O CARMO E A TRINDADE – 06.02.2018
- A nossa própria estória não pode ser enganada…
Monangamba - trabalhador sem especificação, faz-de-tudo (por vezes pejorativo).
Por
T´Chingange - no Nordeste Brasileiro
Encontrei o Adelino quando retirava uma sopa à jardineira da estante da Cozinha de Portimão, uma casa especialista em fazer churrasco de frango e, cujo dono é um xi-colono vindo do Lubango e, que ri sons agudos e solavancados; lembrei-me de seu nome: Álvaro Gomes Faustino. Notei pelo perfil que aquele outro senhor era o Adelino, um amigo vindo como eu na ponte da LuuaLix da guerra do tundamunjila de Angola.
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Na dúvida, toquei ao de leve no ombro dele, pelo que certifiquei-me de ser ele mesmo! Então Adelino, como vai a vida? Perguntei! Desculpe mas não sei quem é o senhor! Pópilas, o catravêz da estória retrograda tomou conta dele. Eu que passei tantas horas com ele, rebitando farras com seu sobrinho Zito, e, naqueles dias cinzentos. Daqueles tempos em que nos tentávamos adaptar ao frio, à indiferença do M´Puto e ao nome de retornados.
Sou eu o T´Chingange Monteiro amigo do Jimba e da Balbina Peixoto Pais da Cunha, sua sobrinha! Foi quando o lado certo da cabeça dele relampejou na demasiada sonolência. Desculpa, meu!... Deu-me um grande abraço, daqueles que só se dão quando se repara um infeliz lapso de memória! Adelino é um mestiço nascido no Sumbe, antiga Novo Redondo, o cemitério dos brancos lá pelos anos 50 do século XX.
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Deu-me notícias de que seu irmão Pais da Cunha tinha falecido, bem como o Jimba Peixoto seu sobrinho por afinidade. Contou que na sua recente ida a Angola, foi maltratado! Como assim! Muxoxei para ele com aquela surpresa de quem num repente fica burro pelos incidentes! Verdade, meu irmão, mandaram-me para a minha terra, a terra do meu pai, referindo-se aqui ao M´Puto!
Ouvi a descrição sem espanto porque as odisseias da vida têm destas periclitantes situações. Pois! Disseram-me para vir para a santa terrinha; isto depois de 42 anos é muito chato de ouvir. Adelino veio na ponte, entrou a trabalhar no Tribunal de Portimão colocado como adido e por aqui foi ficando com a categoria de técnico oficial de execuções fiscais.
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Por vezes falava-me de casos pitorescos na sua incumbência de fazer inventários ou executar ordens de arrolamento com confiscação de bens, como colheres, mobílias e outros patrimónios de alto ou baixo pecúlio. Mas a estória que agora vou contar nada tem a ver com estas tarefas de agente do estado para desgraça de pobres, coitados e afins…
Adelino descasou-se em tempos de más descargas biliares com a sua genuína e primeiríssima mulher; sucede que naquele então estavam a chegar muitos refugiados vindo dos países nórdicos sendo em grande parte Romenos, Kosovares, Húngaros e até Russos com mais outros países devastados por guerras civis.
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Foi nesse então que lhe deram a hipótese de se umbigar com uma branquela cor de neve e jovem de fazer inveja com gaifonas à sua mulher. Vou-te substituir por uma branca, sua preta! Teria dito ele como desdém e gozo de muitas raivas e também para meter inveja! Pensas que fico por aí assoando ranho de choros!? Teria dito isto rindo-se todo de malvadez por dentro. Conheço a peça!
Vai daí, mandou vir uma mulher mas, eis que sem mais nem porquê vieram duas! Tanto assim que um dia disse-me: Monteiro, não queres uma mulher! Como é!? Este filme vim a conhece-lo mais a fundo posteriormente. O tempo passou e eis que um dia convida-me a ir à festa de um ano de sua menina nascida do ventre da tal mulher do Kosovo. E isto foi em sua casa no local da Pedra Mourinha de Portimão. Sua filha era loira, de olho azul, bonitinha…
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Agora que já são passados uns catorze anos perguntei se ainda estava com aquela tal mulher ao que me respondeu: Mandei-a embora! Andava a pôr-me os chifres com um patrício seu! Disse ele sem que lhe perguntasse! Desfiz-me da ranhosa. Estava a tornar a minha vida num xarope amargo e acabei com a estória. Então e a tua filha? Está bem, uma linda moça, boa estudante; fica bastante tempo em minha casa pois eu sou seu encarregado de educação. Fico contente que assim seja! Disse eu…
Daqueles meus amigos de Silves e Portimão, muitos voltaram a Angola depois da morte de Savimbi em 2002. Alguns, habituados às modernices do M´Puto com janela de vidro duplo, tiveram alguma dificuldade de se readaptarem na N´Gola, mas o tempo foi-os acomodando à terra sua por direito. Pelo que sei, ninguém se adaptou a cem por cento. Cá e Lá…
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Uma merda, diz Adelino relembrando muitas outras pequenas coisas em comum. Já nada é igual! Dissemos quase em uníssono! Transcrevo isto a bordo de um Boing da TAP rumo a Maceió aonde resido desde 2006! Um exercício que prometi fazer a fim de ginasticar a mente e, por modo a não ficar com aqueles chatos lapsos de memória que atrapalham o gosto de viver! Conheço-te de algum lado? Até um destes dias Adelino…
O Soba T´Chingange
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