Quinta-feira, 31 de Julho de 2014
CAFUFUTILA . XLIII

TEMPOS ANTIGOS . Eu e Batalha da EIL da Luua, por uma hora, fomos turras.

MALAMBA: É a palavra.

Por

 T´Chingange

Por volta de 1956 havia dois Batalhas na E.I.L.; enquanto o mais velho seguiu para mestre de oficinas, nós os candengues andamos juntos por cinco anos. Ainda no Ciclo preparatório eu e Batalha júnior íamos a pé de casa para a escola e vice-versa. Saindo da escola na Vila Alice, ambos com no mesmo rumo, passávamos nos angares do velho aeroporto aonde funcionavam as oficinas da escola, tendo do outro lado o Regimento de Infantaria 20 e o Grafanil, seguíamos ao longo dos quartéis descendo pelas barrocas aonde agora se situa o moderno bairro Alvalade, junto ao Martal, abreviatura de Martins e Almeida, passávamos perto do colégio João das Regras aonde tinha andado por algum tempo e, mais á frente e junto a uma grande mulembeira, eu descia á direita pela rua Dr. José Maria Antunes até ao nº 22 no lugar do rio Seco, bem ao lado do Almeida das Vacas, e Batalha continuava para o Catambor que subia chão de areia e em rampa, cubatas de taipa, zinco, aduelas de barril e chapas de indefinidos tambores, até à nova avenida que dava acesso ao novo aeroporto de Craveiro Lopes com o Prenda do outro lado.

 No outro dia e seguintes, voltávamo-nos a encontrar, pois o nosso destino era estudar. Sucede que em um dos muitos dias ali perto da Maternidade e bem próximo dos taludes do antigo Caminho-de-ferro via Malange, no regresso da escola, saltamos um quintal para roubar maças-da-índia. Distraídos no acto do agora atira, agarra, apanha, o Senhor Tuga dono do pedaço e suas barbas brancas apanhou-nos em plena faina de encher o bucho e a mochila; acto contínuo surgem dois polícias que nos metem num carro tipo ramona fechado e grades, levando-nos para a sétima esquadra de polícia da Vila Alice. O chefe desta dita cuja, resolveu meter-nos na choça pondo um cipaio de cartola vermelha guardando os meninos maleducados e, ali ficou junto á porta de varões fortes de ferro. - Estamos lixados, disse eu para o kamba Batalha! Ele, sábio, ficou só calado, estamos feitos! Repeti.

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Foi quando o Batalha falou assim, lembro-me muito bem: – Tu és branco, vão só dar-nos um susto e depois, mandam-nos embora! - Fica quieto! Dito e perfeito assim sucedeu! Batalha tinha pinta de herói, nunca cheguei a saber se o foi em realidade mas o lusco-fusco da vida toldou-nos as vontades desencontrando-nos. Passado uma hora, mais ou menos, o chefe da 7ª esquadra deu-nos uma descompostura do camano, embora já soubéssemos que não devíamos roubar as coisas dos outros, Eu e Batalha tínhamos sina de salta-muros e continuamos nessa faina por muita mais tempo. Sempre que passávamos num pé de maças-da-índia, gajajeira, pitangueira, cajueiro, tabaibos ou goiabeiras, nós não resistíamos e, por momentos virávamos turras de novo.

 Em 1961, aquela 7ª esquadra foi assaltada dando início à confusão que todos nos lembramos. Ouve mortes martirizadas, procissões e tudo entrou aos trambolhões, início de uma guerra com prelúdio de qwata-qwata que perdurou com novas formas na arte de matar. Do Batalha nada mais soube; constou-se-me que tinha ido trabalhar para uma fábrica de sabão no lugar do Bungo. Dos amigos candengues, o Pica veio a ficar general, o Luandino da rua oliveira Barbosa, meu vizinho, cruzamos fogo no Mayombe. Eu deste lado, e ele do outro lado, mas agora, já kotas, cruzamos falas de toparioba e tambula konta! O Ferreira que foi comigo para Cabinda como Furriel, roubou um friendship da DTA desviando-o para o Congo Brazzaville e o Pestana que virou Pepetela, também ficou mentiroso de profissão, anda à deriva passeando um cão na Mutamba depois de fazer muitas tropelias. O Sayd Mingas mwangolé dos kwanzas foi queimado na confusão do agarra Nito. Como vêem, eu tenho propensão para me emparceirar com heróis, turras e gente desclassificada.

Recentemente e através do FB reencontrei gente mais nos trinques como o Zeca Santos um myanguista que com suas falas de camundongo e vestindo um velho escapulário kimbanda, dá chás curativos à malta que o mestre Sambo lhe legou; com sua balalaica dá bolinhos de brututo, missangas de feijão maluco e raspas de pau do Mayombe, para animar os kotas; um destes dias vou mostrar-vos suas falas do Rio Seco com tirocínio em porto Kipiri; O Costa Araújo, meu Mano Corvo, gente fina da Boa Entrada da Gabela, de cuspo ajuramentado, revi-o também recentemente a fazer pintura nas terras do cú de Judas, lá numa esquecida Cisplatina comendo churrasco com Gaúchos cheio de triglicéridos das Pampas; estes, vocês conhecem bem porque andou por aí pintando a manta com Pombinho, borrando muros com caca corrosiva e psicadélica, própria dum pombo estragador de monumentos. Por um triz também não fui turra mas, aqui e agora, kota do M´Puto juro que tenho vontade de o ser! Isso mesmo…Turra! Juro por sangue de Cristo!

O Soba T´Chingange
 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:09
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Quarta-feira, 30 de Julho de 2014
MALAMBAS . XV

OUTROS TEMPOS . Ando a semear assobios mas, nos intervalos da vida, durmo! Tem Dó, diz minha neta.

MALAMBA: É a palavra.

Por

   T´Chingange

Num tempo em que o cu tapa a cueca, carrego burgaus para manter a linha e semeio assobios musicais! Que mais poço fazer neste mundo roto? … que chove como na rua!

 Assobiando minhas músicas de monandengue no compasso de meus passos de ingénua desafinação, e no meio de outros barulhos, semeio-os com cuspo na areia da praia. Sim! Os assobios! Fingindo de faz-de-conta, a cada três passos, deito-os no chão com edecéteras fertilizantes. Faço isso há mais de dois meses e, nada de germinarem! Cheguei à conclusão que efectivamente, esta não é a melhor altura. Num jogo de meus pontos de vista, pontos negros misturados com notas musicais fardadas de camuflado p´ra não dar nas vistas, boto um Dó aqui, um Ré a seguir e mais além um Mi. Aqui e mais ali, sem milímetros de folga, nuns funilinhos de fuca-fuca, que muitos dizem ser de formiga-leão, lanço o Fá o Só e o Lá. Penso eu de que se nada nascer pelo menos peço ao meu tio Nosso Senhor, que nasçam umas bolinhas assim como se vê na floresta do lobo-mau, tipo fungos na forma de bolas de berlinde que, quando chutados, sai um pó amarelo, uma nuvem que nós candengues chamamos de bufa-de-velha (nunca soube bem do porquê).   

  Deitando assim minha alegria do meu pífaro natural e no chão com notas musicais fresquinhas, seleccionadas e classificadas, lanço por ultimo um espacial Si, tentando ensinar-me nos sons da vida, Si, Deus quiser, assim como um tapete com sons de marimba, com kissanje, com puíta e reco-reco mais violas, violinos, violoncelos e contra baixos! -Tu avô, tas maluco! Diz minha neta com olhos musicados nas pautas de linhas e traços com bolinhas e hífenes encavalitados em travessões, daqueles que ela estuda lá no conservatório e na orquestra coimbrã. Pois se calhar tens razão, eu só sei assobiar!         

  Pauta é o nome do conjunto de linhas utilizado para escrever as notas musicais de uma partitura, no sistema de notação da música ocidental. Actualmente, a pauta contém 5 linhas e por isso também é chamada às vezes de pentagrama. No início do uso da pauta usava-se apenas uma linha colorida, datada do século IX. Tempos depois outras linhas foram sendo acrescentadas, o pentagrama que usamos hoje, estabelecido no século XI, foi definitivamente usado a partir do século XVII.

 Mas mesmo assim, sabendo que a cultura mitológica e antropológica é produzida pelo homem culto tão naturalmente como as abelhas produzem o mel ou as aranhas as suas teias porquê! Sim, porquê… meus assobios não crescem? Tem forçosamente de haver aqui uma declinação perversa! Mas minha neta insiste que sim senhor o avô está passado dos carretos! Aonde já se viu plantar assobios e ficar embasbacado dia após dia, remexendo o chão p´ra ver crescer sua cultura! Isto é de loucos, diz ela generalizando, que só tem treze aninhos. Já dizia Goethe “ No final de tudo, acabamos sempre dependendo das nossas criações” fim de citação! Pois… Ela é minha neta! Reconheço que a cultura é para mim um grave problema: -É uma invenção de fórmula provocatória. Estamos perante um dilema subtil que faz com que o mito não oculte quem nada revele! Só deforma! O mito não é uma mentira nem uma confissão, é uma inflexão! É isso mesmo, estou inflexionado! Ou seja, estou culturalmente a ficar congelado, melhor… bloqueado. Acudam-me!...

O Soba T´Chingange  



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:36
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Terça-feira, 29 de Julho de 2014
FRATERNIDADES . LXIV

África profundaNo topo da Serra da Leba 

Por

Eduardo Torres Eduardo Torres

  Na vertigem do tempo as recordações quando fortes não se perdem da memória. Relembro o meu lema na estrada: quem andar mais depressa do que eu ultrapassa-me, quem andar mais devagar, será ultrapassado! Não altero a média que pretendo fazer, por andar de acordo com o que os outros andam... Tive oportunidade de ver uma fotografia publicada na página do amigo José Melo, da Capelinha da Senhora do Monte e, recordo-me de quantas vezes subi até ela, galgando a enorme escadaria e, hoje, sinto que mais vezes o deveria ter feito! Estive vezes sem conta no lugar da Esplanada Capela, com o Rogério de Castro e o Homero de Figueiredo, acompanhando as obras do projecto do Arquitecto Ludovice; Ruivo era o encarregado das obras da Câmara de Sá da Bandeira. Fui eu e o Homero, que no local da sua implantação, colocamos a Bandeira a ser descerrada no acto de inauguração.

 A minha ligação àquela terra, é tão forte, não apenas por lá ter nascido e feito a minha vida, mas porque estou eternamente ligado a acontecimentos que me marcaram a vida profissional, tais como a estátua de João de Almeida, o busto do governador Silva Carvalho, junto ao Bairro de Sto. António, o elemento em memória do Marquês de Sá da Bandeira, alguns deles, já vandalizados, quando deveriam figurar num qualquer museu a contar a história da colonização, os bairros Camisão, de Sto. António, do Benfica, e outros de menor dimensão; também as centenas de projectos de moradias, ou blocos mistos, que deram origem a construções que ficaram lá com a minha marca e a do Cido Conde, do qual me orgulho por ter contribuído; ajudar a crescer no desenvolvimento a terra que me viu nascer.

J   Algo que nesse então, tinha esse dever e, cumpri-o com o que me foi possível; nem os meus filhos e meus netos, sabem quantas moradias, quantos blocos nasceram de projectos elaborados até às tantas da noite … Nem é isso que interessa! O que subsistiu foi o meu prazer de ter contribuído, tranquilidade da minha consciência ao invés do que muitos dizem. Sim! Muitos afirmam que todos nós estávamos ali para roubar os indígenas e, se casos hão, e houve, eu e muitos em nada disso contribuímos para além do sistema colonial da qual não éramos achados. Até desconhecíamos que éramos os veículos dessa politica! Também acho que a rebelião ao estado de submissão da colónia era evidente e, isso também me ruía e, no entanto tudo me passou ao lado, contrafeito e revoltado com os senhores do mando que lá longe, dum terreiro do Paço que desconhecia, que de lá muito longe, destruíram milhares de vidas mas, não quero ir por aqui! Este raciocínio atormenta a minha teoria do esquecimento, nada fiz de mal, nada me atormenta!

(Continua…)

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:23
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Segunda-feira, 28 de Julho de 2014
MOKANDA DO SOBA . LVII

NO TEMPO DAS MALAMBAS . Responso ao Santo António…

MALAMBA: É a palavra

Por

  T´Chingange

 Será muita ousadia mas, apetece-me dizer ao mundo de que quando eu morrer quero levar comigo um computador com internet e uma grafonola, daquelas que tem um cachorro ouvindo no orelhão a musica do tempo, um tempo do qual eu não sei a verdadeira medida nem se, se mede com um relógio, um quartilho de emoções ou um suspiro de sonho, porque julgo que tudo é falso, que somos uma ilusão e que o tempo nada mais é que uma moldura para nela tudo encerrar o que é estranho. Pois, quero ficar ligado a um canal de música as 24 horas do dia com toque espacial das doze badaladas da meia-noite. A eternidade nunca nos dá a possibilidade de ser escolhida em vida e, são sempre os outros que gozam esse privilégio, nosso próprio responso e, sinceramente eu acho mal! Dito assim, as palavras são tão certas e únicas que ninguém sente meus passos rebeldes a dançar verdades.

 Os lugares que carrego comigo também se riem dos silêncios do meu pensar ondulando-se em meu aprumo ou capricho, é neste então que reparo nos brilhos vermelhos do mar quase calado, no azul do céu misturando-se na água em tons vermelhos fazendo pazes, capitulando-se na frente de minha alegria; é neste preciso momento que as n´nhufas das kúkias (os medos do sol poente) se marimbam nas cagufas do mundo e nas cerimónias em que todos mandam p´ro céu cunhas ao santo António ou mesmo ao são Pedro com regras e protocolo. Falo isto porque minha mãe Arminda Loureiro Topete de Barbeita, quando eu viajava, mandava escondido em minha mala ou sacola, um responso entregando-me ao destino a expensas do santo dito. Talvez funcionasse! Quero acreditar que sim!  Um desejo uterino é para ser devidamente respeitado nos conformes da decência e eu, tenho-me por decente.

 No malembemalembe (devagar, devagarinho) compassado do caminho de todos os dias vadio-me na sabedoria cristalizada em comprimidos que tomo matinalmente para segurar a pressão; prendendo seus malefícios à minha pele e, pelo lado de dentro, dissolve-me as ureias, o colesterol, os triglicéridos e os aminoácidos saindo ás postas pela sola dos pés com borbotos floridos a ácido úrico. Se não aguente de pé firme minhas próprias mazelas, assassinar-me-ei no desprezo caligrafado desses olhinhos amarelados; se não banho em águas do mar essas condecorações com flúor e iodo, deito a perder minha própria admiração em vulgares  salmonelas, Minhas cicatrizes desse jeito bangulam-me átoa (gozam-me) e, fico assim, mareado e até marafado.

Resultado de imagem para santo antonio de lisboa Agora o tal de responso de vida a Santo António :
Se milagres desejais, Recorrei a Santo António; Vereis fugir o demónio E as tentações infernais.
Recupera-se o perdido, Rompe-se a dura prisão E no auge do furacão Cede o mar embravecido.
Todos os males humanos Se moderam, se retiram, Digam-no aqueles que o viram, E digam-no os paduanos.
Repete-se: Recupera-se o perdido... Pela sua intercessão Foge a peste, o erro, a morte, O fraco torna-se forte E torna-se o enfermo são.

O soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:36
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Domingo, 27 de Julho de 2014
MOKANDA DA LUUA . XXVII

ANGOLA . LISBOAO VÔO DA VIUVINHA NEGRA . AS FACES DE DEUS

Por

    Dy - Dionísio de Sousa  (Reis Vissapa) 

Januária abandonou a cubata tradicional com a samacaca envolvendo o corpo esguio e elegante, deixando apenas expostos à brisa fresca da manhã os seios púberes de contorno delicado com os mamilos levemente virados ao céu. Olhou a incandescência solar a trepar o violeta matinal com que o horizonte se vestira. Ouviu um rumor distante e com a mãozita em forma de pala protegeu o olhar e viu a cinza metalizado do Boeing que sulcava as alturas deixando atrás de si um carreiro rectilíneo de flocos brancos. Provavelmente era Deus que ia fazer o seu passeio diário acompanhado dos seus anjos, pensou para consigo própria. O tom da sua pele de um negro retinto acentuava a sua origem Bijagós lá longe na Guiné. Já meio escondidas pela mata de mutiátes, duas cruzes velavam há quase um ano pelos restos de Norberto Fragoso e a sua companheira Cacilda Rebelo que tinham vindo nos anos cinquenta para Angola em busca de melhor vida. Os nomes tinham-nos adquirido na colónia portuguesa da Guiné e tanto marido e mulher tinham sido empregados de Floriano Fragoso e de sua esposa Gisela Rebelo Fragoso roceiros endinheirados que os recolheram ainda jovens.

 Norberto tornara-se um excelente cozinheiro e um artista na arte de bem servir e Cacilda transformou-se na ama dos filhos do casal. Tudo ia bem até ao dia em que o fazendeiro se perdeu de amores pela bela Cacilda e foi apanhado em flagrante assédio à rapariga por Dona Gisela. O casal acabou por fugir pois a corda parte sempre por elo mais fraco e acabariam por chegar a Angola num barco de cabotagem que os largara em Moçamedes. Januária pensou que num dia destes tinha de limpar e alindar as campas dos seus progenitores. Em breve faria um ano que os pais haviam falecido e durante esse espaço de tempo sobrevivera sozinha cuidando do arimbo e de quatro cabeças de gado que herdara. Com doze anos de idade, apenas sabia que Deus existia pois a mãe assim a ensinara. Nas sanzalas limítrofes já restava pouca gente. As populações tinham partido com o advento da entrega de Angola aos negros e o fecho das poucas lojas de comerciantes brancos que residiam naquela região.  Quando chegou à loja do senhor Aparício para trocar uns franganitos por uns quilos de fuba, este estava a carregar a velha Chevrolet com toda a sorte de bagagem preparando-se para partir também. – Então Januária ainda por aqui andas rapariga? – Não tenho para onde ir senhor Aparício. – Respondeu com humildade. Aparício Cardoso e a sua mulher não tinham filhos e Dona Maria do Céu Cardoso gostava daquela rapariguita airosa e de rosto bonito. – Queres vir connosco Januária? Não vais ficar aqui sozinha. Partiu com eles em direcção à fronteira de Santa Clara mais uma pequena trouxa com os seus pertences e atravessou-a como filha adoptiva do casal com documentos perdidos.

 Quando deu por ela estava na barriga de Deus que roncava baixinho no céu azul. Perto do Senegal Dona Maria do Céu apontou para baixo e fê-la ver um conjunto de ilhotas do arquipélago dos Bijagós e sussurrou-lhe ao ouvido. – Foi daquele lugar que os teus pais vieram. A menina estremeceu e agradeceu ao Deus gigante tê-la levado a ver a sua terra ancestral. Quando aeronave aterrou em Lisboa verificou que havia mais deuses espalhados por o lugar e uma multidão a sair de dentro deles.  O senhor Aparício com os parcos tostões que conseguira trazer na fuga, abriu uma tasca na Reboleira e Januária passou a ser cozinheira, a servir à mesa e a tratar de todos os afazeres da casa. À noite deitava-se extenuada pois as refeições baratas para os trabalhadores iam tocando o negócio para frente lentamente. Um dia o senhor Aparício trouxe uns papéis e foram a uma repartição onde ela teve de besuntar os dedos e segundo ele era agora cidadã portuguesa.

 Com dezoito anos de idade tornara-se uma linda mulher e os olhares dos trabalhadores cabo-verdianos e guineenses devoravam-lhe o corpo com o olhar. Um dia um deles mais atrevido apalpou-lhe os seios e Nicolau Manduco que secretamente a adorava aplicou-lhe dois murros nas ventas e de rastos atirou com ele para o passeio. Quando os ânimos serenaram e ele lhe perguntou se estava tudo bem, ela percebeu que aquele homem robusto e olhar amigável, gostava realmente dela. Pediu ao senhor Aparício se podia frequentar a escola nocturna e ele embora contrariado com medo de perder a extraordinária cozinheira acabou por aceder. Aos vinte e dois anos já sabia ler e escrever e amealhara uns tostões com a espécie de ordenado que o seu protector lhe pagava.

Um dia Nicolau Manduco perguntou-lhe se ela não queria ir viver com ele para a Guiné onde pensava abrir um pequeno restaurante para os turistas que visitavam o território. O senhor Aparício gesticulou e chamou-a de ingrata quando ela lhe comunicou a sua decisão, mas Januária fartara-se de ser cozinheira e criada e partiu para a terra dos seus pais na barriga de Deus. O pequeno estabelecimento foi baptizado de “Viuvinha Negra” o nome com que o seu saudoso pai a alcunhara em pequenina e a comida é de comer e chorar por mais. Volta e meia Deus passa por cima do território e Januária benze-se e agradece-lhe em silêncio o seu destino e pensa nas centenas de pessoas que Deus transportara para longe da sua terra, alterando-lhes o destino.

Ilustrações de Ana Rocheta

Reis Vissapa

As escolhas do soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:54
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Sábado, 26 de Julho de 2014
XICULULU . LII

ORIGEM DO NOME LUANDA - A N´Zamba era pasto de elefantes - II

Xicululu: - Olhar de esguelha, mau-olhado, olho gordo, cobiça

Por

    T´Chingange

 A N´Zamba era pasto de elefantes.Era na Manhanga, mais tarde Maianga, que todos aqueles povoados se abasteciam de água; era aqui também, neste lugar de lagoas que se reabasteciam as frotas de barcos de água para beber ou fazer cozinhados. Faziam-se grandes filas de monangambas para levar em seus costados vasilhas de barro com água até o m´Bungu, lugar das naus. Paulo Dias Novaes, ambicioso e vingativo, com os olhos fixos nas lendárias minas de prata da Serra de kambambe, invade o reino de N´gola espalhando  terror o quanto baste entre os Ambundos e Ovibundos.

 Em 1589 Paulo Dias de Novaes arma uma grande expedição ao Kongo para destruir a cidade de Baassa aonde residia o Rei do Kongo, porém, a morte colhe-o em febres de paludismo. Eis que N´Zinga Bandi, mulher de rara beleza e mais culta, surge inopinadamente na história para salvação de seu povo da Matamba. Em 1656 os portugueses apresentaram ao rei Garcia I K´mbaku N´kanga Ne Lukeni um tratado dizendo que a partir desse ano, nenhum t´chindele, branco, pode entrar do N´Kongo sem passar pelo porto de Loanda e ter autorização dos administradores do rei do M´Puto.

 

Tumulo aonde esteve sepultado Paulo Dias de Novaes

O soba de Ambuila, um destacado Dembo de então, vai também depender de Loanda para comercializar seus escravos ficando no entanto, livre de pagar impostos. A partir daí, os territórios a sul do rio Dande, Lifune e Kifangondo local estratégico fonte da moeda do reino do N´Kongo o " n´zimbo " dependendo de Loanda e não do reino do N´Kongo. O Rei António I N´kanga pediu mais tarde a restituição da Ilha de Loanda, mas os portugueses recusaram-na. Não obstante recusarem esse pedido, ainda agitaram outros chefes de distritos N´Kongo a fazer guerra contra ele o que originou a conhecida Batalha de Ambuila.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:20
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Sexta-feira, 25 de Julho de 2014
FRATERNIDADES . LXIII

África profunda - Subindo a Serra da Leba 

Por

Eduardo Torres E Eduardo Torres

 Quando se começava a subir a serra da Leba, pela estrada antiga, a caminho de Mossâmedes, atingindo o ponto mais alto, para depois começar a desce-la, era um espectáculo deslumbrante, ver muito ao fundo, a Humbia com as suas casas em miniatura, e a estrada, de terra batida com muitas pedras, a serpentear, surgindo cada curva com um precipício paralelo à encosta, e ver o arvoredo como escorregando por ela, cada árvore tornando-se mais pequena, consoante a distância da descida, ia aumentando; os travões eram só para aconchegar, porque era a caixa de velocidades que funcionava, como controle da viatura.

  Uma serra perigosamente difícil de descer ou subir, mas um traçado, todo ele de encanto e de uma beleza, tão natural como espectacular. Com o novo traçado da estrada asfaltada, num trajecto diferente, não vou dizer que a viagem perdeu encanto, mas desapareceu aquele espírito de aventura, porque se alteraram profundamente os condicionalismos, oferecidos, quer num caso, quer noutro. Aquele pedaço de África, deixou de ser uma fera livre, passou a ser parcialmente domesticada, pelo progresso. Deixou de ser ela determinante no tempo de uma viagem, fomos nós que passamos a beneficiar dessa vantagem, a determinarmos o tempo que cada um poderia percorrer determinado percurso. Hoje, que o tempo já passou, e talvez por isso, sinto mais saudades do das dificuldades do que o da fartura. Um, por se tornar demasiado fácil, quase não de dá por ele, o outro, porque é o inverso, nunca mais se esquece.

Mal comparado, é como um indivíduo habituado à cidade e que por qualquer circunstância, acaba por ir viver para o mato, comerciante, talvez, nos primeiros tempos, vem com assiduidade a cidade, sente a falta dela, vive fora do seu habitat. Mas o tempo vai passando, atrás duns anos, outros virão, e muda completamente o sistema de vida. Torna-se numa espécie de animal selvagem, ganha os princípios da liberdade, aprende os segredos da selva, mata um animal para comer uns bons bifes ao almoço, e já só admite visitar a cidade, por necessidade, quanto mais viver nela. Como animal de hábitos, os seus, alteraram-se profundamente! Angola foi-se habituando ao progresso, porque nós tínhamos necessidade dele. Ela foi-se moldando aos nossos interesses, e as histórias de antigamente não passam mais do que isso. Ficaram as saudades delas, porque foram vividas numa época diferente, porque diferentes eram os tempos. A saudade é um sentimento, cujo tempo de validade termina ao mesmo tempo que o ciclo de vida.

(Continua…)

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:34
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Quinta-feira, 24 de Julho de 2014
XICULULU . LI

ORIGEM DO NOME LUANDA - Foi fundada a 25 de Janeiro de 1576 - I

Xicululu: - Olhar de esguelha, mau-olhado, olho gordo, cobiça

Por

  T´Chingange

  A cidade de Luanda, foi fundada a 25 de Janeiro de 1576 pelo capitão Tuga chamado de Paulo Dias de Novaes após ter desembarcado na baia  de Loanda com cerca de 700 homens (soldados, padres e almocreves). Em 1576 manda construir a igreja de são Sebastião na fortaleza aonde agora se encontra o museu das Forças Armadas Angolanas. Antes da chegada dos Tugas, Luanda já era habitada pelas gentes do rei do N´Dongo concentrando-se no lugar seguro da ilha de mazenga a que os portugueses chamaram de ilhas das cabras por ter visto ali alguns destes caprinos. Viviam ali os Muxiloandas, oficiais do reino de N´dongo que recolhiam os n´zimbos para transaccioná-los como dinheiro.

 Loanda em 1856

O Rei de N´Dongo ou Kongo, era o dono e senhor daquele espaço, por assim dizer o banco de N´gola. Seus zeladores Muxiloandas, cipaios e gente miúda laboravam na apanha e sequente selecção atribuindo ás conchas o respectivo valor monetário; para se ter uma ideia da relação de valores de então temos que para o Manikongo, 1 galinha valia 30 n´zimbus e uma vaca  cerca de 300 n´zimbus, 3000 caurins ou  6000 lufuzus. Qualquer invasor daquele espaço era retaliado com severidade ou morte em caso de insubmissão às ordens do reino ou reincidência em actos de roubo. Era esta a lei conhecida por kikongo que se confundia com a morte e de quem os súbditos tinham o maior medo.

 Todos estes funcionários dormiam em libatas feitas de folhas de coqueiro dormindo em loandos ou esteiras feitas por folhas entrelaçadas da mesma árvore. Foi assim e, daqui, que mais tarde se começou a designar aquele como o lugar dos loandos exportando para o reino este uso de estar, dormir e espreguiçar. Mas, Loanda de então já tinha sete povoados e foi só em 1576 que o rei  N´gola Kiluanji Kiassamba autorizou a fundação de São Paulo de Loanda. Paulo Dias Novaes, aportou ali na ilha da Mazenga levando presentes da coroa de Portugal para o Reino de N´gola e, por intermédio do fidalgo negro Dom Pedro da Silva, estabeleceu uma aliança entre os N´Gola e o M´puto.

 

 Um daqueles sete povoados ou sanzalas de então, era as Ingombotas, caserio que no correr do tempo foram armazéns depósito de negros escravos enquanto esperavam embarque para terras de Vera Cruz; um outro conhecido por Maculussu, assim se chamava por ser o sítio das cruzes reservado aos Tala-tona que já entendiam e falavam algum português os chamados assimilados; também viviam ali os fiéis macotas do reino de N´dongo ou N´gola; Os demais eram abandonados lá no lugar do Cazenga para pasto de leões e hienas salvaguardando a povoação destes predadores.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:44
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Quarta-feira, 23 de Julho de 2014
MOKANDA DO BRASIL . I

Meus queridos amigosSe ficamos, o cachorro morde... Se corremos, o cachorro pega.
Por

Arrais de Bustos Maré lAlta

Minhas palavras iniciais são o desejo de muita paz, saúde e humor, fonte de geração da alegria do bem viver. Já de algum tempo venho atribulado com uma série de pequenas questões que acabam por nos perturbar no dia a dia. Uma cobra coral entrou-me em casa e enrolou-se no meu computador e aí foi o caso dos trabalhos; tive de o meter numa caixa, bloqueá-lo desta forma e botar lá dentro um perfume das arábias, daqueles de fazer rolar cobras e odaliscas. Com muita coragem e passado dias voltei ali de novo e foi a partir daqui que tive de recorrer aos entendidos e colocarem-me a coisa a funcionar. Troquei de Internet pelo que custei a acertar, meu computador pifou e o meu notebook, com um programa mais recente do Windows deu-me volta à mona e á a massa encefálica. Agora cá, você compra o equipamento, mas ele não vem com nada, somente trás o programa de entrada  (liga/desliga). Aí, já viu! Tudo o que se quiser acrescentar você tem que dispor de grana para conseguir.

E assim vai indo. Os fidacaixa são mesmo assim, kazukutas como diz o kota M. Depois de muitos quebra-cabeças comecei a dominar alguma coisa do novo sistema. Hoje ao abrir o dominador do nosso tempo, de surpresa, sem querer, cliquei num quadro e apareceu kota M T´Chingange com quatro ou cinco mensagens seguidas. E eu, quê!? … Jeito, maneira, nada de responder? July tem me falado de suas mensagem... mas como responder?  O e-mail já estou dominando um pouco, mas à custa de tanto insistir e apanhar no toutiço. Os velhos ficam gregos com isto e eu não fujo à regra. Concluindo: Ana fica por conta da cachorra chambeta e eu por conta desta máquina maravilhosa de quebra cabeça, quebra mona ou quebra cuca. Mas tirando tais brobleminhas, o resto  está caminhando como sempre, sobre os olhares de Deus, espero! O tempo por aqui anda bastante instável. Estamos enfrentando não só as alterações climáticas do tempo como as altercações e embates políticos esquentados com o recente fogo das mazelas futebolísticas que se revelaram catastróficas com os 7 a 1, impostos pelos alemães, a final de contas, os actuais campeões.

 Os adversários políticos,  antes se digladiavam para ver quem levava vantagem com os louros do sucesso futebolístico … Agora se surram para tentar provar quem é o mais culpado do tsunami do fracasso... da derrota. E aqui nos encontramos vivendo, com perdão da palavra,  de putarias e música! Mas como, com perdão da palavra,  putas mesmo, já não as há pela vulgaridade da igualdade de direitos e quanto a música anda uma bosta, nós  estamos vivendo com aquela máxima: Se ficamos, o cachorro morde... Se corremos o cachorro pega. Então o negócio é viver o ontem como se fosse o hoje e o hoje como se já fosse o amanhã. Em outras palavras: deixar que passe o hoje no mais desapercebido possível. Porque a bem da verdade, a coisa não está fácil nem prós lados da Palestina. Mas como fala o nosso comum amigo Túlio Sérvio: É só achar um relógio diferente que já fico plenamente feliz. Como novidade estamos aguardando para esta semana entrante a chegada do amigo comum o Conde do Grafanil Kizomba. Por ora é só; Um forte abraço meu com muitos beijinhos de Ana, que está ultimando o café da manhã e, cujo cheirinho chega às minha narinas... Baybay.

Arrais de Burgos

As opções de T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:02
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Terça-feira, 22 de Julho de 2014
CAFUFUTILA . XLII

TEMPOS CINZENTOS  . Nos intervalos da vida, durmo! Um tempo em que minha vida deixa de servir meus próprios interesses.

MALAMBA: É a palavra.

Por

   T´Chingange

 Nem sempre homem, nem sempre jovem, já mais velho, nos intervalos, aprendi a aprender a ser grande. Hoje mesmo, vou-me ensinando a ser gente tomando aqui e acolá, por onde calha, o saber dos mais sábios para ficar esperto, dos amigos mais simples aos meus insuspeitos inimigos. Já sem cabelo, rapo o que resta ainda mais curto até ficar zero. Vi-me no espelho e fiz-me gaifonas vendo as rugas enquadradas num diferente tempo de pó de variadas espessuras, nem sempre alegres, nem sempre tristes. Vesti lãs frescas, despi-me de calor e desabotoei o único botão. Calcei sandálias e chinelos, pisei descalço, os ladrilhos de verde esperança e azul-turquesa. Fui ao computador ocupar o tempo, li poemas, reli baladas e muitas tretas de fazer caretas; ouvi cantigas, li desaforos, coisas choradas, lamuriadas, cânticos gospel humedecidos, vídeos foleiros, alguns brejeiros e fui à China comer baratas, grilos e gafanhotos.

 Li mapas, rumei a norte vendo o desnorte, virei a sul a olhar o mar; fui nadar, brincar e escorregar, chafurdar no lodo. Comi bolinhas de berlim, gelado de graviola, sape-sape e tamarindo, mangaba até. Percorri o meu caminho com coisas que o diabo teceu e, vi gente nascendo, outras morrendo. Gente chegando e outras partindo; missangas de vida com magalas, malas e gente fardada com galões mais brasões; Comboio fumaça, vapor que apita, que rasga meridianos, trópicos e equador. Parti para outro e, mais outro e outro lugar, sem encontrar o meu lar, meu mar. Chorei lágrimas de secura sem nada poder fazer, mudar o destino, derrotas, fracassos e sucessos sem poder regressar. Morri-me dentro, traído e vendido como escravo, sem troca nem baldroca, coisa nenhuma; criei projectos, levantei paredes, deixei os lamentos, com argumentos renasci da dor.

 Algures numa curva, cruzeiro da vida morri, ressuscitei e não mais me matei; Orei, agradeci e desenhei vezes sem conta na areia da praia o meu sinal de luz, conheci-me num espaço, seu ponto final. Caluquembe, teceu-me na sina! Quero conservar a memória de tudo o que fui, que não fui e o que poderia ter sido. Teci-me na linha dum destino só meu. Criei a teoria do esquecimento, burilei-me nela e desconsegui. Voo, voo entre nuvens turbinadas de sucção, aspiração, compulsão e impulsão, vida de cão. No calor do tempo queimo cansaços, fracassos vazios, decepções e até solidões, também! Até tive oito, vinte e oito e sessenta e oito, quase, quase nos setenta. Degrau a degrau, tenta, subindo e descendo, tenta, avançando e recuando, tenta, Oi!? Se tenta ... tropeçando por vezes. Obrigado a mim, a ti e a tu também (o ti é um, o tu é um outro). Obrigado, principalmente a Ele, Deus. Obrigado ao Universo… 

Manuel Pombinho Ilustrações de Manuel Pombinho da EIL

O Soba T´Chingange

 

 

 

 

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:24
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Segunda-feira, 21 de Julho de 2014
MALAMBAS . XLIV

CINSAS DO TEMPO. Usar a mente! ... medir essa dimensão da almaX

MALAMBA: É a palavra.

Por

  T´Chingange

 Eu sou o que sou, um ser de alma violeta, tentando ser a pureza que Deus deseja! Um homem inteligente está sempre na incerteza porque a vida não é uma ciência exacta e, porque simplesmente, a liberdade fazendo da vida uma permanente surpresa, ninguém pode mesmo dizer-se senhor da verdade! Em nossos laços de pensamentos interiores, subconscientemente manifestamos nosso coração como sendo o altar de Deus e a Ele apelamos num valha-me Deus em uma qualquer aflição, sem se dar por isso. Não há nenhuma sonda capaz de medir essa dimensão da alma; os postulados de cientifica sofisticação não têem a capacidade de medir o porquê, o para quê, nem o simples “como” de nossos intervalos cósmicos.

 O coração é o lugar onde comungamos com Deus, o centro a partir da qual transmitimos o nosso amor para sustentar a humanidade. Na cabeça temos o cálice onde recebemos todos os pensamentos criativos do Nosso superior Deus mas, as mãos representam o meio de pôr em prática a nossa espiritualidade. Coração, cabeça e mãos, fazem parte da nossa espiritualidade. Nossas velhas feridas só serão sanadas e saradas, se tivermos o firme propósito de nos sensibilizarmos na vibração da chama violeta do amor, doando alguns momentos diários recitando nossos próprios decretos a nós mesmos.

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 A alma é o potencial vivo de Deus, a parte de nós que sendo mortal se pode tornar imortal. Imaginemos milhares de raios de sol, irradiando do nosso coração para curar e confortar todos os que sofrem. Quando dizemos ser ungidos com a luz de Deus, teremos de saber antes de mais que Cristo deriva da palavra grega Christus que tem exactamente esse significado de ungido. Por isso dizer-se que cada um de nós tem um “Cristo interior”, e cada um de nós está destinado a identificar-se com esse ser superior. Podemos assim considerar a terra como um laboratório, onde este Deus nos concedeu a liberdade de experimentar e evoluir aumentando a nossa criatividade e ajudando-nos a vencer bloqueios, a cura de problemas físicos ou conflitos emocionais, os grandes desafios da vida perdoando e ultrapassar experiencias dolorosas.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:35
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Domingo, 20 de Julho de 2014
MOKANDA DA LUUA . XXVI

ANGOLA - JOANA MISSANGA – UMA HISTÓRIA D´ AMOR

Por

 Dy - Dionísio de Sousa  (Reis Vissapa)

O conto de hoje pode dizer muito a algumas pessoas.

   Os dois longos anos de comissão em Angola tinham sido passados entre o Úcua e o Piri e algumas raras surtidas a Luanda quando recebia o pré. O lugarejo, encravado na serra da Lousã do M´Puto onde nascera e onde vivera até á a maioridade, tinha-se eclipsado da memória desde o dia em que o Uíge acostara o corpanzil de aço ao cais da capital angolana para um merecido descanso, depois da longa travessia do atlântico, carregando no bojo milhares magalas de pela rosada e fardas de caqui. O coração soltou-se do meu peito e palpitou feito vadio por entre as palmeiras do Paulo Dias de Novais, nadando alvoraçado nas águas cálidas da baía. O cordão umbilical quebrou-se naquele instante de magia rara.

:::     Meti consciente o requerimento para ficar em Angola. Para trás apenas parentes afastados que tinham encarado a minha orfandade como um gasto adicional e inesperado. Rumei para sul na rota imaginária dos sobreiros e pinheiros da serra continental e acabei no planalto da Huíla deslumbrado com a sua ossatura majestosa, as suas cascatas, os grotescos embondeiros e a sombra benfazeja das suas mulembas. A loja do mato era pequena mas era minha. Duas portas, três janelas e a cor de tijolo pespegada nas paredes para disfarçar o pó da terra vermelha e fértil. No pátio interior, a cacimba namorava uma mulemba gigante que sombreava a cozinha edificada no exterior. Pela madrugada os bois gentios mugiam clamando por liberdade e pasto, chocalhando as hastes enormes. O odor da terra embriagava-me quando madrugava para os soltar.
   A primeira vez que ela se aproximou do balcão com a timidez de uma gazela, os meus olhos perderam-se no seu colo ondulante bordado com um humilde colar de missangas. A pele mulata não permitiu o vislumbre de qualquer rubor, mas as pestanas negras ocultaram por segundos as íris cor de erva e só voltei a vê-las quando me pediu para lhe vender umas tantas contas de vidro colorido. Depois de rebuscar por entre os rolos de tabaco de odor almiscarado, os remendos para as bicicletas, as samacacas e frascos de brilhantina ofereci-lhe as missangas rejeitando a nota que ela me queria dar.
 Foram tempos inolvidáveis. De mãos entrelaçadas víamos o sol da kúkia deitar-se ao embalo da chilreada dos tentilhões e do arrulho namoradeiro das rolas. O Padre Mateus obrigara o Luís Chaves e a Joana Barros a sacramentarem o seu amor na igreja da vila. Nessa noite a lua nasceu deitada, preguiçosa pronta a ser emprenhada pelo céu estrelado. Estou no meu lugarejo encafuado algures na Lousã do M´Puto. A menina de pele trigueira e olhos cor de erva folheia o álbum de fotografias desbotadas. – Quem é esta? – É a vovó! – Como se chama? – Joana Missanga como tu. – Está aonde? – Está lá longe onde a lua nasce deitada! - Porquê que não está aqui, porquê que estás a chorar vovô, estás a molhar a fotografia. – Pronto não te deixo ver mais.

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:17
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Sábado, 19 de Julho de 2014
MUSSENDO . V

LUANDA - O sungadibengo guardava a morte no sovaco; a catinga já cheirava a cadáver.

Mussendo: Conto curto de raiz popular, missiva em forma de mokanda (carta) do Kimbundo de Angola (N´gola) durante o tempo colonial.

Por

  T´Chingange

I  Isto é a pura verdade. Chateiam-me esses tipos que trazem a morte com eles! Que só falam nela! Que se repetem, no se ainda cá estiver e coisas deste calibre! Não se afastam do cano da arma ruím com estrias de ceifar vidas; caté fazem fila para ocupar o meio do carro de fumo a cheirar tifa, pesticidas múltiplos e triplos. Mas se têem tanta corda de sisal desperdiçada por aí, porque não a usam e param de chatear quem quer viver. Eu sei que é difícil ter respeito pela morte e que nessas horas, o cão ladra e morde no coração com essa dor ordinária que deixa ranho a escorrer no nariz; os dentes postiços a rir do véu, do céu e dos cabelos lisos e escorregadios a cheirar catinga do sovaco. Meu amigo, sungadibengo, xaxáta a uafa nos dias todos do ano e traça-lhe na sabedoria de rabo-de-junco que o que só come, bota fora no imediatamente. Ele sungadibengo uatoba à-toa com a uafa e diz que falta, ainda! Ele trata a morte por tu e diz ser a sua uatouabinha!

 O fidacaixa tem a mania de capangar-me e rir com os dentes todos, fazendo-me pouco, que ele assim apalpando também todos os dias a morte, 365 no ano, lhe dá berrida! A morte, diz o maleducado do prenda, meu quase vizinho, tem medo de ser apalpada! Eu, fico na mesma de matumbo sem entender, nem bem nem mal esta filosofia e, com os seus muitos kixibus, dá, não sei como, bassula nos seus mais de oitenta anos. Este mais-velho, deve ter muita sabedoria; nunca ninguém que falou coisa assim de que apalpa a morte todos os dias, a meter-lhe medo. Ri com seus dentes do tamanho de sacholas e, olho no olho fala-me: que os brancos todos, todos mesmo, não são genuínos, que somos todos genéricos como os bagres do Lifune e Kifangondo! Eu, claro que fico kilhado, lixado e muito de encafifado com ele. O fidacaixa fala assim para mim que sou mazombo de pai e mãe. Enu uatobo kala sanji!  Ué … Aqui, eu estava fulo de raiva: - Seu sundiameno, fala lá isso de novo em língua do M´Puto! Vocês t´chinderes são como as kapotas!  Como assim? Refilo inchado de má cara. O sungadibengo respondeu: - É, … Os brancos, só falam estou fraco! … estou fraco! Num é! … Exclama abrindo mãos e pregando susto …  Isso é fala de kapota, não de gente pessoa, quase concluí!?

 Tem mais, as baronas brancas são todas das Dores; quando se juntam as Marias fazem missangas de suas dores. Eu tenho uma dor aqui! Eh! … A outra diz, isso não é nada, a minha até me retorce a moleirinha! É ver qual delas tem a dor mais dorida e mais importante! Claro que eu não gosto disto! Cada qual deve ficar com a sua dor sem chatear os demais, agora bangularem-se e bajularem sua dor sem lhe dar bassula, acho mal! Há gente que morre à-toa falando todos os dias nela; só mesmo o sungadibengo é que lhe faz frente. Um dia vi-lhe espetar com um alfinete um desautorizado vulcão amarelo na forma de furúnculo em seu mataco e falar-lhe no directo discurso: - Este não é o lugar do teu mata-bicho! Num repentemente tirou-o e depois cuspiu-lhe uma bolunga para desinfectar e mais um morrão de cigarro caricoco. O tal de furúnculo desautorizado escafedeu-se para sempre. De sungadibengo, tenho-lhe muito respeito.

Glossário das palavras sublinhadas: sungadibengo, xaxáta a uafa – mulato ordinário apalpa a morte; uatoba – faz pouco; uatouabinha! Cesta doce!; capangar-me – agarrar-me; kixibus – cacimbos.

O Soba T´Chingange   

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:15
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Sexta-feira, 18 de Julho de 2014
KISANJI . XVI

IDOLATRIA - O VERDADEIRO CHE GUEVARA XI de 11 Partes

Noticias de

                         

Nell Teixeira - Funcionário da  Fundación Campbell e Gestão ambiental – Barranquilla, Colombia

 A expressão de dor e os olhos brilhantes de Tony diziam tudo. Mas ninguém conseguia entender os murmúrios do garoto. Tony continuava batendo no peito, fechando seus olhos com força por causa da dor intensa oriunda de seu esforço. Seus executores ficaram nervosos, sem saber o que fazer. Levantaram e abaixaram seus rifles seguidas vezes. Olharam para seu comandante, que deu de ombros. Finalmente Tony levou a mão à sua face e arrancou a mordaça que o garoto propaganda de Del Toro havia mandado pôr nele. A voz do guerreiro de 20 anos saiu num grito forte: "Atire BEM AQUI!", urrou Tony para seus boquiabertos carrascos. Sua voz foi um estrondo e sua cabeça se inclinou para trás como consequência do esforço. "Bem aqui no PEITO!", gritou Tony. "Como um HOMEM!" Tony rasgou sua blusa, bateu em seu peito e com uma forte expressão de dor gritou para seus embasbacados executores: "Bem AQUI!".

 Em seu último dia de vida, quando estava na prisão, Tony recebeu uma carta de sua mãe: "Meu querido filho, quantas vezes te havia falado para não te envolveres em essas coisas... Mas eu sabia que minhas súplicas eram em vão. Sempre lutaste por tua liberdade, Tony, mesmo quando ainda eras uma criança. Eu sabia que você jamais toleraria o comunismo. Castro e Che por fim pegaram-te. Meu filho, amo-te do fundo do meu coração. Minha vida agora está em pedaços e nunca mais será a mesma. A única coisa que resta agora, Tony... é morreres como um homem". "FUEGO!!!", gritou Che. As balas despedaçaram o corpo mutilado de Tony, logo após ele ter chegado ao poste, se ter erguido por si próprio e encarado resolutamente seus assassinos. Mas o pelotão de fuzilamento de Che estava acostumado a matar pessoas que estavam de pé. Por estar sem uma perna, Tony era um alvo mais difícil. Assim, boa parte da saraivada de balas não acertou o jovem. Ainda vivo, era a hora do golpe de misericórdia.

   Normalmente, um projéctil de calibre 45 é suficiente para esmagar um crânio. De acordo com testemunhas, três alojaram-se no crânio de Tony. Parece que a mão do carrasco estava tremendo muito! Mas finalmente conseguiram matá-lo. O homem que a revista Time aclama como sendo um dos "heróis e ícones do Século" adicionava mais uma vítima à sua colecção. Mais um inimigo despachado - amarrado e amordaçado, como de costume. Fidel e Che tinham por volta de 35 anos quando mataram Tony. De acordo com o Livro Negro do Comunismo, seu pelotão de fuzilamento matou outros 14.000 guerreiros da liberdade, todos devidamente amarrados e amordaçados. Muitos (talvez a maioria) de suas vítimas eram jovens por volta dos 20 anos. Alguns, eram ainda mais novos.

Kisanji: -  Instrumento musical - tábua de forma rectangular, onde se fixam umas palhetas de metal que accionadas transmitem sons (Angola).

FIM DO TEMA

As opções de T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:29
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Quinta-feira, 17 de Julho de 2014
MOKANDA DO SOBA . LVI

NAS MALAMBAS DO TEMPO . A EIL (Escola Industrial de Luanda) e o Gato Preto de Rio Maior…

MALAMBA: É a palavra

Por

   T´Chingange

 Saindo de Johannesburg via Dubai em 30 de Maio de 2014 pela Emirates flights, chego a Lisboa em um sábado dia 31 de Maio, exactamente o dia do encontro dos “Antigos alunos e professores da EIL”. Já em Lisboa, telefono a meu Mano Corvo costa Araújo x 2, pintor de craveira internacional dizendo-lhe que gostava de lhe dar um abraço e um licor de marula. Dito e feito, compro um novo telemóvel celular e dou indicações que iria chegar já tarde para o almoço em Rio Maior, no Gato Preto e na Quinta das Acácias. Chegado lá já quase no fim do almoço com algazarra animada, entro e logo encontro o Barbeitos. Chamo-o pelo nome e ele assiste. Pergunto-lhe aonde estão os tipos da pintura decorativa e se sabia quem era o Costa Araújo; nada! Encolheu os ombros, sinal de que não conhecia o meu ilustre amigo; encontrei-o no meio de animada cavaqueira e, sai daí um forte abraço com mais de 40 anos de ausência. Ali estava Pombinho que fanfarronava suas peripécias citadinas com sua bike na muxima do Tejo em Alcântara com seus fumos de vaidade.

 Ali dentro, cruzo com gente de familiar semblante, eles e elas com quem convivi por pelo menos dez anos estudando electricidade mais preparação ao Instituto e também mestrança de Construção em regime nocturno. Havia ali artistas, químicos analistas, serralheiros mas, sem distinguir neles seus recantos de qualquer mutua amizade. Não estava na festa errada e até reconheci muitos mas, eles e elas olham indiferentes para mim com uma pulga bulindo-lhes no cerebelo. Quem será este cara? Ali estava o Morais, e sai daí um forte abraço com cumprimentos por procuração do Trofa que está na Luua; Morais, também não se lembrava do meu nome! É natural! O tempo comeu o cabelo, as rugas desconfiguraram o riso e, a certeza certezinha acabrunha-se na dúvida do será?  A mona da gente já não é a mesma! Nem com lecitina de soja catrapiscamos o véu da t´xipala. Não fiquei por ali muito tempo porque já tinha no lombo 16 horas de voo, mais desperdícios no check in e o sobe e desce nos trens dos terminais. Naquele salão do Gato Preto reparei que todos tinham um rótulo colorido fruto do musgo do tempo com carrapatos atrás das orelhas e fungos de invisíveis bitacais e um subtil cheiro de naftalina mas, era bom estar ali! Juro mesmo! Juro que era!

 As damas, embrulhadas em celofane regavam saudades olhando florinhas embaladas num vácuo de alegres camurças de macias doçuras. Algumas, notava-se nítido estarem firmadas em seu riso de sumaúma. Quase todos riscavam fósforos de cabeça partida em uma lixa ressequida no tempo tentando salvar seus brasões. Seus maridos tomando catembe, reviam as condecorações misturadas com passeios a kassoneca, Mabubas e Pungoandongo; suas grandes pescarias na Barra do Kwanza desvanecidas nos muitos anos de viuvez. Cada qual despoletava suas espoletas e, cada qual espreitava ou falava suas estrias da vida por um canudo enferrujado.

 Todos olhavam no catravés do xá caxinde, erva de cidreira e brututo com pau de Cabinda no lugar do cão; gentis cavalheiros de artérias endurecidas corações piedosos expondo as fitas de suas comendas; a de Santiago, da Ordem de Cristo, do Haji-Ya-Henda mais as da Muxima com os dolorosos chifres paridos e enxertados no bairro do Café, Maianga, Maculussu, Maianga ou Vila Clotilde. Eh pá, eh pá, espera um pouco! … Tu, pá sempre foste um gajo porreiro! … Um filho da mãe borrifando-se de garinas! … Ai-iu-é, não me fales do Baleizão! … Foi assim no pouco que vi, derrotando o dragão da saudade que vai e volta. Dragão? Qual dragão? É!... É esse mesmo, o sacana que carrega consigo o salalé da velhice no tempo. Quase ninguém deu conta mas, eu e ele, o dragão salalé estivemos lá! Um forte abraço.

 Ilustrações de Costa Araujo Araujo

O Soba T´Chingange      

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:18
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Quarta-feira, 16 de Julho de 2014
MISSOSSO . V

NO KUNENE . Aquele jacaré era gente. Gente boa que nasceu em corpo errado!... Rodrigues, seu primeiro dono, deu-lhe o nome de Sundiameno.

Missosso: Da literatura oral angolana, contos, adivinhas e provérbios com homens, monstros, kiandas de Cazumbi, animais e almas dialogando sobre a vida, filologia, religião tradicional e filosofia dos povos de dialecto quimbundu. Óscar Ribas foi o seu criador.

ATENÇÃO - Caso queiram ouvir outra música que não a do kimbo, CLIQUEM «««« www.connectmusicbox.com »»»» para entrar e voltem AKI, OU AQUI... e leiam o resto que eu, espero! ...

Por

 T´Chingange

 No fogo do pó levantado do chão vermelho, margens do Kunene, os kandengues himbas dançavam com um jacaré domesticado; desconhecia que um jacaré podia ser domesticado mas, os olhos meus, me diziam no seu ver, que aquilo visto, era mesmo de verdade verdadeira. Vejo e aprendo que a natureza muito nos ensina com seu riso de muitas flores riscando no firmamento cinza com branco a azul, musgos de nossas velhices coloridas a vermelho com laranja. Pus a mão no meu cérebro buscando naqueles milhões de células apalpar qual daqueles cabelos feitos bissapas estavam fora do sítio para entender aquela cena inaudível, inacreditável! Sei que tudo em minha vida resulta de guardar sempre comigo a esperança monandengue; de espiá-la com olhinhos de a ver balouçada no arco de minha sobrancelha.

 - Como se chama esse jacaré! Perguntei ao jovem mais próximo. – Com a boca! Respondeu o pivete. Pintado de coisa ruim consegui domesticar meu frenesim raivoso, e continuei: - Sim! Mas tem nome, não tem? – Chama-se de Sundiameno. Disse! Fiz uma cara feia, de nariz torcido e, ele, vendo-me embrutecido repetiu. É mesmo de Sundiameno porque não é de fiar! A gente lhe desconfia, acrescentou. – Nem nele, nem no pai dele! Concluiu. Esta conversa tola seguia um rumo desclassificado e, foi neste então que vi sentado num banco de pau feito e atado com matebas, um mais-velho de barbas credíveis e brancas, também chambeta de condição. Dirigi-me a ele e entabulei uma conversa séria, falamos do rio Kunene e de seus mistérios. Foi este mais-velho kota, já século, que me descreveu alguns mistérios e, que passo a referir: - Olha mwadié (branco) este rio tem muito cazumbi e muito feijão branco. Um dia ajudei um gweta, t´chindele Rodrigues, branco assim como tu, que domesticou desde criança, um jacaré a apanhar diamantes para ele.  Saiu daqui muito de rico! Afirmou isto e, em seguida, apontando para suas muletas de fibra sintética disse: - Foi ele que mas ofereceu! No lugar aonde o rio se esconde, fizemos acampamento por muitos anos até que chegou a guerra da libertação e, ele seguiu com a sua gente.  Este segredo eu conto a toda agente! Conclui na sua sabedoria filosofica de cat´chipemba com bolunga.

 Por ali passaram gado, camiões e máquinas amarelas de fazer estradas. Abriram umas picadas e depois seguiram para Walvis Bay e Swakopmund da Namíbia. O mistério daquele jacaré estava quase desvendado por mim, mas, na dúvida sobrante, perguntei: - Então este jacaré que sopra o pó do chão, é esse tal que o gweta Rodrigues usava para apanhar os feijões brilhantes? Talqualmente! Respondeu o kota num claríssimo português com pronúncia do norte do M´puto. E, continuou: - Pois eu fiquei com estas muletas e esse jacaré Sundiameno. O mundo é por demais misterioso! Nunca que eu ia acreditar nisto se não visse! O mais velho de nome Oshakati, ainda me disse outra coisa em que não acreditei: - Sabes que mais, disse ele. Esse jacaré toca guitarra! Acompanhava muitas vezes seu antigo dono a cantar fados duma tal de Amália, uma sua prima muito conhecida lá do M´puto! Isto era demasiado para a minha camioneta; meti-me no four-bay-four e segui para Otxivarongo. Conversando com um velho amigo de Otxivarongo, psicólogo do Kalahári, disse-me já ser conhecedor desta estória e, surpresa das surpresas, aquele jacaré era gente! Gente boa que nasceu em corpo errado! Juro que tudo isto me transcende!

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:08
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Terça-feira, 15 de Julho de 2014
MISSOSSO – IV

NO ÁTRIO DA EIL DA LUUAExpuseram ali a m´boa e, de tanto protesto dos ecologistas, retiraram a bichona…

Missosso: Da literatura oral angolana, contos, adivinhas e provérbios com homens, monstros, kiandas de Cazumbi, animais e almas dialogando sobre a vida, filologia, religião tradicional e filosofia dos povos de dialecto quimbundu. Óscar Ribas foi o seu criador.

Por

 T´Chingange

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 Na esquina dos lábios dela, da Luzia M´Boa, podia ler-lhe o sorriso de sua verdadeira vida. Com as suas compostas feições ovaladas podia com os olhos afagar suas escamas desfrisadas em um reluzente manto como era de uso no bairro da Ingombotas. Vendo-a, lembrava-me das falas de meu pai … Se queres estragar a tua vida, casa com uma mulata; elas são umas cobras! Dá-lhe missangas de oiro e perfumes das arábias e vais ver!... Vais-vais! Vão-te ingombotar! Vocês agora gostam de ser enfeitiçados com água-de-cú-lavado por essas songamongas carnívoras de línguas bifurcadas, acrescentou num linguajar muito só dele. Meu pai, meu encarregado-de-educação, tinha sempre um discurso curto e agressivo; e, tinha sempre razão, mesmo quando não a tinha! Em verdade, ás vezes dizia coisas sabidas, daquelas que a mão do cérebro agarra e guarda no bolso com papéis de loterias passadas, contas de mercearia duvidosas nos zeros com sinais de multiplicar e ainda um canivete suíço para o que der e vier.

 Tudo, nas falas dele era da época, da má sorte da sueca, das condições e mentalidade, enfim, uma época que morreu mas, que deixou embrulhada superstições em novas formas de estar. Vi crescer Luzia jibóia M´Boa desde muita tenra idade, criança mesmo, desde que a fui buscar numa caixa de botas da macambira. Morava no Cazenga mas era da lagoa do Lifune por nascimento. Luzia, cresceu desmesuradamente enrolando-se de amor ao meu pescoço pernoitando-me em suas curvas escorregadias de sumaúma e, eu dava-lhe beijos ternos e ardentes, bífidos e languinhentos. Era um amor domesticado e desenfreado. Tanto, tanto que já muito adulta Jibóia M´Boa engoliu-me por amor, como se fosse uma espiga de milho do Alto-Ama. Ninguém compreendia nossa íntima relação, de jiboiarmos juntos; assim, balouçando na rede de ternura ondulada e, foi muito cheia de amor que Luzia me deglutiu quase, quase por inteiro.

 Estás quilhado Tonito! Não tem riso para a morte! Quase defuntado, quando dei por mim já só estava com a cabeça de fora! Estou feito! Raciocinei e, num repentinamente matutei, não tinha mais tempo a perder! Aflitinho da silva disse para mim na zoada do amor dela! Foi quando me lembrei da salvação... Valeu-me ter visto muitos filmes de Tarzam no Colonial; no meu bolso direito estava um canivete suíço! Com lentidão, naquele aperto amoroso, consegui abrir o tal de Macgyver e rasguei o coração da bichona. Amordaçado de aperto uterino, cortei o coração da cobra a tempo de suster o último suspiro de oxigénio. Meu Pai, encarregado de educação, de contente, embalsamou a bichona e para gáudio dele, pediu ao Director Beirão para expor aquela espécime de muita raridade no átrio da escola; isso mesmo, EIL. Surpreendentemente o Concelho Directivo autorizou mostrar a Luzia Jibóia enrolada num bambizinho atado a um chinguiço! Claro que era uma forma de mostrar a sustentabilidade das espécies aos novos formandos. Surgiram os homens da ecologia, … Que não senhor, aqui não é o lugar certo!? E, tra-la-lá, tra-la-lá, ouvidos os homens da ciência, da Liga Africana e notáveis da Luua, acabou por ir parar ao Museu de Angola junto do Kinaxixe. Creio que ainda lá está! Lembrando-me disto como se fosse agorinha; revejo-me no quanto o contar estórias, se pode tornar em uma actividade de alto risco.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:35
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Segunda-feira, 14 de Julho de 2014
MALAMBAS . XLIII

CINSAS DO TEMPO Muitas vezes, subestimamos Deus, sem saber que somos parte dele . IX

MALAMBA: É a palavra.

Por

 T´Chingange

A terra está a ser maltratada; teremos de dedicar à humanidade melhor iluminação, mais tempo no aperfeiçoamento de nossa própria alma; melhorar a via do espiritualismo em detrimento do tão evidente materialismo e egoísmo hodierno. Todos nós temos infalivelmente um encontro marcado com o destino mas, no plano divino e quando se provoca um aborto, qual será a perspectiva de uma criança que não nasceu? E, quais as consequências físicas e psicológicas que o aborto causa às mais de cem milhões de mães no mundo, que não o chegaram a ser? O fluxo de energia de nosso ser afecta a circunstância da nossa vida, o nosso bem-estar físico e emocional; essa energia não fluindo livremente, não nos proporcionará sentirmo-nos calmos, saudáveis, criativos e felizes. É neste então que surge a frustração, apatia, depressão, doenças ou acidentes.

 O estado de nosso corpo é influenciado não só pelo que pensamos mas, também pelo que dizemos, porque as palavras que proferimos comandam a energia; Nossas visualizações são profecias que se cumprem por si mesmas, tal como as nossas palavras, porque a luz que flui em nós é a luz de Deus; tudo o que afirmamos a seguir à palavra EU SOU, tornar-se-á uma realidade de nosso mundo. Se aplicarmos esta energia que vem de Deus, em alguma coisa bela, real, algo que tenha importância para o nosso progresso espiritual, beneficiar-nos-á e, a todos os que nos envolvem. Com a prática voluntária pode até curar-se! Quando decretamos sinceridade, milhares de raios de sol irradiam de nosso coração para curar e confortar os que sofrem.

 Nossas visualizações são um íman que atrai energias criativas do Espírito para realizar projectos que temos em mente. Se muitas pessoas se concentrarem de forma positiva em uma situação, um projecto, consciente ou inconscientemente, torná-lo-ão uma realidade. Eu, nem sabia o que dizer ao certo quando iniciei esta crónica e tudo foi surgindo, naturalmente. Os monges orientais, afirmam que depois de várias semanas de repetição e meditação em um pedido com oração, ficavam em um estado de alterado. A vulnerabilidade a esta força planetária e interplanetária, provém do magnetismo do amor, dessa luz libertada por Deus e que ninguém consegue definir em completa integridade e, que até muitos, simplesmente rejeitam. Foi porque tinha de ser! O que tiver de acontecer, acontece! É o destino! Poucos reconhecem por orgulho ou mesmo timidez de que ali há algo superior! Subestimam Deus sem saber que são parte dele. Por tudo o dito, a pessoa mais importante a quem devemos perdoar, é a nós próprios; um qualquer dia teremos de reconhecer isso…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:38
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Domingo, 13 de Julho de 2014
KANIMAMBO . XLVIII

MEU LADO OMEOPATA . ANTES QUE A TERRA ME COMA, EU COMO-A EM COMPRIMIDOS…

Kanimambo: Obrigado (de Moçambique)  

Por

  T´Chingange

ADEUS UREIA, COLESTEROL, GLICEMIA, LÍPIDIOS E TRIGLICERÍDEOS...

       Alguns dias atrás, um médico amigo meu, mostrou-me uma análise de sangue; o que vimos era preocupante. Os principais parâmetros do sangue,UREIA, COLESTEROL, GLICEMIA, LIPÍDIOS, TRIGLICERÍDEOS, apresentavam valores que, em muito excediam os níveis permitidos. O doutor, mostrou-me em seguida o nome de seu paciente que, até ali, ocultava com sua mão. Era ele mesmo! Vendo isto comentei: - Mas como é? E o que você fez? Com um sorriso, ele me apresentou a folha de uma outra análise, dizendo: - Agora, olhe esta, compare os valores dos parâmetros e veja as datas. E eu fiz isso! Estes valores estavam nitidamente dentro das faixas recomendadas, o sangue estava perfeito; minha surpresa aumentou, quando olhei as datas; coincidiam com recentes datas em que eu lhe transmiti alguns dados recolhidos por raizeiros brasileiros e alguns indicadores de meu tio guerra, um curandeiro de renome em terras de Beira Alta do M´Puto e, também o meu apego aos chás e mesinhas.
 Calmamente, ele respondeu que o milagre se devia às s indicações que lhe sugeri para tratar de sua próstata. Este tratamento foi utilizado por mim mesmo, para baixar o PSA da próstata, com impressionantes resultados. Devo isto a um amigo próximo que me garantiu ser um remédio de quase santo indicado por seu avô, um químico que lhe legou tudo e, deu certo! Desconhecia era tudo o mais de benéfico além das suas sementes moídas ou inteiras. Agora compro as minhas pevides, trituro-as no misturador e como às colheradas de vez em quando. Sendo assim recomendo: Compre no supermercado, pedaços de abóbora grande que costuma ser usada para fazer doce. Descasque diariamente, 100 gramas em pedaços, coloque-a crua no liquidificador, junto com água e bata bem, fazendo uma vitamina. Por quatro semanas tome essa vitamina em jejum, 15 a 20 minutos antes do café da manhã. Faça isso sempre que o seu sangue precisar de ser corrigido. Não há qualquer contra-indicação, por tratar-se apenas de um vegetal natural com água sem açúcar.

 Antígeno prostático específico ou PSA é uma enzima (glicoproteína) com algumas características de marcador tumoral ideal, sendo utilizado para diagnóstico, monitorização e controle da evolução do carcinoma da próstata (ou câncer de próstata).

 

 

 

 

Consultando meu cunhado que é médico analista referiu-me que a abóbora contem nela ingredientes activos como o SOLVENTE DE COLESTEROL de baixo peso molecular: O COLESTEROL MAIS NOCIVO E PERIGOSO - LDL.Durante a primeira semana, a urina apresenta grande quantidade de colesterol LDL (de baixo peso molecular), o que se traduz em limpeza das artérias, inclusive as cerebrais, incrementando, assim e também, a memória da pessoa substituindo a lecitina de soja. Sabem que mais … agora este amigo médico, chama-me de colega; e, isto sim é um exagero; eu só tentei ser amigo.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:25
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Sábado, 12 de Julho de 2014
MUSSENDO . IV

LUANDA - BAILE DE FINALISTAS NA LUUA . Vens comigo comer um baleizão? …

Mussendo: Conto curto de raiz popular, missiva em forma de mokanda (carta) do Kimbundo de Angola (N´gola).
Por

 T´Chingange

   No baile de finalistas do meu curso de Montador Electricista da Escola Industrial de Luanda, com fato emprestado cheirando a naftalina e penteado de risco ao meio, brilhantinado, com os meus dezassete anos de idade, uma moça torcendo o nariz e franzindo a testa com um sorriso de amor, disse-me: - Cheiras esquisito? É do fato ou quê? Eu, lavado com lavanda de sabonete LUX, pingando banga molhada e brilhantina roubada às minhas irmãs Laurinda e Adília, como podia estar cheirando esquisito? – Não Telminha, o cheiro exótico que tenho comigo é dum perfume que roubei às minhas manas; dizia no papel que era importado da Calábria, que dava brilho cheiroso de eucalipto de Tenerife e que durava por mais de quinze dias. Vistes!
 O conjunto dos Cunhas tendo o Manuel Flórido como vocalista acelera-me a passada com um “summertime” de um calor plasmado de fino cheiro nas camufladas nuvens do cacimbo luandino. Na alegria de rasgar a escuridão, jogo serpentinas na Telminha para quem eu, só tinha olhos de cachorro rafeiro da Vila Alice. Mais tarde, depois dumas cucas dançando com ela “reloj no marques las horas” moringuei-lhe no ouvido uma conversa de água mole preparando o terreno, melhor a areia da Corimba, numa ternura de bagre; eu, não queria mesmo dormir minhas palavras, assim, do útero de minha inteligência disse-lhe: Vou levar meu gira-discos e musica cantada por Adamo. Ela, Telminha, arrebitou osolhos doces para mim e disse que sim senhor; depois apresento-te a minha mãe! Baixinho disse-lhe que tinha o “Je t'aime mon amour” carregando na última palavra e sumindo as demais.

 O sorriso de sua admiração calada, felicitou-me com um arfar de peitos, devorando-me o sangue. Só no outro dia de manhã, já domingo, é que soube que aquilo do perfume cheiroso de eucalipto era mesmo óleo de envernizar móveis. Seja como for, isso já não importava. De consciência tranquila, inchados de alegria, eu e Telminha, burrinhamos a água morna; salpiquei-lhe palavras muito cheias de feitiço, estendendo-lhe as duas mãos. O resto, pertence ao pó da estória vadia, silenciosa a remexer problemas que nem sei ainda neste momento, como vai ficar nos finalmentes. Com o tempo, Telminha descobriu que eu tinha um choro difícil, um riso fácil e, era mentiroso compulsivo; sempre guardava nos meus dedos o branco relevo de seus vestidos bordados. Nós mentíamo-nos acreditando que tudo era verdade, nós queríamos acreditar! - Vens comigo comer um baleizão? Porreiro! Dominós ó bispo! No meu sangue vermelho de gotinhas entrelaçadas recordo as juras mentirosas “Juro, sangue de Cristo!” E, assim perdurou até os dias de hoje.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:37
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Sexta-feira, 11 de Julho de 2014
N´GUZU . XXIV

ANGOLA – KILAMBA KIAXI . Um "elefante branco" angolano

N´Guzu: Força, poder, deus da guerra.

Escolhas do 

Kimbo Lagoa

FONTE:PÚBLICO e Lusa

Kilamba Kiaxi inaugurada a 11 de Julho de 2011 e projectada para funcionar como sede do recém criado município de Belas.

O objectivo era albergar às portas de Luanda cerca de meio milhão de pessoas; até agora, o empreendimento Nova Cidade de Kilamba não passa de mais um "elefante branco" angolano construído com dinheiros chineses. Há relvados, prédios, apartamentos, escolas, lojas e estradas. A única coisa que não há são pessoas. Era suposto o complexo residencial Nova Cidade de Kilamba - a cerca de 30 quilómetros de Luanda, estar por esta altura cheio de habitantes, mas até agora não passa de uma cidade-fantasma. As pessoas que aí conseguiram comprar um apartamento, vêem-se agora a braços com propriedades depreciadas. A empresa China International Trust and Investment Corporation (CITIC) gastou 3500 milhões de dólares nesta urbanização que, uma vez completa, ocupará 5000 hectares. Em troca, Angola pagou este investimento com a sua matéria-prima mais preciosa: petróleo.

 Este investimento é o mais significativo de uma série de “cidades satélite” que estão a ser construídas por empresas chinesas um pouco por todo o país desde que Pequim começou, há alguns anos, a investir fortemente em Angola. O governo angolano promoveu a Nova Cidade de Kilamba como um novo paraíso para a classe média angolana, que podia aqui encontrar um estilo de vida mais relaxado que no centro de Luanda. Mas, num país onde a classe média ainda não tem visibilidade nem poder económico, o plano parece agora condenado. Elias Isaac, responsável pelo ramo angolano da sociedade OSISA (Open Society Initiative of Southern Africa), constata, em declarações à BBC: “Não há classe média em Angola, só os muito pobres e os muito ricos, e por isso não há ninguém que compre este tipo de casas”.

 Os factos não desmentem Isaac: quase um ano depois de os primeiros 2800 apartamentos concluídos terem sido postos à venda, apenas 220 foram vendidos. E mesmo estes - avança a BBC - não terão sido ainda totalmente ocupados. O local também não tem ainda infra-estruturas a funcionar. À excepção de um hipermercado localizado à entrada do complexo, a BBC diz que não há mais nenhum sítio para comprar comida. Nada disto é surpreendente, porém, se levarmos em conta que os apartamentos estão a ser vendidos a preços que variam entre os 120 mil e os 200 mil dólares, num país onde se estima que dois terços dos cidadãos vivam com menos de dois dólares por dia. Tudo isto às portas de uma capital considerada a cidade mais cara do mundo.

 Elias Isaac sublinha que a prioridade em Angola devia ser a construção de casas a preços reduzidos, uma vez que maioria da população ainda vive em barracas sem água, electricidade ou saneamento. A BBC acrescenta que ainda ninguém sabe exactamente como é que será feito o processo de selecção de habitantes e os mais críticos argumentam que tudo não passa de uma manobra eleitoralista. Respondendo às críticas que dão conta que a urbanização fica demasiado longe do centro de Luanda, o governo afirma: “Há sempre pessoas que criticam, mas graças às novas auto-estradas que estão a ser construídas, a Nova Cidade de Kilamba ficará apenas a 15/20 minutos do centro da cidade (de Luanda)”.

As Opções do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:43
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Quinta-feira, 10 de Julho de 2014
MALAMBAS . XLII

CINSAS DO TEMPO . Usar a mente! ... Atlântida e as LemúriasVIII

MALAMBA: É a palavra.

Por

  T´Chingange

 Lemúria Foi um continente que existiu na pré-história mas afundou no oceano devido a alterações geológicas. Lémuria perdurou na memória colectiva dos povos pela sabedoria acumulada ao longo de várias gerações; ainda hoje referimos: deixa-te de lamúrias e, não sabemos do porquê desta expressão.

Tal como Edgar Cayce, Saint Germain revelou que hoje enfrentamos os mesmos desafios que destruíram as antigas civilizações da Atlântida e da Lemúria. Ele disse em sua existência dimensional ter visto a humanidade caminhar por opções erradas, desbaratar as energias de uma centena de milhares de anos de progressos científicos, e até conhecimentos cósmicos, os quais transcenderam o grau que foi atingido pelos membros das mais avançadas religiões deste momento. Alguns entraram nas mesmas velhas espirais de ilusão da Atlântida, de abuso do poder e do dinheiro, invertendo o que poderia ser neste agora a verdadeira idade do ouro.

 Por Saint Germain foi dito que os colapsos económicos acontecem quando menos se esperam, a não se que façamos o nosso trabalho espiritual; que não nos podemos deixar iludir pelo apogeu; que há muitos grupos de apoio à economia, ao sistema monetário e às instituições bancárias e, que estes não impedirão o colapso das nações e das casas bancárias, edificadas sobre a areia da cupidez e da ambição humanas, e da manipulação do sangue vital do povo de Deus. Isto surgiu escrito a 27 de Novembro de 1986, muito antes da crise monetária da Europa e América e ainda vigente.

 Sobre a raça-raiz, a geração índigo interroga o mundo de como será quanto à iluminação da humanidade e do melhoramento das condições da terra quando infelizmente se usa as dádivas da ciência para aumentar o materialismo, em detrimento do espiritualismo. É implícita a referência ao uso da Internet em terrorismo de informação, tecnologia que deveria ser usada para fazer a paz e não as guerras. Todos nós temos um encontro marcado com o destino e quando este é morto á nascença é interrompido; a esses o plano divino perguntando: Qual é a perspectiva de uma criança que não nasceu?

 Muito mais de 100 milhões foram coarctados por aborto, assassinato por homicídio legislado: O aborto é o assassínio de Deus, um homicídio em primeiro grau… Se o mundo não regeitar aquele homicídio, pago pelos contribuintes, o julgamento acontecerá, como aconteceu a Judá e a todas as outras nações que o praticarem (Bíblia: Jeremias7:31;19,52. Uma nação será vulnerável se não defender a vida no ventre materno… Estamos a viver essa vulnerabilidade. A individualidade não confere a ninguémo direito de tirar a vida a outrem! Nenhuma mulher ficará isenta de consequências físicas e psicológicas apôs um aborto.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:04
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Quarta-feira, 9 de Julho de 2014
FRATERNIDADES . LXII

África profunda - Nas terras do fim do mundo 

Por

Eduardo Torres Eduardo Torres

 Quando criança, ainda ouvi várias histórias passadas nessa Angola inóspita, exigente nas suas relações, terrivelmente perigosa, mas simultaneamente atraente e amada. Os comerciantes do mato, viviam absolutamente isolados, e mais do que eles, alguns chefes do posto administrativo, às vezes em locais situados fora dos normais circuitos utilizados pelos fubeiros, pelas carreiras mistas de passageiros e de carga que começavam timidamente a surgir; Havia as ligações, a partir de Sá da Bandeira para o Huambo, Benguela e Humbe mas, lá para as terras do fim do mundo, só havia transportes de longe em longe para entrega de produtos necessários ao comercio tais com como enxadas, picaretas e ferramentas forjadas em Luanda ou na Metrópole ou ainda novas sementes. O negócio com o nativo era tão intenso que, essa rude gente rápidamente aprendia seus dialectos. Os postos administrativos com seus cipaios, tinham por tarefa coordenar as várias actividades e cobrar imposto de cubata entre outros, subsistindo assim, sem sobrecarregar o M´puto longínquo.

 O resto de todo o movimento lá mais para o interior, era feito através do "carro bóer", com grandes tropas de Ambaquistas, macotas, mondongos e monandengues numa relação directa na troca de produtos. Nessas terras onde o calor aperta e, a doença do paludismo chega sem aviso tal como a tzé-tzé; Ao entardecer não se podia abandonar o interior das casas, porque os leões, hienas e outros predadores podiam surgir a qualquer momento; naquele seu habitat, era natural circulavam por perto dos povoados com cabeças de boi. Quando o chefe do posto necessitava de alguma coisa ou ajuda, enviava um cipaio de mensageiro aos comerciantes próximos mas, isso no geral demorava uns quantos dias.

 Baseado numa das muitas histórias que ouvi, que presumo ser verdadeira, em um posto isolado, aconteceu, que um dia a esposa de um destes chefes, adoeceu; parecendo não ser nada de grave, no correr do tempo seu estado de saúde foi-se deteriorando, até que seu marido já em desespero envia um cipaio a buscar ajuda ao fubeiro mais próximo. Os dias passaram-se sem chegar o tão desejado apoio e a senhora faleceu. Seu marido, o chefe de Posto, teve de tirar as portas de sua casa para fazer o caixão sepultando-a desta forma. Esta abnegação tem forçosamente de ser lembrada aos vindouros para que não se deturpe essa nobre missão de gente pioneira, sem honra nem glória.

Viajando com meu pai, conheci muitos comerciantes que viviam num isolamento de completo desespero; seu contacto somente se fazia quando passavam as caravanas de tropeiros á semelhança do Brasil. Eram estes os chamados " Funantes ou Ambaquistas", que não sendo comerciantes na verdadeira acepção da palavra, estabeleciam aquilo a que se poderá chamar hoje de rede primária de escoamento de produtos, cobrando seus serviços em libongos ou makutas, iam desde a costa, Benguela, Sumbe (Novo Redondo) ou Namibe para o interior correndo riscos de ataque de feras ou meliantes, como o tão falado Kaprandanda. Angola era e continua ser diversificada em seus profundos contrastes, com seus sobas, kimbos e toda uma panóplia de feiticeiros, curandeiros, kimbandas misturado crenças de misticismo de vivências díspares.

(Continua…)

Nota: Tzé-tzé – mosca portadora da doença do sono; Kaprandanda – tempos antigos , quando do uso de arcabuzes; Ambaquistas - naturais da Ambaca, pioneiros cafuses dados ao trambique. 

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:16
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Terça-feira, 8 de Julho de 2014
MISSOSSO – III

NA PRAIA DOS AMORESNo Munhungo do M´Puto

Missosso: Da literatura oral angolana, contos, adivinhas e provérbios com homens, monstros, kiandas de Cazumbi, animais e almas dialogando sobre a vida, filologia, religião tradicional e filosofia dos povos de dialecto quimbundu. Óscar Ribas foi o seu criador.

Por

 T´Chingange

 Hoje foi um dia do camano. Aconteceram Coisas do arco-da-velha que até me parece ter sido mentira. Partilhando matutices, antecipo-me aos dichotes inevitáveis que me beliscam a nobreza e fidalguia. Assim, para não ficar carregado e sozinho com tantos mistérios, vou contar à malta da Maianga do Maculusso e dos Coqueiros da Luua e demais kazucuteiros do meu kimbo, este sucedido. Eram dez horas quando resolvi ir até à praia do mato passear o cão e roçar-me na arruda, tomilho e aroeiras em um carreiro quase tapado por cardos e trepadeiras arranha-cães de picos traiçoeiros. Descendo a encosta para o barranco verde, refúgio de raposas e bichos rastejantes dou de caras com um homem de tez branca, meia-idade de tronco despido e descorado; ainda de longe saudou-me: - Good morning! Respondi do mesmo jeito! Já mais próximo, pergunta-me em inglês: - Is this the way to get to the boat-of-love?... Num lugar destes e, uma pergunta destas, até fiquei meio desconfiado, meio estupefeito! - Good! - This is the path to the beach from the bed of the Cow! Disse eu respondendo, literalmente confuso. - Yes, yes ... thank you! Respondeu o gringo da bretanha. A isto respondi-lhe um simples “have a nice day!” e, segui descomposto com esta inaudita excrescência, deixando o carcamano a olhar os fósseis de concha do tempo dos dinossauros.

 Caminhando por ali meus silenciosos problemas, este gringo, veio remexer no pó da estória que trazia no pensamento e que agora, esta, se ria para mim, gracejando espadas e arcabuzes fazendo-me gaifonas porque isto nada tinha a ver com o bote-do-amor; pelo contrário, mais era uma luta de corsários da coroa britânica com naus de piratas franceses em barcos de muitas velas, com espadas e chapéus do tipo de Dartanhan de longas penas de pavão. Quase descendo a pequena falésia da praia, noto que por detrás da rocha grande, um casal de cores avermelhadas corando ao sol ... nuínhos da silva; expunham suas partes descoradas e intimas ao léu, nutrindo além do sol e o iodo, as areias monaziticas com radioactividade de fazer n´guzo nos tintins e passaroca.  

 Para não destoar do ambiente prá-frente, descalço até o pescoço, meto-me na fria água ginasticando o esqueleto por um pedaço de tempo e, após sair desta, estico-me na rocha plana a curtir o sol; quase dormitava quando começo a ouvir um barulho de motor de barco não muito longe, e vozes excitadas. Sento-me, ponho as gafas e, deparo com algo inusitado; ali naquela pequena enseada escondida do mundo, estava um junco chinês … na minha praia!? Cheio de gente algazarrada, podia observar o que parecia ser um barco amarrotado de marroquinos ou ilegais do norte de África entrando em águas Lusas; mas, não era assim! Tratava-se de turistas desenferrujando excentricidades com chapéus de bambu. Do alto da falésia da cama da vaca um musculado Schwarzenegger chamava a atenção aos demais para o salto que viria a dar. Para surpresa minha o tipo, deu o salto e veio ao de cima de água, coisa festejada pelos demais com muitos aplausos. Este, foi o início do forrobodó porque em seguida todos saltaram para a água vindo até à escassa língua de areia da praia. Um a um, eles e elas, foram chegando também nuínhos da silva, assim como vieram ao mundo; entre abraços, nalgadas e amistosos chapadões cumprimentaram o tal casal que já ali estava. Foi neste então que reparei no tal gringo que me perguntou aonde era isso do bote-do-amor. Estava explicada a inaudita antevisão deste munhungo fora de portas, nos meus queixos. Até meu cachorro tossiu de tão inusitado, uma sarrista e sarcástica risada deslumbrando-me na imitação de Muttley.

 Num pequeno bote foi chegando mais gente e, descarregaram fogareiros de bidões, vários sacos e arcas congeladoras que iam encostando à falésia; não demorou nem meia hora e, o cheiro da sardinha assada já era tão intenso que forçosamente me abriu o apetite. Afinal tratava-se de um piquenique de gringos em terras Lusas com a ligeira diferença de estarem todos desvestidos, em pelo como Deus os botou no mundo; vinham aqui recarregar suas pilhas esfregando seus tintins e passarinhas nas monaziticas areias, de forma a ficarem radioactivos. Isto foi tão real que até parece mentira! Escrito isto, veio-me à mona a muxima de piqueniques que fazíamos na Corimba, Morro-dos-veados, Morro-da-Cruz, lá nas águas mornas a ver Mussulo; um belo dia eu, kandengue espigado, subi a um imbondeiro no Morro-dos-veados e vendo o Mussulo do outro lado mijei no mundo; Não sabia nada da estória, dos mwangolés, nem Tugas e escrevi meu nome e mais um outro de sereia com chocalhos e, no meio, um coração; só por isto eu reclamo-me kamundongo com sangue de seiva de imbondeiro! Ninguém que me vai poder tirar meus direitos!

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:05
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Segunda-feira, 7 de Julho de 2014
KISANJI . XV

IDOLATRIA - O VERDADEIRO CHE GUEVARA X de 11 Partes

Noticias de

Nell Teixeira Funcionário da  Fundación Campbell e Gestão ambiental.

          La Niña sofreu horrivelmente nas masmorras de Fidel (você pode ler as descrições das torturas aqui). Após ser solta, refugiou-se em Miami (na década de 60 ainda se podia sair de Cuba). Você acha que tal história é louvada por Oprah Winfrey? Acha que Hollywood está interessada em narrá-la, tendo Susan Sarandon no papel principal? Pense bem: temos aqui um dos temas favoritos dos produtores de Hollywood e das feministas em geral: a mulher brava e lutadora. Dificilmente uma mulher pode ser mais aguerrida do que Zoila Aguila, seu nome verdadeiro. Se ela tivesse lutado contra, digamos, Pinochet ou Somoza, certamente Hollywood e os editores de livros estariam dedicando toda atenção a ela. Mas, como ela lutou contra os garotos mais fotogênicos e queridos da esquerda, naturalmente ninguém queria ouviu falar dela.

   Após chegar a Havana em janeiro de 1959, Che Guevara imediatamente percebeu que o fosso ao redor da fortaleza La Cabaña era uma cova perfeita para jogar seus executados. Em Babi-Yar, em Kiev, a SS de Hitler teve de cavar suas fossas. Em La Cabaña, Che Guevara havia encontrado uma já pronta. Em 1961, um garoto de 20 anos chamado Tony Chao Flores, utilizando muletas e mancando pesadamente, chegou ao local onde seria executado. Ele já havia levado 17 tiros de metralhadoras checas quando os capangas de Fidel e Che o capturaram. No caminho para esse seu local de execução, que ficava na velha fortaleza espanhola transformada em prisão e centro de execução por Che Guevara, Tony foi forçado a descer mancando, sem quaisquer condições físicas e utilizando apenas muletas, uma longa escada feita de pedras esquadradas. Tony tropeçou, caiu e foi rolando a longa escadaria, até finalmente chegar ao chão, debatendo-se e gritando de dor. Uma das pernas de Tony, completamente baleada por metralhadoras, havia sido amputada, e a outra estava gangrenada e coberta de pus. Os guardas fidelistas, gargalhando, foram em direcção de Tony para amordaçá-lo para que assim, ele parasse de gritar.

   Enquanto eles se aproximavam, Tony cerrou o punho de sua única mão que ainda estava boa. Quando o primeiro vermelho se aproximou dele — BASH! — Tony desferiu-lhe um soco bem no olho. "Nunca entendi de como Tony conseguiu sobreviver àquela surra", disse Hiram Gonzalez, testemunha e ex-prisioneiro político, que observou toda a cena de sua cela na prisão de La Cabaña. O aleijado Tony quase foi morto no espancamento que se originou a seguir, envolvendo chutes, socos e coronhadas. Finalmente, seus agressores levantaram-se ofegantes, esfregando seus arranhões. Eles haviam conseguido amordaçar a boca do garoto, mas Tony conseguiu empurrar os guardas antes que eles conseguissem amarrar suas mãos. O comandante Guevara ordenou que seus capangas se mantivessem afastados de Tony estando ele ainda estirado no chão e com a boca amordaçada. Tony começou a rastejar em direção ao já estilhaçado e ensanguentado poste de execução, que estava a uns 45 metros de distância. Ele foi-se arrastando lentamente utilizando suas mãos; o toco do que restou da sua perna, ia deixando um rastro de sangue na grama. Quando chegou perto do poste, ele parou, virou-se para seus executores e começou a bater no próprio peito. Os capangas ficaram perplexos. O garoto aleijado estava tentando dizer alguma coisa. Mas sua mensagem estava abafada pela mordaça que o ídolo de Benicio Del Toro havia tornado obrigatória para suas milhares de vítimas.

Kisanji: -  Instrumento musical - tábua de forma rectangular, onde se fixam umas palhetas de metal que accionadas transmitem sons (Angola).

(Continua…)

As opções de T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:38
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Domingo, 6 de Julho de 2014
CAFUFUTILA . LXI

NÓS, OS PAIS - Mendigos de milagres…

Por

 T´Chingange

 

Juntando pedras roliças do mar nos vasos do meu quintal curto o zumbido do calor na cadeira de preguiça do meu pai Manel conhecido em Barbeita das Beiras pelo Cabeças. Debaixo do abacateiro, vizinho da anoneira, enfio missangas de preocupação fingindo estar à sombra de uma mandioqueira, lugar antigo de aonde a minha mãe em plena Maianga dum Rio-Seco da Luua, gostava de lavar roupa em seu tanque de celha, usando uma tábua ondulada. Com o tempo, a gente mistura as coisas em lembranças e anda de trás para a frente e vice-versa como se tivéssemos a vida emperrada. Aquelas pedras roliças, embora não sendo parideiras, consolam meu ego em ter a praia mais próximo de mim; nas marés baixas percorro o Vale da Lapa a recolhe-las e, juntando-as em uma muxila, venho até casa escalfado com o peso atrás de mim a dar a dar em meu costado. Aonde já se viu? Roubar pedras do mar, com algas encrustadas como se fossem diamantes! Isto é de doidos…

      Cristo sofreu muito mais sem ter este previlégio de banhar-se em águas carregadas de iodo e, retemperar o espírito lambuzando suas pernas com algas e sargaços. Muita gente, preserva sua forma esbelta fazendo pilates, uma forma de ginástica, musculando-se em academias ouvindo musica clássica ou classissista e eu, talvez de forma torpe ou arcaica, gozo a plenitude de tudo o que me rodeia tendo o gemer das rolas como música de fundo, as cigarras de verão, os tenrros arrulhos de pombos que esvoaçam na falésia, às vezes surge um bando de gralhas perturbadas pelos falcões, toutinegras e até gaivotas caninas. Cristo seguramente não teve todo este beneplácito porque levou todo o tempo preparando o seu semelhante para enfrentar as agruras da vida duma forma normal. Anormalmente recorremos a ele a solicitar tudo e mais alguma coisa desperdiçando os recursos em tonterias de enganar as aparências, mentimo-nos todos os dias, tapando futilidades. Por isso, eu faço a minha pequena obrigação, carregamdo calhaus em sua homenagem e, também, assim dar forma mais normal ao meu corpo XXL, a caminhar para um GGG.

   

Assim, silenciosamente remechendo meus pequenos problemas, galgando as horas, apaziguo o meu sangue fervente falando-me na primeiríssima pessoa. Nunca serás outro homem nem outro pai, o que tiver de acontecer vai acontecer! Pensando em meu filho M´fumo Manhanga, licenciado em duplicado, desempregadissimo; nas horas vagas dum novo mestrado anda de bicicleta para cá e para lá entra Coimbra dos doutores e o Amieiro de Arazede das hortas, fortalecendo de rega seus tomates que recentemente ajudei a plantar. Tal como eu, aproveita todo seu tempo esforçando seu físico por trinta e tal quilómetros para aguar seus tomates duma espécia saboroissima de caquizão. Trinta para lá e outro tanto no regresso. Assim, para não perder a viagem esquematiza em esforço seus projectos de arquitetura antiga, odierna e espacial e, enquanto isso mija suas toxinas por terras de Montemor-O-Velho pondo à prova seu bom senço de voluntariado. Estamos um para o outro, cimentados no voluntariado balofo com sabor de doces de Tentugal; M´fumo Manhanga, meu filho loiro e olhos azuis, cala-se também dentro de si; ele que nasceu no último dia do ano no lugar de Sambizanga da Luua, acredita que ser pai é assim como um eterno benfeitor de fazer bem sem olhar a quem; diga-se em verdade ser um senso muito perigoso! Quem sai aos seus não é de Genebra! Digo, não degenera… Será que estamos desperdiçando nossas vidas por trinta calhaus, por trinta kilómetros…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:45
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Sábado, 5 de Julho de 2014
MALAMBAS. XLI

CINSAS DO TEMPO . Usar a mente! ... Passado, é o prólogo do futuroVII

MALAMBA: É a palavra.

Por

 T´Chingange

 Durante a sangrenta guerra civil espanhola, a única cidade que foi deixada incólume a essa enorme destruição e mortalidade foi Sevilha. A história de Espanha não teve paralelo mais aterrador que este, e Sevilha nesse então, era a única diocese que tinha sido consagrada ao imaculado coração de Maria. Quem faz oração a Maria tem de ter uma ideia correcta do que é a conversão e, isto deseja-se no mundo de forma espiritual sem ficar arreigado ou estigmatizado a conceitos de religiosidade porque, na raiz latina, a palavra significa mudar tendo seu fundamento no coração e não na doutrina.

 Maria exorta-nos a mudar o nosso coração, a alma e a mente, para encarar o sol do nosso Ser superior, para que as sombras fiquem atrás de nós e isto, pode ser feito em um qualquer espaço; preferencialmente as gentes procuram as movimentações próprias de santuários como o de Fátima ou Medjugorje da Bósnia-Herzegovina da antiga Jugoslávia para a partir daí seguirem um roteiro de devoção. Pela meditação, oração e devoção sincera pode-se viver uma vida de prática espiritual ajudando-se a si e aos demais na seguinte versão

 Avé Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, filhos e filhas de Deus, agora e na hora da nossa vitória sobre o pecado, a doença e a morte. Enviando o nosso amor a Maria, na corrente de retorno, ela nos devolverá e, a todos que precisam, uma corrente de energia espiritual. Isto fortalecerá o nosso coração para melhor podermos confrontar e encorajar os outros, os carentes, os indecisos, os enfermos, os medrosos, os fúteis, os portadores de variadas fobias e os que vacilam entre si e suas sombras.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:19
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Sexta-feira, 4 de Julho de 2014
N´GUZU . XXIII

QUENTURA DOS TEMPOS . Brasil e a Crise Energética Mundial V

O Brasil corre o risco de perder metade do seu território em julho de 2014, e 190 milhões de brasileiros poderão ser despejados!

N´Guzu: Força, poder, deus da guerra.

As escolhas do Kimbo

 Kimbo Lagoa

Fonte: 11/05/2014 - http://mudancaedivergencia.blogspot.com.br

 «Uma nação pode sobreviver aos idiotas e até aos gananciosos, mas não pode sobreviver à traição gerada dentro de si, mesma. Um inimigo exterior não é tão perigoso, porque é conhecido e carrega suas bandeiras abertamente. Mas o traidor move-se livremente dentro do governo, seus melífluos sussurros são ouvidos entre todos e ecoam no próprio vestíbulo do Estado. E, esse traidor, não parece ser um traidor, ele fala com familiaridade às suas vítimas, usa sua face e suas roupas e apela aos sentimentos que se alojam no coração de todos. Ele arruína as raízes da sociedade, trabalha em segredo, oculto na noite para demolir as fundações da nação, infecta o corpo político a tal ponto que ele sucumbe-nos». (Discurso de Cícero, tribuno romano 42 A.C.). A Câmara Federal, o Senado e o Congresso têm que se manifestar energicamente. A referida aprovação ignorante, na melhor das hipóteses - à luz do Direito e da moral - tem que ser rechaçada, rectificada. As autoridades brasileiras que comandam os destinos do País, nos últimos 29 anos, não tiveram uma postura de defesa do território do Brasil. Vale dizer às autoridades brasileiras que comandaram e comandam os destinos do País, nos últimos 12 a 15 anos, não tiveram uma postura de defesa dos interesses da população brasileira - que absolutamente não quer se tornar refém da importação de combustível, minérios estratégicos e outros, pelo tempo e pelo preço que convier aos sócios dos indígenas apoiados pelos Membros do Conselho da ONU.

Por qual razão, porque todo processo demarcatório foi baseado em um laudo contencioso conduzido pelo CIR e pelo CIMI com a assinatura da FUNAI. A CIMI foi fundada na Inglaterra e tamanha é sua inconsistência que foi posta sob suspeita pela comissão de peritos nomeada pela Justiça Federal de Primeira Instância, e tantas outras provas, que a Suprema Corte tem arquivado nos processos de contestação. A Agência Reuters de notícias divulgou, em 29/08/08, que Tarso Genro, o ministro da justiça, em rápidas declarações sobre o julgamento do STF sobre a demarcação em Roraima, da Raposa da Serra do Sol, «se mostrou convencido de que a demarcação contínua seria mantida pelo STF», e completou a manchete: «quem ouve o ministro falar acha que a vitória já estava garantida», um julgamento de cartas marcadas, Tarso disse mais, com ares de satisfação: «Não adianta estourar pontes, fazer acções violentas contra o estado e fazer mobilizações que levam à violência. Não é uma vitória de índio contra branco ou de índio contra o arrozeiro" — O ministro Tarso, como em raríssimas ocasiões, tem razão. Não se trata de uma vitória de índio contra branco ou de índio contra o agricultor. Não mesmo Sr. Tarso! Trata-se de uma vitória do comunismo internacionalista defendido e idolatrado por gente como o então Ministro da Justiça Tarso Genro sobre todos os brasileiros – incluindo os não patriotas que estão no poder e os que a ela tentam se juntar por medo de sucumbir à triste realidade que se instala no país.

 A sociedade brasileira está sendo artificialmente desunida e segmentada em negros, índios, feministas, gays, ambientalistas e assim por diante. Antagonismos semeados por milhares de ONGs, financiadas pela oligarquia internacional da esquerda, incitando a quem se sente injustiçado para que se torne inimigo da sociedade e que o Estado deve impor sua causa em detrimento de todos os demais. Naturalmente, a defesa dos duvidosos direitos de grupos é mero pretexto criado pela oligarquia internacional para dividir o País ou no mínimo para se lhe quebrar a coesão. No caso da campanha indigenista está provocando uma escalada nos conflitos em vários Estados e revela potencial de uma guerra civil. Agora o risco será maior se o Governo não denunciar a Convenção dos Direitos dos Povos Indígenas até 24 de Julho de 2014, pois perderemos as condições jurídicas de recusar a independência e a secessão de quaisquer das reservas que assim o desejarem.

A campanha indigenista, orientada do estrangeiro através das ONGs com fachada ambientalista, com a finalidade de governarem o Brasil de dentro para fora, visa também quebrar o sector produtivo rural, como se viu em Roraima, nada sobra aos índios que desejam prosperar (como todo ser humano) pois retira deles a liberdade. Os índios nada mais são que massa de manobra de ONGs e desses conselhos. Não é de admirar que os maiores inimigos do movimento indigenista são os índios esclarecidos.

http://www.defesabr.com/MD/md_amazonia.htm

 «Excelência na arte da guerra aquele que vence sem usar a força, mas para isso primeiro é preciso levantar uma “causa justa”, conhecer todo o terreno, os passos do inimigo, conhecer suas fraquezas, infiltrar espiões, conquistar a população local com lucros aparentes, corromper lideranças locais e plantar a desinformação, porém se tudo isso não funcionar, ataque-os de surpresa, de uma forma rápida e planeada. E, se tiver uma força 10 vezes maior do que a do inimigo, a vitória estará garantida». Sun Tzu (400 aC). Território é o elemento constitutivo do Estado. População sem território se torna refém dos que dele sem apossaram como espoliadores da vez. Leiam os jornais e vejam o que ocorre com os refugiados obrigados a viverem, por força de tratados entreguistas dos territórios deles, assinados por governantes entreguistas deles, em diversas partes do mundo. Território brasileiro não se entrega, muito menos, se, no território do qual se trata, se encontra a parte fértil prevista para abastecer de combustível - a mola do mundo - e de produtos oriundos da biodiversidade, esta e as futuras gerações de brasileiros e residentes no Brasil.

 

Marilda Oliveira, oliveira.marilda@terra.com.br, São Paulo - Ipiranga – SP - Enviado em 11 de maio de 2014 por Manoel Soriano Neto Coronel de Infantaria e Estado-Maior do glorioso Exército Brasileiro, Historiador Militar. msorianoneto@hotmail.com

FIM DO TEMA

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:02
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Quinta-feira, 3 de Julho de 2014
MOKANDA DO SOBA . LV

 

ANGOLA NAS MALAMBAS DO TEMPO . Foi no Hotel Presidente em Cuba… Na marginal “Malécon”Pestana gamou-me o certificado de mwangolé.

MALAMBA: É a palavra; GAMAR: É roubar

Nas falas de

   T´Chingange

 Um dia, fiquei chateado de verdade com o meu filho M´Fumo Manhanga, branco como eu, só que, de olhos azuis; este meu kandengue com pressa de vir ao mundo abortou minha pesca de matonas, roncadores e peixe-agulha na ilha de Luanda. Branco que nasce no Sambizanga só pode sair atravessado, revolucionário, turra mesmo! Foi num dia 31 de Dezembro que este meu loiro e chanfrado dos pirolitos nasceu no Hospital Universitário. Já praticamente nasceu doutor e com a particularidade de gostar de catanas, naifas, flechas,  machetes, armas de vikings, setas de besta e tiro ao arco. Colecciona canivetes de ponta e mola, só ponta, dupla mola, pontudos, incrustados em madrepérola e madeira exótica que só os índios do ipé-roxo sabem pronunciar.

 Dei-lhe um papel de cidadania angolana tirado na Igreja da Sagrada Família da Lua, já carimbado pela Secretaria das Relações Exteriores, reconhecimento e gasosa aos mwadies kambas para ele sua excelência o M´Fumo tratar junto da Embaixada de Angola e, este documento que lhe dei em mão, escafedeu-se na confusão dele; não dá mais para me chatear com esses documentos. Diz o gajo que meteu num livro, não sabe bem qual e agora está em crer que fui eu que o levei na minha viagem a Cuba; até pode ter razão e ,às vezes ponho-me a pensar se não seria o General Alicate, vulgo Pepetela mas de nome Pestana, que me desviou tal papel quando o importunei em uma missão diplomática do glorioso Éme. Isto foi em Havana. Eu, turista de ver o carnival na marginal “Malécon”, deparei com aquele pseudo-guerrilheiro; conversa puxa conversa, durante um lapso de tempo de fazer necessidades, o Alicate gamou meu livro de leitura; até me recordo de ele ter contestado a intermitência da morte de Saramargo. Isto é só um suponhamos... É que Figueiredo Pestana Pepetela e eu, entre outros camaradas do m´puto, algures entre Dolizie do Kongo e a velha picada que passa por Miconge Velho  do Mayombe de Cabinda, tivemos um encontro com beijos de fogo! Ele, o Alicate, estava do outro lado; eu de G3 e ele de kalashnikov, terrorista,mesmo!

  Eu é que sou burro, preocupar-me com este desinfeliz destino dum filho mwangolé, duplamente licenciado e desprezando sua natalidade num mukifo cheio de livros de arte, com correntes de bicicleta, roda pedaleira, pedais shimano e o catano de zingarelhos espalhados por tudo quanto é canto; bikuatas e corotos sarapintados de cagadelas de moscas, e ratos de pestilentas mijadas nos silenciosos e antiquíssimos pés de Bartolomeu Dias e suas pedras assustadiças, parideiras, cruzes de marcar presença, padrões. Simples como soele, sem aquele certificado de kamundongo, deitar sua vida no mukifo e naquele chão da garagem sem chorar nem botar nódoa no tapete da minha vida, meu loando de nobre estirpe; como capota maluca, carregado de esculturas, projectos de kubatas e trastes, cagou no meu sentimento de puro mazombo; bufando-se em minhas moralidades cagunfou-me de amarelo de tugi. Este meu filho maleducado do m´putu, de castigo está cheirando meu luto vomitado no tempo. Então não é que podia estar em sua terra, desenhando garinas a curtir sol no kafunfo ou pedras do Pungo e está aqui desempregadissimo, sem eira nem beira nem dinheiro de kúmbu p´ra mandar cantar um cego. Como é? Vou estar feliz? Claro que tenho mazé de desabafar!

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:39
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Quarta-feira, 2 de Julho de 2014
MALAMBAS . XL

NAS CINSAS DO TEMPO . Usar a mente! ... Ouve oito sobreviventes que mesmo estando perto do centro da explosão de Hiroshima, se salvaram! Porquê? -Passado, é o prólogo do futuro… VI

MALAMBA: É a palavra.

Por

 T´Chingange

Quando não honramos e respeitamos o nosso corpo, ou o corpo dos outros, quando poluímos o ambiente ou não cuidarmos dos nossos animais, estamos a criar condições de hostilidade em nossos corações, mente e alma. Quando tudo isto é permitido pelas leis de uma qualquer nação, ou esta se desleixa em operações de fiscalização a comportamentos, então seu povo terá de enfrentar correntes de retorno para que o espírito de Deus habite em nós.  A revolução que daí sair, terá de ser analisada sobre o signo da psicologia da alma, uma profecia das dificuldades a vencer no caminho que conduz à reunião com Deus.

 Kundalini:  Deriva de uma palavra em sânscrito que significa, literalmente, "enrolada como uma cobra" ou "aquela que tem a forma de uma serpente". É a energia do Universo em seu aspecto  total, como potencial, sendo o Prana-Shakti o aspecto biológico, ou fisico, como calor, eletricidade, etc. Segundo a crença, enquanto está adormecida, assemelha-se a uma chama congelada.

 Quando o nosso coração está purificado e fortalecido, somos capazes de sustentar e estimular muitas outras pessoas com a luz de nosso coração. Quando participamos num fluxo com Deus ou o imaculado coração de sua mãe Maria, podemos receber uma enorme cura espiritual, porque as artérias espirituais ficam limpas de cólera, ressentimento ou medo enraizados e reprimidos em nós. Por esse poder de amor, podemos fazer mesmo aquelas coisas que nos parecem impossíveis. Pela penitência aprendemos a agir positivamente, em lugar de nos considerarmos vítimas.

::::::

 A aceitação da responsabilidade pelos nossos actos, e a não culpabilização dos outros nas circunstancias de nossas vidas, passa pela aceitação da penitência. Apelar ao coração de Maria, é a maneira segura e suave de os devotos ocidentais despertarem as energias da Kundalini, para a manifestação de todo o potencial em suas almas. Ser devoto não significa adorar Maria como um ídolo. Devoção é um intercâmbio espiritual ou uma transferência de energia, uma concessão de poder.

 Hiroshima - Quando a bomba atómica foi lançada sobre Hiroxima em 1945, morreram no instante da explosão 80.000 pessoas e, no entanto ouve oito sobreviventes que mesmo estando perto do centro da explosão ficaram incólumes; Duzentos cientistas examinaram os oito homens que sobreviveram à hecatombe e a única explicação plausível foi a de que sendo estes obreiros da companhia de Jesus, naquela casa recitava-se o rosário todos os dias; estavam assim consagrados ao Imaculado coração de Maria.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:11
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Terça-feira, 1 de Julho de 2014
MISSOSSO – II

ANGOLA – No Rio Seco da Maianga - Um amor impossível com um Louva-a-deus fêmea

Missosso: Da literatura oral angolana, contos, adivinhas e provérbios com homens, monstros, kiandas de Cazumbi, animais e almas dialogando sobre a vida, filologia, religião tradicional e filosofia dos povos de dialecto quimbundu. Óscar Ribas foi o seu criador.

Por

 T´Chingange

  Efectivamente isto aconteceu no Rio-seco da Maianga. De coração batucando dores dentro da alma, cara enrugada e desfeita, refiz a cena dum periclitante amor defuntado no tempo certo. A Louva-a-deus segurou minha foto nas mãos-tenazes e comeu-me como se fosse um pirolito de caramelo crocante. Eu, espreitando entre um monte de tijolos no quintal da Dona Arminda, minha mãe, pude ver naquela cena de quintal, o quanto a minha vida de macho corria perigo. Esta Sangamonga feita Louva-a-deus, vagabundou minha vida tornando-a em cinza e, sem estrebuchar meteu-me em sua boca deglutindo-me por inteiro. Mulata danada! Eu, grande amor da sua vida fui engolido sem enterro. Aquele amor, nascido duma impertinente flôr-do-kongo, ela, a Sangamonga, botou-me uns pozes curadores nas matubas e, de esfraganços ajindungados de maleitas e kanastem, transladou minha quentura ao coração, esta foi a puríssima verdade verdadeira! 

 

   O louva-a-deus é um insecto. Seu nome popular decorre do facto de que, quando está pousado, lembra uma pessoa orando. Caçam por emboscada facilitada pelas capacidades de camuflagem. Seu ritual de acasalamento, que decorre por volta do Outono, é uma época de perigo para os machos da espécie, uma vez que a fêmea quase sempre os mata e come durante ou depois do acto. A fêmea põe entre 10 a 400 ovos numa cápsula endurecida; após a eclosão, o louva-a-deus nasce como ninfa, que é em tudo igual ao adulto excepto no tamanho que é menor.

 

 

 

 

Batendo as palmas de seu coração justificou seu grande amor por mim, falando ao vento que farfalhava o tamarindo; talvez a acidez deste estivesse a ser aproveitada naquelas gesticuladas mezinhas de macumbas e alfinetadas. Contando isto a meu amigo kalacata, este retorquiu-me: - Meu amigo, tiveste muita sorte! Vejo-te mudado, cagunfa mesmo, mas deixa que te diga que nunca tiveste juízo pá!... P´ra pior antes assim, vivinho da costa; meteste-te com uma trituradora canibal de machos e, pois…aconteceu! E, acrescentou: - essa Sangamonga queria mesmo devorar-te e defecar-te no mato dela para engordar suas piteiras de tabaibos, matipa-tipas e xá caxinde da horta dela. Desde aquele então, o amor fechou-se-me na frustração, impregnando-se de pílulas até os anos as roerem. É perigoso namorar com uma Louva-a-deus; é como que voluntariamente, metermo-nos na boca do inferno sem passar no purgatório.

Prometi-me que nunca mais me iria deixar hipnotizar pelos olhos xicululu rodopiados duma louva-a-deus; menos-mal que na fúria deglutiu minha t´xipala e soeu, pude ver-me mastigado em meus linfáticos salientes; na gula dela, parecia palha de chinguiços velhos, espumados com ranho de babado, vomitado de cachorro rafeiro. Minha nossa senhora da Muxima, quando me lembro até os pelos do mataco se me arrepiam. Esta observância, salvou-me! Foi meu tio, Nosso Senhor, também conhecido por Zé da Fisga, que me advertiu: - Tonito, olha que essa moça, tem feitiço cum ela, mira-lhe bem no seu escuro das costas, ela tem mancha de macambira, mesmo de munhungueira e, isso não é não; não é bom sinal! Obrigado meu Nosso senhor.

O Soba T´Chingange   



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:21
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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