AS ESCOLHAS DA CONDESSA DO QUIPEIO - (TR)
A MULEMBA DA MALDIÇÃO DE SEBASTIÃO COELHO – 5ª PARTE
“...quando a mulemba secar, o Huambo vai desapa-recer,destruido pelos seus próprios filhos. E as riquezas do solo não serão para ninguém...”
DA MALDIÇÃO DE ALBANO CANTO DOS SANTOS, dos anos 20
NORTON DE MATOS
O bairro de Benfica ainda era conhecido pelo Bairro das Facadas e a Maria Cuanhama era a prostituta mais famosa da cidade. As casas desse tempo eram de rés-do chão, excepto os saparalos 16 da Belport, Neves Coelho, Anibal Branco e o Bona Amikeko, de recente construção. O Albano Canto dos Santos já era só lenda, como os legendários Cara Fatal e o polaco Chamiço, hóspede eterno do hotel Chifuanda, porque não pagava a conta, acumulada em cadernos de fiados.
Figuras tipicas da rua eram o Boca Torta e o Baco-Baco, o Polainitos e a gorda Laura Pepe, o Zé Arquimedes, cego e mestre d’obras que “via” quem não trabalhava e lhe jogava logo porrada. E o inconcebível Anibal Dias, o Kamutar, que se apoderava de qualquer bicicleta, fazia o que tinha que fazer e a abandonava, depois, onde calhava. À parte disso, era um passeador tagarela e incansavel. Folclórico, sempre de colete sobre a camisa, conversava com todo o mundo, mas tinha os olhos postos no chão, investigando e afoito para levantar algum prego, ou porca ou parafuso perdido. Também juntava cordéis, que atava uns aos outros. Havia quem caminhasse à frente dele para atirar cordelinhos para o chão. Diziam que em casa guardava uma descomunal bola de barbante, mas nunca ninguém viu.
N.ª S.ª do Monte . Caála (reconstruida)
Quando a cidade cresceu um pouco, o Gilberto de Mascarenhas publicou o jornal “A Voz do Planalto”, que introduziu no burgo a novidade da necrologia. Gente importante entrava na necrologia vestindo caixão de mogno do Juvenal.
Povo era só embrulhado em kambrikite 17 e buraco com ele. O primitivo cemitério era em Cacilhas, terreno sem muros onde as onças escavavam carne fresca. Por isso a Câmara mandou construir o cemitério novo, com muros altos e caiados.
Mestre Franco, mestre d’obras encartado e responsavel, ocupou-se dos trabalhos e não arredou pé, nem quando o cemitério ficou pronto, porque o designaram encarregado. Faleceu no dia da inauguração e deram-lhe um lugar permanente, para não dizer vitalicio, quarteirão um, campa um. E ganhou juz a uma placa que diz, “aqui jaz”. Paz à sua alma. Inaugurada a nova necrópole, o campo sagrado de Cacilhas foi desactivado. Não houve mais enterros e muitos anos depois, o clube Mambroa aproveitou aquele terreno liso, para transformá-lo em campo de futebol. Dizem que, nos primeiros tempos e nas noites escuras, as almas penadas saiam a protestar. Depois, saiam a jogar a bola com entusiasmo, porque se começaram a ouvir estranhas ovações, quando algum cazumbiri 18 metia golo e festejava o supergozo da modernidade, o golo. Talvez um desses cazumbiris se chame Dos Santos. Teria sido enterrado ali por volta de 1920, em campa raza, castigo dos suicidas, porque, os que se diziam seus amigos, não respeitaram a sua última vontade, a de ser sepultado noutro lugar.
16 - Saparalo – Alto/a. Casa alta, de primeiro andar. Por extensão, casa de vários andares.
17 - Kambrikite – Manta de algodão muito popular em Angola, a antiga manta de contratado.
18 - Cazumbiri - Alma, alma penada, fantasma
Nota: Contributo para a história do Huambo- Angola por SEBASTIÃO COELHO
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