Vereador honorário
À atenção de todos os Municípios de Portugal
Esta crónica é escrita por minha inteira vontade e é tão verdadeira que até parece mentira.
Em uma cidade do estado de Pernambuco deram o cargo de vereador permanente a Santo António de Lisboa com o vencimento mensal correspondente ao ordenado mínimo do Brasil que corresponde a 414 Reais.
Ao ouvir a notícia através da Televisão Rede Globo no programa Fantástico, pensei ser uma brincadeira mas, para meu espanto, o desenvolvimento da notícia deu-me a conhecer que era uma reportagem real.
A reportagem mostrou o salão nobre do Município, podendo ver-se no topo e por detrás da mesa do executivo em um nicho, um Santo António de madeira, tal e qual como aquele dos Olivais em Coimbra ou o de Pádua em Itália e, na base a placa VEREADOR.
Todos os meses, a freira de uma congregação local, ali vai levantar o salário do Santo; uma humilde escola repleta de crianças sorridentes oram de mãos juntas todas as manhãs, agradecendo ao Santo esta graça e, todos os dias dão inicia desta forma aos trabalhos de estudo e formação.
A reportagem perguntava aos entrevistados se o Santo merecia ser aumentado e a maioria foi muito segura na resposta ao afirmar que deveria receber o mesmo que todos os outros vereadores; na maioria eram populares mas os próprio colegas de Assembleia disseram que sim senhor, ele, o Santo António deveria receber os mesmos 2800 Reais; era um obrigação de uso cultural que já vinha de anos atrás e que eles, iriam manter.
É de admirar a cultura desta gente sertaneja.
Foi referenciado ser este vereador, aquele que mais valia traz para aquela população e, na verdade sem estar sujeito às tentações de corrupção, desvio de recursos públicos ou gastos em proveito próprio com o cartão corporativo do estado ou ter um carro de ultima gama e muita petulância.
Ser cidadão, é abraçar projectos sociais, movimentos colectivos das preocupações do dia a dia no ambiente que rodeia a proximidade e vizinhança; seja aqui, no Brasil ou nos confins dum qualquer deserto ideológico, socorrer o mais necessitado é a mais nobre causa dum povo.
Numa vontade férrea de viver sem medo, desafiando a imprudência no seio de “corruptos”, senti necessidade de propor haver em cada um dos muitos municípios de todo o mundo, e Portugal em especial, um Santo como Vereador vitalício para acudir aos “sem abrigo” ou os meninos de rua.
Para se entender um pouco os costumes do sertão Nordestino a relacionar com esta envolvência de política com a religiosidade teremos de recordar o idolatrado padre Cícero que tendo praticado o sacerdócio em Juazeiro do Norte em Ceará, acabou por liderar como Prefeito e, por quinze anos, a povoação de Juazeiro do Norte.
Padre Cícero, que foi ordenado padre em 1870, teve conflitos com o Bispo de Recife tendo sido suspenso e, em 1911 toma o cargo do primeiro Presidente Municipal; usando da sua popularidade insurgiu-se com o povo armado contra o Governo Federal em defesa da sua terra, Juazeiro.
Em todo o Nordeste e, nos principais povoados, é vulgar ver em largos, uma redoma com a estátua de um vigário velhinho, de batina preta, chapéu de três bicos e, meio curvo apoiado numa bengala; ali está, nas muitas praças a justificar o seu carisma.
Também com o nome de Padre Cícero se disseminaram casas de apoio à criança, á semelhança do popular Padre-santo António.
Quando o cidadão, na condição de observador se torna político, deixa de aspirar à absoluta isenção e à racionalidade; quando assim acontece o homem enfeudado em movimento político fica nele, um emaranhado ideológico de que lhe turvam a razão.
O Cangaceiro Lampião tinha uma profunda devoção por seu “Padim Ciço” e, foi por negociação que este o agregou como capitão ao Batalhão Patriótico da Chapada Diamantina para dar luta à coluna de Carlos Prestes em 1927; Aqui o milagre de tornar “os cabras” em gente de ordem não resultou; continuaram “Jagunços” embora tenham ajudado a expulsar os rebeldes para a Bolívia.
E, aqui estava eu no meio do credo, numa esplanada do centro da cidade! Chinelo no pé, cruzava as vielas da vida com gente miúda de indefinidas procedências.
Bebia um caldo frio de cana-de-açúcar.
Se as ruas das cidades são cada vez mais o nosso mundo, vai sendo tempo de rever a sociedade sem escamotear a nossa liberdade.
Em muitos dos nossos males actuais há a cumplicidade de todos, uma falta endémica de espírito cívico; Talvez a coisa mude tendo Santo António como vereador!
Maceió, 13 de Abril de 2006
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