estes computadores devem ser mesmo especiais para terem custado cerca
de 100 000€ cada...Já para não falar nos restantes acessórios.
Município de Lagoa - Aquisição de fardamento para a fiscalização
municipal: 391.970,00€
Eu não sei o que a Polícia Municipal de Lagoa veste, mas pelos vistos
deve ser Haute-Couture.
Câmara Municipal de Loures - VINHO TINTO E BRANCO: 652.300,00 €
Alguém me explica porque é que a Câmara Municipal de Loures precisa de
mais de meio milhão de Euros em Vinho Tinto e Branco????
Municipio de Vale de Cambra - AQUISIÇÃO DE VIATURA LIGEIRO DE
MERCADORIAS: 1.236.000,00 €
Neste contrato ficamos a saber que uma viatura ligeira de mercadorias
da Renault custa cerca de 1 milhão de Euros. Impressionante.
Câmara Municipal de Sines - Aluguer de tenda para inauguração do Museu
do Castelo de Sines: 1.236.500,00 €
É interessante perceber que uma tenda custa mais ou menos o mesmo que
um ligeiro de mercadorias da Renault. E eu que estava a ser tão
injusto com o município de Vale de Cambra.
Municipio de Vale de Cambra - AQUISIÇÃO DE VIATURA DE
16 LUGARES PARA TRANSPORTE DE CRIANÇAS: 2.922.000,00 €
E mais uma pérola do Município de Vale de Cambra: uma viatura de 16
lugares para transportar crianças custa cerca de 3 milhões de Euros.
I-M-P-R-E-S-S-I-O-N-A-N-T-E!!!!
Só para terem um termo de comparação vejam este contrato público
realizado pelo Município de Ribeira de Pena que ficou um pouquinho
mais em conta e aparentemente para uma viatura melhor.
Município de Beja - Fornecimento de 1 fotocopiadora, "Multifuncional
do tipo IRC3080I", para a Divisão de Obras Municipais: 6.572.983,00 €
Este contrato público é um dos mais vergonhosos que se encontra neste
site. Uma fotocopiadora que custa normalmente 7,698.42€ foi comprada
por mais de 6,5 milhões de Euros. E ninguém vai
preso por merdas como esta?
Agência para a ModernizaçãoAdministrativa, IP - Renovação do
Licenciamento de software Microsoft: 14.360.063,00 €
Não admira que a Microsoft goste tanto de Portugal. Mais de 14 milhões
de Euros em licenças...
O CHATO DO CHIÇA
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
TOLEDO . 2009
BLOGS DE ANGOLA
Pambu N´gila nesta crónica, corresponde ao espaço fisico de Toledo ligando este à mistica das kiandas de Angola; uma ponte entre os seres humanos e o Minkisi, senhor dos caminhos que guardam os portões da nossa casa, do nosso espaço e neste caso os muitos portões de Toledo tais como “La puerta del Sol” ou a ”del Cambron” ou ainda “ La puerta nueva de Bisagra”.
Minkisi, ocorre e corre com fluidez, tem o saber do ontem, do hoje e do amanhã.
Esta cidade mística, guarda segredos que não estão escritos. Gozar a cidade e património, não é folhear a história e ler um capítulo porque toda ela é história. Nela refresca-se a memória num rendilhado gerado de culturas diversas, encruzilhada de raças e encontro de feitiços e feiticeiros que dominam silêncios desconhecidos. Kalungas longinquas de musas e gente de arte feitas pó, impregnadas de muito suko.
Paira no ar um feitiço de aço temperado e manobrado pr um N´Kondi que espalha pregos feitos germes comedores de carne, pedra e pau.
N´Kondi de N´Gola, N´kosi de Imbinda e um cortejo de muitos Bandokis foram ao concílio de 1583 à revelia de todos os outros espíritos convidados, embaixadores das kiandas das kalungas e seus mutakalombos.
Os espíritos do mal N´Kondi e N´kosi ficaram desapontados por D. Filipe II não os ter convidados formalmente; os astrólogos do rei desaconcelharam-no a fazer mistura entre mitológicas Ninfas e Nereidas conceituadas.
N´Kondi, o manobrador de pregos ficou encantado com as novas técnicas dum metal chamado de aço e do qual se faziam coisas pontiagudas, espadas, facas cujas folhas nunca perdiam o fio de corte. Era esse o metal durável que tanto buscava para fazer suas maldades aos homens. Os pregos de cobre e aluminio espetados no boneco fetiche Kozo, tinham bons efeitos mas não eram totalmente eficázes; os de ferro rápidamente oxidavam e, quando sugeitos a rezas de Simbis perdiam o efeito desejado.
N´Kondi e sua comitiva ajustou-se no alto da montanha numa dependência de cave de Alcazar, e de fundição em fundição com expertos na arte de tempera e espias de Damasco tornaram aquelas armas brancas nas mais eficázes em toda a Terra.
As técnicas apuradas no trato do aço ali, em Toledo já vinham da idade média; N´kondis ancestrais a pedido de Simbas também antigos, num tempo mais recuado chamado na Ibéria de Época medieval tinham trazido dedos de N´Zambi para retemperarem na dureza o tal aço batido, esfriado e de novo batido; tratava-se de pequenas pedras de meteorito trazidas das terras do fim-do-mundo, do Kwanhama e mais para lá da Ovobolandia, terras de oshakati e okaukuejo no reino dos Himbas.
Em toledo, eu o Soba T´Chingange, não resisti à mistica, comprei uma destas facas.
Como N´kondi e seus Bandokis ainda andam por Toledo feitos bactérias passo a descrever em síntese o poder de magia que estes ainda exercem:
- Usam um boneco fetiche feito de pequenas conchas coladas com resina natural com dois espelhos receptores de encomendas mágicas, um na barriga, outro no topo da cabeça, coberto com uma pele de cobra. Na mão direita carrega uma lança de pedra tipo ónix mostrando a gressividade no seu carácter. O boneco, todo ele, é encrustado de várias substâncias usadas durante as cerimónias em que os pacientes contam as suas estórias de infelicidade evocando a vingança que desejam infligir ao suposto culpado.
- A vingança é feita espetando o prego num determinado sítio do corpo do fetiche.
- O N´Kondi também recorre ao imbondeiro chamado de N´kondo Ikuta M´vunbi espetando nele o prego; assim a vítima morrerá inhada como a árvore garrafa, o baobá.
- O descrito prego de aço é o mais eficaz pois nele tem impregnado todo o mal dos homens.
N´Kondi quando das várias permanências nos aposentos subterrâneos de Alcazar foi consultado pela infortunada esposa de D. Pedro I “El cruel”, rainha Dona Branca ali presa. Vários bonecos fetiches de N´Kondi N´Gola ainda podem ser vistos graças ao meu antepassado Soba Aragonês Romero Ortiz.
Tudo isto é tão verdadeiro que até parece mentira, mas não é! Deus N´Zambi, dá-nos força para seguir, “ N´Zambi a tu bane n´guzu mu kukaiela!”
GLOSSÁRIO: Todas as palavras em cõr azul
Kianda: - Espírito das águas na forma de sereia, ritos de Angola; Mutakalombo: - Espírito das águas com incidência nos animais que nela vivem, divindade das águas; N´Gola: - Palavra bantu que quer dizer Angola; Simbi: - Espíritos ancestrais saídos do Kikongo com dois firmamentos, céu o lugar de deuses e terra, domínio dos mortais, na hierarquia espiritual são os avôs dos vivos; Suko: - Pessoa prodigiosa ou alucinada; (lêr crónicas anteriores...)
Da n´nhaka do
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
Salaam Aleikum . 2009
Há dois mil anos atrás Marco Fulvio comandando as legiões Romanas conquistou a cidade de Toledo. O mesmo rio que então a contornava, o Tejo, continua correndo sendo atravessado pela ponte pela qual pasam os peregrinos que se dirigem a Santiago; Trata-se da ponte de San Martin do Caminho de Alicante.
Este sítio de Toledo estava destinado ao gozo de férias de verão das ninfas do rio Tejo (Tajo). Aqui, a partir de 1580, os espíritos instigados por “El Greco” recordam momentos épicos na companhia dos novos membros da Kianda e Mutakalombo; estes, cheios de notícias frescas dos mares de N´Gola em África, conferenciavam com sereias, nereidas e musas tomando aqui, todos, o nome de tágides (rio Tajo).
Cantando, à gente nossa, gente vossa, que a Marte tanto ajuda, refrescavam-se nas águas com cantos de Camões recordando o deus da guerra, filho de Juno e de Júpiter guardião dos exércitos troianos.
As tágides, conciliavam-se aqui com a vida espiritual, trocavam esperiências com as novas tendências da Globália, reciclando-se em congressos de cristandade ouvindo Simbi e N´kuuyu. Aquele lugar ficava um Pambu N´jila como se estivessem na Mazenga, a ilha do descanso, sombras de casuarinas e coqueiros. O exotismo dos trópicos espalmava-se ali, na Mancha de Cervantes.
O maneta Manuel de Cervantes y Saavedra autor da obra “Dom Quixote” desencantado com a guerra e as gentes, lutava com moinhos na vasta planície de “
Nesta rota peregrina, cruzando o caminho de Alicante imaginei Sancho Pança apaziguando seu amo dum ímpeto destemperado com moinhos de vento ridicularizando herois da fancaria. Foi a partir daqui que se organizaram cursos de deformação (algumas grotescas), fantasias de mordáz parodia e ironia na escrita e cores com longos rostos na pintura contrapondo aquilo que se passou a designar de burlesco.
Pude admirar nesta terra de Aragão um admirável quadro de “El Greco”, em que as tágides ou Kiandas se contorcem em risos aéreos, vendo-se em fundo a cidade de Toledo, a “puente de San Martin” sobre o rio “Tajo” e, um arco iris assinalando o local daquela reunião de espíritos.
É este um asunto deveras interessante a contar ao mulato ressequido Januário Pieter pois que estão ali também as Kiandas da Mazenga, dois negros Mutalos com grilhos presos a bolas pesadas e escuras que os alongava como que puxando-os para a terra, e, nos pescoços, umas barras redondas de ferro contornando-os por detrás de umas orelhas aladas amarrando-os às nuvens de Toledo; são escravos pela certa.
Ainda tinha na retina a imagem dum negro com semblante mussulmano que comigo cruzou em um lugar de nome “Bargas”. Este jovem senhor que se dirigia a terras de África através de Algeciras, tirou as meias, lavou os pés e, descalço refugiou-se numa sombra de alfarrobeira mais distânciada; estendeu a sua jaqueta no solo, ajoelhou-se colocando suas mãos sobre esta, baixou sua cabeça até tocar o solo por várias vezes orientando-a para um determinado ponto. Era a sua Meca distante com Kiandas diferentes, O seu Pambu N´jila.
Aquele mussulmano, ao passar por mim, riu-se em cumprimento, fêz uma suave vênia de uma simpatia diferênciada, cumprimentando-me: - Salaam Salaam.
Eu, era um preveligiado. Ele, um mustafá, viu em mim a aura de Pieter, talvez, a Kalunga N´Gombe, o “ Sangue de cristo”, o mesmo Cristo.
Eu, respondi . - Salaam Aleikum.
GLOSSÁRIO. Todas as palavras em cõr azul:
Salaam Aleikum: - da fé islâmica, fique na paz de deus, que a paz esteja convosco; Kianda: - Espírito das águas na forma de sereia, ritos de Angola; Mutakalombo: - Espírito das águas com incidência nos animais que nela vivem, divindade das águas; N´Gola: - Palavra bantu que quer dizer Angola; Marte: - Deus da guerra na mitologia Romana, filho de Juno e Júpiter, amou Vénus de forma adultera pois esta era mulher de Vulcano, foram presos por uma rede por Vulcano, tiveram um filho de nome Cúpido, o amor prendeu-os na eternidade; Simbi: - Espíritos ancestrais saídos do Kikongo com dois firmamentos, céu o lugar de deuses e terra, domínio dos mortais, na hierarquia espiritual são os avôs dos vivos; Nkuuyu: - são os espíritos pais dos vivos; Pambu N´jila: - Espaço místico, agente de ligação entre o espaço físico e místico, Elo que liga os seres aos Minkisi , os elementos fogo, água, ar e terra; Mazenga. - Ilha das cabras, Ilha dos loandos, ilha dos N´zimbos ou Ilha de Luanda, aqui, não é uma Provincia da Lunda; Suko: - Pessoa prodigiosa ou alucinada; Mutalo: - espírito de morto por feiticeiro sem ordem de N´zambi; Kalunga / Calunga N´Gombe : - divindade abstracta podendo ter a forma humana que preside ao reino dos mortos, em Umbundo é um Deus, em Kimbundo é o mar, sereia na forma de homem musculoso tipo o Adamastor dos Lusiadas, quando alguém é levado pelo mar ou pela Kalunga faz Uafu (morreu nas águas), é uma jura de última instância apelando a kalunga; Kozo: - Objecto que invoca um ou mais espíritos.
Da n´nhaka do
Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
Operação Carlota
Pieter falou e eu, anotei desordenadamente:
- Carlos Fabião, o general vermelho designado para lidar com o PAIGC e Flávio Bravo, membro do bureau político de Cuba, em Julho de 1975, encontram-se com Agostinho Neto no Congo Brazaville aonde acordam os pormenores da participação Cubana na Operação Carlota e que ficou conhecida como a Batalha de Luanda.
Entre Maio e Junho Fidel de Castro inicia a concentração de unidades em Cabinda e em Julho, acelera a infiltração de seus legionários em Angola, jovens da Academia Militar de “Ceiba del Água”. Castro pede ao Coronel Saraiva de Carvalho mais recursos para o MPLA e condições de infiltração em Angola em sítios estratégicos ao redor de Luanda. Assim, a partir de 26 de Julho de 1975, começam a chegar ao Ambriz
Esta complexa Operação Carlota, consistia em assistir ao MPLA a fim de tomar a liderança na tomada de Angola, formando uma ponte entre Cuba e Angola. Tropas e material eram embarcadas em velhos aviões Britannia na base de Holguim, a ocidente de Cuba; estes aviões faziam escala em Barbados no aeroporto de Bridgetown.
A intervenção Cubana em Angola, nos inícios de 1975, não foi uma reacção à invasão Sul-Africana; isto é posteriormente afirmado pelo General Cubano Rafael Del Pino.
Este relato foram apontamentos que tirei à pressa da conversa com Januário Pieter e recordo que lhe tirei o rumo da conversa quando o interrompi ao perguntar como é que foi desmantelada a força da FNLA e a isto, responde-me:
- Diaz Arguelles responde às forças de Holdem Roberto com a artilharia reactiva de 122mm (misseis) e, a partir de cinco de Novembro, 650 tropas especiais de artilharia às ordens do General Pascual Martinez Gil, chegam durante 13 dias ao aeroporto de Luanda directamente de Havana.
- Migs 21, saidos do antigo Aeroporto Craveiro Lopes à guarda dos Tugas, picam sobre as forças de Holden Roberto além Kifangondo, chassinando-os,... um massacre,... morreram como coelhos.
- Meu kota T´Chingange,se queres saber mais pormenores, tens de falar com gente de Calumbo, Bom Jesus, Catete e claro da Praia do Sangano
Amigo Pieter esqueci-me de algo. E,...Cabinda!
- Cabinda? Não sei se poderei chegar até lá. Sou já muito velho!
(Termina a versão Cabo Ledo)
O soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
A KIANDA PIETER FALOU DA GAZOSA
MUKANDAS DO MONTE
A tarde estendeu-se no escuro da noite envolvendo a azafama duma multidão ávida de frescura naquela “Plaza Mayor“ de Burgos. Ao longo deste espaço fomos comendo tapas de “boquerón” e argolas fritas de “calamares” regadas com cerveja “Dom Pepe”.
Estava desejoso que o rumo da conversa versasse coisas mais recentes e, por isso perguntei a Pieter o que é que ele pensava da nova corrida para Angola independentemente do fenómeno da crise, ao qual me respondeu com ternura:
- Tchingange, meu amigo, agora que nos conhecemos melhor, tenho a dizêr-te o que já para ti não é novidade; Há em Angola muitas riquezas por explorar mas, o petróleo já jorra pelo tubo ladão e é isto que torna a vivência social diferente do último estágio colonial.
Pieter tinha agora um falar rico, curioso notar que o linguajar dele, aos poucos, foi-se tornando coerente e até erudito nas conclusões; talvês fruto da ávida atenção que eu inalava naquelas conversas.
A kianda Pieter, foi falando:
- Os Angolanos ricos de agora, os novos empresárioe, mancomunados com os políticos acomodados, são borjeços, enfatuados, pedantes e, só falam do kumbu, da gasosa, da percentagem. A primeira reação a um negócio é, “quanto me toca”. Os corruptos adoram esta postura e levam-lhes caramelos na forma de “gasosa”: Jeepes esfumados de tecnologia de ponta com GPS acoplado, charutos “Cohiba e Romeo e Julieta”, uma casa de veraneio no Mussulo ou oferta de uma piscina para o seu resort na margem duma lagoa ou rio. Espaços de muitos hectares descolonizados, apropriados com direitos especiais da nomenclatura do poder, vastas zonas unindo rios.
A kianda Pieter foi falando:
- Mudaram de penico mas a merda fede na mesma.
A emancipação, tem desta coisas, disse eu contemporizando com a nova onda de retornados, refugiados ou urubus da retoma.
Tentei levar a conversa para o “Muquitixe”, falar das terras mesmo que abandonadas, esperando chuva, as gentes, charruas e governantes competentes.
Naquele recente quinze de Julho longo, despedimo-nos. Ele, a kianda, seguia para Cádiz, Puerto de Santa Maria e eu, iria ficar em terras de “ Castilla-La Mancha”, na cidade de Toledo.
Combinamos um encontro para dias mais tarde em Granada, mais propriamente em Alhambra e, talvez aí podessemos pôr os assuntos em dia e saber dos seus antepassados feitos em pó.
Taciturno, com um peso no coração despedi-me de Pieter; era um previlégiado têr agora um amigo com 384 anos.
O Soba T´chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
PLAZA MAYOR DE BURGOS, 15 DE JULHO DE 2009
Já a tarde se fazia noite quando eu e Januário Pieter nos voltamos a encontrar; sentados a uma esplanada daquela grandiosa “Plaza Mayor” ouvi Pieter descrever os episódios do museu do Louvre e as recentes descobertas feitas na sacristia do “Monastério de Cartuja”, um seu tio que seguindo as pisadas de seu pai Lestienne, quase quatrocentos anos atrás, rumou até Cádis e no Puerto de Santa Maria embarcou à descoberta das Américas. Esta estória absorvente será fruto de uma posterior descrição, agora, não resisto descrever o que me foi dito em outros acontecimentos recentes ocorridos na sua terra natal de Cabo Ledo.
Quando falou da batalha de Luanda em 1975, dei um pulo!...
Que é que esta Kianda de trezentos e oitenta e quatro anos sabia das artimanhas do glorioso PREC, Processo de Revolução em Curso tão recente, e tão bem escondido das pessoas ideológicamente crentes.
A verdade é como o azeite, vem à tona de água com o tempo; as memórias que antes eram mugimbos, tornam-se agora verdadeiras. Podia escrever-se um livro com judiarias ainda não reveladas mas esta tarefa, cabe a escritores ou mercenários da escrita que antes foram guerrilheiros ou fazedores de mambos que alteraram o rumo à história; estou agora a lembrar-me entre outros, de Pepetela ou Tchiweka, o homem segredo conhecido por Lúcio Lara, o grande ajudante em campo do Vermelho Rosa Coutinho que chegou a Almirante.
Rosa Coutinho marinheiro, foi o oficial de aviário mais verdadeiro na história recente dos Tugas pois que teve o seu início numa gaiola. Em verdade, foi Holden Roberto como patrulheiro da fronteira do Zaire que fez passear em jaula como um macaco, o Vermelho General.
Como já disse, as aventuras não têm tempo, não têm principio nem fim, são uma permanente descoberta de novos pedaços de infinito.
E, Pieter descreve:
- Por entre os cactos das barrocas, entre a bruma da maresia e clareando, vi centenas de gente militar percorrer o areal, reunir apetrechos de guerra, subir para carros do tipo unimog e galgarem a montanha da costa a caminho do quartel, uns galpões construidos lado a lado e que seriam as primeiras casernas daquela gente que vim a saber pouco depois serem Cubanos. Estávamos em fins de Julho do ano de mil novecentos e setenta e cinco.
Mas, interrompo: - Os Cubanos, pelo que consta, só a cinco de Outubro desse ano é que chegaram a Angola. Foi o que sempre disseram quanto à ajuda pela União Soviética atravês de Cuba.
- Pois,(...) vocês souberam o que Rosa coutinho queria que soubessem. Foi na praia de Sangano um pouco a norte de Cabo Ledo que desembarcaram os primeiros homens comandados pelo General Raul Diaz Arqueles. Ali descarregaram os primeiros complexos móveis de defesa anti-aérea “Strela”; os instrutores deste equipamento sofisticado estava a ser coordenado pelo Coronel Trofimenko que a partir da Republica do Congo Brazaville eram enviados numa primeira fase em aviões mais pequenos para a pista de aviação da Kissama
- Tudo o descrito só é possivel a partir da chegada a Luanda do Vermelhão Rosa como Presidente da Junta Governativa de Angola precisamente em Julho de 1975.
-Estava tudo traçado, continua Januário Peter. Rosa Coutinho, tempos antes como Alto Comissário escreve uma carta timbrada do antigo Gabinete do Governo Geral de Angola a Agostinho Neto, presidente do MPLA nos seguintes termos:
“ Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do processo: Aterrorizar por todos os meios os brancos, matando, pilhando, e incêndiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede crueis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos,...”
Carta datada a 22 de Dezembro de 1974, terminando com saudações revolucionárias, a vitória é certa, seguindo-se a assinatura, Alves Rosa Coutinho, Vice-Almirante.
Recorde-se que a tropa Tuga, foi proibida de entrar nos musseques a fim de proporcionar “O poder popular” , simultâneamente retirando as armas em posse dos brancos.
Há muitos buracos por preencher. Lúcio Lara, o “Tchiweka”, já pode desvendá-los, antes que se deturpem.
O relactor desta estória viveu algumas destas épocas e confirma. O medo tomou conta de todos com ajuda da FUA, acrescento eu para a Kianda do Cabo Ledo.
Continua,...
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
O CAMINHO FRANCÊS
Os empecilhos históricos do tal lusco-fusco das invasões barbaras e lutas dos visigodos fizeram com que se perdesse a localização do sepulcro até ao primeiro terço do século IX. A partir de então, o passo de milhões de peregrinos, movidos pela fé, passaram a dirigir-se a Compostela e, a partir de todos os países europeus. Este acontecido serviu como início de todo o desenvolvimento social, artístico e económico que deixou suas marcas ao longo dos vários caminhos de Santiago. Recordar que só na cidade de Burgos de então, havia mais de trinta hospitais-albergues para acudir aos caminhantes. Havia assaltantes que tiveram de ser retaliados pela nova ordem dos templários, a polícia mais temerosa de então.
Mas, o Caminho, não é só um resto arqueológico desse esplêndido passado; é em verdade um caminho vivo, enovado hoje pelo passo de novos peregrinos que revivem no início do século XXI uma história que é património da Humanidade.
A 25 de Julho do ano 2010, um domingo, de novo se abrirá a porta do Jacobeo; aquela que só se abre em anos de jubileu. 2010, será o ano Santo de Compostela que destina aos caminhantes uma série de graças e bençãos especiais. È o ano do “Jacobeo”.
Peregrinar a Santiago ao modo tradicional não é simplesmente fazer um percurso turístico, ou desportivo, ir a pé ou bicicleta ou mesmo a cavalo, é isso sim, um percurso com a vida colada á mãe natureza. È tudo isso e muito mais, um encontro com as raízes, um encontro com a transcendência, um mistério de nascer , viver e morrer na espiritualidade.
Mas, em todo o lado há sempre um simbolo a seguir, assim se queira. Os Angolanos têm uma Muxima. Foi Pieter que me fez refletir nessa vontade, conhecermos o passado para entender a nossa própria existência.
Se a 25 de Julho do próximo ano não for a Compostela quero estar em Muxima, fazer o percurso com início em Cabo Ledo. Vamos fazer uma ponte ao passado, reconciliar conceitos e construir um arco Iris de amor ao próximo.
Glossário
banga – estilo do kaluanda, calcinha; kota – mais velho, idoso; kazucuteiro – dança, bandalheiro, dado a embustes; curibota – manobrador de altos interesses, bem cotado em mexericos; haca! – exclamação por admiração, espanto em Umbundo (generalizado por toda a Angola); kinaxixe – mercado de Luanda (Património arquitectónico de raiz colonial, destruído recentemente); mambos – muxoxos, problemas, coisas de boatos; kamba - companheiro, camarada; candongueiro - taxista faz-de-conta, carrinha de caixa aberta que dá boleia a troco de gazosa, kumbú, dinheiro vivo;
O Soba T´Chingange
MIRAFLORES EM ESPANHA, 15 DE JULHO DE 2009
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
MIRAFLORES EM ESPANHA, 15 DE JULHO DE 2009
As aventuras não têm tempo, não têm principio nem fim, são uma permanente descoberta de novos pedaços de infinito.
Imaginando estórias de verdades multifacetadas no convívio da natureza, metaforizo o rigor de paradoxos e, às vezes translado-me como um alograma, quase sempre com kiandas viajando ao meu redor; apanhados de curibotas, mugimbos que dão carícias às pequenas coisas da vida.
Gente gira do mundo cósmico recorda-me lembranças batucadas, xingam mambos e lançam palpites que registo; algumas verdades parecem mentiras e o inverso também se verifica.
Desta vez o encontro entre mim e Januário Pieter não foi surpresa. Sentado na amurada do rio Arlazón, na quina da “Puente de Santa Maria” admirava o arco com o mesmo nome, uma das principais portas de entrada aos peregrinos que se dirigem a Santiago de Compostela.
Pieter apareceu vindo do “Paseo Espolón” ficando a admirar a figura de uma velha senhora em bronze assando castanhas à entrada daquele parque.
Pieter e eu, deslocamo-nos à “Plaza del Rei San Fernando” e tiramos uma foto ao lado do peregrino que ali se mantem indefinidamente sentado, bronzeado e segurando um cajado, uma cabaça e uma concha de vieira, símbolos de Compostela; por detrás de nós ficava a imponente catedral.
Pieter, falou-me de novo na visita que iria fazer a Cartuja de Santa Maria de Miraflores, não só para detectar vestígios de seu pai nos escritos da sacristia do monte, como também, para admirar a obra desse remoto primo Gil de Siloe.
Senti impaciência em Pieter e, sugeri-lhe que fosse pela fresca e em tempo, pois que o sacrista monge Bruno que o aguardava, deveria ser muito metódico e pontual como todo o bom monge.
Enquanto a Kianda Pieter seguia seu rumo, detive-me a admirar a catedral e pensar com meus botões no fenómeno dos Caminhos de Santiago; não resisto a descrever de forma simples de como surgiu.
Os homens sempre alimentaram mitos mas, este, carregado de vaga-lume e lusco-fusco e é assim:
- O monge Pelayo e o bispo Teodomiro após terem visto uma chuva de estrelas em terras de Galiza, souberam ambos, interpretar o significado e dirigindo-se para o lugar compreenderam que era ali, no sítio de Compostela, que se situava a tumba do apóstolo Santiago. Decorria o século IX quando esta chuva de estrelas estabeleceu as mais importantes rotas de peregrinação na Europa medieval.
Santiago “O Mayor”, foi um dos discípulos mais próximos a Jesus. Junto a Pedro e seu irmão João, os três estiveram junto a Cristo nos momentos mais importantes de sua vida. Santiago, no ano 44, morreu atravessado pela espada dum soldado às ordens de Herodes; este queria a todo o custo travar os ânimos dos Cristãos, que excessivamente, faziam afronta às suas ordens.
Os discípulos de Santiago, seguindo a tradição, recolheram o cadáver, puseram-no num caixão e navegaram em barca ao longo do Mediterrâneo e Atlântico até às terras Galegas aonde o apóstolo havia pregado e, aonde se lhe deu sepultura. Não foi fácil essa viagem e, quase ao chegar ao destino, tiveram um naufrágio junto à costa de Portugal, lugar que ficou sempre conhecido como Vieira do Minho.
A vieira, simboliza assim a salvação. O caixão com suas relíquias conseguiu salvar-se graças à ajuda de populares que com cordas e bois daquela região, puxaram os salvados para terra firme. Os bois de grandes cornos, foram a partir daí, abençoados como raça nobre.
Continua ...
O Soba T´Chingange
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O Pieter tomou conta de mim
Ufa!!! A kianda feito gente assombrada de nome Januário fazia-se aparecer vindo do nada. Refastelou-se no bote, andava eu ao longo do “Rio Loir” descobrindo Bonneval, um vilarejo no meio de vastas áreas de cultivo. Mais uma vez a adrenalina escorreu-me para os olhos, nas faces, nas pernas, abanando os sentidos da cagufa. Aquele surgimento, um quase relâmpago mexia comigo.
- Découvrez Bonneval en bateu, disse ele num fluído francês.
Após o susto do caraças e para desentorpecer o impacto, o mais velho que a Sé-de-Braga Pieter, dizendo recordar coisas recentes, num repentemente começou a cantar:
Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo,
O esplendor de Portugal.
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!
Fiquei embasbacado daquele cafuzo, feito branco pelo tempo com 384 anos cantar com todos os decibeis do seu timbre grosso o hino dum povo que nem era seu.
Sabes, disse ele: - Tenho um fraco pelos hinos porque enaltecem os revoltosos, o amor pela liberdade, a Marcelhesa e, repentinamente ficou de voz travada, emocionado, sentia-se no queixo repleto de branca barba. E eu, verdadeiramente quero mostrar-te a gratidão por me suportares.
Fiquei convencido que ele me considerava um Tuga mas, em realidade eu só me sentia cidadão do mundo. O meu hino é o cantar dos pássaros, a pega que palra, o cacarejar da galinha, o grasnar do pato, o grito da hiena, o urro do leão e um sem fim de seres mais o barulho das ondas; só pensei,... nada lhe disse.
No meio desta emoção descompassada, mal entendida, continuou:
- sabes, este hino foi provocado pelo ultimato de 1890 que os inglêses lançaram ao Puto quando estes queriam unir Angola a Moçambique fazendo o tal Mapa-Côr-de-Rosa; governava então D. Carlos de Bragança.
Tinha de ser,... Angola estava metida nisto. Aqui entendi melhor aonde o mais-velho queria chegar; era daqui que lhe vinha o ímpeto. E continuou:- recordo-me que uma onda de cólera percorria o Puto de Sul a Norte e, nesse periodo de emoções e ânimos mal contidos um tal Henrique Lopes de Mendonça foi procurado por um seu amigo Alfredo Keil. Este agita nas mãos uma pauta de música: era uma marcha própria para que a alma Portuga desabafasse a sua revolta perante tal humilhação recebida dos inglêses. Henrique de Mendonça fez o librete.
Entendida a mensagem, acabo por trocar impressões com Pieter.
- A fonte da inspiração para esta música foi o fado, a Marselhesa e a Maria da Fonte; o fado , a canção do povo e a revolta contra o despotismo enaltecido na Marselhesa, a vibração e amor pela liberdade com Maria da Fonte.
E acrescento: - O povo Tuga aprendeu a letra e tomou-a como seu hino chamando-lhe “A Portuguêsa”. Angola que foi uma razão forte para a execução deste hino, a primeira coisa que fêz foi partir a estátua da Maria da Fonte no Quinaxixe e em seu lugar colocar um tanque de guerra. O peso da consciência dos novos governantes, talvez, com sérias duvidas, levou a que o tal tanque da guerra fosse substituido por uma quitandeira. O remendo tapou o erro. Os Tugas é que deveriam agora mudar o hino pois já não conjuga com as novas politicas de roubo e despilfarro nas grandesas dos antigos.
- E, também já não existe o cazumbi e kianda daquela lagoa do Quinaxixe.
Pieter pós-se de pé desequilibrando o barco e bateu palmas efusivamente. Quase iamos para o charco e, falou: - Meu, é por isso que te apareço quando me dá a saudade, tu falas o meu linguajar e, de novo bateu palmas. Mazé, os Tugas têm mesmo de mudar o hino! Contra os cazucuteiros, marchar, marchar!
Este mano Kota de Cabo Ledo está a surpreender-me,... Háka!
Claro que fiquei embasbacado no meio do Loir. A vida tem destas coisas!...
O Soba T´Chingange
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2º encontro com JANUÁRIO PIETER . 2ª Parte
Eu, não andava na peugada de qualquer assombração mas, por coincidência aqueles caminhos de destino a Compostela, era o meu rumo até chegar a Burgos. Com algumas paragens intercalares seguia a rota de “Saint Jacques de Compostelle”.
Pensei que podia convidar Pietar a seguir viagem comigo mas, decidi nada dizer ao velho kota porque ele, era ainda um mistério não totalmente decifrado.
Ali, naquele café Rivoli estivemos admirando entre conversa pegajosa o vai-vem de gente que se deslocava para a praça da Concórdia ou na direcção inversa de Notre-Dame.
Aquele dia era uma 5ª feira, nove de Julho e, quando me despedi do velho patrício kamundongo Pieter, disse-me que lá para o dia quinze, talvez estivesse em Burgos; ficaria em Miraflores ouvindo o repicar do convento dos monges aonde estavam as relíquias dos Reis católicos de Espanha, o rei Dom Juan II, La Reina Isabel de Portugal sua mulher, e também o irmão desta, o Infante Alfonso, todos amortalhados numas caixas de mármore octogonais, ricamente ornamentadas.
-Mas, porquê ir ao “Monte Cartuja” a ver esses caixões?...perguntei.
-Vou ver a obra de um familiar de meu pai, Gil de Siloe, um artista, primo de meu pai, que entre 1484 e 1493 executou o sepulcro aonde descansam os pais de “Isabel, La católica”. Aquela igreja foi fundada em 1442 sobre os restos de de um palácio ou couto de caça, couto este em que o meu pai Lestienne serviu numa das visitas do seu rei de França, “Pays de Landes”; Vou conversar com um dos monges e, ver os escritos das sacristias.
Isto de sepulcros, não me agradava a minúcia e dei por findo o papo referindo-lhe que os reis desse tempo só curtiam a caça, parece até que não tinham mais nada para fazer senão conhecer as primas, procriar, caçar e envenenar.
Despedi-me dele mirando de soslaio seu porte, parecendo um palhaço saído do circo Disney, claro,... do seu ar patusco respigava em mim o devido respeito e cagufa.
Januário Pieter caminhava curvo, sua cabeça rodava para todos os lados vendo a periferia como um camaleão, seu caminhar de manso pé, era uma perfeita hiena, coisas aprendidas nas vastidões de silêncio, ruidosos grasnadões, urros e piares; sempre aparecia sem ninguém lhe dar conta, parecia até rebocar-se no cacimbo escafedendo-se sorrateiramente sempre que queria; uma arte de pé-ante-pé como onça.
Ouvindo aquele Pieter como kianda ninguém que podia falar contra, dava azar de matrindindi feito quijondo (gafanhoto grande).
A luz vermelha do semáforo virou verde com apito e, o kota deslizou suave na passadeira entrando do lado esquerdo da “Passage Richelieu”. Dei-lhe um aceno de adeus mas ele, só seguiu direito ao seu mambo, o quadro bucólico de seu pai Lestienne.
Que Deus o tenha e guarde múmia!
Cruzei em seguida a rua de Rivoli e penetrei nas catacumbas do Louvre pela porta direita de “Richelieu”.
Fiquei cismado desta coincidência e, curiosamente também desejoso de voltar a ver o velho, ouvir suas estórias do antigamente.
O kota Pieter, virou em verdade um espírito fluido num espaço gelatinoso, num repentemente enrijava, num repentemente sublimava-se.
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
2º encontro com JANUÁRIO PIETER - 1º parte
LOUVRE . PARIS
Como uma toupeira, o autocarro entrou ao lado da "Portes des Lions" na "Quai des Tuileries" lado a lado com o rio "La Seine", furou a cave dando voltas até que estacionou nas catacumbas de "autobuses"; Três niveis abaixo da superfície do museu do Louvre saí do autocarro. Teria de subir aos pisos superiores para comer uma refeição ligeira porque o tempo disponível não dava para muito mais. Paris,...sempre a correr.
Saí na rua Rivoli, atravessei-a e, quase em frente, no número 176, tomei assento no Rivoli caffe.
Pedi duas "sand poulet" e uma "bierre de 50 cl". Abocanhei a dita cuja com prazer incomum quando senti no ombro uma mão escaldante. Surpresa minha; ao virar-me deparo com o kota Pieter, o mesmo de Jabelines, filho do Mafulo Lestienne de Luanda.
Saudei-o com a deferência de quem vê pela segunda vez uma assombração kianda e, convidei-o a se sentar.
O kota Pieter desta vez estava muito mais colorido não parecendo o mesmo taciturno senhor do banco de Marne em Loisir. Usava uma gravata sobre camisa liláz destoando dos compridos calções às florinhas num descolorido amarelo práfrentex; a meio da tíbia o atilho vermelho das calças apertavavam os gémeos peludos . Nos pés tinha umas sapatilhas feita às tiras; estas furavam o pneu michelim apertando o dedão aos tornozelos duma forma que só os Massai do Kénia sabem usar. O seu dedão, entre a carne e a unha, via-se exageradamente grande pois que a micose encortiçada entalava-se ali, grosseiramente. Aquele era o verdadeiro pé dum leão da anhara feito gente de Massai-Mara com trezentos e oitenta e quatro anos.
Pieter vinha visitar o museu do Louvre pois estava na peúgada de uma remota informação quase fidedigna de que alí iria encontrar um quadro de largas vistas estando seu pai Lestienne nessa composição bucólica; Era um conjunto de serviçais que faziam os preparos preliminares às caçadas dos veados, tomavam conta dos cães e dispunham bancos junto às cavalgaduras para que as damas repletas de saiotes podessem pular de lado e, assim se segurarem à cilha do quadupede.
Esse alguém fidedigno informou-o que seu pai, o françês de olho azul do "Pays des Landes" durante algum tempo esteve às ordens do rei Luiz qualquer coisa e, nessa tela podia lêr-se o nome da terra em uma placa, "Bonneval, du bois de chievre,Vallee du Loir".
Interessante, o kota Pieter referia-se a um sítio por onde eu, nos próximos dias, iria passar.
Como relator deste acontecido, recordo qe Pieter anda à busca das origens de seu pai Mafulo, mercenário às ordens indirectas de Mauricio de Nassau, instalado em N´Gola, Luanda. Era tenente do exèrcito Olandês e passou a pertencer às forças Tugas de Salvador de Sá e Benevides quando da reconquista de Luanda. Leiam as crónicas anteriores para entender o embrólio de hà trezentos e oitenta anos para tráz
Continua......
O soba T´Cingange
RECORDAÇÔES ANGOLA
fogareiro da catumbela
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