NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3547 – 08.02.2024
O 11 de Novembro de 1975 no Huambo” - “A LONGA MARCHA”
- Escritos boligrafados da minha mochila, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Proclamação de Independência paralela – No Ambriz e Huambo, Holden Roberto, líder da FNLA, proclamava a Independência da República Popular Democrática de Angola (RPDA) à meia-noite do dia 11 de Novembro, no Ambriz. Nesse mesmo dia, a independência da RPDA foi também proclamada em Huambo, por Jonas Savimbi, líder da UNITA.
Reconhecimento internacional e consequências das 3 prolamações: Logo depois das três declaração da independência em Luanda, Ambriz e Huambo, reiniciou-se a Guerra Civil Angolana (que já estava em curso desde Fevereiro de 1975) entre os três movimentos, uma vez que a FNLA e, sobretudo, a UNITA não se conformaram nem com a sua derrota militar nem com a sua exclusão do sistema político.
Uma parte considerável da população rural, especialmente a do Planalto Central e de algumas regiões do leste, fugiu para as cidades ou para outras regiões, inclusive países vizinhos. Em Fevereiro de 1976, deparamos com o rápido avanço do MPLA com cubanos para a tomada do Lobito, Benguela e Huambo à UNITA a sul e, a norte o Soyo, a antigo Santo António do Zaire sob a alçada da FNLA.
A seguir, o Comité Político da UNITA abandona Huambo e inicia a retirada para Sudeste. Savimbi inicia, juntamente com duas mil pessoas, aquilo a que se veio a chamar a “Longa Marcha”. O líder da UNITA, Jonas Savimbi, viria a atingir o Cuelei só a 28 de Agosto, milhares de quilómetros percorridos, apenas com 79 resistentes.
Lendo Fred Bridgland, este, conta o que a seguir se trancreve com a devida vénia de algumas passagens do que foi “A Longa Marcha de Jonas Savimbi...”. Tudo começa a 8 de Fevereiro de 1976. Aconteceu quando as colunas blindadas de cubanos entraram no Huambo, o quartel-general político da UNITA, durante os seis meses anteriores.
Com a ocupação do Huambo, a vitória fora, virtualmente, completa para os cubanos e o MPLA. No dia seguinte, Savimbi abandonou o seu quartel-general no Bié e voou em direcção ao Leste, para o Luso... Ao principio da tarde do dia 10 de Fevereiro, o capitão “Bock” Sapalalo ouviu os camiões cubanos e do MPLA que se aproximavam da última ponte a norte do Luso...
Alcides Sakala
Savimbi dormia, pela primeira vez em 70 horas, quando as primeiras bombas explodiram no Luso, às 4 da tarde. Foi acordado do seu sono profundo por Chiwale. A população estava em pânico. Savimbi convocou rapidamente uma reunião para lhes dizer que a UNITA iria retirar e organizar uma nova guerra de guerrilha.
Meia hora depois de terem caído os primeiros morteiros, três aviões MIG bombardearam violentamente a cidade tendo morrido cerca de 50 pessoas. Imediatamente após o ataque aéreo, foi ordenada a evacuação do Luso. Cerca das 5 horas e 15 minutos da tarde, os primeiros veículos da UNITA abandonavam a cidade: na coluna de carros diversos e Land-Rover seguiam cerca de 1000 guerrilheiros que Chiwale conseguira reunir. Alguns milhares de civis, com os seus haveres, seguiam pelas bermas da estrada. O cortejo tomou o rumo sul, em direcção a Gago Coutinho, que distava dali cerca de 350 quilómetros.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
Não posso deixar de descrever sucintamente o forte Namutoni pois que faz parte do Park Etoscha, lugar aonde se bivacaram as tropas da Alemanha durante a segunda guerra mundial e que também teve uma forte acção durante as batalhas do sul de Angola quando da consolidação da fronteira com a Namíbia, do tempo em que para ali foram enviados muitos expedicionários portugueses. Teremos de recordar ao de leve esses tempos do início do século XIX, do que foi a batalha de Naulila e a leva de militares nesse então - Alguns, foram considerados, sim! Outros morreram desclassificados até ao tutano que virou cinza…
Em consequência da perda de prestígio das forças portuguesas as populações de Huíla revoltaram-se contra a ocupação portuguesa. A crise instalada resolver-se-ia com o envio de uma força expedicionária por Portugal sob o comando do general Pereira d'Eça. A Grande Guerra, originou um conjunto de conflitos com raízes na corrida à ocupação da África que se seguiu à Conferência de Berlim de 1884-1885. Por via da entrada de novas potências coloniais em África, a obrigação de ocupação efectiva do território, colónia de Angola, levou às campanhas de pacificação, as quais se prolongaram por décadas.
A colónia do Sudoeste Africano Alemão a sul de Angola que impôs novas fronteiras, limitando as pretensões portuguesas naquelas regiões interferiu na missionação portuguesa com o aparecimento de missões protestantes suportadas por organizações alemãs. As razões para a desconfiança mútua que se sentia eram sérias: em causa estavam as fronteiras entre as colónias de Angola e do Sudoeste Africano Alemão (Damaralãndia). Um consenso alargado na classe política portuguesa sobre a necessidade de defender as colónias africanas, traduziu-se no envio, em Setembro de 1914, de forças expedicionárias para Angola.
As forças comandadas por Alves Roçadas desembarcaram em Moçâmedes a 27 de Setembro e a 1 de Outubro daquele ano. Em Novembro de 1914, já após os incidentes de Naulila e Cuangar, foram enviados mais 2800 homens para Angola e em Dezembro outros 4300 militares. Nos anos seguintes, o efectivo continuou a ser reforçado. Dos eventos anteriores que levaram ao confronto de Naulila iniciou-se a 18 de Outubro de 1914, quando um pelotão comandado pelo alferes Manuel Álvares Sereno, em patrulha junto à fronteira com a Damaralândia, um território integrado no Sudoeste Africano Alemão, encontrou a uma dúzia de quilómetros do posto de Naulila uma pequena força alemã, capitaneada pelo Dr. Hans Schultze-Jena, juiz e administrador do distrito de Outjo, que tinha entrado em Angola sem prévio aviso às autoridades portuguesas.
De incidente em incidente, a indignação na colónia era enorme e os apelos à vingança sucederam-se. E, deu-se assim o ataque a Cuangar a 31 de Outubro de 1914. A primeira retaliação alemã surgiu logo a 31 de Outubro, quando uma força alemão, sob o comando do comissário de polícia Oswald Ostermann, do posto de polícia de Nkurenkuru, atacou Forte de Cuangar, um posto fronteiriço a leste de Naulila, destruindo o forte e matando, com recurso a metralhadoras, todo o pessoal que ali se encontrava e que não conseguiu fugir para o mato. Este incidente, que ficou conhecido como o "Massacre de Cuangar", marca o desencadear das hostilidades entre as forças portuguesas e alemãs ao longo da fronteira com a Damaralãndia, actual Ovambolândia e, tendo o forte de Namutoni como um lugar bivaque de base à retaguarda… Lugar que, por isso, requer um avivar da história Lusa-Tuga…
ONGWEVA - EM ANGOLA É SAUDADE - Férias na Humpata
As escolhas de T`Chingange
Por Eduardo Torres – Um Xicoronho de 3ª geração - Deus quando nos permitiu a faculdade de pensar garantiu-nos também o uso dessa liberdade …
Nos meus tempos de criança, quando ia passar férias na Humpata, na casa dos meus avós, havia na entrada para a sala um caramanchão de roseiral de rosas brancas, duas grandes amoreiras e depois seguia-se um grande jardim, com muitas açucenas, lírios, roseiras, dálias e outras espécies de plantas cujas flores espalhavam um aroma que perfumava o ar.
Dava prazer respira-lo sentindo aquele aroma entrar pelas narinas e perder-se nos pulmões para apaziguar a alma. O Jardim era separado da vala de água que corria junto à rua por uma vedação de arame que ligavam prumos de madeira separados igualmente em dois ou três entre si, e em cujos arames se desenvolvia uma silva de amora silvestre, que pretas ou vermelhas eram sempre saborosas.
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Longitudinalmente desenrolava-se um pomar, com um caminho pelo meio a dividi-lo, e quem caminhasse para o fim dele, iria encontrar uma grande área de terreno destinada exclusivamente à sementeira de trigo, aveia ou centeio. No pomar havia quase toda a qualidade de árvores frutíferas, desde as saborosas pêras do Natal, que maduras duravam apenas uma semana, pois logo ficavam bichadas, tipo de pêras que nunca comi em mais nenhum lugar, a não ser na Humpata e no Lubango.
Havia os damascos, os pêssegos, brancos, amarelos e de salta-caroço, as ameixas brancas e vermelhas os figos brancos pingo de mel e os a que chamavam lampos, com a passarada a chilrear dando alegria ao ambiente, com as chiricuatas e os papa-figos sempre à espreita de uma oportunidade para saciarem o seu apetite.
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Depois, mais à tarde pegava na minha pequena bicicleta Ralley e pedalava pela rua, que terminava junto da igreja de S. Sebastião, numa bifurcação que era a saída para Sã da Bandeira ou para o outro lado onde ia apanhar a rua que passava à frente da propriedade do meu tio Torrinha, duas ruas paralelas que delimitavam a zona mais povoada da vila.
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Na parte de cima ficava a escola, o Posto Administrativo, a casa e o moinho do Camaco, a propriedade do Zé Pio, um cego que indicava com a precisão possível o lugar de cada árvore, os castanheiros dos ouriços, o comércio do Abrunhosa, enfim…
Tempo que figurará sempre na minha memória, porque não é possível apagá-lo... A família Nóbrega era numerosa, e espalhava-se desde a fazenda de S. Januário, o Café para o fogo, a fazenda do Bartolomeu de Paiva junto dos eucaliptos. À entrada da vila havia um grande lago; recordações de hoje, como se as tivesse vivido ontem...
EDU
HUMPATA –Do tempo das carroças bóer…
Por
Ainda muito criança, quando a Europa era fustigada pelos efeitos devastadores da segunda grande guerra mundial, costumava o meu pai levar a família, uma vez por mês, no mínimo, à vila da Humpata, distante da cidade, cerca de vinte e dois quilómetros. Lá residiam os meus avós maternos, e grande parte da família. Os meus avós eram agricultores, e tinham também comércio tradicional, quer na vila, quer na Serra das Neves, para onde se deslocavam em carroça, tipo "bóer", puxada por uma junta de bois, e naquele lugar se mantinham isolados, no mínimo uma semana. Havia pessoal nativo, de confiança, que guardava a casa fechada, e algum gado, pois só com a presença dos meus avós é que se estabelecia contacto pessoal e comercial com a gente radicada naquele local.
Angola, distante do mundo de então, situada numa parta de África vista de uma forma própria do tempo e do afastamento existente da civilização, era uma terra difícil, doentia, com excepção das zonas planalticas, onde o clima era ameno e saudável, mas simultaneamente tranquila, onde reinava a paz e só se sabiam os horrores da guerra, pela B.B.C. através da voz do Fernando Pessa, uma vez por dia e cerca das nove da noite. Nessa época a gasolina era importada dos Estados Unido, em latas de cinco litros, ou tambores de cinquenta litros. Lembro-me, que à data, a carrinha do meu pai ainda nem tinha indicador, para se saber a quantia de gasolina, havia necessidade de mergulhar no depósito, uma vareta em madeira, com indicações espaçadas igualmente, que correspondiam a cinco litros. Por a gasolina ser racionada, embora na época as viaturas não fossem muitas a circular, recordo-me, de o meu pai, para a poupar, nas descidas fechar a ignição, deixar a viatura descer livremente, e depois meter a terceira ou segunda, consoante a necessidade, e voltar a colocar o motor em rotação. A caixa de velocidades, tinha unicamente primeira, segunda e terceira, além da marcha-atrás.
A estrada, de piso razoável, permitia uma boa média, embora lenta para não elevar o consumo. Era um sistema usado, mesmo em viagens mais longas, levando a viatura sempre uma ou duas latas de gasolina, para socorrer no caso de surgir qualquer emergência. Mas o automóvel dos meus amores de criança, foi uma "limusine" Nash, que antecedeu a carrinha Chevrolet, e que me causou um profundo desgosto ao ser vendida. O meu avô deslocava-se, quando tinha necessidade, a pé, da Humpata ao Lubango, e negava-se peremptoriamente a ser conduzido de automóvel, no regresso, porque segundo ele, quem tinha vindo a pé, podia regressar da mesma maneira. E quando o conheci, já não era novo...
Quantas histórias reais da vida, eu vivi neste meu ciclo já longo de vida. As transformações a que assisti, a evolução lenta ou rápida, o desenvolvimento da tecnologia que me permite hoje escrever num iPad algumas das imensas histórias que fizeram parte do nosso dia-a-dia, com a inerente saudade que acompanha a descrição disso...
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