DO M´PUTO - DO LIVRO PROIBIDO . II
DE
JOSÉ ANTÓNIO SARAIVA - O que não pude (ou não quis) escrever até hoje. «O melhor do jornalismo é aquilo que não se pode escrever»
Sobre Sócrates
Rasgados elogios a Guterres
- Depois de sair do Governo, na sequência da demissão de Guterres (em Abril de 2002), Sócrates fixa -se num tema do qual fala constantemente: a ingratidão do povo para com os políticos. Diz que todos os políticos saem mal do poder - e isso revolta-o. Para provar a sua tese, dá o exemplo de Guterres - que ele considera a pessoa mais inteligente que conheceu na sua vida - mas também o de Cavaco. Transcrevo do meu Diário: 25 de Novembro de 2003
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Almoço com José Sócrates no Pabe. Achei‑o muito distante, parado. Formal. Fala da vida política com grande desprendimento e desilusão. «Afinal lutamos por quê?», pergunta. «Para conquistar o Poder? E depois o fim é sempre o mesmo, saímos do poder vilipendiados. Foi o que aconteceu com o Guterres. E com o Cavaco, também. E vai acontecer com o Durão Barroso.» Como conclusão, diz que está numa fase contemplativa. Defende Guterres, explicando que ele não se defende dos ataques que tem sofrido porque acha que não vale a pena.
Que as pessoas não percebem. Faz críticas a Carrilho. Conta a propósito uma história engraçada: no casamento do filho de Ferro Rodrigues (com a filha de Dias Loureiro), ele, Sócrates, ficou na mesa com Carrilho e com o genro de José María Aznar. Este era grande admirador de Guterres, fazia‑lhe grandes elogios. Então Sócrates disse que estava ali na mesa um socialista grande apoiante de Guterres e apontou para Carrilho.
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O genro de Aznar exultou, aumentou os elogios a Guterres - toda a gente começou a rir... O genro de Aznar não percebia – até que lhe explicaram que Carrilho, embora socialista, não era apoiante mas sim crítico de Guterres. O genro de Aznar estranhou, dada a sua admiração pelo ex‑primeiro‑ministro. Bárbara Guimarães, mulher de Carrilho, deitou água na fervura.
Quando cheguei ao Expresso (depois do almoço no Pabe) soube uma história que me deixou estupefacto: Sócrates tinha dito a Madrinha e a Mário Ramires que ia almoçar comigo e me ia perguntar porque o considerava homossexual. E explicou que Margarida Marante lhe tinha contado que, em conversa com ela, eu sugerira (ou afirmara) que ele era homossexual. Não me lembro dos pormenores da conversa com Margarida Marante, mas ela ir contá‑la ao Sócrates...!
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«Vou abandonar a política» Neste mesmo almoço convido José Sócrates para colaborar no Expresso com uma coluna semanal. O convite é feito já à saída, à porta do Pabe, onde ficamos uns largos minutos a conversar. O Pabe beneficia da característica simpática de ter em frente da porta um passeio largo e abrigado pelas copas das árvores, proporcionando uma continuação (no exterior) da conversa tida à mesa.
Mas Sócrates recusa o convite, justificando que, tendo decidido abandonar a política e ir para Londres fazer uma pós-graduação, «escrever uma crónica semanal seria de certo modo continuar a fazer política por outros meios, e eu não quero isso. Quero mesmo deixar a política e fazer um percurso universitário». Não insisto mais, tal a determinação que ele mostra. Posteriormente contarei esta conversa à jornalista que acompanha o PS, a Cristina Figueiredo, sugerindo -lhe que noticiemos na edição seguinte que Sócrates vai abandonar a política. Mas, à medida que falo, a expressão da jornalista vai -se alterando.
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Passa da incredulidade à estupefacção e acaba por dizer -me: «Abandonar a política? Mas, director, ele anda a fazer contactos para ser líder do PS...» «Não pode ser!», contesto. «Ele acaba de mo dizer cara a cara, e não estava a fazer teatro. Recusou mesmo um convite para colaborar no Expresso porque vai para fora e quer seguir uma carreira universitária.» A jornalista, porém, mantém-se firme e mostra absoluta segurança nas informações de que dispõe.
Eu é que começo a sentir-me maluquinho: ouvi de um ex-governante a afirmação categórica de que vai deixar imediatamente a política - e ouço agora da boca de uma jornalista em quem confio que ele está a preparar o terreno para ser líder do partido!... Na época, eu conhecia mal Sócrates. Se o conhecesse melhor, saberia que nele não há qualquer distinção entre a verdade e a mentira. Diz em cada momento, com o maior à-vontade, aquilo que lhe convém dizer.
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O facto é que, poucos meses depois - em Julho de 2004 -, Ferro Rodrigues demitir-se-á da liderança do Partido Socialista e Sócrates candidatar-se-á ao cargo, vindo a ser eleito secretário-geral. Devo acrescentar que pela primeira vez senti o que era uma pessoa mentir com total frieza, sem necessidade nenhuma de o fazer. E mentir numa conversa privada com outra pessoa, com o ar de quem faz uma confidência, falando com o coração nas mãos. Nunca ninguém me mentira de forma tão descarada, desavergonhada, mesmo.
(Continua…)
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