HUMPATA –Do tempo das carroças bóer…
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Ainda muito criança, quando a Europa era fustigada pelos efeitos devastadores da segunda grande guerra mundial, costumava o meu pai levar a família, uma vez por mês, no mínimo, à vila da Humpata, distante da cidade, cerca de vinte e dois quilómetros. Lá residiam os meus avós maternos, e grande parte da família. Os meus avós eram agricultores, e tinham também comércio tradicional, quer na vila, quer na Serra das Neves, para onde se deslocavam em carroça, tipo "bóer", puxada por uma junta de bois, e naquele lugar se mantinham isolados, no mínimo uma semana. Havia pessoal nativo, de confiança, que guardava a casa fechada, e algum gado, pois só com a presença dos meus avós é que se estabelecia contacto pessoal e comercial com a gente radicada naquele local.
Angola, distante do mundo de então, situada numa parta de África vista de uma forma própria do tempo e do afastamento existente da civilização, era uma terra difícil, doentia, com excepção das zonas planalticas, onde o clima era ameno e saudável, mas simultaneamente tranquila, onde reinava a paz e só se sabiam os horrores da guerra, pela B.B.C. através da voz do Fernando Pessa, uma vez por dia e cerca das nove da noite. Nessa época a gasolina era importada dos Estados Unido, em latas de cinco litros, ou tambores de cinquenta litros. Lembro-me, que à data, a carrinha do meu pai ainda nem tinha indicador, para se saber a quantia de gasolina, havia necessidade de mergulhar no depósito, uma vareta em madeira, com indicações espaçadas igualmente, que correspondiam a cinco litros. Por a gasolina ser racionada, embora na época as viaturas não fossem muitas a circular, recordo-me, de o meu pai, para a poupar, nas descidas fechar a ignição, deixar a viatura descer livremente, e depois meter a terceira ou segunda, consoante a necessidade, e voltar a colocar o motor em rotação. A caixa de velocidades, tinha unicamente primeira, segunda e terceira, além da marcha-atrás.
A estrada, de piso razoável, permitia uma boa média, embora lenta para não elevar o consumo. Era um sistema usado, mesmo em viagens mais longas, levando a viatura sempre uma ou duas latas de gasolina, para socorrer no caso de surgir qualquer emergência. Mas o automóvel dos meus amores de criança, foi uma "limusine" Nash, que antecedeu a carrinha Chevrolet, e que me causou um profundo desgosto ao ser vendida. O meu avô deslocava-se, quando tinha necessidade, a pé, da Humpata ao Lubango, e negava-se peremptoriamente a ser conduzido de automóvel, no regresso, porque segundo ele, quem tinha vindo a pé, podia regressar da mesma maneira. E quando o conheci, já não era novo...
Quantas histórias reais da vida, eu vivi neste meu ciclo já longo de vida. As transformações a que assisti, a evolução lenta ou rápida, o desenvolvimento da tecnologia que me permite hoje escrever num iPad algumas das imensas histórias que fizeram parte do nosso dia-a-dia, com a inerente saudade que acompanha a descrição disso...
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