Quinta-feira, 7 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 114

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3525 – 07.12.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

quem1.jpg (…) - Um Deus nos acuda com um salve-se quem puder! Entretanto as tais Nossas Tropas já eram poucas para controlar quem quer que fosse. A UNITA boicotava enquanto os homens de Chipenda, agora da FNLA, escoltavam com pagamento de 3000 contos os refugiados até à fronteira Sul. Oshakati era o ponto de encontro das caravanas saídas de Malange, Uíge, Nova Lisboa, Lobito, Novo Redondo ou Benguela e mesmo da Luanda já tão martirizada.

Um pouco de todos os lados, em grupos ou deslocados como formigas sem tino, fugiam simplesmente. Alguém lhe desfazia o carreiro do rumo acertado. E, o rumo era a paz, a fuga aos tiros, às atrocidades gratuitas, regra geral para o Sul e para a costa Atlântica. O destino era Grootfontein com a supervisão de militares e autoridades Sul-Africanas.

step6.jpg Era ali que se situava o campo de recepção aos refugiados. Ali chegavam camiões, automóveis e veículos de toda a ordem e também máquinas de terraplanar, caterpílares e tractores com alfaias. Em uma destas caravanas seguia meu compadre José Matias que resultado de um desencontro, ele foi e eu fiquei! Tinha-me deslocado a Luanda a fim de levar minha sogra para casa de um outro filho que vivia na Maianga da Luua.

Pois aconteceu que o que vi nesta viagem por terra, desvaneceu-me por completo a vontade de ficar na N´Gola que tanto queria. E, vi casas queimadas, povoações abandonadas, gente deambulando de um lado para outro sem uma precisa orientação. Em Muquitixe estive encostado a um muro velho com minha sogra idosa!

tio Sam01.jpg Não se sabia o que poderia sair daqueles drogados que revistavam o autocarro aonde seguíamos. Podíamos ter sido ali, metralhados, como num filme de revolução, cuja morte parece sempre surgir junto a um já esburacado muro! Simplesmente isto, não aconteceu. Ninguém se culparia e nem haveria de jurar a alguém! Parecia não haver esse tal de alguém; simplesmente, assustador!

Estes comboios de refugiados eram escoltados por norma pelas tropas portuguesas e também do MPLA numa já perfeita parceria de zelo de estado. Criou-se assim um autêntico corredor entre as cidades do Centro e Norte a Namacunde pela estrada principal do Sul. A falta de gasolina, água e alimentos tornava-se cada vez mais dramática pela carência.

guerra20.jpg Trocavam-se contos ao desbarato por tambores de gasolina. A tropa portuguesa assistia agora à fuga de milhares de ex-colonos e naturais com um sentimento de impotência, coisa confrangedora para alguns. Não haveria desculpas para esses militares (a maioria)  que obedeciam cegamente a seus comandantes de aviário, os cérebros do Concelho da Revolução com  muitos civis que se ufanavam deste feito como sendo coisa exemplar.

Prometi a mim próprio recordar estas tristes passagens, tempo de tão mau augúrio para um Império que ruiu da pior forma, sem dignidade; tudo feito por empedernidos fanáticos que a troco de uma centelha ideológica empederniam-se num regime despótico e anárquico entregando as gentes à sua guarda ao descaso, aos entretantos …

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:12
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Quarta-feira, 18 de Outubro de 2023
VIAGENS . 94

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3505 – 18.10.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

paulo0.jpg PERFIL ETNO-HISTÓRICO DO POVO ANGOLANO - II*

(…)- Foram Estados fortes pela alma do seu povo, que sempre acreditou ser povo da terra dos destemidos, dos guerreiros. Ao lado das narrações, lendas e adágios, a canção testifica o passado: Kapalandanda wa lila; wa lilila ofeko yahe yilo ofeka yoku  loya, ka loyele a tunde ko!... - Kapalandanda chorou, chorou pela sua terra... Esta  é terra de combate, quem não luta, saía! O que fica consubstancia a mensagem secular do grito da liberdade "TERRA E LUTA ARMADA".

LUNDA-CHOKWE: Ocupa as província da Lunda, parte do Moxico e está também dissiminado nas províncias do Cuando-Cubango, Huíla e leste do Bié e compreende os Lunda-Lua Chimbe, Lunda-Demba e Chokwe. A tradição conta que os Chokwe, negando ser tributários do Rei Lunda, expandiram-se numa vasta região do Moxico, Bié, Cuando-Cubando e Huíla. Antes da sua expanção, os Chokwe permaneceram estreitamente ligados ao Império Lunda, até que fundaram vários Estados. São comerciantes, caçadores e apicultores, o que faz da área dos Lunda-chokwe um centro comercial importante com os povos do planalto central até aos princípios deste século.

miss01.jpg NGANGUELA: Povoando as províncias do Cuando-Cubango, moxico e parte do Cunene e Huíla, o grupo étnico-linguístico Nganguela compreende os Luimbi, Luchaze, Bunda, Luvale, Mbuela, Kangala, Massi e Yavuma. Os Nganguela destacam-se como pescadores (os Luvale são exímios pescadores que não se deizam influenciar pela época do ano) e notáveis apicultores. Vivendo longe da costa do Atlântico  e num habitat disperso, os Nganguela só foram dominados pelos portugueses a partir dos anos de 1920, dominação esta que sofreu resistência dos Bunda, chefiados pelo seu dirigente Muene Bandu, assim como dos Nhemba, com  o Rei Chilhauku. Divididos em sub-grupos, não tiveram autoridade centralizada; contudo formaram importantes Reinos, dentre os quais se destacaram os Reinos do Kubango, de Massaka, ou da Raínha Lussinga, de Senge e dos Luvale, sob a prestigiosa dinastia Nhakatolo.

miss02.jpg NHANEKA-HUMBI: Vizinhos dos Ovimbundu e dos Ovambo os Nhaneka-Humbi espalharam-se por Províncias da Huíla e do Cunene e  compreendem entre outros, os Muíla, Humbi e Gambo. Dedicando-se à pastorícia e praticando uma fraca agricultura, de vida semi-nomada, tiveram reinos fortes que resistiram ao colonialismo.

OVAMBO: Ocupando a Província de Cunene, entre o paralelo 16ª e a fronteira com a Namíbia, é constituído por Kuanhamas, Kuamatuis, Evales e Kafimas. Praticando uma agricultura de subsistência, tem a sua base económica na criação de gado que, por factores climáticos e baixo nível de desenvolvimento, não se libertou da vida semi-nómada. Sente-se ainda o calor de Mandume, que conseguiu unir o povo e fazer resistência forte aos Portugueses até Stembro de 1917. A sua capital foi Onjiva, cujo nome foi novamente retomado em substituição de Pereira d`Eça, nome que fora dado pelos Portugueses.

araujo95.jpg HERERO: O Herero é também um dos grupos populacionais do nosso País que se  espalha na Província de Moçamedes, Sul de Benguela e Oeste de Huíla. Tal como seus vizinhos Nhaneca- Humbi e Ovambo, dedica-se à criação de gado. Cada um vê no gado graúdo o seu capital e nas crias o seu lucro final.

KUANGAR-BUKUSSO: O grupo linguístico Kuangar-Bukusso ocupa toda a faixa Sul da Província  do Cuando-Cubango. Agricultores pacientes devido à acção cíclica da estiagem, têm a sua economia na criação de gado. Também praticam a pesca nos rios Cubango e Cuando.

selos3.jpg OS VASSAQUELE: Os Vassequele constituem um grupo numericamente muito reduzido, que se encontra na Província do Cunene e no sul do Cuando-Cubango. Caçadores infatigáveis, têm sido nómadas ao longo dos tempos. Porém com a influência dos povos Bantu, quase todos adoptaram a vida sedentária, fazendo pequenas lavras, sem terem deixado a caça e a procura de fruta e mel. Os Vassaquele possuem uma linguagem especial, caracterizada por "clics" ou estalidos. Foram os autores das maravilhosas pinturas que se encontram nos rochedos, em muitas grutas do Sul de Angola, como na gruta do Chitundo-Hulo no deserto de Moçâmedes.

bordallo.jpgbordalo3.jpg Nota*: A étnia branca ariana que não faz parte deste rascunho etno,  surge com o inicio da colonização com Diogo Cão no ano de 1480, espahando-se por todo o territário da actual Angola. Legou internacionalmente ao país o ideoma português como oficial, tendo sido o aglutinador dos demais povos que usavam e, que ainda usam outros dialectos no contexto de relação regional. Esta étnia (os t´chinderes, xi-colonos – 500 mil), em numero elevado, viu-se obrigada a abandonar o país por via de uma chamada de DESCOLONIZAÇÃO dirigida por Portugal e, após as guerras  de Tundamunjila (Vai embora) e Civil, entre o MPLA e UNITA…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:40
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Terça-feira, 17 de Outubro de 2023
VIAGENS . 93

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3504 – 17.10.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

selo12.jpg PERFIL ETNO-HISTÓRICO DO POVO ANGOLANO*

Antes de prolongar os escritos sobre o tempo da Dipanda, de um  passado recente (48 anos) em Angola convêm saber que a base ético-linguística do país, compreende os grupos populacionais BANTU e uma minoria não - BANTU, os VASSEQUELE. OS BANTU´S - Habitando não só Angola mas também a África Central, Meridional e Oriental. O povo Bantu constitui um grupo especial entre os negros da África. Eles têm três elementos comuns sobre os quais nenhuma contestação é possivel:

a) O mesmo sistema linguístico; b) Uma civilização base; c) Unidade nas ideias filosóficas. Na vastidão das áreas que ocupam, a arrancada rumo ao progresso não se deu num dia nem obedeceu, depois, a uma velocidede uniforme. Assim, no progresso histórico do desenvolvimento da sociedade, uns avançaram mais que outros. O povo Bantu desenvolveu a metalurgia, a agricultura, a criação de gado, a pesca, o que lhe dava uma ascendência económica e militar.

 A influência do meio geográfico, o modo de vida e a influência linguística de outros povos fazem com que existam em Angola nove grupos étnico-linguísticas. Também conforme o grau de desenvolvimento, o crescimento demográfico e o nível de organização, os grupos ético-linguísticos mais fortes tinham formado Reinos que marcaram a sua história. Assim temos:

selo13.jpg BAKONGO: O grupo étnico-linguístico Bakongo, ocupa o Norte e o Noroeste de Angola, na área que abrange Cabinda até às linhas do rio Dande. A língua falada é o Kikongo. Repartidos aquando da partilha do Continente Africano pelos países colonialistas, uma parte desse grupo passou para as actuais Repúblicas do Congo e Zaire. A tradição ancestral diz-nos que foi um chefe chamado Nimi a Lukeni que reuniu no passado todos os clãs que falavam Kikongo, fundando o Reino do Congo, com capital em Mbanza Kongo, situada na província Angolana do Zaire. Povo trabalhador e comerciante adoptou a moeda "nzimbu" que consistia de conchas marinhas, muito antes da chegada dos Portugueses, o que assegurou o apogeu comercial do grande Reino do Kongo. Dada a situação geográfica, foi o primeiro Reino contactado pelos portugueses, em 1482.

kilo12.jpg KIMBUNDU: Vizinho imediato dos Bakongo, a sul, entre os rios Dande e Cuanza, o grupo étnico-linguístico Kimbundu espalha-se de Luanda até aos Lunda-Chokwes e confina a sul com os Ovimbundu. Antes da população Portuguesa, os Kimbundu tinham formado os Reinos do Dondo, Matamba e Estados da Kissama, onde florescia a agricultura e o comércio. Primeiro grupo invadido militarmente pelos Portugueses, a partir dos meados do século XVI, a história nunca poderá esquecer-se dos seus grandes feitos heróicos na resistência contra a dominação estrangeira, sob o comando dos seus chefes, de que a Rainha Nzinga é expoente máximo do século XVII.

Compelidos de várias  formas a conviver com os Portugueses durante séculos, os Kimbundu sofreram inflência Portuguesa, intensiva aqui e extensiva acolá, com a fundação das primeiras instituições escolares na área, o que afectou sobremaneira a sua base cultural Bantu. Em contrapartida, surgiram entre eles os primeiros passos da literatura em Angola.

selo11.jpg OVIMBUNDU: Grupo étnico-linguístico mais numeroso, ocupa o Planalto Central de Angola nas Províncias de Benguela, Huambo, Bié, na maior parte do Cuanza Sul e no Norte da Huíla. A sua língua, umbundu não tem fronteiras no interior do País e marca presença forte no Zaire, na Zâmbia e na Namíbia. Grandes comerciantes e agricultores dedicados da África Austral, os Ovimbundu repisaram o sub-continente do Atântico ao Índico e promoveram um intercâmbio forte de experiências e valores culturais, o que marcou fundo a sua psicologia, que faz da convivência com outros povos a sua característica principal.

selos1.jpg É históricamente conhecido como trabalhador, hospitaleiro e paciente, mas implacável quando lesado nos seus direitos. Durante a ocupação colonial, sofreu grande influência Cristã e atingiu o maior índice no País de alfabetização e de quadros intelectuais e técnicos de níveis básico, médio e superior. Os Ovimbundu formaram vários Estados antes da ocupação colonial,de entre os quais se destacaram os seguintes:  Mbalundu, Wambu, Viye, Ndulu, Ngalangui e Chiaka. Estes Estados constítuiram uma divisão administrativa da vasta área e não do seu povo unido e amalgamado na língua, cultura, tradição e carácter comum do poder - o Poder Democrático.

arau1.jpg Nota*: A étnia branca ariana que não faz parte deste rascunho etno,  surge com o inicio da colonização com Diogo Cão no ano de 1480, espahando-se por todo o territário da actual Angola. Legou internacionalmente ao país o ideoma português como oficial, tendo sido o aglutinador dos demais povos que usavam e, que ainda usam outros dialectos no contexto de relação regional.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:53
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Quarta-feira, 21 de Junho de 2023
MAIANGA . XXV

TAMBULACONTA  CABINDA

-La vitória és cierta! La lucha continua! Cumcamano, o Gurigula tinha sido um companheiro de Ché Guevara…

Crónica 3430 – 21.06.2023 -– “Maianga, é lugar de muitas e boas águas”

Por gurila3.jpegT´Chingange – Na Pajuçara

gurila6.jpeg As revoluções acontecem em um qualquer intervalo de tempo ficando num foco, num documento, num pestanejar de olhos e, normalmente, de forma alheia aos nossos anseios, vontades ou mesmo pensamentos. Pode-se assim afirmar que nenhum terrorista nutre algum sentimento de dúvida acerca de sua nobreza nas convicções. Naquele exacto momento, ele, o terrorista, achava estar certo porque tinha um apego sentimental a uma crença, a uma causa.

Depois daquela experiência, assente em ideias mais engravidadas, poderia levantar dúvidas de se valeu a pena lutar, matar e actuar com risco de morte por aquela causa por via de ser esclarecido no tempo certo do amadurecimento. Na ilusão da mente, por sedução ou obrigação nossa vida trambolha-se, confunde-se ou procede confusamente perante a obrigação de lutar por algo. Andei quatro anos lutando por algo que afinal vim a saber que nem era a minha pátria, pensando sim, que o era! Um território que ainda continua lutando para se tornar independente porque o foi, uma anexação, fruto de um tratado que não o foi respeitado – Simulambuco de Cabinda.

gurila1.jpeg Por motivo de força maior e a bem da nação, fui mobilizado por recrutamento a servir o exército regular dum território designado por Província Ultramarina de Angola. Politicamente estava em causa defender o território dito nacional e, prestadas as provas fiz a devida instrução passando de soldado a cabo miliciano e depois furriel. Já como furriel fui enviado para Cabinda para ser integrado numa Companhia de Infantaria do M´Puto (calhou ser a CC 1734 de Beja). A partir daqui, de vestimenta camuflada ou em zuarte amarelo, comecei a ter práticas terroristas. Armado e em fila de pirilau procurava outros terroristas para aniquilar ou aprisionar.

Da incorporação de Angola, fomos quatro furriéis; éramos dois brancos, um de Luanda (eu) e outro de Moçâmedes, um mestiço mais um negro, ambos de Luanda, e meus ex-colegas de estudo da EIL e Escola Comercial. Nosso destino foi a norte – Maiombe! Por ali andamos nas filas de pirilau com o soba Mateus à frente cortando o capim e naquela mata cerrada (a segunda do Mundo) aonde havia e ainda há gorilas. Para além de cuidar em me preservar isso da dignidade, do ideário, da ética eram edecéteras longínquos só ouvidos.

gurila2.png Um e mais outro dia de G3 às costas, umas quantas granadas ofensivas seguras á cintura junto com os cartuchos suplementares, fiscalizávamos soberania ao longo da fronteira com o Congo Braza e o Congo Zaire, em movimentos medrosos no meio de um mar de muitos verdes; no meio de órbitas cósmicas só desejávamos que uma qualquer mira de tiro certeiro não nos mandasse para outra Galáxia, Saturno ou Plutão.

Estas operações de jogar às sortes nosso destino, repetiam-se regularmente a nível de pelotão ou de companhia, com ou sem apoio de helicópteros… No fundo eu era sem dúvidas um terrorista buscando outro terrorista, gente buscando gente. Simplesmente ficou uma memória isenta em valor último, de uma dignidade em cada um de nós terroristas de lá, e terroristas de cá, sem definirmos as razões da mudança, do porquê porque já foi.

gurila4.jpeg Mas, há um mas, fiz amizade com um gorila sim! Um gorila com quem até joguei cartas num lugar de Aníbal Afonso, uma antiga serração bem perto da fronteira com o Congo Braza. Uma amizade que depois de tanta afeição aconteceu um inesperado. Ele e eu guinchávamos amizade e por este acontecido dei ao Felizmino o sobrenome de Gurigula. Fora de portas d´armas e arame farpado eu e Gurigula fomo-nos isentando de medos, conservando gestos subservientes de baixar a cabeça procurando um afago de catar amizade.

Um dia apareci com um baralho de cartas e, na mesa improvisada espalhei os paus, as copas, os ouros e catanas e, num repente surpreendemo-nos a jogar sem regras; entre paus cambalhotava-se como um doidão e, eu gesticulando graças sem coreografia como só mesmo para espantar suprimentos da fala. Algures no Buco-Zau nas Bitinas da Serração do Aníbal Afonso. O gajo, de uma das mãos lançou um ás de copas que baloiçou até meus pés e ouvi mesmo: La vitória és cierta! La lucha continua! Cumcamano, o Gurigula tinha sido um companheiro de Ché Guevara…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:13
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Sexta-feira, 25 de Novembro de 2022
MUJIMBO . CXXIX

ANGOLA – TESTEMUNHO DE ESTÓRIAS ANTIGAS... MICONGE VELHO, CABINDA

- Acreditei que estava a participar na revolução angolana - de 2 Partes

Crónica 3304 – 17.05.2022 – Republicação a 25.11.2022 na Lagoa do M´Puto.

Por  CABINDA2.jpg Soba T´Chingange em Arazede e Lgoa do M´Puto

CABINDA3.jpg Estávamos em 1968, em Maiombe de Cabinda. O alferes Martins das operações Especiais transparecia empatia logologo ao primeiro contacto. Sua pele mestiça indicava o quanto tinha de mazombo a condizer com nossas condições de singularidade, filhos de colonos. Nos seus crioulos procedimentos referia seu pai lá das terras de Barroso atrás dos montes no norte do M´Puto; sua mãe caluanda e descendente das gentes da Matamba, era também referida com orgulho envaidecido nas linhagens de nobreza N´Zinga em nossas conversas; nobreza que a administração colonial dissipou nos tempos após a rebelião de Mandume entre outros kaparandandas do Mu Ukulu (gentes do antigamente)… 

E, porque sua mãe era quase minha vizinha pois que morava fronteiras meias entre a minha rua da Maianga e o quase musseque de Catambor e muito perto até do colégio aonde andou antes de mim, João das Regras e também do mercado de Martins e Almeida – Martal. Este facto foi motivo de conversas a promover empatia repentista entre a guerra e seu transcurso. Este alferes Martins, veio acompanhado de mais três especialistas em tiro curvo de morteiro e bazuca com mais uma macaca Cheeta chamada de Grafanil.

CABINDA5.png A Cheeta talvez porque tenha sido nascida em um quartel com este nome de Grafanil, ganhou fama no Centro de Instrução de Comandos de Luanda e, como fiel companheira do alferes de Operações Especiais, destacou-se em operações ao lado de seu dono, instrutor e também fiel inseparável militar excêntrico. Desta feita e no lugar de Miconge*, antiga Administração do Sanga Planície; desconfiei haver maka a resolver por perto com o rótulo de “extraordinariamente secreta”.

Fiquei a saber que Martins, sempre era acompanhado em operações conjuntas com ex-turras designados de TE´s e GE´s- Tropas e grupos especiais que lidavam em Cabinda e Leste respectivamente. Fiquei a saber que a Cheeta “Grafanil” era perita de esperta, dom natural em antever perigos, detectar barulhos estranhos e cheirar à distância a catinga de guerrilheiros arregimentados nas clandestinas picadas do Maiombe e outras matas de Congos e Zâmbia…

Que eu saiba só ele Alferes Martins tinha uma autorização do Alto Comando Militar para se fazer acompanhar aonde quer que o fosse de uma macaca gorila, um primata selvagem (embora treinada…); vai daí, ficando curioso, observei Martins ter-se reunido com o Chefe Jorge dos TE´s. Ao final do dia foi-nos dito que a segunda secção do segundo pelotão e a quarta secção do quarto pelotão iriam fazer uma patrulha com este Oficial de operações especiais.

cabinda8.jpg O outro dia chegou e, ficamos em pulgas com as explicações caindo a conta-gotas para estas duas Secções. Eu, Furriel Mike comandaria a minha secção a quarta do quarto pelotão. Creio que esta decisão partiu do excêntrico alferes pois que curiosamente, éramos: a 2ª Secção do segundo pelotão (Furriel Liló, mestiço de Luanda…) e, a 4ª Secção (Furriel Mike, mazombo Niassalês de Luanda…) do quarto pelotão. Feita uma análise, os comandantes, eramos todos, os intervenientes da incorporação de Angola (Província).

O saber: - 1 Oficial de Luanda, 2 secções de ex-turras TE´s - Cabindas, 3 especialistas em tiro curvo e bazuca de Malange e nós, Mike e Filó, comandantes de Secção da Luua… No dia seguinte fomos dormir todos a Miconge Velho, lugar encostado à fronteira e tendo até ali bem peto um marco em ferro colocado por Gago Coutinho quando em tempos idos se marcaram os limites do território enclave de cabinda e, segundo o Tratado de Simulambuco e outros dois adstritos a este… Foi já aqui que o Alferes Martins explicou a todos como seria feita a operação com todos os detalhes: Eu, Mike ficaria em um lugar de encosta a cobrir a retaguarda e fuga ou retirada com os 3 peritos de Malange que tratavam por tu os morteiros e bazuca. Filó ficaria no sopé do morro e na picada de acesso à estrada principal aonde se faria a emboscada. Martins e Jorge dos TE´s fariam a emboscada no meio do capim alto ao longo do caminho e por onde chegaria a malta do MPLA para fazer investida ao quartel de Miconge em Sanga Planície…   

fig3.jpg Aconteceu: Naquele outro dia e no caminho que conduz a Dolizie (Congo Brazaville) o Alferes Martins e seus, nossos homens das NT fariam essa emboscada ao movimento que agora luta contra os Fiotes da FLEC; Os mesmos que ainda não atingiram a sua independência. Após aquela emboscada que originou catorze mortes do lado do inimigo MPLA, os dias que se seguiram foram de música empolgada relembrando até o Che Guevara. E, formam uns quantos dias a seguir choros de música fúnebre na emissora de Brazza… Não mais se levantaram depois desta façanha com o Alferes Martins e a Nossa Gente; correu tudo bem e sem baixas! A retirada foi rápida e ainda posso cheirar, 54 anos depois e ouvir aquela azáfama de guerra. De nada valeu, pois foi logologo e após o VINTICINCO que a NT – Nossas Tropas (Do M´Puto) o primeiro quartel a entregar-se ao inimigo! MICONGE ficará na estória por este feito, esquecendo aquele outro de 54 anos antes…

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*Miconge: - Fronteira Norte de Cabinda perto do Dinge, o primeiro quartel a entregar-se ao MPLA pelas forças do M´Puto após o 25 de Abril de 75, lugar aonde a tropa do M´Puto entregou as Gê-três e botas aos guerrilheiros por ordem do Rosa Coutinho (O Vermelhão).

O 25 de Novembro de 1975 no M´Puto: A Crise de 25 de Novembro de 1975 foi uma movimentação militar conduzida por partes das Forças Armadas Portuguesas, cujo resultado levou ao fim do Processo Revolucionário em Curso - PREC e, a um processo de estabilização da democracia representativa em Portugal. Wikipédia

(Continua… 2ª Parte de Miconge Velho…)

O Soba T´Chingange   



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:09
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Quarta-feira, 23 de Novembro de 2022
MISSOSSO . LVII

KILOMBO – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA

FALA KALADO NA SINGULARIDADE DOS KALUNDU**

"A história de um fracasso"- Crónica com ficção 330322ª de Várias Partes – 16.05.2022Republicação a 23.11.2022 na Lagoa do M´Puto

Por malamba1.jpg T´Chingange Em Arazede de Coimbra do M´Puto

n´guzo1.jpg

Voltando à singularidade do Nelito e de sua façanha em desviar um dacota da DTA para Brazaville na Republica Popular do Congo, diga-se: Numa altura em que Angola e os angolanos já não queriam mais viver sob domínio colonial português, não se compreende que o 4 de Junho de 1969 nunca tenha merecido a importância devida por parte da direcção do MPLA, porque foi uma iniciativa saída da sua base clandestina da Luua. Pois foi assim que apanhou completamente de surpresa os “camaradas” no bombom de Brazaville.

A PIDE fez circular nas instituições da governação Tuga, que “no dia 4/6/69, pelas 15.30, o avião C-3 matrícula CR-LCY, da DTA, da carreira Luanda/Sazaire, com 5 tripulantes e 12 passageiros a bordo, foi obrigado a mudar de rumo para Ponta Negra”. Aquela acção foi levada a cabo por três “criminosos armados”, a saber: -Luís António Neto, luandino, o “Lóló” Kiambata, luandino; Diogo Lourenço de Jesus, funcionário do Laboratório de Engenharia de Angola, Luandino e Manuel Caetano Soares da Silva, vulgo NELITO, luandino, solteiro e funcionário da Imprensa Nacional de Angola.

DTA1.jpg Dos três kamundongos nacionalistas que participaram nesta acção de luta contra o colonialismo português, apenas Luís Neto Kiambata se encontra vivo, tendo em Novembro de 2020 afirmado seu desencanto com o actual presidente João Lourenço subestimando-o com muxoxos no termo de matumbo; Diogo de Jesus e Nelito Soares, por ironia do destino, foram mortos pelas tropas Tugas, poucos anos depois e, em circunstâncias distintas.

O Diogo de Jesus, foi atingido por um obus no leste de Angola antes de 1974 e o segundo, Nelito Soares o FK* foi assassinado à queima-roupa na Vila-Alice pelos comandos Tugas já depois do 25 de Abril de 1974. Assim se pensava ter sido, até o misterioso encontro entre o T´Chingange Niassalês nos aeroportos Internacional e do Terminal Doméstico numero dois de Guarulhos. Foi, e ainda o é, graças ao “Morro da Maianga” que consegui descortinar um pouco mais a minha alhada… uma meia inventação saída do meu bairro…

DTA2.jpg Aqueles três Camundongos queriam vir a ser reconhecidos ao jeito de como o foi Ché Guevara na Ilha de Cuba. Também eu em candengue seguia de forma empolgada a estória quase épica duma tão lendária figura, descrita duma forma que o tempo desmanchou na verdade que conhecemos hoje; sabemos assim que de grandioso, este médico frustrado argentino só o foi na figura de livros de comiquitas tal como o foi “Lampião” do cangaço brasileiro, o Zé do Telhado do M´Puto ou o Bill Kid nos Estados Unidos da América.

E, é aqui que um ex-defunto de nome Nelito Soares e hoje, Ex-Coronel, recuperado em vivo como Fala Kalado se diz ter andado com o Che Guevara em um lugar perto de Ponta Negra com o nome de Luvungi da RPC- República Popular do Congo - lá para trás no tempo. E, foi exactamente no 25 de Abril de 65 que Nelito se encontrou nesse lugar com um grupo de 14 guerrilheiros; três dos quais, Ramón, Dreke e Tamayo saídos de Cuba com passaportes falsos e, desde Moscovo via Dar-es-Salam na Tanzânia com termino em Luvungi do Congo Braza.

Do grupo original formado pelos três idealistas internacionais Ramón, Dreke e Tamayo, nomes fictícios importados de Cuba por Fidel de Castro e a mando de Moscovo só “Dreke” liderou missões bem-sucedidas em África, a saber, nas guerras de libertação da Guiné/Cabo Verde e República da Guiné. Ficara acertado que, no início, Dreke se iria apresentar como o chefe; Guevara seria o "doutor Tatu", médico e tradutor…

zumbi8.jpg Pois foi na chamada 2ª Região Militar, Zona B. que se deu o encontro de Ernesto «Che» Guevara com o MPLA de Brazzaville. Nelito aqui ficou, na designada “Base das Pacaças” - base guerrilheira do MPLA em território do Congo mas, supostamente designada de Cabinda - de 1965. Estavam lá, Henrique «Iko» Carreira, Daniel Chipenda, Jonas Savimbi, Tomás Medeiros, Nelito Soares, Jorge Serguera - o "Papito" e, o piloto cubano Samidey, Benigno Vieira Lopes «Ingo». Quanto a Ché e segundo um relato de Dreke: "Não ficou ali famoso como guerrilheiro, mas como médico. Como fazem os nossos na ilha em Cuba e outros países, saindo pela manhã, visitando os lugares e distribuindo os poucos medicamentos que tínhamos – kamoquina, rezoquina e bolachas amarelas de quinino"…

Notas: *Esta é uma estória inventada só no que concerne às mentiras…

**kalundu – É uma divindade ou espirito justiceiro, presente na natureza

(A entrevista com o Brigadeiro N´Dachala, continuará…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:12
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Terça-feira, 11 de Outubro de 2022
MOAMBA . LI

MOAMBA DE QUINTA – ALGURES NO BUCO-ZAU2ª Parte

CABINDA NO ANO DE 1968 (FOI HÁ 54 ANOS) - ANGOLA

Crónica 3269 - No PortVille da Pajuçara de Maceió – Republicação a 11.10.2022 no AlGharb do M´Puto

Por CABINDA5.pngT'Chingange – Na Pajuçara de Maceió E AlGharb do M´puto

cabinda7.jpg Naquela terra, este sítio, só o nome subsiste ao salalé; ficaram restos de troncos e, alguns já só eram tábuas avulso ladeadas ou cobertas por capim, abraçados por trepadeiras canibais. Naquele desalinhado jardim, um verdadeiro refúgio de cobras de mamba negra e cipó mais surucucu, kissonde e elefantes num fim de missão medalhada a medos, fiz amizade com um Gorila do Maiombe.

O dito cujo, sentado no topo das tabuas por aparar, olhava para mim de peito feito, sorrindo de susto ousado; Seguiram-se outros instantes muito cheios de adrenalina e assim na crescente empatia tornamo-nos amigos! Ao cair da noite o meu amigo gorila a quem dei o nome de Felizmino, lá estava naquele sítio, topo das tábuas; num cada vez mais aproximados fizemos amizade dando-nos ao luxo de trocar sons de guinchos e rapidamente aprendeu o dóremifasolasi com topariobé na mistura!

Num jogo de esconde e foge comprava sua amizade oferecendo-lhe bananas ouro e prata mais de maça, Foi um entendimento superior às nossas competências chegando no escorrer do tempo em um tu-cá tu-lá de irmãos. Um dia fiz uso de um estratagema, meti numa cabaça uma boa quantidade de jinguba e prendi-a com um baraço e arame a um chinguiço saliente de entre as tábuas do tal ex-Anibal, o madeireiro. Felizmino não resistiu à tentação, meteu a mão na cabaça, encheu seu punho e,…nada de largar; assim ficou prisioneiro da sua própria gula.

maun8.jpg Reganhando o dente aos poucos amaciou empatia com minha pópia já não de todo desinteligivel. Soltei-o com afagos e carinho ficando a partir de então amigos. Ele e eu guinchávamos amizade e por este acontecido dei ao Felizmino o sobrenome de Gorigula. Fora de portas d´armas e arame farpado eu e Gorigula fomo-nos isentando de medos, conservando gestos subservientes de baixar a cabeça procurando um afago de catar amizade.

Um dia apareci com um baralho de cartas e, na mesa improvisada espalhei os paus, as copas, os ouros e catanas e, num repente surpreendemo-nos a jogar sem regras. Entretanto falava-lhe das minhas alegrias, num faz de conta e, ele se desentendia largando as copas; entre paus cambalhotava-se como um doidão e, eu gesticulando graças sem coreografia como só mesmo para espantar suprimentos da fala. Estávamos com uma dança com doidos quando da mata veio grande alarido, rebentamento de granadas, rajadas e bazucadas; era uma emboscada!

Escorreguei entre lianas, cipós húmidos e folhagem impregnada de aranhas até que, parei na berma, justamente ali na curva da morte aonde os restos dos camaradas se dispunham desalinhavados ao longo da picada do Massabi. Morreu o Rodrigues mais o Junça! Estes tempos amachucados da estória, foram apertados - as vergonhas alheias da vitória ficaram na certa numa luta que continuou sempre muito traída. Até cheguei a pensar que Deus era ateu, uma heresia de todo o tamanho, diga-se em abono da verdade.

mai7.jpg Do Felismino Gorigula ficou um sonho incompleto! Em verdade ele falava espanhol – o sacana enganou-me por completamente. Ele era do MPLA, um genuíno filho da mãe …Pulando em cima dos troncos da serração do Aníbal, com braços abertos gesticulava uma catana cortando o vento com fúria como se fosse um ninja. De uma das mãos lançou um ás de copas que baloiçou até meus pés e ouvi mesmo: La vitória és cierta! La lucha continua! O Gorigula tinha sido um companheiro do Ché Guevara; Quem ia adivinhar!? Vim a saber muito mais tarde. Desconsolado ainda pude ver-me na lagoa do Bumelambuto a fumar liamba com o Alexandre Tati e seus Mpalabandas, para consolidar infortúnios de salalé…

Agora, longe daquele lugar, revivendo juventude desperdiçada e por coisa nenhuma duma guerra que em nada resultou para além da independência, que virou de tundamunjila (thunda mu n´jilla), vai para a tua terra branco de segunda, gweta e mazombo, assim foi e assim segui meus rituais cristãos de missionação na diáspora botando cazumbis nas malambas e crenças de N´Zambi. Quase quatro anos perdidos… Encafifado num reencontro de meus folgados calções zuarte amarelos e as encarquilhadas sapatilhas de marca “michelin” ainda sigo com os olhos feito ouvidos e afiados, olhando a etiqueta do espólio feito no RI2O da Luua. Na etiqueta que tirei da caderneta militar consta o ano de 1966 – Escola de Aplicação Militar, Huambo… Fui!    

bay0.jpg  Glossário:

Fiote:- Natural de Cabinda, Imbinda; Bikwatas: - Coisas, trastes; Alambamento: - Casamento: M´palanda: - Libertador de Cabinda, defensor de seus direitos; Salalé: - Formiga que se alimenta de madeira apodrecida; Turra: - Guerrilheiro; Muxoxo: - Um estalar de palato com queixo inferior descolando a língua formatando assim um desdém sonoro mas, sussurrado; T´chindere: - Branco; Topariobé: - Vai à tuge; M´Puto: - Portugal… 

 O Soba T´Chingange  



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:53
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Segunda-feira, 10 de Outubro de 2022
MOAMBA . L

MOAMBA DE QUINTA – ALGURES NO BUCO-ZAU1ª Parte

CABINDA NO ANO DE 1968 (FOI HÁ 54 ANOS) - ANGOLA

Crónica 3268 - No PortVille da Pajuçara de Maceió – Republicação a 10.10.2022 no AlGharb do M´Puto

Por CABINDA2.jpg T'Chingange – Na Pajuçara de Maceió

CABINDA3.jpg Algures no Buco-Zau -- De uma das mãos lançou um ás de copas que baloiçou até meus pés e ouvi mesmo: La vitória és cierta! La lucha continua! O Gorigula tinha sido um companheiro de Ché Guevara… Naqueles longínquos anos de entre sessenta e setenta do século passado, o XX, todo metido na Mata do Maiombe, tropeçando na força das circunstâncias e num entretanto que só durou quatro anos, a guerra foi um conjunto de acidentes suados a paludismo.

De um para outro lado, subindo e descendo rios procurando rastos com o soba Mateus à frente, barafustando com o ar e cortando capim à catanada, pisando charcos infestados de sanguessugas, larvas com milhões de patas e escorpiões pretos e pré-históricos a fingir de lagostins. Buscando turras num secalhar perdido entre a bruma e o cacimbo, o gozo da liberdade corria como se a vida fosse um jogo de poker, num azar de tomar pastilhas vermelhas para anular maleitas com micróbios fosfóricos na única água estraganada que havia.

CABINDA5.png Com as costas das mãos afastávamos as bicharias visíveis e, em seguida engolíamos aquilo escorrendo da mão ou numa qualquer folha verde a jeito com um comprimido vermelho de mataratos. Guardando soberania da pátria do M´Puto, camuflados ensopados até o tutano, assim seguíamos em fila de pirilau, duas granadas presas ao peito, uma G3 em riste mais uma cartucheira repleta de balas para o que desse e, viesse.

Atrás uns dos outros na forma de pirilau, ouvíamos os gritos da floresta, o piar dos pássaros e o grasnar de fantasmosas, sombras que se moviam como olharapos entre o ripado verde com troncos disformes e veias salientes segurando esguios troncos sequiosos de luz, outros disformes esfarelando-se na velhice como abatises para alimentar bichezas rastejantes; a mente medrosa fazia-se ali num jardim de cânticos surdinando mugidos e muxoxos numa raiva sossegada.

CABINDA4.jpg O barulho do helicóptero chega zunindo e na forma de parafuso baixa suave até ao centro da mata, uma clareira junto ao rio Luáli, um afluente do Chiloango. Buco-Zau era um lugar rodeado de um escandalosamente verde variado e húmido, um conjunto de casas e armazéns rodeados de árvores majestosamente nobres e, mais além um conjunto de cubatas unidas por um terreiro, uma quase colina rodeada de cacaueiros e um ou outro pé de cafeeiro aonde já se podiam distinguir bagas vermelhas.

As casas grandes como as do M´Puto, umas com beira outras sem ela, pertença de administradores e capatazes T´chinderes, dispunham-se alinhadas com cobertura de zinco já na cor de um castanho enferrujado. Enquanto a casa principal da roça era coberta a quatro águas em telha de canudo luso ou marselha e sacadas a quase todo o seu redor, as outras, mais modestas, eram cobertas só a zinco mas, e também com folhas de palmeira ripada e entrelaçada na forma de loando.

cabinda8.jpg Pretos em tronco nu cruzam-se com bikwatas ou ferramentas pendendo dos ombros enquanto as mulheres envoltas em panos com a esfinge de Mobutu, Mugabe ou do Idi Amim, levam quindas na cabeça, acanguladas de grãos. Dos corpos musculosos daqueles Fiotes (Imbindas), a catinga suada escorre-lhes como brilhantina escura e luzidia como pele de mamba brilhante, pegando-se ao cacimbo intensamente chovediço.

Depois de um gim com água tónica, numa daquelas paragens de soberania no Necuto, tirei uma foto com a Charlotte, uma negra que fugida do Congo Zaire pediu boleia ate ao sítio do primo, com quem tinha promessa de alambamento. A foto com aquela negra de feições árabes crê-se ter ficado em uma caixa de sapatos na guerra posterior do tundamunjila. Isso! A guerra do setentaecinco-pkp! Subindo o rio Inhuca, chegamos ao Sanga Mongo, um lugar para lá das traseiras do tempo, mais longínquo do que as Bitinas e a antiga Serração do Aníbal Afonso que naquele agora só existia no nome.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:44
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Segunda-feira, 2 de Dezembro de 2019
MISSOSSO . XXXIX

EU E O FALA KALADO – APONTAMENTOS RELAXADOS

NA ILHA DO CARLITOS 9ª de Várias Partes01.12.2019

Por

soba15.jpgT´Chingange - (No Algarve do M´Puto)

soba03.jpg Naquele outro dia e de saída da ilha de Carlitos, Imaginando um jogo de xadrez, zarpamos aos esses pelas nove ilhas tropicais… Recordo que falávamos de Elias Salupeto Pena, irmão de “Ben-Ben” e outro proeminente dirigente da UNITA igualmente falecido e, que também estudou com João Lourenço, exactamente na mesma escola e época. As famílias eram amigas e professavam a mesma confissão religiosa protestante. Sequeira João Lourenço, pai do Presidente da República de Angola, era amigo pessoal de Loth Malheiro, pai de Jonas Savimbi e avô dos irmãos “Ben-Ben” e Salupeto Pena, o causador da reviravolta de Fala Kalado o Coronel com orelha de plástico.

De novo neste lugar quase secreto e, no meio de várias ilhas, repúnhamos novas e velhas falas para mantermos suficientemente activos nossos labirintos do cerebelo. Assim descontraídos e curtindo o calor e a água morna vinda das águas baixas da lagoa de Manguaba quis saber da razão de um quase enigmático telefonema de Agualusa quando me encontrava no Deserto do Naukluft da Namíbia, no outro lado do Atlântico. Sendo assim perguntei-lhe: - Tu andas desavindo com a escrita de Agualusa; que se passa ou passou? Porque me fazes essa pergunta? Replicou Fala Kalado.

Vi no semblante dele FK, que ali, havia coisa. De relance reparei que sua orelha biónica de plástico vibrou com uma intensidade do tipo vaga-lume o que me levou a ter cuidado mas, arrisquei: É que quando eu estava a entrar no balão para ver as dunas lá no Park de Sossusvlei e por via de falar em ti, ele, Agualusa enigmaticamente para mim, disse para ter cuidado. Até referiu a seguinte frase: “ Nenhum homem vale uma barata”. Claro que isto tem-me atormentado desde esse então!

amigo da onça.jpg Esse gajo escritor anda a aproveitar-se da minha lenda para escrever exactamente aquilo que andei a fazer até há bem pouco tempo, vender armas para os guerrilheiros do morro para reviver o Zumbi dos Palmares. Isso, já era! Acabou! Agora quero ficar de fora dessas trapalhadas, para além do mais os meus antigos fornecedores de armas da guerra de Angola estão-se borrifando para mim. Pois! Entrei no diálogo - o negócio do petróleo veio alterar todo esse sistema de enriquecimento rápido…

Nós estávamos aqui para curtir o tempo na companhia de gente gira e como tal entre as muitas falas com os demais amigalhaços e suas baronas, garinas empapoiladas de fio dental, divergíamos as conversas contando anedotas do burgo e das politicas bem periclitantes saindo do tubo ladrão do Supremo Tribunal e outras Câmaras muito enfeudadas no trambique cazucuta deste belo país tropical – O Brasil.

Entrelaçados na estória, esticamos as pernas na água e entre coisas pedidas ou mal contadas, coisas de Angola, fiquei inteirado por FK que numa reacção a dados de inteligência que alertavam para planos do regime angolano que levariam ao assassinato de Jonas Savimbi, Salupeto Pena o militar de quem temos falado ficou conhecido como o autor da frase “se tocarem no nosso mais velho isto vai ficar feio”. O destino dado aos restos mortais de Salupeto Pena foram objecto de versões díspares – vou-te falar; uma outra lenda.

dakota1.jpg Pópilas! Angola está repleta de lendas. Já nem si se tu mesmo eras aquele Nelito Soares que em 1969, numa quarta-feira de Cacimbo, protagonizaste, com mais dois compatriotas do BC 11 dos Gorilas do Maiombe, o desvio, para o Congo Brazzaville, de um avião comercial!? Era um Dakota que seguia de Luanda para Cabinda, com passageiros a bordo. Esse Nelito de que me falas e dizes ser, só pode se uma inventação tua, replicou Fala Kalado. Estás a ficar como esse tal de Agualusa que fala com osgas e, que me tem metido em sarilhos diplomáticos! Nem confirmo nem desconfirmo o que dizes porque euzinho, também não sei!

- Tudo isso se varreu da minha cuca, sabes! FK, disse isto com tanta convicção que fiquei disparando sinais de confusão feitos rolos de fumo invisível. Será que não é? Tal como Salupeto Pena vais ficar nas nuvens da incerteza. A versão do Salupeto que mais se realçou em círculos restritos alegava que na qualidade de familiar direito de Savimbi, teriam reencaminhado o seu corpo para fins tradicionais, num ritual que teria contado com o envio, a Luanda, de um mago oriundo da Índia, razão pela qual diz-se que o corpo do mesmo já não existe.

O desvio do Dakota da DTA, Divisão dos Transportes de Angola, antecessora da TAAG, ganhou proporções tais, que nem a censura feroz do regime colonial em vigor em Angola, como nos restantes territórios, incluindo Portugal, subjugados à ditadura, conseguiu sufocar. Soube disto quando estava num lugar chamado de Tando Zinze, bem perto da fronteira do Congo Zaire álem Catata do enclave.

maian7.jpg Lembro: - Poucas horas depois de o aparelho aterrar em Ponta Negra, era tema de conversas sussurradas em tudo o que era sítio, principalmente, em Luanda e Cabinda. Mais tarde, a “nova” chegou a toda a Angola, por via do programa radiofónico do MPLA, “Angola Combatente”, transmitido a partir de Brazzaville. No M´Puto a Dona Isabel, proprietária de um pequeno café na pequena cidade de Lagoa, que foi locutora dessa rádio durante algum tempo, confidenciou-me isto mesmo (mas, em verdade eu, já o sabia!)... Patrinichi, o empregado de origem kosovar, desta feita andava demasiado ocupado para cuscar nossas conversas…

Glossário: Bem-te-Vi – pássaro parecido com o melro; Cuscar – bisbilhotar; Dakota – Tipo de avião; Kalacata - militar da Unita; Baronas - Mulheres papudas; Garinas – miúdas, catorzinhas; Euzinho – Terminação de Eu, uma forma de dize “eu” em gíria…

(Continua… )

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 23:01
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Sexta-feira, 9 de Agosto de 2019
MALAMBAS . CCXXIX

QUILOMBOS DA GLOBÁLIA

ALGURES NO BUCO-ZAU09.08.2019

- De uma das mãos lançou um ás de copas que baloiçou até meus pés e ouvi mesmo: La vitória és cierta! La lucha continua! O Gorigula tinha sido um companheiro de Ché Guevara…

Por

soba15.jpg T´Chingange - No algarve do M´Puto

capulana1.jpg Naqueles longínquos anos de entre sessenta e setenta do século passado, o XX, todo metido na Mata do Maiombe, tropeçando na força das circunstâncias e num entretanto que só durou quatro anos, a guerra foi um conjunto de acidentes suados a paludismo. De um para outro lado, subindo e descendo rios procurando rastos com o soba Mateus à frente, barafustando com o ar e cortando capim à catanada, pisando charcos infestados de sanguessugas, larvas com milhões de patas e escorpiões pretos e pré-históricos a fingir de lagostins.

Buscando turras num secalhar perdido entre a bruma e o cacimbo, o gozo da liberdade corria como se a vida fosse um jogo de poker, num azar de tomar pastilhas vermelhas para anular maleitas com micróbios fosfóricos na única água estraganada ou estagnada. Com as costas das mãos afastávamos as bicharias visíveis e, em seguida engolíamos aquilo escorrendo da mão ou numa qualquer folha verde a jeito. Guardando soberania da pátria do M´Puto, camuflados ensopados até o tutano, assim seguíamos em fila de pirilau, duas granadas presas ao peito, uma G3 em riste e uma cartucheira repleta de balas para o que desse e, viesse.

angola colonial.jpg  Atrás uns dos outros, ouvíamos os gritos da floresta, o piar dos pássaros e o grasnar de fantasmosas sombras que se moviam como olharapos entre o ripado verde com troncos disformes e veias salientes segurando esguios troncos sequiosos de luz, outros disformes esfarelando-se na velhice como abatises para alimentar bichezas rastejantes; a mente medrosa fazia-se ali num jardim de cânticos surdinando mugidos e muxoxos numa raiva sossegada. O barulho do helicóptero chega zunindo e na forma de parafuso baixa suave até ao centro da mata, uma clareira junto ao rio Luáli, um afluente do Chiloango.

Buco-Zau era um lugar rodeado de um verde escandalosamente variado e húmido, um conjunto de casas e armazéns rodeados de árvores majestosamente nobres e, mais além um conjunto de cubatas unidas por um terreiro, uma quase colina rodeada de cacaueiros e um ou outo pé de cafeeiro aonde já se podiam distinguir bagas vermelhas. As casas grandes como as do M´Puto, umas com beira outras sem ela, pertença de administradores e capatazes T´chinderes, dispunham-se alinhadas com cobertura de zinco já na cor de um castanho enferrujado.

moka31.jpg Enquanto a casa principal da roça era coberta a quatro águas em telha de canudo luso ou marselha e sacadas a quase todo o seu redor, as outras, mais modestas, eram cobertas só a zinco mas, e também com folhas de palmeira ripada e entrelaçada na forma de loando. Pretos em tronco nu cruzam-se com bikwatas ou ferramentas pendendo dos ombros enquanto as mulheres envoltas em panos com a esfinge de Mobutu, Mogabe ou do Idi Amim, levam quindas na cabeça, acanguladas de grãos.

Dos corpos musculosos daqueles Fiotes Imbindas, a catinga suada escorre-lhes como brilhantina escura e luzidia como pele de mamba brilhante, pegando-se ao cacimbo intensamente chovediço. Depois de um gim com água tónica, numa daquelas paragens de soberania no Necuto, tirei uma foto com a Charlotte, uma negra que fugida do Congo Zaire pediu boleia ate ao sítio do primo, com quem tinha promessa de alambamento. A foto com aquela negra de feições árabes crê-se ter ficado em uma caixa de sapatos na guerra posterior do tundamunjila. Isso! A guerra do setentaecinco-pkp!

camionista 2.jpg Subindo o rio Inhuca, chegamos ao Sanga Mongo, um lugar para lá das traseiras do tempo, mais longínquo do que as Bitinas e a antiga Serração do Aníbal Afonso que só existe no nome. Naquela terra, este sítio, só o nome subsiste ao salalé; ficaram restos de troncos e, alguns já só eram tábuas avulso ladeadas ou cobertas por capim, abraçados por trepadeiras canibais. Naquele desalinhado jardim, um verdadeiro refúgio de cobras de mamba negra e cipó mais surucucu, kissonde e elefantes num fim de missão medalhada a medos, fiz amizade com um Gorila do Maiombe.

O dito cujo, sentado no topo das tabuas por aparar, olhando para mim de peito feito, sorrindo de susto ousado; Seguiram-se outros instantes muito cheios de adrenalina e assim na crescente empatia tornamo-nos amigos! Ao cair da noite o meu amigo gorila a quem dei o nome de Felizmino, lá estava naquele sítio, topo das tábuas; num cada vez mais aproximados fizemos amizade dando-nos ao luxo de trocar sons de guinchos e rapidamente aprendeu o dóremifasolasi com topariobé na mistura!

poluição.jpg Num jogo de esconde e foge comprava sua amizade oferecendo-lhe bananas ouro e prata mais de maça, Foi um entendimento superior às nossas competências chegando no escorrer do tempo em um tu-cá tu-lá de irmãos. Um dia fiz uso de um estratagema, meti numa cabaça uma boa quantidade de jinguba e prendi-a com um baraço e arame a um chinguiço saliente de entre as tábuas do Tal Ex-Anibal. Felizmino não resistiu à tentação, meteu a mão na cabaça, encheu seu punho e,…nada de largar; assim ficou prisioneiro da sua própria gula.

Reganhando o dente aos poucos amaciou empatia com minha pópia já não de todo desinteligivel. Soltei-o com afagos e carinho ficando a partir daqui amigos. Ele e eu guinchávamos amizade e por este acontecido dei ao Felizmino o sobrenome de Gorigula. Fora de portas d´armas e arame farpado eu e Gorigula fomo-nos isentando de medos, conservando gestos subservientes de baixar a cabeça procurando um afago de catar amizade.

may8.jpg Um dia apareci com um baralho de cartas e, na mesa improvisada espalhei os paus, as copas, os ouros e catanas e, num repente surpreendemo-nos a jogar sem regras. Entretanto falava-lhe das minhas alegrias, num faz de conta e, ele se desentendia largando as copas; entre paus cambalhotava-se como um doidão e, eu gesticulando graças sem coreografia como só mesmo para espantar suprimentos da fala. Estávamos com uma dança com doidos quando da mata veio grande alarido, rebentamento de granadas, rajadas e bazucadas; era uma emboscada!

Escorreguei entre lianas, cipós húmidos e folhagem impregnada de aranhas até que, parei na berma, justamente ali na curva da morte aonde os restos dos camaradas se dispunham desalinhavados ao longo da picada do Massabi. Morreu o Rodrigues mais o Junça! Estes tempos amachucados da estória, foram apertados - as vergonhas alheias da vitória ficaram na certa numa luta que continuou sempre muito traída. Até cheguei a pensar que Deus era ateu, uma heresia de todo o tamanho, diga-se em abono da verdade.

CABINDA5.png Do Felismino Gorigula ficou um sonho incompleto! Em verdade ele falava espanhol – o sacana enganou-me por completamente. Ele era do MPLA, um genuíno filho da mãe …Pulando em cima dos troncos da serração do Aníbal, com braços abertos gesticulava uma catana cortando o vento com fúria como se fosse um ninja. De uma das mãos lançou um ás de copas que baloiçou até meus pés e ouvi mesmo: La vitória és cierta! La lucha continua! O Gorigula tinha sido um companheiro do Ché Guevara; Quem ia adivinhar!? Vim a saber muito mais tarde. Desconsolado ainda pude ver-me na lagoa do Bumelambuto a fumar liamba com os Mpalabandas.

Glossário:

Fiote: -Natural de Cabinda, Imbinda; Bikwatas: - Coisas, trastes; Alambamento: - Casamento: Mpalanda: - Libertador de Cabinda, defensor de seus direitos; Salalé: -Formiga que se alimenta de madeira apodrecida; Turra: - Guerrilheiro; Muxoxo: - Um estalar de palato com queixo inferior descolando a língua formatando assim um desdém sonoro mas, sussurrado; T´chindere: - Branco; Topariobé: - Vai à tuge…  

O Sob T´Chingange        



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:23
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Domingo, 5 de Fevereiro de 2017
MUXOXO . XLVI

TEMPO CINZENTOS . 2ª Parte

 – 04.02.2016  - Pelas frinchas do tempo, sinto o cheiro pestilento do dinheiro… É mais fácil passar um camelo no buraco de uma agulha do que um rico no reino dos céus…Na dúvida entre o ser-se agnóstico ou coisa nenhuma faço gaifonas à liberdade!

Por

t´chingange 0.jpg T´Chingange

(…) Dizia eu que por ter andado tanto no inferno agora mereço o céu! De botas borrifadas com petróleo para eliminar carrapatos boiadeiros tocava os trabalhos de campo para a execução da estrada a ligar o lugarejo vila de San José de Tiznado em Venezuela. Teríamos de levantar uma faixa de terras e, por forma a depois de ser transposto ao desenho se desenvolvesse o traçado longitudinal e perfis transversais.

topo12.jpg Com os dados de campo surgiriam as curvas de nível a partir dos dados de altimetria geométrica e taqueométrica. Apareceriam também todos os acidentes de terreno como rochas, linhas de água e rios em uma planta topográfica muito coberta de números correspondentes às cotas de elevação e mancha de vegetação: por vezes também se incluía o tipo de solo fazendo referência às sondagens caso fosse o caso.

:::::

Surgiria mais tarde tanto a directriz em planta como e a partir daqui os perfis longitudinais mostrando a rasante definida por traineis inclinados ou não e, segundo as tolerâncias necessárias para os veículos poderem vencer os declives. Através das rasantes e perfis transversais determinava-se o volume de terras a retirar ou a repor após o cálculo de áreas e volumes.

topo10.jpg Tudo isto e segundo o cálculo com Gráfico de diagrama que traduz a movimentação de terras em obras, sobretudo viárias, constituído por curvas com tramos ascendentes que indicam a predominância de escavação e tramos descendentes que indicam a predominância de aterro. Amarelo a romper, vermelho a aterrar. O gráfico de Brückner, determinaria a maquinaria a usar, camiões, vagonetes ou caçambas para transladar terras e inerentes custos.

:::::

Ainda se tinha de considerar dados geométricos de limites de propriedade, nomes de seus donos com valor venal, valor matricial, com número de registo cadastral nas finanças, dados para futuras indeminizações por acordo ou expropriação. Haveria também de observar e registar a densidade de vegetação e espessura de matéria vegetal inerte composta de troncos velhos e o manto de folhagem depositado ao longo dos anos. Saber a espessura do manto vegetal determinando a área e volume de terras a retirar, depositando-as em local apropriado a fim de repor mais tarde a camada vegetal dali originária. Será esta a melhor compostagem a utilizar na cobertura superficial das feridas de cortes e aterros.

topo9.jpg Fiz uma descrição das tarefas técnicas para assim ficarem com uma vaga noção do envolvimento e tecnicidade na execução de um projecto de estrada. Coisa que me era inerente bem como o cálculo e posterior implantação. Não era ser-se só operador como também saber-se de leis de terras, agrimensura ajuramentada e todo o cálculo da obra.   Entre os trabalhadores mais cientes eram dadas tarefas de fazer trompos ou estacas a partir de varas cortadas no local que serviriam para assinalar o perfil e dali com estacionamento de nível ou teodolito fazer levantamento ou simples leitura de nível.

topo7.jpg Os demais contratados cortavam mato, transportavam equipamento e água, umbrela ou chapéu para sombrear o operador e outro equipamento de apoio. Quando necessário fazer-se comida um ou dois eram escolhidos entre voluntários para esse efeito. Nos lugares pantanosos havia um elemento incumbido de fazer fumo com ramos secos de bananeira ou outras folhas e, contendo bosta de boi para afugentar os mosquitos e miruins ou maruins (mosquitos muito pequenos e super chatos).

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Os tramos rectos eram assinalados com uma ou mais varas, dependendo da extinção, pintada e referenciada com o número de ordem. Era naquelas mudanças de rumo que depois e, em projecto surgiria uma curva simples ou composta e até com relevé, inclinação segundo o tipo e os dados de velocidade. Todos estes dados eram indicados em plano e perfil longitudinal com todas as outras referência para a futura implantação ou piquetagem de estrada.

topo8.jpg Bem! Em um dos muitos dias e por mais de uma vez sucediam contactos imediatos com cobras, iguanas, veados, macacos, sapos e sapões, rãs, escorpiões de várias cores, lagartos e, até caimãs, jacarés pequenos. Olhando o rumo a seguir e depois de afastar o ramo lá estava uma cobra a assustar-me com sua língua bífida. Depois daquela mamba negra quasequase me ter mordido em Cabinda, enclave de Angola, todas as demais que surgiam eram coisa pouca para mim; pela certa tinha guias a me protegerem, só pode!

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Habituei-me a elas e num lugar aonde no mundo todo, mais gente morre com suas mordeduras. Não calhou esse destino para mim, ficar espumando até receber um soro antiofídico, coisa que não tinhamos. Recordo que no caso da Cobra mamba, fazia eu serviço militar em Cabinda como Furriel, incorporação de Angola; uma terra que afinal não era minha; que só o foi para a engrandecer e, tendo como agradecimento o vai-te-embora branco, tundamunjila.

topo11.jpg E, caso a dita cuja me mordesse, teria somente quinze minutos para receber o antiofídico e isso era inviável porque eu e minha secção de serviço à lenha naquele dia, estávamos longe do quartel base. Isto aconteceu lá longe entre 1968 e 1969 num lugar chamado de Miconje, o primeiro quartel a entregar-se ao MPLA (coisa feia e desrespeitadora). Nosso destino não é previsto com hora marcada, só sucederá um dia e, no tempo que por comodidade e ordem inventamos e fragmentamos. Fico aqui neste agora…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:29
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Sexta-feira, 22 de Agosto de 2014
MALAMBAS . XVII

ANGOLA . MAIOMBE   UMA CAGANITA DE HERÓI…HEROICIDADES!

MALAMBA: É a palavra.

Por

 T´Chingange

 Felizmente, para além de muitos roubos e desmandos à minha pessoa nunca me assacaram de ter feito algo criminoso, a não ser o da minha própria vida deixar de servir meus próprios propósitos. De trama em trama, urdidos na penumbra da ética desleixei-me; de desinteresse em desinteresse, fui-me falecendo nas vontades desconsumadas desconsumiveis! Raziado nos quereres, entusiasmo-me em caçar notícias anómalas, coisas desacreditadas e, conspícuo no meu dever, busco os profundos devaneios sem me restringir à magreza dos casos acontecidos, fidedignos ou não! Por isto e mais aquilo, imagino estranhezas, mujimbos bizarros ou bizarrocos sem minguar ornatos de imaginação. O meu tempo de tropa! De magala vestido em zuarte ou caqui amarelo!

 Naquele um dia do passado com minhas ideias xaxualhadas no vento, contava as marcas de folhas de milho trespassadas nos meus medos, algumas ficaram no corpo encostadas na pele dactilografadas em relevo de código de veias para cego ler dedilhando-as como marcas de carolos. Podia ler às cegas o cardápio da noite, desfolhada de trás para a frente como um relatório de guerra e, lá estava aquela especial ranhura comprida, uma centopeia por onde com muita sorte a vida não saíra. Afinal, da sorte saída debaixo dum choro vermelho de barro com sangue, a vida mijou-me no cacimbo da morte, uma papa de sangue quente correndo, sorriu-me na cara dum anjo capado, o padre capelão da companhia.

 Meu rapaz, tiveste muita sorte, agradece a nossa Senhora dos Milagres por abrires esses olhos! Eu, não sabia se era tarde ou muito cedo para saltar p´ro além mas, o prémio de Governador-geral surgiu desse reencontro com a vida numa curva da morte do Maiombe! É muito de periclitante falar duma guerra que não é nossa, duma guerra que nos cuspiu, que tudo nela transpirava um queixume e, nos legou mágoas escondidas.

 Com um grande desespero a ladrar-me por dentro, uma humilhação lambida de amor ultrajado, mordo o beiço franzido palpitante de recordações. Isto já passou! Agora, sim falo dela, da guerra de tuji com ar preguiçoso de como quem cumpre uma formalidade inútil e aborrecida. De e, por tudo isso, recebo 150 Euros, uma caganita de herói.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:15
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Segunda-feira, 31 de Março de 2014
MAYOMBE VI

Também tem kissonde…

Por

 T´Chingange

 Um dia, no meio da mata majestosa e sentado em cima do tronco de uma velha palmeira de dendem sinto algo bulindo por debaixo de mim e levantando-me de súbito susto, vejo um lacrau agarrado a meu camuflado, negro e grande. Não tive tempo de reagir à fuga do pré-histórico lacrau juntando à colecção mais um susto daquela mata cheia de peçonhentas criaturas, humidade densa, viscosa de calor persistente; Nas linhas de água com abundância de fetos, formavam-se pequenas possas devido ao pisotear dos elefantes da floresta e, era nestas pequenas poças que recolhíamos água para o cantil ao qual juntávamos uns comprimidos avermelhados que dizia-se matar todo e qualquer fungo, micróbio e bichezas-de-mil-patas.

 Não foi por mero acaso que o cabelo começou a cair depois destas forçadas férias em defesa dum território que hoje, ainda não é livre, Cabinda! Os entretenimentos das picadas enquanto silenciávamos a marcha era ver os escaravelhos a que chamam do Egipto a despedaçar as grandes bostas de elefante que as levavam para seus buracos e, em pouco tempo as transformavam em nutrientes para a floresta; na mata do Maiombe tudo se transforma, um ecossistema sustentável, com milhões de anos. As formigas kissonde e salalé desfazem em matéria orgânica todas as árvores débeis ou envelhecidas.
 Nas bases de cimento de uma antiga serração chamada de Aníbal Afonso e em uma das operações de soberania tivemos de ali montar tendas, umas lonas quadradas, sobras da segunda guerra e dispensadas pela NATO a Portugal como desperdício. Estas lonas, serviam para nos abrigar do cacimbo que ia deslizando para o chão na forma de grandes gotas formadas nos milhares de folhas daquelas gigantes árvores e, em uma noite de breu, tivemos de nos aguentar quietinhos enquanto uns batalhões de kissonde passavam por baixo de nós; foi um alívio quando todas passaram; imaginem o que não seria, nós desmantelarmos aquela formatura numa noite coberta de negro com o kissonde trepando por nós até às matubas, o lugar nevrálgico para nos destroçarem a moral.  
O Soba T´Chingange 


PUBLICADO POR kimbolagoa às 04:48
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Quarta-feira, 8 de Janeiro de 2014
KIANDA . XLVIII

DESANOITECI EM ZANZIBAR - XIII

Verdade ficcionada

Por

 T´Chingange

Ponto assente, ia vender a roça Boyoma a Mustafá Joshua Naili e, logo que possível desceria o rio Lualaba usando sua rede de barcaças dispostas nos vários rios até chegar a Matadi; teríamos pela frente vários rápidos e quedas de água até chegar às cataratas Yelaba. Entre Kisangani e Kinshasa a navegação seria tranquila e em Matadi far-se-ia o transbordo final para a saída ao atlântico. Levaria comigo alguns troféus de caça, dentes de marfim, várias armas, um lote de sementes de várias espécimes vegetais e uma carga de cacau a ser vendida em Lândana. Agora, tudo o mais que se lixe! Ora pois! Mais vale um gosto realizado que quatro vinténs no bolso. Dito isto cantarolei um verso de despedida:

Ó terra do desespero

Que nem eu sei compreender

Levem-me deste desterro

Chega já de padecer

 Com este fadinho harmoniosamente nostálgico doidejava-me ao ar como se alguém me fustigasse o corpo com urtigas bravas. A separação dos meus mais directos colaboradores foi de alguma comoção mas kimbanda Good Lukuga, o feitor geral Kabila Kasavubu e mustafá T´shiluba mostraram compostura com suas lágrimas sentidas; assim sucedeu o último abraço a tão bons colaboradores. Decorridos uns oito dias estávamos em Matadi. Em língua Kikongo Matadi significa “pedra” pois foi construída empinada nas colinas pedregosas. É aqui que se situam as covas e penedos aonde o navegador português Diogo Cão em 1485 deixou marcas a justificar a sua passagem por ali. 

 Já à algum tempo que em torno do meu corpo esvoaçavam desejos assanhados acordando-me as fibras embevecidas pela saudade do mar; E aquela imagem de mulata Nely Duvalier de Mji Mkongwe da ilha de Zanzibar, nesta longa viagem balouçada surgia feita gemidos de prazer zumbindo-me fosforescências afrodisíacas. O calor vermelho das margens com a zoada da fechada mata, entorpeciam-me numa desconhecida embriagues. Entretanto entre mim e N´Zau Tati, cresciam conhecimentos novos e trocávamos impressões quanto ao futuro de África. O tratado de Simulambuco tinha sucedido há dois anos e revíamos com alguns pormenores deste tratado associado ao de Berlim lá na Europa. Não conseguíamos compreender o porquê de a Bélgica ser contemplada com tão grande imensidão. Os lóbis do mando estavam a menosprezar os feitos de Portugal e isso preenchia a maior parte da nossa conversa.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 01:36
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Sexta-feira, 20 de Dezembro de 2013
KIANDA . XLVII

DESANOITECI EM ZANZIBAR - XII

Verdade ficcionada

Por

T´Chingange

 Decorreram três meses e, a meu pedido, Mustafá Joshua Naili veio visitar-me. Fui recebê-lo ao cais, fim de tarde e, lentamente viemos até à casa grande trocando lisuras diplomáticas; foi na ampla varanda de sempre que Charllôtte nos serviu os saborosos chás de menta e caxinde com uns biscoitos de sementes variadas envoltas em cacau aveludado. E, falamos longamente sobre os valores da roça Boyoma, um estica-encolhe, conforme mandam as regras de comércio muçulmano na busca do preço justo para um e farto para o comprador; não se pode brincar neste ajuizamento de valores monetários porque os códigos de honra dum mustafá não podem ser lançados ao vento. E, lá consumamos o negócio.

 A venda da roça só foi consumada após ter recebido um recado vindo de Lândana da parte dum senhor chamado Tiaba da Costa, um natural do Massabi que naquela altura era muito próximo aos portugueses. Capitão de 2ª Linha, estava equipado com armamento e homens trazidos de angola para combater o Rei do Dinge, Mue Nyema. Tiaba da Costa, promovido a representante dos assuntos de Portugal solicitou-me apoio na gestão do território em assuntos agrícolas. N´Zau Tati Bumelambuto já tinha dado referências minhas a seus patrícios e agora, só me restava trespassar a roça ao Mustafá. Comigo, iriam Charllôtte a mucamba servil e N´Zau Tati Bumelambuto, em verdade, o grande promotor desta operação.

 A idade, cada vez mais, na palidez do tempo, ia ficando indiferente ao olhar de tudo aquilo adquirido com esforço; por outro lado era já sabedor que o mundo tinha um profundo desprezo por aqueles que já não esperavam nada dos outros, nem de si próprios. Era a altura certa para curtir os anos de velhice, repotrear-me na beira-mar, encharcar-me de iodo matinal e entumecer-me com vinho virgem do puto, ou espumante francês acompanhado com leitão no forno; falar coisas só por falar com os amigos, coisas bestialógicas, indiferente às porcarias do mundo. Como superintendente de Portugal nos assuntos agrícolas e madeireiro de Cabinda, teria tempo avondo para deitar conversa fora.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:35
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Domingo, 8 de Dezembro de 2013
KIANDA . XLVI

DESANOITECI EM ZANZIBAR - XI

Verdade ficcionada

Por

 T´Chingange

A azáfama da roça de Boyoma andava por si só; o negócio prosperava tanto no tocante ao cacau como à salga de peixe mas, a intensa humidade da região de Kisangani tolhia-me a velhice não obstante tomar com rigor as mezinhas do kimbanda Good Lukuga. O peso dos anos na gratificante tarefa de missionário e empresário, sem um familiar próximo nem meios de moderna medicina para exterminar coisas ulcerosas e reumáticas, levava-me a considerar a venda deste meu legado. Mustafá Joshua Naili, subtilmente, tocou-me no assunto perante as minhas taciturnas palavras de ânsia ressacada quando da sua ultima visita. 

 Naquela luxúria de sultão, amiudadamente recordava os tempos passados na cidade de Mji Mkongwe na ilha de Zanzibar, terras de brasas de entontecer a alma e, era isto que me bebia as lágrimas medrosas transtornando-me as fases de humor; daquele aroma de mestiça de beira-mar de graça irresistível, simples e primitiva, toda feita de pecados com muito de serpente e de mulher quando se enroscava em mim. Faltava-me aqui esse grosso prazer bamboleando-me a sofreguidão de gozo carnal de fazer tremer o pensamento. N´Zau Tati Bumelambuto garantiu-me poder encontrar isto em sua terra natal na foz do rio Chiloango chamada de Lândana.

Pensando seriamente dizia para mim mesmo que era agora a altura de gozar meus proventos em terras civilizadas, sair deste primitivo fim de mundo. Cabinda não me saia da ideia após ter conversado longamente com N´Zau Tati que adiantou ser filho de Tali-e-Tali, Príncipe Regente do Reino de Kakongo que no morro de Chifuma e com outros chefes, tinha assinado um acordo com Portugal em Setembro de 1883 com Guilherme Augusto de Brito Capelo. Este, era um oficial da marinha em representação de Portugal, garantindo-lhes protecção por parte de Portugal. Em toda a conversa que tive com N´Zau Tati, o que mais me prendeu, foi a de haver ali melhores condições de terras para cultivar cacau e que seu pai decerto veria com bons olhos entrar em negociações para usar as terras de Buco-Zau.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 01:31
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Domingo, 1 de Dezembro de 2013
KIANDA . XLV

DESANOITECI EM ZANZIBAR - X

Verdade ficcionada

Por

T´Chingange

Da varanda da casa grande da roça Boyoma podia admirar a azáfama do terreiro, tomando a golos o café com chocolate enquanto conversava com mustafá Joshua Naili que me veio visitar. A sugestão deste ladino comerciante em fazer uma salga de peixe foi-se tornando bastante lucrativa. O rio Lualaba farto em bagres, tinham um alto valor calórico que devido às águas frias e profundas originavam peixes gordos; a rede de lojas de mustafá Joshua pelo interior do Congo não tinham mãos a medir com as encomendas sempre escassas para alimentar milhares de trabalhadores nesse longínquo mato ainda por desbravar.

O Estado Livre do Congo, propriedade do Rei Leopoldo II da Bélgica,  nada fazia para o real desenvolvimento do povo Congolês; este, era tão-somente mão-de-obra escrava que se esgotava numa insípida vida que não vivia para além dos quarenta anos. Com o meu tratamento diferenciado no trato com os indígenas, comecei pouco a pouco a ter problemas no relacionamento com os esbirros de Leopoldo; graças à minha suave diplomacia e oferendas avultadas, tinha até alguma atenção e benesses por parte de seus administradores com inerente inveja de outros fazendeiros.

 Enquanto isto, dois homens em tronco nuo iam rolando para cá e para lá os grãos de cacau estendidos no liso terreiro e em cima de caixas rasas de madeira por via de garantir a este, a humidade de oito por cento. Do lado das cubatas e quase por detrás do d´jango central e no lugar dos lajedos, um serviçal de Charllôtte amolava uma faquinha em uma aresta aspara. Enquanto isso, os gatos iam-se chegando um a um ao rapaz chamados pelo ruído da afiação do ferro; a escama de peixe era entendida como um repasto de viceras gordas pelos bichanos. Estes detalhes seriam até desperdiçados caso eu não começasse já a sentir uma certa nostalgia pela lonjura da civilidade; os anos começavam a pesar nesta espécie de angústia.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:17
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Terça-feira, 5 de Novembro de 2013
KISANJI . II

CABINDA -  Morte na picada

Por

 soba.jpg  T´Chingange

Em minhas madrugadas carregadas de insónias, volto a conviver com a ideia de regressar a África. À medida que vou conquistando a confiança de certos segredos, a paz e o sossego, vêm lamber com ternura as minhas feridas, trazendo-me inevitáveis estórias que nunca tiveram tempo de se sarar. Com uma luz perturbadora a iluminar-me certos detalhes, a intimidade de uma tarde chuvosa acaba por me bulir com trovões. Dependendo do tempo ou da minha preguiça fico olhando as nuvens e na brisa do vento apercebo-me que as pessoas na minha faixa de idade costumam povoar suas existências com uma infinidade de pequenos gestos ou trejeitos que parecendo inúteis são em realidade o tactear de suas próprias vidas. Os comportamentos, em realidade diferem conforme a idade.

Um direito sagrado que conquistei com a idade foi o desejo de nada fazer mas, presenteando-me de surpresas, a memória prodigaliza-me com peripécias do passado sem mágoas ou comoções excessivas. Quando se é jovem, o que acontece no mundo à nossa volta, não passa de algo secundário comparada ao que imaginamos realmente interessar; o que irá fazer mudar os nossos destinos, em geral, não é percebido com total plenitude. Essas revelações chegam muitos anos depois e, muitas vezes acompanhadas por um sabor de desencanto.

As fronteiras entre o bem e o mal no vaivém dos anos, dissipam confusos ressentimentos que em uma guerra legítima se tornam mais pessoais. Ardendo em meus infernos, ruminei minhas batalhas de consciência de quando dei ordens para se armadilhar o carreiro fiote com uma granada ofensiva presa por um fio em dois tufos de capim num lugar infestado de guerrilheiros de Holden Roberto; sucedeu num lugar chamado Cácata (Catata), perto de Tando N´Zinze entre Cabinda e o Zaire, o então Congo de Mobutu. Da explosão ouvida no quartel, resultou morrerem dois civis zairenses que simplesmente faziam candonga de mercadorias; até que podia ter dado ordens ao cabo sapador para diminuir as espirais de aço mas, tal não fiz e, daí aquelas mortes de quando em vez, sussurram-me torpeza. E, para quê tive de fazer isto em terra alheia que ainda luta por sua liberdade transcorridos que são 45 anos.   

Kissanji: -  Instrumento musical - tábua de forma rectangular, onde se fixam umas palhetas de metal que accionadas transmitem sons (Angola); Fiote: - carreiro de pé posto na mata do Mayombe, indígena Cabinda (semântica pejorativa)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:53
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Domingo, 25 de Agosto de 2013
MOKANDA DO SOBA . XXXVIII

“UM DIA  -  No labirinto do Mundo . 2º de 2 Parte

Por

  T´Chingange           

Um dia afastado do lusco-fusco, fiz de mim um corsário, daqueles que brincam com o fogo e, armado de contraluz, embeveci-me por uma ucraniana comestível, de carnes leitosas, olhos de alfazema e sabor a manga rosa; ela cantava e dançava só para mim conforme ela dizia, com brilho de inverdade; um dia surgiu com uma cobra de Poconé do Pantanal, comprida, gorda e mansa mas, de aspecto arrepiante; esta dita cuja cobra, enroscava-se em seu corpo durante as danças exóticas, nunca tendo dado mostras de mau carácter até que uma noite em que Capristana se apresentou com um enfeite de diadema de plumas no penteado, aconteceu. Aconteceu que o animal rastejante, confundindo o toucado com um papagaio e seus dois olhos faiscantes, verdadeiros diamantes do Cafunfo, pouco a pouco, estrangulou a sua dona na firme convicção de que a estava salvando; Capristana estava condenada a morrer estrangulada! Eu, nada ouvi e vi, tal era a dose de liamba, da melhor erva vinda do Buco-Zau; O corno manso, que era eu, simplesmente dormia neste sucedido! Ninguém acreditou mas o facto ficou mesmo consumado.

 Nesse então, tempo de garanhão, marcava com riscos a parede do mukifo junto à cama e, as garinas que ia adicionando à colecção, ou papando como diziam os rosqueiros do meio de Tando Zinze. No correr das conquistas com riscos fui dando o jeito a estes por forma a que dali, surgissem flores estilizadas no colorido; A parede foi ficando cheia de inspirações na forma de girassóis. Alguns anos a fazer de galo-papão, as veleidades começaram a ter a estrutura moral de artista excêntrico cedendo sempre às tentações das funções orgânicas até que, tomei conhecimento de que meu corpo estava a converter-se em meu inimigo. 

Com a barriga na forma de promontório de abade, foi-se tornando difícil vestir as cuecas. Havia sempre umas pedras roliças a desestabilizar o equilíbrio; de estrutura debilitada recorri aos chás do Mayombe e, entre murmúrios e águas de alfazema ou cú lavado, o pau-de-cabinda, minimamente fazia jus à sua fama. O soba de Bumelambuto enviava-me periodicamente os mais variados chás de kimbanda à mistura com o milagroso pau do Buco-Zau. Já de cabeça grisalha apaixonei-me em Lândana pela tatuagem de um dragão preto nas coxas de Charllôtte. Foi neste então, já de cabeça cheia de bruma e de alma algodonosa que o soba do Bumelambuto me disse: -Não há nada mais libertador do que a idade. Sukwama! Tinha mesmo razão.  

O Soba T´Chingange     



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:40
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Terça-feira, 16 de Julho de 2013
A CHUVA E O BOM TEMPO . XXXV

GALAFURA …” - Em terras de Miguel Torga

MUKANDA DO SOBA

 T´Chingange

As sociedades vivem de mitos e, é por isso que caminhando serei sempre pobre, porque no pensar de muita gente, a fortuna não anda mais a pé; um contracenso que não conjuga com qualidade de vida, quando na cabeça de muita gente o importante não é ter dinheiro ou ser-se pobre, mas fingir de que não tem assim tanta falta dele, o dinheiro; ninguém quer ser pobre e, muito menos parecê-lo. Particularmente no dia de ontem fiquei rico ao desbravar terras já conhecidas do Alto Douro aonde o labor aparece circundando terras empinadas na forma de riscos verdes, ora em curvas ora em rectas bordeando lombas mais contra lombas suavizando os vales, talvegues sofridos entre xistos calorosos; xistos que após muito trabalho harmonizam parreiras de onde se extrai licorosos sabores, néctar dos deuses.

 Na Galafura, descobri um dos miradouros mais bonitos de toda a região duriense, o miradouro de S. Leonardo, onde Miguel Torga “mergulhou” no rio e se embrenhou como eu na paisagem magnânima deste “sublimado Doiro”. Sobre uma pedra está registado um excerto da obra desse considerado escritor do século XX e, na qual o Douro é uma presença constante. Neste lugar contaram-me lendas e histórias, que aumentam seu encanto, paragem obrigatória para quem visita o Douro. Sem o petulante preconceito da burguesia hodierna, sosseguei na casa do Jorge e da Geruza, gente amanhada no ventre daquelas encostas solarengas; desejando-lhes paz dali fui saindo com umas ofertadas garrafitas do generoso néctar daquele escandaloso e estonteante verde ziguezagueando o amor de gente afável. E, afinal quem sou eu para ter atenções tão esmeradas; Com medo de andar só trouxe o herói do Quissoque, o hoquista santos Pereira lá de longe dum lugar chamado de Cabinda e a sua esposa, de nome Guia, o nosso GPS dos aflitos cruzamentos promovidos a rotundas e claro minha Bibi, companheira de muitos itinerários.

 O Monte de S. Leonardo está localizado a Este do povoado de Galafura e a 566 metros de altitude. Aqui existiu um castro romano, do qual foi Governador Galafre, etimologia do actual nome da freguesia de Galafura. A povoação foi fundada pelos mouros na vertente Oeste do Monte de S. Leonardo, no lugar ainda hoje conhecido como Fonte dos Mouros; existem sepulturas cavadas na rocha, tendo aparecido utensílios identificados como sendo romanos, o último dos quais uma moeda de ouro, com a efígie e nome de Agripina. A povoação viu-se forçada a deslocar-se para o sítio onde se encontra, devido a uma invasão de formigas, alguém que vindo do outro lado do mar e tendo viajado com Diogo Cão trouxe por caravelas e em seus pertences Quissonde, uma formiga predadora que arrasa aldeias ou kimbos. No fundo, esta visita teria de ter uma explicação do Soba T´Chingange e nem sei como me surgiu do nada esta novidade dos longínquos tempos de mil e quinhentos, mas que é verdade, é verdade. Juro mesmo!

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:10
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Quinta-feira, 18 de Abril de 2013
CAZUMBI . XXXI

 AS ESCOLHAS KIMBO 

CABINDA Protectorado Português . 2ª de 2 Partes

Por

   Rui Neumann

 O vice-presidente da resistência defende o direito à autodeterminação de Cabinda como solução para o conflito. No caso de um referendo, Alexandre Tati afirma que a FLEC está aberta a todas as opções e aceitaria as possibilidades, serem inscritas na consulta popular, de «anexação, autonomia, independência, federação...» A questão de um referendo em Cabinda levanta a velha questão de «quem é ou não Cabinda?». Para o vice-presidente da FLEC «Cabinda é todo aquele, sem qualquer descriminação, que nasceu em Cabinda, filho de pai ou mãe natural de Cabinda, ou qualquer estrangeiro que viveu mais de 10 anos consecutivos em Cabinda. Há angolanos que vivem em Cabinda há mais de 20 anos, esses também poderiam votar» e sublinha: «O povo de Cabinda não tem problemas com o povo angolano, tem com o Governo angolano que ocupa militarmente o nosso país.»


 Questionado se aceitaria uma «autonomia» para Cabinda, Alexandre Tati responde: «A minha opinião pessoal não conta. O que conta é a opinião do povo.» Em reacção ao resultado eleitoral de 5 de Setembro que deu uma esmagadora vitória ao MPLA, Alexandre Tati «felicitou o povo de Cabinda» pela «abstenção e por ter respondido positivamente ao apelo da FLEC de boicote geral. Foi um teste ao patriotismo da população» afirma. Considera que «as eleições não foram livres» e nas regiões do interior do enclave a maior parte da população não se inscrevera nas listas eleitorais.

 Segundo o mesmo responsável durante as eleições muitos populares foram intimidados a votar sob ameaça de armas e outros ameaçados de perderem o emprego caso se abstivessem. Reconhece todavia que houve maior participação que em 1992 mas que votaram principalmente estrangeiros que se deslocaram expressamente dos dois Congos, as forças militares e os funcionários. Para Alexandre Tati a vitória do MPLA «não altera nada», e a FLEC vai continuar luta armada: «Angola continua a impor-nos esta guerra através da ocupação e da falta de diálogo». «Uma guerra pequena ou grande é sempre um conflito. Daí que comunidade internacional deveria prestar mais atenção ao conflito em Cabinda e influenciar as duas partes a encontrem uma solução» e sublinha que «a riqueza natural mais valiosa de Cabinda, não é o petróleo, mas sim a vida dos homens».

KAZUMBI: Feitiço; pouca sorte; coisas de kazucuta (malabaristas, pais de santo e mwangolés); macumba obscura.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:28
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Sábado, 6 de Abril de 2013
CAZUMBI . XXX

 AS ESCOLHAS KIMBO

CABINDAProtectorado Português . 1ª de 2 Partes

Por

   Rui Neumann

C abinda . Alexandre Tati

Tati, vice-presidente da FLEC, manifestou, em entrevista à PNN, a necessidade da realização de «uma reunião» onde participem todas as forças vivas de Cabinda sem excepção, a fim de encontrarem um consenso para futuras negociações com Angola. «Pedimos ao presidente da república de Angola, José Eduardo dos Santos, que autorize os cabindas que estão em Angola, inclusive do MPLA, que se juntem aos que estão em Cabinda e no estrangeiro» numa reunião inter-Imbinda, declarou Alexandre Tati. «Angola poderia aproveitar esta proposta, tal como os portugueses fizeram no passado em Alvor quando deram a oportunidade aos angolanos de criarem uma posição única.» Negociações que devem contar com a participação de todas as sensibilidades das forças vivas de Cabinda.»

 

 Para Alexandre Tati a reunião sugerida não seria uma repetição do «erro da Holanda», quando em 2004 a FLEC/FAC e a FLEC Renovada se fundiram efemeramente num só movimento, culminado com a cisão da facção de António Bento Bembe, ex líder da FLEC Renovada, que decide negociar directa e isoladamente com Angola levando ao colapso dos acordos de Helvoirt assinados na Holanda.

 «Bento Bembe assinou um cessar-fogo o Memorando de Entendimento com Angola sem um mandato da FLEC ou do povo de Cabinda. Assinou da forma como ele mesmo pensava, mas não como o povo queria. Como resultado o povo boicotou totalmente esses acordos porque não se identificou neles, daí o que importa é a opinião do povo», realçou. Tati todavia afirma que não nega Bento «como filho de Cabinda», e sublinha: «ele [Bento Bembe] é filho de Cabinda, assim como outros que estão no Governo angolano e, que sendo filhos de Cabinda, também querem a independência da mesma. Conhecendo Bento Bembe, e tendo trabalhado com ele, considero-o como um independentista e como alguém que quer ver o seu território livre.»

KAZUMBI: Feitiço; pouca sorte; coisas de kazucuta (malabaristas, pais de santo e mwangolés); macumba obscura.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:02
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Quinta-feira, 4 de Abril de 2013
KIANDA . XLIII

DESANOITECI EM ZANZIBAR - IX

Verdade ficcionada

Por

 T´Chingange

 E, continuava amiudadamente, pensando na proposta de mustafá Joshua Naili em fazer uma salga de peixe; a ideia andava girando em meu pensamento, mas nada de tomar consistência. Em verdade preocupava-me mais a questão de dar salubridade ao húmido lugar da roça de Boyoma; com o tempo tive de contratar um credenciado enfermeiro de nome N´Zau Tati Bumelambuto que mandei vir de Cabinda. Foi a ele que confiei a saúde e bem-estar dos muitos gentios que ali prestavam serviço. Acabou por ser uma brilhante ideia pois que o rodopio de gente a ir ao paupérrimo hospital de Kisangani diminuiu a olhos vistos. N´Zau, era um fiote de cultura mediana, filho de gente nobre, descendente dos que lavraram o tratado de Simulambuco com Portugal no ano de 1885.

 Por via de ter ido a Lisboa tirar um curso rápido no ainda esboço de Hospital Ultramarino, aprendeu muito sobre as maleitas tropicais. Amiudadamente reunia-se no d´jango central da roça com o kimbanda Good Lukuga e das longas conversas que ali mantinham, decerto faziam triagem de muitos conhecimentos. Eu via isto com grande contentamento pois que as origens dos conhecimentos rudimentares de Lukuga, obrigava N´Zau Bumelambuto a fazer, não só pesquisa como também a executar ensaios em porquinhos da índia e bicharada de distintas espécies que, ali ia aprisionando em organizadas gaiolas. 

 Só passado algum tempo da chegada do enfermeiro N´Zau à roça de Boyoma é que me predispus a falar da política que corria no agitado mundo da Lusofonia e, foi sobre Cabinda que falamos longo tempo. A "colonização" de Cabinda foi pacificada pelo Tratado entre Portugal e Cabinda, um território separado de Angola. Um enclave entre os Congos, belga e Françês. A um de Fevereiro de 1885, o governo português representado por Guilherme Augusto de Brito Capello, então capitão-tenente da Armada e comandante da corveta Rainha de Portugal, assinou com vários príncipes, chefes e oficiais do reino de N'Goyo colocando Cabinda sob seu protectorado. Em realidade não é uma colónia de Portugal disse N´Zau Tati Bumelambuto, coisa distinta de Angola que, essa sim, é colónia. O tratado feito por meu pai, aconteceu antes da Conferência de Berlim, acrescentou N´Zau. Notando-se orgulho em seu porte, acrescentou que Portugal se obrigou a fazer manter a integridade dos territórios colocados sob o seu protectorado respeitando e fazendo cumprir os usos e costumes dos Imbindas.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:56
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Quinta-feira, 8 de Março de 2012
KAZUMBI . III

{#emotions_dlg.meeting}AS ESCOLHAS DO KONDE *

ANGOLA . Colónia de Cabinda” - BISPOS E SIMILARES MENTEM! - 3ª Parte

Por

Jose Viegas Konde do Grafanil

KAZUMBI: Feitiço; pouca sorte; coisas de kazucuta (malabaristas do Sambizanga , pais de santo e mwangolés); macumba.

Embora, no caso do ataque à escolta militar e policial angolana à equipa do Togo, tudo tenha acontecido em Janeiro de 2010, só em Junho, D. Filomeno Vieira Dias enviou uma carta ao Procurador-Geral da República colonial, João Maria de Sousa, para mostrar preocupação em relação ao excesso de prisão preventiva de activistas e deplorar o adiamento indefinido do julgamento dos acusados. Antes, a 3 de Maio de 2010, D. Filomeno Vieira Dias dissera que a liberdade de informar e de ser informado é um direito fundamental que não deve ser subalternizado. Ser o Bispo de Cabinda, é ter o dever de falar na liberdade de informar. Em Cabinda (colónia de Angola), ter ideias diferentes, dá direito a prisão. 
  Cabinda é uma das 18  províncias da República de Angola, sendo um enclave  limitado ao norte pela República do Congo, a leste e ao sul pela República Democrática do Congo e a oeste pelo Oceano Atlântico. A capital da província de Cabinda é a cidade de Cabinda, conhecida também com o nome de Tchiowa.

D. Filomeno Vieira Dias disse que a informação joga um papel fundamental na vida da sociedade e, por isso, os comunicadores devem fazê-lo com responsabilidade. Será responsabilidade de D. Filomeno Vieira Dias, dizer só apenas a verdade oficial do regime? Será que ter-se liberdade é concordar cegamente com as arbitrariedades do regime colonial? “A liberdade de imprensa é um direito ligado às liberdades fundamentais do homem”, sublinhou na altura o prelado, falando a propósito do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, proclamado pela UNESCO em 1993. É um direito mas, note-se, apenas nos Estados de Direito, coisa que Angola não é de facto, embora de jure, o queira parecer. Aliás, nenhum Estado de Direito viola os direitos humanos de forma tão execrável como faz o regime angolano na sua colónia de Cabinda. “Quando celebramos esse dia, devemos olhar para o seguinte: que é uma grande responsabilidade informar e informar sempre com verdade,” destacou D. Filomeno Vieira Dias.  Certamente pediu de imediato perdão a Deus por ele próprio não contar a verdade toda. D. Filomeno Vieira Dias deverá, também pedir perdão por se pôr de joelhos perante os donos do poder em Angola, contrariando os ensinamentos, como recordou em Bruxelas o Padre Jorge Casimiro Congo, que afirmou: - perante os homens deve estar-se sempre de pé, e de joelhos, apenas perante Deus.

  Mural . Cabinda

E, se uma das principais tarefas dos Jornalistas é dar voz a quem a não tem, a Igreja Católica deve dar o exemplo como missão. Frei João Domingos, por exemplo, afirmou numa homilia em Setembro de 2009, em Angola, que Jesus viveu ao lado do seu povo, encarnando todo o seu sofrimento e dor. E acrescentou que os nossos políticos - governantes só estão preocupados com os seus interesses, das suas famílias e dos seus mais próximos.

 frei João Domingos (faleceu a 9 de agosto de 2010)

Os angolanos e os Cabindas gostariam que tivesse sido D. Filomeno Vieira Dias a dizer estas verdades. "Não nos podemos calar mesmo que nos custe a vida", disse Frei João Domingos, acrescentando "que muitos governantes que têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro". Por tudo isso, João Domingos chamou a atenção dos angolanos para não se calarem, para "que continuem a falar e a denunciar as injustiças, para que este país seja diferente".

FINAL

* José Viegas - Konde do Grafanil, Rei de Manikongo aposentado por opção própria. Portador dos zingarelhos, da pele de cabra, dos N´zimbos e búzios da Luua. Senhor dos cabaços do Cunhamgâmua. Alto mandatário do Kimbo na Globália.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:04
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Terça-feira, 28 de Fevereiro de 2012
KAZUMBI . II

{#emotions_dlg.meeting}AS ESCOLHAS DO KONDE DO GRAFANIL*

“CABINDA . Colónia angolana ” - BISPOS E SIMILARES MENTEM! - 2ª Parte

 

KAZUMBI: Feitiço; pouca sorte; coisas de kazucuta (malabaristas do Sambizanga , pais de santo e mwangolés); macumba.

Tratado de Simulambuco foi assinado em 1 de Fevereiro de 1885, pelo representante do governo português Guilherme Augusto de Brito Capello, então capitão tenente da Armada e comandante da corveta Rainha de Portugal, e pelos príncipes, chefes e oficiais do reino de N'Goyo e colocou Cabinda sob protectorado português. O tratado foi uma resposta à Conferência de Berlim, que dividiu África pelas potências europeias.
Apesar de ter pedido a demissão, o Padre Tati não deixa de ser um cidadão. Cidadão cabinda cuja nobreza de espírito o levou a não pactuar com uma Igreja que conspurca os seus mais elementares mandamentos. No final de 2011, D. José Manuel Imbamba, arcebispo de Saurimo e porta-voz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, disse que os padres que teimam em defender os interesses dos cabindas não foram afastados por razões políticas, mas por questões disciplinares, nomeadamente por não manterem uma boa relação pastoral com o bispo D. Filomeno Vieira Dias. D. José Manuel Imbamba sabe que está a mentir. Ou se mantinha calado ou, se para tanto tivesse coragem, falaria das pressões do regime angolano sobre os prelados que apenas querem dar voz a quem a não tem. Aliás, o mesmo se passa com D. Filomeno Vieira Dias que só de vez em quando,… raramente,… quase nunca, se vai lembrando do “rebanho”que tem a seu cargo como bispo da colónia angolana de Cabinda. Quando, no estrangeiro, instado a comentar as detenções de activistas dos direitos humanos de Cabinda, a mando do regime de Luanda que, tal como o prelado católico Agostinho Chicaia, não quis (pudera!) desagradar aos mwangolés de Luanda refugiando-se no argumento de que não comentava um caso ocorrido fora do país.


Consta, que D. Filomeno Viera Dias se mostrou preocupado com aquilo que diz ser de incapacidade de diálogo entre as pessoas. Pois é?!... Que em Cabinda todos que ousem pensar de forma diferente do MPLA sejam culpados até prova em contrário, isso não é preocupante para o bispo. Preocupante é a falta de diálogo… num regime colonialista que só permite o seu próprio monólogo, o dono da verdade que põe a razão da força acima da força da razão Ele, (Agostinho Chicaia) foi detido fora de Angola, eu não posso pronunciar-me sobre um facto que ocorreu num outro país, não tenho elementos, é algo que procuramos aprofundar, procuramos saber quais são os motivos, mas não temos elementos sobre isto,” disse no seu estilo angélico D. Filomeno Vieira Dias. D. Filomeno Vieira Dias, raramente se lembra que deve dar voz a quem a não tem. O senhor bispo levou muito tempo a descobrir os excessos do regime colonial angolano em relação aos cidadãos supostamente envolvidos em acções de apoio aos militares da FLEC.

(Continua…)

 * José Viegas - Conde do Grafanil, Rei de Manikongo aposentado por opção própria. Portador dos zingarelhos, da pele de cabra, dos N´zimbos e búzios da Luua. Senhor dos cabaços do Cunhamgâmua. Alto mandatário do Kimbo na Globália.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:16
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Quinta-feira, 13 de Janeiro de 2011
TUNDAMUNJILA . X

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

“3º Império - Guerra de Tuji”

Não abdicando do direito de nos manifestarmos livremente Eu, Liló, Ferreira e Daniel, Furriéis de Angola, fazíamos a diferença entre os camaradas do Puto e, cada um de nós duvidava de si mesmo de como seria o futuro sem nos libertarmos desta interesseira guerra. Com quatro Furriéis, aquela Companhia Independente espelhava o que se constituía apanágio e orgulho do povo português ao longo dos tempos, somando séculos; a mestiçagem já tinha a noção exacta de que esta guerra interessava aos grupos económicos como a Diamang, Cotonang, os Quintas, Mellos, Espírito Santo ou Conde de Caxias. O enriquecimento de oficiais do quadro e Generais do ar condicionado que tendo a mulher a seu lado transferiam tudo o que queriam para o Puto: -asseguradas estavam as propriedades de rendimento, a casa da praia e a quinta da santa terrinha garantindo uma choruda reforma; ainda não tinham finda uma comissão e já se estavam oferecendo para outra.

Os sargentos “Xicos”, na sua grande maioria, ficavam dentro de portas, dentro do arame farpado secretariando coisas, a messe, o depósito de material, manutenção, a cantina ou fazendo a patrulha no transporte de géneros da base do Batalhão, zonas fora de perigo. Esta guerra era a grande árvore das patacas para esses militares de carreira e muito boa gente do regime do Puto. Um Puto cada vez mais distante das nossas mentes, para gozar a guerra em toda a sua plenitude, usando-nos.

O General Venâncio Deslandes tendo sido o Comandante das três forças armadas em 1962, tomou iniciativas à revelia do governo do Puto dando maior liberdade aos Órgãos Locais, tendo criado a Universidade de Luanda e até incutindo subtilmente à ideia do separatismo; tendo-lhe sido sugerido tal, ele não teve tomates para dar o grito do “Ipiranga” que ficaria o grito do “por Angola, eu fico”. Diga-se que Venâncio Deslandes era o General que nos últimos oitocentos anos da historia de Portugal, tinha mais soldados sob as suas ordens.


NA SERRA DO MASSÁBI Tivesse ele feito isso entregando aos militares Angolanos e principais chefes dos movimentos de então, FNLA, MPLA e destacadas figuras da governação local como por exemplo Pinheiro da Silva, Venâncio Guimarães, Dáscoles, os Van-Dunem e tantos outros. Se assim tivesse sido, Angola estaria muitos pontos à frente sem passar por esse êxodo que exauriu Angola e a levou a uma guerra parva como todas. De qualquer modo, a grande maioria de nós, antes de 1975, não tínhamos noção daquilo que não sabíamos e fomos apanhados com as calças na mão regressando ao país do fado, das bicas, dos cafés e simbalinos e das toiradas, às vezes. Nunca fomos ressarcidos deste contratempo; Agora 2011, da AUSTERIDADE, cada um que se desenrasque, o mesmo de sempre, triste sina.

Livro de referência: DEMBOS. A floresta do medo – Angola 1969 a 1971 de Carlos Ganhão

(Continua…)

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:09
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Segunda-feira, 20 de Dezembro de 2010
TUNDAMUNJILA . III

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

“Guerra de Tugi”

Crónica dedicada ao Embaixador do Kacuacu, BONIBONI DA KATUMBELA, o preto mais branco do Puto, Donatário Mwangolé dos jacarés do Cubal e Katumbela.

No jogo do gato e rato os Tugas furam a mata perseguindo Turras; com a G3 colada ao peito ou feita um pau nas costas percorre a densidade de verde fumegando adrenalina pelos poros, orelhas, matubas, kinambas e todo o resto do corpo. Transpirando vapores em cacimbo húmido tenta num se calhar agarrar uns turras e levar às bases umas Kalashes p´ra cantar vitória ao Coronel do Estado Maior que espreguiça o mataco na messe dos Oficiais. O relatório diz que acobertados nos fundilhos dos charcos do Chiloango, no rigor da guerrilha, apanharam umas quantas sanguessugas antes da emboscada fatídica para uns quantos fiotes do Massábi:


Rio Chiloango  e os Turras


Sete horas húmidas algures

Progressão, corpos ensopados

Silêncio nos corpos, silêncio de medos

Uns paus ardidos


Olhar dúplice, um piar agreste

Dois tiros num eco, um ai

Lianas e folhas num Maiombe rupestre

Um grito, um dó


Missão cumprida, tempo esquecido

Febre sem alma

O peso dum morto

Encalhado em ombro, muxoxos de vida


Maiombe e os Gorilas

Percorrendo soberania, exótico passeia na selva por fiotes de folhas tapando mambas e kissonde, um guerrilheiro que foge evitando o contacto, esgotando caminhos, paciência que se funde na mata com macacos guinchando, desesperos de gorila.

Procurando propósitos, os riscos chegam na falsa curva chamada "a-da-morte" e se trocam tiros através do susto carregado de verde, duma cara invisível rajadas de tiros em parcos segundos, depois a fuga, restolho de corpos.

Uma merda de guerra, senhor Capitão. Relato feito duma odisseia minúscula numa história omitida num tempo chuvoso, num cú-do-mundo chamado Miconge.

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:09
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Sexta-feira, 9 de Julho de 2010
MUXIMA . VI

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

“SIMÃO TOCO - um misto de revolução” - continuação

watch tower

Todas aquelas seitas tinham a relegião Cristã como base  mas, no entanto, os seus ensinamentos tinham uma interpretação livre da Bíblia. Criar associações clandestinas de acção anti-colono numa vertente racista era a sua intenção. A Watch Tower, fundada em 1872 nos Estados Unidos da América em Brooklym de New York onde ainda hoje mantêm a sua sede, apoiaram sempre esses movimentos emancipalistas e, desta fusão de conivências surgiu um tal de Simão Lasso que nascido em 1908 em Cabinda, deu seqência àqueles propósitos.

 

catanas do desespero

ph_1961.jpgNa África Colonial Portuguesa, em Luanda, capital de Angola, foram encontradas armas brancas, catanas e canhângulos sob o altar da Sé Catedral para uso na revolta armada que teve início a 4 de Fevereiro de 1961; eclodiu então o assalto às prisões de Luanda seguindo-se a matança no Norte de Angola de brancos fazendeiros e pretos umbundos originários do Sul. O Exército de Libertação de Angola FNLA, com Holden Roberto no comando, um mestiço cunhado de Mobutu, de medíocre capacidade mas impregnado de muito ódio aos brancos, recebe milhares de dólares, fardamento e armamento moderno fornecido pelos Americanos.

A maioria de roças de café, cacau, algodão, coquenote e sisal dos distritos de Bengo, Uige, Zombo, Negage e Malange, aonde predominavam as etnias Ambuíns, Icolos, kicongos e kimbundos, foram atacadas com a maior das violências então conhecidas.

O Indigenismo em Angola foi cultivado pelas “ONG´S” trabalhando secretamente com missionários protestantes no âmbito do Concelho Mundial das Igrejas “CIME”. A agenda neo-colonial Estaduniense com capa de neo-liberal, cria em todo o mundo braços armados em apoio àquele subterfúgio de evangelho.

 

Curiosamente os Americanos na só sua guerra fria contra outras ideologias e tendo o seu mito de controlar o mundo vai gerindo a política  e religiosidade  criando núcleos fantasmas embrulhados na CIA e surge além do ELNA em Angola, “ Os Contras” do continente Sul-Americno que em operações triangulares envolvem trocas de armamento por droga e, surgem os “Irã-Contra”, rebeldes anti-Sandinistas  da Nicarágua.Todo o finânciamento àqueles rebeldes e pastores era fornecido pela Fundação para a Democrcia “ NED” dirigida pelo Congresso dos E.U.A.

Também é bom recordar que  em 1969 nasce o movimento “NÃO FAÇAS ONDAS”, que veio pouco depois, em 1971, a mudar o nome para “GREENPEACE”, tendo o veterano da Inteligência Britânica de nome Ben Metcalf no comando.

Um importante membro daquela organização, de nome Robert Hunter, afirmava em 1971 que “em lugar de mísseis balísticos, nós disparamos imagens, bombas mentais transportadas pela mídia mundial”.

 

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:00
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Quarta-feira, 31 de Março de 2010
POVO IMBINDA . VIII

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

" O ENCLAVE"

RIO CHILOANGO

De facto, os descolonizadores Tugas, ignoraram e desrespeitaram o Artº 3º dos tratados de Chinfuma (1883), Chicamba (1884) e Simulambuco (1885): «Portugal obriga-se a manter a integridade dos territórios sob o seu protetorado», e foram indiferentes ao Artº 12º dos tratados de Chinfuma e Chicamba, cuja redação é: «São declarados nulos quaisquer tratados ou contratos que encerrem cláusulas contrárias aos artigos anteriores».

 

Neste contexto, assiste aos Imbíndas denunciar, internacionalmente, o incumprimento por parte de Portugal dos tratados atrás referidos, e levar o caso à ONU para discussão e resolução, até porque é altura da chamada descolonização, vigorava ainda a Constituição Política Portuguesa de 1933, apenas revogada um ano depois do «golpe» militar de 25 de Abril de 1974. Acresce ainda a dúvida quanto à competência e legalidade dos intervenientes por parte de Portugal no acordo de Alvor que veio a ser anulado.


Por tudo isto se conclui que o caso de Cabinda não é político nem militar, mas sim uma questão jurídica que aguarda a solução adequada.

 

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

- Tratado de Chinfuma (1883); Chícamba (1884) e Simulambuco (1885)
- O Enclave de Cabinda (padre Joaquim Martins, 1976)
- Nobreza de Portugal e do Brasil (pág. 458)
- A Independência de Cabinda (edição Litoral, 1877)
- Alfredo Albuquerque, Nós, os Cabindas (1933)
- Cabindas (Joaquim Martins, 1972)
- Boletim Oficial: n's 571, 6/9/1856; 483, 30/12/1854; 388, 5/3/1853; 42, 1883.
- Colecção oficial da Legislação Portuguesa, 1883 edição Imprensa Nacional
- Diário do Governo: VI série, no. 167, 19/7/974; 14 série, no. 124,27/7/74; 1' série no. 240,15/10/74; no. 23 de 28/1/75 14 série, no. 143 de 24/6/75; 251 série, no. 193, 22/8/75
- Acordo de Nakuru
- Efemérides Ultramarinas (1972)


Colaborador na divulgação: Soba T´Chingange

Edição do Autor Adulcino Silva




PUBLICADO POR kimbolagoa às 03:08
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Domingo, 21 de Março de 2010
POVO IMBINDA - VII

FÁBRICADE LETRAS DO KIMBO

“OUA

 Cabinda, menina bonita de ...  CABINDA . NA LAGOA DO BUMELAMBUTO

 

A natureza da ligação de Cabinda a angola, em 1956, só pode ser interpretada como medida de organização administrativa. Apenas  isso.

A pretensão dos Cabindas é, por outro lado, abrangida pela Carta das Nações Unidas, mormente no seu artigo 73º que estabelece as aspirações políticas das populações às suas livres determinações.

Caso ainda subsistam dúvidas à comunidade internacional, sugere-se um referendo entre os cabindas com o objectivo de determinar o desejo das populações do território, e respeito ao seu resultado. De contrário, a manter-se a actual situação política, corre-se o risco de se desencadear um processo muito perigoso para a paz naquela região de África, com permanentes revoltas secessionistas contra Angola.

 

A OUA

A Organização de Unidade Africana (OUA) no «âmbito do programa de libertação total de África», com base nos dados históricos e jurídicos dos territórios sob domínio europeu, registou Angola com o número 35 e o de Cabinda sob o número 39.

A OUA entendeu, assim, distinguir a questão de Angola da de Cabinda. Nesta perspectiva, aquela organização internacional revela a posição contrária à anexação de Cabinda a angola alegando que tal facto assenta numa denegação de Direito. 

Pode dizer-se que Cabinda desde 1975 não vive uma situação de normalidade. Nos últimos anos a situação militar agravou-se acentuadamente, especialmente no interior Norte.

Os poucos atos políticos que o governo de Luanda tem realizado em Cabinda não têm tido o apoio das populações locais. Os Imbindas manifestam-se contra a dependência de Luanda, e têm vindo a revelar uma grande solidariedade para com os líderes da FLEC. As populações prestam aos independentistas uma contribuição espontânea e generosa.

A sustentação destes princípios básicos concede aos cabindas a necessária força aglutinadora da luta pelo ideal independentista.

(Continua... VII... ultima)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:33
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Domingo, 7 de Março de 2010
POVO IMBINDA - V

POVO IMBINDA - V

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

          Os grandes senhores 

 

  ... Journal: A Visit to Cabinda FLEC nas matas do Mayombe

 

A acção católica desenvolveu-se a partir de cinco missões masculinas e três femininas. A saber: Cabinda, Zenza do Itombe do Lucula, Lândana, Belize, Necuto, Nossa Senhora do Mundo, além de muitas capelas espalhadas pelo território. 

A moral tradicional dos Cabindas visa basicamente comportamentos tendentes à coesão e fortalecimento da família, da etnia. Por isso o argumento da obrigatoriedade é a tradição dos antepassados. 
A mulher casada ou amancebada é obrigada a guardar fidelidade ao marido ou ao companheiro. O homem, porém, não é obrigado a guardar fidelidade à esposa ou à companheira. 

A junção da última sílaba de Mafuka com Binda, nome de um importante dignitário do Rei Ngoyo, dá Kapinda que pela semântica se tornou em Cabinda. Mafuka era o intendente Geral do Comércio, homem de absoluta confiança dos Monarcas dos Reinos de Loango, Kakongo e N´goyo. De tanto se falar de Mafuka Binda acabou por ficar Kabinda. Antes, porém, Cabinda terá sido Kiona (Tchioud) - designação, em português, de mercado.

 

Segundo antigas crónicas e narrativas de viagens, os dignitários, fidalgos e titulares Cabindas eram imensos. Os mais comuns, porém, nas diversas cortes destes Reinos eram: Marubuku (Vice-Rei), Makaia (sucessor presuntivo do Rei), Mafuka (ministro do Comércio), Mucurata (urna espécie de ministro de guerra), Samário (cobrador de impostos), N´gúvulo (primeiro intérprete do Rei e seu porta-voz), Maukaka (chefe de polícia), Mangovo (ministro dos Estrangeiros) N´kotokuanda (espécie de procurador-geral e advogado público). A Corte era, via de regra, composta por cerca de meia centena de «GRANDES SENHORES»

 

Os Reis de N´goyo concediam títulos diversos às suas gentes que se notabilizavam por serviços prestados aos povos ou aos monarcas. Citam-se alguns de que o Príncipe D. Domingos José Franque, ilustre Imbindense (descendente de D. Francisco Franque, um nobre, coronel honorário do Exército português), refere no seu livro «Nós, os Cabindas», editados em 1940.

Mambuco: espécie de Vice-Rei que governava na zona litoral. Bona-Zanei: uma autoridade especial que tinha poderes para perdoar penas, inclusive a de morte. Mafuka, Mambondo e Mancafi - títulos apenas concedidos a fidalgos do litoral. Mas existem ainda outros títulos, como: Capita, Furcico e Mongovo Velho, atribuídos a indivíduos em recompensa dos serviços prestados ao Reino.

Existiam também os Bimpabas. Estes, porém, integravam o governo e a sua missão equivalia à dos diplomatas que, credenciados para o efeito pelos Reis, tratavam de assuntos noutros reinos.

( Continua .... VI )

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:44
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Sexta-feira, 26 de Fevereiro de 2010
POVO IMBINDA - IV

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

          D. AFONSO I . REI DO CONGO

 de seu filme no sonho do rei ...  REI DO KONGO E COMITIVA

 

Os Cabindas pertencem à vasta família dos Povos Bantos, e ao grupo linguístico Kicongo. Encontram-se repartidos, segundo a sua importância numérica, pelos seguintes grupos: Lombe, Oio, Congo, Sundi, Cotchi, Vili e Dinge, para além de grupos de emigrados. Os demais clãs totalizam apenas pouco mais de sete milhares, e limitam-se à área de Cacongo, com excepção dos Sundis (Bassundis) que se encontram também na região de Miconge. 

Segundo os etnólogos que se ocuparam desta questão, os Imbindas são povos do antigo Mbanza Kongo (ex-S. Salvador do Congo). Em 1665, D. Afonso I, do Congo, era o Rei do Loango, Malembo e Cabinda, que foi morto na batalha do Ambuila, a 29 de Outubro de 1665. Nessa época, já os Reinos atrás citados eram autónomos. A fixação de portugueses nestes três reinos verifica-se no início do século XVI. Dizem os escritos de Prevost, que: «... Mas Um Mani do reino, tendo casado com uma mulata, filha de um rico português... ».

Na família Imbinda, a principal figura é a mãe, pois é ela que trabalha a terra, fonte básica de sustento da família, e gera os filhos que aumentam o poder do clã. As filhas são a base da continuidade e propagação do grupo e base da sustentação deste pelo amanho da terra. O homem Cabinda considera a atividade agrícola aberrante da sua dignidade.

Na família Imbinda o homem pai, é mero progenitor. Não possui qualquer direito ou dever em relação aos filhos. Esse papel cabe ao irmão mais velho da esposa. Por outro lado, quando o pai morre, nem a mulher nem os filhos do extinto herdam quaisquer bens. É que a família Imbinda baseia-se na descendência por parte da mãe.

O casamento toma o nome de alambamento, que se traduz na paga de gêneros, panos (libongos) e dinheiro por parte do noivo aos pais da rapariga para que o casamento se considere aceite socialmente

A religião é definida, de maneira simplista, a partir de três elementos: «dogma», «culto» e «clero».

Não obstante uma intensa acção missionária de séculos, as velhas crenças continuam a manifestar-se na vida quotidiana dos povos de Cabinda, juntamente com práticas cristãs.

 

( Continua .... V )

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:27
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Terça-feira, 9 de Fevereiro de 2010
POVO IMBINDA – II

 

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

          Os nobres e os três tratados

 

Rei do Kongo D. Pedro VII e D. Isabel

 

As nobrezas, portuguesas e Imbindenses, estão ligadas por laços diversos, por via do primeiro Visconde de Kacongo, João José Rodrigues Leitão, vulto de grande prestígio entre os naturais, não só pelas suas altas qualidades humanas como, também, por ter cooperado eficazmente na ocupação pacífica e definitiva dos territórios de Kacongo e Massábi.

O Congresso de Berlim, perante a vontade dos Cabindas, viu-se forçado a reconhecer Cabinda como protetorado de Portugal.

Da nobreza Imbindense, destaca-se D. Domingos José Franque. Foi oficial de 2ª linha do exército português e representava a mais fina estirpe das gentes de Cabinda. Neto de Franque Cacolo que ostentava o privilégio honorífico de Mafuka do Reino de N’goyo. Seu pai, Francisco Franque, coronel da 2ª linha, foi genro de Manuel José Puna, Barão de Cabinda. Estes foram os influentes e signatários do Tratado de Simulambuco que concedeu a Portugal o protetorado daquelas terras e, suas gentes..

O Rei do Congo, D. Álvaro I (1570), tornou-se vassalo e tributário de Portugal, porque N´goyo, Loango e Kacongo faziam parte do Reino do Congo.

Uma cuidada análise aos documentos revela que os mesmos, obedecem a normas do direito internacional aplicadas no tempo actual. As três formas básicas regulamentares continuam atuais: a negociação, a assinatura e ratificação

 

Cabinda ficou ligada administrativamente a Angola, apenas por comodidade burocrática.

 

Não obstante o reconhecimento dos direitos de Portugal pela França, em Março de 1883, Loango e Ponta Negra foram tomadas à força por Cordier, comandante da corveta «Sagittaire», com a conivência de dois portugueses traidores (Saboga, no Loango; e João da Silva Cruz, em Ponta Negra) e por alguns padres franceses da Missão de Lândana. Porém, a fidelidade dos Imbindas Fiotes a Portugal revelou-se em invulgar abnegação na luta contra os invasores.

Foi devido à insolência francesa que se acelerou os tratados de Chinfuma (29 de Setembro de 1883), Chicamba (26 de Dezembro de 1884) e o de Simulambuco (um de Fevereiro de 1885). A atitude de Cordier foi veementemente repudiada, entre outros, por André Locumbo, Mambonsba Luxema, Mafuca; Mambuko Chicaio, Mamboma Chibiene, Cruz e Silva e Antônio Mário Ruas. Ponta Negra acabaria por ficar em poder dos franceses, recebendo a designação actual de Pointe Noire. Terão sido até certo ponto, os processos usados por Cordier que levaram os povos de Cabinda, Lândana e Massábi a optarem definitivamente de um modo voluntário por Portugal. 

 

( Continua....III )

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:16
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Quinta-feira, 28 de Janeiro de 2010
MAYOMBE 2010 . III

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

        Na floresta do Mayombe

  ENCLAVE DE CABINDA    Cabinda ocupa una petita ...             

                           

Quarenta e tantos anos depois estou no “Brasil”, terra de matutos, piratas e almocreves tropeiros,  vendo ao longe a terra que me deu luta em dois anos cobiçados numa  paz que não se chegou a firmar: - Cabinda!

Mudam os ventos, mudam as politicas e, enganam-nos, sem outras formalidades ou aqueles trâmites chatos de explicar o inesplicável. A notícia no Puto empolga os defensores duma outra integridade explicitada na envergadura patriotoca ao EmPeLá. A bajulação continua; a submissão, também.

Os filhos do Puto, empoleirados em casos de galhos gordos, confundem e obstroem silêncios de raiva arrumada como um tufo de seu pasto, a propósito.

 

Mais seco e com a idade bastante  riscada, atrevo-me a dizer que este CAN.2010 é em Cabinda, um atentado  ao tratado de Simulambuco, feito algures ao largo da foz do rio Zaire na corveta Rainha de Portugal  entre o capitão-tenente Guilherme Brito Capelo e os chefes locais de Cabinda e Bumelambuto.

 

Desde entâo, 22 de Janeiro de 1885, decorridos que são cento e vinte e cinco anos após tal tratado que preservava a floresta, os habitantes Fiotes e os bichos, deparamos que preservar esses valores naturais, como então se fazia constar, agora e na Angola do Zé-Dudu, esses mesmos valores tornam-se irrelevantes por um acto de liberdade feito com metralha  pelos homens da FLEC.

 

Há convicções ou ideias que precisam de ser expostas ou defenidas por um exercício de cidadânia na vontade firme de se sêr livre. E, quanto a isto pergunto:

- Não vai este CAN ser o início de uma sucessão de soberbas excrecências políticas?

A prosápia Kaluanda do Zé-Dudu leva a decisões envenenadas, pretensa reforma com ideias  de perpectuar o seu mando, seguindo as pisadas loucas do Ugo Chaves da Venezuela. E, o povo Imbinda, menosprezado,  vai ter de se acomodar ao deixa andar, arejando farras novas no Kinaxixe para engodar  consciências?

Este filme já foi visto à pouco mais de um século quando o Império Colonial tinha supostos amigos e aliados da Lusa Pátria.

Os sem dinheiro, pelintras almocreves kaluandas, irão continuar a  sobreviver vendendo bugigangas nos cruzamentos da Luua, sem nada perceberem.


( Continua......IV )

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 02:37
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Sexta-feira, 15 de Janeiro de 2010
MAYOMBE 2010

 FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

           CABINDA E A FLEC

  ... - Tratado de Simulambuco 

MONUMENTO AO TRATADO DE SIMULAMBUCO

O Tratado de Simulambuco foi assinado em 1 de Fevereiro de 1885, pelo representante do governo Português Guilherme Augusto de Brito Capello, então capitão tenente da Armada, comandante de corveta «Rainha de Portugal», comendador de Aviz Rei de Portugal e pelos príncipes, chefes e oficiais do reino de N'Goyo e colocou Cabinda sob protectorado português. O tratado foi uma resposta à Conferência de Berlim, que dividiu África pelas potências europeias.

No tratado, Portugal compromete-se a: "Portugal obriga-se a fazer manter a integridade dos territórios colocados sob o seu protectorado." - "Portugal respeitará e fará respeitar os usos e costumes do país."

A colonização de Cabinda foi assim pacífica. Na altura Cabinda estava separada de Angola apenas pelo rio Congo. O território só se tornou enclave após os acordos celebrados com os belgas, em 5 de Julho de 1913 em Bruxelas, onde foram definidas as novas fronteiras coloniais luso-belgas.

A Frente de Libertação de Cabinda tem todo o direito de reinvidicar o enclave como um território autonomo. O tratado de Simulambuco é claro quanto às aspirações do povo Imbinda em ser independente ou autonomo.

O MPLA, a UNITA e a FNLA fizeram chacinas muito mais orripilantes do que a que se agora verifica em um ataque à equipa do Togo nas competições de futebol em Angola CAN 2010.

Como é que agora vêm repudiar uma actuação levada pelos mesmos ideais que os motivaram à sua "liberdade".

Não deixo de lamentar o facto das mortes mas, não venham carpir lágrimas de crocodilo. Os governantes de Angola têm de se sentar e negociar; não lhes resta outra alternativa.

Nesta infeliz cena  aparecem de novo os gestores políticos de aviário e militares do portugal de então entregue a um MFA tendêncioso e políticos mediocres que queriam protagonismo a qualquer custo. Portugal é ainda o responsável por este desaire e, teremos mais pela frente.  Porquê, não chamam às coisas os nomes certos.

Houve traição com o povo Imbinda e agora a história tem de corrigir o erro desses governantes do puto.  Esta é a verdade.

( continua... iremos até Miconge )

O soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:04
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Terça-feira, 18 de Agosto de 2009
PIETRER FALOU DE SANGANO.II

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

        Operação Carlota

 IMAGEM DE CABINDA

 

Pieter falou e eu, anotei desordenadamente:

- Carlos Fabião, o general vermelho designado para lidar com o PAIGC  e Flávio Bravo, membro do bureau político de Cuba, em Julho de 1975, encontram-se com Agostinho Neto no Congo Brazaville aonde acordam os pormenores da participação Cubana na Operação Carlota e que  ficou conhecida como a Batalha de Luanda.

Entre Maio e Junho Fidel de Castro inicia a concentração de unidades em Cabinda e em Julho, acelera a infiltração de seus legionários em Angola, jovens da Academia Militar de “Ceiba del Água”. Castro pede ao Coronel Saraiva de Carvalho mais recursos para o MPLA e condições de infiltração em Angola em sítios estratégicos ao redor de Luanda. Assim, a partir de 26 de Julho de 1975, começam a chegar ao Ambriz em aviões C-130, batalhões de Catangueses que antes actuavam na Lunda contra o MPLA: Estes guerrilheiros Catangueses, dissidentes do então governo de Kinchaça, num total de 6000, foram aliciados a servir o MPLA em um acordo secreto em terras do Leste de Angola; o vermelhão Rosa Coutinho liderava estas diligências.

Esta complexa Operação Carlota, consistia em assistir ao MPLA a fim de tomar a liderança na tomada de Angola, formando uma ponte entre Cuba e Angola. Tropas e material eram embarcadas em velhos aviões Britannia na base de Holguim, a ocidente de Cuba; estes aviões faziam escala em Barbados no aeroporto de Bridgetown.

A intervenção Cubana em Angola, nos inícios de 1975, não foi uma reacção à invasão Sul-Africana; isto é posteriormente afirmado pelo General Cubano Rafael Del Pino.

 

Este relato foram apontamentos que tirei à pressa da conversa com Januário Pieter e recordo que lhe tirei o rumo da conversa quando o interrompi ao perguntar como é que foi desmantelada a força da FNLA e a isto, responde-me:

- Diaz Arguelles responde às forças de Holdem Roberto com a artilharia reactiva de 122mm (misseis) e, a partir de cinco de Novembro, 650 tropas especiais de artilharia às ordens do General Pascual Martinez Gil, chegam durante 13 dias  ao aeroporto de Luanda directamente de Havana.

- Migs 21, saidos do antigo Aeroporto Craveiro Lopes à guarda dos Tugas, picam sobre as forças de Holden Roberto além Kifangondo, chassinando-os,... um massacre,... morreram como coelhos.

- Meu kota T´Chingange,se queres saber mais pormenores, tens de falar com gente de Calumbo, Bom Jesus, Catete e claro da Praia do Sangano em Cabo Ledo. Os Kotas de lá podem contar-te estórias desses primeiros e últimos dias da Operação Carlota pois tiveram de conviver com os Cubanos, com oficiais que por ali passaram tais como: Abelardo Colomé Ibarra, Lopes Cubas, Freitas Ramirez, Leopoldo Cintras Frias ou Romário Sotomayor.

 

Amigo Pieter esqueci-me de algo. E,...Cabinda!

- Cabinda?  Não sei se poderei chegar até lá. Sou já muito velho!

(Termina a versão Cabo Ledo)

 

O soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:35
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Quarta-feira, 29 de Outubro de 2008
A LÍNGUA IBINDA

 

A língua vernácula, veicular e literária de Cabinda chama-se “Ibinda “. Assim foi designada por estudiosos Cabindeses no termo de aturadas pesquisas, há cerca de três décadas.

Porém, não é raro encontrar quem involuntariamente ignore tão importante revelação. Outros, pactuando deliberadamente com o mal, fingem ignorar e continuam a fazer eco a uma invenção colonialista.

Outros, ainda, alimentam ingenuamente a insubsistente teoria de que a língua dos Cabindeses é o kikongo.

Perante esta constatação e, sobretudo, porque em muitos círculos sociais se ouve falar com acentuada impertinência em "língua Fiote", necessário e urgente se torna elucidar a questão.

 

 

VISCONDE DO MUSSULO



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:31
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O FIOTE . CABINDA

 

 

Dita língua falada pelos nativos de Cabinda - não é nada mais senão um dos produtos da máquina colonial portuguesa.

Na verdade, o termo aportuguesado "fiote" proveio da palavra Cabindesa "m'fiôte", que significa "negro", pessoa de raça negra".

Estando aquém da etnografia, os portugueses instalados no protectorado de Cabinda deram-se ao desplante de chamar "fiote" não só o autóctone de Cabinda, como também e mormente tudo o que por eles fosse considerado de qualidade inferior (?).

Por consequência, era "fiote" o nativo de Cabinda e tudo o que estivesse inerente aos usos e costumes do Povo de Cabinda.

Noutros termos, os valores da cultura Cabindesa, inclusive a língua, passaram a ser "fiote", isto é, coisas vis. Ilustremo-lo com um exemplo: o atalho ou carreiro, que também era frequente encontrar no "Puto" (i.e. Metrópole, Portugal), em Cabinda passou a ser chamado "caminho fiote" caminho do negro, contrastando à estrada, obra dos brancos.

 As  verdadeiras "máquinas"  construtoras de estradas eram os negros do Belize, Caio- Guembo, Buco Zau,Tando zinze ou do Bumelambuto.

Tomemos um  exemplo: à galinha criada pelo, nativos na aldeia  chamou-se de "galinha fiote",  por ser  criada na "sanzala"; naturalmente menos desenvolvida que a dos aviários do branco.

Ninguém esquece, contudo, que era o Negro quem criava as galinhas nos aviários em troca de um salário (se o houvesse) numa atmosfera de insultos de toda a natureza; fuba podre, peixe podre, cinquenta angolares, porrada se refilares.

E bem se sabe que a menosprezada "galinha fiote" era, uma vez em chorrasco, a mais apreciada pelo branco.

Outro exemplo: o rito "fiote" da casa-de-tinta contou sempre com a sôfrega concorrência de brancos sem escrúpulos e ávidos em desflorar raparigas "fiotes" em cabanas e camas "fiotes", não obstante a abissal diferença etária entre o verdugo e a vítima aterrorizada e infeliz. Uns panos com a esfinge de Mobutu eram a troca por alambamento.

Em suma, tudo o que não fosse de origem europeia foi etiquetado "fiote": mamão fiote, manga fiote, batata fiote, etc..., e só faltou designar “peixe fiote”, pescado no rio Chiloango ou no mar de Lândana.

Voltemos à expressão "Língua Fiote".
É do conhecimento de todos que nunca houve ser humano cuja língua fosse designada pelo mesmo termo que exprime a cor da sua pele, isto é, a sua raça. Se assim não fosse, haveria no mundo muito poucas línguas. entre outras, a língua branca, língua negra, língua mestiça. Desse modo, facilmente se compreende que não é intendivel  a existência de uma língua Fiote.

Três factos estiveram, certamente, na base da mais fabulosa descoberta portuguesa em terras de além-mar, a "Língua Fiote":

"Como se diz (ou se pode traduzir) - por exemplo o ditado "Tal pai, tal filho" na vossa língua"?
A essa questão o ancião interpelado respondia simplesmente: "Mu ifiôte tchítu (buau kuábu): ..." ou, traduzindo à letra, "No nosso ifiote diz-se (assim): ...Ora, "Mu ifiôte tchítu" não significava, nem significa, "no nosso ifiote", nem tão pouco "na nossa língua fiote".

Aquela expressão quer, antes, dizer "na nossa cultura", i.e. segundo a nossa cultura negro africana de Cabinda.

E note-se que, em qualquer dos dialectos de Cabinda, a referida expressão era similar: "mu ifiôte tchítu"; "mu tchifiôte tchítu"; "mu kifíôte kietu"; etc... Assim, é de presumir que o colono se tenha cingido à tradução literal dos seus inculpáveis intérpretes para deduzir que a língua dos nativos de Cabinda era o (i)fiote.

- Em contacto com os autóctones, o português apercebeu-se, indubitavelmente, de que em Cabinda não havia senão uma língua, e que o "iwóyo", "ikuákongo", "ikótchi", "ilínji", "iyómbe", "isúndi" e "ivili" não passavam de meros dialectos. É também de esperar que a mais vulgar definição de "dialecto" (uma linguagem particular de uma região derivada da língua principal) não lhe era estranha. Neste caso, uma pergunta pertinente era inevitável: "Como se chama, então, a língua principal dos habitantes de Cabinda"? Esta pergunta requeria uma resposta plausível e ponderada na época, o que não sucedeu.

Poupando-se ao esforço de busca e desmedido complexo de superioridade, o colono não hesitou em denominá-la Fiote, porquanto seu locutor nativo era negro, preto - "m'fiôte". Esqueceu-se, porém, de que ele próprio não falava "branco", já que era de raça branca, mas, sim, português.

De mais a mais, sabe-se que muitos foram os brancos que passaram por Cabinda e nenhum deles se exprimia em branco. Uns falavam francês outros holandês, inglês, etc... O mais interessante é que jamais ocorreu ao nativo de Cabinda chamar à língua de qualquer branco - `´MÚNDELE". (i.e. branco, homem ou pessoa de raça branca), visto que era impensável que alguém se exprimisse numa língua que se designasse pelo nome da raça de quem a falava.
 

 - Muito antes de conviver com os nativos de Cabinda, o colono teve o azo de verificar que os Negros dos Reinos Loango Kakongo e N'Goyo de outrora não falavam Fiote, mas línguas em conformidade com as designações das suas respectivas tribos (ou povos): Kissolongo, Kikongo, Kimbundu, Umbundu, Cokwe, Nganguela e Kwanyama.

Foi nada mais do que um  erro etnográfico cometido por maliciosa intenção, o facto de o mesmo colono ter encontrado somente em Cabinda negros cuja língua era o Negros, i.e. o (i)Fiote.


Com efeito, não precisamos da celebridade de sermos os locutores da língua Negra (Fiote), os Negro-africanos que se exprimem em Negro. Se admitimos, por exemplo, que o portugues tenha chamado "gorila" ao nosso "mpungu", não assentimos que o termo por ele usado pejorativamente não só para designar a nossa língua, mas também como atributo da nossa cultura, persista no léxico de quem quer que seja.

 

Ibinda é a nossa língua. Português o ideoma que nos une ao Mundo!

Por isso, "língua Fiote" não passa de uma aberração, um vestígio que urge ser expurgado no tempo. Estamos plenamente certos de que nunca será demais continuarmos unidos na defesa e preservação dos valores culturais legados, salvaguardando a nossa identidade.

 


Atitude contraria seria, em nossa opinião absurda a quantos insinuam que a língua dos Cabindeses é o Kíkongo, queremos somente recordar que "porvir de" não significa reproduzir, procriar ou gerar.
 

 

 

VISCONDE DO MUSSULO

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:26
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