AS ESCOLHAS DA CONDESSA DO QUIPEIO - (TR)
A MULEMBA DA MALDIÇÃO DE SEBASTIÃO COELHO – 7ª PARTE
“...quando a mulemba secar, o Huambo vai desaparecer,destruido pelos seus próprios filhos. E as riquezas do solo não serão para ninguém..."
Saiu gritando que ninguém baixasse ao lugar e foi, directo, à farmácia do Martins, seu velho amigo e confidente. Em segredo mostrou-lhe a colheita. Martins, profissional atento, verteu alguns liquidos em vários recipientes e jogou lá dentro as pedras do Albano. E a reacção foi positiva. – “São diamantes !”, prognosticou.- “Diamantes de primeira água !”.
Eufórico, Dos Santos não cabia em si, de contente. Nesse dia a mina permaneceu fechada, com guarda à vista. A notícia correu célere pela cidade. À noite houve festa de arromba, paga pelo novo rico. No final do ágape, condoído com tanta ingenuidade e generosidade, alguém lhe contou a verdade. Os diamantes eram vidros que os amigos, combinados com o farmaceutico, tinham espalhado no lugar, para o gozarem. Albano envelheceu de repente. No dia seguinte a mina continuou fechada e assim aconteceu por vários dias mais.
Dos Santos mandou a mulher embora, fechou-se em casa e não respondeu aos amigos que o visitaram. Em pouco tempo estava completamente louco. Subia à mulemba, sentava-se nos ramos mais altos e ficava a olhar a mina. Deixou de comer e, uma noite enforcou-se.
Na carta, delirante e profética, que escreveu e que teria sido encontrada junto ao tronco da árvore, pedia para ser enterrado ali, ao lado da mulemba, pois, se assim não acontecesse, a sua alma, inquieta, voltaria para vingar-se: “... e quero o meu corpo a alimentar as raizes da árvore que eu plantei, quero que os meus sumos penetrem nesta terra e se juntem, lá embaixo, com as riquezas que não encontrei, mas que existem. Com elas sonhei transformar este país rico e de gente pobre, num rico país para toda a gente. Sonhei ver o meu filho mulato Pedro Evango, feito soba do Huambo, sentado à sombra deste pau 21 sagrado, criar uma nação próspera e feliz, mistura de várias raças. Fui atraiçoado pela pior traição, a traição dos amigos e da confiança. Se me atraiçoarem de novo, saibam que esta mulemba vai secar e quando a mulemba secar, o Huambo vai desaparecer, destruido pelos seus próprios filhos. E as riquezas do solo não serão para ninguém... tudo será ruina e desolação !”
Há vinte e cinco anos que não consigo viajar ao Huambo para verificar o que aconteceu com a mulemba da maldição, à sombra da qual me sentei muitas vezes, a contemplar a paisagem que ninguem quiz resguardar. Temo ser o último sobrevivente desta estoria onde mito e realidade se confundem e estar, também, abrangido pela maldição. Um filho da terra ordenou o holocausto. A cidade está destruida.
Não sei, não vi, não creio em bruxas, “pero, que las hay, las hay”.
21- Pau – Árvore. Pau é a forma comum dos camponeses nativos designarem uma árvore em português.
(…Final)
Nota: Contributo para a história do Huambo- Angola por SEBASTIÃO COELHO
Conto escrito em Buenos Aires – Abr.2000 – aonde faleceu em Novembro de 2002, saudoso do seu Huambo.
Subscrito por
O Soba T´Chingange
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