NA PRAIA DOS AMORES – No Munhungo do M´Puto
Missosso: Da literatura oral angolana, contos, adivinhas e provérbios com homens, monstros, kiandas de Cazumbi, animais e almas dialogando sobre a vida, filologia, religião tradicional e filosofia dos povos de dialecto quimbundu. Óscar Ribas foi o seu criador.
Por
T´Chingange
Hoje foi um dia do camano. Aconteceram Coisas do arco-da-velha que até me parece ter sido mentira. Partilhando matutices, antecipo-me aos dichotes inevitáveis que me beliscam a nobreza e fidalguia. Assim, para não ficar carregado e sozinho com tantos mistérios, vou contar à malta da Maianga do Maculusso e dos Coqueiros da Luua e demais kazucuteiros do meu kimbo, este sucedido. Eram dez horas quando resolvi ir até à praia do mato passear o cão e roçar-me na arruda, tomilho e aroeiras em um carreiro quase tapado por cardos e trepadeiras arranha-cães de picos traiçoeiros. Descendo a encosta para o barranco verde, refúgio de raposas e bichos rastejantes dou de caras com um homem de tez branca, meia-idade de tronco despido e descorado; ainda de longe saudou-me: - Good morning! Respondi do mesmo jeito! Já mais próximo, pergunta-me em inglês: - Is this the way to get to the boat-of-love?... Num lugar destes e, uma pergunta destas, até fiquei meio desconfiado, meio estupefeito! - Good! - This is the path to the beach from the bed of the Cow! Disse eu respondendo, literalmente confuso. - Yes, yes ... thank you! Respondeu o gringo da bretanha. A isto respondi-lhe um simples “have a nice day!” e, segui descomposto com esta inaudita excrescência, deixando o carcamano a olhar os fósseis de concha do tempo dos dinossauros.
Caminhando por ali meus silenciosos problemas, este gringo, veio remexer no pó da estória que trazia no pensamento e que agora, esta, se ria para mim, gracejando espadas e arcabuzes fazendo-me gaifonas porque isto nada tinha a ver com o bote-do-amor; pelo contrário, mais era uma luta de corsários da coroa britânica com naus de piratas franceses em barcos de muitas velas, com espadas e chapéus do tipo de Dartanhan de longas penas de pavão. Quase descendo a pequena falésia da praia, noto que por detrás da rocha grande, um casal de cores avermelhadas corando ao sol ... nuínhos da silva; expunham suas partes descoradas e intimas ao léu, nutrindo além do sol e o iodo, as areias monaziticas com radioactividade de fazer n´guzo nos tintins e passaroca.
Para não destoar do ambiente prá-frente, descalço até o pescoço, meto-me na fria água ginasticando o esqueleto por um pedaço de tempo e, após sair desta, estico-me na rocha plana a curtir o sol; quase dormitava quando começo a ouvir um barulho de motor de barco não muito longe, e vozes excitadas. Sento-me, ponho as gafas e, deparo com algo inusitado; ali naquela pequena enseada escondida do mundo, estava um junco chinês … na minha praia!? Cheio de gente algazarrada, podia observar o que parecia ser um barco amarrotado de marroquinos ou ilegais do norte de África entrando em águas Lusas; mas, não era assim! Tratava-se de turistas desenferrujando excentricidades com chapéus de bambu. Do alto da falésia da cama da vaca um musculado Schwarzenegger chamava a atenção aos demais para o salto que viria a dar. Para surpresa minha o tipo, deu o salto e veio ao de cima de água, coisa festejada pelos demais com muitos aplausos. Este, foi o início do forrobodó porque em seguida todos saltaram para a água vindo até à escassa língua de areia da praia. Um a um, eles e elas, foram chegando também nuínhos da silva, assim como vieram ao mundo; entre abraços, nalgadas e amistosos chapadões cumprimentaram o tal casal que já ali estava. Foi neste então que reparei no tal gringo que me perguntou aonde era isso do bote-do-amor. Estava explicada a inaudita antevisão deste munhungo fora de portas, nos meus queixos. Até meu cachorro tossiu de tão inusitado, uma sarrista e sarcástica risada deslumbrando-me na imitação de Muttley.
Num pequeno bote foi chegando mais gente e, descarregaram fogareiros de bidões, vários sacos e arcas congeladoras que iam encostando à falésia; não demorou nem meia hora e, o cheiro da sardinha assada já era tão intenso que forçosamente me abriu o apetite. Afinal tratava-se de um piquenique de gringos em terras Lusas com a ligeira diferença de estarem todos desvestidos, em pelo como Deus os botou no mundo; vinham aqui recarregar suas pilhas esfregando seus tintins e passarinhas nas monaziticas areias, de forma a ficarem radioactivos. Isto foi tão real que até parece mentira! Escrito isto, veio-me à mona a muxima de piqueniques que fazíamos na Corimba, Morro-dos-veados, Morro-da-Cruz, lá nas águas mornas a ver Mussulo; um belo dia eu, kandengue espigado, subi a um imbondeiro no Morro-dos-veados e vendo o Mussulo do outro lado mijei no mundo; Não sabia nada da estória, dos mwangolés, nem Tugas e escrevi meu nome e mais um outro de sereia com chocalhos e, no meio, um coração; só por isto eu reclamo-me kamundongo com sangue de seiva de imbondeiro! Ninguém que me vai poder tirar meus direitos!
O Soba T´Chingange
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