Segunda-feira, 12 de Dezembro de 2022
MALAMBAS. CCLXXII

NAS FRINCHAS DO TEMPO, NA PRAIA

– Crónica 3322 de 15.06.2022 – Republicada a 12.12.2022  - Quando tudo nos ultrapassa no tempo, apalpamos as medidas da natureza …

Por tonito15.jpg T´Chingange (Otchingandji) – No AlGharb do M´puto

sorte2.jpg O barulho no escuro da noite continuou mais intenso e, já levantado segui para a sala. Pude constatar que o ventilador maior estava soprando sua perene ventilação sem qualquer preâmbulo de coisa ruim; digo isto porque trabalha infindavelmente por meio de um relógio travado com um garrancho feito com rolha de cortiça para enganar o tempo. Sendo assim este dito cujo, trabalha sempre!

Os trinta e nove graus fizeram com que ficasse todo o santo-dia de ontem com as janelas tapadas; o escuro era tanto que tive de usar um pequeno candeeiro para poder ver as teclas do computador. Como devem saber a luz, transporta o calor e vai daí corri os ferrolhos artesanais vedando a luz e ar quente. Foi por isso que liguei os dois estropiados ventiladores que só lançam vento numa direcção – seus botões de rodar pifaram e servem assim mesmo dando vento aos cantos que rodopiam nas esquinas e nossos corpos…

A televisão das antigas com um TDT HD – DTB700PT adaptador, também deu o berro. Aparece o sinal verde mas a TV, nicles de bitocles – Ou alteraram as frequências ou fizeram um cambalacho governamental para nos extorquir mais uns cobres. Esta terra do M´Puto tem mais espertos que grilos no verão! Lá pendurada no tecto a TV, diz que não há sinal! Não dá nada, porra nenhuma – rodei a antena para o lugar de Santiago do Cacem e, nadica de nada! Está na hora de mudar por uma nova com ligação à internet por Bluetooth, uma moderna forma de ficarmos controlados pelos anjos, arcanjos e o capeta chifrudo – estamos feitos ao bife!

sorte3.jpg  Isto é importante saber porque no mundo de hoje o Bluetooth representa uma ameaça mais significativa, pois é um sinal sem fio frequente e constante emitido por todos os nossos dispositivos móveis pessoais. No futuro, que já o é, teremos de aprender como modificar a estrutura de nossa existência e forçar nossas vidas e nossa psicose em moldes novos, alguns ainda mal conhecidos.

Teremos assim de compreender como e porquê perante uma nova primeira vez, um novo potencial surge amolgando-nos no futuro. Todos os dispositivos sem fio têm pequenas imperfeições de fabrico no hardware que são exclusivas de cada dispositivo creio que a propósito – É a nova ordem das coisas!

Aquelas impressões digitais são um subproduto acidental do processo de produção. Estas imperfeições no hardware Bluetooth resultam em distorções únicas, que podem ser usadas como uma impressão digital para rastrear um dispositivo específico. Daqui eu dizer sempre que é muito perigoso pensar, falar, comentar e até muxoxar asneirentas verdades. Para o Bluetooth, isso permitiria que um invasor contorne técnicas anti-monitoriazação, como alterar constantemente o endereço que um dispositivo móvel usa para se ligar a redes da Internet.

torres2.jpg Os investigadores, engenheiros das sombras e almas, projectaram um novo método que não depende do preâmbulo, mas analisa todo o sinal Bluetooth. Eles desenvolveram um algoritmo que estima dois valores diferentes encontrados em sinais Bluetooth. Estes valores variam de acordo com os defeitos no hardware Bluetooth, dando aos investigadores a impressão digital exclusiva do dispositivo – nosso ADN

No silêncio da manhã, pardais chilreando, sigo até à padaria do Tonico a comprar o pão bom para se fazer as açordas de poejo ou coentros. Nas ruas daqui aonde estou, nascem poejos nas frinchas, nasce salsa e coentros que só não são usados porque os cães ali fazem javardices mijadas. Passo no antigo posto da GNR do tempo em que usavam cavalos; a porta larga por onde passava a tropa está encimada com um escudo de nobre lembrança e em cima duma cimalha há um leão segurando uma bola mundo – uma esfera armilar à semelhança do Leão de Ceilão. E, o futuro traz-nos senilidade, artérias endurecidas, pele enrugada por frouxas, calvície e uma apetência ao isolamento por não entendimento ou não aceitação. Amanhã será outro dia…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:26
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Domingo, 4 de Dezembro de 2022
GUARARAPES - 7

A SAGA DO AÇÚCARAS AGRURAS DE OLINDA COM OS MAFULOS

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA

Crónica nº 3313 de 07.06.2022 – Repetição a 04.12.2022 na falsa savana Alentejana do M´Puto

Por paradi2.jpgT´Chingange (Ochingandji)

Os Mouros e Mazagão – Brasil no tempo de D. João IV do M´Puto

o vazio.JPG O mundo hoje tornou-se uma ervilha com milhares de satélites a enviar dados do espaço para a terra; as notícias estão ao segundo em todo o lado mas, naqueles idos Tempos de Caramuru na América, Kaprandanda ou Silva Porto em África ou Mouzinho de Albuquerque na Ásia (índia), a vida era uma ousadia. Levavam-se meses para chegar da Europa à Tapurbana da Índia; as agruras eram muitas e tinham de ser destemidas, ao sabor do vento, das correntes, da sorte com milagres - por vezes tinham de cozer solas de sapato para dar alento à vida. Nem sempre os peixes voadores caíam nas amuradas do convés. É hoje inimaginável o trabalho com resiliência que os marinheiros Tugas tinham para fazer a globalidade que hoje temos.

As descrições da história aqui descritas, tem especial acuidade, por parte dos portugueses a fim de, se compreender o elo de ligação entre América (Brasil), Angola (África) e a Ásia num oriente tão distante. Nem sempre a estória refere esta muito importante relação nos tempos. Os heróis de uns sempre serão os heróis dos demais e é um erro os estadistas e afins de hoje não entrelaçarem na estória esta tão grande Gesta Lusa.

palops2.jpg Não se dá a devida atenção às instituições de CPLP ou PALOP´s e, é um grave erro passar ao lado dos grandes feitos de então. O Brasil reconheceu em Guararapes o início de sua própria integridade. Angola demora a reconhecer os altos valores dos Tugas desprezando-os por despeito ou tonta hipocrisia. Quanto mais tarde o reconhecerem tanto maior serão as perdas de civilidade e identidade*. Posto isto, seguiremos a senda do conhecimento que legou grandeza a Portugal. Faltam-nos ESTADISTAS para cantarem bem alto esta mais-valia.

Continuando a Saga dos Mafulos e Guararapes, agora reforçados com os conhecimentos do terreno pelo mestiço Calabar, após o reforço de novas tropas elevadas nos efectivos para 5500 infantes e militares de armas, também apoiados por 42 embarcações conquistam a Capitânia de Rio Grande do Norte, Paraíba e Hamaracá. O Arraial do Bom Jesus, sitiado durante três meses e três dias, capitulou a 6 de Junho de 1635. Faltava nesse então tudo o que podia servir de sustento; consumiram-se cavalos, couros, cães, cobras, gatos, ratos e, porque não havia mais pólvora deram-se por perdidos.

nzi01.jpg Furtando-se ardilosamente ao cerco iniciaram uma marcha para a Bahia com uma tropa de 140 homens brancos, acrescidos dos negros de Henrique Dias e dos índios de Filipe Camarão com a qual a 19 de Julho de 1636, tomam a Vila de Porto Calvo situada a uns 30 quilómetros da praia de Maragogi, actual estado de Alagoas. Mesmo desfalecidos por tão penosa marcha, tiveram a força aliada à astúcia com ousadia de tomar tal praça com 4 companhias num total de 400 militares bem armados e municiados.

O comandante Mafulo Alexandre Picard, por ocasião da rendição (Porto Calvo), entregou como prisioneiro Domingos Fernando Calabar, o traidor mestiço que foi de imediato e sumariamente condenado à morte por garroteamento em 22 de julho daquele mesmo ano; o traidor pagou o preço certo e sem desconto para gaudio de toda a Gesta Luso-Brasileira no comando de Matias de Albuquerque. (Hoje, ao invés deste procedimento – no M´Puto, dão-se condecorações – um desaforo!...)

O Conde João Maurício de Nassau-Siegen chegando a 23 de Janeiro de 1637 trouxe consigo a mais importante missão cientifica que até então pisara em terras da América, ainda hoje é objecto de atenção de todos que se dedicam ao estuda das ciências e botânica daquele período. Em verdade a administração do Conde de Maurício de Nassau deu um surto de progresso estendendo fronteiras desde Maranhão à foz do Rio São Francisco.

Coimbra13.jpg A partir de 1640, quando da aclamação de D. João IV, diante da força armada da Companhia Holandesa das Indias Ocidentais, se torna evidente que o Império Colonial Português na Ásia era coisa do passado. Perdidos que estavam os territórios de Malaca, as feitorias e fortalezas na Índia como Mazagão, as ilhas de Colombo, Ceilão e os territórios Craganor, Cohim, e Bombaim e o abandono da Arábia e Golfo Pérsico com a mão “sempre amiga” dos Ingleses, o Arquipélago das Molucas, parte de Timor e o afastamento com massacre de missionários do Japão. Um despautério quase por completo…

*NOTA – Tendo como fomentadores e instigadores os generais de aviário após o VINTICINCO de SETENTA E QUATRO com o bando armado de cabeludos do MFA que até saquearam seus irmãos na debandada africana… Debandada FORÇADA …

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Ochingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:07
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Sábado, 3 de Dezembro de 2022
MISSOSSO . LVIII

KILOMBO – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…

FALA KALADO NA PROMESSA DOS KALUNDU**

- Crónica com ficção* 331223ª de Várias Partes 06.06.2022 – Republicada a 03.12.2022 na falsa estepe do M´Puto - Alentejo

Por negritas.jpg T´Chingange (Otchingandji)  

che0.jpg Ché Guevara depois de sete meses passados no Congo Brazaville e, após constatar a pouca unidade dos soldados africanos em especial os afectos ao MPLA e, dado o pouco interesse do apoio internacional, Che contrariado, decidiu encerrar a primeira missão internacional do regime cubano. Mandou uma carta a Fidel Castro dizendo que o Victor Dreke "era um dos pilares em que confiava" para prosseguir a luta…

Após deixar África, os companheiros de Ché não seguiram pelo mesmo caminho. Ché mantinha vivo o desejo de exportar a revolução e organizou uma nova expedição revolucionária. Na Bolívia, foi capturado e executado dez meses após sua chegada, em Outubro de 1967. Há quem afirme que foi o próprio Fidel a congeminar o fim de Guevara pois que este estaria a ser-lhe sombra em sua liderança (como se o fora uma pedra no sapato). A relação de Dreke com África manteve-se viva liderando missões bem-sucedidas nas guerras de libertação da Guiné/Cabo Verde e República da Guiné. Chegados aqui teremos de nos rever em estórias mais recentes do panorama angolano e, a partir do átrio do Kilombo-Fundação.

dia213.jpg Estando eu no D´Jango das alvissaras estivais no jardim tropical da Fundação Zumbi de N´Gola e falando com Rosa Casado, a chefe de protocolo, fui informado que o Comendador Fala Calado, ex-guerrilheiro e ex-Coronel, embora débil, estava dando mostras de evoluir bem aos tratamentos dos remédios provenientes do Laboratório gerido por Andrey Blazhe, o biólogo e médico oriundo da Bulgária; as drogas eram ministrados com atenções esmeradas pelo médico ainda novo Juka Kalandula recentemente chegado de áfrica.

E, enquanto falávamos, ouvíamos um grupo de marimbeiros a tocar melodias bonitas no largo das cassuneiras. Os mesmos que viajaram com este médico, oriundos exactamente do mesmo local: Kalandula de Malange. Fiquei com ideia que se exibiriam pelo estado de Alagoas alegrando em complemento à quadra dos santos populares nas festas Juninas. Aquele gigante negro, guarda costas do Comendador que eu chamei lá atrás de Lothar Mandrak, veio até nós saudar-nos com vénia rasgada acrescentando que seu Mwata FC, estava disposto a receber-me daí a três dias. Neste momento recompunha-se de uma anomalia surgida na forma de craca em sua orelha original (a boa).

luandino2.jpgAcabado de chegar, o professor de economia, gestor do kilombo, Arrais Castelo de Cantanhede a nós se dirigiu logo após seu gesto ao moço de serviço pedindo desse modo já bem conhecido o café Santa Clara que tanto apreciava! Pois assim que juntando o indicado com o polegar fez o sinal de querer beber algo, algo que só poderia se uma xicara média desse cheiroso café. Sentando-se junto a nós com um comprimento tipo nazi de punho fechado disse: Heil Covid! E, nós entendemos este já tão comum afastamento nesta guerra surda de lutar com bactérias pandémicas e outras salmoneloses de tubarão, também com a real guerra em curso de devastação czarenta, cruel a ponto de assustar o Ivan, o Teerivel… 

Posto isto falou-se da saúde do Mwata Comendador vindo-me à ideia do que então falámos lá na Ilha da Fantasia em Petrolina. Do laboratório que já em tempos e em Petrolina tinha encetado a investigação de uma membrana extraída do besouro que conservava por séculos a planta do Calahári de nome Welwitschia Mirabilis. Uma membrana que era capaz de desenvolver tecidos de pele, ossos e cartilagens… Podíamos adivinhar e até congeminar que Andrey Blazhe, o médico biólogo, já teria encontrado algo que minimizasse o problema de alzheimer do Comendador mas, o silêncio deu consistência ao segredo que o tempo fazia prolongar.

nauk01.jpg Pois, se os pesquisadores foram capazes de criar uma estrutura em plástico biodegradável na qual as células animais se desenvolvem e reproduziram no formato de orelha com a estrutura biológica e anatomia desejada, também seriam capazes de desvendar formas de ludibriar o organismo, por forma a minimizarem os efeitos dessa doença tão debilitadora da condição humana.

Tenho para ti uma tarefa especial, disse ele para mim, o Chefe Mwata Comendador! Assim directamente, lá naquele tempo em que não mostrava outras debilidades disse: Necessito de alguém que superintenda as novas frentes de guerra - Gerir a produção de crocodilos, rãs, borboletas e caracóis! E, porquê eu, um kota ressequido pelo sol? Perguntei-lhe nesse então! A resposta foi pronta: Porque tu és um mwangolé branco com kalundu** e, tal porque só o somos no sempre dum espírito único do futuro! Mas, eu não sou preto!… Respondi! Sim, é isto e maisnada, tudojunto! Falando no plural disse: O nosso pensamento sempre anda por lá, por N´Gola e, queiramos ou não agora seremos pretos de coração zebra! Falou, tá falado… Será que quer de novo falar-me disto! É que ele repetiu então assim e, em voz alta: Pópilas - não vale a pena morrer de véspera! Iremos ver o que vai dizer?!… É que para ele tudo, tudo é guerra…

nauk3.jpg

Notas: *Esta é uma estória inventada só no que concerne às mentiras…

**kalundu – É uma divindade ou espirito justiceiro, presente na natureza (A entrevista com o Brigadeiro N´Dachala, continuará lá mais para a frente- depois das eleições previstas neste ano de 2022…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:26
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Sexta-feira, 2 de Dezembro de 2022
MALAMBAS. CCLXXI

DA PRAIA EM TEMPO COM FRINCHAS - Com 77 anos feitos ontem, sinto-me palhaço no particípio passado mas, não dono do circo…

Na savana alentejana sem abetardas. Crónica 3311 – 05.06.2022 - Republicada a 02.12.2022 na praia alentejana do M´Puto.

Malamba é a palavra

Por arau44.jpg Soba T´Chingange (Ochingandji)

messejana1.jpgPassada a horta do Torrica dobrando já a curva da ribeira de Messejana, no monte de Vasa Talegas interroguei-me sobre este nome já pouco usado na linguagem corrente; isto significa uma bolsa de ráfia ou pano-cru aonde se levam coisas normalmente comida, um pedaço de broa, chouriço e frutas a serem usadas como suprimentos em uma tarefa de ceifa, aqui em plena planície alentejana. Neste percurso doirado da falsa savana esperava ver abetardas, sisões, toutinegras ou grous bem ao nascer do dia, mas só consegui ver nas ruínas do Monte dos Reguengos os peneireiros das torres, gaviões pretos, o tartaranhão-caçador mais o cortiço de barriga negra.

O resultado do cultivo de cereais e sequeiro em regime de rotação origina a permanência de aves que não se vêem com frequência em outros lados. Nesta fingida estepe cerealífera pode com sorte, ver-se o roliceiro, o milhafre real em tempos mais frios, o peneireiro cinzento, garças boiadeiras, mas desta feita, vi em meu passeio matinal a presenteira cegonha branca e castanha no topo do convento de S. Francisco em ruinas. Na barragem do Reguengo pude apreciar os lindos patos-reais e mergulhões e até poupas mais a tarambola dourada.

messejana10.jpg Enfim, um felizardo libertado como aqueles corvos grandes e pretos ondulando seus voos entre mesetas, carros desventrados e trastes espalhados como num cinema de pradaria abandonada com muito funcho, muito carrasco e rascassos. A sombra do Alentejo é só a que vem do céu, abrigue-se aqui menina debaixo do meu chapéu. Pensei nisto no galgar de metros pensados e com o firme propósito de emagrecer, de ter saúde o quanto baste para desbaratar os triglicéridos no lugar dos Maldonados, gente que dizem ter-se endinheirado aqui e nas fazendas em áfrica.

Colhi umas quantas espigas de trigo e fiz um ramalhete com folhas de louro, colhidas no convento abandonado do tal de S. Francisco com um belo brasão na frontaria. Neste entretém deparei com um cão arrebanhando umas quantas cabras na direcção do Monte do Filipe; olhei ao redor e voltei olhar mais à frente procurando o pastor e, nada de gente! Era o rafeiro alentejano que só e mansarrão conduzia o rebanho pelas verduras, duma forma terna e eficaz, conduzindo-as até o lugar que ele, o cão, sabia ser o certo!

messejana2.jpg O alentejano cidadão, é terno e rude, é tudo ou um deserto; o que nós quisermos, comodistas, papistas ou comunistas; gente às direitas que por vezes se vê obrigado a andar às arrecuas, gente com honradez. De tudo tem como nos mistérios do Evangelho de Jesus Cristo que num domingo de missa, recorda o Martírio de sua morte no Monte Gólgota ao longo dos anos e dos séculos, como se por aqui tivesse andado como o fez na Galileia e Vale do Jordão.

Nunca ninguém o viu passar por aqui no Vale das Talegas mas, também daqui se faz ouvir o sino das Ave-Marias da Igreja Matriz da Praia (entenda-se por Messejana). Foi pena que este Nosso Senhor, o Jesus de Nazaré não tivesse dado uma mãozinha a Dom Sebastião que daqui levou mancebos para essa tal de Alcácer Quibir para matar gente com espadas na forma de cruzes alongadas e, para matar os infiéis - nem por misericórdia voltaram à sua aldeia azul e branca a não se Beringel.

messejana3.jpg Isto porque a Beringel, regressou um braço conservado em sal, um claro aviso dos Mustafás para não mais ali voltarem. Entenderão agora do porquê ficar taciturno ao ver aquele braço alado segurando uma espada quebrada – símbolo da Vila. Entro no adro da Misericórdia e abençoo-me na cruz que serviu para fingir mais uma vez a morte teatral da ascensão de Cristo! Ainda lá estavam os cordames que o amarraram; não sei se gosto destas representações, assim quase ao tipo dos sacrifícios das Filipinas e, porque estou farto de ver mortes via TV – acontecimentos inexplicados de terror da Ucrânia! Vamos andando, um dia de cada vez neste calvário real!

Na linha tortuosa das ruas, casas com barras azuis a limitar em branco as portas, os indícios moçárabes perfilam sombras dos telhados lusos. No turbilhão da história com foices, defini os limites da ordem de Santiago com os cristãos fustigando mouros com suas espadas em forma de cruz. E, foi em Alcácer Quibir que se deu início ao reverso da história e, já lá vão 443 anos; Aqui, tal como em Beringel, por volta do meio-dia, os perfumes do campo de funcho, poejo e espargo silvestre, adensam seus cheiros a recordar tais nobres tropelias… (nem falo das foices abrilistas para não ferir meus compadres…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:28
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Quinta-feira, 1 de Dezembro de 2022
N´NHAKA . XXIV

ANGOLA, TERRA DA GASOSA . X

CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES

“Angola, quanto tempo falta para amanhã?” Escritos antigos - Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi - 22 de Fevereiro de 2002)

Crónica 3310 de 02.05.2022  na Lagoa do M´Puto – Republicada a 01.12.2022 no Alentejo do M´Puto

N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…

Por  canguixe1.jpgT´Chingange - (Otchingandji)

soba0.jpeg Na contingência de estar a falar para o boneco de coisas passadas, dos tempos de escândalos e dinheiro escondido na cueca, enterrado nos jardins ou até esquecidos em contentores ao sol impiedoso e, no meio de gente que sofre de resiliência e coisas ao desbarato pós colonial, lá teremos que contar sempre com essa gente do sistema que não obstante serem estupidamente fanatizadas no partido da governação, o são também por conveniência despiedosamente vazias de raciocínio na humanidade.

Por isso terei de falar banalidades do dia-a-dia de então sem me imiscuir a fundo nas debilidades de N´Gola e no seu imberbe sistema caducado, passados que são muitos anos e, desde então sem ver o emprego crescer, sem ver uma boa ordenação do território com os governantes a só fazerem banga com o que lhes é alheio, dinheiro oriundo do petróleo caindo do céu e a rodos como se o fosse chuva a cair só no seu quintal, sua n´nhaka ou fazenda. Não obstante tudo ter um início, só senti o permanente cuspir cacofonia de palavrões na sorte do colono.

Cristo continua a assobiar para o purgatório na mira de não desagradar aos olheiros da justiça, da educação, na ética e, por aí; como tal não nos cabe pretender agradar a alguns esquecendo a todos! Teremos de omitir falar de venenos especiais, críticas eventualmente justas, desoxigenando o nosso EU na defesa de torpes brutamontes; o importante é não alimentarmos ódios ou desejo de vingança porque isso, só torturará nosso bom censo, nossa liberdade. Nem é preciso estudar-se psicologia avançada para se concluir que o ódio ou desejo de vingança como um bumerangue, só deformará nossa personalidade.

canguixe2.jpg Naqueles idos tempos e ali, Cantinho do Inferno, centro produtor de algodão havia muita gente dependente a não ganhar fortunas, mas, até havia cinema e salão da ferrunfunfa, forró aonde se curtiam danças de farfalho, lugares aonde se esgotava parte do salário, dinheiro da jorna desbaratado em álcool de cerveja e outras afinidades à bebedeira; segunda-feira era dia certo de se comunicar as falsas mortes lá de casa por via de se justificar a não ida ao trabalho. Não levava muito tempo para se matar a família todo e até os tios morriam duas e três vezes. A arte da mentira era bem conhecida do patrão, coisa corriqueira até.

Os filhos do patrão Cunha, subornavam com frequência os condutores subalternos com umas Cucas, Nocais ou Ekas e até Mission, para os deixarem conduzir o tractor, a alfaia ou a carrinhas Bedford ou Ford e, era um gozo do caraças. Foi bem assim que Chiquinho, Zito e Toninho aprenderam a fazer esquindivas com as máquinas. Mais tarde e ainda naquele agora relembraram as finfias que faziam. Neste entretanto da visita verificamos as muitas carências em que viviam naquele ano de 2002. Eu, Zito e Chiquito resolvemos voltar àquela aldeia. Decidimos ir à Cruz Vermelha local pedir um fardo de roupa a fim de o distribuirmos àquela gente; os candengues andavam com trapos nos corpos meio desnudos.

Assim pensamos e assim o fizemos. Junto do representante da Cruz vermelha depois de muitas falas no convencimento de que não havia negócio em nossa vontade, compramos um balão de roupa, fardo como nós conhecíamos do antigamente. No desenrolar de conversas ultrapassadas e pagamento de 100 dólares, pedimos ao senhor Setas o Land Roover e lá fomos conduzidos por seu filho Cado de nome. Passadas todas as instâncias, cuvas e buracos, chegamos á dita aldeia.

pilão1.jpg Chegados cedo encontramos o padeiro que também chegava naquele momento e partindo de mim, disse ao Zito que compraria todo o pão para oferecer àquela gente. Pois foi dia de festa: nós mesmo distribuímos todo o pão segundo a ordem da fila e entregamos ao Soba o fardo de roupa para distribuir pelos necessitados que em verdade eram todos. Recordo que distribuímos o pão sendo a unidade ao preço de cinco kwanzas. Os mais velhos conheciam a Dina, o Zito, o Chiquinho e as festas de ongweva, foram mais que muitas. Bebemos marufo em latas amassadas e sem rótulo oferecido por um deles, sabor que já conhecia por via da guerra do Maiombe; foi esse dia, pelo dito, um bonito dia de bênção.

Deram-me um canguixe, utensilio de pisar grãos de milho em cima das locas, penedos já lisos de tanto uso; foi um agradecimento que preservo como se o fosse de oiro em minha sala e num lugar nobre em cima da estante. Esta ferramenta de trabalho chamam também de “huim” – é usado só com uma mão, enquanto com a outra, normalmente as mulheres batem e batem, sequentemente ajustando o monte e, até tudo ficar em farinha. Tem a forma de um braço curto, feito de pau-ferro e, sendo uma das extremidades com o formato de cabo anatómico e ajustado à mão. Linda, era o nome da mulher que me ofereceu tal instrumento. Quiseram que trouxéssemos, imaginem, gente carecida de tudo, um cabrito e galinhas mas, rejeitamos ficando de voltar mais tarde para os comprarmos. Resta dizer que ainda nesse então havia sim, paredes de pé, havia sim sinais de bazucadas jogadas a eito. Concluindo: Os matrindindes continuam livres como sempre se viram!

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)       



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:51
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Sábado, 5 de Novembro de 2022
N´NHAKA . XX

ANGOLA, TERRA DA GASOSA . VI

CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES

Lembranças de escritos antigos - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002)

– Crónica 3287 de 20.04.2022, em PortVille da Pajuçara de Maceió – Republicação a 05.11.2022 em Messejana do M´Puto

N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto ao rio, horta…

Por araujo160.jpg T´Chingange –(Otchingandji)

araujo1.jpg CA -Já estamos no Sumbe, terra do eclipse e da eleição de misse 2001, um ano atrás, mas ainda lá está o jardim que proporcionou mostrar a fantasia com lençol de água escorrendo em cascata e, muita luz de coloridos brilhos. Tudo para trabalhar pela televisão as invencionices de lavagem da governação sem os desmandos, roubos e superfacturamento que a nomenclatura vinha praticando. Agora está tudo seco, o fingimento de beldades já sem águas escorrendo, deu lugar à terra crua e vermelha no lugar da grama - as árvores definham por falta de água!

Água, aiué…foi aparecendo nas torneiras em alguns dias entre as cinco e seis horas da manhã, depois, adeus… Não deu para tomar banho de chuveiro; na casa do pai de Balbina, Pais da Cunha o caneco funcionou todo o tempo. A luz da lâmpada também só aparecia nos dias ímpares; com gasosa até podiam dar-nos uma fase por mais algum tempo. O mundial de futebol de 2002 (vinte anos atrás) estava a decorrer. Todos desejavam a victória do Senegal e, só depois o Brasil – Os Tugas já estavam de fora.

arau44.jpgCA - Os grandes discos de antenas parabólicas proporcionavam aos mais abastados da cidade do Sumbe verem o canal de África – RTP Internacional entre outras e de todo o mundo. Xingú, o mais candengue da família Pais, nas falhas de energia lá ia a correr até à casa do gerente do gerador ligar a fase pirata da zona par; aconteceu até levar uma lata de gasóleo, o necessário para o gerador funcionar.

Era uma luta pelos vistos! É que nem sempre os vizinhos estavam nos ajustes indevidos para que o gerador funcionasse na borla devida. Mas, nestes dias a febre do futebol fazia milagres de luz para sempre se verem os gooolos. Em um dos vários dias comemos de vela acesa, talvez a gasosa do lado impar tivesse sido mais substancial. Até foi bom que acontecesse a escuridão porque tivemos oportunidade de assim entabular divagações com ajustes de posturas nos muxoxos e kazumbis.

araujo179.jpgCA - No meu sentido de inserir palavras nesta descrição, frases e estruturas sintácticas, fui acumulando palavras novas oriundas do kimbundo, do umbundo e outras maneiras de linguajar tendo sempre como base o português do M´Puto com as declinações e palavras novas, inventadas até e, u oriundas do tronco bantu. Sendo assim um misto de narração, inventação, conto ou testemunho de reportagem, coloco em meus próprios sonhos, as vontades de reconciliação com um profundo agradecimento a todos os que me proporcionaram dias tão diferentes.

Envolto em ideias díspares, quase psicografava em vontade, nas contradições, algumas das sanguinolentas, macabras até e, que sem o devido tato, poderiam resvalar para ressentimentos; acontecia assim ao falar com o filósofo Pipocas, um responsável do património local do MPLA que de tanto beber, se esqueceu dele mesmo – pifou em sabedoria!

araujo158.jpgCA -  Pipocas era em verdade um símbolo kazukuteiro descartável, ágil e de falas suaves, peneirava-se na beleza das malambas, esperto, agressivo no beber, desconsiderado ou desclassificado por raiva, ciúme ou desdém, poucos o tinham em conceito concebido mas, tinha sim uma mente aguda: Ginasticando suas manigâncias da vida definhava-se na permanente curtição do álcool, vinho Camilo Alves, cerveja, cachaça e outras mistelas de bangasumo e capo-roto.

Pipocas, tinha sido comandante mas, por ter arrecadado o dinheiro dos mortos de guerra saiu dos mecanográficos e, por ali está agora comandando os imóveis, remexendo continuamente mugimbos almoxarifados, efémeros de quanto baste para encantar linguistas; isto, antes de rodopiar os olhos liambados de coisa ruim. É um personagem típico dum grande palco que é Angola, passando os dias num faz de conta divagando e bebendo frias cucas; e, assim sua cuca se adia, sempre adiado nas obrigações. (…Com ele, Pipocas sóbrio, tive conversas bem interessantes, senti-lhe uma arguta esperteza, ideais bem formulados, revelando ter principios de sábia concertação social de elevada erudição – acima da média …)     

Ilustrações de CA -Costa Araújo

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)    



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:52
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Quarta-feira, 2 de Novembro de 2022
MISSOSSO . LII

NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…

COM FALA KALADO  Crónica com ficção 3285 17ª de Várias Partes

18.04.2022, na Pajuçara do Nordeste brasileiro – Republicação a 02.11.2022 na (Praia de) Messejana do M´Puto

Porsoba40.jpgT´Chingange

tiradentes1.jpg No dia 21 de Abril, comemora-se como feriado no Brasil o “Dia de Tiradentes”. Este feriado faz alusão à morte do mineiro mais conhecido na história por Joaquim José da Silva Xavier. Tendo referido há dias um antigo companheiro da UNITA como convidado a estar presente nas festividades do Kilombo Zumbi, lá para Novembro, mais propriamente no dia da “Consciência Negra”, para minha surpresa recebi um telefonema do Park Lindoya às margens da Lagoa Manguaba pedindo-me para ali me deslocar pois que havia alguém ali hospedado a querer contactar comigo!

Adiantei que não iria sem me dizerem qual o fim do encontro e o nome da pessoa em causa. Quando mencionaram seu nome fiquei bem admirado e até pensando num golpe de um qualquer maluqueiro. Era nem mais que o General Kamalata Numa da UNITA - queria estar comigo! Engasgado disse que daria uma resposta mais tarde e, tirando-me de cuidados fui até ao local já meu conhecido e, sim, era ele mesmo - muito mais velho, claro!

 GARANHUNS1.jpgNossa relação tinha sido bem passageira quando Kalakata o militar pertencente ao Comité da Caála, ainda vivo, me apresentou a este militar de patente rasa. Nessa altura exercia eu as funções de Secretário de Relações Públicas; por inerência tinha muitos contactos com gente próxima à organização política de topo e muito próxima a Jonas Savimbi mas e, a partir daí nunca mais nos vimos, 47 anos já passados!

Apresentados de novo, inquieto pela inusitado encontro, demos um abraço cordial e assim sentados tomando um suco de graviola foi-me dizendo que estava ali a convite de um familiar a fim de assistir às festas Juninas e, que vinha para ficar uns três meses pois que fazia questão de estar presente no já referido “Dia de Tiradentes” para o qual também tinha sido convidado pelas competentes autoridades.

GARANHUNS2.jpg O General fez-me inúmeras perguntas ao qual respondi com algum detalhe depois da minha forçada saída de Angola através da ponte “Lualix” no longínquo ano de 1975. Agradeceu-me pelo convite inserido nos trabalhos da “Fundação de Zumbi de N´Gola” e, enaltecendo dentro do que lhe era possível saber, do meu contributo como Zelador-Mor na Fundação de Zumbi de N´Gola tendo como benemérito a figura por mim recuperada na estória do Coronel emérito Fala Kalado, agora Comendador…

Adiantei-lhe que para o efeito contava com sua presença e do possível contributo nos previstos simpósios, seminários e as inerentes conferencias de participantes que ainda não estavam totalmente catalogadas, nem convites formulados mas, que já havia sim, um esboço de planeamento pendente dos conferencistas com os demais convidados de relevância na dissertação da “Civilidade Bantu”, tais como políticos, escritores, jornalistas e individualidades do foro africano e, ou mundial. A seu pedido fui esclarecendo-o do que foi a Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira: que foi uma revolta no ano de 1789, de carácter republicano e separatista, organizada pela elite socioeconómica da capitania de Minas Gerais...

GARANHUNS3.jpg Ela foi baseada nos ideais do Iluminismo e teve influência da Revolução Americana, que resultou na independência dos Estados Unidos. Que no século XVIII, Minas Gerais era a capitania mais próspera do Brasil... Que devido ao grande volume de extracção, o ouro começou a entrar em decadência. Nesse cenário, o Visconde de Barbacena em 1788, deu a ordem de realizar uma “derrama” – mecanismo utilizado por Portugal para realizar a cobrança obrigatória de tributos.

Esse foi o estopim para a elite local antecipar os preparativos para a revolta. Na verdade, a conspiração nem chegou a ser iniciada, pois foi descoberta após autoridades coloniais em Minas Gerais receberem denúncias. Para resumir, o alferes dentista, acabou por ser cortado aos pedaços com exibição de seus desgarrados pedaços de carne como se o fosse de um cordeiro sacrificado para exemplo… Depois dum herói negro de nome Zumbi, de um herói branco de nome Xavier Tiradentes, é tempo de se encontrar um herói pardo, cafuzo, mameluco, mazombo ou matuto*… O encontro acabou em churrasco e a promessa de me dar uma entrevista sobre o tema Angola… Iremos ler, se Deus quiser como é de norma dizer-se entre cristãos…

GARANHUN01.jpg * NOTA: Estamos a 02 de Novembro de 2022 - Esta republicação tem por objectivo repor as crónicas na ordem do Kimbo que por um erro técnico não foram inseridas na Torre de N´Zombo. Por via disso, muita coisa alterou recentemente no Brasil. Após eleições a 30 de Outubro do corrente ano de 2022 o matuto Lula tonou-se presidente pela 3ª vez, vencendo com vantagem de menos de 2% ao actual Jair Bolsonaro. Está assim encontrado o terceiro herói desta inventação: LULA DE  GARANHUNS...

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:33
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Terça-feira, 12 de Outubro de 2021
A CHUVA E O BOM ATEMPO . CXX

A ADIÁFA DOS MOIRÕES E SALAZAR - I

ENTRE 1914 E 1945 E O AGORA 2021

Crónica 3203 de 10.10. 2021 - Em Cantanede do M´Puto

Por: T´Chingange

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Naqueles idos tempos, enquanto o estado confiscava bens à igreja, fidalgos ou aristocratas feitos políticos, sacrificavam imbecilmente os jovens mandando-os para morrer como tordos nas trincheiras da guerra. Do corpo expedicionário enviado para Flandres de França poucos regressaram e os que voltaram vinham de pulmões afectados pelas gazes ali utilizados. Nesse então, a 1ª República Portuguesa era composta por deputados que faziam absurdos e floreados discursos no parlamento sem sequência na realidade do dia-a-dia. Hoje, estamos quase iguais…

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Eram uns pavões que vendiam petulância nos cafés do Chiado; era ver qual deles tinha mais protagonismo na pópia faroleira do Rossio ou no Café da Arcádia. Neste aspecto, Portugal viveu sempre em crise, (e continua a enfermar desses resquícios) envolto em devaneios de gente acomodada à política de faz-de-conta, devaneios de gente que sempre se sentem insubstituíveis.

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Naquele então, senhores latifundiários, donos de muitos hectares, muito gado, muitos chaparros pavoneavam política em Lisboa enquanto seus ganhões ou moirões lhe garantiam os bolsos cheios. Lá na província, na lezíria, ou seara alentejana, no cortical, olival, nas chapadas de trigo, nas lameiras, enquanto nas courelas havia a míngua – nesse então, ainda não se falava na palavra resiliência…

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Enquanto isso decorria, a Angola distante aonde eu me encontrava, estava quase ao abandono. Estamos em 2021 com dez milhões de Portugueses e o estado ainda vive à míngua sugado por corruptos e corruptores. As conquistas do povo foram direitinhas para a nova casta de políticos que dividem o bolo por quotas, tanto para ti, tanto para mim e, estamos de novo naquela merda desses idos anos; o povo fugindo para o resto da Europa, lugares para onde ninguém pensava ir depois dum 25 de Abril de 1975.

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Será a sina do Portuga, andar pelo mundo subsistindo à tal de resiliência enquanto eleitos, maioritariamente incompetentes singram com grandes salários nas administrações? Gente que assim repartidas pelo Arco-íris político nos torcem e retorcem com impostos com mais taxas em cima de outras já taxadas. Toda a banda larga será inútil se esta gente de mente continuar na festa desta dita democracia.

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Não é normal meter-me nestas citações mas que ando revoltado lá isso ando! Revendo o panorama do após guerra por incapacidade de gestão, Angola após o Abril de 1975 ficou abandonada à sua sorte até que algures no início da Estrada de Catete em Luanda, deram o grito do “tundamunjila” festejando a independência com rajadas de kalashnikov.

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A República Portuguesa tinha sido tomada por panhares com militares empoleirados em sua carcaça agitando cravos na ponta das armas. Surgiram uns oficiais barbudos cheios de hormonas de aviário fazendo alarde duma valentia inexistente, em floreados discursos. Elaboraram regras dum criado MFA, Movimento das Forças armadas que logo desrespeitaram.

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Eles eram os donos da guerra, da opinião, e o povo levantava os punhos em aprovação de suas decisões democráticas – assisti a isto como destacado na Câmara Municipal de Torres Novas; o povo é quem mais ordena e, todos se olhavam entre si ao levantar o braço em reuniões magnas. E, havia por semana uma ou duas destas reuniões; entretanto o Sindicato dos Trabalhadores das Autarquias, por nada nos queriam lá. Passei por isto na fase de Vasco Gonçalves, vendo-o só esbracejar depois de lhe tirar o som da TV.

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O medo era farejado pela astúcia duns quantos autopromovidos a pavões. Guedelhudos que fingiam ser os Che Guevara duma Sierra Maestra, vendendo seu imaginário a custo zero. Desde esse tempo, Portugal viveu sempre em crise, (e continua a enfermar desses resquícios) envolto em devaneios de gente acomodada à política de faz-de-conta, com gente que teima em se sentir insubstituível.

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Em Angola, os ditos Movimentos, digladiavam-se pelo poder morrendo como tordos numa guerra a céu aberto. Recém-chegado a Portugal, com um bilhete de vinda sem regresso, ano de 1975, deram a mim e aos meus, 500 escudos por adulto. Com uma senha de viagem fornecida pelo IARN, Instituto de Apoio a Retornados levei meus dois filhos até o Alentejo. Na Funcheira tinha o meu concunhado Cailogo a receber-me e, lá fomos para a Panoias. Meus filhos ficariam aqui até que em terras do norte orientasse a vida em casa de outros familiares brancos de cor e nome...

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 02:35
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Segunda-feira, 19 de Agosto de 2019
CAFUFUTILA . CXXVIII

O CHOQUE DO PRESENTE SAÍDO DO PARALÉM – 18.08.2019

Num mundo muito redondo nos silêncios dos espaços largos, horizonte a perder de vista- Na Vila de Messejana com John Wayne…

Por

soba24.jpg T´Chingange – Em Panoias do M´Puto

Num jeito estranho entre mim e as pequenas calemas espumantes da Praia de Messejana, um mar feito anhara com abetardas ao invés de garças, abutres ou gaivotas, um monangamba escuro que nem um tição, com trancinhas gordurosas e brinquinho, óculos encaixados nos rebeldes cabelos, assim de gingão olhando-me de frente num forma turva, quase uma assombração, deu-me o recado de que o John Wayne estava pedrado na tasca do Celestino no fim da rua do Outeiro. Não seria de admirar pois que pensando estar no seu far west selvagem, matava saudades bebendo cachaça como quem bebe água.

Agradeci tal recado chispando a mão bem à maneira dos desportistas seguido de mais dois toques bem à maneira das modernas rebaldarias dos bate-na-avô, jeito de murro e um V feito com os dedos indicador e o malcriado com a mão acachapada ao peito. Este carapinha da Guiné, nem sabe que após a Revolução Francesa, os Americanos não se sentiam obrigados a tirar o chapéu para ninguém, colocando-o sobre a sua própria cabeça. Seu revolver dava-lhe a segurança necessária e este sim, era tirado quando os limites estavam ao rubro.

panoias10.png Enquanto me dirijo à tasca do Celestino vou relembrando coisas vividas num além e a propósito recordando o próprio Abraham Lincoln que simbolizou isso de não se tirar o chapéu com o uso de uma alta cartola preta; não tinham ao invés dos povos da Europa, leis e decretos usurpando as liberdades do povo; ele, Lincoln, veio a ser assassinado em Abril de 1865 ficando na história como o mártir da democracia representado em um grande memorial em Washington .

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O Texas integrado nos Estados Unidos em 1845 era uma vasta área onde a dureza e a selvajaria competiam entre si. É entre imensos latifúndios com gado pastando à solta em fazendas algumas maiores que muitos países europeus que um tal de Roy Bean instala seu “saloom” na beira de um apeadeiro do caminho-de-ferro. Roy Bean que nem sabia lêr direito, tinha um livro de leis que sempre fingia estudar e, foi comissionado a fazer justiça num território maior que a Holanda. No seu pardieiro chamado de saloom colocou um cartaz que dizia “cerveja gelada e a lei a Oeste de Pecos”.

panoias16.jpg Naquela vastidão sem lei e sem Deus ele, Roy Bean, foi o único juiz entre os anos de 1880 e 1900; passava o dia sentado na porta do saloom com um rifle entre as pernas. O meu amigo Joh Waine usava-o com uma mão no gatilho com o cano apoiado no braço. Dentro do saloom construiu uma cadeia tendo um urso preto a vigiá-la. Falo disto porque conhecendo seu jeito pode mais logo fazer desacatos na tourada e depois deste chamado à tasca lá terei de ficar atento ao seu modo explosivo.

Aquele Juiz, nos rápidos julgamentos que fazia consultava ou fingia consultar o “The Book” e, rapidamente levava à forca o infeliz numa decisiva batida na mesa com o cabo do revólver; levou assim 170 condenados ao cruel nó da corda ensebada. Sempre com uma garrafa de wisky à sua frente, exigia dos presentes o tratamento por Sua Excelência. Bean, que foi juiz durante vinte anos e, tendo sido considerado uma instituição do Texas como “o Enforcador de Pecos” – “património imoral da humanidade”, fazendo fama em paralelo com Kit Karson, Billy the Kid ou Pat Garrett. Talqualmente como o “cante alentejano” ser agora um “Património Imaterial da Humanidade”.

panoias13.jpg Estas imagens de terra e gente bravia fizeram o deleite através de muitos filmes entre os anos cinquenta e oitenta do século passado. Já falei da interacção que os putos candengues da minha geração faziam nos filmes deste John Wayne nos Cines Tropical ou Colonial da Luua na Angola Colonial. Em verdade, ainda dá gosto ver aquelas áridas paisagens nos confins dum deserto, cactos empinados entre rochas e uma cascavel zunindo seu chocalho num primeiro plano; um tufo de erva seca que rebola levada pelo vento; um moinho decrépito que faz rodar a ferrugem trazendo água aos chacais.

Atão John que tal está a moenga! Acorda lá! Dito isto dei-lhe dois açoites com o meu chapéu de coiro de búfalo bem no seu de aba larga com uma cinta entrelaçada feita em pele de veado! Num desatino, quase deu um pulo, pegando no seu rifle de canos estriados bem entre as botas muito cheias de arabescos com cornos: - What the fuck is this? What was it? Calma, disse abrindo as mãos e tendo em atenção seu impulso de levar o dedo ao gatilho. Por fim amainou; tinha um bafo de onça carregado mas, dei-lhe um gim com água tónica para amansar os mosquitos e água das pedras. Mas, ele bravo disse: - Do you wanna drown me?

mess7.jpg Os compadres já familiarizados com John Wayne e tolerantes como a cachaça, já sabiam que eu era um seu grande amigo, quase familiar e, em verdade notei que ficaram doidos por estarem assim tão de perto com uma celebridade! E, vestido daquela maneira com polainas a condizer com os homens espadas, faziam-lhe perguntas atrás de perguntas e ele, com seu português raspikui, motivado e traduzido por seu anjo Akasha, seu espaço com éter, assim correspondia com o pentagrama da 5º ponta (a ponta apontada para cima), aquela que representa o espírito do paralém... E, não é que se entendiam de maravilha!

A caminho da tourada do Rouxinol, foi-me dizendo querer ir a Paredes de Coura o WOODSTOCK TUGA. Para quem não sabe, o festival de Woodstock não foi nada mais, nada menos do que uma orgia á americana, um grito contra a guerra do Vietname e vai daí, este festival lá nos States de música onde se podia fumar uns charros á desbunda, fornicar até dizer chega e até podiam desafiar os padrões da época que eram entre muitos, andarem nus e fazerem amor com os negros (Foi o Luís de Magalhães que disse…). Sendo assim fiquei de pé atrás mas disse-lhe: - Yes! Na firme convicção de o mandar à fava, quem sabe? Talvez!…

torres7.jpg Na tourada, foram o bom e o bonito! Fez um espalhafato de tanta alegria que só faltou saltar para a arena e dar um abraço àquela malta marada dos forcados! Os bois de quinhentos e tantos quilos foram difíceis de forcar! Ele saltava, dava vivas misturando asneira com alegrias e foi mesmo o escambau: Catch him like this, pega-lhe assim e assado, como se ele fosse um entendido, gritava! E, sabendo que ele só era bom no laço, demos-lhe o benefício da dúvida! E batia palmas aos forcados de São Manços.

E estrebuchava-se com a valentia dos forcados de Beja! Mas, o pior foi quando já na terceira tentativa o touro partiu a perna de um, o de caras. Vi-me aflito com O Wayne; queria saltar na arena e num vai e espuma raiva, pega na sua Winchester e… foi neste entretanto que virei a arma para o ar: PUM!...PUM!…PUM! … Três tiros memoráveis! Todo o mundo se levantou à volta da arena a bater palmas. Wayne, teve muita sorte não ser levado para a grelha pelo xerife, digo o sargento da GNR vestido a rigor ao lado do Director da Corrida de seis touros… Uf! Que alivio! Nem sei se irei ao tal de Woodstock Tuga nas Paredes de Coura…

O Soba T´Chingange na Messejana do M´Puto



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:32
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Quinta-feira, 15 de Agosto de 2019
CAFUFUTILA . CXXVII

TEMPOS QUENTES – NO PARALÉM

- EM PANOIAS COM JOHN WAYNE15.08.2019

O esquecimento existe mas, nós não somos só silêncios; de novo, John, surge para visitar seus parentes como se nunca daqui tivesse ido – Uma fricção diferente…

Por

soba0.jpegT´CHINGANGE – Em Panoias do M´Puto.

para0.jpg John Wayne - Seu verdadeiro nome era Marion Michael Morrison. Ele detestava seu nome e ao entrar para o cinema mudou-o para John Wayne, que tinha mais a ver com um rapaz de 1,92 de ventas largas. Surgiu com destaque no cinema em 1930 em The Big Trail, faroeste dirigido por Raoul Walsh. Permaneceu vários anos estrelando filmes B até consagrar-se no papel de Ringo Kid em Stagecoach, clássico de 1939 de John Ford. A carreira de Wayne foi assim agraciada com esse divisor de águas inestimável, que o lançou ao estrelato. A relação com Panoias é mesmo só uma lenda. Esse filme tornou-se a obra que definiu todas as principais características do faroeste norte-americano.

Longe vai o tempo em que que eu e minha malta da Maianga, Vila Alice e Bairro do Café da Luua íamos ao cinema Colonial em São Paulo para gozarmos as cenas que se passavam dentro da sala de espectáculos. Todos fazíamos parte duma qualquer aventura que este astro levava até nós na pantalha gigante deste ou outro qualquer cine. Aqui era diferente, havia beatas feitas piriscas pelo ar para festejar cada uma das victórias deste nosso amigo fosse em duelos ou atrás duma bissapa aguardando em tocaia os vilões, ladrões de vacas.

Para além das piriscas havia avisos ao grande ídolo Wayne; Quando em surdina um bandoleiro com fúsil longo ou curto o queria apanhar, todos nós o avisávamos da tocaia: - Olha à tua trás! E, sempre ou quase sempre ele, virava-se com o revólver engatilhado e Pum, pum! Por vezes era sua Winchester que ele suportava entre os dois braços – o mauzão caía ali esparramado, gritando tardiamente o may good  e, nós… Eu bem que lhe avisei e, num eu avisei primeiro, não! Fui eu! - Passava a outra cena e a festa continuava. Nós, candengues da Luua tinhamos essa peculiar cultura do cinema…

mess7.jpg Aqui em Panoias, saí de mansinho da rua vinticinco do abril dez minutos para as sete; o silêncio rondava o lugar do Paralém e, nem o cão rafeiro da rua do Outeiro me ladrou, procedimento incomum, talvez por ser cedo ou por não querer mostrar seus caninos cariados e, voltei à esquerda na rua pisando o asfalto meio quente dos 33 graus, casas caiadas com barras azuis muito a condizer com o Paralém de Messejana, famosa por uma praia que nunca teve.

Passando o lugar aonde os tabaibos dão lugar aos eucaliptos cheiro as horas da manhã, batiam as sete badaladas no sino da igreja da Misericórdia, estando eu em frente do chafariz construído num ano em que quase estava para nascer mas que já não tem água - 1945. Via-se ao longe a ermida da Nossa Senhora de Assunção mas, meu destino era a Funcheira, o lugar da estação ferroviária e, aonde iria receber meu amigo da Luua, famoso John Wayne do Colonial, paredes meias com o B.O...

Pude ler no cruzamento que liga a Conqueiros um cartaz da CDU mencionando uma próxima festa do Avante na Atalaia e fazendo menção do PCP com uma estrela, uma foice e um martelo, e o PEV com um girassol. Eram coisas passadas que o muro exibia com agrados de comunas, socialistas e afins… Ouvi do lado sul e lá longe uns barulhos de petardo ecoando nos cabeços, talvez avisando da festa de Santa Luzia ou Garvão. Não seriam caçadores porque sendo hoje dia de Santa Maria os arcabuzes ficam trancados no mukifo dos fundos.

panoias5.jpg Um zumbido no ar e olhando o céu, lá estava o rasto dum avião nas alturas a caminho do Sul, Áfricas e, estando assim olhando o azul rasgado ouvi um convincente “Good Morning”… Como é possível, ele estar aqui e assim montado e tudo, estando eu a caminho da estação para o receber! Será ele? Estas coisas de gente que surge do paralém tudo é possível! Mas, que grande susto! Segundos antes não estava ali ninguém e, num repente, saído do nada ali estava o fulano vestido à vaqueiro com polainas, um autentico cowboy americano empanoiado de fantasma!

E, surpresa das surpresas… Ali estava este tal e qual John Waine, vestido como se aqui viesse fazer um western. Não te assustes, disse ele no seu jeito meio fanhoso: -Don´t be afraid! I heard gunshots and came to see!... Em inglês! E, perante o meu franzir de sobrolho continuou a falar, mas agora em português com sotaque de alentejano de Aljustrel, bem cantado e balouçado: - Foi quando falou: -Na minha anterior encarnação andei por aqui e venho agora matar saudades; tenho primos e afins mas quero que sejas tu a ajudar-me nos caminhos! É que isto está tudo bem diferente! Desta vez quero ir à tourada de Messejana.

panoias6.jpg Caramba! Num repentemente surgiu um puro lusitano a seu lado! Let's ride! Let´s let's go! Vamos, monta! Estava tolhido e, assim tremendo e com a sua ajuda pulei com alguma dificuldade para o lombo do lindo exemplar de cavalo com uma mancha branca na testa. E, lá fomos em direcção à Ermida de Nossa Senhora de Assunção… Foi neste entretanto que lhe dei a novidade de que recentemente roubaram os dois sinos grandes em bronze! Temos de procurar esses larápios, disse ele já espumando vontade de atirar. Calma, disse eu; isso já deve ter sido fundido e vendido! Isto está assim! Estás num M´Puto novo. A justiça anda de muletas…

panoias7.jpg Fiz um rodeio em direcção a Sargaçal porque sabia ir ali encontrar bois e, lá chegados vi o encanto nos olhos de John! Os bois com os rabos a dar e dar, um e outro lado afastando moscas enquanto a passo rápido se deslocavam da barragem de água para as gamelas de pasto com a suposta ração que nós lhe daríamos; pensaram que seriamos nós, seus cuidadores. Vou tentar reproduzir a imagem, o gado com crias seguiam o rumo da palha levantando o pó do chão, assim como uma mini boiada e mugidos de indicar presença aos bezerros e entretanto o moinho de vento rodando fazendo tric…tric…tric…tric…

mess01.jpg Nas palhetas duma pá desmazelada, o vento já riscava com sons de gonzos uma tabuleta que teimava em amachucar um outra torta chapa pelo chik…chuk…chik…chuk, vento de sudoeste que entretanto se levantou! Era mesmo uma cena dum filme e, se gozei na imagem dos muitos filmes que me alegraram, olhos colados ao grande ecrã! Sim, sou mesmo da geração do cinema, das matinés de ver gado despencando com pó, rifles, ladrões e tiros de colt de rodar tambor ou winchester. 

way0.jpg E curiosamente, o encanto não era só meu. John Wayne estava consolado! Sentia-se este mistério. A todo o momento recordava-me: - Já compraste o bilhete da tourada, desse tal de Rouxinol e dos Bastinhas mais os forcados de São Manços… Mas, como é que ele sabia serem estas as vedetas do dia quinze de Agosto!? – Tu nem necessitas de bilhete, disse eu! Notei por um muxoxo suave que só queria ter a sensação de estar vivinho da costa… Vou-vos dizer! Há coisas que nem contadas ao pormenor parecem ser verdadeiras, háka!…

(Talvez continue…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:31
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Sábado, 2 de Dezembro de 2017
XICULULU . CCVIII
 
PANOIAS III - TEMPOS DORMIDOS - 02.12.2017
-NAS CINZAS DO TEMPO - O esquecimento existe mas, nós não somos só silêncios... Na magia do Natal
Por

soba0.jpeg T´Chingange

Eram quase dez horas quando me levantei; estava um frio de matar passarinhos! A noite deve ter chegado aos cinco graus mas, pelo sim pelo não, lá pela meia-noite levei uma botija com água quente para me aquecer os pés e as quinambas. Foi da trempe que retirei esta água; para quem não souber, a trempe é de ferro forjado, tem três pés como o próprio nome diz. Era normal e ainda o é, mas não tanto, deixar esta na lareira da aldeia para se ter sempre água quente e, também para lançar alguma humidade no ambiente.

roxo159.jpg Durante a noite fiz uso do meu quico toytoy-zulu com as cores garridas da África do Sul espetado até às orelhas; Após as diligências de arrumo pessoal, coloquei as minhas botas de Uzinto de Durban e dispus-me a ir comprar torresmos de flor mais costeletas do cachaço de porco preto em Santa Luzia. Tive de parar bem no centro da vila para comprar dois pães de cabeça ao senhor António padeiro.

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Como uma magia de Natal fui vendo correr os suaves morros ondulados, salpicados de verdura tenra, mais os pontos brancos mexendo-se na forma de ovelhas nas chapadas. Estas vistas largas da savana alentejana com um e outro morro em ruinas, em tempos idos, frustravam-me; pouco tempo passava aqui, sempre de rabo alçado para rumar outros destinos mas agora, talvez pela idade, vejo esta paz carregada de nova percepção de perceber o vazio.

jack2.jpg Enquanto percorri este espaço de caminho fui pensando nesta crónica analisando em conjunto a natureza real, interrogando-me se este vazio era também uma ausência de existência. Não o era! Num lugar em que toda a gente cumprimenta toda a gente, o Bom-Dia surge com magia diferente. A sociedade, tão mudada neste mundo actual alterou regras sem zero e, sem o zero é impossível contar! Magia de natal.

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O prazer de ver depende muito da nossa atitude mental; assim encorujado nos meus farelos antigos, queimo as pestanas das muitas e antigas lembranças!… Foi mesmo ao sair do carro no talho da Abelhinha da Suzel e bem junto a uma roulotte com a bandeira dos USA que ao abrir a porta traseira do carro que alguém me dirigiu a palavra num português defeituoso: - Senhor, aqui vender…has black pig? Olhei a figura e fiquei espantalho; era nem mais nem menos que o Jack Palance, um ruivo cavalheiro que me inchou de felicidade nas peliculas de cinema lá do passado da Luua!
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Engasgado de assombro, frente a ele e na descrente veracidade do facto, lembrei num meio segundo suas vozes roucas, beata no lábio, artista principal azedo da vida e com uma cicatriz famosa em seu rosto. Será que estou mesmo neste mundo, nem pedindo licença para entrar no outro; só assim sem mais nem menos!?

roxo135.jpg Mal refeito aparentemente, olhei de arregalado sua pessoa, seu perfil altivo e respondi enquanto olhava seu cão negro e peludo, um cão-de-água de raça tuga. - Sim! Aqui os perros podem quedar-se sim problemas! Bolas! No estupefeito do caso dei por mim a falar espanhol confundindo cães com porcos. Sim! Repeti cirurgiando a sua figura: - Sim, here is a black pig.

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Eu também vinha comprar essa delícia de comezaina. Sempre mais alto e agora mais kota ali estava esta kianda assombração, reganhando competência antiga nas adivinhações do meu silêncio. Obligado! Tank You! Duas vezes repetiu agradecimento e na forma de saudade antiga consegui ainda dizer: - OK! Pode comprar o pig preto e até passear seu perro! Até ir pescar na barragem do Monte da Rocha; aqui tem liberdade de apalpar o sabor dos silêncios e até os ventos que sopram de Panoias: - Podes mirar las sierras, volver en los tempos viejos e até encontrares o John Wayne. Num repentemente já o tratava por tu.

jack1.jpg  Ele, Jack Palance deu um pulo de satisfação. O quê: - John Wayne está aqui!? Pois, ainda ontem estive com ele em Aljustrel disse eu; mas bazou, nem sei para onde em seu cavalo holográfico. No seu sentido de eloquente grandeza, girou seu espaço em cento e oitenta graus e fez estalar os dedos de contentamento! Sua alegria era mais que muita. Enquanto fui comprar os lombinhos, ele ali ficou solitariamente taciturno afagando seu cão de água, creio que jogando inúmeras tristezas ao vento semi quieto dizendo, este mundo é mesmo uma ervilha.

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O perro, ia e vinha alegrando seu dono solidário com seu contentamento e, eu já ali estava especado segurando a microondas para lhe mostrar as imagens de Assunção Roxo, uma kianda viva jogando roxomanias na forma de imagens fosfóricas. Meu chapéu dos big-five verde descalibrado neste sonho, bulia com meus neurónios. Ando preocupado com estas minhas visões mas, por agora ali fiquei apreciando os talentos de Jack Palance fazendo gaifona a seu cão.

roxomania1.jpgMeu artista preferido nos filmes de índios e gente robusta do frio norte, lugar meu desconhecido, aproximou-se ao meu chamamento. Foi quando lhe mostrei as ilustrações do John feitas por Roxo. De novo rodopiou 360 graus de contentamento, tirou seu chapéu e, com energia bateu-o em sua perna direita. Bem! Mostrei-lho no mapa o caminho para a Barragem de senhora da Rocha aonde ele Wayne, deveria estar a comer churrasco à mbukusho… My friend, thank you! Deu-me um grande braço e lá seguiu munido de suas carnes de black pig de santa Luzia…

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Jack Palance (Vladimir Palahniuk). Actor norte-americano falecido a 10 de Novembro de 2006. Antes, foi lutador de boxe, acreditando-se que sua face desfigurada se devesse aos golpes recebidos, mas em verdade a desfiguração foi causada por um acidente de aviação.
O Soba T´Chingange
 


PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:36
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Quinta-feira, 30 de Novembro de 2017
XICULULU . XCVII

TEMPOS DORMIDOS - 30.11.2017

- O esquecimento existe mas, nós não somos só silêncios... Encontrei-me com John Wayne no Pingo Doce de Aljustrel. Desta vez contei-lhe meus apegos...   

Por

soba0.jpeg T´Chingange

Enquanto tomávamos café, outras pessoas e até o padre de Messejana, um preto da Guiné, olhavam para nós como se fossemos gente do além! Não era para admirar pois que ambos estávamos vestidos com os ceifões e capotes do frio. Ou então, era pela celebridade de John. Perante isto foi ele que quis saber do porquê de eu andar por aqui, de onde vinha e outros edecéteras; estava desconfiado que as atenções eram mesmo para mim...

john01.jpg Eu, que tanto teimava em me esquecer, fui de novo obrigado a desfrisar minhas periclitarias:- Nasci em águas internacionais, num vapor chamado Niassa, disse! Sou cidadão do mundo, Angolano na diáspora, Mazombo por condição; ando pelo Mundo à procura de mim! Tenho cédula de brasileiro, Bilhete de Identidade do M´Puto mas, ando às arrecuas para fugir ao meu paradigma.

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John Wayne mostrava-se também ávido de rever aquilo que foi sua infância em uma outra encarnação e, neste relembrar tentava encaixar-me no mesmo fardo. Ele só sabia que em tempos idos, fui seu duplo, nas quedas de cavalo - filmes de "El Dorado" entre outros; nada mais sabia!

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Ele, não tinha certeza absoluta se aquela sua infância longínqua foi passada em Aivados ou Alcaria e tem até uma ligeira certeza de que tinha familiares em Panoias pois que, refere estar em um alto, lugar de poder ser vista de muitos horizontes. A todo o momento parávamos para apreciar as coisas ínfimas; tirava suas fotos amarelecidas da balalaica que se viravam em hologramas 3 D. E, estas até exalavam cheiros. Deveria ser uma tecnologia avançada do paralém.

mess0.jpg Entendo agora do porquê, em nosso último encontro ele apanhar uns cardos de cor amarela e mete-los em seu alforge, como aqueles que os cowboys usam; nem lhe perguntei, pois tudo nele, era inusitado.

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Afagou uma minúscula carriça que lhe saltou para o ombro, vinda não sei de onde e de repente apeou-se junto a um frondoso sobreiro da foto que me mostrava e, de novo falou em seu inglês rachado: - You know the difference between a sobreiro and the azinheira? Rsss… Se eu sabia distinguir o tronco do sobreiro e azinheira? Pópilas! Estas variações rápidas confundiam meus zingarelhos. Ali ao lado e, num repentemente saltar para a foto! Só mesmo doutro mundo.

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Só sei que a azinheira dá bolotas comíveis enquanto as do sobreiro não prestam, melhor são intragáveis! Disse eu! - Pois então fixa-te nisto disse ele, o tronco do sobreiro é de casca grossa, rugosa, irregular de fendas e nódulos irregulares enquanto a azinheira tem a casca fina, fendas regulares e longitudinais além de ter as folhas mais pequenas e, como dizes as bolotas comem-se.

nito01.jpeg Estive quase a dizer-lhe que os quatro pombos bravos que comi recentemente tinham em seu papo bolotas inteiras; que afinal não eram só os bácoros que comiam isto mas, deixa para lá, nada disse!

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Lá na paralaxe do além de onde venho, utilizamos muito esta glande para nos dar energia atómica, podermos assim a partir de suas partículas radioactivas de nos transmutarmos num ápice de um para outro lado! - Assim como levitar e andar só de pensamento? Interroguei-o! Estava tudo explicado. Este Wayne era mesmo um ET.

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Ele tentou então explicar-me: - Quando olhamos para o espaço, em seu conjunto, a distância das estrelas é tão grande que perdemos a noção de profundidade, num primeiro momento. Todas as estrelas parecem então estar à mesma distância, coladas numa grande esfera, a esfera celeste. Mas, na verdade, elas não estão à mesma distância, sendo o método de paralaxe usado para medir algumas dessas distâncias.

mess2.jpg Agora sim, estou feito ao bife, pensei! Belisquei-me e doeu, estava vivinho da costa. É aqui que nos movemos, na sombra da paralaxe, continuou. Estava explicado este seu entusiasmo em ver as moléculas expansivas alimentadoras de seus iões ou catiões feitos nuvens, assim como um orvalho cacimbado.

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Mas eu, mesmo querendo, não consegui entender a cem por cento, mas disfarcei que sim... Estava tudo nos conformes! Mais ou menos isso, teletransporte nos iões espaciais! Disse ele. Isto é demais para a minha caminheta, afirmei sem nada dizer, só mesmo para mim! É melhor ficarmos assim! Notei que ele não gostou deste meu momentâneo desinteresse.

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Neste entretém ouvimos um kwé-kwé de um pássaro grande e preto por mim nunca visto! Seriam os seus guardiões dessa terra do Paralém. Podíamos ouvir tudo ao mesmo tempo, um fenómeno até aqui nunca por mim observado, mas eram os badalos dos bois e das ovelhas não visíveis dali, que sobressaiam desta amálgama de sons.

mess05.jpg O curioso é o de que em momento algum saímos da cafeteria do Pingo Doce de Aljustrel Eu estava leve como uma pena, fazia quase tudo, eu que tenho tanta dificuldade a atar os sapatos pela manhã; parecia ser um ser gasoso.

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Saímos dali com toda a gente desfrisando os olhares em nós. Montamos de novo nossos cavalos holográficos e num repente estávamos bem no átrio da ermida da nossa Senhora de Assunção de Messejana. De novo apeamos e, ambos nos sentamos no muro largo feito daquele xisto caiado.

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Num encantamento, tirou nem sei de onde uma gaita-de-foles e começou a tocar uma musica volátil que trazia aos sentidos o cheiro de plantas distantes, pode dizer-se paradisíacas… Foi quando vi as nuvens virem até nós e fundir-se em uma senhora, pairando ali bem perto sem qualquer assentamento; tudo indica ter sido a Nossa Senhora de Assunção…Nunca tinha sentido assim uma sensação de tanta tranquilidade…

mess122.jpg Não demorou muito meu microonda tocou! Eram as fotos nossas enviadas por Assunção Roxo mostrando suas fosfóricas versões de tudo do que falávamos antes; John Wayne ficou encantado e, logo após eu ter transferido estas para o seu caderno holográfico escafedeu-se! É sempre assim...

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:05
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Sábado, 13 de Agosto de 2016
FRATERNIDADES . CVIII

NA PRADARIA ALENTEJANA . 12-08-2016

A FESTA DA VILA DA PRAIA, SEM MAR, SÓ ONDAS DE CALOR.

Por

soba17.jpgT´Chingange

bimbo4.jpg Ando no meio de uma festa festejando a alegria, curtindo a juventude que resta, lembrando as farras do fundo do quintal da Luua e, vendo as netas dos amigos e a minha também rodopiando em graçolas e risos contagiantes. Assim deixando o tempo abraçar os cabelos grisalhos e os sulcos dos anos. Pois, vou fazer mais o quê?

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A conversa começa do nada com o senhor Casquinha, amigo do Cailogo, marido da Assunção. Conversa desajeitada; a possivel.E chega um neto dele pedindo umas moedas para comprar uma lanterna pirilampo. Não demora muito e ali está ele fazendo gaifonas na cara do avô com aquela lanterna. Quanto custou pergunta o avô? Cinco euros, diz o petiz. Caramba! E, não regateaste? Qui é isso avô!..

tonito3.jpg  Pois… outros tempos! E sem mais remata: - Os amigos cada vez mais se vêem menos. Parece que era só quando éramos novos, trabalhávamos e bebíamos juntos. Víamo-nos as vezes que queríamos, sempre diariamente, quer-se-dizer todos os dias. Na taberna do Álvaro, daquele outro chamado Hernâni com uma mulemba, jogando a bisca e à sueca mais o tentilhão; uns malhos redondos e um escopro ao alto a fazer de alvo. Quem perdia pagava um copo de tinto ou um pirolito.

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Hoje andam por aí feitos loucos procurando bichos chamados de pokémons debaixo dos chaparros. E no maior à-vontade, coisa muito perdida, porque não tínhamos mais nada para fazer senão trabalhar. As conversas misturam-se na memória e sai o que sai. O anteontem misturado com o amanhã se Deus quiser.

mess01.jpg Casquinha dizia quase sozinho, coisas repetidamente faladas. Ainda bem que é assim! Falava comigo por falar e, com ele sem convicção, só mesmo por falar como se não tivéssemos passado um único dia sem nos vermos. Em realidade era a primeiríssima vez!

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Nada falha! Na excitação de contar coisas e partilhar ninharias, disparamos novas como se nos estivera, e está, na massa do sangue; as risotas por piadas de há muito repetidas; as promessas de esperanças que por décadas estão por realizar. Os sonhos das pradarias; nossos desertos, palhas retesando-se ao vento.  

mess1.jpg Há grandes amigos que tenho a sorte de ter, que insistem na importância da Presença com letra grande. Até agora nunca desconcordei, achando que a saudade faz pouco do tempo e que o coração é mais sensível à lembrança do que à repetição. Coisas de mais-velhos, misturando alhos com bugalhos e melancias com queijo de cabra dos montes hermínios.

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Enganei-me! O melhor que os amigos têm a fazer é verem-se cada vez que se podem ver. É verdade que, mesmo tendo passados muitos anos, sente-se o prazer de reencontrar a quem já se pensava nunca mais ver.

mutopa2.jpg O tempo não passa pela amizade mas, a amizade passa pelo tempo. É preciso segurá-la enquanto existe! Somos amigos para sempre mas entre o dia de ficarmos amigos e o dia de irmos pró paralém, vai uma distância tão grande como a vida.

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Agora ouço a Kizomba sem ter nada contra, confesso que prefiro o merengue e o bolero mas, até sou capaz de não trocar de estação! Qual estação! Bolas! Estou na festa de Messejana! Mas, isto é só da loucura, de ouvir com gosto num carro cheio de amigos a caminho da praia como nos temos de kandengue nas idas para o Mussulo, Samba ou ponta da Ilha da Luua.

socie5.jpg Com "10 músicas seguidas sem parar", deveria chamar-se "5 músicas seguidas intercaladas por 5 Kizombas". Casquinha diz que não tem paciência, prefere o acordeão e os ferrinhos num arrasta pé, meche quinambas, musica pimba. Tinha de ser mais um corridinho! E, vai um corridinho mais uma valsa e são horas de dormir que o fresco chegou! E lá fui eu para a rua da misericórdia, uma estreita rua aonde os fumos cheiram a charros.  

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:30
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Terça-feira, 8 de Setembro de 2015
CAFUFUTILA . XCV

TEMPOS QUENTES NO PARALÉM – 2ª de 3 partes - O esquecimento existe mas, nós não somos só silêncios…John Wayne estava encontrado neste sítio encantado … 

Por

soba10.jpg T´CHINGANGE - Nasceu em águas internacionais num vapor chamado Niassa. É cidadão do mundo, Angolano na diáspora - Mazombo por condição; anda pelo Mundo à procura de si mesmo! Tem cédula de Brasileiro, B. Identidade do M´Puto. Anda às arrecuas para fugir à regra, um paradigma, só dele.

john3.jpg John Wayne mostrava-se ávido de rever aquilo que foi sua infância em uma outra encarnação. Ele não tinha certeza absoluta se aquela sua infância longínqua foi passada em Aivados ou Alcaria e tem uma ligeira certeza de que tinha familiares em Panoias pois que refere estar em um alto e de poder ser vista de muitos horizontes. A todo o momento parávamos para apreciar as coisas ínfimas, tirava fotos que viravam um holograma em 3 D com cheiro e forma de impressionar. Não sei do porquê ao apanhar uns cardos de cor amarela e mete-los em seu alforge; nem lhe perguntei, pois tudo era nele inusitado. Afagou uma minúscula carriça que lhe saltou para o ombro e de repente apeou-se junto a um frondoso sobreiro e de novo falou em seu inglês rachado: - You know the difference between a sobreiro and the azinheira? Rsss… Se eu sabia distinguir o tronco do sobreiro e azinheira?.

john5.jpg Só sei que a azinheira dá bolotas comíveis enquanto as do sobreiro não prestam, melhor são intragáveis! Disse eu! - Pois então fixa-te nisto, o tronco do sobreiro é de casca grossa, rugosa, irregular de fendas e nódulos irregulares enquanto a azinheira tem a casca fina, fendas regulares e longitudinais além de ter as folhas mais pequenas e, como dizes as bolotas comem-se; Lá na paralaxe do além de onde venho, utilizamos muito esta glande para nos dar energia atómica, podermos assim a partir de suas partículas radioactivas de nos transmutarmos num ápice de um para outro lado! - Assim como levitar e andar só de pensamento? Interroguei-o!

mess1.jpg Ele tentou então explicar-me: - Quando olhamos para o espaço, em seu conjunto, a distância das estrelas é tão grande que perdemos a noção de profundidade, num primeiro momento. Todas as estrelas parecem então estar à mesma distância, coladas numa grande esfera, a esfera celeste. Mas, na verdade, elas não estão à mesma distância, sendo o método de paralaxe usado para medir algumas dessas distâncias e, é aqui que nos movemos, na sombra da paralaxe. Estava explicada este seu entusiasmo em ver as moléculas expansivas alimentadoras de seus iões ou catiões feitos nuvens, assim como um orvalho cacimbado. Mas eu não consegui entender.

mess04.jpg Mais ou menos isso, teletransporte nos iões espaciais! Disse ele. Isto é demais para a minha caminheta, afirmei; É melhor ficarmos assim! Notei que ele não gostou deste meu momentâneo desinteresse. Neste entretém ouvimos um kwé-kwé de um pássaro grande e preto por mim nunca visto! Seriam os seus guardiões nesta terra do Paralém. Podíamos ouvir tudo ao mesmo tempo, um fenómeno até aqui nunca por mim observado, mas eram os badalos dos bois e das ovelhas não visíveis dali, que sobressaiam desta amálgama de sons. Eu estava leve como uma pena, fazia quase tudo, eu que tenho tanta dificuldade a atar os sapatos pela manhã; parecia ser um ser gasoso.

mess6.jpg Montamos de novo nossos cavalos holográficos e num repente estávamos bem no átrio da ermida da nossa Senhora de Assunção. De novo apeamos e, ambos nos sentamos no muro largo feito daquele xisto caiado. Num encantamento tirou nem sei de onde uma gaita-de-foles e começou a tocar uma musica volátil que trazia aos sentidos o cheiro de plantas distantes, pode dizer-se paradisíacas… Foi quando vi as nuvens virem até nós e fundir-se em uma senhora, pairando ali bem perto sem qualquer assentamento; tudo indica ter sido a Nossa Senhora de Assunção…Nunca tinha sentido assim uma sensação de tanta tranquilidade…

(Continua…)

CAFUFUTILA, (kifufutila): - Farinha de mandioca torrada misturada com açúcar. Do Kimbundo de Angola

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:15
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Segunda-feira, 31 de Agosto de 2015
CAFUFUTILA . XCIV

TEMPOS QUENTESNO PARALÉM 1ª de 3 partes - O esquecimento existe mas, nós não somos só silêncios…John Wayne estava encontrado neste sítio encantado …

Por

soba10.jpgT´CHINGANGE - Nasceu em águas internacionais num vapor chamado Niassa. É cidadão do mundo, Angolano na diáspora - Mazombo por condição; anda pelo Mundo à procura de si mesmo! Tem cédula de Brasileiro, B. Identidade do M´Puto. Anda às arrecuas para fugir à regra, um paradigma, só dele.

john0.jpg Seu verdadeiro nome era Marion Michael Morrison. Ele detestava seu nome e ao entrar para o cinema mudou-o para John Wayne, que tinha mais a ver com um rapaz de 1,92 Surgiu com destaque no cinema em 1930 em The Big Trail, faroeste dirigido por Raoul Walsh. Permaneceu vários anos estrelando filmes B até consagrar-se no papel de Ringo Kid em Stagecoach, clássico de 1939 de John Ford. A carreira de Wayne foi assim agraciada com esse divisor de águas inestimável, que o lançou ao estrelato. Esse filme tornou-se a obra que definiu todas as principais características do faroeste norte-americano.

john01.jpgEra o último domingo de Agosto; saí de mansinho da rua da Misericórdia faltava dez minutos para as sete horas da madrugada; o silêncio rondava o lugar do Paralém e, nem o cão rafeiro da rua do Outeiro me ladrou, procedimento incomum, talvez por ser cedo ou por não querer mostrar seus caninos cariados e, voltei à esquerda na rua de Alvalade pisando o asfalto, casas caiadas com barras azuis muito a condizer com o Paralém de Panoias, famosa por uma praia que não tem com o nome de Messejana. Passo a rua da Fonte Nova, que me fica às 10 horas, como dizem os aviadores, portanto à esquerda; já descendo noto no desperdício de figos da índia que caem na barreira sem aproveitamento.

john 00.jpg Os tabaibos deram lugar aos eucaliptos cheirosos a esta hora da manhã, batiam as sete badaladas no sino da igreja da Misericórdia estando eu em frente do chafariz Afonso Gomes construído a 15 de Julho de 1880. Via-se ao longe a ermida de Nossa Senhora de Assunção. Pude ler no cruzamento que liga a Rio de Moinhos um cartaz da CDU mencionando uma próxima festa do Avante na Atalaia e fazendo menção do PCP com uma estrela, uma foice e um martelo, e o PEV com um girassol.  

mess01.jpg Ouvi do lado sul e lá longe uns barulhos de petardo ecoando nos cabeços, talvez avisando da festa de Panoias ou então de caçadores dando tiros aos coelhos ou rolas, não tenho certeza disto mas eram estrondos aliados a um zumbido do ar e olhando o céu lá estava o rasto dum avião nas alturas a caminho do Sul, Áfricas e, estando assim olhando o azul rasgado ouvi um convincente “Good Morning”…

john4.jpg Mas, que grande susto! Segundos antes não estava ali ninguém e, num repente, saído do nada ali estava um homem vestido à vaqueiro, um autentico cowboy americano! E, surpresa das surpresas… mesmo espanto! Era nem mais nem menos que John Waine, vestido como se aqui viesse fazer um western. Não te assustes, disse ele no seu jeito meio fanhoso: -Don´t be afraid! I heard gunshots and came to see!... Em inglês! E, perante o meu franzir continuou a falar, mas agora em português com sotaque de alentejano de Aljustrel, bem cantado: - Na minha anterior encarnação andei por aqui e venho agora matar saudades; tu podes ajudar-me nos caminhos, agora tudo está diferente! Quero ir até Alcarias, Panoias e Aivados, lugares aonde ameninei nesse meu passado.

john02.jpg Caramba! Num repentemente surgiu um puro lusitano a seu lado! Let's ride! Let´s let's go! Vamos, monta! Estava tolhido e, assim tremendo e com a sua ajuda pulei com alguma dificuldade para o lombo do lindo exemplar de cavalo. E, lá fomos em direcção à Ermida de Nossa Senhora de Assunção… Fiz um rodeio em direcção a Sargaçal porque sabia ir ali encontrar bois e, lá chegados vi o encanto nos olhos de John! Os bois com os rabos a dar e dar, um e outro lado afastando moscas enquanto a passo rápido se deslocavam da barragem de água para as gamelas de pasto com a suposta ração que nós lhe dariamos; pensaram que seriamos nós, seus cuidadores.

john2.jpg Vou tentar reproduzir a imagem, o gado com crias seguiam o rumo da palha levantando o pó do chão, assim como uma mini boiada e mugidos de indicar presença aos bezerros e o moinho de vento rodando fazendo tric…tric…tric…tric nas palhetas duma pá desmazelada mais o riscar de uma tabuleta que teimava em amachucar um outra torta chapa pelo chik…chuk…chik…chuk, vento de sudoeste que entretanto se levantou! Era mesmo uma cena dum filme e, se gozei na imagem dos muitos filmes que me alegraram, olhos colados ao grande ecrã! Sim, sou mesmo da geração do cinema, das matinés de ver gado despencando com pó, rifles, ladrões e tiros de colt e winchester.  E, curiosamente o encanto não era só meu. John Wayne estava consolado! Sentia-se este mistério.  

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:01
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Quarta-feira, 17 de Junho de 2015
MALAMBAS . LXXXIX

TEMPO COM FRINCHAS . Sinto-me palhaço no particípio passado mas, não dono do circo…

Malamba é a palavra

Por

soba0.jpeg T´Chingange

mss2.jpg Passada a horta do Torrica dobrando já a curva da ribeira de Messejana, no monte de Vasa Talegas interroguei-me sobre este nome já pouco usado na linguagem corrente; isto significa uma bolsa de ráfia ou pano-cru aonde se levam coisas normalmente comida, um pedaço de broa, chouriço e frutas a serem usadas como suprimentos em uma tarefa de ceifa, aqui em plena planície alentejana. Neste percurso doirado da falsa savana esperava ver abetardas, sisões, toutinegras ou grous mas só consegui ver nas ruínas do Monte dos Reguengos os peneireiros das torres, gaviões pretos, o tartanhão-caçador mais o cortiço de barriga negra.

amigo00.jpg O resultado do cultivo de cereais e sequeiro em regime de rotação origina a permanência de aves que não se vêem com frequência em outros lados. Nesta fingida estepe cerealífera pode com sorte, ver-se o roliceiro, o milhafre real em tempos mais frios, o peneireiro cinzento, garças boiadeiras, mas desta feita, vi em meu passeio a presenteira cegonha branca e castanha no topo do convento de S. Francisco. Na barragem do Reguengo pude apreciar os lindos patos-reais e mergulhões e até poupas mais a tarambola dourada.

melro1.jpg Enfim, um felizardo libertado como aqueles corvos grandes e pretos ondulando seus voos entre mesetas, carros desventrados e trastes espalhados como num cinema de pradaria abandonada com muito funcho, muito carrasco e rascassos. A sobra do Alentejo é só a que vem do céu, abrigue-se aqui menina debaixo do meu chapéu. Pensei nisto no galgar de metros pensados e com o firme propósito de emagrecer, de ter saúde o quanto baste para desbaratar os triglicéridos no lugar dos Maldonados, gente que dizem ter-se endinheirado aqui e nas fazendas em áfrica.  

mess0.jpgColhi umas quantas espigas de trigo e fiz um ramalhete com folhas de louro colhidas no convento abandonado do tal de S. Francisco com um belo brasão na frontaria. Neste entretém deparei com um cão arrebanhando umas quantas cabras na direcção do Monte do filipe; olhei ao redor e voltei olhar mais à frente procurando o pastor e, nada de gente! Era o rafeiro alentejano que só e mansarrão conduzia o rebanho pelas verduras, duma forma terna e eficaz, conduzindo-as até o lugar que ele cão, sabia ser o certo!  

mess9.jpg O alentejano cidadão, é terno e rude, é tudo ou um deserto; o que nós quisermos, comodistas, papistas ou comunistas; gente às direitas que por vezes se vê obrigado a andar às arrecuas, gente com honradez. De tudo tem como nos mistérios do Evangelho de Jesus Cristo que num domingo de missa, recorda o Martírio de sua morte no Monte Gólgota ao longo dos anos e dos séculos, como se por aqui tivesse andado como o fez na Galileia e Vale do Jordão. Nunca ninguém o viu passar por aqui no vale das talegas mas, lá também se faz ouvir o sino das Ave-Marias.

mess05.jpg Foi pena que não tivesse dado uma mãozinha a Dom Sebastião que daqui levou mancebos para essa tal de Alcácer Quibir para matar gente com espadas na forma de cruzes alongadas para matar os infiéis e, nem por misericórdia voltaram à sua aldeia azul e branca. Entro no adro da Misericórdia e abençoo-me na cruz que serviu para fingir mais uma vez a morte teatral da ascensão de Cristo! Ainda lá estavam os cordames que o amarraram; não sei se gosto destas representações, assim quase ao tipo dos sacrifícios das Filipinas porque estou farto de ver mortes! Vamos andando, um dia de cada vez neste calvário real! Fui!

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 23:05
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Domingo, 7 de Junho de 2015
MULUNGU . XLV

TEMPOS CUSPILHADASPasseando o esqueleto num reino outrora moiro...

Por

soba0.jpg T´Chingange

mess04.jpg Ainda não eram sete horas da manhã quando iniciei a marcha do dia por duas horas na falsa estepe alentejana. Saí da minha Misericórdia, cruzei a rua do Outeiro entrando na Casal Ventoso e logo cheguei ao muro da Horta Nova aonde em outro recuado tempo botavam penicadas porque não havia como hoje quartos de banho; Foi com a chegada dos magalas da guerra em áfrica e, depois de 1971, que a gente  da terrana, na sua maioria, começou a ter quartos de banho em suas casas; antes não havia saneamento básico nem água canalizada.

mess7.jpgDesta Rua da Eirinha e um pouco mais adiante, virei à direita pela principal Rua de Alvalade. Pude ouvir as sete badaladas da Torre do relógio quando já descia para o cruzamento que liga a Rio de Moinhos à direita mas, eu iria seguir em frente via Alvalade como disse mas, aproveito recordar que em outros tempos se fazia ouvir os sinos da Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios lá no topo e junto às ruinas do castelo mouro; eram as avé-marias da terra, o toque das doz horas, tempos de terços e rosários cantados ou rexzados aonde quer que se estivesse. 

mess01.jpg Esta Igreja Matriz pode ser vista de todos os lados. Parei por momentos no chafariz de Alonso Gomes construído a 15 de Julho de 1880 uma veia de água que dizem sair debaixo do altar da Nossa Senhora dos Remédios; conta-se que em recentes tempos havia uma fonte uns cem metros mais ao lado e na chapada da colina; que a mesma fornecia de água para beber a todo o povo, lembro-me de ter bebido dela e que o dono proibiu às gentes irem ali se aprovisionar. Depois deste acontecido, a fonte que sempre deitou água secou completamente pelo que se disse logo ser o castigo da Santa pela proibição e eis que o dono, reconsiderando, a tornou a abrir e milagre, a bica recomeçou a botar água.

mess0.jpg Nesta terra de xistos, falsa savana, pode ver-se muitas carriças ou calhandrinas acompanhando-nos aos solavancos de funcho em funcho, de cardo em cardo. Pude ver e ouvir rebanhos de ovelhas com toques de variados timbres com chocalhos e badalos em clareiras de erva doirada com envolventes chaparros, sobreiros e oliveiras seculares. E lá está o pastor com o cajado acilhando o corpo ao chão mais o rafeiro Alentejano, estirando a preguiça na sombra do dono, duma azinheira ou sobreiro. Alentejo não tem sombra senão a que vem do céu e os abrigos nem sempre estão aonde a necessitamos. Tiradores de cortiça lançavam no meio do montado seus machados aos troncos descascando os sobreiros deixando-os como que despidos com um amarelo cruo.

mess1.jpg No topo de outra colina talvez a uns três quilómetros da anterior, lá estava a ermida de Nossa Senhora de Assunção com sua traça muito igual a tantas outras, de duas torres e riscada a azul nos cunhais e vigamentos fazendo um quadro bonito de se ver ao perto e lá detrás perfilando no horizonte também azul. Mais longe e já quase de regresso, passada que estava uma hora, lá estava a escola de Vale de Água, que em outros tempos dava ensinança aos putos de alguns montes por ali dispersos. Agora é um clube meio descuidado de pescadores, caçadores e outros mentirosos. No regresso retive minha atenção no desvio para o lugar da Aguentinha do Campo que de monte passou a turismo rural; transformações que os tempos obrigaram a que se fizesse por novas técnicas agrícolas com o uso de maquinarias variadas.

mess5.jpg A Buena Madre foi ficando para trás e já coçado pelo atrito pelos mais de dez quilómetros percorridos, comecei a ficar arrepelado nas peles das bochechas celulitosas. E, pude ver ainda pequenos tufos de papoilas do campo dum vermelho vivo entre outras de cardos em tons amarelos, brancos, azuis e violetas. Também dei pontapés a fungos na forma de velas, peidos de velha do qual sai um pó amarelo com cheiro de mofo.

mess6.jpg Tive este grato prazer de ver coisas que parecem não ser notadas por outras pessoas! Será que sou eu uma abetarda neste paraíso e, na forma de espírito. Belisquei-me e senti dor; era eu, mas não estava escrito que aqui viria passar meus setenta anos nesta “Mesjana” que em árabe quer dizer Messejana e que significava prisão. Seria aqui um campo de concentração dos Cristãos numa jihad islâmica do antigamente. A curiosidade é mesmo uma coisa se só alguns têem…

Mulungu: É uma arvore de grande porte com flores vermelhas; existem no Brasil e em Angola

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:04
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Sábado, 17 de Agosto de 2013
MOKANDA DO SOBA . XXXVI

 “ALENTEJO  -  TERRAS FANTASMAGÓRICAS2ª de 2 Partes

Por

   T´Chingange  

:      Estamos em Agosto de 2013 com talvez menos de dez milhões de Portugueses e, o estado vive à míngua sugado por corruptos e corruptores. As conquistas do povo foram direitinhas para a nova casta de políticos que dividem o bolo por quotas, tanto para ti, tanto para mim. Cá na província, na lezíria, ou ceara alentejana, no cortiçal, olival, nas chapadas de trigo, nos lameiros, os montes estão desventradas, sem telhado, ruínas a gritar desespero aos vindouros. Afinal, de nada valeu aquela caçada nos tempos loucos de caçar fascistas. Ainda hoje me arrepio de tal façanha vivida por mim com pesar e, em euforia de Abril ou Abrilada pelos demais, mais que muitos, infelizmente! Acabei por me desterrar, abalado para um lugar distante chamado de Venezuela, mais tarde Brasil. Os tempos passaram mas os anos prósperos foram por má gestão mandados p´ro galheiro.

 D. Sebastião I de Portugal - Foi o décimo sexto rei de Portugal, cognominado O Desejado por ser o herdeiro esperado da Dinastia de Avis, mais tarde nomeado O Encoberto ou O Adormecido. Aos 14 anos assumiu a governação. Solicitado a cessar as ameaças às costas portuguesas e motivado a reviver as glórias do passado, decidiu a montar um esforço militar em Marrocos, planeando uma cruzada após Mulei Mohammed ter solicitado a sua ajuda para recuperar o trono. A derrota portuguesa na batalha de Alcácer-Quibir em 1578 levou ao desaparecimento de D. Sebastião em combate e da nata da nobreza. Isto, levou Portugal à perda da independência para a dinastia Filipina e ao nascimento do mito do Sebastianismo.

Voltando à lagoa da barragem do Monte da Rocha, não é muito diferente do que se pensa fora de água em que ninguém quer saber da azáfama dos outros, cada qual por si, chapéus há muitos como dizia o humorista e repentista Vasco Santana. Ontem à noite prestei vénias a D. Sebastião que veio dar vida em cortesia de soberania recriada à morna terra pintada de azul e branco de Messejana. Se ontem D. Sebastião veio dar vida, há muitos anos atrás em sua realeza imberbe, ocasionou morte a todos os jovens que com ele foram embalados numa aventura de conquista a norte de África; iam destemidamente dar cabo dos Mouros, os hereges infiéis, Berberes e Tuaregues que não perfilavam com o Cristo e seus seguidores arianos. Alá, já nesse então, nada o fazia alinhar com o deus ariano que desfilava amor com armas em forma de cruz estilizada, a espada.

  O oxalá deles, mouros, não tinha seguramente o mesmo sentido que nós arianos lhe davamos. Os jovens assediados pelo jovem rei D. Sebastião, com ele foram mas, jamais voltaram; por lá ficaram em Alcácer Quibir encharcando a terra árabe com seu sangue num amontoado de corpos. O vento Suão nunca os trouxe de volta e, por eles muitas mães choraram, muitas noivas enviuvaram prematuramente carregando dos pés à cabeça seus lutos. Esta aventura de conquista e submissão de África continuou através dos tempos e séculos. A riqueza soberana do puto, era nesse então  e, sempre, pequena demais para as ansiedades do povo Tuga e, foi assim que muitos dos nossos ancestrais, nossos avôs e pais se aventuraram a iniciar novas vidas para além do desconhecido em um terra que diziam também ser a sua. Tal como eu, branco de segunda, muitos foram o fruto desta estória sem hagá, Angola, Moçambique, Guine entre os demais. Por má gestão e usura, nossos ditos irmãos deixaram-nos ao deus-dará; um dia a história fará justiça. Oxalá que assim seja!

Foto: Mais trabalhos na minha página: www.facebook.com/desenhosangelica Ilustrações de Costa Araujo, meu Mano Corvo (O Deserto é de minha autoria)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:05
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Sexta-feira, 16 de Agosto de 2013
MOKANDA DO SOBA . XXXV

“ALENTEJO  -  TERRAS FANTASMAGÓRICAS1ª de 2 Partes

Por

  T´Chingange

   No dia de ontem, quinze de Agosto, dia de todas a Marias, percorri a savana alentejana entre Messejana, Panoias, Santa Luzia e Garvão admirando o silêncio doirado da ondulada planície sarapintada de chaparros e sombras. No ar sentia-se um zunir morno, brisa suave de uma apavorada expectativa, impassível por baixo de um céu azul; um azul espalmado em todas as latitudes. As narinas arfavam nervosamente o cheiro do pasto farfalhando mornices de verão com mais de quarenta graus as terras de latifúndios, fome e solidão de recentes tempos. A nostalgia das terras do Alentejo são fantasmagóricas, transcendem-se no tempo com bocejar de sonhos perenes.

 Já nadando ou gesticulando nas águas espelhadas da barragem do Monte da Rocha embrulhado em pensamentos, dizia só para mim que um escritor nunca se aposenta. É quando carregado de sabedoria que se tem de recolher ao isolamento; creio que sucede isto com todos aqueles que teimam em deixar testemunhos de vida: escrevem para o vento emulando-se nas descrições que só eles sentem, só eles cheiram. Vivem povoados de fantasmas feitos fantasias, alongam suas descrições, suas visões, para além do inimaginável. São gente só, isolados quanto baste para poderem trespassar a vida feita de nadas. O tudo ou sonho, entre o real e a ficção convenceram-me e, embora de forma incerta, um encontro com a literatura. De quando em vez afugento o desencanto pela força transformadora do tempo, porque só o tempo depura, mas isto decerto, não fará de mim um escritor. Simplesmente, escrevo!

 Um pato acerca-se de mim na água. Imagino que ele vê uma ilha com a forma de um chapéu de palha enquanto se movimenta lentamente ao meu redor. Nesta pequena imensidão de lagoa, e nesse preciso momento, este pato é o meu único aconchego de vida. É, para todos os efeitos o meu espírito santo, o meu mais próximo ser naquela tranquila lagoa. Ele mergulha rápidamente seu bico na água e faz luzir um pequeno achigã que se retorce em seu bico. Distraído com a deglutição do seu manjar, não se apercebe que naquele chapéu tem gente.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:59
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Sexta-feira, 22 de Maio de 2009
OS DIAS DA ESPIGA

FABRICA DE LETRAS DO KIMBO    

                 21 DE MAIO A BRANCO E AZUL

                 22 DE MAIO O DIA DO VIZINHO

A felicidade  aconteceu fruto da empatia temperada no tempo e no  desejo desta chapada de terra. Nestas ruinas de castelo antigo, enlaçei o compromisso da amizade e, num gesto à liberdade colhi um ramo de espigas, flores de cardos e margaridas selvagens.

Num hino à liberdade vislumbrei que a vida não faz sentido sem se ter um espaço próprio, e a mente liberta.

Subtraindo anseios descompostos do mês de Maio, estas ruinas ficaram de repente na proa do mundo aonde a benção do ar desde os tempos de Cartagineses, Fenicios e até Romanos se faz sentir como um desejo  de permanente fuga, como uma doença de vontade.

Dom Sebastião tambem aqui esteve algures procurando mancebos para com ele ir morrer em Alcácer-Quibir. Levou gente daqui e dos montes em redor. A Beringel, regresou um braço alado para dar a conhecer a tamanha mortandade do norte de África.

                                            

   RUINAS DO CASTELO DE MESSEJANA

A linha tortuosa das ruas e casas rasteiras do casco velho da vila, com barras azuis a limitar no branco as portas e vizinhos, os indicios de arcos moçarabes num misto de judiaria e mouraria com sombras perfilando o recortes de lusos telhados. Tambem as torres das igrejas riscadas a azul e branco, sobresaindo em altura por cima do turbilhão de história com foices mouras.

Quase defenindo os limites da ordem de Santiago os cristãos fustigavam aqui,  mouros com suas espadas em forma de cruz.

A obra da revolução dos cravos ficou aqui em ruinas dispersas, muito aquém das pretenções, casas destelhadas a eito e sem jeito mostrando o declinio do latifundio..

Os perfumes do campo de funcho, poejo e espargo silvestre por volta do meio dia, misturam-se com os aromas da maresia e de cozinha; combinação que só o vento pode explicar. È um simbolismo de positividade na graça de estar, como o de fluir desejos emoldurandos num mundo estranho a seu redor.

 

Será que Hércules o semideus Grego e filho de Júpiter passou por aqui aportando a uma praia pré-histórica e, mais tarde Tibério, numas termas com pilares e criptas trabalhadas se fustigou  com raminhos de alfazema, alecrim ou rosmaninho?

Nestes lindos dias de Maio, sem vestimenta garbosa, nem lantejoulas, engalanei a humildade duma das mais caracteristicas povoações do Alentejo.

 

Em terras do Puto,

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:19
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Segunda-feira, 16 de Março de 2009
A ADIÁFA DOS MOIRÕES
 VISTA GERAL DE MESSEJANA

                             

A CRISE E A PETULÂNCIA DOS GOVERNANTES

 

ENTRE 1914 E 1945 E O AGORA

 

Por absoluta incapacidade de gestão as colónias Portuguesas por volta de 1914 a 1918 foram simplesmente abandonadas à sua sorte. Enquanto o estado confiscava bens à igreja, fidalgos ou aristocratas, no exílio sacrificavam imbecilmente os jovens mandando-os para morrer como tordos nas trincheiras da guerra. Do corpo expedicionário enviado para Flandres de França poucos regressaram e os que voltaram vinham de pulmões afetados pelos gazes ali utilizados.

 

 Nesse então, a 1ª República Portuguesa era composta por deputados que faziam absurdos e floriados discursos no parlamento sem sequência na realidade do dia a dia. Eram uns pavões e cagões que vendiam petulância nos cafés do Chiado; era ver qual deles tinha mais protagonismo na pópia faroleira do Russio ou no Café da Arcádia.

Neste aspeto, Portugal viveu sempre em crise, (e continua a enfermar desses resquicios) envolto em devaneios de gente acomodada à politica de faz-de-conta, devaneios de gente que se sente insubstituivel.

Naquele então, senhores latifundiários, donos de muitos hectares, muito gado, muitos chaparros pavoneavam política em Lisboa enquanto seus ganhões ou moirões lhe garantiam os bolsos cheios. Lá na província, na lezíria, ou seára alentejana, no cortiçal, olival, nas chapadas de trigo, nas lameiras, a courela havia a míngua.

Angola distante estava simplesmente abandonada.

 

Estamos em 2009 com dez milhões de Portugueses e o estado vive à mingua sugado por corruptos e corruptores. As conquistas do povo foram direitinhas para a nova casta de políticos que dividem o bolo por quotas, tanto para ti, tanto para mim e estamos de novo naquela merda desses idos anos; o povo fugindo para Angola, Brasil e lugares para onde  ninguem pensava ir depois dum 25 de Abril.

Será a sina do Portuga, andar pelo mundo buscando subsistência enquanto eleitos incompetentes singram com grandes salários nas administrações repartidas pelo Arco-Iris político.

Toda a banda larga será inutel se esta  gente de mente estreita continuar na festa. Na próxima vou votar em branco para não errar.

Não é normal meter-me nestas citações mas que ando revoltado lá isso ando!

Um branco de segunda com manias de ser,

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 01:15
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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