AS ESCOLHAS DA CONDESSA DO QUIPEIO - (TR)
A MULEMBA DA MALDIÇÃO
DE SEBASTIÃO COELHO – 4ª PARTE
“...quando a mulemba secar, o Huambo vai desaparecer,destruido pelos seus próprios filhos. E as riquezas do solo não serão para ninguém...”
DA MALDIÇÃO DE ALBANO CANTO DOS SANTOS, dos anos 20
UM KIMBO DO HUAMBO
O Viegas padeiro distribuia o pão quente em bicicleta. O Bento Agria, o “Faísca” arranjava e alugava bicicletas. Carro de praça havia dois. O do Almeidinha carpinteiro e o do Largo, molengão, para todo o serviço sem pressa. Só mais tarde o Loução Caçador, o Bessa Alfaiate e o Justino Relojoeiro viraram taxistas. Chupa-chupa gostoso era fabricado pelo Antunes da Bébé-Sadio. O kitandeiro 12 da Juleca continou a vender kitutes 13 de casa em casa.
O dr. Eurico era o médico dos pobres. Mas quem sabia mesmo curar o maculo 14 era a velha Quartin, com pomada de pó de raizes, que ela metia a dedo, tufa, tufa, no ânus dos meninos. A generosa irmã Cândida também curava o maculo dos adultos, espetando-lhes as hemorróidas com agulha de ouro, até ao dia em que alguém morreu e aí mandaram ela embora. Cirurgião de confiança era mesmo o Dr. Parsons, da missão do Bongo. Médico famoso para doenças de mulher só o dr. Strangwei, da missão americana da Chissamba.
OS COCOS DO SOBA
Nesse tempo desta recordação, o único fotógrafo de verdade era o Costa Melo, que sempre usava laço sobre colarinho engomado. Armava as suas próprias películas numa caixa “à la minute” e no momento de actuar, levantava a mão e avisava o cliente: -“ai vai, olha o passarinho”. E zás, fusilava um “flash” de puro magnésio. Já nessa época tinha carro, um incrível Ford Pontapé, com faróis a carboreto e capota de lona, segura aos guarda-lamas por correias de couro e fivelas de bronze.
O Baptista era o livreiro “sui generis” do burgo. Não sabia ler nem escrever, mas vendia livros. Vendia literatura a peso, sopesando os livros com a mão. E nunca faliu.
Ao lado da livraria, sempre aberta, porque aí se encontravam instalados os bilhares, estava o bar. No bar do Baptista reuniam-se as eminências da cidade, a tomar “saloios”, por whiski, uma mistura barata de conhaque e soda. Ao fim da tarde caiam o Papa Leonardos, um grego ricaço, contrabandista de mão de obra para o Bom Jesus 15; o Cunha Lima, director da Kapa, homem de sangue azul e modos finos; o Miguel Nepomuceno, advogado e garanhão do povo, o Horácio D... e o Correia S..., cornudos de profissão; o Abel, velho aspirante a intelectual e o velho Tavares Kapoko, intelectual de verdade e toda a outra fauna que integrava o zoológico da cidade, incluindo o Tubarão, o gordo “Tubarão Mendes - Tabelião”, como rezava a placa do notariado.
12 - Kitandeiro/a – Vendedor ambulante.
13 - Kitute – Doce. Doçaria. Coisa boa.
14 - Maculo – Doença no ânus devido à presença de oxiuros.
15 - Bom Jesús – Nome de uma açucareira famosa dessa época.
Nota: Contributo para a história do Huambo- Angola por SEBASTIÃO COELHO
Subscrito por
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