Segunda-feira, 30 de Junho de 2008
XIPAMANINE

  VUZUMUNANDO SINDROMAS – 1ª Parte

  A vida no Xipamanine

 A diáspora lusófona no 4 de Fevereiro de 2005

 

Na avenida Julius Nyerere em pleno Maputo Juka Lilás, encardido de rugas em pele mulata, empurra o seu txova xitaduma a caminho do Xipamanine, mercado das calamidades, maning de coisas boé; nas tampas laterais do veículo, podia lêr-se a vermelho importado a palavra “fragile”.

Fininho, como um pau de coco, torce-se todo e, em esforço de boi esganiçado sopra palavras ininteligíveis para o mufana wakuluka (gordo e ainda  jovem) que lhe entorpece o andamento raspando gordura sobejante.

Durante os dias entretidos da campanha para eleger Armando Guebuza, Juka Lilás, aproveitou-se do espírito aberto das promessa eleitorais para recolher novas expectativas de igualdade; fraternalmente com transparência e honestidade, adquiriu com crédito alargado, um conjunto de coisas úteis aos seus velhos amigos ainda do tempo da luta armada.

Parou de cansado na sombra de mafureira numa rua transversal e, assim teve que ser porque dali para a frente a polícia não deixava passar; via-se gente varrendo a avenida, regando o jardim central e aparando o capim, enquanto outros empoleirados,  prendiam fitas verdes, azuis, amarelas e pretas a condizer com a bandeira de Moçambique. Por ali vai passar o novo presidente Guebuza com maning de motos à frente e uns quantos mercedes atrás bafunfando estilo estiloso. 

Naquela mafureira, Juka, frequentemente dava espreguiçadas conferências aos amigos, estripando estórias antigas que ouvia falar aos cakuanas, madalas e chicoxanas. A mafureira, já falava sózinha de tanta sabedoria ali contada; no tempo de quando ainda se podia cortar carapinha com gilette reforçada a caco de vidro!

-Verdade mesmo, patrão! Afirma o guarda do Xipamanine, contando os meticais da bassela  e, que num repentemente ficou meu amigo.

 O cajueiro falante que havia ali, tinha sido cortado ainda no tempo colonial pois era sítio de muita confusão nos cabeça rapada, um grupo de dissidentes que só botavam fala boé de ruim com alambazada desgraça.

Com destino ao Ndumba Nengue, levava em cima do seu txova xitaduma, pneus  com acessórios de jantes, baterias de etiqueta tudor, xipefos com botija acoplada, uma ventoinha a estrear e um sem fim de bicuatas e mais dois  garrafões cheios de água de lavar defunto, já usada.

 (Continua.... 2ª Parte) 

Escrito em Johannesburg, 10 de Fevereiro de 2005

                         O Soba T´chingange                                 

                                     



PUBLICADO POR kimbolagoa às 01:23
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Domingo, 29 de Junho de 2008
BRASIL E O CANGAÇO - VII

          BRASIL – A saga do cangaço ( continuação...VII )

                                                                                                            

Naquela guerra de Setembristas e Cabralistas, os homens em armas no campo de batalha lutavam sem saber ao certo porquê lutavam; era uma verdadeira fábrica de futuros salteadores, como se veio a verificar. Sem trabalho nem directivas de governação correcta, com as finanças penhorando valores e honradez, os pobres insurgiam-se contra os barões. Era sobre estes ricos, detentores de espólios de além-mar que se fazia sentir o descontentamento e no entender do povo quem roubasse estes e, algo desse de sobra aos necessitados, era alvo de acolhimento, encobrimento e inaltecido pelos seus feitos. Bem haja!...diziam.

Numa contenda em terras de por detrás dos Montes José, salva Sá da Bandeira de morte certa e, por este feito este, atribui-lhe as insígnias de Torre e Espada, a mais alta condecoração militar.

Zé do telhado sai da tropa com o posto de sargento mas o seu temperamento não permite ficar indiferente à revolta de Maria da Fonte e junta-se de novo ao levantamento desencadeado a 22 de Março de 1846 em Póvoa de Lanhoso.

Esta revolta a juntar à guerra da patuleia da qual faz parte, termina pela convenção de Gramido, assinada nos arredores do Porto em 1847.

Desmobilizado da guerra, pelo facto de lutar contra Cabral que defende a Rainha D. Maria II, dá a este Zé uma má fortuna; empenhado por tudo ter empatado na guerra, perseguido pelos zeladores do reino e das finanças, recorre a pedir auxílio ao agora Visconde Sá da Bandeira mas, este não lhe dá a atenção devida, não o ajuda; pelo contrário, evita-o sem pudor. Foi este o grande motivo para se revoltar contra os ricos, os homens do mando sem coração e, de raiva, com rancor, resolve não dar tréguas em resposta ao menosprezo; roubá-los vai ser a saída mais justa para compensar o seu espírito de apego, dar de comida a seus filhos e dar uma melhor vida à sua Aninhas, sua dedicada esposa de quem tem recebido os melhores créditos. Por todo este estado de frustração e ainda, fazer frente às represálias dos vencedores, sem saída, é levado a juntar-se ao bando de Custódio e Boca Negra.

José do Telhado depressa faz valer a sua aprumada desonra tornando-se o chefe da quadrilha por morte de Custódio; tem à perna, João Pequeno de quem não recolhe simpatia, aliás a falta de empatia é recíproca; João Pequeno, não é boas rés e, vai ter de o manter debaixo de olho.

Aninhas, sua mulher, sugere-lhe sempre uma mudança de vida, e tanto repete, que um dia marcha para o Porto afim de embarcar para o Brasil. Atravessa o mar na Barca Oliveira desembarcando em Porto Alegre no Rio Grande do Sul.

Zé tentou ser um homem de bem, trabalhou numa grande fazenda lidando com o gado que ele tão bem conhecia mas, as saudades da sua Aninhas eram muitas e, como não havia maneira de ganhar fortuna rápida, resolveu regressar carregado de sombras na mioleira em função do que um patrício lhe disse; sua mulher não estava a receber as remessas, alguém estava a governar-se desviando-as e,...as finanças penhorando todos os seus bens por dividas ao fisco e a gordos agiotas de patihas abastadas. Zé voltou na mesma Barca de Oliveira que o tinha levado, por volta de 1851.

No início de 1859 as, autoridades policiais quase conseguem deitar mão ao Zé, escondido num refúgio que só João Pequeno sabia aonde era; Esta denuncia não podia ficar impune e dias depois  já com o grupo esfrangalhado José, munido de uma grande tesoura desloca-se a casa de João Pequeno, dissimula um pretexto, descem ambos à adega e, é ali que corta a língua do traidor com a tal tesoura de cortar galhos. João Pequeno esvaiu-se em sangue tendo a morte como o fim dum porco.

Depois de oito anos de cangaço por assalto à mão armada dá entrada na cadeia da Relação do Porto nos primeiros dias de Abril de 1859; numa tentativa de fuga para o Brasil é preso nos porões do Barca de Oliveira. Nesta prisão mantém algum contacto com o também preso Camilo Castelo Branco e, das conversas entre eles, resultou “Memórias do Cárcere” que deu a conhecer ainda mais o heroi da Patuleia com toda aquela carga enfática que dá a escrita de Camilo.

Do Porto, Zé é transferido para Lisboa para a penitenciária do Limoeiro e mais tarde a prisão militar de alta segurança do Castelo de S. Jorge.

Embarcou para o degredo no brigue “Pedro Nunes” no Arsenal da Marinha sem se despedir da Aninhas e dois filhos. Lá pelo ano de 1862, chegou a São Paulo de Assunção de Loanda aonde foi encarcerado na fortaleza de São Miguel, morro saliente que cobria a baia de Luanda a um tiro de canhão.

Em Angola o Governador-Geral tendo conhecimento da chegada de Zé do Telhado chama-o ao palácio e incumbe-o de juntamente com outros degredados apaziguar levantamento dos gentios em Ambriz e mais no interior aonde os negreiros faziam furtivas intervenções negociando com gente escravizada.

Depois de muitas peripécias, perseguição e morte de negreiros, e ter submetido sobas e macotas do Quilombo às ordens do rei de Portugal é lhe dada uma outra tarefa pelo governador Castro de Benguela, apaziguar algum gentio do interior, Dombe e alto Caporolo.

Zé, que era agora um branco “camorero” caçador de pacassas, negociante de carne seca, borracha e mel, teve de seguir para norte por via dum novo governador em Benguela discordar da vida livre que este tinha, quando deveria estar no presídio e, por via de dúvidas, não viesse a ser detido, mudou as suas imbambas para Ambaca, depois Malange e, seguiu até às terras de, para lá de Kassange; assentou no Xissa, Circunscrição do Concelho de Malange.

O antigo castrador de porcos de Sobreira e Lixa lá na santa terrinha do “puto”, era agora um negociante de marfim, deslocava-se em boi cavalo (gnu) e dispunha de muita gente e burros para carregarem as imbanbas, carne seca, mel e marfim.

O “pai dos pobres” ou “grande branco”, como era conhecido entre os negros, morre antes de completar os sessenta anos numa escaramuça espetando-se numa lâmina de faca que, por má fortuna estava empinada ao lado dum dos sobas já defunto. Zé, defuntou-se sem glória em 1875.

Os kotas negros, durante muitos anos iam ali chorar ao pé da sua campa sempre cuidada; ainda hoje evocam-no em estórias de bravura aos candengues (mais novos) da baixa de Kassange como sendo aquele branco, Muata que nunca os explorou. Tornou-se ali um líder perante os negros, dando-lhes a conhecer novas coisas do mundo civilizado e,... por lá vão pondo flores.

No decorrer do ano de 1960, tinha eu 15 anos, quando pude presenciar a sua campa cuidada,  bem florida e com alimento suplementar, como era habitual dar aos mortos que em vida eram respeitados. O camionista parou a “magirus” e fez questão que eu visse aquilo em terras da antiga rainha Ginga; uma campa de branco florida, para perturbar os estudiosos do fenómeno colonizador.

 

Continua..... (em execução)

O Soba T´chingange

    

 

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 02:44
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Sábado, 28 de Junho de 2008
BICHOS

    LAGOAS  DA  TENTAÇÃO

                                          

De praia em praia, lagoa em lagoa, visito a vida camuflada num ecológico peregrino; Deus fez o mundo e, revisitando este, aqui e além, encontro no meio dos bichos e mata a felicidade de um Adão; é um mangue, um pantanal ou mata trepando da terra com cipós de árvores que descem dos céus em lianas buscando a humidade da natureza.

Debaixo dum Jambu , alto, verde e frondoso, com uns frutos carnudos dum vermelho aveludado, gozo neste entretanto a satisfação idêntica ao do Adão do Éden.

 Subjugado à nobreza do sítio processei um mar de sensações.

Adão, lá no paraíso, comeu a maçã da árvore da tentação; Eva deu-lhe a maçã, o fruto proibido do jardim celestial e, desse pecado original, ficou-lhe um caroço no pescoço que o distingue da mulher na sua anatómica forma.

Os conceitos do mundo actual, valores, crenças e as histórias da avózinha, não são mais as mesmas; o ontem fica cada vez mais distante e, o que então era proibido, hoje já o não é mais.

É a evolução!

Enquanto se descobre haver condições de vida lá em Marte, porque surgiram indícios de água nas amostras digitais, aqui na terra surgem homens monstros como o Robert Mugabe, do Zimbabwe, que cortam dedos para não se poder votar no opositor; pintam o dedo supostamente amigo e, obrigam mostrar o indicador fosforecente como um ETÊ vindo de Marte.

 Ali matam a liberdade com sangue vermelho como o daquele fruto Jambu.

E o mundo, adaptado a todas as manigâncias, ajustado a interesses macabros,  não dá um veemente grito:

Basta!!!

Enquanto a Europa, suavemente, denuncia que aquilo é uma fraude e impostura, a humilhação continua. Um misto de tirania e miséria com mais de 5000 % de inflação.

A terra vai rodando na busca da utopia de Justiça, Segurança e bem estar com liberdade. O sino da igreja da Nossa Senhora dá luz ao tempo por badaladas, e Marte, só lá para amanhâ.

 

  O Soba T´chingange

 


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PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:01
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Sexta-feira, 27 de Junho de 2008
DRASIL E O CANGAÇO - VI

                 BRASIL – A saga do cangaço ( continuação...VI )

 

4 – O JAGUNÇO E CANGACEIRO

 

O jagunço não tem patrão, cumpre a tarefa encomendada e segue para um outro lugar vendendo a arte de matar.

O cangaceiro tem patrão, ou um grupo com tarefas definidas com encargos a cumprir.

Em 1926, os jagunços, foram usados pelo Governo Federal; entre outras participações pontuais, foram usados na guerra do Paraguai e escaramuças de fronteiras na zona sul do Brasil.

Por esta altura em zonas diferentes actuavam homens que figuram como principais no cangaceirismo, tais como (além dos já mensionados):

- Jezuino Brilhante

- António Silvino

- Luís Padre

- Zepelim

- Pancada

- O Cabeleira de nome José Gomes

- Chico Caixão

- O Português de nome Francelino José Nunes

Este último Cangaceiro era o chefe de um subgrupo, obediente a Lampião; era casado com Quitéria, uma mulher que o acompanhava para todo o lado até se entregarem às autoridades em 1939.

Alem de Francelino José  Nunes, havia um outro português com o nome de guerra Moita Brava, também chefe de um subgrupo.

Daquele rol de nomes o procônsul de Lampião, José Baiano, tinha a particularidade de marcar as mulheres com quem se relacionava em jogos de amor; usando um ferro de marcar gado contendo as letras JB, iniciais de seu nome, tatuava-as a quente.

       As mulheres de sua propriedade, conforme apregoava, eram marcadas na coxa ou nádegas se usavam saias curtas. A sua habitual mulher tinha essas iniciais na cara.

Lampião, “o rei vesgo”, nasceu em Vila Bela, na Serra Talhada de Pernambuco em 1898; dominou sete estados Nordestinos, chegando a ter entre 120 a 130 componentes. Era em verdade um verdadeiro exército.               

Maria Bonita, mulher de Lampião, acompanhava-o para todo o lado chegando mesmo a pegar em armas quando este, nos últimos anos, já se encontrava debilitado pela idade.

O sertão coberto com vegetação de densidade irregular, de continua presença espinhosa e exuberante nas matas, canaviais e os mangues das areias e massapé (maceió) litorâneos, levou pelas suas características topográficas a alterações no modo de guerrear; os nativos índios usavam este espinhoso sertão e agreste para uma forma de guerrilha de tocaiar, emboscar e retirar. Obtinham sucesso nos ataques com poucas ou nenhumas baixas nas investidas.

Este procedimento levou os primeiros colonizadores a adoptarem esses modos de fazer guerra; foi usada contra o Holandeses na restauração de Pernambucana em1654, portanto catorze anos depois da restauração do Portugal Europeu. Foi em 1640 que findou a dinastia dos Filipinos (Reis da dinastia Espanhola), tendo durado sessenta anos entre os anos de 1580 e 1640.          

O período de 1919 a 1920 foi o mais fértil na expansão do banditismo; a sobrevivência dos viajantes era paga a peso de ouro, dinheiro, bebida, munições e armas brancas. As feiras eram muitas vezes adiadas por se prever um assalto; quando assim sucedia, em retaliação, os cangaceiros levavam tudo a eito, destruindo por fúria e frustração.

 

5 – O CANGACEIRISMO EM PORTUGAL

 

Em Portugal, nos finais de 1837 surge como salteador, Zé do Telhado, um filho do também salteador de encruzilhadas, Joaquim do Telhado.

José Teixeira da Silva, verdadeiro nome deste meliante, nasceu na aldeia de Castelães, comarca de Penafiel, no ano de 1816, actuava com assaltos à mão armada na Serra do Marão, uma região pobre de Portugal.

Hoje ainda é vulgar dizer-se que “para lá do Marão, mandam os que lá estão”. 

Zé do Telhado tinha como lugar-tenente o Boca Negra e, como soldados: Sancho, Avarento, Girafa, José Pequeno, Veterano, Moi-tudo, e Tira-vidas; só pelos nomes de fora da lei, depreende-se o seu mistério na arte de bandolismo.

Convêm aqui fazer uma resenha da vida conturbada de José do Telhado a partir do momento em que entrou nas fileiras da tropa como soldado às ordens do então marquês Sá da Bandeira na guerra civil que ficou conhecida como guerra da patuleia e também como a guerra civil de Setembristas e Cabralistas.

Patuleia foi a designação que a história deu à revolução de cariz popular em 1836 e que culminou na revolta de Maria da Fonte em 1847; O liberalismo e populismo que se fazia sentir por toda a Europa após as guerras Napoleónicas, teve em Portugal a intervenção de entre outros vultos as figuras de Saldanha, Costa Cabral e Sá da Bandeira, todos eles militares de carreira com titulos de nobreza; enquanto Cabral dava apoio à monarquia representada por D. Maria II, o então marquês de Sá da Bandeira tinha ideias mais populistas e, foi a esta corrente que José do Telhado aderiu com toda a valentia que lhe era peculiar. Até então era um capador de suínos.

Continua..... (em execução)

O Soba T´chingange

 


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PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:41
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Quinta-feira, 26 de Junho de 2008
o stresse

Aquele que se sente activo como a abelha, forte como um touro, trabalhando como um cavalo até se sentir cansado como um cahorro, deve ficar preocupado com a possibilidade de estar sendo um grande burro.

O cipaio peregino



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:44
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Segunda-feira, 23 de Junho de 2008
MOKAMDA

         MOKANDA PARA O KIMBO

                        Em vesperas de São João

           


A vida sem amigos, é um céu sem andorinhas.

Convosco, exploro os recantos da amizade para fazer da vida um espectáculo.

Querendo extrair alegria das pequenas caisas da vida, recusei armadilhas várias duma efémera fama, ou sucesso enfadonho de prazer balofo a que muitas vezes se atribui beleza. Fugindo sempre dessa escravidão, mantive a auto estima elevada recusando ser um modelo doentio de snob imagem dum reflexo petulante.

Em criança sofria pela timidez  exacerbada que tinha; levou muitos anos a sair dessa claustrofobia dizendo a mim mesmo que o pior inimigo que tinha, era eu próprio! Deveria gerir os meus pensamentos por forma a não ter medos mas, nada disso acontecia.

No decorrer dos anos, fui dominando paulatinamente a timidez, rindo dos meus anceios e outros absurdos obstáculos, aprendendo sempre coisas novas com uma curiosidade libertadora. O saber não ocupa lugar e, adquirindo isso, soltava a depressiva visão de mim próprio.

Lutar sempre contra qualquer medo, contrariando-o, adquiri tranquilidade no meu registo de memória e emoções.

Convosco tenho compartilhado o passado que não se desvia do meu caminho, os sonhos e metas duma simples vida. Todo o ouro do mundo, tem menos valor que a nossa amizade.

Encarquilhados num feitiço louco, apropriamo-nos do vento num qualquer arraial deste mês de Junho.

Vamos gozar a Kizomba!

O Soba T´chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 01:05
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Domingo, 22 de Junho de 2008
BRASIL E O CANGAÇO v

BRASIL – A saga do cangaço ( continuação...V )

Camangula e Capoeira

 

 No sertão quem não se vinga, está moralmente morto; é honroso defender o bom-nome da família e usar de todos os meios para suprir as carências da seca (foi Deus que mandou a seca, é Deus que legitima a sobrevivência).

Os principais cangaceiros (com destaque na sociedade), foram:

- Lucas da Feira; Sinhõ Pereira; Virgulino Ferreira, vulgo “capitão” Lampião; António Ferreira, irmão de Lampião; Casimiro Honório; Corisco; Basílio Quitude Ferraz; Mansidão; Vinte e Cinco; Quinta-feira; Moita Brava (português);  Medalha; Relâmpago; Corrupio; Jararaca; Jacaré; Caixa de Fósforo; Balão; O Vassoura; Deus-te-Guie; Bom Deveras; O Moderno; O Gato;  O Vinte e Dois; Zé Baiano “ o ferrador”; Meia Noite; Francelino “ o português”e Bem-te-vi

Foi o escritor Gustavo Barroso quem deu a conhecer esta ética Sertaneja, como bom conhecedor deste extracto social muito particular do Brasil Republicano.

Estudos sociais de Mário Cascudo e Mário Marroquim, referem-se àqueles brasileiros como sendo do tempo de Gil Vicente, usando o dialecto galaico com pitorescos modismos arcaicos de uma semântica micro geográfica; entendiam-se num linguajar oriundo do clássico português. Hoje, ainda se  pode ouvir nas Beiras, Castelo Branco e Guarda as espressões tais como: para onde ides, que fazeis, aonde estais, vomecê, etc.

Cabe aqui intercalar uma curiosidade: - Basílio Quitude Ferraz, natural de Flores, do estado de Pernambuco, de pedantismo, adopta o nome de guerra Basílio, Arquiduque Bispo de Lorena, vá-se lá saber porquê. Talvez fazendo homenagem ao santo do dia do seu nascimento, conforme sugere Alfredo de Carvalho, executor do almanaque de Pernambuco; este almanaque refere também que Corisco confirmou ter à sua conta noventa e três mortes. 

Havia quatro regras básicas de subsistência na caatinga para continuarem vivos, a saber:

      1ª - Não digas tudo o que sabes

      2ª - Não digas tudo de quanto possuis

      3ª - Não fales tudo do que vês

      4ª - Não fales tudo do que ouves

 

Um versejador repentista de nome Manuel Clementino Leite, do sertão paraíbano, relembra a figura de “valentão” da seguinte forma:

 

Desde o princípio do mundo

Que há homem valentão

Um Golias, um David

Carlos Magno, um Roldão

Um Oliveira, um Jacob

Um Josué, um Sanção

Eu não chamo valentão

A cangaceiro vagabundo

Que quer ser um Deus na terra

Um primeiro sem segundo

Que vive crimes de guerra

E ofender a todo o mundo 

Só se esconde o valentão

Que vive com o pé na lama

José António do Fechado

Morreu em cima da cama

Brigou, matou muita gente,

Morreu mas, ficou a fama.

 

No Recife, a capangagem urbana tinha características de capoeira, modalidade mais ágil que acompanhada por música de fanfarra ou simples berimbau, formado de um simples fio, uma cabaça e um pau, era motivo de concentração de gente predisposta ao alvoroço; havia uma festa religiosa ou comício dum partido e, lá estava a turma da capoeira à frente, gingando piruetas, soltando agudos assobios, mandando pilhérias ou provocações ao lado oposto, até que corria sangue no terreiro, largo ou rua.

Os moleques da música, juntos com os capoeiristas carregados de cachaça, iam para o xelindró com os seus porretes até que a parte política mais poderosa intercedia ordenando soltura ao delegado doutor.

Esta turba de povo além da capoeira, e bem à maneira de Angola por consequência dos muitos escravos vindos dali, empregavam outros golpes, que na gíria rufia dos musseques de Luanda tinham os nomes de bassula, camangula, finta ou esquindiva; a bassula era a forma de luta dos pescadores da ilha de Luanda, enquanto a camangula era praticada pelos “fiotes” de Cabinda ou Lândana. Em realidade foi a partir da camangula que surgiram as outras variedades, no entanto, a capoeira assumiu maior relevância.

Enquanto no Brasil a animação era fortemente carregada de cachaça, em Angola animavam-se bebendo milho fermentado que originava o kimbombo, T´chissângua ou o vinho marufo ou malavo, extraído da palmeira ou cassoneira. No planalto central de Angola usavam fazer do massango ou massambala a bolunga.

No Brasil, aqueles figurões capoeiristas do tempo, tinham entre eles os “brabos” que faziam serviços especiais com a impunidade da alta-roda; altaneiros no trato, astutos e robustos, obtinham favores, empregos e regalias, cruzando jogos do poder, atiçando vontades pela calada e na ponta do facão; quando assim não o era, um sorrateiro deslize sucedia com sangue num virar da esquina.

 

Continua..... (em execução)

O Soba T´chingange

 


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PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:59
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Sexta-feira, 20 de Junho de 2008
MUSICAS BRASILEIRAS I-- RELIQUIAS

1800 Colinas (1974)
A Banda (1965)
A canção tocou na hora errada (1999)
A Deusa da Minha Rua (1940)
A Deusa dos Orixás (1975)
A Flor e o Espinho (1964)
A Loba (2001)
A Miragem (2001)
A Noite Do Meu Bem (1959)
A paz do meu amor (1974)
A Praça (1967)
Adeus Cinco Letras que choram (1947)
Agonia (1980)
Águas de Março (1972)
Ainda lembro (1994)
Alegria Alegria (1967)
Alguém como tu (1952)
Alma (1982)
Alma Gêmea (1995)
Alvorada no Morro (1973)
Amélia (1941)
Amor e Sexo (2003)
Andança (1968)
Anos Dourados (1986)
Ao que vai chegar (1984)
Apelo (1967)
Apesar de Você?? (1972)
Argumento (1975)
Arrastão (1965)
As Loucuras de uma Paixão (1997)
Atire a Primeira Pedra (1944)
Atrás da Porta (1972)
Ave Maria no Morro (1942)
Baila Comigo (1980)
Balada do Louco (1982)
Bandolins (1979)
Beija eu (1991)
Bem Querer (1998)
Bilhete (1980)
Brasil (1988)
Brasileirinho (1949)
Brigas (1966)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:44
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MUSICAS BRASILEIRAS II-- RELIQUIAS

Caça e Caçador (1997)
Caçador de mim (1980)
Café da Manhã (1978)
Cama e Mesa (1984)
Caminhando (1968)
Caminhemos (1947)
Canta Canta minha gente (1974)
Cantiga por Luciana (1969)
Canto das Três Raças (1974)
Carolina (1967)
Castigo (1958)
Chama da Paixão (1994)
Chega de Saudade (1958)
Chove Chuva (1963)
Chuvas de Verão (1949)
Cio da Terra (1976)
Codinome Beija Flor (1985)
Coisinha do Pai (1979)
Começar de Novo (1978)
Começaria Tudo Outra Vez (1976)
Como Uma Onda (1983)
Conceição (1956)
Conselho (1986)
Conto de Areia (1974)
Copacabana (1947)
Coração de Estudante (1983)
Dança da Solidão (1972)
Dandara (2005)
De volta pro meu aconchego (1985)
Desabafo (1979) 
Desafinado (1958)
Desenho de Deus (2006)
Deslizes (1989)
Detalhes (1970)
Devagar... Devagarinho (1995)
Dez a Um (1997)
Dindi (1959)
Disparada (1965)
Dois (1997)
E daí (1959)
Encontro das águas (1993)
Encontros e Despedidas (1985)
Epitáfio (2001)
Espanhola (1999)
Esse seu olhar (1959)
Estão voltando as flores (1961)
Estranha Loucura (1987)
Estrela do Mar (1952)
Eu não existo sem você (1958)
Eu Sei (2004)
Eu Sei Que Vou Te Amar (1958)
Eu sonhei que tu estavas tão linda (1942)
Evocação nº 2 (1958)
Evocação nº 1 (1957)
Faz parte do meu show (1988)
Festa de Arromba (1964)
Foi Assim (1977)
Foi um Rio que passou em minha vida (1970)
Folhas Secas (1973)
Fonte da Saudade (1980)
Fotografia (1967)
Gabriela (1975)
Garota de Ipanema (1962)
Gente Humilde (1969)
Gostava Tanto de Você (1973)
Gota D'Água (1976)
Grito de Alerta (1979)
Hoje (1966)
Iracema (1956)
Judia de Mim (1986)
Juí­zo Final (1976)
Lábios de Mel (1955)
Lança Perfume (1980)
Laranja Madura (1966)
Lenha (1999)
Loucura (1979)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:42
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MUSICAS BRASILEIRAS III-- RELIQUIAS

Madalena (1970)
Mal Acostumado (1998)
Marina (1947)
Mas que nada (1963)
Matriz ou Filial (1964)
Me dê Motivo (1983)
Mel na Boca (1985)
Menino do Rio (1980)
Mensagem (1946)
Meu Bem Meu Mal (1981)
Meu Bem Querer (1980)
Meu ébano (2005)
Meu mundo e nada mais (1976)
Minha Namorada (1962)
Modinha (1968)
Molambo (1953)
Momentos (1983)
Mulher de Trinta (1960)
Mulher Ideal (2002)
Mulheres (1998)
Namoradinha de um amigo meu (1965)
Não deixe o samba morrer (1975)
Naquela Mesa (1970)
Negue (1960)
Ninguém Me Ama (1952)
Nobre Vagabundo (1996)
Noite dos Mascarados (1967)
Nos bailes da vida (1981)
Nuvens (1995)
O Barquinho (1961)
O Bêbado e a Equilibrista (1979)
O Caderno (1983)
O Canto da Cidade (1992)
O Mar Serenou (1975)
O que é o que é (1982)
O Surdo (1975)
O Último romântico (1984)
Oceano (1989)
Olho por Olho (1977)
Ontem (1988)
Os Amantes (1977)
Ouça (1957)
Outra Vez (1977)
País Tropical (1969)
Paixão (1981)
Papel Machê (1984)
Paratodos (1993)
Partituras (1995)
Passarela no ar (2006)
Pedacinhos (1983)
Pedaço de Mim (1979)
Pela Luz dos Olhos Teus (1977)
Poema do Adeus (1961)
Por mais que eu tente (2005)
Pra Você (1972)
Preciso aprender a ser só (1965)
Prova de Fogo (1967)
Purpurina (1982)
Quando eu me chamar Saudade (1974)
Quarto de Hotel (1980)
Quem é Você (1995)
Recado (1990)
Regra Três (1973)
Resposta ao Tempo (1998)
Retalhos de cetim (1973)
Roda Viva (1967)
Ronda (1953)
Rosa de Hiroshima (1973)
Saigon (1989)
Samba de Orly (1971)
Samba de uma Nota Só (1960)
Samba do Avião (1967)
Samba do crioulo doido (1968)
Samba em prelúdio (1962)
Samba pra Vinicius (1980)
Samurai (1982)
Saudosa Maloca (1955)
SE (1992)
Se eu quiser falar com DEUS (1980)
Se não é amor (2005)
Se quer saber (2002)
Se queres saber (1977)
Se Todos Fossem Iguais a Você (1957)
Sem Fantasia (1967)
Seu Corpo (1975)
Só Louco (1976)
Só Pra Contrariar (1986)
Sol de Primavera (1994)
Sonhos (1994)
Sozinho (1999)
Sufoco (1978)
Ta na Cara (1998)
Tem coisas que a gente não tira do coração (1996)
Tereza da praia (1954)
Tigresa (1977)
Tiro ao Álvaro (1980)
To Voltando (1979)
Toada (1979) 
Todo o Sentimento (1987)
Travessia (1967)
Trem das Onze (1965) 
Tristeza pé no chão (1972)
Tudo com você (1983)
Última Inspiração (1940)
Um certo alguém (1983)
Um Dia de Domingo (1985)
Um Homem também chora (1983)
Upa Neguinho (1967) 
Vai Passar (1984)
Valsinha (1971)
Vê se me erra (1992)
Velho Realejo (1940)

 

 

O Soba

T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:31
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MONANGAMBÉ

          MONANGAMBÉ

        “Tempos de bessangana”

 

      Crónica sempre actual. Estamos em 2008

      O ontem diluiu-se na noite trespassando-a no hoje. Havia qualquer coisa no ar além daquela canção há muito esquecida e, que agora a trauteava na mente; à mistura de trovões, tiros e rajádas, rafadas prolongadas como obuses, explodiam no acto desta escrita. Era a trovoada tropical com todo o esplendor de África.

      A manhã chegava com muitas luzes pelas cinco horas; chovia copiosamente!

Os trovões enfiando uns nos outros em som, missangavam no pensamento aquela canção: - Monangambé

     - Naquela roça grande não tem chuva

     - é o suor do meu rosto que rega as plantações

     - Naquela roça grande tem café maduro

     - e aquele vermelho-cereja

     - são gotas do meu sangue feito seiva.

A chuva intensa desdizia este poema neste preciso momento em Vernom Crooks no Kwazulu mas, em 1975 era a música que raivosamente mais se ouvia nas rádios de Angola; o processo de revolução em curso apanhava quase todos numa inocente surpresa dum rosário de pavor.

Os novos escritores, missangados na rebelião emancipalista eram passados para trás e, não era daquela forma que se queriam emancipar de seus país.

António Jacinto, autor daquele poema, branco e filho de Portugueses como eu, sentia o que transmitia; talvez sim, talvez não!…  mas, era um sentimento de latente pureza nos novos filhos de África. Filhos sem cor, que vincavam a sua afirmação em actos ou ditos de rebelião.

”A estação das chuvas”, num acaso resvalado com inventações verdadeiras, no tempo e no conteúdo, trouxe-me à tona tal recordação. Por José Agualuza, autor daquele romance, fiquei a saber coisas de Jacinto.

No Baleizão, Pólo Norte, Chave D’ouro  ou Bracarense (cafés de Luanda), cruzava-me no dia a dia com amigos do tempo de escola, Colégio Moderno, João das Regras na Maianga, ou José Anchieta muito perto do então Restauração; jogávamos à moeda na toma da bica, após almoço.

Rui Mingas, que veio a ser embaixador em Lisboa cantava aqueles poemas com apurada convicção.

Aquele grupo forjado na Maianga, Maculusso, Ingombotas e Quinaxixe, escreviam com reservas de medo. Com nomes inventados pseudonavam o próprio nome; era uma mutilação voluntária vincada de revolução meio académica, meio romântica de  Che Guevara estampado no peito; eram tempos de novos heróis com nomes  de Valódia.

Said Mingas, que foi meu colega de carteira na Escola Industrial de Luanda, veio a ser o ministro da economia de Angola; de nome Dias, inverteu as letras e ficou sempre Saíd até ser imolado dento de um carro lá para os lados da Casa Branca. Contradição de nomes, até no sítio fatídico da sua morte!

Um conjunto de Kaluandas entre os quais o próprio Luandino, viram adulterados os ideais que preconizavam. A torrente apanhava estes novos ideólogos em manobras e asperezas ainda desconhecidas; não lhes era habitual.

E a letra do Jacinto continuava:

- quem dá dinheiro para o patrão comprar

- máquinas, carros, senhoras,…

- e, cabeças de pretos para os doutores ?

- quem faz o branco prosperar ?

- ter barriga grande – ter dinheiro ?

- quem é ?

Curiosamente há três dias atrás e, exactamente no sítio aonde Mandela foi preso a 5 de Agosto de 1962,  fiquei a saber que aquele Jacinto, era o mesmo que comigo jogava moedas na Bracarense. Aquele sítio junto a Lion River tem o nome de Lidgetton; pernoitei por ali, n’uma barragem no subúrbio de Howick chamada de Midmar.

Mandela, dirigente do ANC, talvez, pelo mau exemplo verificado em Angola, não se deixou envolver em teias obscuras. Com clarividência de um estadista deu um bom rumo à sua África do Sul, pude agora, constata-lo! O progresso aqui está incomparávelmente à frente. Aqui, houve reconciliação e bom censo; o ódio foi politicamente astringido.

Aquelas ideias puras dos meus amigos, missangavam-se em silêncios distraidamente corruptos de agentes ditos  amigos; pouco a pouco, a sua inocência, era roída da carne até à alma.

       Os tempos de bessangana  já eram!

 

 Escrito por mim em Kwazulu Natal – Vernom Crooks, 23 de Janeiro de 2005-02-01

 

Glossário: Bessangana – mulher vestida com panos pretos e, quando de luto, de cabeça com cartola do tipo de cipáio; Kaluanda – natural de Luanda; monangambé – escravo, serviçal,...

                                                                               O Soba T´chíngange

 

 


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PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:36
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Quinta-feira, 19 de Junho de 2008
BRASIL E O CANGAÇO IV

BRASIL – A saga do cangaço ( continuação IV )

                                                                                                                          

 

Esta descrição é sintetizada na música cantada por Gilberto Gil:

             ...A vida aqui só é ruim

                 Quando não chove no chão

                 Mas, se chover dá de tudo

De tudo tem de porção

                                         Tomara que chova logo

                                         Tomara meu Deus tomara

                                         Só deixo o meu Carirí

                                         No último pau de arara…

 

No meio desta aridez com secas frequentes nasce o cangaceirismo. O homem destemido do facão ostenta orgulho em o ser; no traje e ornamento de cores vivas transparece a valentia publicitada pela ostentação da postura e traje, desenhos de frisos nas cartucheiras, coldres, perneiras e correias.

 A marcante aba do seu chapéu, arrebitado com flores-de-lis e estrelas cravejadas de pedras, frisados a ouro ou prata, dava-lhe o toque mágico de valentão da mais alta estirpe.

Como se pode assim esconder a identidade, sendo-se salteador assumido? Não será esta a forma mais correcta de não se dar a conhecer!

Foram tempos sem lei, rei ou roque, rebelião contra o patrono coronel da casa grande e toda outra qualquer instituição com postura de mando. Ali no sertão, o cangaceiro era o absoluto mandão.

Sem o saberem estavam dando um grito de “liberdade com regras marginais” na onda organizada de peritos em extorsão, assaltos, raptos e, um sem fim de crimes.

O cangaceirismo era uma forma directa “à violência do coronel”, contra o monopólio da terra e exploração do trabalhador rural pelo latifundiário.

Armados até aos dentes, cartucheiras de couro em bandoleira, figuras sombrias de certa dignidade, demónios da caatinga prontos a executar qualquer inconcebível maldade ou grande bravura; homens fascinados do mal, assombrando sem estremecer, fibra de morte a qualquer hora. Fibra temperada na dureza do sol e do facão de fazer sangria.

Enquanto no litoral se desenvolve a sociedade do ciclo da cana-de-açúcar, no sertão, para lá do agreste, desenvolve-se a ganadaria; o ciclo do gado do Nordeste, socialmente, é o oposto à submissa vida da costa atlântica.

Auto-suficiente nas carências e adversidades, o povo da palma brava de picos, torna-o ausente da disciplina coerciva de um patrão, policial ou político; sem tarefas ordenadas por outrem fica orgulhosamente só “dormindo na pontaria”. Pouco instruído, cultiva crenças ao culto da coragem, seguindo a sua própria vontade, com apego aos seus haveres e paixões; pela aspereza da terra e isolamento, fica-se diante do homem “português dos séculos XVII e XVIII”.

No sertão a população vivia crescendo lado a lado com o cangaceiro, coexistindo com o meio hostil, pata e bosta de boi; os feitos guerreiros do bala de aço são admirados num tom épico pelos seus feitos e, os temas de poetas repentistas referem-se quase exclusivamente a eles; ao som da sanfona dão acordes que perpetuam a memória destes em conjunto com todos os santos, a nossa senhora da Aparecida e o padre Cícero do Juazeiro.

Mesmo do ponto de vista mais trágico desses tempos idos do cangaço, ficam subjacentes os demais conceitos de violência, uma nobreza viril, característica bem vincada do sertanejo; expressando um património, “ a saga de um povo forte”, podemos de certa forma compará-los com os cavaleiros medievais da Europa usando em vez do arco e flecha ou besta, a winchester, a mauser, revolver de tambor, pederneira e facões de corte ou sangria.

Esta zona geográfica compreende a Bahia, Sérgipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí.

Os cangaceiros das três primeiras décadas do século XX, não se consideravam ladrões; diziam eles que, “tomavam pelas armas” num acto de ajuste, vingança ou imposição de suas regras. Vincavam bem o critério de defesa de um legítimo direito por ofendido.

 

 

Continua..... (em execução)

O Soba T´chingange

 


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PUBLICADO POR kimbolagoa às 02:29
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Quarta-feira, 18 de Junho de 2008
LU.ANDA, AI.IU.É

LU.ANDA,...  AI.IÚ.É

     É só espuma patrão

                                                                                                                                     

Juca Kat´chipemba falava dos antigamente, naquele linguajar próprio de quem só sabe falar, das cuesas que lhe mexiam na cabeça e que não estava mesmo certo; a todo o momento jurava que, sim patrão, jura mesmo, o país num anda.

 E, eu ali estava, bem por demais, debaixo daquela mulembeira; nos frente era só capim e, lá muito no longe, despois dos embondeiros e os mato cheio de bissapas, se viam as luzes do lusco-fusco de Luanda.

No despois do almoço de cacússu com mandioca, por ali ficamos, só falando e rindo no catravés doutros tempos, de quando nós éramos candengues e garrávamos rabo-de-junco juntos e, dávamos berrida nos lagarto pintado de colonialista, vermelho e verde, sempre sustando a gente nos pedra junto dos cajueiros e os maboque que garrávamos na estrada de Catete!

Aka! (...) Patrão, tem saudade daqueeeele tempo, jura mesmo! (...) Agora esta terra só tem kissonde rico! No resto, tudo nas maioria, é mesmo pobre.

Juca, sempre sobreviveu das lagoa do Lifune, nas pescaria n´dele e, despois das confusão da independência e guerra cus búfalo e Unitas, foi para o kafunfo trabalhar cus feijão mas, a vida por demasiado, só lhe chorou.

Juca tem a minha idade mas as rugas fazem-no muito, por demais, mais velho. Naqueles entretantos longínquos, eu era o menino da xitaca, lá das cassoneiras e girangolos das n´nhacas mas, com o tempo virei patrão; do que ele me relatou à sua maneira sobre o como é agora, passo a resumir sem aqueles trejeitos de quem sempre comeu pirão com a mão.  

Entre o Maculusso e a Nossa senhora do Carmo, já noite, pausa para o café na casa do Zeca Portuga das Ingombotas; no quintal das farras de antigamente, despejei o que me roía a alma, conversa puxa palavra e foi saindo.

De quando em vez o galo maluco do vizinho Candinho esganiçava o canto bem no alto daquela carcaça velha duma GMC, toda cagada de branco.

- Esta terra tem demasiados pobres, está num estado lastimoso de atraso e descultura, gente endinheirada que simplesmente, só tem dinheiro, gente com muito dinheiro e só são “ricos” no nome.

 Umas pausas e uns goles de café da Gabela a intercalar o meu directo discurso.

- Exibem o que dizem ser seu com a propriedade dos outros.

- Os endinheirados não usufruem de sossego porque vivem obcecados de poderem ser roubados; quando não é produto de roubo, é-o de negociatas do esquema ilícito.

- Gente enriquecida no roubo é adversa à ordem policial pois que, a haver ordem, estariam todos na cadeia. Eles enriqueceram graças à desordem.

Zeca Portuga só abanava a cabeça. Em curtos espaços mudava os costados no tamarindo; via-se que estava desassossegado e temeroso.

- O gozo dos novos-ricos é ter um carro mais cintilante do que o do vizinho. Quando se amolgam nas estradas que os colonos deixaram, agora esburacadas e convexas dizem, a culpa, (…) é do Portuga.

- Os novos-ricos, novos governantes, compram grandes casas para serem vistas pelos olhos de quem passa, dos amigos que consolidam a inveja ao nível mais sofisticado de Kazumbi, na mistura de água de cu lavado com a de lavar defunto.

Zeca assustou-me abrindo os braços copiando em gargalhada o galo do Candima.

- É isso mesmo, sundiamenos, isto merece uma cuca e foi-se. Surgiu num repentemente com duas canecas repletas de frescura dizendo enquanto tomava assento. Continua, disse.

- A inveja destes camundongos, tem espuma como esta cerveja cuca tirada à pressão. É mesmo só espuma!

- Estes sambizangas, coleccionam donzelas m´boas como gado, têm amantes aos montes mas, vivem na desconfiança. No meio do fausto as amantes esgueiram-se pelos fundos e o traidor vira traído.

- É isso mesmo, pigarreou o Zeca descontinuando o meu discurso. São todos uns cabrões empertigados! Concluiu.

- Sem garantia de segurança, os novos-ricos, rodeiam-se de guarda-costas, somam aparências de elite de imitação falsificada; sendo “os pilha galinhas do povo” dão-se ares de que “lutam pelo progresso”.

- Nacionalistas falsos, retaliam ao menor beliscão, pois eles, são os guardiões da nação e das doações que o mundo dá. As doações viram negócio em fardos vendidos ao povo no Roque Santeiro, tira bikini e outros mercados de calamidades.

- Um polícia no Puto multa um Mantorras e, logo no outro dia caçam a carteira a seis guetas brancos, sabes, os albinos. Isto parece brincadeira!

- É isso mesmo, vociferou o Zeca, são uns filhos da puta!

Descompassado pelo entusiasmo do Zeca tentei abrandar as minhas insinuações; ainda tinha de organizar as malambas, arrumar as bikuatas para regressar ao Puto, dar umas gasosas e assegurar o meu lugar na TAAG, das palancas negras.

O erário público é deles, lambuzam-se no fascínio de uns bens de ostentação; um faz-de-conta como crianças que nunca crescem. Ai-iú-é !

Para terminar dei uma de moralista, de quando eu acreditava que aquela Angola era de todos nós, mas agora Angola só é Luanda e, Luanda é deles; Luanda é a Mutamba e, os Ricos vão para a Mussutulândia. Trocaram o Caxito, Kifangondo ou Cacuaco pela ilha. Dizem que lno Cacuaco só tem mosquito.

- Angola, é a sua quinta. Nela dissolvem com petulância a dignidade dos seus antepassados; a Ginga, o Mangumbe, o Ekuikui, o Cangandala, o N´dalatando e o fiote Bumelambuto. Eles nem querem saber!

- Em Outubro, o das eleições,... alguma coisa vai ter de mudar povo! Olho neles!

Dito isto despedi-me da Dona Zéfinha que cabismuda se manteve quase sempre presente.

- Mungueno, repeti acenando a mão disponível.

Rumei para casa, subi a avenida das acácias rubras depois do largo ex- Serpa Pinto, passei o largo da Maianga em direcção à antiga António Barroso e fiquei por ali no Rio Seco, antigo Malhoas.

Ainda quero rever o meu amigo Juca Kat’chipemba num outro quadro e, após as chuvas, que é quando o pó levanta um cheiro especial e umas formigas se vem meter por debaixo dos pés, fazendo uma caminhada crocante, como agora se diz.

Adormeci na interrogação persistente.

- Será que Angola vai continuar cada vez mais na mesma numa revolução cheia de espuma?

                                                                           

          O Soba T´chingange


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PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:51
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Terça-feira, 17 de Junho de 2008
LUANDA

 

 

  
Luanda Capital e maior cidade do país, com cerca de quatro milhões de habitantes, seu clima é tropical com temperatura média de 24 °C e duas estações: a das chuvas, de setembro a maio, e a seca, de junho a agosto.Dois grandes rios, o Bengo e o Kuanza _ do qual deriva o nome da moeda nacional _ cortam a província e originam planícies aluviadas.Anteriormente designada por São Paulo de Luanda, foi fundada em 25 de janeiro de 1575, pelo Capitão Paulo Dias de Novais que, ao desembarcar na Ilha do Cabo, encontrou uma numerosa população nativa.Praias calmas ou mais agitadas, de areias brancas e finas, planas ou repletas de dunas, compõem um quadro de rara beleza.Há muitas construções notáveis e bem conservadas, como a Ermida de Nazaré, a Igreja do Carmo, o Palácio do Governo, a Alfândega e o Hospital Maria Pia.Conheça a Reserva Natural Integral do Ilhéu dos Pássaros, com 1,7 km2 povoados por aves migratórias. Além da bela paisagem e das construções históricas, conheça também o Arquivo Histórico Nacional, o Museu de História Natural, o da Escravatura, o das Forças Armadas e o de Antropologia.Centros culturais e recreativos, teatros, salas de cinema e de espetáculos, galerias e feiras de arte e artesanato, oficinas culturais e livrarias, casas noturnas, bares e restaurantes oferecem opções para todos os gostos.O seu carnaval é considerado o mais animado do país, e suas danças incluem o semba, a varina, a kabetula e a kazukuta, "envolvendo poliritmia invulgar de expressão corporal e teatralização muito vivas".
 
 
N`DALATANDO

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:46
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BRASIL E O CANGAÇO III

 

BRASIL – A saga do cangaço (continuação...III)

 

3 – O CERTANEJO NORDESTINO

 

Cronistas europeus do século XIX descrevem o Brasileiro do Sertão Nordestino como um homem bronzeado pelo sol, nalguns casos de sangue amerídio mas, em regra, predominantemente europeu, isto é, Português; altivo, rebelde para pagar impostos e, desdenhando o Imperador.

Os primeiros povoadores pioneiros portugueses a chegar ao sertão por volta do ano de 1680, eram robustos, prontos para qualquer desafio; tiveram de enfrentar as onças e os índios que, não tinham nem medo de morrer, nem remorsos no matar. Explica-se a partir daí, o uso de armas de fogo e facões na defesa do seu “sítio”, fazendo a justiça do momento sem os adjectivos jurídicos dos dias de hoje; na defesa de coisa legítima não havia conceito de criminalidade. Só no século XX é que os conceitos sociais de posse e crime começaram a ter regras, por via de novas acessibilidades e gente instruída saída das universidades nas áreas de leis e sociologia.

A luta com os índios não era fácil pois que estes usavam manhas e artimanhas no contacto com o colono branco; tanto assim que levou Luís do Carmo Cascudo, a afirmar que aqueles selvagens “tinham por glória e honra morrer na luta e, quanto mais deles morriam tantos mais se juntavam ao conflito”. Esta forma de enfrentar a vida e morte influenciou os colonos que, no decorrer do tempo, se iam miscigenando com dotadas índias.

Em todos os locais do sertão havia “os valentões” que procuravam briga aonde quer que houvesse multidão; criavam o mito do medo fazendo-se impor, célebres e temidos pela coragem e, perante o povo amedrontado, estes tornavam-se importantes, juízes de causas, ”o braço vingador da família em luta”.

O sertanejo tem um conceito de família por proximidade. Esta amplitude engloba a figura do compadre na amizade estreita e diária entre um emaranhado de enteados e afilhados da vizinhança. Protegidos por uma recíproca cultura de carências partilhadas entrecruzam-se nas necessidades.

Ficam longas horas giboiando numa rede oscilante sebenta de uso e abuso, curtindo uma preguiça que nem o chega a ser, porque nem sempre a ocupação é suficiente e, a frescura tem forçosamente de ser apreciada; quando têm de se deslocar ao povoado próximo, fazem ostentação do seu chapéu de couro ornamentado de vaidades estreladas e vestindo uma camisa que cai por sobre as calças e por fora, do tipo da “balalaica”, solta, longa e de bolsos folgados. A entreajuda e a forma característica no vestir fazem dele uma figura mítica na memória sertaneja.

A cobertura vegetal do sertão é dilacerante pelos muitos espinhos da flora, capaz de esfarrapar a roupa dum forasteiro numa marcha de apenas dez minutos. O quipá, o mandacaru a coroa-de-frade, facheiro ou bromélia, provocam mil torturas ao viajante e, quando as linhas de água se tornam em súbito caudal, o passo fica interdito por longo tempo. Logo após as bátegas de chuva tropical eriça-se um manto de penugem verde na “casca” torriscada e fendas dos lajedos.

 

Continua..... (em execução)

O Soba T´chingange

 


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PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:26
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Segunda-feira, 16 de Junho de 2008
ANGOLA UM NOVO SONHO - Reportagem TVI - parte 1/3

 

 

 

N`Dalatando

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:53
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ANGOLA UM NOVO SONHO - Reportagem TVI - parte 2/3

 

 

 

N`Dalatando



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:52
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ANGOLA UM NOVO SONHO - Reportagem TVI - parte 3/3

 

 

N`Dalatando



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:50
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DIFÍCIL CRUZADA
 
 
 
DIFÍCIL CRUZADA

Marcada há cerca de uma semana estava a batalha destinada a deglutir dez litros dos tais bichinhos irrequietos, já mencionados pelo Conde do Grafanil.
O repasto foi adiado para o dia 13 de Junho, dia de Santo António e Sexta-Feira treze, dia aziado por sinal. O adiamento foi solicitado pelo Embaixador do Soba em exercício, Visconde do Mussulo.
O confronto com a bicharada deu-se no Pescador cuja insígnia é um Galo.
Compareceram à batalha dois pesos pesados, o Kumando HN, e o Jamba, na companhia do Conde do Grafanil e do Bispo.
Perante a ausência de tantos kizombeiros e principalmente o seu líder, Embaixador do Soba, esperámos cerca de duas horas para dar início ao confronto com os bichos.
Os kizombeiros mais uma vez sem liderança tomaram a iniciativa de começar as hostilidades, tendo o mestre de cozinha Vieira enviado o primeiro batalhão de bichos que facilmente foram anulados.
Reparamos que a bicharada vinha armada com veneno de sabor a limão para nos fazer cair rapidamente (referiu o Mestre Vieira que à algarvia é assim com limão). Nunca visto !! Modernidades do Allgarve provavelmente.
Os kizombeiros iam derrotando os sucessivos batalhões de bichos servidos em travessas. Armados de palitos de duas pontas picavamos, e alguns até eram chupados directamente, agarrados pelos cornos. Para acamar comiam pão e manteiga regado com sumo de cevada para aguentar o embate. O Conde do Grafanil decidiu regar-se com "vinho destinado especialmente para caracóis" (palavras do Mestre Vieira). Nunca visto !!
Mais, o Kumando HN verificou que a bicharada eram de terras Otomanas. Terras do Infiel, vindos de Marrocos, ao que foi confirmado pelo Bispo habituado a cruzadas contra os muçulmanos em terras do norte de África. E a marca estava à entrada de suas casas pintadas a vermelho... sinal único e distinguível de quem vem de Marrocos.
O Mestre Vieira, catador de bicharada apressou-se a desmentir, e se os kizombeiros quisessem iam com ele à Terra dos Bichos catá-los... pois, pois...
Os kizombeiros bem tentaram tudo por tudo para ter a ajuda do Embaixador nesta cruzada, mas este estava ocupado com a descendente "bata branca" e não cuidou de responder, amalhando-se em casa. Bem podia a "bata branca ter aparecido que teria sido uma preciosa ajudar na cruzada contra a bicharada uma vez que está habituada a ter a agulha em riste.
O próprio Bispo viu o seu cavalo de ferro amarrado à porta de sua palhota na Sanzala de Covas de Areias.
Tentou-se contactar o projecto de kizombeiro, Piscarreta, no sentido de ajudar à batalha, uma vez que, dada a sua recente actividade de vendedor de casas, bem podia convencer o inimigo, enganando-o a auto despejar-se das suas casas (vulgo cascas). Mas também não apareceu...
Outro projecto foi contactado HV (o mecânico) mas também em vão...
O primeiro kizombeiro a cair foi o Jamba atascado com o inimigo de duas travessas.
Os kizombeiros não tiveram alternativa do que chamar a Condessa do Grafanil (mestre de números) para ajudar na batalha, tendo esta comparecido rapidamente à chamada tendo contribuí com uma preciosa ajuda.
O Jamba teve de ausentar-se para ajudar a sua prole de Jambinhas e para não levar nas orelhas da Jambona, mas soube que a batalha teve um final feliz para o Kimbo de Lagoa que derrotou o Infiel pelas 22 horas.
Mais uma batalha vencida...
Mas.... teremos de retirar daqui uma lição... pois os kizombeiros mesmo sem o seu líder não mancharam o nome do Kimbo.
Grande Soba, ansiamos pelo seu regresso urgente e apaziguador, caso contrário haverá um golpe de Kimbo...

JAMBA


PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:30
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BASSULA NA CAPOEIRA

    BASSULA

      A capoeira do brasil

 

            As tormentas do Império ocasionou deslocação de pessoas entre as colónias  de Angola e o Brasil.  Por falta de mão de obra  na exploração do açucar milhares de  seres foram tranladados para o Nordeste do Brasil a fim de trabalhar nos engenhos.

 Ao longo do tempo e segundo os  ciclos de  desenvolvimento do açucar, do café e do algodão os escravos eram dispostos nas sanzalas dos engenhos.

Os fazendeiros à medida que enriqueciam iam tomando poder de coronéis  e porque assim eram conhecidos rodeavam-se de mestiços leais conhecidos por capitães do mato; eram estes que transmitiam as ordens do coronel aos escravos da sanzala.

O Brasil foi-se construindo numa mistura de culturas com gente ali chegada de muitos lados; pela quentura da terra  e pela força de quereres  naturais a mestiçagem aumentou concebida em rapadura de cana doce.

No século XIX e XX, em forma de resistência à opressão esclavagista, negros e não só, fugiram para sítios de difícil acesso e aonde viver era um jogo de azar ou sorte; no meio d´uma selva inóspita e alagada, os mosquitos só por si, dizimavam os aventureiros fujões por transmissão da malária. Aqui se formava o quilombo.

Os quilombos, em função das suas referências culturais, reuniam-se com a denominação de “Angola”; estes, de fala Bantu, tinham saído do Congo, Angola, Cabinda, Cassange ou Benguela e formavam regiões ou nações como eles próprios designavam. Estas nações,  compostas de Bakongos, Zairenses, Kwanzas ou Tchokwes da Lunda ou Ambuilas, junto com pretos de Minas, foram-se fundindo com crioulos e árabes do norte.

Esta mistura explosiva, adicionando árabes fortemente reivindicativos e organizados, na forma de jihad islâmica, foi capaz de originar um movimento pela retorna à sua África, dando origem aos  candomblés e, foi através destes, que fermentaram a religiosidade Afro-carioca, com rituais cristãos, práticas de missionação e cazumbis na cresça do seu  N´zambi (Deus).

O gozo da liberdade tinha um preço alto.           

Dissimuladamente, no terreiro da sanzala, os escravos entretinham-se quando o coronel permitia, a dançar de uma forma estranha; cabriolando, dando voltas retorcendo o corpo de uma forma espalhafatosa eles estavam treinando a capoira, forma de luta suave gingando o corpo.

 Os coroneis, seus capangas, cabras ou jagunços brancos, mestiços ou matutos não se apercebiam que aquela era uma forma de luta; despidos de armas, era desta forma, usando mãos e pés com ginástica ágil que estes negros teriam de usar em sua defesa no terreiro ou quilombo.

Esta forma estranha de dança não era mais do que a bassula dos pescadores da ilha de Luanda e de toda a costa a norte da antiga N´gola. Em terras de Manikongo na actual Cabinda  tinha o nome de camangula; recentemente estas formas de luta tomaram os nomes de esquindiva ou finta.

As grandes cidades, de forma abarracada, foram  crescendo em parte devido ao abastecimento barato saído dos quilombos. Rio de Janeiro, Iguaçu e Bahia de S. Salvador, beneficiaram com estes aglomerados a que hoje  se chamam de favelas. Penduradas morro acima, de longe, parecem cachos pintados a cor tijolo descarnado com  muitas latas a contornar supostos pátios. São autênticos bordados envelhecidos.

Os Iombas do norte da actual  Nigéria, originaram os Nagôs da Bahia, a que genéricamente se passaram a chamar de Umbandas.

A supressão do tráfico ilegal de escravos, por volta de 1850, foi em parte, o resultado da sublevação destas organizações Umbandas, ao qual os senhores Coronéis, donos de fazendas, engenhos e roças, passaram a enfrentar com medo.

Bassula, capoeira, esquindiva e camangula contribuiram para isso e, subsiste nas favelas.

 Entretanto, os crioulos, mulatos, filhos escondidos dos senhores patrões e mucambas, originaram este caso social que fascinou historiadores, sociólogos e viajantes estrangeiros, naquele mundo, aonde a noção de raça fugia à catalogação, que até então era tão básica.

O soba T´chingange

 


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PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:03
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BRASIL E O CANGAÇO II

BRASIL - A  saga do cangaço ..... Continuação

 

1ª PARTE – ABRIL DE 2007                                         

                                                                                                             

2 – PEDRAS DO CAJUAIRÃO – O MEIO AMBIENTE EM 2007

 

Parado no “ferro-bike”, resolvi olhar o envolvente na estrada estadual de Alagoas AL-215, que vai entroncar com a BR-101, que nos leva a Marechal Deodoro, Atalaia e S. Miguel dos Campos. As vias de comunicação têm aqui, um factor de assentamento das pessoas e, esta, não foge às regras do mundo, em coisas de desenvolvimento não planificado.

 O modo de vida, beira de estrada, num provisório desenrasca é uma visão padrão por todo o Brasil; as estradas sob jurisdição da Federação de Estados são invadidas do dia para a noite com construções de paus entrelaçados, barro chapado e cobertura com folhas de coqueiro assentes em paus de piaçaba. Também se vê casotas rodeadas a plástico, assentes em uma dúzia de paus retorcidos que surgem sem que qualquer vigilância tenha tempo de impedir; é a vida espontânea dum clima tropical, em que a temperatura ronda entre os vinte e cinco a trinta graus e, durante todo o ano.

A caminho de Marechal Deodoro a uns escassos cinco quilómetros, terra de sanfoneiros repentistas com três bandas de charanga, tive de parar num borracheiro; sentado, enquanto aguardava o remendar do furo, em banco surrado de cor verde, vi no fundo da barreira o cachorro pelo de arame; raspando com a pata traseira o lombo frontal, de gozo sofrido, coçava a sarna empestada de carrapatos e, enquanto isso, a língua ia e vinha em sintonia com o vai vem da pata.

Na beira da estrada dispunham-se as casas feitas em taipa, bem na base do aterro, conservando a inclinação esparramada das fraldas.

Um pelo eriçado de cor de terra passa por entre as taipas da casa e o muro suporte do ferro-baike; pareceu-me mais um cão de pelo maltratado mas, reparo então, numa pequena mão que faz abanar o pilar de canto da barraca. Era uma criança desnudada, crescendo do chão poeirento, na mesma argila aonde o cão espanejava as pulgas e carrapatos.   

No desalinhamento das barracas, podiam ver-se as empenas com paus cruzados formando linhas horizontais e verticais chapadas de argila em chapisco irregular. Os telhados eram uma mistura de materiais, uns em telha de canudo vermelho, outros em chapas de zinco já oxidadas e ainda havia outras coberturas em abanicos de folha de coqueiro ou palmeira gentia da mata atlântica. Os caibros retorcidos davam suporte à cobertura que também tinha caibros, ou a veia principal da folha de palmeira gentia com aspecto de bordão. Lá dentro, num espaço único vivia uma família, fogão e frigorifico alimentado com luz levada por fios amarrados sem rigor, a caibros, duma qualquer forma, soltos e amarrados a nó cego, ou enroladas sem obedecer a qualquer regra de segurança; era um caos de provisório e extremado perigo.

Neste emaranhado de casas pobres com cercas aramadas a definir quintais, sobressaíam grossos troncos que suportavam grandes copas de mangueira que davam sombra ao conjunto das taipas derreando-se de frutos. Crianças brincavam, enquanto a mãe circulava entre quintal e casa pondo água no feijão e estendendo roupa nos fundos.

Podia ver dali, por entre as empenas, mais além, um esguio cavalo agachado, comendo verduras que brotavam a eito pelo chão do pantanal; uns urubus, ainda mais longe, voavam em circulo completando um quadro chapado duma tela agreste.

Um perfume forte e feminino fez desviar o meu olhar para uma moça dezanovinha que saía toda aperaltada deste taipado conjunto; morena quanto baste, gingava os atributos subindo com graciosidade o talude que conduzia à paragem do ónibus.

A música escaldava as ancas em alto som. Ora “rap”, ora samba ou forró de frevo, passava pela ombreira do portão de ferro despintado; o som e, a sinhâ Josefa. Até mim, chegavam diluídos cheiros promíscuos, o cântico do sabiá, bem-te-vi e um galo doido do quintal vizinho.

Havia uma ventoinha que ronronava descompassada da música e, com grande frequência a porta da geladeira chiava no decurso do uso. Podia ver-se uma rede napenumbra interior encardida de escuro entaipado.

Gente de beira de estrada, esfrega-se na vida como pode numa confrangedora provisoriedade em terras do erário público, mal vigiadas a propósito, ou por endémico desleixo público.

É esta precariedade permanente que proporciona as vigorosas altitudes nas grandes urbes do sul brasileiro; as favelas que cercam os arranha-céus de coberturas opulentas de São Paulo ou Rio de Janeiro provocam medo aos condóminos.

A rebelião, incêndios de ónibus, assaltos, roubos de esticão, raptos e tantas outras tropelias fazem do crime uma guerra cruel, sem rosto; é aqui que convém comparar a violência entre o mundo do cangaço dos fins do século XIX e meados do século XX, para se concluir que os métodos mudaram, mas a contestação é a mesma. Pobreza!

Deitar fogo a um ónibus cheio de gente com uma garrafa de querosene ardente, não é um acto de coragem nem pode ser enaltecido; é um bando de rufias sem eira nem beira inebriados por droga que vingam a sua própria existência. Ou é um desespero ou, doença a ser extirpada mesmo que, para isso, seja forçoso eliminar sumariamente os culpados, sem aquelas tricas morosas e benevolências de que os legisladores ou políticos habitualmente usam e abusam.

Nos tempos do cangaço matava-se friamente mas, havia sempre uma vingança a cobrar, um claro objectivo do acto; não, a selvajaria infra-humana com um impacto de barbaridade cruel, de desprezo pela pessoa humana em que a maldade domina, neste inicio de século XXI.

O Soba T´chingange

 


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PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:54
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Domingo, 15 de Junho de 2008
COMENTÁRIO - CONDE GRAFANIL
1 comentário:
 

De conde do grafanil a 14 de Junho de 2008 às 16:03
 
Olho Clínico

Não disponho de literatura idêntica à do Soba, até porque Soba é Soba, e em cada Kimbo só existe um , no entanto, não deixo de estar atento aos acontecimentos do Kimbo , sobretudo na sua ausência e além do mais, por quem o representa.
Assim sendo, o Visconde do Mussulo , representante do Soba, já com uma penalização solicitada, agravou recentemente pela falta de comparência, do que foi por si programado para uma mesa rectangular bem composta, com a finalidade de repasto dos bichinho altamente irrequietos, destinados aos kizombeiros e para assistir aquilo que foi a verdadeira derrocada de 4-1 à França. Os kizombeiros presentes esperaram 2 horas, enquanto o visconde deliciava-se algures .
Tratando-se de repetida falha, não é necessário pedir desculpas, mas sim aplicar-lhe uma verdadeira bassula e consequente suko , de modo a evitar a pópia dos demais.
um abraço
Conde do Grafanil


PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:26
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MANIKONGO E MARACATU

FESTAS JUNINAS

Junho, mês das festas populares é festejado por toda a kizomba; as marchas, os casamentos, o saltar a fogueira  ou os bailes de mastro fazem parte dessas manifestações.

O maracatu, sendo uma manifestação junina pouco conhecida em Portugal, tem a sua representação maior no Nordeste Brasileiro.

Originário da coroação dos reis do Congo, antigo  Manikongo, foi transposto pelos escravos idos de Angola para as explorações de cana de açucar. O cortejo de coroação real composto de rainha, rei, principe, princesa, ministros, conselheiros, vassalos e porta bandeira vestidos de cores extravagantes, saem às ruas em grupos ou quadrilhas para energizarem a vida.

O nosso Kimbo, fazendo registo deste património não pode ficar alheio e, com seus chocalhos, concertina, guisos e tambores junta-se à plebe.

Nobres, sábios, cipaios, homens ricos e M´bikas devem juntar-se ao evento.

O Soba T´chingange

 

 


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PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:48
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Sábado, 14 de Junho de 2008
conhecer o brasil

                              

 

                                     D. João VI visto de frente

 

O Brasil não  existia como país antes da chegada do Rei D. João VI.

Em 1808, as terras de Vera Cruz, eram um conjunto de províncias com pouca ligação entre sí. Não havia a ideia de unidade.

Em verdade, a invasão de Portugal pelos generais de Napoleão, resultou na fuga apressada da corte portuguesa para o Brasil. A decisão da corte em se refugiar no Brasil, no entanto, não foi repentina. Foi planeada em vários meses e, em segredo. Na hora crucial do embarque, muitos nobres da corte, tiveram de embarcar só com a roupa do corpo.

D. João VI que é tomado como um rei bobo, feio e gordo bonacheirão, baixo e desajeitado, foi ele, no entanto, o verdadeiro estadista que originou o Brasil de hoje. Foi para a sua época tão inovador que, as interpretações depreciativas chegaram ao ponto de o apontarem como o covarde “ Dom João charuto”.

A América espanhola, fragmentou-se em muitos países porque não tiveram um orgão de soberania instuticional a aglutiná-los.

Os dezanove navios com 12 a 15 mil pessoas, demoraram 54 dias  até aportarem a Salvador da Bahia. O destino que era Rio de Janeiro, foi encurtado para Salvador, porque surgiram contratempos de tempestade com sequente dispersão de naus  e, cansaço de gente desabituada às agruras do mar.

Por falta de higiene, em algumas das 19 embarcações, desencadeou-se tamanha praga de piolhos que até as damas tiveram de cortar rente, suas cabeleiras.

Chegados a Salvador a sete de Março de 1807, por ali ficaram um mês; D. João foi instalado no palácio “A quinta da Boa Vista”, cedido por um traficante de escravos; Carlota Joaquina, sua esposa, foi instalada em Botafogo com os seus filhos. Muitas casas foram requesitadas para instalar os demais elementos da corte e séquito de altos funcionários acessores.

Sem a presença deste monarca, a colónia não teria a unidade legitimada em tão vasto território; em vez do Brasil de hoje haveria seis ou sete outros paises à semelhança da América de lingua Castelhana.

D. João VI abriu, por régio decrecto, os portos do Brasil ao mundo e, assinou uma série de tratados comerciais com os vários países da Europa de então; destes, a Inglaterra saiu sempre beneficiada por previlégios absurdos e taxas mais baixas que os demais países; em verdade, os generais Ingleses estavam, por tratado, defendendo o território das investidas de Napoleão e isso, tinha o seu preço.

Por curiosidade, hoje, 13 de Junho de 2008, faz 200 anos que por ordem de D. João VI foi construido o Jardim botânico do Rio de Janeiro com espécimes vegetais raras vindas de todo o mundo..

Desde meados do século XVII, havia o entendimento pelos países da frente ascendente da Europa, de que as colónias não deviam ser geridas pelas metrópoles e, a fim de alterar isto, D. João e o diplomata D. Rodrigo de Souza Coutinho, tiveram a astúcia de aproveitar o infortunio para reformar o decadente Portugal em um Império; o país Brasil,  foi elevado ao estatuto de Reino Unido com Portugal, os Algarves e terras d´aquem e, além mar tendo D. João VI como Imperador.

Assim, o rei glutão, tão depreciado até os dias de hoje, o papão das “coxinhas de galinha” terá de ser visto pelos Brasileiros como o primeiro estadista e criador desta grande nação. Tivesse havido uma outra invasão a Portugal e, a América do Sul seria toda ela, possivelmente, uma só nação; D. João VI, num grande jogo de cena, pretendia esconder a melancólica e vergonhosa fuga de Portugal, com a conquista e submissão dos restantes territórios de lingua espanhola. Há senões na história como na vida de todos nós, que mudam o rumo e destino.

 D. João VI, como a visão de um quadro, à medida que nos afastamos vemos melhor seus contornos.

Maceió, 13 de Junho de 2008, dia de Sto António de Lisboa e Pádua

O Soba T´chingange

 

 


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PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:23
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Quinta-feira, 12 de Junho de 2008
BRASIL E O CANGAÇO

BRASIL- Assuntos actuais e do passado na saga do Cangaço, vão ser editados neste Kimbo por partes.

Hoge que o Blog Kimbolagoa faz um mês,o Soba T´chingange, homenageando toda a distinta Kizomba, Nobreza, M´fumos, Cipaios e M´bikas, lança em primeira mão este assunto visto por detrás de um quipá. O mesmo que cegou Lampião.

 

-----------    ÍNDICE ----------

1 – INTRODUÇÃO

 

            1ª PARTE – ABRIL DE 2007

 

2   – PEDRAS DO CAJUEIRÃO . MEIO AMBIENTE EM 2007

3   – O CERTANEJO NORDESTINO

4   – O JAGUNÇO E CANGACEIRO

5   – O CANGACEIRISMO EM PORTUGAL

6   – O CANGACEIRISMO NO RESTO DO MUNDO

7  – A SAGA DOS CANGACEIROS NO BRASIL

8   – A ESTRUTURA GOVERNAMENTAL E O BANDOLISMO

9   – A EFICÁZ REPRESSÃO AO BANDITISMO

10 – ORDENAÇÕES, DECRETOS E, ORAÇÕES DE LAMPIÃO

11 – CANGAÇO MODERNO . SÉCULO XX

12 – NOSTALGIA INQUIETANTE

13 – O CANGACEIRO PORTUGUÊS

14 – O FIM DO REI VESGO, VULGO LAMPIÃO

 

             2ª PARTE  - MARÇO DE 2008

 

15 – O VELHO CHICO EM PAULO AFONSO

16 – TÁCTICA DO GRUPO DE LAMPIÃO

17 - AFINAL QUEM É LAMPÃO

18 – JOSÉ BAIANO, SUB-TENENTE DE LAMPIÃO

19 – CANGACEIRISMO COM MARKETING - 2008

                                                                                                                                                  

CANGAÇO E CANGACEIROS     

A SAGA DOS “VALENTÕES” 

         

I – INTRODUÇÃO

 

A vida sem fantasia não tem húmus para se alimentar; sem sonhos fica destituída de sentido.

Com os meus vinte e cinco anos carregados de ingénuo lirismo sonhava, ansiando por estar aonde nunca estive, desejando conhecer o mundo de outras vivências; o Tonito da dona Arminda revelava-se um eleito para a fatalidade predestinada à aventura; A cada passo, a vida criava a propósito obstáculos para saltar no desconhecido, ora lambendo beiços, ora enchendo-se de picos.

Tonito andava permanentemente tocaiado por uma onça esfomeada que, de focinho afiado entre ombros descaídos e orelhas enfileiradas ao longo do costado, preparava o salto final. O ataque nunca se deu mas, o rabo a dar a dar continua ventilando o seu ser.

Num encontro sombreado duma mulemba, um lugar só de imaginação na macambira, recordo o carrasco, a jurema, o quipá, o calumbi, a coroa-de-frade ou o rabo-de-raposa. Estes tapetes acerados em que as anharas de África se misturam com a caatinga do Brasil, buliram sempre a minha imaginação, a mesma das figuras devoradas na literatura de cordel que os alfarrabistas trocavam, nova por velha, com retorno de uma “quinhenta”.

Não pretendo ser um historiador, somente revejo por busca propositada o que foram os “heróis” da minha crescente meninice entre os dez e os vinte cinco anos; é um relembrar dos tempos românticos, heróicos e estroinados da literatura idealista, livros de folhetos, histórias quase medievais, do Mandrak, Tarzan, Fantasma, Bill Kid, Alcapone e, o homem de borracha que conseguia passar numa fechadura ou fresta; estávamos em 1955, tempo da guerra que diziam ser fria e, eu gozava a Luanda desde a Samba ao Prenda, das Ingombotas ao Sambizanga.

Talvez Jezuino Brilhante, Jararaca, Sinhô Pereira, Lampião e Zé do Telhado à sua maneira, quisessem mudar o Mundo. Desconseguiram!

É deles que passo a escrever, dando resposta aos porquês da infância e puberdade.

Nos anos de 1955 a 1960 entre os meus 10 e 15 anos, a minha literatura de ficção eram livros aos quadradinhos com homens usando chapéus de bico, carregados de zingarelhos e, até espelhos; penduricalhos com guizos, atilhos de couro e cintos carregados de balas em cartucheiras, cruzando o corpo; botas com polainas altas, cheias de enfeites e, grandes facões à cintura. De calças folgadas com grandes alforges e bornais, ditavam a moda com exuberante e estapafúrdio aspecto.

A visão daquele tempo em que a ficção e efeitos épicos se misturavam de forma promíscua, aguçaram-me o espírito de descoberta, desbravando uma tal desconhecida valentia mística.

Em Luanda só via cipaios que de vez em quando, levavam gente para o posto de Belas; de cartola vermelha e calções caipiras de caqui, os indígenas-autoridade conduziam de mãos atadas os indígenas-descomentados de trabalho, formando um cordão de pés descalços.

Descobrir o porquê do sonho pelo desconhecido; do porquê, que levou meu bisavô António Loureiro a aventurar-se num Brasil profundo regressando tísico a Portugal por volta de 1935, deixando um legado de duas filhas, minhas tias que não conheço, nem sei do seu paradeiro.

Na farta imaginação de fantasia dos sessenta e três anos de vida, vejo ainda um chapéu de couro sertanejo em abanico, por detrás duma moita de cactos com muitos espinhos; alucinações das anharas de Angola, das planuras da sertã Andaluza e, dos montes Alentejanos. Num manto de retalhos cruzo o sertão Brasileiro, o agreste e a caatinga sempre, sempre carregando um embondeiro nas costas, a minha cruz ou o meu fado.

E, lá está o chapéu ornado de abas com os seis signos de Salomão o berbicacho de couro com 46 centímetros de comprimento, ornado em ambos os lados com cinquenta e cinco peças de couro de confecção variada; botões para colarinho, punhos e cartões de vista com as inscrições de saudade, Recordação, Lembrança e Amizade. Na testeira, estão fixadas moedas e medalhas, tendo duas delas a gravação “DEUS TE GUIE” e, uma outra a efígie de “D. Pedro II” com data de 1885. No berbicacho traseiro de couro e, com as mesmas dimensões da testeira estão fixas duas outras medalhas tendo ambas a inscrição ”AMOR”; uma desta tem um pequeno brilhante incrustado.

O resto da vestimenta está algures descrito mais à frente com muitos e variados penduricalhos que no decorrer do tempo loucamente, foram ficando retorcidos que nem toutiços.

 (Continua...)

O Soba T´chingange

 

 


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PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:40
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Quarta-feira, 11 de Junho de 2008
BRASIL
CONHECER O BRASIL ------------------------------------------------------------ CARAMURU . O 1º BRASILEIRO------ No tempo das Capitanias 1 - O primeiro achado As palavras levam-nas o vento mas, foi este vento que mudou o rumo à história quando soprou as naus de Álvares Cabral até à costa então desconhecida a que se veio a chamar de Brasil. Aos primeiros gentios encontrados, de longos cabelos escorridos e tez morena chamou-os de índios e, isto porque pensou ter chegado à Índia, sitio para onde pretendia ir quando zarpou de Lisboa a mando do rei D. Manuel I. O achado do Brasil sucedeu a 22 de Abril de 1500, tempo em que Portugueses e Espanhóis tinham a liderança nas artes de marear, com conhecimentos de correntes e ventos; a história tem destes acasos. Nesse tempo, os Portugueses, de cabo em cabo, queriam chegar rápidamente à terra das especiarias, terras descritas em crónicas por Prestes João que falavam das muitas riquezas do Oriente; por este motivo a nova terra descoberta de Santa Cruz, ficou meio esquecido e sem guarda, Franceses, Espanhóis e Holandeses, trataram de tapar essa lacuna fazendo pirataria; estes, em navios armados, atacavam saqueavam e queimavam feitorias e navios portugueses em toda a costa. Ao abrigo do Tratado de Tordesilhas, estas latitudes estavam reservadas a Portugal. Fruto de cobiça por parte do rei Francês, os corsários, a mando deste, pirateavam toda a costa pois que, não reconheciam aos portugueses o direito exclusivo de comercializar com as novas terras; chegou mesmo a dar “carta de marca” de pirata, ao corsário João Ango, concedendo-lhe honrarias por cada investida às feitorias ou naus Portuguesas. O índio cortava o pau-brasil (pau-preto) e, transportava a madeira para as caravelas dos Franceses ou Espanhóis; em pagamento por essa mercadoria e trabalho recebiam bugigangas tais como: - espelhos, pentes, colares, facas e armas. Em 1526 D João III mandou que se organizasse uma esquadra no intuito de recolher os máximos dados da situação caótica naquelas bandas e, também com o fim de dar consistência à colonização de soberania Portuguesa, a norte do rio da Prata; esta tarefa foi incumbida a Cristóvão Jacques o qual, veio a travar combates com alguns navios Franceses. Cristóvão Jacques conseguindo fazer trezentos prisioneiros, deu consistência ao poder reinante de Portugal; estes prisioneiros foram conduzidos a Lisboa dando assim aviso a todos os aventureiros que demandavam os “nossos mares”. Após os relatos de Jacques, o rei D. João III, mandou que se organizasse uma esquadra a fim de assentar colonos na costa Brasileira; para o efeito dá orientação ao capitão-mor Martins Afonso de Sousa, confiando a este grandes poderes: repartir terras, criar oficiais de justiça e fundar colónias. Fundou a primeira colónia no Brasil em S. Vicente em 1532 na qual se tornou capitão donatário; deve-se a ele a introdução da cana-de-açúcar na nova Lusitânia, Brasil. Com uma esquadra de cinco navios e com quatrocentas pessoas a bordo, num sábado, a 3 de Dezembro do ano 1530 fazem-se ao mar com a técnica de navegação “cabos a dentro”; rumam a sul. Aportam na ilha de Gomera em Canárias e, a dezoito de Janeiro de 1531 com vento Sueste, chegam à costa do Brasil, aportando em Pernambuco, a dezassete de Fevereiro desse ano. Após trovoadas, trombas marinhas e antenas destroçadas, a vinte e três de Abril, entram na Bahia de todos os Santos. E, sem saber se era um sonho!... Entre a bruma da manhã depara com o famoso Caramurú, Português de nome Diogo Álvaro Correia que por ali ficou no ano de 1509; casado com uma índia, tinha já nesta altura um rancho de filhos; havia ali então uma povoação com cerca de trezentas casas. Este assentamento numeroso foi relevante para considerar aquele lugar como capital administrativa. Os lotes ou capitanias tinham, por disposição de D. João III, uma porção de 50 léguas medidas ao longo da costa Nos terreiros, os homens descendentes deste Caramurú, capitães do mato, sedimentaram com o tempo e nas sucessivas uniões com gente escrava, uma amálgama de cultura iemanjá. Diz-se, ter sido Caramurú o fundador da cidade de Cachoeira no estado de Bahia. Hoje, por todo o Pernambuco, matutos e mamelucos rezam preces, chispam axé, apelam aos orixás e xingus; giboiando na rede, tocam o seu violão soltando versos repentistas aonde entram coronéis, jagunços e a senhora da Boa Hora. Comendo mukeka, tanspiro vontades de forró regadas a caipirinha. A sanfona prolonga alegria noite adentro e, no ar, há cheiros de caju e café. 2 – O povoamento --------------------------------------------------------------- Diogo Álvaro Correia, aventureiro ou prisioneiro dum barco pirata francês, ou português, não se sabe ao certo, teria aí os seus 17 anos, nascido em Viana do Castelo em Galiza portuguesa, quando naufragou perto do rio Vermelho na praia da Mariquita em Salvador. Quando Deus faz a história o homem e a hora são uma só; coube tal desígnio a este jovem ser atribuído “o patriarca da Bahia”e, como tal o primeiro verdadeiro brasileiro, baiano. Daquele naufrágio, dos oito tripulantes, só ele escapou a não ser comido pelos índios da tribo Tupinambás; estes viram-no matar com o seu arcabuz uma ave voando e, logo os índios lhe atribuíram o nome de Caramurú, homem de fogo, filho de trovão, branco molhado, dragão do mar. O chefe Taparica ofereceu sua filha Paraguaçu a Caramurú; este, teve com essa índia tantos filhos, que passaram a conhece-lo como o “ Adão de Masssapé”. Em 1528, Caramurú foi com a sua Paraguaçu a França e baptizou-a com o nome de Catarina; é uma estória que, como contos de fadas acaba feliz. Tomé de Sousa, fidalgo da casa de ordens do reino, foi feito o primeiro Governador-Geral do Brasil em 1549 por carta Régia e, com 1000 colonos, deu início à verdadeira colonização da costa brasileira fundando a cidade de Salvador em 1549. Caramurú, já com 62 anos diligenciou na construção de Salvador ajudando o Governador Tomé a esquematizar a cidade de então; não se limitou a aumentar a prole de matutos, tão necessários para a gestão do território. A coroa, a cruz e a espada andavam misturados com náufragos, traficantes e degredados. A frota de Tomé de Sousa que era composta de seis embarcações e dois navios mercantes, alem de transportar materiais de construção e víveres, levava gente da mais variada formação como artesãos, desorelhados ou ferrados pela justiça, um médico, um relojoeiro, um boticário e três padres jesuítas; entre estes estava Manoel da Nóbrega. O padre Nóbrega rezou a sua primeira missa no Brasil em uma capela improvisada de pau-a-pique coberta a folhas de palmeira e, que Paraguaçu, mulher de Caramurú, mandou construir a propósito. O primeiro poder legislativo do Brasil teve início aqui, com a construção do palácio do governador, a Câmara Municipal, a cadeia, a Santa casa da misericórdia, a igreja dos Jesuítas e um pelourinho. A 16 de Junho de 1556, a nau Nossa Senhora da Ajuda que levava o bispo, D. Pedro Fernandes Sardinha, naufragou ao largo de Coruripe a uns escassos quarenta quilómetros a norte da foz do São Francisco; os quase cem náufragos foram comidos por índios das tribos Caetás e Tapajaras. Foi a partir do rio São Francisco e, para Norte, até ao cabo de Santo Agostinho entre os anos de 1590 e 1630 que se fez distribuição de terras fazendo o povoamento na base das Sesmarias; com uma extensão de seis léguas ao longo da costa estendendo-se por sete léguas para o interior até o sertão, foram estas porções de terra distribuídas aos primeiros povoadores. Os primeiros donos sesmeiros no estado de Alagoas para Norte e, a partir do rio São Francisco foram: - Belchior Alvares Camelo até o rio Coruripe, António de Moura Castro, dali até a actual Praia do Francês na lagoa Manguaba, Diogo Soares da Cunha, dali até Paripueira, próximo da barra de Santo António, Rodrigues de Barros Pimentel, dali até Japaratinga na costa de Porto Calvo e Cristóvão Lins, iniciador do processo de povoamento e comandante da expedição por ordem régia com este propósito. A finalidade destes assentamentos, era a de construir engenhos de açúcar, o ouro branco que então estava a ser comerciado pela coroa portuguesa; nesta distribuição de terras eram contemplados os familiares próximos do expedicionário e ainda subsistem nomes falados, que por hereditariedade chegaram até os dias de hoje tendo como exemplo as terras de Magdalena de Subaúma que, hoje se conhece como sendo a usina Sumaúma; sempre são quatrocentos anos em distância temporal. O soba T´chingange

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PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:12
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Terça-feira, 10 de Junho de 2008
MUGIMBOS

 

Esta crónica vai dedicada ao Conde do Grafanil, verdadeiro Grão-Mestre da ordem da Roda Dentada, cidadão honorábilis do nosso Kimbo, o verdadeiro senhor de todas as praias do reino, portador do zimbo real.

 

                                               KIZOMBA DA LUUA

         mugimbos   com brututu

     O tempo não conta; a verdade é sempre actual – Junho de 2008

O kota Liuanhica, de bravura esquecida sozinhava-se na praia da ilha. Luanda estava no outro lado  pendurada na água com prédios e barrocas sujas.

Aquela reflexão também o escorria em descontentamento.

         Debruçado sobre si mesmo na areia, após uma noite trespassada de kizomba, recordava a grande noite cultural com passagem de modelos no Miramar; para ele, homem de antes quebrar que torcer, de  peito desfeito, o que viu  tornava-se num grande desaforo.

Aquele, era um dia de domingo.

Sua vida estava feita num esquecimento desde que sua filha N´riquitita virou modelo naquele concurso da Maianga.  Os amigos à boca pequena iam falando entre risos sarcásticos das altas  qualidades de sua filha que aparecia com frequência nas colunas sociais e ao lado de cantores famosos.

No sábado de ontem ele viu mesmo; estava lá na certificação  descodificando  a verdadeira verdade dos mujimbos da cacimba do rio seco e Catambor

N´riquitita apareceu espevitadamente  enroscada  a Nelson Ned e, talvez pelo tamanho  deste, os caluandas  do bairro  gozavam a cena. Compreendeu ali o porquê dos kotas rindo com todos os dentes da boca; isto para Liuanhica era um demasiado e desclassificado contratempo.

Os kasucuteiros, kuribotas do catambor roíam-lhe todos os dias a paciência.

Com saudades do antigamente o impensável passou a possível e a nostalgia do tempo colonial transbordou na sociedade Luandense.

Perdido naquele oblíquo contraluz numa imensidão de pensamentos, recordou os exemplos de vida que seu pai Sambo lhe transmitiu, lá no planalto  central do Huambo.

Tinha de voltar à sua terra, agora que a revolução se estava a tornar num estorvo , com o fim da guerra o melhor mesmo era voltar ao seu Quipeio, lá aonde ainda resistiam uns amigos estudantes daqueles idos tempos.

N'riquitita tem já vergonha do seu Kota pai, evita-o a todo o custo , atarefada entre banquetes milionários e concursos de misses em tudo o que é lado possível ou nem tanto, exibindo roupas e jóias nas kizombas de alambazados.

Passaram uns meses...

Kota Liuanhica voltou ao planalto, juntou-se ao seu primo Siripipi juntando ervas, raízes e folhas seguindo as pisadas do seu pai Sambo, grande conhecedor na cura de maleitas através de plantas; envia estas para Luanda que, por sua vez, são reencaminhadas para o puto.

Tornou-se um especialista de sucesso na apanha do brututu e, à noite no ximbeco de Zacarias vai dando informações às pessoas de tal produto.

Naquele vila do Quipeio ele, era o maior conhecedor  das plantas do mato. 

       - Chi!!! brututu é bom mesmo! Dizia Zacarias detrás dum velho balcão colonial, enquanto eu e meu pai de faz de conta, conhecido por Caluviaviri, comíamos uma kizaca acompanhada com t'chizangua.

Meu pai de faz de conta era um estudioso nestas coisas de plantas e bichos, por isso aproveitou dar largas ao seu conhecimento do brututu

      - Desde há  muitos anos que o brututu é usado como chá ou em simples lavagens; colonos e indígenas, antigamente, tinham sempre uma vasilha com raiz de brututu num sitio fresco, ou frigorifico, para beber a qualquer hora.

- Como prevenção ao paludismo usavam um filtro de pedra chamado de selha que ia escorrendo pinga a pinga a água para um vaso ou garrafão, com um pau de brututu dentro. A água ficava com  uma tonalidade de âmbar.

      - Curava as doenças hepáticas, entre as quais a hepatite, icterícia, biliosa, doenças de estômago em geral, vesícula, baço e todo o aparelho urinário.

      - Se quiserem desintoxicar-se de tanta coisa ruim que hoje se come, reduzirem o colesterol e riscos de trombose  tomem isso, acrescentou Liuanhica.

               O meu tio avô Guerra que curava a ciática cortando um nervo atrás da orelha  não sabia nada disto. Lá aonde ele estiver, no sitio que Deus tem, vai ficar contente desta nova do seu sobrinho neto.

Agora até  tomo o  brututu como um ritual de  pura  satisfação espiritual! Ás vezes junto-lhe um pouco de mel derivado do pólen de tília.

Glossário

Kizomba – dança,  festa com baile ou eventos teatrais Mujimbos – boatos, falatório; Cacimba – cisterna, depósito de água; Kazucuteiros – trambiqueiros, aldrabões ou que vivem de expedientes menos claros; Caluanda - nativo de Luanda (N´gola); kuribotas – fanático, tendencioso, curioso, espia; Kizaca – saca folha, folha de mandioca pisada cozinhada tipo esparregado; Brututu – raiz curativa ; Ximbeco – negócio, boteco, loja ou venda; T'chizangua – bebida feita de milho fermentado, normalmente de sabor adocicado; Quipeio – povoação do Huambo (Angola) Catambor – bairo suburbano de Luanda, confinante com a Maianga; Miramar - cinema esplanada; Puto - Portugal.   

                                             

O Soba

T´chingange

 

 

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:58
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O HOMEM QUISSANGE
Crónica dedicada ao Exmo Visconde do Mussulo, guardador-mor  em exercício dos zimbos do reino N´gola

 

KORIMBA SHOW

                                                       O HOMEM QUISSANGE

 

             Os pés calejados, suportavam com gretas espalmados um corpulento negro; aquele corpo de baixo acima estava por demais maltratado; carregava o mapa mundo pintado de mazelas de guerras, escaramuças da mata e sobrevivência carecida. Era um corpo cheio de riscadas lembranças de filária, matacanha e maus tratos de Kazumbi (feitiço).

           Quissange, espumava vontade de vida e, de olhos esbugalhados, grandes e redondos tentava fazer-nos querer filosofias de cachipemba misturada com liamba e sabedoria de quimbanda (médico tribal). Talvez! Sabe-se lá? Saído do seu kimbo por força da guerra ele só viu o tempo passar; de luta em luta, com o seu canhangulo desbravava bissapas na busca da mulola, da chimpaca e da n´haca (plantação) com pau de mandioca.

           Ele não vivia; sacudia a vida pois, só desconseguia!

           Acabada a guerra, largou a arma e entretinha-se tocando o seu korimba show. Este, era um instrumento de simples feitura; um pau atravessava uma lata de azeite galo vazia, na ponta saiam uns chinguiços nos quais ficavam amarrados três fios de nylon que iam envolver um pedaço de ripa grampeada à tal lata.

           Quissange não é nome de gente mas, ele só queria mesmo ser tratado assim!

          Quissange sempre foi um instrumento composto de ferrinhos de comprimentos diferentes,  atados a uma galocha de madeira e, ao chispar a ponta com os dedos, lançam um som próprio. Ao ouvi-los, os ferrinhos, a sonoridade do sertão e anharas embrenham-se na mística que só África é capaz de transmitir; se este instrumento se apoiar na barriga e mais uma cabaça até as hienas cantam de encanto por tão inebriante som.

           Mas,...este Quissange era gente e tocava um instrumento que ele mesmo inventou. Tal inventação  tomou o nome de Korimba pois que foi aqui, num lugar do mesmo nome que este lhe começou a dar algum dinheiro e, por isso, passou a ser o Korimba show. Tinha muito orgulho neste invento; foi a partir daqui que Quissange deixou de ser um qualquer desclassificado!

          Percorria a praia de cabo a rabo , voltava entretanto e sempre tocando o seu instrumento ia obtendo umas moedas de gazosa; estas gorgetas faziam-no ultrapassar carências fundamentais e, mais não queria.

          A vida era mesmo uma grande responsabilidade e sem nada, não teria obrigações.

         O Quissange contava coisas que só ele sabia.

         Dedilhava as cordas de nylon com gargalos de Cuca enfiados na ponta de dois dedos; em cada mão tinha cinco mas, enquanto que na direita usava os tais dois, a esquerda corria com todos  ao longo de parte do pau e, amarrando o nylon a este.

        Pouca gente teve oportunidade de ver tão místico instrumento; a desassossegada lembrança recorda os sons, o barco kitoco e o mar calmo da Samba.

        A acompanhar tal sonoridade juntava-se-lhe o toque de marimba em casco de canoa, a mesma que saía a pescar com frequência os kimbijis (peixe espada).

         No fim da cantoria abria a boca de beiçolas  espantadas e, sorria com os dentes todos. 

         Escondido nele mesmo Quissange pessoa, como um ritual, submetia-me a espoliadas vaidades  percorrendo o prazer do ouvido; sem sons de guerra fantasiava-me de segredos  concebidos no Mussulo, em longínquas  e sucumbidas vontades.

        Quissange, com o seu Korimba show , todos os santos dias dava concertos de humildade naquela areia, sempre , sempre escondendo por detrás da negrura a infelicidade que dizia ser só dele; a guerra desalojou-o do tino e, do fim do mundo , passou para a Quiçama e depois Sambizanga.

       Faltou-lhe um pouco de muita sorte para ser um Louis Amstrong. Este também arrastou sacos de carvão a partir dos sete anos de idade e acabou por casar com uma prostituta a quem chamava de seu docinho; seu,...dele!

       Neste mundo de sons, vidas de cabarés, trompetistas e demais artistas, chegar ao sucesso não é um simples estalar de dedos.

       Quissange nunca teve ninguém que o catalogásse numa qualquer linhagem; foi sempre um desclassificado tocador de um instrumento que também ninguém classificou.

Quissange com o seu Korimba show, num pedaço de  instante,  contribuíu no curso da história!

                                           Soba T´chingange          



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:38
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Mokanda para Kuvale

Crónica dedicada  ao cipaio Komando H.N. que escolheu ser o Camundongo do Maculussu, aquele que tem uma lança no estandarte da Kizomba e que, ainda não teve o seu baptismo, nem se lhe viu os cascos e os dentes.

 

                                        Mokanda para Kuvale    

        O Ontem e o hoje dos Mucubais

 

            Kafundanga  é seu nome.        

            Refém do medo, penetra na vida um dia de cada vez, penosamente candongando chinguiços como  num conto suficiente; como se tratasse de uma vida que já só serve para ser contada, queima lenha para vender carvão na cidade. Ele que sempre pastou gado!

            As cercas de arame farpado barram-lhe a passagem!

A democracia perdeu-se no labirinto das manipulações e interesses, não diferindo em nada das regras do colonialismo. É pior!... A nomenclatura de Luanda distribui entre si o espólio.

            No meio de uma grande ilusão, possibilita-se a vida numa sobrevivência corrupta na obtenção de dinheiro  a qualquer preço.

            Ainda andam de tanga dizem! Mas,... sempre foi assim!

As Organizações não entendem porquê aqueles pastores andam quase sem roupa; desconhecem que  quando o sol cai de cima e o calor sai do chão, este, é o próprio modo de estar do  pastor Kuvale.

Tratar astutos guerreiros, altivos homens como se fossem indigentes pelo facto de aparecerem vestidos com um pano á frente e outro atrás, é despresar outros valores.

Kuvale!...

            Kuvale, governador de vastas áreas e muitos bois, controlador da aridez das terras que circundam o Bero , Giraul,  Kuroka e também o Iona aquém do Cunene.

            De mulola em mulola, de ximpaca em ximpaca, só estes sabem abeberar o gado, ajustando-se no tempo transumando na altura certa. Só eles sabem alimentar e manter acesa a fogueira naquelas noites frias, e  sangrar os bois na veia certa. Alterar isto com argumentações técnicas ou cientificas, é promover a inviabilidade de sociedades antigas. Mudar tudo isto é torná-los dependentes, proletarizá-los na miséria envoltos em arame farpado.

Ali no Karacul, ideólogos, políticos e agentes humanitários de forma aberrante distribuiem caridade em nome da civilização. Que é que os levará a advogar que esta gente é pobre e vagabunda nesta forma de estar!

           Não é por usarem tanga que são pobres. Ter ar , sal, leite, água , é tudo do que necessitam. Dormir sobre uma pele de boi, habitar em casas de barro e bosta, usar sandálias de tiras de couro e alimentar-se de malulu (leite azedo), isto é ser Mucubal e  assim vai continuar.

            Os seus actos heroicos de adquir gado, sempre foram designados como roubo; mesmo no tempo dos Potugas.

África é isto! 

 

Glossário: Mokanda:- Carta; Kuvale/ Mucubal:- Zona sul de Angola, a norte do rio Cunene; Bero, Giraul , Kuroka:- Rios de Angola; Mulola:- cheia ocasional; Ximpaca: Cacimba de águas de chuva; Chinguiço:- Pau seco e retorcido, problemas

 

 

                                                                       O Soba T´chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:34
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kapikua, o Swinguista

Crónica sempre presente, dedicada ao Duque do Maculússu, swinguista pipí. Chefão calcinha, malabarista da Mutamba e seus cafecos perdidos , também conhecido por o Joli X

 

Kapikua, o Swinguista

PITANGA, nome de Mulher

Escaldada pelo sol apresentava-se gulosa como a fruta que lhe deu o nome; Gomosa de saliências fazia apitar barcos, sirenes de vapores, sinos de veleiros e campainhas na cabeça dos marinheiros.

Perdidos de amores, os coqueiros esfregavam a brisa assobiando cânticos de sedução àquela sereia que a seus pés se lambuzava de areia fina.

Na ilha dos amores, um lugar distante de tudo, Kapicua por entre pedras, sombras  e areia, roía as unhas esfarelando a coragem que demorava a surgir e, sempre que podia acercava-se de Pitanga oferecendo-lhe coco frio com maçaroca de milho cozido; sem cobrar nada saboreava a presença cheiinho de vontade abafada.

Naquele dia a  serenidade da madrugada convidava a passear ao longo da margem mas, ele Kapicua andava ensaiando um esquema de conquista, uma coisa assim com estilo de banga.

Kapicua gozava de uma agradável encantamento só por estar ali junto de Pitanga na borda de água; o olho dele não desperdiçava apetites e o espírito exercitava aveludas carícias de pensamento.

As fronteiras da coragem transpiravam incertezas mas, um dia destes iria acontecer, disse ele só para si!

Havia indícios de mudança nas altitudes de Pitanga no decorrer dos seguintes dias e até as poses eram já notoriamente pré-preparadas para espicaçar a ternura de Kapicua.

Neste encantamento viam-se forçados a ir ao mar apaziguar quenturas evidentes; Chapinhavam atiçadas labaredas nas frias águas, como lava de vulcão. O fumo não se via mas o fogo estava prestes a acontecer.

A maturidade de Kapicua adquirida na idade e subida aos mais altos coqueiros,  foram-no transformando em timoneiro e, num dia de vento favorável, engalanou coragem dizendo a Pitanga:

- Teu nome é muito bonito! É gostoso demais e,... também gosto muito de ti. Dizia isto com os olhos quase semicerrados, cabeça de lado como carneiro mal morto, dando entretanto afagadelas aos dedinhos do bronzeado pé de Pitanga.

Pitanga retorcia-se de suavidades balouçando o corpo em jeito de provocação desafiadora  sem impedir os avanços de mão que Kapicua, entretanto explorava.

As brincadeiras iam-se prolongando sem chave de guarda com abusos consentidos; o puro amor tornava-se propriedade de ambos sem registo nem bênçãos antecipadas.

  Progressivamente aprenderam tarefas em comum e da comunidade; os desejos consumaram-se fundindo correntes de ternura sem curso previsto.

Ali não havia IRS, autárquicas, taxas de lixo, luz e água, nem tampouco a previdência social, cota do clube e do sindicato ou pagamentos por conta. Livremente subia ao maior coqueiro sem ter carteira profissional, sem pagar seguro ou taxa de coqueirista; as atribulações de então não  provocavam depressão.

Nem existia registo!

Conservatória era ainda coisa por inventar.

Nove meses passados, nasceu Jussára Pitanga Kapicua, fruto daquele farfalhado amor.

        No meio do coqueiral ocasionalmente descobriram os restos mortais de Jussára; se fosse viva  teria agora 333 anos.

Das análises com ciência actual de raios leiser, carbono e outras inovações  concluíram que ali bem perto daquele sitio aonde viveu Pitanga, Jussára e Kapicua, porto de pesca actual, tinha sido um  paraíso pintado de verde, azul e amarelo da praia.

Agora aquele sítio só tem betão, ruído e turistas à busca daquela história mas, quanto ao amor continua tudo como dantes, frenético e ardente.

       E, talvez  por isso, ali se chame agora ao carapau de gato, pitanga. Creio ser em  homenagem àquela  donzela que antes tinha nome da família da mirtácea.  Com o tempo e a semântica, Pitanga  é agora  também conhecida por petinga.

       Na mente de cada um, existirá sempre que se queira, uma ilha de amores!

                                                                   O SOBA T´chingange          

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:35
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Segunda-feira, 9 de Junho de 2008
OLHO CLINICO II

Boas a todos os amigos Kizombeiros e amigos do Kimbo Lagoa.

Agradeço desde já a confiança depositada no nosso trabalho, por vezes "não é fácil" pela vida atribulada que levamos, mas há um ditado " Faz mais quem quer do que quem pode" Conde do Grafanil, gostei do seu comentário e apoio a 100%, temos de enviar o endereço do Blog para todo os nossos contactos de forma a promover o mesmo. Agradeço tambem ao nosso Soba pelos belos textos que tem enviado, veio dar um contributo bastante positivo e enriquecedor ao nosso Blog, não esquecendo tb a supervisão do nosso Visconde do Mussulo que bastante tem contribuido na edição dos textos.

Vamos então tornar o Blog mais conhecido.

 

cuumprimentos

 

N´DALATANDO



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:09
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OLHO CLÍNICO

Comentário:
OLHO CLINICO

Não vejo, muito interesse nos kizombeiro e não só, em se manifestarem sobre o blog.
Não vejo, que alguém mande um bitato acerca do mesmo, excepção do soba e N´Dadalatando .
Gostaria que o blog fosse mais divulgado, porquanto existem meios para isso, então o que esperamos?, divulgue-se.
Há que comentar, criticar, bem ou mal, vamos a isso.
Informem, mandem fotos, etc. etc.
Parabens ao kizombeiro N´Dalatando , que tem sido incansável, desde a sua criação à sua actualização constante. Um grande abraço

Conde do Grafanil
 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:06
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Sábado, 7 de Junho de 2008
PROBLEMAS - PREVILÉGIOS DE HUMANOS

 

 

VIVER A KIZOMBA

Quando um qualquer de nós está muito atrapalhado, é bom parar e analizar as sombras que cobrem a nossa paisagem.
- Serão tragedias, ou chatices?
Na maioria das vezes são chatices!... então, quando começo a querer queixar-me da vida, penso nela:
- Com as perdas, nada mais hà a fazer senão perdê-las!
- Com os problemas só há duas saídas; uma é resolve-los, a outra, os insoluveis, o jeito é perceber e aceitar.
Não devemos ignorar os problemas, mas há sempre o momento de parar e pensar, ou pensar menos e viver mais; relegá-los para um segundo plano, abrindo-se mais para a vida que é breve, é dificil e, não deixa o comboio passar duas vezes.
No meio deste embrólio pergunto-me: -O que posso resolver?  O que devo esquecer ou superar para que não me sufoque ou me roube a luz de que preciso para ver outras coisas, coisas melhores?
Assim, dos problemas pode fazer-se uma seleção, em que alguns serão jogados fora. Apagou, acabou-se!... Outros ficarão à margem do caminho, dando passagem ao optimismo e à vontade de viver; outros, ainda, necessitam de um longo periodo para que se desmanchem suas raizes no coração que se atormenta; só que esse tempo não pode ser tão longo, nem ocupar demasiado espaço dentro da vida, ou desperdiçaremos o que há de melhor na paisagem.
Às vezes, o jeito é dar-se as mãos numa roda solidária, esperando que o bom senso reduza o nosso sofrimento inútil .
Esta é, a filosofia que se pretende do Kimbo de Lagoa com a sua Kizomba.
Seja como for, por ser complexa, a vida é interessante: por isso escrevem os escritores, lutam os soldados, roubam os ladrões, enganam os crápolas e brincam as crianças.
As pessoas, vivem tão enrroladas com problemas, que pouco tempo lhes resta de alegria para conviver com os mais próximos.
Há um momento em que todos os problemas se resolvem e, empalidecem todos os dramas. É a morte! Mas, isto nós não inventamos!


O Soba T´hchingange
Costa Monteiro



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:12
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Segunda-feira, 2 de Junho de 2008
UM JACARÉ NO CAMINHO -- O ZORBA DA CATUMBELA

 

         
        
            
               UM JACARÉ NO CAMINHO
                          O ZORBA DA CATUMBELA
 
 Zorba Bonifácio vivia de fantasias!
 Numa amalgama de sonhos, inverti o passado plantando aqui e além, fermento na história duma diáspora que não quer ficar esquecida. Falada , em prosa, em gíria, com luz e contraluz, no discurso directo e arrevesado.
 O rio  Catumbela  tinha jacarés para caramba!
 Eram tantos que por volta de 1949, após uma enchente, “os Bonis” tiveram de fugir às águas e jacarés. A casa “santi” feita de adobe não resistiu à enxurrada naquela que era a “travessa da verdade”, logologo ali ao pé da jacarelândia.
 Foi ali  na Catumbela, no húmido bafo de crocodilos, que lhe nasceu o filho mais velho, do filho mais velho , do velho Bonifácio, Boni Tonecas, trespassando três gerações.
“M´bika a mundele, mundele ué”
 Bem disposto, Zorba, agita o tempo da forma como quer,...usa a filosofia pulverizada, chispando fora o supérfluo. Nas crises, agita um spray, fumegando por uns segundos a mente,...desta forma simples refresca-se de iões positivos, o quanto baste.
- A vida tem os seus segredos, diz ele no café boteco junto do largo Maria Neno Ovava, enquanto sorve um copito de s’bell, o verdadeiro Whisky da Catumbela.
Os dias passaram em maré de guerras crispadas até que, a independência chegou e, pouco a pouco, os amigos foram bazando de forma dramática; a confusão chegava do sul, do norte e, muitos outros lados; viu-se e desejou-se fazendo das tripas coração para superar tudo.
- O dia é mais azul quando queremos que assim o seja, cada um de nós, terá sempre uma restea de ascensão para o bom da vida, dizia ele carregado de sabedoria; nem tudo pode ser mau todo o tempo, concluiu.
Para sobreviver ia misturando umas quitetas, arroz e folha de mandioca, que o Kamba fintador Cadimbinha trazia do alto liro nas horas menos dramáticas por entre os intervalos de fogo cruzado; unita versus emepelá e, na vice versa, os búfalos da Africa do Sul.
Teve de usar uma filosofia musculada pois, os contratempos iam muito para além dum desamor que, até então não tinha sentido. Tudo se tornou diferente,.. pulsando nervosamente o divino dom da vida, ficou por demasiado precário e o café aonde habitualmente vendia filosofia desfrequentou-se numa totalidade chocante.
O s´bell foi escasseando e surgiram caras novas de muitos lados que pulsavam nervosismo em músculos de medo que nem se sabia existirem; o controlo emocional foi ficando cheio de  pequenos ferimentos.
             O seu divino dom da conversa já não tinha mais razão de ser; fugiu à frente dum barulho de metralha ensurdecedor ao longo duma praia  derramando na areia o código genético. No fim da restinga, num Lobito carregado de medo, a brancura da pele tornou-o todotodo reaccionário.
                Passados uns anos ouvia na rádio.
 “ morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela,
                                                será que ela mexe o chocalho ou o chocalho mexe com ela”.
                E,...relembrando o onze de Dezembro de 2005, 30 anos após o dia iiii ( independência) ,diz ele:
- Todos os dias são bons para se viver mas o espírito tem de estar em paz consigo próprio; juntei as coisas simples numa montanha de ternura e quis masé, entender a canção do Xico; poucoapouco fui conseguindo estar de bem com aquela musica transcensual;
 “ a bela mulata remexendo,... deixando resquentar o feijão no tacho,... na Catumbela”
Na Catumbela?!
Haka!  Não tem mais cana de açúcar, nem s´bell; a fábrica do açúcar da Cassequel é um montão de ferro velho e a praça do Império, tem uma traineira encalhada no meio; O postal  mais actual daquela restinga, é aquele barco empoleirado, dando fim ao ciclo imperial dos Tugas.
Bonifácio, caçador de catuitas, recorda versando e prosando aqueles tempos de fisga, no antigamente.
Se o Xicaça me topava
gritava para o ouvir...
Ah! Seu Chiquinho Catava
Desta vez, não se vai rir!...
“ Nas claras águas de cacimbo, o rio dilatava-se na paisagem úberrima, espelhando os suculentos tabuleiros de cana sacarina marginados por úberas palmeiras dendê e, entre tufos de ecléctica e matizada verdura, as leves bimbas de copas emaranhadas, debruçavam-se sobre as águas como que agradecidas pelo néctar refrescante que as vivificavam”.
As nossas capacidades forjaram a medo um destino colectivo que, quase como um castigo, nos levou ao abandono; enquanto andávamos distraídos na conversa de políticos mal fabricados, os grandes espaços eram trocados por uma viagem de borla, sem retorno; mas, a canção  desperta-nos um “ havemos de voltar”.
“bichinha danada, minha camarada do emepelá”
 
 Bibliografia – Catumbela, terra de jacarés de António Gonçalves Rodrigues (o Boni, pai); Estórias de Luandino Vieira
 
Glossário - palavras sublinhadas
M´bika a mundele, mundele ué - o escravo de branco também é branco; jacarelândia – abundância de jacarés entre o rio Catumbela e a vila do mesmo nome, beira rio na travessa da verdade; Maria Neno Ovava – praça pública com obra escultórica alusiva à musa e água situada em frente aos Correios da Catumbela; S´bell– marca de Whisky muito apreciada pelos Sul Africanos; bazando – fugindo; bimba – árvore de beira rio de 3 ou 4 metros de altura, tronco mole mas resistente, de extrema leveza, usada para construir jangadas; quitetas – amêijoas, berbigão; Kamba – amigo como irmão ( Kimbundu ) ; fintador – dado a truques; búfalos –referente ao batalhão invasor da A. do Sul; catuitas – pássaro bico de lacre (bico vermelho); Tabuleiros– barras de lodo seco, que parece chocolate; Tuga – Português; Haka !  – exclamação ( Umbundu ); emepelá – MPLA, movimento imancipalista.
 
                                                                                                          SOBA


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Domingo, 1 de Junho de 2008
ANIVERSARIO DO JAMBA
O JAMBA FEZ ANOS
COMEMOROU NA PASSADA QUINTA FEIRA

Compareceram à chamada os habituais Kizombeiros, alguns Albinos, Xicoronhos e até os autoexcluidos Suinguista e Ximba, sempre bem vindos.
O repasto, teve lugar próximo de Lagoa, no restaurante O Pescador, tendo o chefe António "Proprietário" esmerado num valente ensopado de cabrito, devidamente regado com pinga Alentejana.
Apesar dos pesares, tudo decorreu dentro da normalidade, sem grande exageros, por se tratar de um dia de semana e, o trabalho esperava "por alguns".
Pena foi o kizombeiro N`Dalatando ter sido forçado a ir uns dias a Coimbra, afim de resolver problemas de saúde do seu cadengue, votos de rápida recuperação, notamos a sua falta.
Notou-se a ausência ainda do Kizombeiro T``chikukuvanda, que por razões diferentes se encontra em terras quentes, na luua, de onde recentemente enviou a titulo de inveja umas fotos da ilha do mussulo. um grade abraço
 
Conde Grafanil


PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:53
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QUEM SOMOS
Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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