Sexta-feira, 8 de Março de 2024
VIAGENS . 146

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3557 – 08.03.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

unita04.jpg Na percepção parcial das vitais contingências de que a vida é feita, encontraremos o rigoroso sentido do passado, por fortuitos efeitos que determinam o futuro próximo ou distante. Cada um de nós foi o que foi por uma coisa pequena, que sem se lembrar do primeiro choro, outros choros se lhe seguiram e, como um risco feito no chão, nem sempre se escolheu dedo ou arado, nem por onde fazer o rego que influiu na  mudança de nossas vidas. E, lembrando esse passado difícil de Jonas Savimbi e seu povo, algures nas matas do Moxico, relembra-se:

Nas margens do rio Cuíto, Savimbi enviou uma patrulha de batedores constituída por três homens, através da escuridão, para o local da travessia da noite anterior. Nenhuma das três emboscadas armadas pelo inimigo se situava ali, mas, apesar disso, Savimbi estava preocupado com o facto de  o resto da coluna poder cumprir estritamente as ordens dadas na noite anterior, de começarem a atravessar o rio, e de que fossem descobertos .

unita003.jpg Uma patrulha de dois homens vindos do outro lado, tinha atravessado o rio e estavam à espera um pouco mais a norte do local da travessia. A estes, foram-lhes transmitidas novas ordens no sentido de ser abandonada a ideia de atravessarem em massa: a coluna oriental deveria, em vez disso, tomar o rumo do norte, ao longo do rio Cuíto, em direcção à região do Bié e, reunir-se a quaisquer guerrilheiros da UNITA.

Que espalhassem a notícia entre a população de que Savimbi estava vivo e, organizassem a resistência. Todavia, se Mulato fosse encontrado, ele deveria tentar atravessar juntamente com mais vinte homens reunindo-se a Savimbi. Mulato acabou por ser encontrado por um grupo de buscas. Perdera-se ao seguir o rasto de antílopes que ele pensava serem os do grupo  de Vanguarda.

luua24.jpg Mulato, atravessou o rio e conseguiu juntar-se a Savimbi 24 horas depois. «Quando Mulato se reuniu a nós, elevou-se a moral dos homens», disse Savimbi. «Ele era o nosso companheiro de armas e, gostávamos muito dele. O facto de ele estar a salvo, permitia mantermos  os nossos planos inalterados». O grupo era agora formado por 250 homens.

Eram em sua maioria soldados, mas também havia quinze mulheres e dez homens civis, em grande parte, administradores experimentados. O tamanho reduzido da coluna do próprio Savimbi proporcionava certas vantagens. O grupo poderia assim, ser mais facilmente controlado, deixando rastos menos pronunciados e poderia movimentar-se mais habilmente para longe das zonas de maior perigo.

besanga2.jpg A carne proporcionada pelo gado abatido depressa acabou e, a velocidade da marcha abrandou transformando-se numa caminhada muito lenta. Ao fim de uma semana estavam todos tão fracos que Savimbi foi obrigado a fazer uma paragem. Em defesa da moral dos guerrilheiros, o contacto com os camponeses teria de ser restabelecido para se conseguir comida: o contacto era também necessário por razões politicas.

Foram por isso, enviadas patrulhas desde o local em que descansavam, bivacados  na mata, para tentar estabelecer os contactos com as aldeias. Todavia, esta área era esparsamente povoada e, porque os homens estavam muito debilitados, não o podiam por isso, patrulhar a zona a fundo e, não conseguindo encontrar povoados tão rápido como o seria desejável.

ÁFRICA10.jpg Havia pouca caça acessível mas, os guerrilheiros Tchokwes, que eram exímios caçadores há gerações, conseguiram matar um javali. A coluna, esfomeada, comeram não só a carne mas, também os ossos; estes foram fervidos proporcionando uma sopa rala com folhas comestíveis. Sopa de ossos que depois  de amolecidos e esmagados o fora bebida, com sofreguidão. A outra fonte de sustento eram bagas silvestres de cor vermelha  que após o serem apanhadas, eram cozidas, tirando-se-lhe a pele e seu interior que ere venenoso.  

Nota: - Com “transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:42
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Sexta-feira, 1 de Março de 2024
VIAGENS . 144

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3555 – 01.03.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI”Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

unita01.jpg Nesta marcha desesperante, eu branco, descrevo-a imaginando-me  a comer raspas de cascas de mandioca, o vai e vem na volta da contra volta,  já cansado de esganar a saudade, de esganar a traição, de esganar a mentira da descolonização, ela, esta coisa, deu-se conta e, sem enfado, muito pausadamente disse-me: - O seu azar, assim quase titubeando a verdade para não se ferir, o seu azar, notei a dificuldade de ir mais além; acenei-lhe assim-assim com o dedo indicador rodando, anda, desembucha! E, repete, o seu azar patrão… o seu azar foi ser um branco mazombo!  E, foi!

Na diáspora, prometi a mim mesmo não me enganar continuando a ser eu próprio peneirando as opiniões, gerindo silêncios e, mesmo estando naquele então no exterior de Angola, fiz trabalho fiel por quem acreditava ser o futuro em Angola. Saí da UNITA mas, ela continuou comigo recordando grandes nomes com quem tive o privilégio de lidar como Carlos Morgado, Kalakata, Alcides Sakala, José Kachiungo Marcial Dachala ou Adalberto Júnior entre tantos outros. Savimbi, o líder, sempre será visto em um leque alargado que vai do génio ao monstro mas, a UNITA foi mesmo seu grande legado: o da liberdade…

guerri3.jpg Mas lá,  às margens do Cuito, em Agosto de 76, Savimbi transmitiu ordens para que eles que ficaram na outra margem, se escondessem na mata; a travessia reiniciar-se-ia na noite seguinte. Foram lançadas granadas para dentro do rio para afastar os hipopótamos e, provavelmente, elas teriam sido ouvidas pelas patrulha inimigas.  Ele temia que os cubanos e o MPLA estivessem na área no dia a seguir.

Na margem ocidental, Savimbi conduziu seu próprio grupo desmembrado através da anhara, deixando atrás de si rastos bem visíveis no capim, coberto de pó e geada. Aqui, de noite, as temperaturas baixam do zero graus; os soldados não tinham fardas para mudar as calças ensopadas em água gelada. Os únicos cobertores que cada um levava também estavam molhados, que para além de serem frios, estavam rasgados. Qualquer um de nós, fica por esta real descrição feito uma pedra de gelo.

unita04.jpeg Assim foi! Muitos estavam enregelados depois de terem passado o pântano com as inerentes dificuldades do rio e, de tal forma que mal podiam falar. «Estavam exaustos, mal alimentados e tinham as faces encovadas». Savimbi continuava a marchar entre a  frente e  a retaguarda da coluna, exortando o povo a seguir em frente, com coragem, em direcção à mata , onde teriam de chegar antes do nascer do sol. Deu ordens à sua ordenança para dar suas roupas de reserva aos soldados mas, seus oficiais superiores esconderam dele um conjunto completo para seu próprio uso.

Savimbi calculara que a marcha através da anhara demoraria cerca de meia hora. Em verdade, demorou três horas, dadas as condições de fraqueza da coluna. Cerca das seis horas e trinta minutos da manhã, quando o sol começou a despontar, estavam ainda a meio do capim, pelo que tiveram de reunir forças extras para correr até à mata cerrada. Mais tarde, nessa mesma manhã, dois helicópteros de fabrico soviético MI-8, chegaram ao local aonde fora feita a travessia do rio Cuito.

piram3.jpg Pairaram a pouca altura do solo e, de cada um deles saltaram quinze a vinte militares cubanos. Felizmente, para a gente de Savimbi, o sol brilhava num céu sem nuvens, secando o gelo que anteriormente tornava bastante visíveis os rastos da UNITA através do capim. Era o dia três de Agosto de 1976 – Jonas Savimbi, um negro angolano, em tempo estudante de medicina na Universidade de Lisboa, licenciado pela Universidade de Lausanne, líder de guerrilha, sentava-se perto da margem esquerda do rio Cuito, no interior de Angola…

Estava-se no solstício de Inverno na África Austral, quando as temperaturas nocturnas  descem abaixo de zero. Savimbi, acalentava em seus braços, um adolescente guerrilheiro que delirava, morrendo de frio e exaustão depois de ter sofrido no corpo a tortura de uma  enregelante travessia do rio, que lhe tolhera os membros.  Não poderia existir maneira mais deprimente de o líder dos guerrilheiros celebrar o seu 42º aniversário… 

Nota: - “Transcrições parciais de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:52
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Terça-feira, 27 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 143

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3554 – 27.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

mucuisse.jpg Da singeleza de tudo, descrevendo o medo com vontade de viver, risco o  anseio feito odisseia nas desventuras medonhas de um povo seguindo seu líder. É Savimbi que traça suas argutas, astutas de ladinas, premonições para alcançar a liberdade através da “Longa Marcha”. Atravessando rios, charcos e pântanos com sanguessugas e muitas bichezas rastejantes, risco também e, deste modo, o chão das savanas pisadas pela fuga.

Ungindo sem regras no linguajar, revolucionárias só no pensar, despromovo-me num sonho que ainda sobrevive. Nesta vanguarda estética em que as futilidades suplantam o óbvio, passados quase 48 anos, dizer que desgostei ou o inverso disto, não faz parte do meu adeus à estória que inexoravelmente continua… «Podia ter ordenado a todos que continuassem; porém, queria verificar se o piloto tinha conseguido enviar qualquer mensagem pela rádio», recorda ele – Savimbi.

maun08.jpg «Se os cubanos não viessem, era certo que eles não sabiam onde tinha caído o helicóptero; neste caso, estávamos a salvo. Se eles viessem dentro de um curto espaço de tempo, então, é porque sabiam onde fora abatido o helicóptero e, nós saberíamos que eles estavam no nosso encalço com todos os meios de que dispunham, já amanhã». Ao fim de meia hora, os helicópteros chegaram e descobriram imediatamente, o local do desastre.

Sabendo que os helicópteros regressariam às primeiras luzes do dia a seguir, Savimbi ordenou uma rápida marcha nocturna em direcção a oeste. A densidade das matas dessa área dava vantagem aos guerrilheiros, mas estava demasiado escuro porque não havia luar. Por isso, Savimbi teve de ordenar uma paragem. Deu ordens a Ernesto Mulato que fosse à frente e dissesse à vanguarda das tropas para parar também e, assumir posições defensivas para a eventualidade de emboscadas.

ÁFRICA11.jpgA manada, cujo numero baixara para 12 cabeças, de um total inicial de sessenta, não avançou com os guerrilheiros para não se deixar um grande rasto. O boiadeiro, recebeu instruções para espalhar o gado numa frente ampla e, reunir-se mais tarde ao grupo de Savimbi. Após o descanso, Savimbi avançou com o grosso da coluna para se juntar à vanguarda. Mulato não estava lá e ninguém pareceu tê-lo visto. Savimbi ficou seriamente preocupado. Os cubanos poderiam chegar a qualquer momento e Mulato ficaria em perigo de ser capturado.

Isso era particularmente perigoso porque Savimbi tinha tomado a decisão apenas partilhada com N´Zau Puna, Chiwale  e Mulato, de abandonar a ideia de adoptar o Muyé como zona ideal para um futuro acampamento-base , em vez disso, estabelecê-la na área do Cuelei, a oeste de Serpa Pinto. Se Mulato fosse capturado seria logico pensar que seria torturado e, pressupunha-se que, eventualmente revelaria o segredo.

cubango4.jpg Savimbi decidiu avançar mais par oeste: não haveria alteração dos planos durante quatro dias, altura em que se saberia, ao certo, se Mulato se perdera ou não. Os batedores informariam se estavam a ser largados cubanos na retaguarda. Se assim fosse, então Savimbi, teria de concluir que Mulato fora capturado, precisando de traçar planos inteiramente novos. Mais um dia de marcha trouxe a coluna principal para a mata, podendo dali avistar a anhara, bordejando as margens  do Cuito.

Savimbi enviara um grupo avançado de três homens, em marcha muito rápida, para tentarem encontrar uma canoa que servisse para se fazer a travessia do rio com 400 metros de largura.  Existiam problemas, informaram eles. Apenas tinham encontrado uma canoa que poderia levar três pessoas; isto significava na prática que apenas duas pessoas poderiam ser transportadas de cada vez.

papalagui5.jpg Nas proximidades, a leste da margem do rio, existia uma área pantanosa profunda, com Ceca de 300 metros de extinção. Significaria também que o gado não poderia atravessar o rio… Savimbi ordenou que as doze cabeças fossem abatidas e cortadas em pedaços, de modo a que poessem ser transportadas. Estava-se no início de Agosto e, o gado fora a única fonte de alimento durante o último mês de Julho. As pessoas foram transportadas para a outra margem do rio Cuito durante toda a noite. Sucede que quando Savimbi ordenou uma paragem cerca das quatro horas da madrugada, muita gente do grupo estava ainda na margem leste. 

Nota: - Com “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:09
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Sexta-feira, 23 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 142

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3553 – 23.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

lua54.jpg Lá nas matas do Moxico  a “Longa Marcha com Savimbi”, prosseguia rumo a um futuro incerto, permanentemente atentos aos ruídos de helicópteros, escolhendo os melhores rumos de fuga. Quando a coluna se aproxima das margens do rio Gunde, um afluente do grande rio Cuito, todos se sentiram mais aliviados: o MPLA e os cubanos pareciam ter-lhes perdido o rasto e, não tinham avistado aviões desde o dia de partida.

Às margens do rio Gunde, tal como a maioria das margens dos rios angolanos, eram ladeados por anharas com capim de quatro metros de altura e, nalguns locais com 500 metros de extensão. Savimbi mandou parar a coluna na mata e enviou dez guerrilheiros através das faixas da anhara e, através do rio para se assegurar, que a margem ocidental era segura.

moxico2.jpg N´Zau Puna levou também consigo cinco homens através da anhara para a margem oriental a fim de encontrar qual o melhor ponto de passagem para a coluna. Foi quando se ouviu um helicóptero que se aproximava, vindo do sul. Savimbi ordenou de imediato a todos da coluna principal, para que se espalhassem sob as árvores. O grupo de N´Zau Puna começou a recuar da margem do rio para um pequeno grupo de árvores formando como que uma pequena ilha na anhara circundante e, a cerca de duzentos metros do Gunde.

Puna e dois dos seus homens conseguiram chegar às árvores antes do helicóptero pairar por cima de suas cabeças mas, os outros três estavam ainda em campo aberto. Foram localizados e, o helicóptero começou a metralhar a baixa altitude. Os três responderam com armas de fogo ligeiras, tiro tenso e, o helicóptero rodou descontrolado, caiu e explodiu  a cerca de três quilómetros mais adiante.

moxico4.jpg Da sua posição na mata, Savimbi observou o percurso da queda do aparelho. Voou para além dos três guerrilheiros que estavam parados, parecendo dali mergulhar em direcção ao solo, ergueu-se de novo para, em seguida precipitar-se em terra. Savimbi calculou que o piloto teria mantido controlo do helicóptero  até aos últimos instantes: por consequência; decerto teve o tempo suficiente para transmitir para a base, seu SOS.

Teria via rádio, dado a sua posição com outros breves detalhes sobre o que tinha acontecido. Dentro de pouco tempo outros helicópteros estariam no local. «Todos estavam confusos», recordou Savimbi  anos mais tarde. «cada qual davam ordens separadas». “voltem para trás”, dizia Chiwale. “Ide para norte, ao longo da margem do rio”, dizia N´Zau Puna. Eu disse que devíamos seguir em frente, nunca recuar, e ordenei a imediata travessia do rio.

mucuisse.jpg Tinhamos esperado encontrar uma pequena ponte de madeira para pedestres, tipo daquelas que são construídas pelos caçadores locais. Agora não havia tempo a perder. Disse às pessoas que atravessassem em qualquer lugar. «Mergulharam nas águas até o pescoço e, minha mulher, perdeu os sapatos no rio». Tendo atravessado o Gunde, a coluna de Savimbi agora com 350 pessoas, atingiu a mata mais densa a quilómetro e meio para além da anhara. Ordenou a todos que parassem um pouco, dentro dos limites da mata.

Todos nós vivemos em um país, é um facto! É a partir da singularidade legal de uma nação, suas características peculiares e sua identidade conforme a lei que surge o conceito de soberania. Os componentes desta grande marcha buscavam isso! Sua singularidade. Ter uma nação com símbolos próprios com os órgãos instituídos que representassem a sua Nação; com dificuldade, posso imaginar um tal acto de resiliência a pensar numa soberania, visar ter uma identidade naquele espaço no meio do nada, um manto verde onde e aonde, encontrar dois habitantes, já o é: um milagre…

Nota: - “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:43
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Quarta-feira, 21 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 141

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3552 – 21.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI”Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

nasc3.jpgEnquanto transcrevo a “Longa Marcha de Savimbi”  na Luanda de então, a vida mantinha-se claustrofóbica, periclitante e sem saídas fáceis para a província; os corredores aéreos encontravam-se ameaçados. Iam abrindo lojas de kinguilas nos muros de quintais, o trânsito ia ficando já com algum parque automóvel moderno e caro, também muito mais caótico. O  contraste da “cidade capital e o musseque” iam ficando entre o abandono e a  deterioração com amontoados de chapas de zinco e placas ratadas de fibrocimento.

Ainda se podia visualizar entrelaçadas com velhas portas arrancadas de um qualquer armazém as aduelas de barris de vinho “Camilo Alves” idos do M´Puto e até latas espalmadas de azeite galo ou, latas das grandes de  tinta pintal, com ripas de madeira das antigas caixas de sardinha ou atum  importadas de  Portimão do M´Puto. No centro da Luua as caixas de elevadores dos prédios mais antigos, iam ficando atulhados de lixo vasculhado por gatos e ratos com  o mau cheiro inerente…

luanda6.jpg As ruas da baixa da Luua iam ficavam envoltas em nuvens de fumo com cheiro intenso de gasóleo queimado saído dos escapes de geradores construídos a partir de velhos motores de GMCês, Magiros e Fordes e outras ainda não seleccionados pelos cubanos para levar para Cuba; assim, património como coisas de “tecnologia de ponta”, assim consideradas lá na ilha – troféus de guerra para o Fidel. Esta guerra de Angola que nos era servida, não se diferenciava das atrocidades do Corno de África ou das escaramuças do Iraque.

Mas, lá nas matas do Moxico  a “Longa Marcha” continuava com seu líder – o melhor chefe de guerrilha em África. Enquanto Savimbi instruía seus oficiais, o condutor de gado reapareceu como por milagre com a manada de rezes. Savimbi, mandou-o directamente em direcção a sudoeste, caminho que ele pensava seguir com a sua própria coluna. Quando tudo ficou pronto, Savimbi ordenou às colunas de Samalambo e Chimbijika que partissem: a primeira para nordeste e a segunda para noroeste.

Cubango1.jpg Cerca de quatro horas e trinta minutos da manhã, ambas as colunas e toda a gente da coluna de Savimbi, excepto o próprio Savimbi e os cinquenta homens que constituíam a sua retaguarda, tinham partido; a seguir, ele ordenou à retaguarda que também partisse. A coluna de Savimbi não parou de andar até às três horas e trinta minutos da tarde para um descanso, mas já ao romper de um novo dia, os caminhantes ouviram explosões  e  tiroteio na direcção do local de onde tinham descansado na mata.

Os batedores disseram que os cubanos tinham sobrevoado o local, fazendo disparos de metralhadora dos helicópteros. Decididamente, mais tarde os cubanos informaram dirigirem as suas buscas em direcção às colunas de engodo. O resultado do desencontro com o MPLA e os cubanos, resultou no desmembrar a coluna original de Savimbi em cinco grupos. As crianças, as mulheres e a sua  escolta de guerrilheiros permaneceram sem o serem detectados ou molestados durante várias semanas, na que ficou sendo a “aldeia segura” porque nunca o foi visitada por tropas inimigas.

cubango2.jpg O grupo de Chivinga formada por cinquenta pessoas, manteve imobilizadas as tropas do MPLA, precisamente a norte de Chissima; durante várias horas e, até Chivinga ter sido ferido numa coxa: Em consequência disso dispensaram levando o comandante mas, não conseguiram reunir-se às colunas principais, nem mesmo com a coluna das crianças e mulheres. Só meses depois é que Savimbi recebeu mensagens de que as mulheres, as crenças e Chivinga com seus homens, estavam a salvo.

Quanto ao major Samalambo e ao capitão Chimbijika, estes, conduziram as suas colunas de forma segura para longe do perigo. Durante uma semana, a coluna de Savimbi não enfrentou problemas, excepto quando da travessia atribulada do rio Cuanavale: aí, eles tiveram de derrubar várias árvores para construir uma jangada que os ajudou a atravessar o canal de águas profundas. Isto, deixou-os expostos em campo aberto, durante algumas horas, mas o inimigo não apareceu. Aqui chegados direi (do relator): que a logística do MPLA já nesta fase, alegava ser o dono da história seguindo subserviente à mentirosa versão russa.  Isto iria continuar sem se vislumbrar um sine die, com revolta musculada de todo o mundo democrático ocidental – eternas fragilidades das democracias…

Nota: -  Com “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:55
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Domingo, 18 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 140

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3551 – 18.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

moxico1.jpg Entretanto recorda-se (Via Wikipédia): O Presidente da Guiné-Conacri, Ahmed Sékou Touré, foi quem fez a proposição de reconhecimento da RPA na reunião da Organização da Unidade Africana (OUA) de 10 de janeiro de 1976 em Adis Abeba. A 11 de Fevereiro de 1976, a OUA, então presidida pelo Presidente do Uganda Idi Amin Dada, reconheceu a RPA como legítimo governo de Angola, aceitando-o como o 47º. membro da organização.

O General Kamalata Numa da UNITA anos mais tarde em resposta a uma pergunta esclarece ter  havido actuação de tropas congolesas ao lado das tropas ditas regulares do MPLA: - É verdade! À coligação MPLA/cubanos juntam-se tropas congolesas com um total aproximado de 10 batalhões que passam a actuar no Centro/Sul de Angola…

moxico01.jpg Continuando com a descrição do que foi a grande marcha de Savimbi e, ainda muito longe do seu termo, a coberto da escuridão, Savimbi dividiu em três grupos inteiramente novos, os seus próprios seguidores, os de Samalambo e os do capitão Chimbijika, que os oficiais de Savimbi descobriram ter montado uma base da UNITA com 100 guerrilheiros. Cada um dos grupos partiria durante a noite em direcções diferentes.   

Esperavam iludir os pisteiros do MPLA, levando-os a acreditar de que a maior coluna, a de Samalambo, era a que protegia o líder Saviambi. Os três grupos tomaram o rumo das matas mais densas, afastados tanto quanto possível das margens dos rios, estradas e povoações. Os oficiais de Savimbi observaram  que os cubanos patrulhavam regularmente ao longo do curso dos rios e das estradas, na sua busca pelos homens da UNITA. Aventuravam-se pouco nas zonas de matas que se estendiam pelas áreas rurais e, com as quais, só os guerrilheiros  da UNITA estavam familiarizados.

moxico2.jpg Às  primeiras horas da noite, homens e equipamentos movimentaram-se  para cá e para lá, entre os três grupos, através dos muxitos das matas. Savimbi transferiu o seu rádio e operador para Samalambo, que poderia vir a precisar mais deles: ele deveria dirigir-se a uma área sob muito maior controlo por parte do inimigo e estabelecer uma base da UNITA perto do Caminho de Ferro de Benguela.

Savimbi disse aos seus guerrilheiros que dormissem, porém, passou a noite a dar instruções aos oficiais superiores das três colunas. Ele disse: «Como homens do exército, poderiam querer desesperadamente combater o inimigo. Em vez disso, porém, tinham de com firmeza e depressa actuarem, afastando-se do problema». Para conseguirem  o que se propunha, teriam de conciliar a necessidade de uma rigorosa obediência por parte de seus homens, com a capacidade de lhes demonstra  compreensão numa situação de desespero.

moxico5.jpg Foi bem peremptório ao dizer-lhes que existiam razões de sobra para terem  esperança. O inimigo mostrava que a sua estratégia era fraca. Estavam a actuar como estranhos: Não conheciam o terreno nem tinham o apoio da população, pois, de outra forma, nessa altura já Savimbi teria sido capturado. Estava bem claro, agora, para os oficiais, que a população estava com a UNITA. E Savimbi disse-nos: «Se o povo não desiste, porque razão desistiria eu?».

Nesse mesmo ano, após um veto por parte dos Estados Unidos, a Assembleia Geral das Nações Unidas admitiria Angola como membro 146º, em 1 de dezembro de 1976. Mesmo reconhecendo a independência angolana deste 10 de Novembro de 1975, o Governo Português somente reconheceu a autoridade do MPLA, sob o comando do Presidente de Angola Agostinho Neto a 22 de dezembro de 1976.

Nota: - “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:39
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Sexta-feira, 16 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 139

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3550 – 16.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” – Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

Acácia rubra1.jpg ( Na mata…) Ao Longo da Caminhada Surge a Senhora Vinona que pressentia que a qualquer momento a caravana da UNITA poderia ser atacada não escondendo seu pensamento. «Sinto que vamos ser atacados», disse ela a Savimbi. A voz de Vinona não era uma voz que se pudesse ignorar. Era uma mulher decidida, de poucas palavras, capaz de mobilizar e disciplinar outras mulheres com o seu exemplo. «Savimbi, porém, não lhe concedia privilégios especiais nem se dirigia de maneira diferente à própria mulher. Ela era apenas uma pessoa mais, na coluna».

Savimbi chamou N'Zau Puna e Chiwale e falou-lhes sobre o aviso que Vinona lhe fizera. Savimbi não ignorou completamente aqueles pressentimentos: «É verdade, quando se está há muito tempo numa guerra de guerrilha desenvolve-se um discernimento instintivo, um sentimento de que, vai ou não haver um ataque».

zem4.jpg Não obstante, Vinona insistiu que tencionava partir e juntar-se aos filhos, enquanto os pais chegavam da sua aldeia natal para saudarem a filha e o genro. Vinona pediu a Savimbi para vir falar-lhes, antes de regressarem a casa. Savimbi mal tivera tempo de dizer adeus aos sogros, quando Chivinga voltou para trás a correr, com notícias de que tinham sofrido uma emboscada, por parte das tropas do MPLA, justamente a norte de Chissimba.

Fora capturado um guerrilheiro da UNITA e era virtualmente certo admitir por parte da força conjunta MPLA/cubanos, que Savimbi estaria por perto. «Dificilmente acreditei que fosse possível a presença do MPLA», afirmou Savimbi. «Todavia, a minha mulher tinha tido razão na sua insistência por isso, dei imediatamente ordens para partir». A coluna mal podia dirigir-se para sul, na direcção do local da emboscada.

zem3.jpg Não ousavam voltar para norte e qualquer retirada em direcção a leste estava bloqueada Quembo. Só lhes restava tomar o rumo oeste, atravessando uma vasta área de cultivo com dois quilómetros de extensão, zona desbastada de árvores. Savimbi reforçou o grupo de Chivinga elevando-a para cinquenta homens enviando-o rumo ao sul para Chissimba de modo a aguentar o MPLA, enquanto fosse possível. Cerca de meia hora depois de Chivinga ter partido, começou a cair fogo de morteiros e rochets no local aonde Savimbi se encontrava.

Por via disto, Savimbi ordenou ao seu grupo que também partisse. Apenas tinham travessado a área cultivada e atingido a mata quando, à distância, apareceram dois helicópteros. «Assumi pessoalmente o comando porque compreendi que estávamos perante uma situação muito grave», disse ele. Mandei que todos se deitassem no chão. Disse que ninguém mais daria ordens, fosse em que circunstâncias  fosse, nem mesmo N´Zau Puna ou Chiwale. Não queria confusões».

zem2.jpg Havia um posto avançado de guerrilheiros da UNITA acerca de dois quilómetros para Norte do local onde estavam escondidos e aonde Savimbi queria chegar. Eram necessários suprimentos de comida para a fuga e, ele, estava agora a planear com base em informações recentes trazidas por mensageiros: No posto avançado, tinham reunido grandes stocks de carne seca de antílope. Savimbi conduziu o seu grupo mais para o interior da mata e mandou oficiais com instruções para o comandante do posto avançado, major Samalambo.

Quando descansava durante o dia, o povo de Savimbi avistou helicópteros movimentando-se de Chissima em direcção à posição de Samalambo e já quase ao anoitecer, chegaram noticias alarmantes. Um mensageiro de entre os oficiais que tinham sido enviados até Samalambo, disse que um helicóptero o tinha sobrevoado, quando se deslocavam em terreno aberto: estavam certos de terem sido localizados. Não havia tempo a perder.  A estratégia delineada para confundir o MPLA e os cubanos, tinha de estar concluída ainda antes da noite acabar…

Nota: - “Transcrições de Fred Bridgland em “Jonas Savimbi: Uma Chave para África”.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:31
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Terça-feira, 13 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 138

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3549 – 13.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI”Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

valdir5.jpg (…) Em Gago Coutinho - Algumas pessoas ficaram terrivelmente feridas nos ataques, mas, milagrosamente, ninguém morreu. Nessa noite, já tarde, a coluna de Savimbi chegou ao Sessa, um pequeno centro florestal... Aí, Savimbi continuou a mandar dispersar o povo, tal como já havia começado na manhã desse dia, ao enviar 150 soldados e três camiões, de Gago Coutinho para Sul, a fim de organizar um comando regional no Ninda.

A partir do Sessa, Savimbi enviou 1.750 soldados, afim de se prepararem para a guerra de guerrilha dali em diante, para Norte, na direcção do Caminho de Ferro de Benguela. Disse-lhes que tentassem paralisar as estradas, armando emboscadas. Acima de tudo, porém, eles tinham de mostrar à população que a UNITA era capaz de desencadear, de novo, a guerra de guerrilha.

kifangondo 1.jpeg Alguns guerrilheiros foram mandados para trás, de volta a Gago Coutinho, para mobilizar a população rural das redondezas. Um grupo de cerca de 200, sob o comando do tenente-coronel Smart Chata, foi enviado com rumo ao Sul, para o Muié, a 70 quilómetros de distância, a fim de explorar a possibilidade de instalação de uma base na região, em alternativa à que estava sob o comando de N'Zau Puna, nos arredores de Serpa Pinto.

A 15 de Março, Savimbi ordenou que os veículos fossem regados com gasolina e incendiados, ignorando os apelos de alguns guerrilheiros que sugeriam que fossem escondidos para uso futuro. Savimbi estava perfeitamente consciente de que, durante muito tempo ainda, o seu exército teria de confiar inteiramente nos próprios pés.

valdir2.jpg A mudança de posição dos guerrilheiros demorou dez dias. A 24 de Março, Savimbi estava pronto para partir e a sua coluna, que deixou o Sessa a pé, era constituída por cerca de 2.000 resistentes. Uns 600 guerrilheiros e o resto civis, incluindo mulheres e crianças, alguns pastores protestantes africanos e três padres católicos....

Os primeiros dias de marcha através de morros arborizados, aparentemente sem fim, foram extenuantes. Bem depressa alguns dos caminhantes queriam abandonar tudo e Savimbi fez-lhes uma prelecção acerca da necessidade de escolherem o essencial e conservá-lo. Cada guerrilheiro transportava, pelo menos, duas armas e as respectivas munições, bem como o equipamento pessoal e alimentos, que incluíam fuba, feijão e algumas quantidades de carne e peixe enlatados.

guerra22.jpg Depois de duas semanas de marcha, a coluna foi localizada, quando atravessava uma estrada de terra batida, por uma patrulha de quatro homens do MPLA, que logo se retirou. Savimbi sabia, agora, que teria de forçar a marcha, porque os soldados do MPLA voltariam com reforços. Primeiro, porém, permitiu que a coluna descansasse numa aldeia abandonada, onde todos comeram mandioca que ali estava armazenada.

O MPLA, porém, voltou ao fim de meia hora, com uma força de 150 homens, cortando a rectaguarda à UNITA, que teve de retirar, só voltando a reunir-se a Savimbi muitas semanas depois. No momento em que o MPLA encontrou os piquetes da UNITA, Savimbi dividiu a coluna e o MPLA foi expulso da picada, após um breve tiroteio, durante o qual ninguém ficou ferido. Savimbi sabia, agora, que teria de forçar a marcha, porque os soldados do MPLA voltariam com reforços.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:54
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Domingo, 11 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 137

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3548 – 11.02.2024

 “A LONGA MARCHA  COM SAVIMBI” Segundo Fred Bridgland

- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

selos1.jpg Continuando a descrição de Fred Bridgland, a coluna de Savimbi parou, de noite, durante um curto espaço de tempo na pequena povoação de Lucusse, a 135 quilómetros de distância do Luso. Como a estrada para Gago Coutinho era também a estrada para a Zâmbia, Savimbi ficou preocupado com o facto de muitas pessoas poderem pensar que estava a abandonar Angola, a caminho do exílio. «A população estava em pânico».

Fiquei atónito ao verificar como o Presidente lhes conseguia transmitir a sua confiança e organizar uma evacuação calma. «Disse-lhes que não ia deixar Angola e que ia para as matas continuar a combater». Savimbi chegou a Gago Coutinho na tarde do dia 11 de Fevereiro, depois de ter atravessado cerca de doze grandes afluentes do rio Zambeze, que corria para leste. Até ser obrigado pelos cubanos a sair dali, um mês mais tarde, Savimbi utilizou o tempo que passou em Gago Coutinho para se reorganizar.

tukya13.jpg Mandou soldados voltar para trás, na direcção do Luso, para destruírem todas as pontes de estrada, mas com ordem para deixarem cada uma delas intacta até ao último instante possível, antes de os cubanos avançarem. A população local, em fuga para o Sul, tinha de ter tempo suficiente para atravessar os rios. O dia 13 de Março de 1976 marcou o décimo aniversário da fundação oficial da UNITA.

A população começou a reunir-se no campo de futebol da Escola, em Gago Coutinho, para assistir a uma parada e ouvir um discurso comemorativo proferido por Savimbi que, ao pequeno-almoço, dissera aos seus ajudantes mais antigos que a localidade seria eventualmente bombardeada e que, em consequência disso, eles deveriam preparar-se para dar inicio à evacuação.

tuiui3.jpg Às 10 horas da manhã desse mesmo dia, pouco tempo depois de terem terminado as celebrações do aniversário, os caças MIG-21 atacaram. No primeiro ataque, três aviões bombardearam e metralharam a última ponte do rio que ainda estava intacta, 35 quilómetros a norte de Gago Coutinho. Alguns dos guerrilheiros que estavam de guarda à ponte sobre o rio Luanguinga foram mortos e outros ficaram feridos. O segundo ataque dos MIG foi contra o campo de aviação de Gago Coutinho.

Um pouco antes do pôr-do-sol, os dois aviões MIG sobreviventes voltaram a bombardear as casas de Gago Coutinho. Ninguém ficou ferido, mas Savimbi ordenou os preparativos para uma evacuação completa no dia seguinte, 14 de Março. Ao nascer do sol do dia 14 de Março, uma coluna da UNITA, agora  formada por 4.000 guerrilheiros e civis, iniciou a caminhada, abandonando Gago Coutinho.

lifune01.jpg Embora a segurança da fronteira zambiana se situasse apenas a 70 quilómetros para leste, o povo de Savimbi tomou o rumo do oeste, em direcção ao interior de Angola. A evacuação continuou durante todo o dia: os peritos em explosivos ficaram para trás, para dinamitar alguns edifícios-chave. Savimbi levou consigo três camiões e cinco carros.

Os caças MIG desviavam agora a sua atenção, metralhando a coluna. Os condutores dos veículos mantinham as portas dos carros abertas, à medida que avançavam lentamente, e, sempre que ouviam o ruído dos aviões, levavam os carros para a sombra das matas que ladeavam a estrada. Depois de os MIG voltarem à base, os condutores voltavam à estrada, com os veículos grosseiramente camuflados com ramos de árvores, para se distanciarem suficientemente antes do próximo ataque.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:49
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Quinta-feira, 8 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 136

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3547 – 08.02.2024

O 11 de Novembro de 1975 no Huambo” - “A LONGA MARCHA” 

- Escritos boligrafados da minha mochila, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

unita1.jpg Proclamação de Independência paralela – No Ambriz e Huambo, Holden Roberto, líder da FNLA, proclamava a Independência da República Popular Democrática de Angola (RPDA) à meia-noite do dia 11 de Novembro, no Ambriz. Nesse mesmo dia, a independência da RPDA foi também proclamada em Huambo, por Jonas Savimbi, líder da UNITA.

Reconhecimento internacional e consequências das 3 prolamações: Logo depois das três declaração da independência em Luanda, Ambriz e Huambo, reiniciou-se a Guerra Civil Angolana (que já estava em curso desde Fevereiro de 1975) entre os três movimentos, uma vez que a FNLA e, sobretudo, a UNITA não se conformaram nem com a sua derrota militar nem com a sua exclusão do sistema político.

mocanda32.jpg Uma parte considerável da população rural, especialmente a do Planalto Central e de algumas regiões do leste, fugiu para as cidades ou para outras regiões, inclusive países vizinhos. Em Fevereiro de 1976, deparamos com o rápido avanço do MPLA com cubanos para a tomada do Lobito, Benguela e Huambo à UNITA a sul e, a norte o Soyo, a antigo Santo António do Zaire sob a alçada da FNLA.

A seguir, o Comité Político da UNITA abandona Huambo e inicia a retirada para Sudeste. Savimbi inicia, juntamente com duas mil pessoas, aquilo a que se veio a chamar a “Longa Marcha”. O líder da UNITA, Jonas Savimbi, viria a atingir o Cuelei só a 28 de Agosto, milhares de quilómetros percorridos, apenas com 79 resistentes.

unita2.jpg Lendo Fred Bridgland, este, conta o que a seguir se trancreve com a devida vénia de algumas passagens do que foi  “A Longa Marcha de Jonas Savimbi...”. Tudo começa a 8 de Fevereiro de 1976. Aconteceu quando as colunas blindadas de cubanos entraram no Huambo, o quartel-general político da UNITA, durante os seis meses anteriores.

Com a ocupação do Huambo, a vitória fora, virtualmente, completa para os cubanos e o MPLA. No dia seguinte, Savimbi abandonou o seu quartel-general no Bié e voou em direcção ao Leste, para o Luso... Ao principio da tarde do dia 10 de Fevereiro, o capitão “Bock” Sapalalo ouviu os camiões cubanos e do MPLA que se aproximavam da última ponte a norte do Luso...

unitao1.jpeg Alcides Sakala

Savimbi dormia, pela primeira vez em 70 horas, quando as primeiras bombas explodiram no Luso, às 4 da tarde. Foi acordado do seu sono profundo por Chiwale. A população estava em pânico. Savimbi convocou rapidamente uma reunião para lhes dizer que a UNITA iria retirar e organizar uma nova guerra de guerrilha.

Meia hora depois de terem caído os primeiros morteiros, três aviões MIG bombardearam violentamente a cidade tendo morrido cerca de 50 pessoas. Imediatamente após o ataque aéreo, foi ordenada a evacuação do Luso. Cerca das 5 horas e 15 minutos da tarde, os primeiros veículos da UNITA abandonavam a cidade: na coluna de carros diversos e Land-Rover seguiam cerca de 1000 guerrilheiros que Chiwale conseguira reunir. Alguns milhares de civis, com os seus haveres, seguiam pelas bermas da estrada. O cortejo tomou o rumo sul, em direcção a Gago Coutinho, que distava dali cerca de 350 quilómetros.

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:48
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Quinta-feira, 1 de Fevereiro de 2024
VIAGENS . 134

NAS FRINCHAS DO TEMPO

- Crónica 3545 -01.02.2024 ::: A CARAVANA.6 – A FUGA

- Escritos boligrafados da minha mochila, aleatoriamente após 1975

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

fui.jpeg Continuamos com a descrição de Sonia Zaghetto: Em menos de um mês casei três vezes. Felizmente, com o mesmo homem. E assim deixei minha terra - Angola. Um ano na África do Sul foi suficiente para sabermos que lá não era o nosso lugar. Além da cultura muito diferente, começavam a ocorrer ali os mesmos episódios violentos que havíamos testemunhado em Angola. Decidimos mudar.

Escolhemos o Brasil, país que desde minha pré-adolescência eu sonhava conhecer. Partimos para Portugal a fim de cuidar da burocracia. No dia 7 de Fevereiro de 1977 zarpamos num navio italiano rumo a Santos, onde desembarcamos dez dias depois. Eu estava com seis meses de gravidez. A imensa maioria dos brasileiros nos recebeu de braços abertos, principalmente as pessoas mais humildes.

fumo de caricoco.jpg Alguns, mais abastados, nos tratavam friamente, mas nunca fomos hostilizados. Aos poucos aprendi a amar a terra nova, a querê-la a ponto de ficar amuada quando falam mal dela. Percorri este Brasil quase todo, conheci cada lugar que nem tens idéia, senhor. Andei por picadas, atravessei pontes que eram apenas duas tábuas paralelas, morrendo de medo que elas quebrassem e o carro despencasse.

Comi queijo de coalho em casebres de gente muito simples e coração enorme. Ah, senhor, que país maravilhoso é esse teu Brasil! Descasei, casei de novo. Quando a  saudade dava botes sobre a gente, o Walter fazia a muamba. Comprava cachos de dendê e tirava o óleo em casa mesmo. Era o único jeito de ficar igualzinho ao de Angola. Aqui as frutas são praticamente as mesmas que tínhamos, a temperatura  e as praias também, mas não é a minha casa, entendes senhor?

chai4.jpgAqui eu me sinto bem, mas falta o cheiro da minha terra, falta o cacimbo e a silhueta única do imbondeiro em meio à névoa. Há uma ausência que não consigo definir. Tudo tão igual, mas ao mesmo tempo  diferente. Talvez a gente seja mesmo filho de nosso chão, não sei. Parece que nesta paisagem familiar falta a alma da minha terra, a casa que posso realmente chamar de minha.

Eis-me aqui, senhor, aos 60 anos, com três filhos e dois netos brasileiros. Sou feliz, bem sabes, mas a saudade é bicho traiçoeiro: quando a gente menos espera, ela surge, arrepiando a pele, cravando as unhas na carne, abrindo ocos no peito. Recolho então minhas lembranças, as músicas e fotos de minha terra, e choro mansamente! 

luis33.jpg Angola ainda vive em mim. Como tatuagem de alma…  O relacto de Sonia chega ao fim deste modo e eu T´Chingange, na qualidade de relator, ouso dizer que muitos mais estórias houve nesta odisseia, fuga de Angola. A partir do dia 11 de Novembro de 1975, dia da independência de Angola, mais de 30 países envolveram-se na longa guerra civil que se seguiu, apoiando ao nível logístico e em equipamentos os três movimentos.

A União Soviética e Cuba aproveitaram o momento - a saída de Portugal (as últimas tropas - NT, chegam a Lisboa a 23 de Novembro de 1975) e situação de fragilidade dos EUA, para aumentarem o seu apoio ao MPLA. Pela frente iriam encontrar a ajuda do Zaire e da África do Sul que não queriam ficar para trás no processo de descolonização de Angola.

(Continua…)

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:40
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Terça-feira, 30 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 133

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3544 -30.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

A CARAVANA.5A FUGA - Escritos boligrafados da minha mochila

- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

Namibia31.jpg Continuamos com a descrição de Sonia Zaghetto: Eu e minha mãe fomos para casa de um casal idoso que nos acolheu com uma refeição quente, um banho e uma cama quentinhos. Estava tanto frio. Pela manhã, logo depois do café, nos levaram à loja da filha deles, onde já estavam a minha futura cunhada e sogra. Disseram para escolhermos as roupas que quiséssemos.  Nesse dia fiz as pazes com Deus.

Aquelas pessoas me apresentaram o outro lado da humanidade, feita de bondade com quem está refém da tragédia. Só podiam ser emissários do Divino, anjos perdidos no interior da África. Em Tsumeb, um novo acampamento, as mesmas barracas de campanha. Mas a comida era melhor, assim como o tratamento que recebíamos. Ficamos pouco tempo.

okavango 01.jpeg Conseguimos ser aprovados na seleção, graças a meu futuro cunhado e por eu ter começado a servir como intérprete. Benditas aulas de inglês. Mudamos de campo outra vez. Fomos para Grootfontein, mais próximo a Pretória. O campo    era um presidio que estava sendo desativado.

Restavam lá uns 3 ou 4 presos, todos idosos. O presidio era formado por várias casernas e eles nos separaram. Tinhamos refeitório com mesa e bancos, e a comida era surpreendente. Imagine, senhor, que comemos até sobremesa de maçã caramelada no forno. É que os presos eram os cozinheiros. Fiz amizade com um deles. Tinha 65 anos e estava preso há 30 pelo assassinato da esposa num acesso de  ciúme. A filha não o visitava.

okavango3.jpeg Depois que saí do campo e ele da prisão, fui à casa dele. Era um homem gentil – como pudera fazer aquilo? Mistérios do coração humano que jamais saberei. Continuei sendo intérprete junto à assistente social e ao director do campo. Meu futuro cunhado arrumou emprego numa fazenda. Meu namorado logo sairia, mas eu era menor de idade e não poderia deixar o campo.

Estava dificil para minha mãe. Ir para Portugal estava fora de questão, dado o desprezo com que nos tratavam. Eu e Zé decidimos casar. Minha mãe passou a ser minha responsabilidade (acredita que até hoje ela fica muito zangada quando lembra disso?). E assim, no dia 6 de novembro de 1975, casei dentro de um presidio que funcionava como campo de refugiados. O diretor e a assistente social foram nossos padrinhos.

quitandeira5.jpg Os soldados que tomavam conta do campo fizeram uma cotinha (vaquinha) e pagaram a nossa festa e a lua de mel num hotel na cidade. O casório teve bolo, vestido de noiva e tudo, viu? O Jeep do exército nos levou ao hotel. Os soldados ficaram dentro do Jeep vigiando para que não fugíssemos. De madrugada, acordei com dor de ouvido.

Na recepção não havia remédios, as farmácias só vendiam medicação com receita. Os soldados me levaram para o hospital, onde fui atendida. Ao voltarmos para o campo, os soldados contaram para todo mundo a aventura. Não escapamos à gozação geral: “Nem os ouvidos poupaste à miúda, Zé?” Casada pelas leis sul africanas, no dia 11 de Novembro casei na Igreja e duas semanas depois casei novamente no consulado português.

(Continua…)

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:36
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Domingo, 28 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 132

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3543 -28.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

A CARAVANA.4 – A FUGA - Escritos boligrafados da minha mochila

- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

cluny1.jpg Aprendi, nessa época, que tudo o que está ruim pode piorar. Minha familia deixou Nova Lisboa, assim como meu namorado e a mãe dele. Eu fiquei. Aguardava minha mãe, que tentava sair de Luanda. De repente me vi  sozinha, aos 16 anos, num país que se esfacelava e numa cidade em que os grupos guerrilheiros se enfrentavam para dominar o território. Agora havia tiroteios em toda parte. Passei a morar na sede da Cruz Vermelha.

Finalmente minha mãe chegou e conseguimos uma carona para Sá da Bandeira, mais ao sul. Fomos de camião, minha mãe na boleia com o motorista e a esposa dele; eu e os filhos dele no meio da carga de batata. Até hoje, meu senhor, o cheiro de batata me agonia. É cheiro de fuga, de desesperança e perda. Em Sá da Bandeira reencontramos meu namorado e a familia dele, com quem tinhamos combinado sair de Angola. A confusão era enorme.

fuga001.jpg Gente andando de um lado pro outro, tentando encontrar familiares ou arrumar um jeito de sair dali, gente sem um centavo até para comprar água. Faltava comida, além de esperança. Não lembro exatamente da data em que finalmente saímos em caravana (onze carros e um camião) à noite pelo meio da mata, com destino à fronteira com a África do Sul. Sei que era início de Agosto. Durante a viagem encontramos duas patrulhas de guerrilheiros.

A primeira foi mais tranquila, aceitaram o suborno de cigarros. Já a segunda foi apavorante: queriam nos prender de qualquer jeito. Segundo eles, éramos ladrões das riquezas de Angola. Todo aquele zelo patriótico não resistiu à propina. Além de cigarros e bebida alcoólica, demos dinheiro para que nos deixassem seguir.  O sol começava a nascer quando encontramos uma coluna do exército da África do Sul.

etosha1.jpg Ainda estávamos em território angolano, a cerca de 10 quilômetros da fronteira, mas eles nos escoltaram até um campo de refugiados já em território sul-africano. Foi o primeiro campo em que ficamos. Eu sentia  raiva, meu senhor. Muita raiva! Uma revolta surda contra os brancos portugueses de Portugal, que nos exploraram durante séculos e agora nos viravam as costas dizendo que éramos brancos de segunda classe.

Revolta contra os negros, por acharem que a diferença na cor das nossas peles fazia que fôssemos diferentes deles. Éramos todos angolanos, mas apenas nós estávamos sendo expulsos de nossa terra e não tínhamos para onde ir. O acampamento era feito de barracas de campanha. Sabes como é, senhor, aquelas barracas verdes do exército? Na nossa barraca dormiam seis adultos e duas crianças.

namib5.jpg Cada um recebia um um cobertor e três refeições por dia. Comida pouca, ninguém ficava saciado, mas matava a fome. Estávamos agradecidos, pois os sul-africanos faziam mais por nós do que o governo de Portugal. Esse acampamento – destinado a angolanos e moçambicanos – era um local de filtragem. A alguns era vedada a possibilidade de ficar no país. Esses eram logo encaminhados ao grupo consular português e enviados ao aeroporto, onde aviões da África do Sul os levavam para Portugal. Outros eram mandados a outros campos de refugiados.

Nós, graças a meu futuro cunhado, que era engenheiro agrícola e já tinha uma promessa de emprego, fomos para outro campo. Escoltados por uma coluna do exército, seguimos para Tsumeb. Na estrada para Windhoek, havia uma cidadezinha. Avistamos gente nos esperando. Abordaram o oficial do exército que nos conduzia e pediram para nos dar abrigo naquela noite. Desconhecidos encharcados de solidariedade, que queriam nos oferecer o alimento mais precioso, esperança…

(Continua…)

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:38
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Quinta-feira, 25 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 131

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3542 -25.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

A CARAVANA.3 A FUGA - Escritos boligrafados da minha mochila

- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

valentina3.jpg No Baleizão comi prego no pão com Coca-Cola. Nos bares à beira da praia comi santola, camarão, peixe no molho de dendê, muamba com pirão de milho. Eu nem sabia, senhor, que fabricava as lembranças mais caras. Um dia elas seriam os retalhos coloridos da minha colcha de saudades.

Tudo mudou em Abril de 1974. Angola ansiava pela justa independência; estávamos numa entressafra de tranquilidade. O terrorismo de 1960 quase não existia mais – não sentíamos isso. Os guerrilheiros tinham sido rechaçados pelas tropas portuguesas. Porém, com as mudanças na política de Portugal Continental, tudo mudou nas colónias lusitanas da África. Grândola Vila Morena deu a senha para os cravos florescerem nas armas. Marcelo Caetano caiu!

luua9.jpg O socialismo venceu em Portugal: Álvaro Cunhal, Mário Soares e seus camaradas no poder de então, apoiaram a independência e o Movimento Pela Libertação de Angola (MPLA), liderado por Agostinho Neto e patrocinado pela ex-URSS, Cuba e Alemanha Oriental. Mas no país existiam também a Frente Nacional de Libertação de Angola, de Holden Roberto, apoiada pela França e pela Bélgica; e a União Nacional pela Independência Total de Angola, de Jonas Savimbi, apoiada pelos Estados Unidos. FNLA e UNITA não aceitaram os favores de Portugal ao MPLA.

Iniciou ali, senhor, a grande guerra civil que devorou o meu país por três décadas. A violência aumentava a cada dia. Balas perdidas, rajadas de metralhadora, morteiros de bazuca e granada passaram a ser rotina. Quantas vezes, tínhamos que nos jogar no chão, dentro da sala de aula ou do cinema? Lembro de um dia em que Jesus Christ Superstar estava na tela enquanto eu, deitada no chão no cine Tivoli, ouvia as balas assoviarem por cima.

xiricuata5.jpg Era difícil para todos, mas quem tinha pele branca, como eu, caia em um limbo. Eu não era colonizadora, nem exploradora. Era uma adolescente angolana, pobre e agora considerada inimiga. Em meados de Março de 1975, começamos a cumprir o toque de recolher. A partir das 16 h, brancos não podiam andar nas ruas sob pena de serem presos ou mortos por grupos guerrilheiros. Estes não eram mais chamados terroristas e sim aclamados como heróis da libertação.

Havia assassinatos de homens brancos todo santo dia. As mulheres sofriam mais: eram seviciadas antes de morrer. Minha mãe rendeu-se ao medo: em Junho daquele ano me mandou para Nova Lisboa, onde tínhamos familiares e as coisas estavam mais tranquilas. Muitas famílias estavam fugindo do norte do país e indo pra a nossa região, onde recebiam apoio da Cruz Vermelha Internacional para deixarem o País com destino a Portugal ou à África do Sul.

camionista1.jpg Comecei a trabalhar como voluntária num dos postos da Cruz Vermelha. As caravanas do norte se multiplicavam. Eram tantas, que houve dias em que não dormíamos. Engolíamos pedaços de pão enquanto limpávamos ferimentos, distribuíamos comida e dávamos informações. Quando conseguíamos parar por alguns minutos, encostávamos o corpo nas caixas de alimentos e dormíamos em pé mesmo.

A multidão rugia em desespero. Gente à procura da família, gente abatida e sem rumo. Derramavam grossas lágrimas, lamentavam-se em alta voz pelos parentes mortos, pelos bens perdidos, pelas emboscadas às caravanas. O bicho homem é bruto, meu senhor. Lembro muito bem, ainda hoje, de uma caravana. De um dos carros desceu uma família atacada na estrada. A mãe tinha uns olhos perdidos e carregava o filhinho no colo. Seu choro era um chicote que arrancava lascas da gente e tingia de cinza o vasto mundo. Implorava que lhe salvássemos o menino, mas ele, senhor, já estava morto. Nesse dia, lembro-me bem, rompi com Deus. Reneguei-o. Era bem certo que nenhum ser supremo e bom poderia ter criado tal humanidade perversa e tanta dor a fustigar as costas dos inocentes.

(Continua…)

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:11
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Quarta-feira, 24 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 130

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3541 -24.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

A CARAVANA.2 - Escritos boligrafados da minha mochila

- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

fuga8.jpgÉ Sónia, Sonia Zaghetto que continua a falar: - A casa do avô, em Nova Lisboa, tornou-se lugar das férias até os meus 10 anos. O avô trabalhava de sol a sol na chitaca. Levantava-se   às 5 da matina e ia para os campos de sisal, abacaxi, laranja, goiaba, tangerina, caju. Às 9 horas, eu e os primos levávamos o matabicho para ele e para os trabalhadores. Era bom aquele tempo de brincar, nadar no lago, subir nas árvores, cravando os dentes nas frutas colhidas no pé…

Correr atrás de patos e galinhas e dar cigarro aos camaleões só para vê-los mudar de cor e despencar do galho completamente chapados. Até hoje, senhor, não encontrei comida melhor que a da senzala. Todos juntos, brancos e negros, comendo pirão ao molho de dendê e peixe-seco. Que saudade agora me dá de pegar o pirão com a mão, molhar no dendê e depois lamber os dedos besuntados. Não há nada melhor, visse?

kuito2.jpg Quando eu e minha mãe saímos de Nova Lisboa, fomos para Luanda. Ela trabalhava como costureira. Foi assim que me criou, sentada na máquina de costura. Cresci entre tesouras, linhas e tecidos, rendas e fitilhos. Grandes espelhos reflectiam as senhoras elegantes que chegavam a toda a hora.

Minha mãe era a melhor: só trabalhava pro high society de Luanda. Noivas? Eu juro, senhor, que perdemos a conta de quantas ela vestiu – uma mais bela que a outra. Adolescente, estudei num colégio de freiras, o melhor de Luanda (creio eu ser o São José de Cluny), o mais caro. Era bolsista e tinha a obrigação de ter notas altas.

fuga9.jpgEntrei no colégio por recomendação do presidente da Câmara de Luanda, cuja esposa era cliente da minha mãe. Gosto de lembrar desse colégio. Ali fiz grandes amizades, algumas duram até hoje, embora separadas por oceanos. Foi lá, também, que aprendi a me defender. Filha de mulher solteira, quantas vezes me chamaram de bastarda? Nem lembro. Eu reagia. Não nasci para baixar a cabeça, não senhor.

Morávamos num apartamento bem pequeno. Quarto e sala, cozinha, banheiro e uma sacada minúscula, de frente para o mercado municipal, que a gente chamava de Kinaxixi ou Mercado da Maria da Fonte. Na época de provas eu acordava às 3 da madrugada. Quando os feirantes começavam a arrumar as bancas, eu aparecia na sacada e berrava para que parassem de fazer barulho, que eu precisava estudar. Eles riam e moderavam a barulheira. Depois de um tempo, eles se acostumaram a conferir: se a luz do quarto estava acesa, já gritavam “Hoje vamos ficar quietos. Vai estudar, miúda!”.

kina1.jpg Meu pai só vi duas vezes. Na primeira eu tinha seis anos e ele me levou pra passar o dia na casa dele e conhecer sua esposa e filhos. A segunda vez foi aos 16 anos. Ele me encontrou na rua, na garupa da moto de um amigo e repentinamente se lembrou de que era pai. Mandou eu descer e ir pra casa, que filha dele não andava de moto. Ah, meu Senhor, filho mal havido nem sempre engole sapo – anote aí. Disse-lhe que não era meu pai, que não passava de um reprodutor. Depois disso nunca mais o vi. Tudo o que sei dele é que vive em Portugal.

cluny1.jpg A vida em Angola enchia de festa meu coração adolescente. Com os Escoteiros Marítimos da Praia do Bispo acampei em ilhas e praias distantes, participei de paradas militares, visitei hospitais e presídios. Com o grupo de dança folclórica do Rancho da Casa do Minho de Luanda, dancei em campeonatos e apresentações. Vi o nascer do sol na praia da Ponta da Ilha, andei de moto nas dunas da praia do Sol e acampei na paradisíaca ilha do Mussulo.

(Texto corrigido de Sonia Zaghetto)

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:48
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Domingo, 21 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 129

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3540 -18.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

A CARAVANA.1 - Escritos boligrafados da minha mochila

- Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

fuga9.jpg Em Outubro de 1975, no dia 23, militares sul-africanos praticam a primeira invasão de Angola, dominando uma faixa ao longo da fronteira com a Namíbia, de modo a travar os movimentos das tropas da SWAPO, então apiadas por Luanda. A Organização de Unidade Africana tenta desesperadamente a reconciliação, enviando a Luanda uma missão que propõe um governo de unidade nacional.

Com o apoio dos seus respectivos aliados (via Wikipédia) o MPLA, a UNITA e o FNLA dão início a uma guerra civil que durará de 1975 até 2002. O principal confronto será entre o MPLA, apoiado pela União Soviética e por Cuba, e a UNITA, na zona sudoeste de Angola; as forças do FNLA encontravam-se inseridas no exército da África do Sul.

144.jpg Nesta parte final que medeia entre a Ponte Luualix e o 11 de Novembro terei de descrever uma crónica maravilhosa para os meus amigos de Angola, especialmente para os que fizeram a CARAVANA de fuga pelo deserto até à África do Sul.

Já sentiu saudade de sua terra, senhor? “É uma coisa que brota na fundura do peito, percorre bem devagar a pele, arrepia os pelos dos braços, bambeia as pernas. Garra de unhas pontudas, pega o coração da gente e espreme lentamente". Pingam gotas vermelhas que abrem uns vazios na alma dos homens. Houve um tempo em que eu não sabia o que era saudade de casa.

fuga13.jpg É Sónia que conta sua própria lenda: Nasci numa cidade do sul de Angola, Nova Lisboa. Hoje ela se chama Huambo. Era o dia 2 de abril de 1958 e minha mãe tinha 16 anos. Solteira. Meu avô não queria que eu nascesse, não. Minha mãe bateu o pé e foi enfiada num convento para que eu nascesse lá. Depois eu seria dada para adopção. Minha mãe bateu o pé de novo: agarrou-se a mim – sua carne, seu sangue.

Fiquei. Até completar um ano, vivi entre os hábitos das freiras, ninada pelo som das orações, dos cânticos, dos sinos, filha das Ave-Marias, das Salve-Rainhas, dos Pai-Nossos sentidos.Talvez minha mãe tenha rezado muito, não sei. Talvez os santinhos que me viram chegar ao mundo tenham adoçado o coração de meu avô. O certo é que de repente ele se viu apaixonado por mim. Veio nos buscar.

fuga1.jpg O que sei sobre essa época é o que minha mãe contou. Eu mesma de nada lembro. O que ela conta é que eu e meu avô não nos separávamos. Alto, de cabelos grisalhos e sorriso largo, ele me carregava nos ombros pra todo lugar e me mimava, me ensinava a ser respondona, não permitia que a mãe me castigasse.

Só ficamos na casa dele até eu completar três anos. Mamãe não tolerava a “madrinha”. A bem da verdade, não era madrinha – era madrasta. Minha avó morreu quatro anos antes do meu nascimento. Assassinada. Estava na cozinha e um homem chegou. Disse estar com fome, pedia comida. Minha avó se compadeceu: sabia dos sofrimentos dos homens negros em Angola. Mandou-o entrar e sentar-se à mesa. Enquanto servia o prato, o homem se levantou. Como uma pantera, veio por trás e a estrangulou. Minha mãe e meus tios menores estavam no quintal, brincando. Nada viram. Ficou a lição de que algumas criaturas – não importam a cor da pele – são diabos. Ah, se são…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:25
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Quinta-feira, 18 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 128

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3539 – 18.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila - Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

luua01.jpg Naquele dia sete de Agosto, pelas dez horas da noite eu e família, dois filhos, mulher e sogra embarcávamos no vôo 7 da “ponte LUUALIX” como desalojados via LISBOA. Recordando vivências recentes, tinha recebido a minha dose em Kaluquembe; meu carro, um Renault Major, tinha sido sabotado no dia anterior indo eu a caminho do Sul - Namacunde aonde tinha um cunhado; em verdade preparava a fuga de Angola…

O General Kamalata Numa da UNITA, mais tarde, relembra: No dia 8 de Agosto de 75, a UNITA em Luanda, teve de evacuar todos os seus ministros do Governo de Transição. Já se tinha dado  o genocídio da UNITA no Pica-pau com o assassínio total de todos os seus ocupantes; todas as precauções estavam na forja da acção.

kamangula4.jpg A perseguição continua até 17 de Agosto de 1975, obrigando todos os dirigentes, demais elementos e simpatizantes Umbundos a fugir para onde quer que fosse para se manterem vivos. Em verdade, quem instalou a lógica da guerra foi o MPLA com a supervisão, beneplácita oferta de material bélico e logística do MFA, dos portugueses … 

Em meados de Outubro, o terminal aéreo de Nova Lisboa (Huambo) encerrava, e Luanda passou a receber entre quinze a vinte aviões por dia. Os meios aéreos para fazer chegar a Luanda os refugiados do Lobito, Benguela e Moçâmedes, sendo insuficientes, o Comando Naval arranjou meios marítimos para fazer chegar a Luanda os cerca de 250 mil cidadãos brancos (maioritariamente) mas, tendo também milhares de mestiços e negros; enfim! Seguiam todos aqueles que o desejassem!

ong5.jpeg O General Kamalata Numa já citado, ainda relembra na primeira pessoa: -Em verdade, o Relatório Final da Comissão de Peritos estabelecido conforme a Resolução 780 do Conselho de Segurança das Nações Unidas definiu a limpeza étnica como sendo: “Uma política propositadamente concebida por um grupo étnico ou religioso, para remover a população civil de outro grupo étnico de uma determinada área geográfica, através de meios violentos ou que inspirem terror”.

Continuando com o General Numa: - Pois foi isto que aconteceu com Umbundos e Brancos… As evidências e as provas de crime são tantas que, não restam dúvidas de que a descolonização da África Portuguesa foi uma limpeza étnica da população branca, Quiocos e Umbundos, promovida pela União Soviética com o total apoio dos partidos da esquerda portuguesa: - PCP e PS.

sorte2.jpg A finalizar um momento, o General Numa da UNITA refere: - Luanda ficou entregue a gente impreparada, gente racista como Lúcio Lara entre muitos outros e “miúdos pioneiros” que faziam querer tomar o controlo de tudo… Para o MPLA, era incontestavelmente seu líder Agostinho Neto, um sofrivel poeta com formação universitária em Coimbra – O homem escolhido pelos generais e afins do MFA (dizem agora, ter sido o menos mau!). O MPLA fica assim dono e senhor da capital - Luanda.

Pois assim foi. Portugal, tomou logo partido pelo MPLA pois que já antes deste acordo, se tinham reunido em Argel para consertar os procedimentos a que viemos a assistir. As consequências são por demais conhecidas e, assiste-se a uma permanente campanha de imunda falsidade da história com branqueamento de crimes com o apoio da pseudo “elite de Abril”, infiltrada nas escolas, universidade, fundações e observatórios, em quase todos os meios de comunicação de massas e até na figura principal do Estado Português.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:03
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Quarta-feira, 17 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 127

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3538 – 17.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila - Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

matrindindi1.jpg Eu, era um dos que preparava essas listas de embarque – Guias de Marcha para o M´Puto, sem retorno - GUIAS DE DESEMBARAÇO. Naquela Luanda, pairava no ar promessas de morte, vinganças avulsas; continuavam as manifestações com mortos transportados em macas reclamando por insegurança e coisas variadas agitadas com catanas de furia.

Tudo o era feito, para seguir as novas técnicas de meter medo com horror; instrucções seguidas pela cartilha de Rosa Coutinho. No aeroporto de Belas já neste início de Agosto de Setentaecinco, podia ver-se milhares de famílias pernoitando de qualquer jeito junto aos seus haveres no largo frontal da zona do check-in e jardins do aeroporto, malas, caixotes e bugigangas.

soba23.jpg Ali permaneciam dia e noite protegidas com cobertos de lonas presas a caixotes usando como banheiro áreas improvisadas ou as bissapas, arbustos circundantes do jardim; o cheiro era nauseabundo. É confrangedor só de pensar em estas turbas de gente que às pressas colocaram umas peças de roupa, uns agasalhos, umas fotos de recordação prontos a ir ao encontro dum desconhecido maior que o mundo.

E, as despedidas de gente serviçal, vizinhos ou até um amigo próximo que por ali iam ficando – na Luua: toma lá a chave do meu carro, da minha casa, cuida dos animais meu amigo João, Napumoceno, num catravês de incógnitas,  num porque não sei quando voltarei, nem se volte. Na mira de voltar havia mesmo falas muito penetradas de sonhos…

soba05.jpg Olha pelos meus cães, o aspirina mais o tarzan que ficam na casota lá junto ao gerador e perto do galinheiro. Doeu e ainda dói! Coisas de partir o coração aconteciam como sendo coisa pouca – a frieza das pessoas, do governo, da Metrópole em um todo, afligiam-nos sobremaneira. Minha revolta era imensa!

No dia 4 de Agosto de 1975, na cidade da Gabela os partidos entram em confrontos e a população organiza uma caravana; com mais de duzentos veículos, serão acompanhados por militares portugueses e da UNITA, escoltados até à cidade de Nova Lisboa (Huambo). Savimbi mandava retirar o seu pessoal político e militar d Luua. Pediu à Marinha e à Força Aérea para que evacuassem todos os seus militares das FALA e apoiantes na via para o Sul - de todos os que se mantinham para além de Luanda, Carmona, Ambriz, Cabinda e santo António do Zaire.

dia230.jpg A partir do dia 9 de Agosto de 1975 o Governo de Transição de Angola ficava reduzido ao MPLA  e à parte portuguesa. Ainda faltavam 94 dias para o dia da independência, o 11 de Novembro de 1975. O novo Ministro dos Negócios Estrangeiros no V Governo Provisório (1975) de Portugal, Mário Ruivo, reconhecia oficialmente o Óbito do Acordo do Alvor.

Para tal proclamaram o estado de emergência com a criação de uma Junta Governativa para substituir o defunto Governo de Transição que só durou cerca de seis meses. Neste molho de brócolos, o Governo de Transição foi extinto mesmo sem que para tal estivesse autorizada a sua substituição em caso de incapacidade. Mais uma medida no âmbito revolucionário feita em cima do joelho pelos generais e políticos de aviário. E, o Mundo assistia a isto!

 (Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:53
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Domingo, 7 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 125

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3536 – 07.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila

– Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

roxo169.jpg Pude saber pela Wikipédia e outras vias, que o Coronel Raúl Diaz Arguelles que desembarcou em Luanda em Agosto de 1975, utilizando o pseudónimo de Domingos da Silva, era o encarregado de supervisionar e treinar as tropas do Movimento Popular de Libertação de Angola – MPLA. Distinguiu-se, em particular, na Batalha de Kifangondo, ocorrida a 10 de Novembro de 1975.

Apoiado por 88 soldados cubanos, pseudo “exército do MPLA”, esmaga as tropas da FNLA de Holden Roberto, que estavam em número muito superior contando com apoio de combatentes do Zaire, mercenários portugueses, tropas sul-africanas e brasileiras, além de agentes da CIA. Ele, foi o comandante da Operação Carlota, numa altura em que os grupos guerrilheiros deixaram de combater as tropas portuguesas já no seu estágio final.

cazumbi2.jpeg No desenvolver da contenda militar, este Coronel Arguelles, a 11 de Dezembro, consegue com uma pequena coluna, emboscar por detrás a aldeia de Galengo, tomando-a durante a batalha designada de Ebo. Porém, os estilhaços de uma mina antitanque, que explodiu, cortaram a artéria femoral do coronel Arguelles, tendo  sucumbio aos ferimentos.

Saltando os acontecimentos, teremos de recordar Arnaldo Tomás Ochoa Sánchez que foi um general-de-divisão das Forças Armadas Revolucionárias de Cuba.  Considerado Herói da República de Cuba acbou por ser condenado em julgamento militar público junto aos outros altos oficiais Antonio "Tony" de la Guardia Font, Jorge Martínez Valdés e Amado Padrón Trujillo, à pena capital.

demo1.jpg Assim, por alta traição à pátria produto de acusações de atividades de narcotráfico, foi fuzilado a 13 de julho de 1989. Teatralmente, acusou-se a ele e a mais treze implicados de se contactar com narcotraficantes internacionais; traficar ilicitamente cocaína, diamantes e marfim; também por utilizar o espaço aéreo, o solo e as águas cubanas para actividades de narcotráfico; e envergonhar à Revolução com actos qualificados como de alta traição…

Segundo “O Observador”, Juan Reinaldo Sánchez, ex-guarda-costas de Fidel Castro, revela num livro, o alegado envolvimento do líder histórico cubano Fidel de Castro, no tráfico de droga, tendo dito à Lusa que Havana queria controlar os recursos naturais em Angola. Assim relatou: “Fidel Castro queria mais de Angola. Dizia que ia levar de Angola apenas os mortos, mas em realidade, não foi assim.

kifangondo3.jpeg Juan Reinaldo Sánchez afirma: - Eu vi no gabinete de Fidel Castro uma caixa de tabaco repleta de diamantes - a caixa estava cheia”… “Fidel, através do seu ajudante José Naranjo e do secretário Chomy, mandou vender esses diamantes e depositar o dinheiro nas suas contas bancárias fora de Cuba”; foi o que disse à “Lusa” o homem que tinha sido guarda-costas do Presidente cubano durante 17 anos. “Eu tenho informações e, além do mais vi. Fidel tinha outra ideias com Angola. Essa ideia sobre o internacionalismo proletário; essa ideia de ajudar os irmãos africanos; essa ideia de ajuda entre os povos é pura propaganda. É um mito”…

Juan Reinaldo Sánchez, ex-guarda-costas de Fidel sublinhou, referindo-se ao envolvimento de Cuba com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). As memórias do elemento do círculo de segurança mais próximo da cúpula do regime cubano é autor do livro “A Face Oculta de Fidel Castro” que foi lançado em Portugal. Um livro que inclui não apenas questões internas de Cuba, mas também o envolvimento de Havana na guerra em Angola, sobretudo a “Operação Carlota” em 1975 e a batalha do Cuíto Cuanavale, no final dos anos 1980.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:23
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Sexta-feira, 5 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 124

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3535 – 05.01.2024

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

mfa1.jpg Os novos mandantes do M´Puto, a reboque do PCP, mudariam funcionários, quadros e militantes com acções reais no terreno. Preparava-se mais uma cimeira no Quénia mas ninguém acreditava nisto; Nem os próprios intervenientes! Face à situação, quatro presidentes africanos reúnem-se numa mini-cimeira em Dar-Es-Salaam, capital da Tanzânia, país surgido da fusão das antigas Tanganica e Zanzibar.

Nenhum acordo é conseguido. Julius Nyerere da Tanzânia e Samora Machel de Moçambique, defendiam o domínio do MPLA de Neto sobre Angola.  Kaunda da Zâmbia e Sir Seretse Khama do Botswana, eram partidários de um governo de unidade nacional que incluísse representantes da FNLA e UNITA.  Era chover no molhado… Nas três primeiras semanas de Junho a FNLA e MPLA tinham aprisionado mais de duzentas pessoas, a maioria brancos, nalguns casos com seus familiares. Os edifícios públicos eram simplesmente ocupados pelos Movimentos; coisa sem lei nem roque! A cintura à volta de Luanda erguida pelo MPLA era uma realidade!

mocnda10.jpg Irão dizer que não pois que em realidade parece uma grande peta feita mas, o certo é a de que militares pagos pelo M´Puto e inteiramente destacados naquele Movimento como se dele fossem, com fardamento próprio do MPLA; gente seleccionada  pelo PREC de Otelo Saraiva (o Ché tuga…)  Ainda ninguém trouxe isto às claras porque o sigilo estava por demais resguardado e, só alguns oficiais o sabiam.

Até surgiu um  selo mentiroso do M´Puto alusivo ao MFA.  A mim sempre me pareceu muito feito a propósito por o ser verdadeiro! Nakuru era folha morta! “Numa situação de guerra em Angola, como e a quem se ia entregar a sua governação?”. Era o próprio Silva Cardoso, Alto-Comissário, que se interrogava falando baixinho para que os demais ouvissem.

tesouras.jpg Neto reclamava a saída deste! Ele, Neto, o poeta, queria que assim fosse e, isto era o bastante! A maioria dos oficiais portugueses andava a assobiar ao vento! Triste ironia desta nítida má-fé e, de quem ainda anda por aí recebendo benesses e até medalhas de bom comportamento, tornados heróis como se isso o fosse de forma “avulso”.

O MPLA venceu a Batalha de Luanda expulsando a UNITA e a FNLA com a inequívoca ajuda do glorioso MFA do M´Puto (isto sempre o será repetido…). Em verdade a Batalha de Luanda resumiu-se ao duelo entre MPLA e a FNLA, enquanto os soldados e militantes da UNITA, sem armas para retaliar, se tinham simplesmente resignados a fugir.

guerra13.jpg Os que não puderam fugir, foram simplesmente massacrados aos milhares (maioritariamente negros mas e também, alguns brancos). Recordem-se do massacre na sede Pica-Pau em que abateram homens quase desarmados, mulheres e muitas crianças…  Angola era a nossa terra, nossa capital era a Luua, o nosso rossio era a Mutamba e o M´Puto estava lá longe…

Mandavam-nos os magalas, o azeite, os carros, as modas e uns quantos gozavam de quatro em quatro anos férias graciosas. De volta levavam chouriços, salpicão, enguias em potes especiais e sardinhas gostosas! Negros e brancos seguiam seus sonhos, suas ambições.Uns pensavam em mudar tudo e de catanas nos pensamentos julgavam o que lhes parecia o mais certo para a terra deles, que também era a nossa! Pensávamos nós!

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:07
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Quinta-feira, 4 de Janeiro de 2024
VIAGENS . 123

KWANGIADES - NO M´PUTO

MOKANDA DO ZECA – Crónica 3534 - 04.01.2024

- As falas muito antigas N´dele – Sem chapéu de chuva, vais ficar molhado - TONITO (era o meu nome de candengue da Luua)

Por:T´Chingange . Em Arazede do M´Puto

zebra1.jpg Carta de José Santos - Impregnado de paludismo duma especial estirpe kaluanda, Zeca colecciona n´zimbos das areias dum chamado de Rio Seco da Maianga. Tornou-se ali professor katedrático e agora lecciona no M´Puto quando não fica com o catolotolo - Anda desaparecido… MAIS UM FANTÁSTICO MISSOSSO TEU....! JURO, JURO QUE DELIREI NAQUELE MAMBO " -  Já estava farto de usar ceroulas até o pescoço a fim de aguentar o frio do M´Puto,..." SIM KIMA KAMBA MUXIMA, DO FRIO DO M' PUTU DE TER DE ANDAR DE CEROULAS, MEIAS DE LÃ ATÉ AO JOELHO, CAMISOLA INTEROIR LÃ DE MERINO, LUVAS, CASCHECOL... AI-IU-É…

TUDO, TUDO PARA TIRAR A HUMIDADE DO SALALÉ SECO QUE BERRA POR QUENTURAS E AS TUJE DAS FRIEIRAS DA CUSPIDEIRA FRIA DAS "CALOTES DE CHORO CAIDAS COMO TREPADEIRAS DO ALASCA PARA A KALUNGA" QUE ESTE INVERNO AS KALEMAS ALTAS TROUXERAM PARA A IBÉRICA, PARA A EUROPA...

Zeca000.jpg POR CULPA DO HOMEM KIAVULU VULUKIA VULUVULU CACHIMBO QUE ENVENENA A ANHARA DO NOSSO SENHOR NO ALÉM. OH! SIM, SIM, TU GOSTAS BWÉ DO NU QUENTE DA NATUREZA..., DE MACEIÓ DO BRASIL, PAJUÇARA, PALMARES... QUE DIZES SER DE RENOVAÇÃO DE PELE COM ÓLEO DE COCO DO SOL REDENTOR...

OS BICHOS, AS PLANTAS MEDICINAIS..., TUDO, TUDO, NATUREZA TE CONHECEM E TE CHAMAM O KUUABA N'GANA VATA T`CHINGANGE! SEI QUE DELIRAS, TOPANDO A TEXTURINHA DA BELEZURA NUA NATURAL BATUCANDO DE SALTOS ALTOS NO CALÇADÃO NO CORSO DO CARNAVAL! UÉ!

soba001.jpg TU PRÓPRIO FIGURANTE DOISIMILDEZOITO VESTIDO DE "CAPATAZ" DE BARRIGA DE JINGUBA DE FORA E DE CHICOTE NA MÃO NO CORSO DE PRAIA DA GUAXUMA.... RECORDANDO OS TEMPOS DOS CORONÉIS E DA SINHÁ...

AMAM'IÉÉÉ´! TUA SORTE MERMÃO DO RIO SECO DA MAIANGA, TU SERES PÁSSARO DE VOO DE MUITOS MUNDOS COMO O KWETZAL.... AGORA, TAMBULA CONTA! UÉ! COMO É? FEIJOADA Á TRANSMONTANA, TRIPAS À MODA DO PORTO, ENSOPADO DE CABRA VELHA, BODE MESMO... A BORDO DO ESTIBORDO...!

zeca01.jpeg SIM, SIM, MAS BREVE TERÁS E LOGO AO DESCERES, PISARES A TERRA E SENTIRÁS O CHEIRINHO DO CHURRASCO PITA VIRGEM. MESMO TABAIBO DO MATO NA GRELHA, NO ESPETO PAKASSA TENRA E A PICANHA NA GRELHA A ESTALAR.... OS TEUS CAMINHOS SÃO DE DEAMBULAR FELIZ NA KUKIA DA VIDA QUIÉ SUMAUMA.

QUE A TUA VIDA DOCE CONSOME, É O TEU PREPARO, É O TEU ELIXIR QUE ESMAGAS NO TEU PILÃO E, BWÉ CONSOMES..., TAL COMO OS TORRESMOS DA BELA MOPANE.... NESTE TEMPO DE ESTUPOR, TERRA DE “FIADO CIVILIZADO” DE SEM RESPEITO, CURRICULO SUSPEITO … OH! N´GANA N´ZAMBI! KAPIANGO, PÉS DE PATRANHA, EDIFICAM-SE NOS POLEIROS DE NOSSOS CELEIROS…. E, NÓS SÓ XIMBICANDO N´DONGUS  NAS MULOLAS DO RIO SECO NA SAUDADE…

KANDANDU - ZECA2018020722H00

Das escolhas de Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:45
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Sexta-feira, 22 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 121

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3532 – 22.12.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

t´chingange 0.jpg Ainda sobre a tese de Pesarat Correia – Nesse quadro qual era o papel de Portugal? – Portugal ia diminuindo a sua presença militar em Angola, no cumprimento dos Acordos do Alvor, acção que devia ser compensada com os movimentos de libertação a contribuirem para a formação de uma força militar mista.

Ora, os movimentos de libertação (destaque para o MPLA, o grande infractor…) em vez de procederem nos termos acordados em Alvor participando nessa força, armaram-se constituindo exércitos partidários e entraram em guerra civil, com apoios externos, perante a impotência de Portugal.

cross2.jpg Já próximo ao 11 de Novembro, o Zaire via USA entra pelo norte em apoio da FNLA; depois a Sul, a África do Sul ao lado da UNITA e mais tarde Cuba a apoiar o MPLA – O Acordo do Alvor foi rasgado pelas partes…(fim de citação de Pesarat Correia).

Quanto ao "Documento dos Nove" foi em verdade, a primeira demonstração publica de divergências no seio do MFA e a marcação de uma posição clara contra a tentativa de tomada de poder pelo PCP “o caminho que as coisas estavam a tomar, isto é, o caminho de levar Portugal a tornar-se um país cada vez mais próximo do modelo soviético”.

dia220.jpg Aquele "Documento dos Nove", defendia um entendimento à esquerda, do qual o PCP não estava à partida excluído, desde que colocasse de lado os seus intentos hegemónicos, de forma a “conduzir o país na ordem democrática e na ordem económica e social”. Para terminar com essa tal de tese de Pesarat Correia refiro o que diz em seu final: “A participação de Portugal na descolonização nas colónias de África foi a que tinha de ser feita” -  Esta foi a frase de Melo Antunes que acompanho, diz Pesarat Correia. Nunca tão poucos decidiram por tantos na passividade e  anuência de um povo do M´Puto gerido por um rolha e um louco - Costa Gomes e Vasco Gonçalves…

E, pude assim ver-me no mato de Angola, quando uma delegação do MFA foi ao Lungué Bungo em 15 de Junho de 1974 negociar a cessação das hostilidades com a UNITA; Foi aqui que Portugal reconheceu a UNITA como movimento de libertação. E pude visulizar Savimbi a defender a transição de Angola para a sua independência em sete anos e dizendo preto no branco que angola não dispunha de quadros e, nem os movimentos estavam preparados para governar a curto prazo.

mud13.jpg O nosso entre aspas, presidente Rolha Costa Gomes referiu então que: “Se fossem cinco já ficava contente. Até dois anos seria tão bom!”. Afinal quem prevaricou no pensamento? O matumbo pré-mwata da mata ou o Sua Excelência, o Rolha Presidente do M´Puto! Hoje tudo, mesmo tudo, pode virar verdade num milionésimo de segundo e logologo virar uma descarada mentira! Eu, T´Chingange, sempre o disse: é muito perigoso pensar!...

Mas, e, então aonde ficam os dez mandamentos!? Nós ficamos só assim, feitos sementes; numa obra dum acaso iludido assim como um imbondeiro de raízes ao ar. Sem nunca ter interpretado as intermitências da morte ou separação de duas febres sem arco-íris. Arco que por linhas tortas me é explicado por Deus, num espesso nevoeiro e aos soluços! Sempre! Bem que tudo o  podia ser, bem mais claro, sem ter que puxar pela minha cachimónia de fundir a cuca!

Usukula mundué ú hima kujibha nzapá... Tradução: lavar a cabeça ao macaco é desperdiçar sabão! Mensagem: Por mais conselho que se dê ao tolo, jamais chegará a sábio! Aiué…

(Continua…)

O Soba T´Chingange - (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:30
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Quarta-feira, 20 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 120

NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3531 – 20.12.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

banco de angola1.jpg Convém agora relembrar o que alguns notáveis do M´Puto afirmaram em seu tempo, já após os acontecimentos no qual tomaram parte - Nos escritos de Pesarat Correia em Histórias de Abril pode ler-se: Sem o 25 de Abril Portugal teria falhado o seu encontro com a descolonização. No livro editado pela BKC – Book Cover Editora, Lda pôde confirmar que “até julho de 1974”, a guerra não só prosseguia  morna como se suavizava em alguns teatros de operações.
Só a UNITA aceitou negociar nas condições inicialmente propostas por Portugal. Acresce, que os movimentos de libertação eram apoiados pela ONU e OUA nas exigências que faziam a Portugal. Assim, só com a “Lei n.º 7/74 Portugal reconhece o direito das colónias à autodeterminação e independência.” – Portanto, é a lei n.º 7/74 que conduz, digamos assim, às negociações para o acordo de cessar-fogo e, mais tarde, às transferências de soberanias.

mfa2.jpg - O MFA e os militares estiveram sempre na liderança do processo que, evidentemente, contou com a participação de civis, nomeadamente, Almeida Santos e Mário Soares, em virtude das funções políticas que ambos desempenhavam. Os dois tiverem papéis importantes inseridos num contexto geral que era “determinado por militares”.
– Os membros da Junta de Salvação Nacional e todos os militares que, no seu conjunto, representavam uma emanação do MFA; a Comissão Coordenadora do MFA que tinha uma força política determinante; o primeiro-ministro Vasco Gonçalves, o ministro sem pasta e depois dos Negócios Estrangeiros que passou a ser Melo Antunes; e ministros e secretários de Estado com influência decisiva, caso de Vítor Crespo que foi o primeiro ministro da Cooperação.

mfa1.jpg – Quem teve a maior importância nas transferências de poderes em Angola foi Melo Antunes - primeiro como ministro sem Pasta, depois como ministro dos Negócios Estrangeiros. – Na altura da transferência de poderes do colonizador para os representantes das antigas colónias que então se tornaram novas nações, meio milhão de portugueses regressou à “Metrópole”, número onde se destacam os oriundos de Angola que representam 61 por cento desse universo.
Em sua tese, Pesarat Correia diz que Portugal foi ultrapassado e não teve capacidade para evitar a derrapagem do processo. Via Wikipédia pude saber do surgimento do Grupo dos Nove, um grupo de oficiais liderados por Melo Antunes pertencente ao MFA de tendência moderada. Publicaram em 7 de Agosto de 1975 um documento que ficou conhecido como "Documento dos Nove".  Em realidade Rosa Coutinho e Otelo Saraiva de Carvalho do PREC, já tinham deteminado tudo; pintaram  e bordaram como bem o quizeram. Tudo  a contento emudecido dos ilustres  camaradas da Abrilada  e  Costa Gomes, o presidente Rolha mancumunado com Castro  de Cuba e  Cunhal do PC da URSS... O homem do pingalin, botas de cano alto, luvas pretas e monóculo da banga de nome Spinola, já era carta fora do baralho...

moka15.jpg Este documento tinha em vista a clarificação de posições políticas e ideológicas opondo-se às teses políticas do documento "Aliança Povo/MFA”, apresentado a 8 de Julho de 1975. Os nove conselheiros da revolução foram: Melo Antunes, Vasco Lourenço, Pedro de Pezarat Correia, Manuel Franco Charais, Canto e Castro, Costa Neves, Sousa e Castro, Vítor Alves e Vitor Crespo.

moita2.jpg Os pressupostos do Acordo do Alvor nunca foram cumpridos, a guerra civil instalou-se e foi agravada ainda por interferências externas. Com os EUA muito presentes no terreno e a URSS a apoiar a intervenção cubana, contribuiu para que a guerra civil se reacendesse mais intensamente e arrastasse as intervenções externas. Por motivos desvirtuantes ao processo, o MPLA foi tendo a preponderância consentida e auxiliada pelas NT (digo eu) acabando por retirar do processo os outros dois movimentos: UNITA e FNLA…
(Continua…)
O Soba T´Chingange - (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:36
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Sábado, 16 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 118

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3529 – 16.12.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

dia207.jpg Os meios aéreos para fazer chegar a Luanda os refugiados do Lobito, Benguela e Moçâmedes, sendo insuficientes, o Comando Naval arranjou meios marítimos para fazer chegar a Luanda os cerca de 250 mil cidadãos brancos (maioritariamente) mas, tendo também milhares de mestiços e negros; enfim! Seguiam todos aqueles que o desejassem!

Na vinda ou ida dos refugiados de um para outro lado (como kissondes) mas e, principalmente para os lugares de embarque da Luua, praticamente não havia triagem; o controlo era precário. Nunca pude entender esta falta de cuidado na logística das coisas. Não havia tempo para decidir de quem estava ou não nas condições de perseguido, refugiado ou o que quer que fosse.

cafu13.jpg Não importava ser-se quem era e de onde vinha ou do porquê de estar ali. Era tudo ao monte e fé em Deus num sofrível seja o que Deus quiser, aos magotes com o natural berreiro e choros de adultos e crianças, ordens e contra ordens desencontradas ou nem tanto. Cães, gatos e outros animais de estimação foram largados ao descaso como heresia apócrifa!

Era mesmo um Adeus dado aos trambolhões às coisas, à casa, ao carro chevrolette, ao motor da GMC a fazer de gerador, dos gansos guardadores, mais o pavão e as galinhas fracas debicando miudesas debaixo do DKV. Ele, Deus, era só uma questão de fé interior, a vontade de querer e acreditar, mas Ele não surgiu a muitos; a lei da vida e da morte era um traço disforme, desfeito em cotão a confirmar que só somos enquanto somos, uma ilusão!

fuga6.jpg Desde sempre e, que me lembre de ser gente, observei que as leis foram inventadas pelos fortes para dominarem os fracos que são muitos mais; mas aqui não havia fracos ou fortes, só deprimidos… Num repentemente viramos escarro, nada ou ninguém - triste; cada qual cuspia para onde quer que fosse que nem monandengues. E entre estes, até surgiam rufias catadores de desaconchegos, gente do MPLA usando prepotência.

Aqueles rufias, para além dos cigarros, exigiam  com um extremo desprezo tudo o que lhes aprouvesse, pedindo relógios ou valores para se ficar sem dissabores nesta hora de partir; uma forma de pressionar o medo ou resquícios de ódios. Havia uma restea de ordem por alguns militares de Nossas Tropas mais conscientes! Valha-nos isso porque nem todos viam este desmando na forma do PREC, dos guedelhudos do M´Puto às ordens do diabo.

fuga9.jpg As leis, as atitudes, o MFA, nossos patrícios do M´Puto, os generais de aviário, mesmo que absurdas, já nos parecia tornarem o impossível em admissível e hoje, que penso muito e rezo pouco, recordo isto, procedimentos sem que ninguém averiguasse as diferenças aturdidos por pudor. Pudor, palavra complicada de entender - qual pudor qual quê!? Era um acaso feito lei, ali…

E, a frio, ora marcial ora uma prepotente aberração feita de coisa feito gente, drogados no cérebro, nas kinambas ou nos calcanhares. Nesse então, nós gente desavinda, podíamos ver já a força da crise com roubos subtraídos pela lei dos homens, pelas nossos guardiões militares com seus amigos, nossos algozes  – o MPLA, sem lei - nem velha nem nova ou tampouco ordinária ou arbitrária, nenhuma! Um salve-se quem puder! Mas, ainda há quem use paninhos de flanela para amenizar o inadmissivel…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:17
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Terça-feira, 12 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 116

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3527 – 12.12.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

guerra14.jpg (…) O Batalhão do Luso, o de “pé descalço ou em cuecas” (Segunda comp.ª do Cart/Bart 6221/74), deixou armas, rádios, munições e até material cripto. O comandante deste batalhão disse ter preferido ser enxovalhado do que pôr em risco a vida de 600 civis, deslocados com mulheres e crianças.  Uns dias depois a UNITA apresentou oficialmente desculpas a Ferreira de Macedo, o interino Alto-comissário.

Este procedimento das tais NT,  foi uma nodoa negra que se justifica talvez porque só tinham 3 meses de comissão; deduz-se que os instrutores seriam esses tais do PREC do CR que foi mandada para uma Angola desconhecida. Recordar que a UEC – União Estudantil Comunista chefiada por Zita Seabra tinha por função em Portugal de provocar a tal de IPA – Inssurreição Popular Armada que logologo, se estendeu até às hostes do MPLA em Angola.

guerri5.jpg Eu próprio (T´Chingange), vi na Caála – Robert Williams, estudantes da  UEC a darem instrução milirar aos candengues pioneiros do MPLA – jovens com seus 10 a 12 anos carregando armas de fingir feitas em madeira. Alguns militares daquele Batalhão do Luso, vim a saber que eram estudantes daquela leva da UEC e. que por este facto, ao regressarem tiveram passagens administrativas nos cursos que acabaram por concluir.

Muitos destes, passaram a gerir serviços técnicos nos organismos camarários e outros oficiais sem estarem minimamente preparados. Saíram arquitectos quando nem desenhadores se poderiam considerar e, por aí! Outros técnicos de aviário fizeram e fazem carreira sem terem a correcta aptidão para além de o serem uns abnegados militantes da esquerda, da onda do Ché Guevara via Zita Seabra (…) - gente preparada átoa, com devaneios por ideologias e, sem apego ao brio e ética.

gado1.jpg Aquele despontar sem preparo de oficiais de aviário espetando os peitos abrilescos, heróis de cinco minutos, o suficiente para a fotografia, fizeram a merda que fizeram. O baixar de guarda desta feita foi demasiado humilhante para um exército que se preze! Dá para entender todas estas ocorrências entre Agosto e o 11 de Novembro com escandalosa ajuda ao MPLA. Alguém disse e eu terei de concordar - “tropa de cáca”.

Nunca cheguei a saber se o Furriel indignado que deu uma chapada a um soldado das FALA foi ou não fuzilado como já li em qualquer parte! As fontes só dizem que foi levado para ser fuzilado ao qual o comandante afirmou: Fiquem com tudo, mas não façam mal a ninguém! Só quem lá esteve, poderá confirmar e acrescentar se sim, ou se não; se o Furriel foi mesmo fuzilado!

tonito11.jpg As confrontações em Sá da Bandeira tiveram início no dia 21 de Agosto pelos militares das FAPLA do MPLA acantonando as FALA e ELNA no quartel português; no dia 22 de Agosto, Costa Gomes, o presidente rolha do M´Puto, pediu formalmente o auxílio dos EUA. Precisava de ajuda para evacuar os restantes 330.000 refugiados que queriam sair de Angola. Carlucci reiterou as instruções chegadas a ele desde Washington para não negociar com o Governo de Vasco Gonçalves.

O auxilio dos EUA só se tonaria viável com a remodelação do governo do M´Puto com a saída de Vasco Gonçalves “o doidinho da esquerda” e, também as FAP em Angola não darem apoio ao MPLA (o que não se verificou…). Nós “retornados ou refugiados!” fomos a moeda de troca para virar Portugal para a direita pró USA! Fomos manipulados por nossos supostos irmãos do M´Puto… Fomos uns milhares de carneirinhos despojados de tudo; do periclitante direito à cidadania, do direito aos seus haveres, do direito à dignidade. Isto, nunca irei deixar de dizer, nem que me matem de morte morrida…

(Continua…)

O Soba T´Chingange - (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:35
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Domingo, 10 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 115

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3526 – 10.12.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

moka24.jpg Em meados de Agosto de 1975 a luta era generalizada em Angola atingindo zonas que até aí tinham estado relativamente calmas. O MPLA dominava praticamente todo o litoral com excepção do distrito do Zaire. O Director da Companhia Mineira do Lobito, Horta Carneiro foi morto nas hostilidades entre a UNITA e o MPLA. Tornava-se cada vez mais difícil a deslocação das colunas militares portuguesas devido à falta de garantias por parte da UNITA.

Pela UNITA, havia o receio de serem atacados, acossados que estavam pelos constantes atropelos e, pela razão de as  tropas portuguesas designadas de NT, sempre ajudarem o MPLA. No Luso, o Batalhão e população civil que deveria ter saído no dia 16 de Agosto, teve de ali ficar retido por via das confrontações. Na base do Luso ainda havia 600 pessoas para retirar e só tinham alimentos para mais seis dias.

moka25.jpg A coluna que seguia para o Luso em apoio àquelas 600 pesoas,  foi barrada na noite de dezoito para dezanove; pela UNITA foi-lhes apreendido todo o material, inclusive as viaturas que iam nos vagões; foram saqueados, insultados e obrigados a se desfardarem. Chegaram a Nova Lisboa em cuecas e descalços tendo o próprio comandante do Batalhão Luso sido espancado e posto de forma igual aos demais.

Um Batalhão em cuecas e sem botas! Jorge Serro recorda que isto ocorreu com o Batalhão de Caçadores do Moxico. Se não erro, Rui Perestrelo, um amigo, com quem nunca dialoguei sobre este assunto, neste então, era o indigitado Governador por parte da UNITA. Também ele acabou por se juntar como refugiado para o M´Puto usando a ponte e instalando-se em Silves no Algarve. Veio a ser funcionário da Câmara Municipal de Lagoa e empresário na Vila de Carvoeiro (actualmente, algures em Angola).

moka12.jpg Após a morte de Savimbi, acomodou-se de novo junto à nomenclatura situada na Luua vendendo talvez a alma ao diabo – que sei eu…; um procedimento que se tornou no tempo, típico a qualquer militante e, de um qualquer partido. O Kumbú (dinheiro) sempre falou mais alto! A lassidão do trato português era tão elástica que tudo veio a rebentar-lhe na cara com a máxima tensão.

Em Portugal ainda se coabita com gente que ou foi carrasco ou procedeu duma forma desleal e, no entanto foram aceites como funcionários sem retaliação notória. Também esta, pode se considerada uma forma de trair! O lugar de muitos, seria em outro qualquer lugar, menos no M´Puto. Mas, quanto ao Batalhão de “pé descalço ou em cuecas” deixou armas, rádios, munições e até material cripto.

moka15.jpg Foi o próprio Chiwale, segundo comandante militar da UNITA daquela região, que ordenou esta acção contra este Batalhão; diz ter sido como represália ao comportamento das NT que era de lamentar… (quando escrevo estas duas letras até me arrepio) em Sá-da-Bandeira houve sim altercações por parte da UNITA. E, porque conteceu ser verdadeira esta afirmação! Pois, porque foi assim com as FAP a distribuíram armas ao Poder Popular na tutela do MPLA do Lubango! A eles entregaram todo o armamento da “OPVDCA” fardas, variado equipamento e explosivos…

Quem lá permaneceu neste meio tempo, no pré e pós-independência, sabe que isto é verdade! Mentem quando tentam sanar o envolvimento do exército português; também por ali havia bastantes comunistas que se enfileiravam na victória ou morte mas, também para eles a coisa mudou e, lá foram regressando dizendo-se refugiados; uma coisa diferente daquele carisma típico adquirido por retornados! Uma hipocrisia que só em surdina reconhecem! Muxoxos de N´Gola! Dirão agora:- como fomos torpes! Muitos amigos sabem disto e até já nem o escondem! Será bem melhor darem a conhecer ao mundo o que em verdade, se passou! Assim se ressarcirão de algo menos correcto…

(Continua…)

O Soba T´Chingange - (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:44
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Quinta-feira, 7 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 114

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3525 – 07.12.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

quem1.jpg (…) - Um Deus nos acuda com um salve-se quem puder! Entretanto as tais Nossas Tropas já eram poucas para controlar quem quer que fosse. A UNITA boicotava enquanto os homens de Chipenda, agora da FNLA, escoltavam com pagamento de 3000 contos os refugiados até à fronteira Sul. Oshakati era o ponto de encontro das caravanas saídas de Malange, Uíge, Nova Lisboa, Lobito, Novo Redondo ou Benguela e mesmo da Luanda já tão martirizada.

Um pouco de todos os lados, em grupos ou deslocados como formigas sem tino, fugiam simplesmente. Alguém lhe desfazia o carreiro do rumo acertado. E, o rumo era a paz, a fuga aos tiros, às atrocidades gratuitas, regra geral para o Sul e para a costa Atlântica. O destino era Grootfontein com a supervisão de militares e autoridades Sul-Africanas.

step6.jpg Era ali que se situava o campo de recepção aos refugiados. Ali chegavam camiões, automóveis e veículos de toda a ordem e também máquinas de terraplanar, caterpílares e tractores com alfaias. Em uma destas caravanas seguia meu compadre José Matias que resultado de um desencontro, ele foi e eu fiquei! Tinha-me deslocado a Luanda a fim de levar minha sogra para casa de um outro filho que vivia na Maianga da Luua.

Pois aconteceu que o que vi nesta viagem por terra, desvaneceu-me por completo a vontade de ficar na N´Gola que tanto queria. E, vi casas queimadas, povoações abandonadas, gente deambulando de um lado para outro sem uma precisa orientação. Em Muquitixe estive encostado a um muro velho com minha sogra idosa!

tio Sam01.jpg Não se sabia o que poderia sair daqueles drogados que revistavam o autocarro aonde seguíamos. Podíamos ter sido ali, metralhados, como num filme de revolução, cuja morte parece sempre surgir junto a um já esburacado muro! Simplesmente isto, não aconteceu. Ninguém se culparia e nem haveria de jurar a alguém! Parecia não haver esse tal de alguém; simplesmente, assustador!

Estes comboios de refugiados eram escoltados por norma pelas tropas portuguesas e também do MPLA numa já perfeita parceria de zelo de estado. Criou-se assim um autêntico corredor entre as cidades do Centro e Norte a Namacunde pela estrada principal do Sul. A falta de gasolina, água e alimentos tornava-se cada vez mais dramática pela carência.

guerra20.jpg Trocavam-se contos ao desbarato por tambores de gasolina. A tropa portuguesa assistia agora à fuga de milhares de ex-colonos e naturais com um sentimento de impotência, coisa confrangedora para alguns. Não haveria desculpas para esses militares (a maioria)  que obedeciam cegamente a seus comandantes de aviário, os cérebros do Concelho da Revolução com  muitos civis que se ufanavam deste feito como sendo coisa exemplar.

Prometi a mim próprio recordar estas tristes passagens, tempo de tão mau augúrio para um Império que ruiu da pior forma, sem dignidade; tudo feito por empedernidos fanáticos que a troco de uma centelha ideológica empederniam-se num regime despótico e anárquico entregando as gentes à sua guarda ao descaso, aos entretantos …

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:12
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Terça-feira, 5 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 113

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3524 – 05.12.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

roxo60.jpg Havia uma junta Governativa em Angola mas o MPLA fazia tábua rasa desta, assumindo suas antigas funções ministeriais, assinando diplomas sem respeitar a restrição imposta pelo Decreto-Lei de 14 de Agosto de a 1975. O Ministro Said Mingas (Dias Mingas), um meu antigo colega de carteira na E.I.L. por uns bons cinco anos, introduzia restrições à exportação de viaturas, só autorizando a saída de uma viatura ligeira por agregado familiar.

Em verdade o MPLA estava a proceder como um governo sem cumprir os acordos preestabelecidos com as demais partes do Acordo de Alvor - Penina. Seria obrigatória a verificação aduaneira rigorosa de todas as bagagens e mercadorias com destino ao exterior de Angola. O curioso de todas estas medidas foi ver mais tarde gente que fazia o controlo de bagagens nos portos e Aeroportos inscreverem-se em Portugal no Quadro Geral de Adidos e ocuparem até lugares públicos no aparelho de Estado Português.

t´chiku3.jpg Não se verificou nenhuma retaliação ou marginalização a estes caras-de-pau que dizendo-se uns mwangolés de primeira apanha, fugiram também para a segurança da Metrópole. Outros houve destes pseudopatriotas mwangolés que nem sendo funcionários no Ultramar arranjaram testemunhas e por declaração integraram-se como funcionários no M´Puto; a mesma que eles tanto abominavam.

Não vou aqui denunciar este ou aquele nominalmente embora me tivesse inteirado desta irregularidade grave; gente com quem lidei e que ainda anda por aí. Uma grande parte de quem lê esta Viagens, sabe que isto é uma verdade. Pode dizer-se assim que os carrascos, os mesmos que nos retiraram os anéis, ainda tiveram o gozo de usufruir benesses quando mereciam o inverso - ficar confinados às  suas masmorras. Para estes vou só dizer: “Usukula mundué ú hima kujibha nzapá...” (lavar a cabeça ao macaco é desperdiçar sabão!)

guerri6.jpg Nenhum destes que retornaram a Angola, agora bem acomodados por lá e, alguns pertencendo à nomenclatura do governo podem dizer que foram destratados no M´Puto. Entretanto as FAP (Forças Armadas Portuguesas) limitavam-se só a garantir a integridade dos refugiados sem actuar na gestão da governação. Em meados de Agosto, Mingas, assinou o Decreto que limitava os levantamentos de depósitos bancários a vinte contos por mês em vez dos quinze contos semanais permitidos e, passava a ser interdita a saída da moeda angolana do país bem como a loteria premiada.

Leonel Cardoso, o novo inquilino como Oficial Superior do sinistro C.R. mais Ferreira de Macedo, o Alto-Comissário interino, mantinham-se encerrados no Palácio da Cidade Alta servindo os interesses do MPLA por imposição do Concelho da Revolução, em verdade o auto intitulado governo - os genuínos donos de Angola por afronta permitida. Forneciam a estes dados estratégicos e fotografias aéreas para desmantelar tanto a FNLA como gente descontente.

fuga1.jpg Muitos portugueses foram parar às prisões da Boavista ao Bungo e praça de toiros do Bairro Caputo. Muitos saíram de lá metidos em lençóis para as covas do Cemitério de Catete ou para os jacarés do Lifune, Kifangondo ou Panguila. No Caxito, havia avanços e recuos da FNLA e MPLA; O ELNA controlava a 13 de Agosto a Barra do Dande tendo reconstruido a ponte e mantendo três colunas militares em suas margens e um outro menor grupo na estrada do Cacuaco.

As FAPLA recuavam para Sul da picada da Barra do Dande-Kifangondo. Em Cabinda as FAPLA eram donas da situação em todo o enclave. O alargamento da guerra para Sul leva milhares de pessoas a efectuar uma penosa epopeia, romaria sem retorno em direcção ao deserto do Namibe com muitas e variadas peripécias de chantagens como garantia de protecção, isto ate chegarem ao Sudoeste Namibiano.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:04
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Domingo, 3 de Dezembro de 2023
VIAGENS . 112

NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3523 – 03.12.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

quem4.jpg(…) E, tinha gente treinada na Metrópole (Lisboa), propositadamente preparada para fazer parte deste MPLA. Do vinticinco de abril de 1974 até ao 25 de novembro de 1975 muita coisa se fez à revelia da vontade do povo e, por muito pouco não ficamos debaixo da alçada da União Sovietica. Alguns, irão sempre dizer que não, pois que em realidade parece uma peta feita mentira; o certo é a de que militares pagos pelo M´Puto, com ideário afecto ao Concelho da Revolução ficam inteiramente destacados naquele movimento terrorista como se dele fossem, com camuflado igual ao do MPLA.

Havia gente seleccionada pelo PREC de Otelo Saraiva (o Ché tuga…) Ainda ninguém trouxe isto às claras porque o sigilo estava por demais encafifado e, só alguns oficiais o sabiam; os não alinhados destes ou do contra, seriam logo conotados como fascistas. Até surgiu um selo mentiroso do M´Puto alusivo ao MFA com dois populares, um com um chapéu de campino e outro segurando uma arma. A mim sempre me pareceu muito feito a propósito por o ser verdadeiro!

chai0.jpgNakuru era folha morta! “Numa situação de guerra em Angola, como e a quem se ia entregar a sua governação?”. Era o próprio Silva Cardoso, Alto-Comissário, que se interrogava falando baixinho para que os demais ouvissem. Neto reclamava a  saída deste! Ele, Neto, o poeta, queria que assim fosse e, isto era o bastante! A maioria dos oficiais portugueses andavam a assobiar ao vento!
Triste ironia desta nítida má-fé e, de quem ainda anda por aí recebendo benesses e até medalhas de bom comportamento, tornados heróis como se isso o fosse de forma “avulso”. O MPLA venceu a Batalha de Luanda expulsando a UNITA e a FNLA com a inequívoca ajuda do glorioso MFA do M´Puto (isto sempre o será repetido…)

mfa1.jpg Em verdade a Batalha de Luanda resumiu-se ao duelo entre MPLA e a FNLA, enquanto os soldados e militantes da UNITA, sem armas para retaliar, se tinham simplesmente resignados a fugir. Os que não puderam fugir, foram simplesmente massacrados aos milhares (maioritariamente negros mas e também, alguns brancos). Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo…
(…) A UNITA não permitia a entrada da tropa portuguesa em Nova Lisboa (Huambo) alegando que em outros pontos do território as FAP assumiam atitudes favoráveis ao MPLA e tinham toda a razão para assim procederem. A UNTA deu 24 horas às FAPLA para saírem de Nova Lisboa e assim veio a acontecer com a escolta protectora das Nossas Forças (NT) até ao Dondo, um bastião carbonizado em posse do “glorioso” MPLA…

chai1.jpg Pode notar-se nesta descrição o comportamento diferenciado por parte da UNITA em relação às outras forças; certo que tudo iria descambar mais tarde para coisa ruim mas as contingências da guerra aberta e sem mando capacitado, já não permitiam manter o aprumo desejável. Neste então a UNITA deu tempo às FAPLA para recuarem ao invés destes e das FALA que atacavam sem prévio aviso e com todo o potencial mortífero.

No Cunene, as tropas da UNITA já faziam rusgas aos trabalhadores Sul-africanos nas barragens de Caluéque e Ruacaná por se recusavam a regressar ao trabalho. Recorde-se que estas estações hídricas estavam cercadas pelas FALA, o braço armado do MPLA e os naturais Ovambos negavam-se a trabalhar sem garantias de segurança; foi assim que a queixa de Pretória chegou à Embaixada Portuguesa.
(Continua…)
O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:25
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Quinta-feira, 30 de Novembro de 2023
VIAGENS . 111

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3522 – 30.11.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

moka25.jpg O Presidente do Congo Brazaville N´Gwabi aceitando as propostas do MFA do M´Puto na pessoa de Otelo Saraiva mancumunado com o Presidente rolha Costa Gomes (o sempre em pé…), e solicitação de Fidel de Castro, dá apoio com hospedagem a mais 142 instrutores cubanos, declarando-se oficialmente apoiante incondicional ao MPLA de Neto.

Este apoio tinha sido concertado em uma viagem que N´Gwabi fez a La Havana. Havia fortes indícios de que o MPLA estivesse a preparar uma declaração de independência unilateral, sem consulta a Portugal e aos outros dois movimentos conforme o estipulado  no Tratado de Alvor. No M´Puto, pode entretanto, apreciar-se um comportamento de insubordinação de má-fé entre os colaborantes militares de aviário de Abril.

gad2.jpg Enquanto que tudo faziam numa óptica de práfrente camarada, avante, Costa Gomes via-se em palpos de aranha agradando aos mais resolutos.  Aqueles revolucionárias imberbes, maioritariamente estudantes enquadrados por Zita Seabra* e  comunistoides  militares do PREC, estavam a mijar nitidamente, nas boas graças dos estrategas. Pois sim! Aconteciam permanentes assaltos aos organismos opositores  e embaixadas. Estávamos em inícios de Outubro de 1975

À margem das negociações, os retornados, cidadãos nacionais e da Província Ultramarina de Angola, estavam a ser moeda de troca no fornecimento de aviões para a ponte LuuaLix poder realizar-se no tempo aprazado. Nesta guerra de tundamunjila (brancos, fora - para a vossa terra) a estória ainda anda a ser fabricada! Sempre teremos de rebuscar os caixote e baús para refazermos verdades que se deitaram a propósito no lixo e, porque assim interessava à esquerda, aos interesses obscuros acobertados pela midia…

monstro6.jpg Quanto às justificações que surgem, há sempre um misterioso MAS: "Mas, uma facção dos comunistas, pressionados pela URSS, queria controlar o processo". Em Angola, as N.T. já nem saíam dos quarteis! Tinham sim um enorme desejo de serem rendidos e regressar à Metrópole do M´Puto. Nem pareceria ser relevante acudir a casos graves em defesa de gente Lusa. As teses do PCP vingavam em Portugal e Angola. Foi só no 25 de Novembro de 75 que se repôs alguma legalidade; no entanto, muitos lugares chaves da governação já estavam  tomados por ideias de principios tóxicos…   

Os novos mandantes a reboque deste PCP mudariam funcionários, quadros e militantes com acções reais no terreno. A toxicidade foi tão bem aparelhada que perdura ainda nos dias que correm (estamos no ano de 2023)! Preparava-se mais uma cimeira no Quénia mas ninguém acreditava nisto; Nem os próprios intervenientes! Face à situação, quatro presidentes africanos reúnem-se numa mini-cimeira em Dar-Es-Salaam, capital da Tanzânia, país surgido da fusão das antigas Tanganica e Zanzibar.

guerra12.jpg Nenhum acordo é conseguido. Julius Nyerere da Tanzânia e Samora Machel de Moçambique, defendiam o domínio do MPLA de Neto sobre Angola (ideias de URSS a funcionar em plenitude…).  Kaunda da Zâmbia e Sir Seretse Khama do Botswana, eram partidários de um governo de unidade nacional que incluísse representantes da FNLA e UNITA.  Era chover no molhado…

Nas três primeiras semanas de Junho a FNLA e MPLA tinham aprisionado mais de duzentas pessoas, a maioria brancos, nalguns casos com seus familiares. Os edifícios públicos eram simplesmente ocupados pelos Movimentos; coisa sem lei nem roque! A cintura à volta de Luanda erguida pelo MPLA era uma realidade! E, tinha gente treinada na Metrópole (Lisboa), propositadamente preparada para fazer parte deste MPLA.

soba22.jpg NOTA*: Zita Seabra, liderou a fundação da União dos Estudantes Comunistas (UEC) antes e depois do 25 de Abril. Escreveu para diversas publicações clandestinas do PCP, como o Avante, O Militante, o Jornal das Camaradas das Casas do Partido e os jornais da UEC…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:34
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Terça-feira, 28 de Novembro de 2023
VIAGENS. 110

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3521 28.11.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

moka22.jpg BATALHA DE LUANDA - A coluna da FNLA consegue atingir Caxito, onde é dizimada com a entrada em acção dos “Órgãos de Staline” aos quais os angolanos passaram a chamar de “Mwana Caxito” (filhos de Caxito); exactamente por terem sido utilizados pela primeira vez, na capital do Bengo. Esta arma capaz de disparar simultaneamente vários morteiros, foi construída no tempo de Staline…

Os “Órgãos de Staline” permitiram aos russos resistirem contra os alemães na Segunda Grande Guerra Mundial. Nesse então ganhou o nome de “katiusha”- querida Katia, palavra de código utilizada entre os comandantes das frentes. Nos EUA, chamam-lhe “Tio Sam”. Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo. No M´Puto, a 9 de Março de 1975, Spínola foi informado por oficiais amigos da operação matança da páscoa.

moka12.jpg Era aquele, um plano do Partido Comunista Português e os militares mais radicais do COPCON e da 5ª Divisão, apoiados pela União Soviética, para realizar uma campanha de assassinatos políticos, onde Spínola e seus apoiantes constavam como alvos, como parte de um golpe de estado para tomar o país.

O herói do monóculo e pingalim e luvas de coiro preto chamado de Spínola, escapa-se de helicóptero para Talavera de La Reina, em Espanha levando com ele a valentia que num repente enferrujou na apatia medrosa, com mofo e atitudes encardidas de vergonha. Entregues ao acaso, na Luua, as Forças Militares dum exército que deveria ser de conjunto, ao invés de apagar o fogo como o deveria ser, ateavam ainda mais os incêndios.

mocanda25.jpeg Lopo do Nascimento mentia com todos os dentes dando força ao tal exército popular do seu MPLA – “victória ou morte” – Aiué, Nossa Senhora da Muxima nos acuda!... As FAPLA, atacaram e destruíram com blindados o quartel da FNLA em Kifangondo. Ninguém se insurgiu neste uso de blindados! Deveriam ser apreendidos pelas NT. mas, ou as ordens se perderam no caminho ou lhes faltou coragem para actuar.

Podemos acreditar em tudo porque nada foi feito! Era mais fácil desconhecer tal gravidade. Nova Lisboa (Huambo), Lobito, Benguela e Sá da bandeira eram agora as cidades refugio dos deslocados de guerra idos do Norte, Malange Luanda, Uíge e muitas outras localidades. Num desespero e abandonando tudo, as  gentes fugiam simplesmente daquele inferno. Era o preconizado por Rosa Coutinho e seus guedelhudos do MFA.

gad3.jpg Guedelhudos do MFA.- os urubus ou corvos, como queiram; Tropa fandanga nunca reconhecida traidora pelos muitos governantes de Portugal no após 1975. Com três semanas de combates arrasadores, nunca o MPLA acudiu aos apelos de Paz faltando a todas as reuniões do comando unificado da Luua. A Emissora Oficial de Angola era simplesmente ignorada pelo MPLA.

Em N´Gola - Não dava para esperar! As escolas já não funcionavam, os dispensários médicos iam ficando sem gente capacitada, as instituições iam ficando desertas de gente com poder de decidir. O “lar do Namibe” uma cooperativa de construção comunicou-me que já tinha direito à tal casa mas, esta carta por ali ficou em cima duma estante a desaguardar num tempo que se esfumou. O PCP da metrópole na colónia, "tentou a sua sorte para poder desempenhar um papel determinante na evolução do país”. A verdade é que a descolonização de Angola estava a ser executada ao acaso…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:50
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Sábado, 25 de Novembro de 2023
VIAGENS . 109

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3520 – 25.11.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

guerra01.jpg Nestas finchas do tempo, relembrado o 25 de Novembro*, no M´Puto, meus sentimentos, pensamentos e actos, têm uma única finalidade: falar a verdade à minha comunidade para que a história não se esmoreça; minha atitude determinará o juízo de bom ou de mau que há sobre os factos. Quero assim ser livre, criador e sensível o quanto baste sem pactuar com a imbecilidade que como dança infernal leva as massas sociais ao embrutecimento; algo que sistematicamente corrompe o bom senso dos homens.

No M´puto, Costa Gomes, o presidente rolha, titubeando indecisões, acabou por retirar o Brigadeiro, esse tal de José Valente, comandante da 2ª Região Aérea e que vivia em relações tensas como a CCPA (Conselho Coordenador do Programa do MFA para Angola e que, incluía o CCPA e o Estado maior de Angola). Entretanto os vapores Vietnam Heróico, o Coral Island e o La Plata, chegariam antes do fim de Setembro de 1975 em Brazaville e Porto Amboim -- Angola, levando a bordo mais de 1000 toneladas de gasolina, 300 instrutores para os quatro CIR do MPLA e ainda dois aviões cubanos.

guerra41.jpg Leonel Cardoso continuava apreensivo pedindo apoio a Lisboa e mantendo as FAPLA em suspense com uma hipotética chegada de tropas especiais, Comandos e Pára-quedistas. Leonel Cardoso perante este cenário blefava e, era só o que lhe restava porque Lisboa andava afanada com os sindicalistas das “Manif” de civis e militares guedelhudos. Leonel Cardoso andava sem saber como fazer na entrega do poder a 11 de Novembro de 75.

Com muxoxos de boca pequena sabia-se que Leonel Cardoso se queixava de estar rodeado de traidores à pátria ou à causa; a confiança, ruía-lhe algum aprumo. Ética, era uma coisa quase nefasta e os heróis das NT em sua maioria só viam o MPLA. A estes, o MPLA, entregavam tudo de mão beijada sem fiáveis contrapartidas mas, sempre havia uns quantos que buliam sua própria consciência. Aquilo não lhes parecia lá muito bem… Eram muito poucos, quase nenhuns. Em Angola, estávamos entregues à fé e ao acaso, à bicharada.

guerri1.jpg Entretanto Samora Machel de Moçambique e Július Nyerere da Tanzânia, perfilam-se também ao lado do MPLA. Otelo em viagem a Havana garantia a Fidel de Castro não retaliar com suas frotas e tropas, entenda-se como as NT (Nossas Tropas) a “invasão de Angola” em apoio ao MPLA. No M´Puto, pouco a pouco, Carlucci o embaixador Americano, ia alegando algum favoritismo para o MPLA.

O Gringo Carlucci da USA, com a nobre ajuda de Vasco Gonçalves, o primeiro-ministro português, um ex-doente mental da casa dos malucos de Luanda - sector militar. Este afiançava a pés juntos perante o Gringo que, não senhor, o MPLA não é comunista! Era uma boa base aos ditames de Frank Carlucci; a este, interessava-lhe sobremaneira o controlo do petróleo de Cabinda. Não era por acaso que já Cabinda estava inteiramente nas mãos do MPLA.

carlu1.jpg Podem ver agora e com clareza de 48 anos já passados que os retornados tiveram um desfecho muito parecido com o sucedido no Irão, no Iraque, no Afeganistão, na Líbia e aonde quer que houvesse petróleo, a moeda americana suporte de sua supremacia. Costa Gomes, com esta decisão sentia-se agora mais confortável. Naquele então o segredo era manter tudo em banho-maria até o 11 de Novembro.

Muitos ou quase todos dos “libertadores” afectos ao MPLA, sonhavam com a casa, o carro, os privilégios e as posições dos colonos. Conquistaram-nas e tornaram-se piores do que aqueles gestores da Administração Ultramarina  do tempo colonial. Desculpar-se-ão com a guerra. Só que a guerra, que matou tantos e estropiou, alimentou um punhado de pessoas, que se tornaram insultuosamente ricas…

mfa2.jpg Nota*: O 25 de Novembro de 75, foi o golpe que retituiu a democracia a Portugal, apòs a rebelderia do PREC e a descolonização, em que se destacram Jaime Neves dos Comandos e Ramalho Eanes que forçaram Costa Gomes a mudar de rumo bem como o PCP com Álvaro Cunhal, na liderança…” O antigo Regimento de Comandos, na Amadora, evoca todos os anos, de um modo especial, dois dos seus combatentes, o tenente José Coimbra e o furriel Joaquim Pires, mortos no 25 de Novembro de 1975, numa acção militar para submeter o quartel da Polícia Militar, na Calçada da Ajuda, em Lisboa.  

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:56
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Quarta-feira, 15 de Novembro de 2023
VIAGENS . 106

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3517 – 15.11.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já”

Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata”- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

mocanda7.jpg Aleatoriamente, os acontecimentos de Luanda, descrevem-se sem seguir uma agenda temporal, o que nos leva a  viajarmos no espaço da narrativa com datas anteriores ou posteriores. Dito isto, em Abril de 1975 Jomo Keniata organiza a Cimeira de Nakuru no Quénia, na qual a UNITA, MPLA e FNLA acordam na formação de um exército nacional único. Neste mesmo mês Savimbi chega a Luanda.Tonou-se mais que evidente de que o MPLA estava a mentir!

Cerca de dois meses depois (Junho de 75), o MPLA destrói um quartel da UNITA na capital., chacinando militares e civis ali bivacados – este episódio ficou conhecido por “MASSACRE DO PICA-PAU”, nome do bairro que albergou o quartel. Definitivamente o MPLA, pelas ordens de Rosa Coutinho, o cunhado de Agostinho Neto, não queria nenhum dos outros Movimentos intervenientes no “ACORDO DE ALVOR” em Luanda.

silas4.jpg Eu direi que este foi o mais escandaloso “DESACORDO” na estória recente que envolve países dos PALOPS e, no Mundo moderno . Em Julho de 1975, começa verdadeiramente a batalha pelo controlo de Luanda. MPLA e FNLA envolvem-se em violentos confrontos que originam a expulsão dos homens de Holden Roberto da capital, muitos deles zairenses com fardas do ELNA.

O MPLA com ajuda das “NT - Nossas tropas - Tugas”, em logística e armas, utiliza todos os meios para combater a FNLA, incluindo a calúnia e mentiras absurdamente irreais como chamar antropófagos aos militares deste movimento. Vísceras supostamente retiradas das casas dos dirigentes da FNLA foram exibidas… Coisa mais macabra, até parece mentira e, decerto não virá nos anais da estória contada por medíocres ou falsos historiadores da praça Lusa.

tonito31.jpg Assaltaram o Laboratório do Instituto de Medicina Legal de Luanda para retirar órgãos humanos e propagandearem a seguir em muitos posters, que a FNLA era um bando de antropófagos, que comiam fígados e corações de gente – Uns canibais, afirmavam eles! A médica responsável pelo Laboratório deu à língua e, misteriosamente desapareceu. Algum tempo depois foi encontrado um cadáver feminino calcinado pela cal, possivelmente o seu.

Tudo valia para lançar o terror e, principalmente à população branca… Naqueles tempos da Luua, todos faziam o que lhe dava na gana com a “Kalash” na mão, saltando no tempo do tempo… Sem definir datas ou horas exactas com gente impreparada e, miúdos “pioneiros”, o MPLA, faziam querer tomar o controlo de tudo e, por modos de provocar a fuga de brancos e assimilados, mazombos como eu… Para álem do M´Puto, o Mundo todo, colaborava numa farsa

quem3.png A lei, a ordem, a justiça eram coisas quase inexistentes ou anedóticas pela pior das negativas… Um retrocesso ao tribalismo com todas as nuances, tudo muito carregado de misticismo e crenças de quimbandas ou sobas analfabetos e sem o mínimo de preparação para gerir o que quer que fosse. Melo Antunes, Mário Soares e outros encarnados na vermelhidão, decerto lá nos areópagos internacionais, não dissertavam conversas destas com Kissinger mentindo-se

Não, porque para estes (os países donos do Mundo – USA e não só), tanto se lhe dava que fosse assim ou assado, logo que tivessem o controlo do ouro negro – o petróleo. já a sair pelo tubo ladrão da Golf Oil Americana. Alguns de nós, manietados de todo, a tudo assistíamos martelando caixotes, rilhando o dente sem mais poder fazer, pois nossos magalas do M´Puto ajudavam as hordas de pseudo-revolucionários e, até ajudavam a pilhar nossas casas. Foram vistos e filmados nas avenidas Brasil e Combatentes a roubarem em dia claro…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:33
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Segunda-feira, 13 de Novembro de 2023
VIAGENS . 105

NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3516 – 13.11.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

an4.jpegNão obstante termos passado pelo purgatório, continuamos a relembrar com saudade a MUTAMBA, que vem de “mu”, que significa árvore em Kimbundu. Que Tamba é o Tambarino – e que ali, havia um tambarineiro gigante a dar dignidade ao l argo. Que antes se chamava "N'Dange ia Rosa"", que quer dizer "rua larga e arenosa" em Kimbundu.

Que havia uma "Maianga" porque esse é o nome para poço de água, cacimbas mandadas construir pelos Tugas para prover a água à cidade (LUUA). Como poderemos apagar tudo isto de nossas memórias! Até aqui, todos os militares com patentes acima de sargentos e oficiais do MFA, da JSN (Junta de salvação Nacional - junta governativa), que festejaram este acontecimento, amealharam riqueza até então, fruto de várias comissões.

tesouras.jpg Até ali soube-lhes bem as comissões que lhes proporcionavam riqueza, boas casas e bem surtidas na linha de Cascais, Estoril ou Algarve do M´Puto. Com contas bancárias bem desafogadas, noé!? Com estes militares de aviário, de novo se revê o início de nosso mundo. Um retorno à estória sempre confusa da bíblia em que a Lilith, a diaba feita anjo, irmã de Eva, a tentou a comer a maça! E, não é que comeu, castigando-nos deste jeito! Mas que estória de tuji…


Já no dia 27 de Julho de 1974, três meses e dois dias depois do Vinticinco, quando Spínola anunciou o direito à independência pela lei 7/74, o Almirante Vermelho Rosa Coutinho, afirmou: “ …O homem, (referia-se a Spínola) sempre vai pelo caminho que a gente quer”. A gente a que se refere, são só eles, os militares da abrilada. Para explicar preto no branco ou vice-versa, o processo de descolonização em Angola, terá de se fazer um preâmbulo sobre o espaço-tempo…

luis50.jpg Um espaço sem entrar em minúcias, ou um pouco à frente ou um pouco atrás porque neste periclitante processo nada andou seguindo as teorias conhecidas, sem um relógio de cuco porque, o cuco foi estrangulado no tempo exacto em que a recta começou a ser curva e, quando se vislumbrou o alcance dos objectivos, já era tarde. Não leia de atravessado porque o todo só é entendível se percorrer as linhas cruciais do raciocínio lógico e, sempre presente.

Era tarde para quem estava no meio da fogueira chamada de descolonização, e até para os que tinham bons auspícios (nós, os inocentes) sobre o ainda não acontecido. Uns e outros, por inocência, por malvadez, por incúria, por pedantismo ou vaidade foram apanhados por aquelas muitas rodas, o roce de correntes que nos tornaram ásperos e por razões diferentes, porque uns sofreram na pele, outros retiraram dividendos e petulância e outros, simplesmente, morreram…

povo1.jpg Despolitizados, muito cheios de coisa nenhuma nos meandros das pequenas coisas e politicas, nós retornados, em termos politicos, éramos mesmo uns calhaus na Luua. Passeávamos despreocupados nossa ignorância pela Mutamba, pelos bairros, pelas farras, pelos cafés jogando às moedas, na praia ou em pikniques ao fim de semana. A escola não nos deu os conhecimentos da mente e, ali andávamos, simplesmente gozando no bem-bom do dia-a-dia ausentando-nos de tudo o resto – das muitas e reais injustiças sociais. Como tantos outros, também eu fui apanhado como inocente, cultivando-me na cultura do cinema, nas idas ao baleizão comer cachorro quente e, tudo, porque a vida nos era legada em uma terra que pensávamos ser de todos nós…

E, Aconteceu! Terei deste modo, de dar estes poucos laivos de recordação para que assim possam espairecer vossos cerebelos, já muito torturados: Foi na Praia de Sangano um pouco a norte de Cabo Ledo que desembarcaram os primeiros homens comandados pelo General Raul Diaz Arqueles. Ali descarregaram os primeiros complexos móveis de defesa antiaérea “Strela”. Os instrutores deste equipamento sofisticado, estavam a ser coordenados pelo Coronel Trofimenko que a partir da Republica do Congo Brazaville enviavam numa primeira fase, pequenos aviões para aterrizar na pequena pista de aviação da Kissama em Cabo Ledo.
(Continua…)
O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:33
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Sábado, 11 de Novembro de 2023
VIAGENS . 104

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3515 – 11.11.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”

Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

luua01.jpg Rosa Coutinho, já como Alto-Comissário escreve uma carta timbrada do antigo Gabinete do Governo Geral de Angola a Agostinho Neto, presidente do MPLA nos seguintes termos: “Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do processo…”

Processo a saber: “Aterrorizar por todos os meios os brancos, matando, pilhando, e incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos.” A Carta é datada de 22 de Dezembro de 1974, terminando com saudações revolucionárias, a vitória é certa, seguindo-se a assinatura, Alves Rosa Coutinho, Vice-Almirante.

luua03.jpg A revista The Economist, considerou a fuga dos portugueses brancos, como sendo “ o maior êxodo da história de África”. Nem no Congo onde entre Janeiro e Julho de 1960 a população branca caiu de 110.000 para apenas 18.000 pessoas, e se viu tamanho movimento populacional como aquele que foi observado na África Portuguesa. O governo de esquerda portuguesa, criminosamente adiou até ao último momento qualquer ajuda ou apoio substancial aos refugiados.

Se compararmos estes episódios com os refugiados actuais de que chegam de todo o lado à Europa, em lanchas vulcanizadas, nós os “retornados” fomos socialmente, pior recebidos; foi a comunidade Internacional e principalmente os Estados Unidos da América que tiveram de interceder no marasmo de cacafonia nos ecos de dirigentes do MFA.

luua02.jpg As NT - Nossas Tropas, já não eram nossas. Em verdade, praticamente, os brancos eram maioritariamente os quadros com a necessária preparação para governar e gerir a vida económica em Angola. Salvo raras excepções não havia entre estes, empatia com esse tal de Marxismo e Leninismo constituindo por isso um forte travão aos interesses soviéticos.

Teríamos assim de ser expulsos ou mortos tal como o foi afirmado por esses “patrícios” de tuji e militares do famigerado CR – Concelho da Revolução… Ficamos assim abandonados à mecê dos guerrilheiros armados dos “movimentos de libertação” que intoxicados em drogas e ideologias enviesadas, com o cérebro envenenado pela propaganda marxista, estavam dispostos a massacrar todos os brancos em África.

luua04.jpg Cidades inteiras, outrora prósperas e bem cuidadas, como Carmona (Uíge) e Malange foram abandonadas devido à fuga de quase toda a população. Malange acabou por se transformar em um imenso cemitério a céu aberto com milhares de pessoas mortas, em sua maioria africanos, que ainda estavam insepultas quando se abandonou a cidade.

Alguns brancos tentaram resistir em Luanda, mas a esmagadora maioria rapidamente se apercebeu que a limpeza étnica de que estavam a ser vítimas era para ir até ao fim e que, a única opção viável que o regime de Abril lhe havia dado, era a de fugirem deixando para trás toda uma vida de trabalho. Sob todos os pontos de vista do direito internacional, o que se passou na África Portuguesa em consequência do VINTICINCO de Abril de 1974, constitui um crime contra a humanidade e, como tal o deve ser considerado.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:59
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Sexta-feira, 10 de Novembro de 2023
VIAGENS . 103

NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3514 – 10.11.2023
“Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”
Às margens do Cubango - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

pombinho5.jpg Rosa Coutinho, o marinheiro, foi o oficial de aviário mais verdadeiro na história recente dos Tugas do M´Puto pois que teve o seu início de famoso, numa gaiola amarrada com lianas do N´Zaire. Terá sido Holden Roberto da FNLA, como patrulheiro da fronteira do Congo que o fez passear em uma jaula como se o fora, um macaco. Esta figura, o contemporâneo “maior traidor militar português”, deveria estar em maior destaque. Pois, assim sendo, deveria estar nesse mausoléu dos mwangolés, chamado de “Sputnik” da capital Angolana – Luanda, pois que, foi ele quem forjou toda a táctica de “libertação”.
Ele, Rosa Coutinho, estará salvo seja para Angola, como Simon Bolivar o está para a América - a chave basilar nas guerras de independência da América Espanhola - (…Bolívia, Colômbia, Equador, Panamá, Peru e Venezuela), pois, foi este o monstro “Vice-Almirante e Alto-comissário” que para todos nós brancos da Luua e todos os demais espalhados pelos matos do sertão e cidades, proporcionou ao MPLA ficar na governação deste território, sem qualquer mérito.

florido3.png Agostinho Neto, o primeiro presidente, só o foi em verdade, uma testa de ferro daquela figura detestável com nome de Rosa… No entanto teve a ousadia de dizer à coisa dada que “a independência, arranca-se” – Mas qual foi seu mérito!? Rosa Coutinho - o traidor, aliado às artimanhas do “glorioso PREC” - Processo de Revolução em Curso, do MFA – Movimento das Forças Armadas do M´Puto, que tudo lhe deram. Tuco combinado unha com carne com o glorioso MPLA, fez o que quis: pintou e bordou a preceito e, conforme as directivas comunistas.
Nós, os brancos (ditos colonos), ficamos como pulgas entre unhas de dois polegares, sem armas, sem qualquer ajuda, num abandono quase quase total; pronto para o serem: mortos! Quanto à ajuda pela União Soviética através de Cuba - Pois, (...) vocês sabem o que Rosa Coutinho e os estafermos do MFA queriam que se soubesse. A grande maioria da população de Portugal estava em conformidade com esta postura, desinformado até ao tutano pelos órgãos de informação.

fuga6.jpg Pelos mesmos órgãos de informação controlados pelos guedelhudos militares pseudo revolucionários. Dizia-se: Os brancos eram definitivamente uns exploradores, uns fascistas e racistas da pior espécie. No M`Puto, até nossos familiares, nos aceitaram com desdém, manuseando crachás com a Catarina Eufémia ao peito. Entretanto as forças cubanas iam chegando a Cabo Ledo numa praia deserta com o nome de Sangano.
Foi por aqui que entraram os primeiros militares cubanos que deram formação às primeiras tropas organizadas do MPLA. E, foi Carlos Fabião, Flávio Bravo e Agostinho Neto que acordam os pormenores da participação Cubana na Operação Carlota, a que ficou conhecida como a Batalha de Luanda. Pode-se agora, 48 anos depois do ano de 75 recordar: Foi na Praia de Sangano que desembarcaram esses primeiros homens comandados pelo General Raul Diaz Arqueles.

flit2.jpg Ali descarregaram os primeiros complexos móveis de defesa antiaérea “Strela”. Os instrutores deste equipamento sofisticado, estavam a ser coordenados pelo Coronel Trofimenko que a partir da Republica do Congo Brazaville enviavam numa primeira fase, pequenos aviões para aterrizar na pequena pista de aviação da Kissama em Cabo Ledo.
Pois foi aqui que saíram nessa Operação Carlota no terceiro trimestre desse ano; oficiais que por ali passaram tais como: Abelardo Colomé Ibarra, Lopes Cubas, Freitas Ramirez, Leopoldo Cintras Frias ou Romário Sotomayor. Foram estes e os jovens da Academia Militar de “Ceiba del Água” que mais tarde deram os pormenores já descritos em várias fontes que iremos recordar. Cabo Ledo teve uma forte intervenção na sinalização daquela que ficou conhecida por a “Batalha de Luanda”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:15
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Quinta-feira, 9 de Novembro de 2023
VIAGENS . 102

NAS FRINCHAS DO TEMPO

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3513 – 09.11.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!”

Às margens do Cubango- “Missão Xirikwata” - Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

araujo160.jpg Da visita a Cuba, Otelo recebeu alguns presentes, entre os quais três armas: uma Kalashnikov, uma pistola oferecida por Raul Castro e ainda uma pistola-metralhadora. Mas a recordação mais importante que teve com Fidel, foi sem dúvida a conversa secreta com Fidel. Otelo foi sem dúvida, o primeiro português a saber que militares cubanos iriam combater em Angola pois que, foi ele a fazer o pedido

Mas, o que nem ele, Otelo do COPCOM, nem Fidel Castro previram, foram os efectivos que o contigente militar acabaria por ter e, mais do que isso, que a guerra iria prolongar-se por tanto tempo, acabando por dali sairem sem uma vitória militar, deichando no entanto à revelia, o comando de Angola a cargo do MPLA… Chegados aqui terei de recordar o que João Ferreira, um leitor assíduo do Kimbo lembra o que todos sabem  assim ter sido, mas pouco falado  – o saque feito por Cuba.

cuba01.png O grande sucesso do apoio cubano aos marxistas áquela data, foi o que os cubanos no seu regresso a Cuba, roubaram! De quantas pedras de mármore, lapides que à data existiam nos cemitérios Angolanos. Também o que uma corja de pseudo comunistas portugueses roubaram, a saber: o café que se encontrava nos armazens de Luanda para exportação. Café chegado a  Portugal e, que àquela data foi apreendido ao entrar na barra do Tejo.

Um navio carregado de café roubado em Angola e, daí certos contrabandistas passarem a ser industriais de torrefacões de café, algures nesses tempos, senhores analfabetos, bufos da Guarda Fiscal e dos Carabineiros. Concluindo, Cuba devido á sua dimensão territorial com pequenos produtores de café quiseram também como resgate de guerra, o mármore das campas, jazigos, máquinas modernas de clinicas medicas entre muitas outras, diversificadas.

guerra17.jpg À margem de todo o aspecto legal, os de cá – Do M´Puto & Cuba, que sem nada produziem quiseram e assim o conseguiram por obra e graça de manobras e manigâncias governamentais, do ouro dos cafeeiros, das máquinas com técnologia de ponta - do suor dos chamados colonos… Poderes para massacrar, espezinhado consciências e desvios por leis trabalhadas em adultério e incesto ao anterior Ministério do Ultramar danificando as mentes dos povos africanos: negros, mestiços, albinos brancos e.quem por lá vivia naquelas terra - a sua terra.

A história, sempre transpirará a verdade dos factos. Não se pode enganar toda a gente durante todo o tempo! É tempo de reavivar o 25 de Novembro, ressarcir as verdades aos portugueses e a angolanos porque, naquele então da Luua, a poeira fétida esvoaçava nos bairros da Luua enquanto a diplomacia corria em segredo entre esquerdoidos. E, por lá ficavam casas habitáveis e com recheio, carros, camiões entre a tralha dos jardins, cinemas, lojas, armazéns, restaurantes; edifícios intactos como se uma epidemia tivesse ceifado nossas vidas.

fuga9.jpg Num era, não era,  assim como sair-se a caçar brancos, negros umbundos, fubeiros, taxistas, vendeiros das lojas, camionistas e um ou outro alvo mais planeado, atingindo este ou aquele personagem de quem não se gostava, de quem se teria raiva, de quem era necessário abater porque visava qualquer acto em curso; enfim, estorvos!

De repente os brancos e assimilados, gente de sapato com coiro engraxado, matutos, mazombos, mulatos ou alguns negros esclarecidos, estorvavam. Viaturas prontas a andar foram deixadas aos milhares por aqui e ali ao acaso, famílias inteiras aventurando-se em uma odisseia de centenas ou milhares de quilómetros, correndo riscos, andando à sorte fintando por vezes, cadáveres amontoados nas bermas das estradas ou picadas. Com cheiro de virar tripas afastava-se o labor da memória - fazendas abandonadas, gado perdido e gente andando para sul, para leste, para um rumo desconhecido…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:05
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Quarta-feira, 8 de Novembro de 2023
VIAGENS . 101

NAS FRINCHAS DO TEMPO 

 "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3512 – 06.11.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”  Às margens do Cubango

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

cuba01.jpg N´Zambi a tu bane n´guzu mu kukaiela”, Deus dá-nos força para seguir… Cidade de MALANGE- Cem mortos, é assim que o Furriel de Transmissões Agostinho Pinto, colocado em Malange encabeça a descrição de seus dias ali passados:  “No dia 28 de Maio de 75, estando em escuta via rádio com  os   meus   homens,   o malanjino Abílio Araújo mais o Luís Nabais Moreno, acontece  pelas 16h30 horas ouvirem-se as primeiras morteiradas. Pode ver-se por cima dos telhados, Malanje começar a arder…

Aconteceu no trajeto curto para o quartel naquele dia, sermos revistados por guerrilheiros do MPLA, armados de kalashnikov, crianças – algo insólito! Naquele   cenário   de   guerra desregada e louca,  tudo poderia acontecer.  Senti-me o militar mais inútel, tão diminuído e  baralhado nesta confusa ficção. Tudo acabou por se resolver com uns maços de tabaco e alguns angolares. Em nossos postos, só conseguimos sair da escuta por volta das dezanove horas.

Malambas3.jpg Porque o  recolher   obrigatório   estava instalado, já não  fui para   o   meu quarto alugado da cidade, aonde vivia; ali já não havia, condições de segurança. Do batalhão (BART 6323), desloquei-me à CCS. Pela primeira e única vez passámos fome; na   messe   de   sargentos   só   havia bolachas e chá, pois o comércio estava   fechado,   a   farinha   tinha esgotado, não havia pão e os trabalhadores do comércio e serviços, dada a situação de guerra civil, poucos  arriscavam sair de casa.

Era mais que evidente  não estarem reunidas as mínimas condições de segurança para o povo e por precaução evidente, o recolher obrigatório era para respeitar. No dia seguinte já se contabilizavam para cima de 100 mortos e desalojados sem fim. Estávamos na messe dos sargentos em pleno recolher obrigatório e, de repente, vejo um jovem africano, que não   teria   mais   de   15/16   anos,   a correr, desrespeitando o recolher obrigatório para ir para a sua casa, no bairro da Catepa, quando ouço uma   voz   da   FNLA   a   perguntar: "quem   vem   lá?". 

máscaras3.jpg Suponho que era a voz do mercenário “Passarão”, assim era conhecido o terror rambo da FNLA, que andava à civil   e,   de   metralhadora   kalashnikov, de boina e cabelo comprido. O miúdo respondeu "é camarada", o que foi a resposta errada, no sítio errado, à hora errada… O termo camarada era sentença   de   morte,   cheirava   a   MPLA. Ouve-se uma rajada e o rapaz caiu de imediato, assassinado a sangue frio.

E, nós, militares, impotentes! Podem calcular a revolta que todos sentimos, mas não havia ordem para actuarmos descontentando-nos no vexame de cobardes; o mínimo   que   fizemos   por   aquele adolescente foi chamar a ambulância para levantar o corpo  que jazia inerte. Essa imagem, que tenho gravada na minha memória, vai acompanhar-me até ao resto dos meus dias.

guerra11.jpg A partir dessa noite, a nossa primeira tarefa do dia – minha, do Abílio,   Araújo   e   do   Luís   Nabais Moreno   –   era ir todos   os   dias   às sete   da   manhã   à   morgue   ver quantos brancos e conhecidos tinham morrido na noite anterior. Um   ritual   macabro,   eu   sei,   mas era mesmo assim. A cidade estava totalmente desventrada dos bombardeamentos.   A   12   de   junho   de   1975,   parti   na   coluna   militar para Luanda, tendo regressado a Lisboa no dia 24 Junho de 1975” (fim de citação).

Entretanto, seu chefe supremo, o Coronel de aviário, Otelo Saraiva de Carvalho, chefe do COPCOM e influenciador do PREC, estava em Cuba preparando o discurso  do grande dia de Cuba a 26 de Julho, data do assalto ao Quartel de Moncada, com o tradicional comício presidido por Fidel Castro. Otelo, falou, para 600 mil pessoas, segundo números oficiais, numa fala  de 20 minutos. Mais tarde fez questão de assinalar: ”Destaquei a importância da liberdade de escolha do povo e da sua capacidade de intervenção política”. O discurso foi transcrito, na íntegra, no Gramma, jornal oficial do PC cubano, ao lado de Fidel, que durou uma hora e vinte minutos.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:00
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Sábado, 4 de Novembro de 2023
VIAGENS . 100

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3511 – 04.11.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - “Tropas cubanas para Angola, já!”

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

an2.jpeg No Mukwé - N´Zambi a tu bane n´guzu mu kukaiela”, Deus dá-nos força para seguir…– Sou eu falando: Na Luua, da boca de toda a gente era dito que se não fossem tomadas medidas de prevenção em curto prazo, todos estariam a viver uma situação de generalizada violência incontrolável. As autoridades do M´Puto não quiseram ver nem tomar medidas protectoras para com as populações maioritariamente de etnia branca que se encontravam nos matos ou periferia das cidades; esta é a verdade! Miranda Oliveira e Teles da Chibia, só escutavam  seu mais-velho, kota amigo.

Harmonizar a existência do sofrimento com a realidade é talvez, o mais antigo dilema da mente humana. Quando quero chorar, faço churrasco a popósito e, no entretatanto de atiçar as brasas com restos de  palmeira e rosmaninho ou alecrim meio seco,  meio húmido, abano o fumo.  Fumo que  penetra em mim após o sopro, nas nuvens pretas. O choro, mesmo sem o querer, vem limpando-me os olhos das mazelas; por fim, com fumo branco, brasas incandescentes, viro papa genérico e, emérito. Em busca de respostas, mergulhamos em especulações que resultam normalmente em dúvida e descrença. Com o pensamento voltado na busca de satisfação de alguma coisa pequena, alargamos sua importância de forma desmedida. E, assim ficamos matutando…

cuba 0.jpg Calma! Tudo irá passar... Por alturas de 25 de Novembro de 1975, vi escrito numa parede de Torres Novas do M´Puto, assinado com um A circunscrito de anarquistas: “Otelo Saraiva de Carvalho, que lindo nome tens tu, tira o V do carvalho e mete o resto no Cú” – talqualmente! Esteve ali bastante tempo antes que alguém se caiasse de coragem… Neste então, morava eu na rua da Várzea do cemitério bem perto da Rua do Arraial,  a uns quatro quilómetros do Riachos, a terra natal de Otelo Saraiva…

O revolucionário Otelo do COPCON, acabou por dizer mais tarde, que foi o PCP seu “inspirador” em sua ida a Cuba. Para o efeito foi enviado previamente Octávio Pato, fazendo de pombo correio, diligências numa  missão a que eu desigaria mais tarde de tundamunjila - “Tunda Mu N´jila” (Vai embora branco) . Na altura, entre Otelo e o PCP existiam graudas amizades e, não custa acreditar que os comunistas portugueses indicassem Otelo a Fidel numa perfeita escolha na feitura  duma boa picada lá na Angola…

step6.jpg E de facto, nas várias conversas com Otelo, de camarada revolucionário para para camaradas jornalistas, os “conselhos”, entre muitas falas não faltavam, como recorda: “ O Fidel interessava-se muito pela revolução portuguesa. Aconselhou-me a aceitar os conselhos do PCP e a fazer um entendimento com Álvaro Cunhal, que ele conhecia e de quem tinha uma excelente opinião.--

Era, aliás, o único dirigente político português que ele, Fidel de Castro, conhecia. Fidel foi sempre muito cordial comigo (diz ele, Otelo) e, mesmo no final da visita, quando eu já estava a embarcar no avião de regresso a Lisboa, subiu à cabina para me dar mais um abraço e dizer-me: “Cuida-te camarada!”.

:

dia20.jpg Arrepia-me agora e sempre, contar estórias feitas missossos revolucionários porque me é muito, muito de dificultoso ficar só assim, conciliar no que é a puta da vida de cada qual como vim a saber, quando fui a Varadero de Cuba comer lagosta transpirada de medo. Isso! Num alpendre rodeado de citronela para espantar os mosquitos, E, eu que me dispus a fazer um molho daquele capim para fazer chá caxinde  no hotel – ué, camarada isso não se bebe!

Porque foi na candonga e num  comoé, não convém a gente levantar escândalo de começo porque só aos poucos é que o escuro fica claro! Ando a tentar continuar a estória do Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho que foi um coronel de artilharia português, destacando-se por ter sido um dos principais estrategas do 25 de Abril de 1974. Otelo, que antes de anteontem era só de ex-COPCOM mas, que  ficou por demais indefinido, defuntando-se só mesmo para receber uma condecoração de herói a titulo póstomo.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:53
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Terça-feira, 31 de Outubro de 2023
VIAGENS . 99

NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)

"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3510 – 31.10.2023

-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - “Tropas cubanas para Angola, já!” - Nossas vidas têm muitos kitukus…

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

sacag11.jpg Cubanos em Angola para resolver os conflitos entre o MPLA, a UNITA e a FNLA!? Uma treta! As forças cubanas iam fundamentalmente para ajudar o MPLA. Luís Marinho da Revista VISÂO adiantou na conversa secreta entre Otelo e Fidel - Diz Otelo: “Foi uma conversa muito secreta, na qual Fidel começou por me contar que tinha recebido uma visita de Agostinho Neto, presidente do MPLA, que se mostrara muito apreensivo com o que estava a acontecer em Angola. Havia muitas forças em confronto: a FNLA, apoiada pelo Zaire e os americanos e a UNITA, apoiada pela África do Sul…”

E, continua: “…Quanto ao MPLA, Agostinho Neto temia que ficasse isolado, uma vez que também estava muito dividido interiormente. O MFA, via Rosa Coutinho, tinha evitado que o MPLA se afundasse. Tinha sido uma directiva do MFA. Agostinho Neto considerava que, se não houvesse apoio militar significativo, o MPLA seria esmagado. Segundo Fidel, Agostinho Neto já tinha contactado Costa Gomes, a quem pedira que as forças militares portuguesas ficassem em Angola, depois da independência, para arbitrar o conflito.”

john4.jpg E, continua: “… A resposta de Costa Gomes tinha sido muito evasiva e, Agostinho Neto não acreditava que o presidente português aceitasse o pedido. Desta forma, pediu apoio militar aos cubanos. Fidel Castro pediu a minha opinião (É Otelo que o diz), sobre isso, confessando que estava hesitante; garantiu-me que se as forças militares portuguesas ficassem em Angola depois de 11 de Novembro, não enviaria tropas cubanas para apoiar o MPLA. Caso contrário, estava disposto a envolver-se no conflito.”

E, continua: “…Eu disse-lhe abertamente que não acreditava que as tropas portuguesas podessem ficar em Angola depois da independência, tendo em conta a situação interna em Portugal, mas ofereci-me para levar uma mensagem ao Presidente Costa Gomes, a quem pediria que desse rapidamente uma resposta ao dirigente cubano.”

guevara0.jpg E Otelo, continua: “… No entanto, aconselhei Fidel a preparar as suas tropas para seguirem para Angola. Quando cheguei a Lisboa, no dia 31 de Julho, fui directamente para uma reunião do Conselho da Revolução, que só terminou por volta das seis da manhã do dia seguinte, 1 de Agosto. Apesar disso, falei com Costa Gomes no seu gabinete do Palácio de Belém, e expus-lhe a situação.”

E, continua: “… Só me disse que o assunto ficava com ele. Acho que Costa Gomes nunca respondeu a Fidel (mentira, digo eu…). De certa forma, esta conversa marcou o destino de Angola”. De facto os primeiros contigentes cubanos chegaram a Angola nos primeiros dias de Outubro. Foram transportados de barco e desembarcaram em Porto Amboim. Sabe-se que assim não o foi pois, entraram muito antes! Lá mais para a frente, vamos ficar a saber

sara1.jpg Oficialmente, Cuba só respondeu ao pedido do MPLA em 5 de Novembro (Acho que foi bem antes com o envio de concelheiros e observadores…) . Foi então desencadeada uma operação de transporte de tropas, por via aérea, denominada operação Carlota, que, até à data da independência, 11 de Novembro, colocou em Luanda cerca de três mil soldados cubanos, afinal os principais responsáveis pela reviravolta registada na situação militar, favorável ao MPLA.

CUBA14.jpg Por todo o lado, em Angola, de Cabinda ao Cubango, dia para dia, viam-se menos caras conhecidas da rua, no bairro, no trabalho; médicos, engenheiros, padeiros, contínuos, bancários.  Davam o fora - bazavam de um momento para o outro  sem nada dizer, talvez escondendo sua cobardia; não queriam ficar para assistir aos dez e onze de Novembro porque tudo era uma incógnita… Para trás iam ficando cidades fantasmas aonde só o vento uivava com alguns cães deixados ao abandono. Malange foi assim em um certo tempo, a cidade mártir, os relatos radiofónicos das emissoras, Oficial, Católica e Rádios Clube, eram de arrepiar…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:51
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