Domingo, 18 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 140

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3551 – 18.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

moxico1.jpg Entretanto recorda-se (Via Wikipédia): O Presidente da Guiné-Conacri, Ahmed Sékou Touré, foi quem fez a proposição de reconhecimento da RPA na reunião da Organização da Unidade Africana (OUA) de 10 de janeiro de 1976 em Adis Abeba. A 11 de Fevereiro de 1976, a OUA, então presidida pelo Presidente do Uganda Idi Amin Dada, reconheceu a RPA como legítimo governo de Angola, aceitando-o como o 47º. membro da organização.

O General Kamalata Numa da UNITA anos mais tarde em resposta a uma pergunta esclarece ter  havido actuação de tropas congolesas ao lado das tropas ditas regulares do MPLA: - É verdade! À coligação MPLA/cubanos juntam-se tropas congolesas com um total aproximado de 10 batalhões que passam a actuar no Centro/Sul de Angola…

moxico01.jpg Continuando com a descrição do que foi a grande marcha de Savimbi e, ainda muito longe do seu termo, a coberto da escuridão, Savimbi dividiu em três grupos inteiramente novos, os seus próprios seguidores, os de Samalambo e os do capitão Chimbijika, que os oficiais de Savimbi descobriram ter montado uma base da UNITA com 100 guerrilheiros. Cada um dos grupos partiria durante a noite em direcções diferentes.   

Esperavam iludir os pisteiros do MPLA, levando-os a acreditar de que a maior coluna, a de Samalambo, era a que protegia o líder Saviambi. Os três grupos tomaram o rumo das matas mais densas, afastados tanto quanto possível das margens dos rios, estradas e povoações. Os oficiais de Savimbi observaram  que os cubanos patrulhavam regularmente ao longo do curso dos rios e das estradas, na sua busca pelos homens da UNITA. Aventuravam-se pouco nas zonas de matas que se estendiam pelas áreas rurais e, com as quais, só os guerrilheiros  da UNITA estavam familiarizados.

moxico2.jpg Às  primeiras horas da noite, homens e equipamentos movimentaram-se  para cá e para lá, entre os três grupos, através dos muxitos das matas. Savimbi transferiu o seu rádio e operador para Samalambo, que poderia vir a precisar mais deles: ele deveria dirigir-se a uma área sob muito maior controlo por parte do inimigo e estabelecer uma base da UNITA perto do Caminho de Ferro de Benguela.

Savimbi disse aos seus guerrilheiros que dormissem, porém, passou a noite a dar instruções aos oficiais superiores das três colunas. Ele disse: «Como homens do exército, poderiam querer desesperadamente combater o inimigo. Em vez disso, porém, tinham de com firmeza e depressa actuarem, afastando-se do problema». Para conseguirem  o que se propunha, teriam de conciliar a necessidade de uma rigorosa obediência por parte de seus homens, com a capacidade de lhes demonstra  compreensão numa situação de desespero.

moxico5.jpg Foi bem peremptório ao dizer-lhes que existiam razões de sobra para terem  esperança. O inimigo mostrava que a sua estratégia era fraca. Estavam a actuar como estranhos: Não conheciam o terreno nem tinham o apoio da população, pois, de outra forma, nessa altura já Savimbi teria sido capturado. Estava bem claro, agora, para os oficiais, que a população estava com a UNITA. E Savimbi disse-nos: «Se o povo não desiste, porque razão desistiria eu?».

Nesse mesmo ano, após um veto por parte dos Estados Unidos, a Assembleia Geral das Nações Unidas admitiria Angola como membro 146º, em 1 de dezembro de 1976. Mesmo reconhecendo a independência angolana deste 10 de Novembro de 1975, o Governo Português somente reconheceu a autoridade do MPLA, sob o comando do Presidente de Angola Agostinho Neto a 22 de dezembro de 1976.

Nota: - “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:39
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Quinta-feira, 8 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 136

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3547 – 08.02.2024

O 11 de Novembro de 1975 no Huambo” - “A LONGA MARCHA” 

- Escritos boligrafados da minha mochila, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

unita1.jpg Proclamação de Independência paralela – No Ambriz e Huambo, Holden Roberto, líder da FNLA, proclamava a Independência da República Popular Democrática de Angola (RPDA) à meia-noite do dia 11 de Novembro, no Ambriz. Nesse mesmo dia, a independência da RPDA foi também proclamada em Huambo, por Jonas Savimbi, líder da UNITA.

Reconhecimento internacional e consequências das 3 prolamações: Logo depois das três declaração da independência em Luanda, Ambriz e Huambo, reiniciou-se a Guerra Civil Angolana (que já estava em curso desde Fevereiro de 1975) entre os três movimentos, uma vez que a FNLA e, sobretudo, a UNITA não se conformaram nem com a sua derrota militar nem com a sua exclusão do sistema político.

mocanda32.jpg Uma parte considerável da população rural, especialmente a do Planalto Central e de algumas regiões do leste, fugiu para as cidades ou para outras regiões, inclusive países vizinhos. Em Fevereiro de 1976, deparamos com o rápido avanço do MPLA com cubanos para a tomada do Lobito, Benguela e Huambo à UNITA a sul e, a norte o Soyo, a antigo Santo António do Zaire sob a alçada da FNLA.

A seguir, o Comité Político da UNITA abandona Huambo e inicia a retirada para Sudeste. Savimbi inicia, juntamente com duas mil pessoas, aquilo a que se veio a chamar a “Longa Marcha”. O líder da UNITA, Jonas Savimbi, viria a atingir o Cuelei só a 28 de Agosto, milhares de quilómetros percorridos, apenas com 79 resistentes.

unita2.jpg Lendo Fred Bridgland, este, conta o que a seguir se trancreve com a devida vénia de algumas passagens do que foi  “A Longa Marcha de Jonas Savimbi...”. Tudo começa a 8 de Fevereiro de 1976. Aconteceu quando as colunas blindadas de cubanos entraram no Huambo, o quartel-general político da UNITA, durante os seis meses anteriores.

Com a ocupação do Huambo, a vitória fora, virtualmente, completa para os cubanos e o MPLA. No dia seguinte, Savimbi abandonou o seu quartel-general no Bié e voou em direcção ao Leste, para o Luso... Ao principio da tarde do dia 10 de Fevereiro, o capitão “Bock” Sapalalo ouviu os camiões cubanos e do MPLA que se aproximavam da última ponte a norte do Luso...

unitao1.jpeg Alcides Sakala

Savimbi dormia, pela primeira vez em 70 horas, quando as primeiras bombas explodiram no Luso, às 4 da tarde. Foi acordado do seu sono profundo por Chiwale. A população estava em pânico. Savimbi convocou rapidamente uma reunião para lhes dizer que a UNITA iria retirar e organizar uma nova guerra de guerrilha.

Meia hora depois de terem caído os primeiros morteiros, três aviões MIG bombardearam violentamente a cidade tendo morrido cerca de 50 pessoas. Imediatamente após o ataque aéreo, foi ordenada a evacuação do Luso. Cerca das 5 horas e 15 minutos da tarde, os primeiros veículos da UNITA abandonavam a cidade: na coluna de carros diversos e Land-Rover seguiam cerca de 1000 guerrilheiros que Chiwale conseguira reunir. Alguns milhares de civis, com os seus haveres, seguiam pelas bermas da estrada. O cortejo tomou o rumo sul, em direcção a Gago Coutinho, que distava dali cerca de 350 quilómetros.

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:48
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Quinta-feira, 25 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 131

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3542 -25.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

A CARAVANA.3 A FUGA - Escritos boligrafados da minha mochila

- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

valentina3.jpg No Baleizão comi prego no pão com Coca-Cola. Nos bares à beira da praia comi santola, camarão, peixe no molho de dendê, muamba com pirão de milho. Eu nem sabia, senhor, que fabricava as lembranças mais caras. Um dia elas seriam os retalhos coloridos da minha colcha de saudades.

Tudo mudou em Abril de 1974. Angola ansiava pela justa independência; estávamos numa entressafra de tranquilidade. O terrorismo de 1960 quase não existia mais – não sentíamos isso. Os guerrilheiros tinham sido rechaçados pelas tropas portuguesas. Porém, com as mudanças na política de Portugal Continental, tudo mudou nas colónias lusitanas da África. Grândola Vila Morena deu a senha para os cravos florescerem nas armas. Marcelo Caetano caiu!

luua9.jpg O socialismo venceu em Portugal: Álvaro Cunhal, Mário Soares e seus camaradas no poder de então, apoiaram a independência e o Movimento Pela Libertação de Angola (MPLA), liderado por Agostinho Neto e patrocinado pela ex-URSS, Cuba e Alemanha Oriental. Mas no país existiam também a Frente Nacional de Libertação de Angola, de Holden Roberto, apoiada pela França e pela Bélgica; e a União Nacional pela Independência Total de Angola, de Jonas Savimbi, apoiada pelos Estados Unidos. FNLA e UNITA não aceitaram os favores de Portugal ao MPLA.

Iniciou ali, senhor, a grande guerra civil que devorou o meu país por três décadas. A violência aumentava a cada dia. Balas perdidas, rajadas de metralhadora, morteiros de bazuca e granada passaram a ser rotina. Quantas vezes, tínhamos que nos jogar no chão, dentro da sala de aula ou do cinema? Lembro de um dia em que Jesus Christ Superstar estava na tela enquanto eu, deitada no chão no cine Tivoli, ouvia as balas assoviarem por cima.

xiricuata5.jpg Era difícil para todos, mas quem tinha pele branca, como eu, caia em um limbo. Eu não era colonizadora, nem exploradora. Era uma adolescente angolana, pobre e agora considerada inimiga. Em meados de Março de 1975, começamos a cumprir o toque de recolher. A partir das 16 h, brancos não podiam andar nas ruas sob pena de serem presos ou mortos por grupos guerrilheiros. Estes não eram mais chamados terroristas e sim aclamados como heróis da libertação.

Havia assassinatos de homens brancos todo santo dia. As mulheres sofriam mais: eram seviciadas antes de morrer. Minha mãe rendeu-se ao medo: em Junho daquele ano me mandou para Nova Lisboa, onde tínhamos familiares e as coisas estavam mais tranquilas. Muitas famílias estavam fugindo do norte do país e indo pra a nossa região, onde recebiam apoio da Cruz Vermelha Internacional para deixarem o País com destino a Portugal ou à África do Sul.

camionista1.jpg Comecei a trabalhar como voluntária num dos postos da Cruz Vermelha. As caravanas do norte se multiplicavam. Eram tantas, que houve dias em que não dormíamos. Engolíamos pedaços de pão enquanto limpávamos ferimentos, distribuíamos comida e dávamos informações. Quando conseguíamos parar por alguns minutos, encostávamos o corpo nas caixas de alimentos e dormíamos em pé mesmo.

A multidão rugia em desespero. Gente à procura da família, gente abatida e sem rumo. Derramavam grossas lágrimas, lamentavam-se em alta voz pelos parentes mortos, pelos bens perdidos, pelas emboscadas às caravanas. O bicho homem é bruto, meu senhor. Lembro muito bem, ainda hoje, de uma caravana. De um dos carros desceu uma família atacada na estrada. A mãe tinha uns olhos perdidos e carregava o filhinho no colo. Seu choro era um chicote que arrancava lascas da gente e tingia de cinza o vasto mundo. Implorava que lhe salvássemos o menino, mas ele, senhor, já estava morto. Nesse dia, lembro-me bem, rompi com Deus. Reneguei-o. Era bem certo que nenhum ser supremo e bom poderia ter criado tal humanidade perversa e tanta dor a fustigar as costas dos inocentes.

(Continua…)

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:11
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Sábado, 9 de Setembro de 2023
VIAGENS . 73
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3473 – 08.09.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila, “de Maun a Francistown - Botswana ”
Entre os anos de 1999 e 2010
Por sertão2.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

Fracistown1 Hoje, o certo é de que quanto mais se sabe mais se sofre. Há fastio de inteligência! Há tédio! Há vontade de mandar tudo fora e partir vidraças, emudecer brilhos, despedaçar bocejos. Mas, desde quando um carneiro tem orgulho? Tão abarrotado de civilização, espreito os meses farejando raças sob o abrigo de suas telhas ou, carraças em suas orelhas.

Telhas vãs no calor da lareira, panela atestada de couves tronchas, frigideiras com unto branco de porco, uns chouriços de pendão, panelas tisnadas, trempes de ferro sempre aquecidas entre troncos de oliveira e borralho esparramado: Nestas visões passadas de meus ancestrais, revejo como todos os dias se processam milhares de pensamentos como estes, aonde pequenas decisões determinarão através de mecanismos intrincados que, tudo o que os sentidos captam (odores, sons, imagens) causam impressões indeléveis na mente.
Com destino à cidade de Francistown, lá prosseguimos viagem a partir de Maun do Botswana, por estrada pavimentada, pisando o Kalahári, quilómetros na savana, vendo de quando em vez, aglomerados de kimbos no meio de muxitos, tufos verdes e palmeiras com folhas acerosas. Com o planeado destino, rolamos quilómetros na savana, observando o já dito, burros atravessando a estrada sem rumo, abanando as orelhas a saudir moscas, abutres fazendo círculos aqui e mais além. Bebendo água mesmo sem ter sede para não desidratar e, para alimentar as glândulas dos olhos e garganta, falavamos e viamos pelos cotovelos, miragens virarem paisagens de água.

Fracistown2 Muita água feita oceano com barcos à vela e vapores… Andamos assim, somando falas ao longo da distância, coisas que ocorreram antes e durante os longos anos da crise Angolana, após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional; assuntos correspondendo à diáspora de muitos angolanos e afins chamados de refugiados, retornados e transtornados, espalhados pelo mundo, como se o fossem salalé tresmalhado, pontapeados por ideários gravadas à exaustão no excepcional computador - nosso cérebro.

Verdade: - Na Dipanda, nossas vidas têm muitos kitukus (mistérios). A roleta da vida dá muitas voltas, quando por vezes sentimos o peso do mundo que carregamos às costas, como se fosse um embondeiro; noutros, mercês de circunstâncias inesperadas, haverá o privilégio de estarem sentados confortavelmente no topo dele, usufruindo em ter ao seu redor um batalhão de servos pagos para adivinharem e satisfazerem todos os caprichos ou fantasias sonhadas – os funcionários da nomenclatura…

francistown01.jpg A cada ai, a cada ui, aparecerão centenas de comentadeiros a decifrar porque assim tossiu, assim baliu, assim mugiu, lendo nas entrelinhas e supondo ter nas cuecas maços de falsas notas verdes, feitas dinheiro… Neste deserto que atravesso, Botswana, vejo figuras rarefeitas entre bandos de estorninhos migrantes, diluídas na essência ondulada dum ar que tremelica no calor da miragem, também do que se pode ver em uma falha, na textura de uma velha casca de árvore com um lagarto pré-histórico camuflado de fenda. Pode!?

São formas escorregadias da realidade guardadas em meus armários, baús, que preenchem o quase-tudo do grande nada de minhas vivências. Observá-las com verdadeira atenção, transformando-se em centenas de momentos sagrados, só meus. E, sempre na busca de uma vida interessante, aventureira, apaixonada e diferente, trilhando trilhado por África procuro-me entre anharas, savanas e desertos de longas e altas dunas, lugares do cu-de-judas ou terras do fim-do-mundo sem os banais pormenores das urbes, cheias de semáforos…

francistown03.jpg Lugares de sermos confundidos como caçadores de elefantes por tanto pó salobro das tortuosas picadas, expostas ao sol impiedoso; ao calor abrasador dos dias e dos frios cacimbos húmidos a envolver noites com manto de espesso escuro; bem perto uma hiena parece chorar ao redor de uma carcaça fedorenta, carniça de vida sobrevivente. Lugares longinquoas de grandes metrópoles, com gente empoleirada até ao céu. A caminho de Francistown– Vou – Vamos! O sol tem ondas de ferroadas quentes que machucam na ida da vinda de nossos dias…

(Continua...)
O Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:42
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Quarta-feira, 6 de Setembro de 2023
VIAGENS . 71

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3481 – 05.09.2023

- Escritos boligrafados da minha mochila - Em Maun Rest Camp, cidade de Maun no Delta do Okavango…

Por maun001.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

maun9.jpg Aqui andamos remendando longos silêncios remoídos na sustentação das mentiras ou verdades sobre africanos, sua terra e sua origem, gente com gestores, chefes sofríveis por desclasificados; como entender tudo numa longínqua aridez de secura politica, geográfica e climática, um investimento de leveza desocupada, fazendo nada ou parecendo nada fazer, subsidiada pelo G7. Os cadernos coloniais referem que nestas suas correrias e naquele tempo de descobertas, estes, vendiam ao desbarato dentes de elefantes, borracha, escravos e mel.

Recordar que o major de infantaria, o sertanejo Alexandre de Serpa Pinto, realizou a viagem de Luanda ao Natal, em 1879; que também, os oficiais de marinha Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, em 1885 exploraram todo o sertão de Moçâmedes a Quelimane, num percurso de 4.500 milhas no intuito de ligar Benguela de Angola à Beira de Moçambique passando por Tete às margens do rio Zambeze e, terminando ali às margens do Oceano Indico.

maun04.jpg Estas viagens causaram a admiração da Europa e glorificaram o nome de Portugal mas… Mas, tem sempre um mas! Naquele tempo havia um Inglês que dizia que aquilo era tudo dele – do país dele chamado de Reino Unido; chamava-se Cecil Rodes e este, pretendia fazer uma linha de caminho-de-ferro desde a Cidade do Cabo nas terras descritas pelos portugueses como do Adamastor ou das Tormenta até ao Cairo no Egipto.

Pois este, não fez, nem deixou fazer. Um imbróglio que mete o tal mapa Cor-de-Rosa que nunca desabrochou como flor. E, tudo apenas para numa farsa diplomática cortar o mapa Tuga a meio... Sabemos desde esses tempos idos  que este "rail" chega à Tanzânia mas, diga-se que mais depressa chegaram os portugueses com o CFB (Caminho de Ferro de Benguela) à fronteira do Zaire no rio Luau (antiga Republica Popular do Congo)...

Em terras do fim do mundo, no Botswana, convêm relembrar que os aborigenes habitantes ancestrais, foram os bosquimanos (bushmens), khoisans, caçadores-recolectores que se espalharam pelo grande Kalahári e Karo. Em uma outra minha viágem anterior, tive oportunidade de observar estes indígenas errantes no seu meio natural. Foi no Kalahári Gemsbok National Park entre Twee Rivieren e Bokspits, um lugar ermo, divisão de fronteira, picada em mulola de um rio seco aonde só corre água quando chove: paramos ali para fornecer água a esses pequenos seres de tês parda, secos de carnes, vestindo pequena tanga tapa-rabos. Andava então à procura do caracal – um gato grande com as orelhas empinadas, que acabamos por avistar.

maun05.jpg Deslocavam-se em pequenos grupos com algumas lanças, apetrechos simples aonde as mulheres se distinguiam por levar ornamentos na forma de zingarelhos nos artelhos. Enchemos suas cabaças entre linguajar de estalidos do geito de makankala misturados com sopros de suspirose aspirações gututrais do qual nada entendemos.

As mulheres levavam corotos, imbambas de cozinha e trastes envoltos num saco em cabedal que era suportado nas costas por uma tira que se ajustava à testa. Agradou-me ver as várias etnias, brancos, negros e mestiços, muçulmanos e cristãos, laborarem o progresso sem tumulto. Ao invés disto, em Angola a gadanha da morte feito catana, para muitos e, para vergonha de Portugal, coisas manobradas por capitães de aviário em uma abrilada enviesada, felizmente, não chegou aqui ao país Botswana.

maun9.jpg Admirei-me até, nesse então, ver organogramas, gráficos que representam a estrutura formal do governo, com algumas caras brancas, coisa que a propósito foi posta de lado em Angola, terra dum Tundamunjila vergonhoso chamado indevidamente de descolonização; Ali, em Angola, a maldade, chegou antes do tempo. Por isso a necessidade de filosofar falas, porque no consciente do povo subjugado – NóS - fica a repulsa, nojo, repugnância e asco de governantes que se perpetuaram imerecidamente no poder do M´Puto…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:29
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Domingo, 27 de Agosto de 2023
VIAGENS . 64

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3474 – 27.08.2023 - Foi no ano de 1999

- Escritos boligrafados da minha mochila - dois himbas fotografavam a morte da minha infância…

Porkunene.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

ARAUJO216.jpg Ainda nas margens do rio Cunene, para lá da picada pedregosa, sentados em penedo elevado, com uma expressão de circunstância infantil sorriam com naturalidade ao meu espanto. Eu, um turista t´chindere, nas terras do fim-do-mundo a ser fotografado por pastores hereros de tanga. Aqui há coisa! Estou a ficar chanfrado! Passado dos carretos! Háka. Himbas - cafecos do kunene.

Pressentia-se vagamente o aparecer da tarde aonde a calma esmorecia um pouco a sombra dos troncos retorcidos de embondeiro alongando-se pela terra gretada e poeirenta. No horizonte desenhavam-se seios erectos reluzindo fogo entre pedregulhos de onde nasciam cactos em forma de candelabros. O silêncio da planura ondulava uma aprovada expectativa impassível, estirando labaredas num céu incendiando o horizonte.

edu59.jpgAs narinas arfavam nervosamente o suave cheiro de capim que de pontas viradas ao céu davam término em abrupta falésia; lá em baixo, na margem fustigada pelas ondas de águas rápidas farfalhavam mornices de verão pisoteadas por “nemas” chifrudas em movimentos leves, até graciosos. Era o rio Cunene.

Naquele instante e depois – em todos os instantes, sentia que me afastavam de tudo de quanto amava, e chorei disfarçadamente como se nunca mais ali voltasse. Dissimuladamente, limpava-me assim, como se finge limpar o suor.  De novo e agora, a nostalgia das terras do fim-do-mundo transcenderam no tempo fantasmagórico longos bocejos feitos admiração.

A partir dali iria passar por Fiume – um pedaço de estado livre, depois o “Epupa Falls do Okavango em Sepupa)” já no Botswana mais o Delta do Okavango. O rio Cubango ou Okavango que em seu curso, passou a a desbravar aventuras ora seguindo mansamente, ora rápidamente entre desenhadas figuras em  rochas com espuma branca e, mais longe não pude ir, nem voar

ÁFRICA18.jpgFaltava um todo o terreno ou um ultra leve para prosseguir a ver as quedas feitas rápidos,  deslumbrantes deste rio que vai para o Delta. Demasiado descuidado no agora, tempo de regenerações, usando pensos higiénicos fosforescentes dando bufadelas coloridas como os carroceiros boéres mais a sul; dos hábitos quase secretos que só eu mesmo abençoo entre as porcarias pálidas que se evaporam nas notícias mentirosas poluidoras  do Mundo.

Não se deve abandonar o nada de que se goste, e por amor amarrámo-nos às coisas da natureza como se ama alguém que nos é querido. Naquela universidade ou diversidade, aprendemos que as plantas comunicam entre si, por isso o elefante tem de andar muito, e contra o vento para que a coisa apetitosa, deixe de o ser.

epupa01.jpg Eu explico: - As plantas saborosas ao elefante são devastadas até ao extermínio e estas por feromonas lançadas ao vento, avisam as demais da mesma espécie que rápidamente passam a ter um sabor desagradável, expelindo ou misturando na sua seiva fluidos repugnantes ao sabor; o paquiderme “Jamba” predador, tem assim de contornar a selva ocupando um grande espaço da mata. E. fiquei a saber da importância que tem o salalé na limpeza da floresta eliminando troncos e folhas em decomposição, criando nutrientes para outras espécies se desenvolverem com mais pujança.

(Continua)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:07
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Sábado, 26 de Agosto de 2023
VIAGENS . 63

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3473 – 26.08.2023 - Foi no ano de 1999

- Escritos boligrafados da minha mochila - Aquele Bóere* das batatas do Vaal deveria ter mesmo olhos nos pés!

Por baú de coiro1.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

BATATAS4.jpg Aqui há diamantes? Perguntei à suricata empinada numa pequena elevação que nada me disse, pudera! Sem se importar com essa brilhante pedra que ofusca gentes, fugiu para um dos muitos buracos ali espalhados; terra fresca denotando trabalho árduo para assim se refrescar daquele calor tórrido; calor que chega a ir a mais de cinquenta graus no pico do verão. Coisa para se dizer, Pópilas!

Pois aqui, damo-nos conta de que afinal, sempre há povos a descrever teorias ou filosofias novas clareadas por meio de metáforas que a natureza lhes ensina. Aquela de os pés dos bóeres têm olhos vuzumunava minha kuca com lantejoulas rupestes. Nestes espaços abertos dissociamo-nos dos conflitos sociais; das metáforas criadas pelo homem a justificar coisas sempre compreendidas numa forma de agradar.

BATATAS6.jpg As artes criativas dos homens continuarão a florescer com brilhantes expressões saídas da imaginação; novos níveis de conflito ou sedução e, porque a arte por vezes é a mentira a nos mostrar a verdade. Ué… Lembrei-me do professor Souares, um espiritualista com manias de mwata a enfeitar minha testa com unguentos de salsaparrilha e xixi de guaxinim fedorento, tentando resolver meus problemas de mau-olhado.

Este eterno conflito foi-nos legado pela inteligência que tende a evoluir no tumulto com velhas ou novas criticas - velhas teses ou teorias diferentes deste mwata Kimbanda da mututa que me quer desfrisar uns kumbús como assim, na saúde, na doença e o escambau… Um teste de vida de tendência evolutiva legada por Deus, porque pensar o contrário disto, será decerto uma imperdoável heresia. Nos vínculos efectivos do antes, agora, depois e, enquanto gente, vamos rever humanidades antigas de quando passamos de animais quadrupedes a pessoas com mais de 600 centímetros cúbicos de capacidade craniana. Se agora temos 1.500 centímetros cúbicos de capacidade, tudo leva em crer que no futuro, nossas cabeças serão tão grandes que só se nascera de operação cesária.

BATATAS5.jpg Este problema sempre presente e cada vez mais remanescente, não reside na natureza nem na existência de Deus mas, nas origens biológicas que pela mente cataloga o auge evolutivo na biosfera. Poderá dizer-se nesta pequena imagem de vida real que cada homem está por assim dizer num estreito nicho como numa burocracia de curral. A parede deste nicho esmaga-nos individualmente a personalidade levando-nos a não poder extravasar nossa euforia como se fossemos bois confinados só a mugir até serem defuntados com um urro levado na ponta dum facão. Por ali, entre os khoisans, busquimanos, que se saiba, nunca andou  sequer um profeta escrevendo na areia qualquer mandamento…

As nossas atitudes em relação às coisas, reflectem critérios de valor fundamentais tornando a relação homem-coisa em algo cada vez mais transitório. Se eu fosse professor catedrático teria de vasculhar os termos para não falar tão fora dos parâmetros convencionais. A ideia de usar um produto-coisa uma única vez ou durante um curto espaço de tempo, substitui-lo ou deitá-lo ao lixo, contraria a sociedade ou os indivíduos com uma herança de pobreza.

batatas8.jpg As gentes do meu tempo, septuagenárias, que nasceram antes da invenção do plástico e do aparecimento do transistor, muito antes de haver computadores e inteligência artificial e ajuda dos algoritmos, não estão tão habituadas a produtos de utilizar e deitar fora; até conservam seus casamentos para lá dos cinquenta ou mais anos; preferem reciclar a vontade de fazer querer, em detrimento do só querer. Hodiernamente já nem vou a casamentos para não me sentir defraudado com a curta duração do umbigamento; quando muito, mando um pouco do meu laço de solidariedade com umas escassas centenas de kumbú para não o ser ovelha ranhosa na família… 

Comecei esta em querer falar no homem das batatas da África do Sul mas tudo escorregou na ladeira mais fácil a fim de não perturbar as mentes, pois sempre ouvi dizer que a fé move montanhas. E, num lugar ermo como este do Calahári, aonde o estio é brutal, um homem semeou batatas no deserto e, porque acreditou em Seu Senhor, foi abençoado com toneladas de tubérculos. Contaram-me, vi até um filme que mostrava aquela arides. Ao seu redor havia descrença e a surpresa apanhou-os de boca aberta; Também eu  fiquei confuso vendo tanta batata saída da terra. Terra que, com  vento, só leventava pó. Este bóere do Vaal devia ter mesmo, olhos nos pés!

khoisan04.jpg Bibliorafia: Bóere: Na África do Sul, os bôeres (africânderes) foram a base social principal do regime do apartheid, que durante muitas décadas vingou na África do Sul. Ao mesmo tempo, foram o grupo chave para o desenvolvimento económico da África do Sul e a posição de vantagem deste país na economia mundial… (Dados da Wikipédia…)

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:34
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Quarta-feira, 23 de Agosto de 2023
VIAGENS . 61

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3471 – 23.08.2023

- Escritos Boligrafados da minha mochila - Foi no ano de 1999

Por koisan7.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

khoisan001.jpg Um amigo receitou-me pimenta Caiena para controlar a pressão arterial – passeava então o esqueleto no reino bushmen. Estando eu no Reino Xhoba, reino sem rei com cerca de 100.000 súbditos, pertença de vários países de África, não posso deixar de falar deles. Soube porque li em algum lugar que o anterior presidente da África do Sul, Nelson Mandela atribui a estes um território de quarenta mil hectares.

Ora se um hectare tem dez mil metros quadrados, quatrocentos ha darão 400 Km quadrados. Se para aí transplantarem o cacto Xhoba, vai dar muito cacto para amaciar barrigas inchadas por esse mundo. A maioria do povo bushmen também designado de khoisan, continua a viver em casas cobertas a capim em pequenos aglomerados, por vezes a centenas de quilómetros de distância da cidade mais próxima.

Estas palhotas são circulares tendo a altura de uma pessoa no seu centro. Para sua execução juntam uma boa quantidade de paus direitos que depois são curvados e enterrados no solo pelas extremidades. Estes são amarrados ao centro com mateba, uma casca retirada de uma árvore que entrelaçada faz de corda. Com outras varas mais finas e longas formam uns arcos progressivamente maiores à medida que são postos do centro da cobertura para o solo.

Leão5.jpg Estes paus tipo verguinhas mais finas, são amarrados aos outros mais grossos que estão na vertical tipo meridianos. E. porue é necessária uma prta de entrada, deixam um pequeno rectângulo por forma a permitir a entrada e saída de uma pessoa.

Os seus instrumentos são bem escassos pois com muita frequência, mudam de sítio por via de seguir a caça, seu sustento. Seu património pode bem ser transportado em uma mochila. Seu instrumento mais precioso será uma  lança com ponta de ferro como nossos primitivos ascendentes o faziam. Envenenam-nas com banha de um verme que apanham ainda em estado de casulo.

Chegam a matar girafas com o uso de sua astucia e modo felino de andar na mata, pé ante pé e sempre nas mesmas pegadas, sem fazer estalar qualquer tronco seco. Como disse, usam lanças e arcos de flexas, transportando mantas para suportarem o frio das noites que chega a graus negativos. Seus pratos são feitos de aboboras e os copos de massala ou maboque.

busq2.jpg São óptimos pisteiros e conhecedores de raízes cheias de água que espremidas são usadas directamente do produtor ao consumidor ou para vasilhas feitas de ovos de avestruz ou cabaças. As autoridades estão dando alguns apoios por meio de lhes facilitar a fixação colocando-os em sítios estratégicos com poços de água alimentados por energia solar!

Creio também que lhes fornecem mantas e facilidades de transporte para levar seus frutos a postos de venda na intenção de os tornarem mais “felizes” e com uma vida mais adequada aos dias que correm.  Fazem artesanato a partir de espinhos de porco, ovos de avestruz, cascas de massala e lindos colares de missangas com frutos seos do mato. Usam uma quinda ou balaio maleável aonde colocam seus parcos pertences.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:28
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Domingo, 13 de Agosto de 2023
VIAGENS . 54

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”

- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3464 – 13.08.2023

- Boligrafando estórias em Okaukuejo do Etosha

–Ondundozonanandana -  Foi no ano de 1999

Por negro3.jpg T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto

Namotoni2.jpg Assim foi: Pai António T´Chingange (condutor), mãe Ibib, dois filhos “angolanos” e Isabel a mãe de Lara, a caçula que ontem fez 22 anos (estamos em 2023 - o tempo ruge…). De Sul para Norte depois do Orange River, descansando no “Ai-Ais” e subindo o Canyon do “Fiche River” procurou-se pinturas rupestres, pegadas de dinossauro e vestígios de meteoritos.

No meio de triliões de anos petrificados, “rosnávamos em muxoxos” ininteligíveis admirações brilhando argumentos tirados à pressão duma nuvem feita visão. Há noite, entre zunidos e guinchos vindos da negra escuridão em assalto nocturno, olhávamos as fagulhas saltando da fogueira explodindo térmitas; improvisando jantar, assamos carne de “Orix” e “Biltong” que gulosamente deglutimos com rega de cerveja “Ansen”, “Whindooek Laager” e chá “Rooibos”.

No majestoso deserto do “Karoo”, um fragmento do Calahári. Já tinhamos passado por isto, mas num pois, e foi assim, e assado sempre recordávamos Upington, Augrabies e Moon Roc no Orange River: E aquilo! E, foi! Aconteceu! Assim repetíamos uma e outra vez o já muito descrito. E, dito e feito - fomos a caminho de Etoscha de Ondundozonanandana e Oshakati passando pelos buracos de Otjikoto lake bem ao lado da Estrada Nacional B.1 e, perto de Tsumeb – Por aqui andávamos…

monteiro6.jpg A vida em África desperta com o nascer do sol e, é nas primeiras horas matinais que deveremos buscar os vários antílopes e os “big five” tais como o gnu, girafa, elefante, rinoceronte, zebra, kudu (olongue), impala, macacos, hiena e até mabecos. Com sorte, assistiremos ao banho de terra dos elefantes que junto aos buracos (bebedouros) quase fazem um teatro de coreografia divina, cores de pó em múltiplas facetas e contrastes com o sol do poente com os cheiros fortes que deles tresandam.

Já dentro do Etoscha, no Buraco Okaukuejo  -  só gente do staff pode sair da área do arame farpado depois do cair da noite. Não havia chalés disponíveis para aquela noite e o recurso foi montar as duas tendas que levávamos na mala do “four bay four”, no espaço disponível entre a cercadura da reserva e os balneários do campismo e caravanismo. O buraco de observação de animais ficava relativamente perto.

aug12.jpg Pouco tempo depois deram indicação de que uma manada de elefantes sequiosos estava a chegar; todos os restantes animais e até dois rinocerontes deram espaço ao verdadeiro rei do Etoscha; cansado que estava da viagem não demorei muito a adormecer feito um cepo e fiquei muito indignado de não me terem acordado quando apareceram os leões a beber lá pelas dez horas da noite. O “Okaukuejo Camp“ em forma de quadrado deve ter uns 800 metros de lado, um agrupamento de chalés para turistas, uma zona de residências com telhados em capim para funcionários, e bem ao centro uma torre de onde se divisa o horizonte, ora mata, ora chana aberta em forma de clareiras.

Das várias vezes que por ali passei vi sempre os místicos leões, quase sempre em grupos de três ou quatro em lugares de vegetação rasteira. Em África, o sol põe-se depressa e de forma abrupta pelo que, convêm não se arriscar andar muito afastado do acampamento nas horas de quase fecho de portão escolhido para pernoitar, Okaukuejo, Halali ou Namotoni. Tenho ainda na retina, a planura de Okaukuejo, bem perto do acampamento base “main camp”, a agilidade de uma cheeta na perseguição de uma springbok

aug6.jpg Gazela que de rabo a abanar e orelhas atentas a qualquer ruído pastava; bem atrás, sorrateira, uma cheeta, pata ante pata, avançava com todos os cuidados de visão e barulho normalmente contra o vento; num dado momento e já muito perto da presa lança-se em correria; em simultâneo a gazela pula e pula em saltos coordenados ziguezagueando a linear corrida do felino. Desta fez a correria deu em nada pois o antílope soube sobreviver. Ali, a quebra de vigilância significa uma morte rápida.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:32
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Quinta-feira, 25 de Agosto de 2022
PARACUCA . XLV
MULOLAS DO TEMPO -(16.02.2022) - 25.08.2022
RECORDANDO: Do 30º ao 32º dia da expedição – sexta-feira, “HAJA PACIÊNCIA”. Nós, bazungus no PARK MVUU LODGE do Malawi… manuscrito de 19 de Outubro de 2018 - Crónica 3236
Por soba0.jpegT´Chingange - No M´Puto 
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Saímos do PARK NVUU LODGE de Liwonga aonde ficamos as noites dos dias 17 para 18 e a seguinte até o dia 19 no Mvuu Camp do Chiwambo ao lado do Shire River. Ficamos estas duas noites em tendas nossas e montadas no Camping de mato rodeado de locais para fazer churrascos brai e outras acomodações própria de um campo de campismo. Muxitos de verdura a fazer-nos sombra, mesas com bancos corridos com rede sombreadora, acesso a piscina e demais infraestruturas de restaurante e lavabos.
Foi aqui que tivemos de estudar a montagem de uma tenda familiar que meu filho Ricar a morar em Johannesburg comprou para o efeito. O maior problema na montagem era ficarmos com olho nos muitos macacos babuínos com focinho de cão que tentavam roubar-nos tudo o que fosse de comida ou volumes que a eles lhe parecesse ser. Acabaram por levar uns pacotes de batata frita, pertença do comandante Vissapa e pelos gritos de kwata-kwata sempre ficou algo remanescente.

paracuca25.jpg De mim levaram um pacote de cebolas que comprei no percurso mas, logo o largaram no meio das bissapas por não gostarem do conteúdo. Antes de aqui chegarmos passamos numa barragem chamada de Liwonga na lagoa do Shire River em construção; falamos com uns encarregados de construção de nacionalidade portugueses que nos deram as indicações solicitadas, como chegar e pormenores desconhecidos. Disseram que sim era boa opção ir até o Mvuu Lodge e, que aí iríamos encontrar os Big Five e várias espécies de antílopes.

O Lago Malombe fica a montante do Shire River e faz parte da linha dos lagos Niassa ou Malawi que tenho vindo a descrever. Lugares aonde andou Livingston, o mesmo que chamou de preto ao sertanejo Serpa Pinto, aquele que lhe deu os pormenores do que viria a encontrar e, de que a história se cuidou em esquecer. Estes lagos ligados por canais naturais de rios ao longo da East African Rifts, são parte da enorme fenda aqui já descrita que divide em dois a África - um complexo de falhas tectónicas criado há cerca de 35 milhões de anos com a separação das placas tectónicas africana e arábica.

paracuca27.jpg Aquelas águas vão desaguar no rio Zambeze aonde e a montante deste, se situa a barragem de Cabora Bassa construída pelos portugueses no tempo colonial. Aqui no PARK NVUU LODGE, foram momentos TOP porque vimos milhares de hipopótamos, dezenas de elefantes que passaram bem ao lado de nossas tendas, centenas de boksprings, antílopes vários como o watterbugs ou songues. Pela primeira vez e nesta expedição Potholes, vimos várias palancas pretas e vermelhas (diferentes das de Cangandala de Angola) e kudus às centenas.

Também pela 1ª vez vi alguns porcos do tipo de javalis que em Angola têm o nome de Gimbo e que se alimentam maioritariamente de formigas, das mesmas que constroem seus casulos chamados de morros de salalé. Vimos Hartogues (javalis) às centenas. Valeu a pena sim mas, ficou extremamente caro se compararmos os preços aos da Namíbia praticados em parques ou reservas animais como Okaukuejo, Halali ou Namotoni no Etosha… aqui neste Mvuu, as infraestruturas são bem piores do que as da Namibia e pior geridas…

paracuca17.jpg Pagamos pelos dois dias a quantia de 130.000 Kwm, pelos dois dias, mais o camping e passeio de barco para ver hipopótamos ao pôr-do-sol e duas ligeiras refeições. Pagamento na recepção do Nvuu Lodge. Com entrada e no total ficou em 192.892 Kwn que dá em euros a quantia de 1.279,70 €. Muito caro para as condições de atendimento e espera. Coisas só mesmo param “bazungus ricos”. Só as refeições ligeiras ficam em 25 US$ por pessoa – um preço elevado em qualquer parte do mundo. Os amigos dos bichos aqui, têm de pagar bem caro para os ver!

E, tudo continuava difícil no lidar com o comandante, o Hemingwey branco e angolano. Sua irreverência e pedantismo, faz ferver meus zingarelhos da memória; a todo o momento tenho o desejo de que o tempo passe rápido, chegar ao fim. Digo com custo, quanta paciência para suportar o egocêntrico feitio que sempre saia de si na forma de nuvens imaginativas, o quanto baste. Não fazia falta vir a África viver este castigo vindo de um mwadié cheio de loucuras absurdas; já lá vão mais de 3 anos e, este compasso de espera viralizou ainda mais minha complacência. Haja paciência…

(Continua…)
O Soba T´Chingange
 
 


PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:54
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Quinta-feira, 8 de Julho de 2021
MUJIMBO . CXXIV

SER OU NÃO SER COMENDADOR - FUNERAL SEM CHORO

- É costume ouvir-se dizer: " foi-se sem deixar de si saudades”...  Crónica 3063 - de 08.07.2021

monteiro2.jpg

Por soba04.jpgT'Chingange, no AlGharb do M'Puto

Não me lembro de ter ouvido falar nem de ter assistido a alguma cerimónia fúnebre em que as faltas “ou pecados” da pessoa falecida tivessem sido destacadas pelos oradores. Elas podem até ser amplamente conhecidas, mas o bom senso manda que se realce só os aspectos positivos; afinal, todo mundo tem defeitos misturados nas virtudes e, nunca o inverso disto.

Certamente deixamos a marca do que fazemos positivamente, ou do que fazemos e que não deve ser imitado. Entretanto, é certo que ninguém quer imaginar ser mencionado em nenhuma ocasião, muito menos depois que tiver morrido ainda em vida, por causa dos seus defeitos ou procedimentos não usuais. Nem no livro sagrado da Bíblia, se escondem as falhas de nenhum de seus personagens, mesmo dos mais destacados heróis, entre os quais não está o rei mencionado em este nosso verso explanado em texto co o nome adulterado de Joe! A Joe, o que é de Joe… A Berardo o que é dele! Joe e Berardo são uma só pessoa…

soba21.jpeg E, lendo “ao calhas” ou aleatoriamente o livro dos livros camado de Bíblia, leio que Jeorão era filho primogênito de Josafá que reinou pouco tempo, mas deixou um histórico lamentável. Para começar, embora fosse rei e tivesse a maior parte no espólio deixado pelo pai, tão logo assumiu o reinado, de olho na herança dos irmãos, matou-os à espada. Já naqueles tempos havia formas bizarronas de tratar a vida...

A esposa de Jeorão, Atalia, filha dos ímpios Acabe e Jezabel, mais tarde tentou acabar com a linhagem de Davi. Jeorão rejeitou as advertências e promoveu a decadência moral e espiritual dos moradores de Jerusalém e de Judá. Finalmente morreu acometido de uma terrível enfermidade, que deixou suas entranhas expostas.

roxo135.jpg De acordo com um costume da época, os reis, ao morrerem, eram colocados em uma sepultura especial, em um local chamado “sepulcro dos reis”, algo como se fora um panteão. Não foi esse o caso de Jeorão. Quando morreu, não recebeu nenhuma homenagem por via de seus graves desvios às regras sociais de então.

O povo não lhe queimou incenso, ele não foi sepultado no sepulcro dos reis, e o cronista diz a respeito dele que “se foi sem deixar de si saudades”. Em contraste, Ezequias “foi sepultado na colina onde estão os túmulos dos descendentes de Davi. Todo Judá e o povo de Jerusalém lhe prestaram homenagens".

berard1.jpg Os bons exemplos, por norma, eram e ainda o são, enaltecidos pela sociedade. Por vezes leio a Biblia e, fico com vontade de não mais a ler porque são muitos desaires e até comportamentos bárbaros no meu entender. Em verdade, nem carece estarem esparramados no livro dos livros! Vejo no estágio de um qualquer curriculum, não ser pecaminoso desejar ser estimado, mas isso é resultado do bem que a pessoa espalha ou espalhou, difundiu ou influiu em seu meio, noé!? Será que posso entender este caso tão antigo com o de JOE BERNARDO, um ilustre cidadão português que, num repente, MORREU, estando vivo…

berard2.jpg Morreu, por fruto da hipocrisia dum povo que o bajulou, de governantes e gente com poder nas instâncias bancárias, que o embalaram e subsidiaram; mesmo de altos dignatários que lhe deram guarida e ajudaram, com dolo para todos NÒS, ao ponto de merecer medalhas de mérito e comendas como se o fora: um exemplo a seguir… Isso! Do amor e perdão que reparte, da acolhida que oferece e do serviço prestado, com altruísmo e lealdade - supostamente!

berard3.png Acima de tudo, é importante que sejamos conhecidos e lembrados por nossa fidelidade aos nossos com o beneplácito superior... Ele, Bernardo, lá terá a sua fé... O filme continuará com este e outros ilustres TRAPACEIROS… Com o suceder de TANTOS ERROS E AZARES, corremos o risco de ver O M´PUTO cair novamente, engolido num culto de personalidade com ataque á já frágil democracia…

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:51
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Terça-feira, 25 de Maio de 2021
XICULULU . CXXXVIII

MULOLAS DA VIDA

Crónica 3153 - NÓS E OS GERENTES DE UM PLANETA CHAMADO TERRA... 25.05.2021

mulola1.jpg

Por soba24.jpg T´Chingange - no Algharb do M´Puto 

E, pensar que Deus colocou o HOMEM no jardim do Éden para o cultivar e o guardar (Gênesis 2:15) - São recorrentes os avisos de que o descuido com o meio ambiente pode levar o nosso planeta ao caos. Eles, os avisos, são veiculados pela mídia, em campanhas educativas promovidas por instituições governamentais e não governamentais. Já nos anos 1960, livros e artigos em revistas advertiam contra os danos naturais causados pelo uso de pesticidas químicos.

mulola2.jpg No início do ano 2000, pesquisadores norte-americanos do Fundo Mundial para a Natureza, esboçaram um cenário caótico para o planeta até o ano 2100: extinção de espécimes de aves e animais, inundações, nevascas, furacões, ciclones e outros fenômenos como o actual vírus covidesco, ceifarão milhares de vidas. Há cerca de quatro anos, Stephen Hawking, falecido em 2018, falando a estudantes da Universidade de Oxford, fez previsões sombrias para a Terra também para os próximos 100 anos. Como solução, sugeriu que o ser humano precisa encontrar outro lugar no espaço para sobreviver.

mulola4.jpg Posso adivinhar poder estar daqui a 100 anos, a ser perturbado pelas cavadelas de um qualquer paleontologista ou arqueólogo a fim de medir a estrutura da minha tíbia e, não será por causa da engenhosidade humana que me considerarão primo da Luzia,  um revolucionário zulu. E, pelas catanadas riscadas em seu, meu crâneo, dirão ter sido originadas na gruta de Cango Caves aonde  saberemos que a partir das nervuras, “toda a criação, a um só tempo gemeu e suporta ainda angústias, até agora”... Somos muitos a gemer, infelizmente...  Em meio a discursos sábios a favor da preservação ambiental, ouvidos com reservas por desenvolvimentistas, ou enfatizados com forte colorido ecumênico de grupos religiosos, precisamos relembrar nosso papel na qualidade de  subordinados aos tais gerentes deste planeta.

mulola3.jpg O Senhor confiou ao ser humano a tarefa de cuidar da natureza e preservá-la, não agindo como destruidores dela em benefício próprio, noé!?  Por isso, entre muitos, o filósofo Douglas Groothuis afirmou: “A visão cristã nem deifica a natureza nem denigre seu valor. A criação é divina e não deve ser cultuada. Porém, ela não é má nem ilusória  devendo ser tratada com respeito”...

Felizmente, demorando muito ou o suficiente, virá o fim, e tudo o que foi estragado pela desobediência e rebeldia dos "maus gestores" tudo virá a ser renovado de acordo com o plano original. A plena harmonia entre seres humanos, animais e o restante da natureza será restaurada pela eternidade - dizem!; será?

kuvale5.jpg Então, se me  transladarem para Marte, ficarei assim  nessa esperança de dar sentido à vida largado neste  mundo, vítima do egoísmo humano. Pelo sim pelo não, já tirei senha para ir até Marte! Só falta tratar do meu passaporte verde das vacinas...

O Soba T'Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:16
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Sexta-feira, 4 de Maio de 2018
MALAMBAS . CCIII

NAS FRINCHAS DO KALAHÁRI - KIMBERLEY –  5ª de Várias Partes

- XOXOLOSA TREM . JÁ EM CAPE TOWN31.08.2018 – Na Waterfront e Shopping de Cape Town…

Por

soba15.jpg T´Chingange - No Nordeste brasileiro

Estamos a 04.Maio.2018; Continuando a passar a limpo meus gatafunhos do baú do Karoo do Xoxolosa Trem, irei desde Maceió do Nordeste brasileiro até Cape Town, uma das cidades mais lindas do Mundo. Os antigos armazéns do porto no Watwerfront, são agora modernos espaços de lazer com uma vasta área comercial; envolvendo os canais com acesso aos lagos têm comportas desniveladas para chegar de iates aos hotéis de gente VIP, maioritariamente saídos dos Emiratos árabes. Pode notar-se pelas roupagens…

xoxolosa6.jpg Neste espaço que antes era mar, ali fomos passar o dia com a neta, lugar aonde nos distraímos assistindo a grupos itinerantes de animação, música e folclore africano: sempre diferente nos gestos e na forma de vestir, cultura ubuntu-xhosa e Zulu aonde nós, certamente, eramos vistos como mulungus do kumbú (brancos com dinheiro). Lugar bem aprazível, tendo sempre presente lá no alto a sua majestosa Mesa da Montanha e a Cabeça do Leão, lugar que já escalei até seu topo, há dezoito anos atrás. 

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Tendo nós, já dado uma volta pelo centro da cidade, podemos verificar uma degradação na vida citadina, fazendo relação com o tempo de há dezoito ou vinte anos atrás! Nesse então pude reparar haver muito indiano e muito mulato; seus nomes eram bem portugueses como Pereira, Moreira, Cerejeira ou Manuel da Silva. Eram tempos em que a Academia do Bacalhau abrilhantava o quotidiano daquele corno sul de África com grupos de danças saídos do Minho ao Algarve do M´Puto.

xoxolosa5.jpg Eramos agora a embaixada da diáspora dum povo aventureiro; pelo que observei, os tempos já não são os mesmos de então; entre edifícios de beleza impar há degradações, montes de desalojados da vida, emigrantes do Zimbabwé, do Malawi, Tanzânia, Congo  ou Moçambique. Viam-se por todas as ruas, arrumadores de carros, brancos, mulatos ou negros retintos, desfrisando seus gestos de capatazia, deslocando baldes e panos num desenrasca de tarefa, os coroinhas da urbe, das gasosas.

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Gente pedindo dinheiro para comer, fora e dentro dos restaurantes, um vigia à coca enxotando estes milhares de homens ou mulheres que vieram à rédea solta para dar votos aos seus manos do ANC. Gente amontoada nos subúrbios de qualquer jeito entre amonturas de lixo e barracas apertadas na sobrevivência insalubre aonde as ruas são becos de gatos ramelosos. Passar assim pelo centro da cidade, assediados a todo o momento e, a cada esquina dá um desconforto bolorento. Cruzamo-nos com muitos brasileiros que não estranham tanto este reboliço urbano…

oxo136.jpg Rapidamente, regressamos ao solar rosa vitoriano a fim de apreciar as pombas gordas que quase comem na mão do senhor Amadeu. Enquanto escrevo esta memória de recordo a Dona Cora Esteves vinda da Luua de Angola, dona da agência Mundial e, a quem paguei em dinheiro vivo, 3.858 Rands para os três nómades da minha tribo; viagem de rape Town para Johannesburg: Eu, Bibi e Lara Mendes, minha neta (chata como a potassa).

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Na própria rua da mansão Rosada de Don Elaine, na Iaton Road notei algo de curioso, um senhor negro sentado bem no início, no nº 3, vestido com um colete amarelo igual ao dos muitos outros arrumadores de carros nas ruas, tinha a particularidade de ir a cada uma das casas impares saltitando em suas muletas pedir um café. Era seu pretexto para solicitar qualquer sobejo das lidas de cozinha de cada qual.

cape2.jpg As moradias tinham suas próprias garagens mas este, também recebia propina cidadã de quem ali estacionasse o carro. Calculo que era um ex-soldado do exército Sul-africano desmobilizado por ter ficado sem uma perna. Em Moçambique já tinha passado por algo semelhante. O Sr. Amadeu referia-se ao desaforo deste em solicitar lanche! Nada disto pude verificar nas anteriores idas à cidade de cape Town. Creio que a AD – Aliança democrática que governa agora o Cabo, deu facilidades a estes para colmatar a falta de trabalho.

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Só faço menção destes pormenores para demonstrar a gravidade de não poder ser dada assistência a tanto cidadão sem ocupação. Por outro lado, dificultam ao máximo qualquer cidadão não negro a obter o visto de trabalho, mesmo que tenha formação superior e curriculum dos melhores. Só por portas travessas e com propina se consegue aligeirar tal pretensão.  Fazendo ali tanto frio de noite, observei haver gente a dormir em terreno descampado tendo como tecto uma manilha, uma alcantarilha como tecto.

cape8.jpg E, por mais que tente compreender esta transitoriedade de África, fico apreensivo por ver as ondas de detestabilidade governamental agravando os empresários maioritariamente brancos; Parece seguir as burradas de Robrt Mugab, numa ânsia negra e doentia de obter as mordomias dos brancos; tal e qual como sucedeu em Angola! Mas, se estes saírem em massa, como vai ficar o país? Correm o risco de seguirem as passadas erradas de Angola, Zimbabwé,  Moçambique  entre outros países africanos…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:53
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Sábado, 21 de Outubro de 2017
MALAMBAS . CLXXX

NAS FRINCHAS DO TEMPO - POTHOLES . I

- 24.07.2017 – Da minha mochila. Aqui no Pilanesberg de África, apaziguando rijezas adversas, perfilando anjos com a singularidade do mundo …

Potholes são buracos

Por

soba0.jpegT´Chingange

Saímos de Pilansberg às 10 horas depois de tomarmos o café da manhã, o breakfast com ovos e esparregado de espinafre e borrabwós, umas salsichas de búfalo e torradas de pão integral. Depois de três horas e meia de caminho pela R 516, R33 e R555 chegamos a uma aldeia característica do Limpopo, casas dispersas construídas com os materiais mais diversos. Chapas de zinco dos lados e em cima com pedras ou pneus a dar suporte; Tudo serviu na construção daquelas barracas podendo deduzir-se serem algumas feitas de tambores de gasóleo cortadas e achatadas a marreta. 

bak1.jpgVistas de longe parece uma favela desordenada cruzada com ruas de terra, mal definidas, cubatas primitivas se a confrontar com as luxosas casas de Bela-Bela, Johannesburg ou outra cidade de maior destaque. Mas também as vi ao longo de largas vias em plena cidade de Johannesburg. Em um dia que nos deslocamos ao Casino Carnival City sobressaltei-me com o fumo que soprava daquelas casas e reparei depois que este saia das frinchas daquelas casas insalubres, com um simples janelo ou mesmo nada ao redor delas (uma casa um fogo de lenha)

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Foi-me dito que ali mora gente saída do Zimbabwé, do Malawi, de Moçambique; gente aos milhares senão milhões que correm para a África do Sul na esperança de aqui encontrarem trabalho. Um mulungo (branco) empresário ou dono de farm (fazenda) que lhe dê trabalho. Nunca vi isto em Angola; ali os musseques eram disciplinados e as cubatas eram feitas de adobe ou de taipa, tinham janelas e as portas não eram umas simples chapas de zinco presas por uns arames, como aqui.

bak3.jpgMas, diga-se que também vi grandes mansões em lugares de destaque, propriedade de negros, um pouco por todo o Johannesburg e outras cidades. Vi brancos a pedir esmola nas ruas tal como negros, atirando bolas ao ar e até descalços, mal cuidados; creio que a viverem entre papelões e jornais nas sacadas dos lugares comerciais mais centrais. A cada cinquenta metros em um centro de cidade ou centro comercial há um branco ou preto a dar indicações de arrumação a troco de uns cinco randes. Nunca em anos anteriores, tinha visto tamanha proliferação de carências humanas aqui na África do Sul.

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Em nossa viagem e depois de Rossenekal na R 555 e R532 viramos por uma estrada de terra bem ruim para o turismo alugado que levávamos, com ondinhas e pedras soltas, picada própria para um four-by-four e após 10 quilómetros chegamos ao Valley of the Rainbow, uma farm com tendas de lona junto a uma lagoa e situada na encosta arborizada de um morro. O escudo do Valley tem três gansos e três peixes, lugar certo para observar aves, e ficar ali por horas à pesca.

bak4.jpg O Witpport River passa ao lado envolto com árvores de grande porte; e, foi aqui que ficamos na rustic-tent nº um assente em uma base, ripados de madeira com gretas de quase centímetro. Era bem ampla com uma varanda e um avançado também de lona com uma churrasqueira de fazer ali o característico brai, um quarto amplo com quatro camas e uma grande casa de banho com água quente e fria. Na varanda havia um armário fechado com os apetrechos de cozinha tais como torradeira, máquina de café, garfos, facas e pratos variados. Também tinha um frigorífico e cinco cadeirões com uma mesa central.

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Havia café e chá rooibos em sacos assim como açúcar e a respectiva cafeteira de aquecer água para as habituais sopas pré-feitas e as papas de mitabix. Estávamos num rústico sítio fresco de verão, mas demasiado frio para estas noites de agosto a chegar aos menos 4 graus. Esta temperatura foi sendo suportada com três pares de meias e camisas grossas de algodão. E, foi assim que todos dormímos envoltos em flanelas e sacos cama.

limpopo1.jpg Chegamos aqui ao Rustic-Camp do Valley of the Rainbow perfazendo 999 quilómetros de viagem vindo pela R 555 e chegando exactamente às 4.44 horas, dezasseis minutos antes de fecharem a recepção; 444+555=999. Parece até uma estória de cabalística, uma numerológica visão revista em astrologia pela minha neta Lara Mendes Monteiro quase a completar os 16 anos. Uma neta muito cheia de sabe-tudo que me fazia rodar os neurónios amiudadamente e me punha os zingarelhos descontrolados.

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O custo da tented-challet ficou em 750 randes, o correspondente a uns cinquenta €uros, um preço aceitável! Não tinha intensão de voltar aqueles dez quilómetros por aquele caminho horrível de noite e sem booking em outro qualquer lugar! Aventura é aventura! Sempre sucedem coisas diferentes e, não previstas nos planos B ou C.

limpopo3.jpg Como disse, acabamos por dormir vestidos, com os tais três pares de meias e deixando as malas e sacolas no VW Up Wite alugado no First Car Rent de Rynfield de Benoni. Há oito dias que andamos sem internet mas usando os dados moveis (data) para através do Smarthpone 0636.1696.03 da Vodacom podermos ter O GPS e mapas. Nosso destino é Grascop, terras altas de largas e bonitas vistas não muito longe do Kruger Park.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:02
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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