NAS FRINCHA DO TEMPO – Com Zé Peixe de Aracaju e as Sereias Roxo e Oxor, algures num recife, por vezes numa bóia… 3ª de 4 partes
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Prometi a Assunção Roxo que iria socorrê-la com uma lenda do mar um verdadeiro golfinho feito homem; assim, surgiu esta parcial inventação falando do personagem que vi em vida e com quem falei algures em Aracaju de Sergipe.
* - Sereias são Kiandas que fazem parte da calunga, "grande mar", são entidades fortemente ligadas ao orixá Iemanjá, das águas do mar, um poder regenerador no campo sentimental. São efeitos de facilitar a escrita um pouco à figura de Camões que das ninfas criou as tágides, ninfas do Tejo. Eu chamarei de kwangiadas às ninfas do Kwanza em Angola. Aqui no Brasil, às sereias de Guaxuma chamarei só de kiandas de Guaxuma
(…)Zé Peixe de Aracaju, José Martins Ribeiro Nunes de nome, foi um prático brasileiro que se tornou uma figura lendária no estado de Sergipe, devido a seu modo incomum de exercer sua actividade conduzindo embarcações de grande calado que entravam e saíam de Aracaju, pelo Rio Sergipe. O inusitado, em sua tarefa, se devia ao fato de não necessitar de embarcação de apoio para transportá-lo até o navio. Quando havia um navio necessitando entrar na barra do rio Sergipe, ele nadava até o navio. Da mesma forma, após conduzir o navio até fora da barra, ele saltava e voltava à terra nadando.
Algumas vezes ele saía numa embarcação e nadava até uma bóia que sinalizava o acesso à barra de Aracaju, onde aguardava as embarcações que necessitavam de seus serviços para entrar na barra. (Era este o lugar de encontro com as sereias Roxo e Oxor que descrevo no texto da crónica)* Em 1947, mediante concurso, foi admitido como Prático no lotado da Capitania dos Portos de Sergipe, profissão que exerceu por mais de meio século (naquela época a remuneração de prático era bem mais modesta).
Mas foi seu modo peculiar de trabalhar que o fez famoso em vários meios de comunicação. Quando um navio tinha que sair do porto guiado pelo prático, Zé Peixe não utilizava um barco de apoio: subia a bordo e, uma vez guiada a embarcação para o mar aberto, amarrava suas roupas e documentos na bermuda e saltava do parapeito da nave em queda livre de 17 metros até a água (uma altura equivalente a 5 andares), nadava até 10 km para chegar à praia, e ainda percorria a pé outros 10 km até a sede da Capitania do porto.
Por várias vezes Zé Peixe referia ser aquele óleo inebriante que as sereias Roxo e Oxor que lhe davam esta força que vinha dum paralém desconhecido. Ele de nada sabia, que aquele grande mar o tinha escolhido como parceiro das kiandas, umas muito antigas kwangiadas saídas dum outro rio do outro lado do mar, o Kwanza. Como ia eu explicar a um homem feito golfinho, pouco letrado, ter havido em tempos idos umas ninfas mediterrânicas com descendência no estuário do Tejo! E, que mais tarde se transladaram para terras de N´gola, num rio chamado de N´Zaire e mais um outro mais a sul, aonde foram acarinhadas pelos Mafulos na foz do Kwanza.
Este contratempo narrativo surge-me no meio da estória para chegar aos Tugas, a Muxima e aos óleos especiais saídos do dendém e cocnut usados pelas sereias, kiandas e kwangiadas. O azeite, ou óleo de palma é um óleo usado na culinária brasileira e angolana mas, também, no candomblé. O óleo de coco actua como um hidratante eficaz, incluindo a pele seca sem ter quaisquer efeitos secundários adversos sobre a pele da aplicação do óleo de coco. Portanto, foi esta a solução segura que Zé Peixe teve e, sem adivinhar manteve sua pele sem descamar ou se, se ressecasse com os anos seguidos metidos em água salgada. Por estes motivos Zé Peixe atrasou o aparecimento de rugas e flacidez em sua pele, coisas que acompanham o envelhecimento.
A barra do Rio Sergipe era uma das piores entradas portuárias do Brasil. Zé Peixe, por sua dedicação e seu conhecimento detalhado da profundidade das águas, das correntezas e da direcção do vento, sempre se destacou no serviço de praticagem. Uma vez guiada a embarcação para o mar aberto, amarrava suas roupas e documentos na bermuda e saltava do parapeito da nave em queda livre de 17 metros até a água (uma altura equivalente a 5 andares), nadava até 10 km para chegar à praia, e ainda percorria a pé outros 10 km até a sede da Capitania dos portos. Também aqui se fazia sentir a ajuda das sereias, as tais kiandas da calunga tão regeneradoras do espírito; imaginem este salto dado por um homem com 75 anos.
(Continua…)
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