“POR UM DIA FUI CAMÕES” - Eu, um branco de 2ª
Soba T´Chingange
Corria o ano de 1958 em são Paulo de Assunção de Loanda, quando candengue dos meus 12 anos, tive de representar Camões, nobre figura da história da Lusofonia. A vida corria mansa por aquela pacata cidade de Angola e, estava na pauta das autoridades de educação festejar o dia de Camões e de Portugal. Tudo isto, a fim de recordar a soberania do povo Luso. Nós só conheciamos a Luanda como capital da nossa terra mas os livros recordavam que lá do outro lado do mar havia um Terreiro do Paço, com uns senhores que por detrás dumas imponentes arcadas palacianas mandavam no império de Álem-mar, as Provincias Ultramarinas. As escolas da Cidade de Luanda teriam de pôr em teatro essa efeméride e, foi escolhida para tal efeito a Escola Primária nº 8, que ficava perto da Liga Africana. Afinal Luanda estava àquem de Lisboa na hierarquia geográfia e nós putos desconheciamos que a Mutamba, afinal, não era nem a capital do Puto nem o centro do mundo.
Como bom aluno da Escola de Aplicação e Ensaios, no Largo D. Afonso Henriques, um pouco mais acima do Cinema Nacional e não muito
longe do Cine Restauração fui escolhido para representar tal figura épica do mundo Luso e, levei dias a ensaiar em casa da minha professora lá para os lados do Bairro-do-Café. Sem saber bem o que me esperava, ia aprendendo os versos das armas e barões assinalados dum lugar chamado de Taporbana. Eu, que só conhecia o Catambor, a Maianga com seu Rio-sêco, o Malhoas, o Prenda e Samba das mabangas, ia adquirindo os saberes eruditos com musas e ninfas morenas bailando a marionheiros embasbacados numas ilhas paradisiacas. O grande dia de dez de Junho chegou e, lá estava eu no palco dando a conhecer aos putos, candengues, as cenas desse antigamente com o rei de Leão, o D. Afonso Henriques e Dona Tereza sua mãe, Dom Sebastião e os mistérios do mar com Bartolomeu Dias e Vasco da Gama a fazer gaifonas ao Adamastor, um gigante tenebroso dos mares do sul.
: Alunos da Escola Primária nº 8 (desse tempo)
As minhas barbas, coladas com grude de marceneiro, um cheiro constante do tipo cola, snifavam-me o entusiasmo em cada desce-pano, sobe-pano. Alí, como figura principal, em traje da época, ficava eu especado olhando as cenas. As palmas sucediam-se a cada cena mais exótica e, grudado ao palco e bigode, em geito de galanteio antigo curvava-me às gentes, meninos e meninas garinas do meu reino. Nos dias e meses que se seguiram já só era conhecido por camões
Luis Vaz de Camões
As moças cafecos, apontando-me: - olha o Camões e, eu gingava vaidade pelos poros, fazendo banga. Nunca mais esqueci aquela cola de grude mal cheirosa que tive de suportar durante o espectáculo. 54 anos depois, recordo aqueles dias de Luanda, da Praia-do-Bispo ao Prenda, do Sambizanga ao Bairo do Café ou da Terra Nova aos Coqueiros, como um sonho. E, afinal foi mesmo esta fantasia de vida que me marcou. Tive de vir a Terras de Vera Cruz para ultimar esquecimento de coisas mal paridas. Tal como Pedro Álvares Cabral, vim achar o mundo, redescobrir novas anharas, sertões com nomes de agreste com caatinga e frutas de sape-sape com nome de graviola.
O Soba T´Chingange
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