O MAIS INTEGRO COMUNISTA BRASILEIRO
Um carcará dava voltas por cima do morro da caatinga verde, encostas do rio são Franciso,
Nesta aridez do Nordeste Brasileiro, o rio Sâo Fancisco é o único que mantém o seu leito ao longo do ano.
O povo brasileiro sempre foi brando, demasiado alegre, tornando as ditaduras ridiculas num contorno de festa, com xanchado e cheiro de mata num solto agreste mas, o mando despótico na ponta do fusil, ainda deixou resquicios de malvadêz.
Ninguém consegue calar a alegria de liberdade por muito mando que haja; os suspiros proliferam com a policia promíscua, corruptivel como sempre o foi.
Com todos os defeitos e algumas virtudes, os novos colonos e ex-escravos foram espreguiçando o lazer, libertando-se dos grilhos e do cangaço, criando quilombos para além das sanzalas, com mistérios de zumbis alforriados.
Os fidalgos, comendadores, barões e outros brazonados Coroneis, só de nome, iam ficando sem poder numa terra que se queria ver sem garrote e que se mantinha com muitos pobres, sem conhecer outra condição, vil na sub-serviência e bobre-vivência.
Os novos brasileiros foram paulatinamente assentando a vida na venda a retalho, comida ou panificação, mercearia e, internando-se no sertão, foram compondo o Brasil. è assim que Graciliano descreve as gentes sem eira nem beira, sem lugar , sem nada e sem tudo, ignorados e espesinhados.
Olavo Bilac, Mário Couto, Machado de Assis e o mais contemporâneo Jorge Amado, foram descrevendo a epopeia dos pobres e também os pequenos burgueses que em pouco tempo se tornaram os barões do café no sul, coroneis no sertão, com seus engenhos de açucar, ganadeiros no Mato Grosso e Seringueiros no Amazonas.
A vida foi sendo pintada com Jagunços a mando de coroneis, pescadores deslocando-se em frágeis jangadas de velas quadradas, subindo o rio São Francisco.
Caboclos, matutos, mulatos de várias matizes, tomam assento em locais inóspitos enquanto a vida no mundo corria ...
Aqui, Nordeste do Brasil, aonde os abusos e injustiças não são suficientes para sufocar o calor da galera, da favela do suburbio, a vida continua nessa labuta e luta.
Sinto-me um agraciado por estar sentindo esta terra, como se minha fosse. É um calor que o Puto, infelizmente, não tem.
O Soba T´chingange
O MELHOR RETRATISTA DO MUSSEQUE
Era eu candengue quando usava as expressões retratadas por este Senhor Luandino. O Nosso Musseque era isso mesmo, meninos jogando com a chuva que caia, dando berrida a todos os rafeiros do bairro, fantasmando o fumo no carro da tifa e roubando piriquitos nas barbas do guarda noturno. Desde a Maianga subindo o morro para o prenda, passando pelo Catambor e fazendo finfias com carros de arame a-fingir, que tinham um motor persistente mente de brrruuummm permanente. Catravés não posso esquecer o acompanhar dos barris cheios de água que rodavam levando água da cacimba até à cubata do meu amigo Batalha, meu amigo de apanhar cardeais e celestes nas lagoas por detrás do aeroporto de Belas e roubar gajajas a caminho da Escola industrial de Luanda. Isso por aí era tudo mato nos anos de entre 1953 e 1961. Até vi cair a ultima avioneta que se fez à pista no aeroporto em frente ao Regimento de Infantaria.
Meu pai trabalhava na Ceccil, uma fábrica de cimento para os lados do Cacuaco, lá, depois da Casa Branca e, um dia ele chegou a casa muito magoado. Parecia um morto-vivo cheio de barro, tinha ficado soterrado nas obras dessa cimenteira e eu vi nele, meu pai, um cristo descrucificado, soterrado. E, então, foi aí que me dei conta que a vida não é facil para alguns e, como eu estava nesse lote comecei a descodificar a vida de verdade.
Luandino Vieira ajudou-me a recordar o quanto para mim, um branco de segunda, um militar de segunda, um politico de segunda, um merdas no contexto geral. Nunca alcancei a Terça-Feira da vida, mas nunca invejei os meus adjacentados e adjectivados amigos. Finalmente alcancei uma bosta de reforma , condiz,... uma reforma de branco de segunda.
Em 1961, aconteceram coisas de revolução e eu, candengue, não entendia que estava a nascer uma terra livre, muitas prisões e, só mais tarde, adulto é que vim a saber que Luandino fora preso.
Mas, naqueles dias os monas amigos só pensavam mesmo na brincadeira, na caça dos Rabos-de-Junco e os sardões das barrocas do bairro Alvalade. Vuzumunavamos o dia todo.
Porque tenho de relembrar o Luandino, aleatóriamente e expressamente para vós reli o extrato:
Passou então aquela grande confusâo do Zeca Burnéu, dia que roubou ainda os versos daquele mulato sapateiro, o Silva Xalado, e adiantou-lhe fazer pouco na frente de todos. Essa malandragem o pai dele gabava-lhe sempre, mas daí mesmo é que a familia Bento Abano começou se afastar, não vinha mais na porta para suinguilar e adiantaram lamentar nos vizinhos, falando não estava certo essas brincadeiras desrespeitar as pessoas, um coitado sem pai nem mãe, vejam só, feito pouco por um miúdo!”
Tunica, era uma cantora lá do bairro, ganhou fama e foi para o Puto. Ganhou essa alcunha por parte do escritor mas, voltando ao início do livro relembro:
“Alcunha, quando a gente tem, tem por alguma razão. Essa verdade defendia-lhe sempre que a sorte me juntava com Zeca Burnéu e Carmindinha(...),Tunica não estava mais nessas reuniões, a vida tinha-lhe levado na Europa, com seu jeito de cantar rumbas e sambas. Menina-perdida mesmo (...), a vida é quando e não são só as nossas palavras que chegam para lhes mudar,...”
Nunca mais tornei a ouvir os assobios-de-bairro, para juntar os monas e, nem nunca mais comi bolinhos de funge com dendê, nem peixe seco, nem mesmo o peixe frito da Dona Zéfinha das obras eternas dos Almeida das Vacas.
Depois da leitura de “O Nosso Musseque” as coisas leprosas doutros tempos adquiriram de súbito um encanto retraído, colorido de insólitas buzinadelas à mistura com latidos de cães. Depois, um silêncio eléctrico alisando a alma, a gravata inexistente. Coisas difusas entre nuvens de perfume, um Camões cantando às ninfas do Tejo lodoso com flamingos a gargarejar minudências duma água salobra.
O que é que Camões tem a ver com esta inusitada crónica?
As saudades daquele branco de segunda só são contadas no d´jango do meu Kimbo, sempre que, e enquanto posso.
CONHECER O BRASIL
Património Histórico Nacional desde 2006
Tive o prazer de conhecer esta cidade naquele ano de 2006 e achei-a com um potêncial turístico comparado ao de Olinda do Recife em Pernambuco mas, estava então muito abandonada, diria mesmo desprezada.
De novo e, neste ano de 2009, depois de pintarem as fachadas duma grande parte dos edifícios para as cenas do filme “O Bem Amado de Odorico Paraguaçu”, vale a pena rever a nova cara, mais limpa e com algumas visiveis alterações no seu casco histórico.
Esta cidade foi o berço do Proclamador da República e desde os tempos passados ao presente todos os visitantes recordam a peculiar hospitalidade de suas gentes.
Banhada pelo ecosistema lagunar de Mundaú e Manguaba, tem nesse belo espelho de água a foto cartaz do seu natural anfiteatro. O caserio multicolor espalha-se subindo a colina em armoniosa disposição, sobresaindo a Igreja Matriz lá no seu topo, lugar nobre. Foi a escolha preferida por ter maior segurança para refúgio dos piratas do século XVII e XVIII, principalmente Francêses mas, também Holandêses no tempo
1º Presidente da Républica Brasileira
Marechal Deodoro foi fundada no início do século XVII no então sítio de Taperaguá. O convento do Carmo, o Complexo Franciscano com seu museu de arte sacra e a casa de Cãmara e Cadeia, são lugares a visitar. A Igreja Matriz de Nossa senhora da Conceição é o postal arquitectónico mais conhecido, no entanto, a igreja da nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos merecem ser observadas. Há em todo este panorama a vivência dum longo tempo de escravatura, engenhos de açucar e a misceginação que deu fruto ao actual mameluco, matuto, pardos, negros e brancos. Existe um perfil humano em que o olho azul e verde predominam, mesmo em gente escura.
Marechal Deodoro tem quatro bandas filarmónicas, destacando-se no panorama regional pela sua musicalidade em áreas de formação, recreação e eventos populares de índole religiosa e folclórica.
Tive oportunidade de verificar isto nas festividades da Cidade a quinze de Novembro, o seu feriado Municipal. O Nelson da Rabeca e banda de pífaros são a figura e agremiação carismática que perdurou na memória das pessoas desta cidade. No mês de Fevereiro pode ver-se num programa de TV-Globo um hábil tocador de panelas como se de um chilofone de marimbas se tratasse; isto demonstra o quanto há de ouvido apurado para as artes de música, nesta cidade património cultural.
Na Massagueira e na Ilha de Santa Rita, a maior ilha lacustre do Brasil pode o visitante maravilhar-se com o paraíso Tropical e fazer prova dos melhores pratos de frutos do Mar. Fica aqui o maior polo de interesse gastronómico tendo o céu como tecto ou, uma aprazivel e frondosa árvore de amendoeira. Não deixe de provar o sirí e seu caldinho afrodiziaco.
Os canais que interligam as lagoas de Mundaú e Manguaba ainda tem muito para ser explorado pelos novos gestores de Turismo da Prefeitura. E, aquela magestosa praia que une em nove quilómetros a Praia do Francês e a Barra de São Miguel, merece um calçadão com postos de vigilância e equipamentos de apoio. O tempo pode esperar, o turista anda mais rápido nos seus anseios.
Tudo indica que os novos acessores da prefeitura trabalham para uma verdadeira perfeitura.
O soba T´chingange
DO ANTÓNIO LOBO ANTUNES
Loja de lembranças obtusas.
Os artigos desta loja não estão à venda, são conversas velhas. Oferecem-se!
É uma entrecortada estória de militares regressados das colónias e falam aos soluços de coisas passadas e pensadas entre o ontem e o amanhã, num e outro lado do império colonial. O relator que muito admiro, de nome Antunes, salta do dorso de um cavalo para o painel dum transatlântico voador, uma nave interstelar que raspa as nuvens com arrepios chiados dum metal frio do antárquico profundo. Mudando mobilias,...Pópilas!
As conversas misturam-se com fraldas, amores, chulos, paneleiros e putas tendo sempre presente o senhor ilídio com uma bomba para a asma, sempre omnipresente.
As minudências descritivas arrepiam os pelos da púbis num desespero picuínhas e, sucedem-se os intervalos na leitura. Há que compreender o embrulho de rolos difusos e controlar a vontade para não lança-lo ao charco; o livro, claro!
O fado, é demasiado absorvente, impregnado de realidades, saudades e sonhos. Tudo junto, como um ramo de flores que contenta amores e bajula a alma dum qualquer defunto. O Bairro Alto de Lisboa aparece sempre, aqui e além, aliado ao Camões do Chiado e às sobre-vivências prósperas de Lisboa. Vamos acompanhar o Ilídio no relato do autor:
“Ilídio com a sua bomba para a asma esquecida na mão, contempla a sua flor com ferozes olhinhos derrotado, uma saia, um casaco de malha, um corpo vagamente familiar, vagamente íntimo. A Arlete?... pensou, mas esta era mais alta e mais forte do que a Arlete, mais mal vestida também. A Arlete não, contornos de um rosto que a claridade excessiva dissolvia, ombros roídos pela luz, um cacho de formas minúsculas agitando-se
Continua!
“Não conheço um preto que não seja um sacana rematado”, avisou o Alferes. Meto os tomates num cepo em como se amigou com uma fedúncia ranhosa num desses bairros de lata de franja de Lisboa. Cabanas de madeira e de zinco om pedras e pneus usados no telhado, lama, um fedor espesso de porcaria, de comida azeda e de excrementos, negras idosas, de cachimbos nas gengiva, atiçando fogareiros de barro, cortininhas de plástico, lamparinas no meio de caixotes e panelas: - Andei quase uma semana (...) à procura do tipo em Alcântara, em Benfica, na Amadora, no Casal Ventoso, em Algés, esmagando cagalhões com as solas, tropeçando em calhaus, afundando-nos cada vez mais num labirinto concêntrico de lixo e construções precárias, habitado de berros, de latidos, de cachorros,...”
Com tal solidez absorvente de escrita e minúcia na descrição,... a cada três páginas à que respirar, tomar folgo para mais tarde prosseguir. É sem sombra de dúvidas a minha escolha para o futuro prémio Nobel da literatura. Tomara!
O Soba T´Chingange
E, um tal fabricante de arco-íris
Tive o prazer de conhecer este cidadão do mundo, Agualusa o escritor mentiroso profissional, em Lagoa do Algarve. Troquei umas palavras numa assembleia de leitores na biblioteca local. De empatia expontânea ia explicando a uma leitora de enamorada curiosidade a fala da osga, um romance curioso em que as lagartichas têm suspiros, grasnam e até parece que falam. A leitura fluída e absorvente dos romances de Agualusa fazem rir a um qualquer leitor; gracioso, envolve-nos em aventuras engraçadas.
De terra em terra dá-nos uma visão da globália com gesta lusa; ora no Brasil, ora no Puto, em Angola, Moçambique ou
Desta feita, dei de novo a volta por sítios conhecidos de Luanda até Benguela passando por Kanjala e, cruzando o Namibe e Calahári, relembrei Cape Town, a Costa do Ouro da África do Sul e Moçambique na antiga T´chilinguine, a nova Maputo.
“As mulheres do meu pai” já no final tem um encontro com um tal Moram que tinha no seu quintal artefactos curiosos e, é da seguinte forma:
“No Cazenga, enquanto nos despediamos de Arquimedes Moram, perguntei-lhe para que serviam as estranhas máquinas abandonadas no quintal.
- Sonhos - retorquira. - Velhos sonhos ferrugentos.
(...) Disse-me que havia inventado uma máquina capaz de produzir arco-íris. A referida máquina, assegurou-nos, tinha capacidade para produzir não apenas arco-íris normais mas também duplos e triplos, e até alguns invertidos ou enrolados nas pontas. A estes últimos deu o nome de «arco-íris perversos», (...)
Arquimedes Moram acreditava que a sua máquina poderia transformar-se num estraordinário divertimento público, superando inclusive o interesse pelos fogos de artifício. (...) Terminou o último protótipo quando lhe entrou pela casa um grupo de agentes da segurança de Esatado. Um vizinho denunciara-o. Segundo o vizinho, um cidadão americano, provável agente da CIA, vinha construindo no quintal estranhos aparelhos destinados a comunicar com o inimigo. Moram foi imediatamente algemado e conduzido à prisão de São Paulo (Luanda).”
Mandume entra nesta estória, ... Era um companheiro de viagem numa carro fantasma cujo pneu furou um pouco para lá da Kanjala; substituiram o ar com palha até chegar ao Bocoio, a caminho do Lobito. Coisa de desenrasca que só um Kaluanda tem no seu ADN. Comigo também sucedeu algo parecido em 2005 num carro completamente cego, sem travões atrás e, que só foi possivel ir até o Alto Liro no Lobito. Depois do camarada Bien pagar uma gasoza ao cipaio-polícia, autoridade cheio de banga no trage e prepotência na postura., lá seguimos para casa do amigo Amor de benguela.
Mas, a estória de Agualuza continua com Mandume a perguntar:
“- E as máquinas?(...) - Essas máquinas, realmente funcionam? Nunca pensou em recuperá-las?
Arquimedes Moram olhou-o enfastiado:
- Já vos disse, também os sonhos não resistem à ferrugem. Entretanto envelheci. Compreendi o óbvio. A verdadeira beleza não se pode aprisionar, não se repete, e não se prevê. Um arco-íris será belo enquanto permanecer indomável.”
Esta máquina foi vendida posteriormente a um Açoreano morador na Vila de Água de Pau. Soube que a pintou num amarelo fosforecente. Tive oportunidade de vêr um fantástico arco-íris saído do quintal de Aristides em círculo até morrer no mar; foi o fenómeno mais fantástico daquelas festas Juninas.
Não sei se registaram a patente ou se continua um invento pirata!
Um admirador do Agualuza desde União dos Palmares, Alagoas, Brasil
O Soba T´Chingange
O CARNAVAL DE ANGOLA
Foram os Portuguêses que introduziram o carnaval em Angola
Os primeiros esboços de fulia de entrudo foram introduzidos paulatinamente no reino do Kongo logo a partir dos primeiros contactos dos Portuguêses com gente da bacia do grande rio N´Zaire. As primeiras gentes a seguir este tipo de manifestação foram os N´Zombo da margem sul do N´Zaire e, os N´Zaus do lado Norte do mesmo rio, os agora chamados de Cabinda, os Lândanas e Inbindas de então . Mais tarde os N´Zeto do Songo e Solongo, mais a sul do reino de Manikongo também aderiram a este brincar de vida.
Na expanção mercantil dos vários entrepostos comerciais, e mais para sul, os Tugas, simultâneamente, transportaram pela costa mais a sul do actual Ambriz estes costumes ao reino de N´Dongo, (nome das primeiras canoas e gentes) aquele que veio a ser conhecido por N´gola e depois de Angola.
Os naturais da ilha das cabras ou os Muxiloandas da ilha Mazenga, actual ilha de Luanda, fizeram desta manifestação uma diversão aliada a uma dança conhecida por bassula, esquindiva ou finta. Com enfeites de fitas e ramos emitavam os novos seres de tês branca, os N´Dele ou T´chindele de chapeus e armaduras
Os Muxiluandas deram o nome de Muala àquela dança já com alguma coreografia e num ritmo de pré-merengue. O semba apareceu a partir da dança Kazukuta, num lugar conhecido por Samba; o próprio Soba Samba aliado a Manhanga (Maianga) deram ao longo dos anos vivacidade a tal manifestação de folguedos.
Aquelas manifestações, a partir de 1800 já tinham grandes momentos de recreação e coreografia. Muito próximo do fim do século XIX, surgiram muceques com nomes de Kamama, Kapiri e Mulenwo que em manifestações de óbito, faziam apelo ao espírito Kiruwala exibindo gestos de quase recreação que os Muxiloandas ou Axiluandas usavam para demonstrar fraternidade e apoio social.
Mas, diz-nos a história, que foi em Itália que surgiram as primeiras manifestações carnavalescas. Tudo começou com os bacanais e festas Saturnais na Roma antiga, eram banquetes crapulosos com orgias e libertinagem em honra a Baco o Deus do vinho, o nectar do Sol, filho de Júpiter e de Sémele de Cadmo. A quinze de Fevereiro, todos os anos e em homenagem a Luperco, se celebrava grande festa em homenagem àquele Deus. Este Deus Luperco, foi um tal que matou a loba que amamentava Rómulo e Remo.
Saturno também era festejado naquelas festas que ficaram conhecidas por Festas Saturnais. Digamos, que era algo semelhante com as festas juninas de hoje.
Voltando a Angola e, a partir dos anos trinta do século XX, os moradores da Ilha vinham de canoa até à Marginal a que se veio a chamar de Paulo Dias de Novais, e imitavam os marinheiros portugueses com suas fardas imaculadamente brancas, espadas, divisas amarelas e chapeus a condizer. Faziam a folia regada com T´chissângua e vinho do Puto que os N´Gwetas traziam da matrópole; eram tempos de folguedos que os N´Gwetas davam aos seus trabalhadores, quitandeiras e lavadeiras para se esponjarem nas areias da Marginal. Os colonos roçeiros, fubeiros ou funcionários, riam e, à sucapa e, no fundo dos quintais de suas quintas ou casas iam fazendo farras de arrebenta merengue por debaixo de uma mulembeira, amendoeira, tamarindo ou até imbondeiro; era uma altura prória para as donzelas N´dele, crioulas e mocambas se conhecerem, falarem das coisas de literatura e não sei mais de quê, sempre na alçada duma criada mais confiável ou da Dona Lufrásia vizinha de longa data.
A metiçagem cresceu, quente como o clima e fêz desta manifestação de entrudo uma coisa cheia de mística, purgatório e inferno. Após toda essa folia vinham as confissões ao senhor Cónego do São José do Colony, um qualquer padre ou à Mariazinha que já estava prenha à uns três meses. As orgias de carnaval davam e dão nisto, vinho, cachaça, cat´chipemba, marufo e zangas entre farfalhos descarados com ciúmes descontrolados, tiros e um deus nos acuda, hospital. Excrecências que os futurólogos estudarão em vaticinios cataclismosos cheio de angustias com fim do mundo.
As manifestações de Saturno e Baco iam proliferando a partir dos muceques, Sambizanga, Prenda, Catambor, Bairro Operário, são Paulo, Kaputo da Terra Nova, Kazenga, Rangel e os já falados pescadores da Ilha, os Muxiloandas. Os Kaluandas, sempre prontos para a farra, mais os curiosos do Kifangondo, Cacuaco, Katete, Barra do kwanza,Belas, Maculussu, Praia-do Bispo e Bungo.
O 1961, chegou a um dia quatro de Fevereiro e, as autoridades coloniais suspenderam todas as manifestações de rua. Timidamente no fundo dos quintais e quase em surdina iam fazendo as farras na Samba, Coqueiros, Barirro do Café, Vila Alice, Quinaxixe e Maianga; eram resquícios das festas Juninas em homenagem aos santos populares que brancos e filhos crioulos faziam com regulamentos, letra e música e um prémio do Município de Luanda.
Após o ano se 1961, não obstante as autoridades proibirem manifestações de folia, registaram-se tentativas de desobediência
Foi o inicio da luta armada, a revolta dos perseguidos em tempos de “qwata-qwata” e, eis que em 1965 o Centro de Informação e Turismo de Angola (CITA), regulamenta conjuntamente com a Câmara Municipal os blocos de participantes idos do suburbio para alegrar as gentes na Avenida Marginal.
Já não havia areia, já existia o Banco de Angola, Cais de pesca e muitas palmeiras imperiais enfeitando um largo passeio ladrilhado e asfaltado desde a fortaleza de São Miguel no Baleizão e o porto de mar do Bungo com sua praça imperial e a estátua do Navegador Paulo Dias de Novais (esta estátua deveria voltar ao seu sítio)
Os blocos desfilavam em corso, mascarados, com latas pintadas, apitos, vestes coloridas a emitar reis do Puto distante e muitas espadas, lanças, escudos e coroas; naquele dia toda a gente era rei,... Quem o quizesse ser!
Os reinos de N´gola e Kongo estavam sempre representados.
A cidade do Lobito aderiu às festividades e na ilha da Restinga o corso passava despejando quilos e quilos de fuba para tornar todos brancos e atrás, uma agulheta de água consolidava a máscara branca com figuras de sinistra aparência. Naquele dia eram todos brancos e Zumbis.
As festas de salão faziam-se um pouco por todo o lado com a eleição de “miss” qualquer coisa com Nelsom Ned a acompanhar. Mais tarde surgem os N´gola Ritmos, Os Cunhas, os Rok´s e os Duo Ouro Negro. Seguiram-se-lhe o Lubango, Benguela das acácias rubras, Huambo, Sumbe e tantas outras localidades até que surgiu um Vinte-cinco-de-abril comandado por uns quantos oficiais superiores das Forças armadas do Puto; uns generais de aviário que discutiram tanto que só fizeram merda e que deixou todos em cuecas, pendurados numa Penina e Alvor do Puto.
Os irmãos começaram em luta e o Carnaval foi ao toque de mona-caxitos, tanque se guerra, “Kalaxenikoves” Urais e Antonoves e celulares mortiferos a detruir a paz que se sentia em desejo.
Bonga cantava o regreço, os militares fugiam em desespero, os acantonados morriam de fome e, só em 2005 voltou a tão desejada tranquilidade. Um refazer de vidas, retornar às origens, esquecer ódios e perdurar o parto doloroso duma nação, Angola.
E, apareceu o Kuduro do Dog Murras, vindo fugido de malange; indignado intervem com cantigas do “Kontra-tudo”, dos meninos de rua e coisas podres que os mais velhos que mandam, teimam em não querer ver.
E, inverteu-se o racismo com os mistos a comandar os tambores do mando. Carregados de faktor P ( Poder, Prepotência e Protagonismo).
Luanda não tinha então um milhão. Agora tem quase seis milhões. A vontade de victória aliada à cobiça de governantes continua forte. Eles curtem o Mussulo! Parece até que Angola, é só mesmo o Mussulo.
A história vai permanecer quietinha à espera que regenerem a todos os que a amam e, mesmo num exílio longinquo não a esquecem. Quem bebe água do Bengo, um dia volta, e, quer sejam estoriadores, governantes ou pastores têm de proporcionar o renascer da terra de maior feitiço,... O Kazumbi sempre inigmático.
Desde o Zumbi dos Palmares,...
O Soba T´chingange
A CHÁCARA PARAISO DA DONA ROSA
O Adão e Eva num passado anterior ao Jurássico
Foi na Massagueira, um sítio que naquele tempo era mar. A Massagueira de então era numa costa distante e só tinha bichos ossudos que grunhiam. Ainda não havia mapas do mundo. Localizou-se muito mais tarde, uns rabiscos dum tal Vespúcio e porque a sua assinatura tinha o primeiro nome de Américo, o nome que indevidamente ficou, foi esse, o de América. Isto claro, foi triliões de anos após a criação do Paraíso a que devido a um pau de Ipé-rocho e umas criaturas pintadas de vermelho se veio a chamar de Brasil. Eram, pois os homens que se procuravam, das Índias, a terra muito para lá de tudo. Terras descritas por Prestes João de gente desnuda e comedora de carne humana.
Mas voltando á Massagueira pré-antiga das iguanas com escamas.
Havia um dinossauro misto de jacaré com elefante que até tinha asas; era tão completo, que também tinha barbatanas. Nadava, voava, corria e rastejava. Era um multifuncional animal que até trepava a árvores gigantes a recolher bolas de fruta pão do tamanho de um homem redondo, coisa nunca vista nos dias de hoje e até muito dificil de imaginar e acreditar.
Este dinossauro estinguiu-se no correr de milénios até que surgiram umas medusas dum mangue que então começou a surgir e, as ditas coisas gelatinosas foram com o tempo tornando-se naquilo a que hoje se chama gente. Porque se não sabe bem o acontecido, deram-lhe o nome de Paraíso.
Havia cobras sábias, um grande pomar de maças gulosamente vermelhas, muita vegetação e, diz a estória pré-antiga, por descobertas em escavaçóes e sondagens até às profundezas de um linear quilómetro de profundidade, que as ditas figuras germinavam-se fundindo umas membranas. Esta dita coisa passou a ter pernas, olhos e orgãos sexuais diferentes.
Num dia de queda de muitos meteoritos, um mistério indecifrado a que os mitólogos chamaram de primavera terrena, um Ele e uma Ela esconderam-se numa gruta medonha da serra do mar daquele esboço de América, Eram o Adão e a Eva.
Ele e Ela, sós num escandaloso verde, espicaçaram-se juntos em sentimentos nunca até ali sentidos e, após muitos grunhidos, apertos de intuição expontânea consumaram o instinto. Num farfalho fogoso, viu a etrela polar e o cruzeiro do Sul a cair no sítio da Chácara Paraíso (consumiram o instinto); chamaram a isto o pecado original, como um entendimento dos Zeus, e seus guardiões, uns cachorros de muitas cabeças.
Estudados astrólogos dum antigo crescente fértil e, posteriores descrições épicas de Homero da Eneida e Vergilio de Ulices escreveram mais ou menos assim: - Ele, o Adão, viu a aurora boreal, estrelas cadentes e um arco iris a caír também naquele mesmo sítio da Chácara da Dona Rosa. O primeiro par do Mundo, viram umas cobrinhas voando para o pomar,... seguiram-nas curiosos e a tentação, um nunca sentido olfacto de sensual perlim-pim-pim,... sucedeu! Adão comeu aquele fruto que não se sabe o porquê, nem por quêm, era proibido nesse então. E, chamaram a isso o pecado original.
Este mistério, é isso mesmo, um mistério que tentamos entender.
A maça ficou no pescoço de Adão, por castigo dizem os teólogos fundamentalistas; esse caroço que nós conhecemos como a maçã-de-Adão, uma coisa quase igual ao gogo do coqueiro que se enamorou duma sereia.
Não vale a pena entender. É o paraíso!
Esta estória de tão verdadeira até parece mentira mas, para recordar esse paraíso de triliões de anos passados, eis que numa chácara surgem ossadas pré estóricas e na sequência do fenómeno de Nossa Senhora da Aparecida, na euforia paleontológica de paus carunchosos, decidiram considerar esta com uma área de reserva integral, ecológica, hidrica e paisagistica no lago de Manguaba da pilómbeta e das raposas.
As raposas são de muito recenta data, surgiram vindas da serra do mar, dizimaramm uns quantos patos (grátis) verdadeiros da Dona Rosa e da Chácara. Uma perícia recente de gente entendida, revela que as raposas só procederam assim porque foram defraudadas ao tentar deglutir uns quantos coelhinhs brancos que se engordavam naquela erva viçosa (eram a fingir, em betão). Enganadas com os falsos coelhos foram-se aos patos com fúria e raiva detravada. Elas, as raposas ladinas, astutas e não sei que mais de agilidades, prometeram voltar. Até deixaram um bilhete escrito, meio oração à N. S.ª da Aparecida e a outra metade, com um simples dizer: - Se Você, Dona Rosa, não as come (referiam-se a patas), comê-las-emos nós.
Liberdade quanto baste para bichos larápios aprendizes de gente perfeita na arte de furtar o que é dos outros. Descarados bichos.
Estava quebrado o encanto dum lugar tão mágico. Para completar a estória, pensa-se que uns lobões feitos gente de nomes bem romanos,... Os Antónios e um tal Túlio, ali irão terminar a estória da avózinha e do capuchinho vermelho.
Os lobos vão entrar na estória. Estes déspotas, irão pôr os anões de cócoras e enforcar aquele vira-lata do perna-longa que desafia a astúcia dum qualquer predador.
O SONHO DA DONA ROSA
Massagueira, 15 de fevereiro de 2009.
A nove dias de distância temporal do Carnaval.
Por entre coqueiros, a brisa da Barra da ilha de Santa Rita, trazia o batuque repenicado de intermetências fortes dum bloco popular carcavalesco-farrista em ensaio. A lagoa Massagueira dava magestade àquele sítio da Dona Rosa cheio de luzernas por entre sombras remechendo permanentemente. Um hino divino à vida jorrando juventude desde um lindo ano de mil novecentos e quarenta e quatro, do passado século. Dando nobreza ao justo nome de Paraíso, os sons difusos de puítas, reco-recos, berimbau e a percussão de muitos tambores trespassavam a paisagem, a toalha d´agua da lagoa, e a sércia do cercano infínito escandalosamente verde. Enfim, um lugár mágico que se quer reter para sempre num repente de vida, sem rugas. Havia avózinhas, anões pastando caracois e só faltou o lobo mau para completar a ficção do capuchinho vermelho. O perna-longa, estáctico, roendo uma cenoura de rijo betão, guardava os coelhinhos brancos que incansávelmente devoravam a grama por debaixo das frondosas mangueiras. Os sete anões saltitavam feitos sombra entre bromélias penduradas em pés de coqueiros desfalecidos; retocavam de vermelho a matiz do arco-íris que envolve o sítio da Dona Rosa, lugar de maior distinção do que um tal do pica-pau amarelo.
Prometi dar-lhe um retrato falado remechendo recentes lembranças e permanentes quereres de amor.
O senhor António primeiro, manteve-se sentado que nem um Calígula, um tal de imperador romano que por diversão mandou incendiar Roma. Refulgindo sapiência de ancestrais patricios romanos e destreza de rudes calabrezes, com astúcia pensada de um ceciliano, transbordava empatia com uns óculos escuros no seu frontespício segurando as orelhas. Atento à assembleia como se de um sinédrio se tratasse, visionava os demais. A nobreza carregava-lhe o corpo com distinta postura e olhar sincero. Dona Maria sua distinta esposa, dáva-lhe a atenção em presurosos carinhos de corações de galináceo de capoeira, um tira gosto que ele muito aprecia, coisa linda esta ternura dos mais de sessenta e,... não parece.
Dom António Segundo, com seus artefactos, zingarelhos, espetos metálicos, estralhos ponteagudos, facas ousadas de grande afiadura e uma curiosa gamela de dar sal à carne meche-se com destreza na arte canibalesca de desgustar picanha com todos os requintes de malvadez. Em questão de apetrechos cortantes, parecia o o Lampião, não desfazendo, claro. Não fosse a sua prestimosa colaboração, o espalhar de brasas, atiçar o lume, embrandecê-lo com borrifador e espetar linguiça usando técnologia de ponta e, nós os mortais terrenos, ficariamos seguramente com fome. Esta esforçada tarefa de solidariedade com uma assembleia atentamente distraida, teve o encanto da maior altivêz.
A picanha estava divina, a linguiça estava guloza, os corações e patas de pinto foram para o ex-zelador das contas públicas(Sérvio Tulio), proibido de beber cerveja com álcool. Há médicos que levam os pacientes a respeitarem o perigo e sanar abusos. Chás e caldos de galinha não fazem mal a ninguêm.
Na azáfama do «bota aqui», «cuidado que pode caír coco» e «mais uma manga que bate no solo», a bringela de vinagrete foi desaparecendo. O pão de alho acompanhava as iguarias e eis que alguém fáz reparo no bacalhau gostozo da Dona Emilia. Esta senhora, aproveitou falar das virtudes dos costumes, do bacahau verdadeiro que se divide em lascas, da Terra Nova ou duma tal de Gronelândia que por sinal foi um Português que descobriu, um tal de Corte Real a quem, por esse feito, foi dada a capitânia de Angra do Heroismo nos Açores. E, a conversa deriva para tantas outras paragens com gostos por descobrir.
Toda a gente prova do tal bacalhau da Gronelândia, o gustoso leite de creme, os rissois de camarão e, de prova em prova a tarde ia caíndo no crepúsculo; nem tivemos tempo de apreciar aquele mais fantástio pô-de-sol da Lagoa Manguaba. Esta agitação de vida entrecortada por ditos banais e linguajares menos habituais, crianças que brincam, cheiros bons que trespassm narizes, uma música carnavalesca que passa grátis num ambulante discoteca de altos decibeis e, a beira da lagoa lançando laivos de brilho num fim de tarde. Brilho, fazendo um fintado através dos pés de Jambo, coqueiros e cajueiros num perfeito quadro de feliz convívio. Gente muito diversa e dedicada ao próximo sem um suspiro, ou um ai- jesus fora do contexto.
O relator desta crónica, o António Terceiro, gente remota de submisso e humilde querer foi obsequiado com dois cafés da melhos safra. Dona Rosa presenteou-o com simpatia num ligeiro e prazenteiro gesto de vai-e-vem entre a casa grande e a rústica mesa inamovivel daquele fundo de quintal. Eu, o Dom António Terceiro, senhor vindo da terra do Nada na busca permanente da terra do Nunca, não era o Soba T´hingange do quilombo habitual mas, o Peter Pan sem galinhas de Angola, nem Kimbo para zelar. Este Dom António tinha decidido, e assim foi, a Dona Maria teria de relembrar o sucedido num certo velório com a Dona Rosa. Porque achei espectacular, voltei à carga e espevitei de novo saborear a cena de então. Descrição própria a não ficar perdida dos anais da estória da quinta (uma parceria semi-aberta com a Torre do Zombo).
Dona Rosa e Maria foram a um velório dum defuntado marido de uma comum amiga. Tal pessoa defuntada destratava a esposa, era um "cara" de torcidos preconceitos, daqueles de bater por querer muito, exagerava nessa oblíquas gentilezas e descuidava-se plenamente no trato da família; em verdade já não lhes fazia nenhuma falta porque a canhaça, desfez o núcleo de família feliz, em suma era um traste. O álcool roia-lhe o cérebro ao ponto de que seria uma benção, acontecer o sucedido àquela maltratada e malamada senhora.
Eis que, entre silêncio pigarreado de velhices, alguém por encomenda ou não, (não se averiguou tal) fala em assembleia das virtudos do morto. Passou num repente, a ser um bom marido, bom pai, bom cidadão, uma coisa inaudita p´ra quem roia já um desamor de próximidade. Dona Rosa levantou-se e diz para a amiga do peito Dona Maria: - Vamos embora, estamos no velório errado, este não é o morto que conheço!
Dona Maria, ao vivo, humildemente e naquela Chácara Paraiso, ligeiramente enrrubecida confirma o ocorrido. Que vergonha que eu senti naquele momento e,... ri-se, ri-se,... ri-se deslocando sua simpática figura para a casa mãe levando uma remessa de pratos sujos.
Eu, prometi que escreveria isto porque foi maravilhosa ntal descrição por parte de Dona Rosa. Fiquei a saber que houve uma segunda versão “o defunto errado” quando na missa por alma do traste, o padre o enalteceu com as mesmas mentiras. Outra vez Dona Rosa teve de abandonar a sala pois de novo estava no morto desconhacido. Dona Maria, de novo passou por uma vergonha ainda não sentida antes mas, confirma a corpo inteiro e pés juntos (jura) ser verdadeiro tal caso. Ele era mesmo um traste!
Este mórbido retrato tem a humilde finalidade de lembrar o quanto é bom falar de coisas banais, sem banalizar e, rir a bandeiras despregadas. Estas são as tertúlias em que me dá prazer estar, isto, numa atmosfera reinante de cheiros, sabores e cantorias de pássaros bem-te-vi e outros indefinidos sabiás daquele magestoso sítio. Gente comum como eu, ali, enobrece-se de fina e estirpe linhagem.
Aquela Chácara Paraíso foi lavrada em Cartório Régio, no longínquo ano de 1810, sobre o manto protector de Dom João VI, o tal rei, que gostava de coxinhas de galinha, como nós gente comum. Dona Rosa não entra nesta mística de faz-de-conta de nobreza. Ela, seguramente a verdadeira condeza de Arganil, é a mais nobre que alguma vêz a Massagueira já teve.
Saí daquele sítio tão feliz que a galardoei, ela, a Dona Rosa, com a “Palma d´Ouro”.
Estivesse eu, em plenos poderes do meu reino de Manikongo e, dar-lhe-ia a “Catana D´ourada”; a tal ínsígnia que só se dá a gente de importância.
Os três Dom Antónios ficaram nesta foto, salvaguadados dos puladores cocos dos altos coqueiros. Como foi bonito passearmos em tertúlia pela Guarda, a cidade medieval do três Efes, pelo Algarve, pela Itália e Calábria e, ainda terras D´álem-mar de Angola com o soba ao dispôr, sempre
T´chingange
O cão Lukapa do pepetela, um polícia à paisana, estava lá
Era em 1980. Correu um mugimbo de que havia bacalhau no supermercado Martal. As qUitandeiras mandaram seus kandengues marcar lugar na bicha para o outro dia. Aida não era meia noit, marcaram bicha com pedras, tijolos, latas e coisas mais indefinidas. No dobrar da esquina ficava o jardim e colégio do Dom João das Regras aonde eu, estudei. Lembro-me de quando ia para o Catambor, perto da mulembeira das celestes, havia um pau de maçã da india sempre carregado. Eu e os outros kambas vuzumunavamos umas pedras e enchiamos os bolsos, mas,... esta é uma outra estória. que não cabe aqui. Pepetela é Pepetela e não posso misturar as coisas.
Aquela bicha da sobrevivência do Martal, não tinha regras. Eu, morava ali mesmo junto do Almeida das Vacas, na ilha da serração junto do rio seco; mais acima subindo a António Barroso a caminho do Choupal e, mesmo no começo do bairro chique do Alvalade ficavam os armazéns do Martins e Almeida conhecidos por Martal. Foram tugas que ficaram a importar contentores de mercadoria. É aqui que surge a confusão descrita por Pepetela, um senhor revolucionário do glorioso Eme:
“ o lugar estava marcado mas os primeiros que chegaram às 5 (cinco) da manhã desconsideraram as pedras e tijolos na função deles e ficaram já junto da porta, com os pés empurravam as pedras para trás. (...), as mulheres donas das pedras-de-marcar lugar apareceram a reclamar que tinham sido enxotadas para trás.(...) Quando as portas iam abrir, um cão de raça pastor-alemão (polícia à paisana) que por ali passava, também se meteu na bicha. Todos são unãnimes em declarar ao agente Dias, o Olho Duro, (de serviço na área) que o cão não tomou atitudes hostis, «eu é que cheguei primeiro», « já não se respeita a lei da bicha», etc., etc., os ãnimos estavam exaltados.
Ao cheirar uma das mulheres que se sentia prejudicada, o cão recebeu um pontapé e um enxotanço. (...) Então começou a pancadaria, (um fuzué do caraças) pois a lesada (segundo suas próprias declarações) agrediu um homem que antes estava mesmo atrás dela. O homem respondeu à violência, as mulheres envolveram-se e aí estava a maka.
(...)
O Camarada inspector, (chefe do agente olho Vivo) concluiu no relatório:
1- è mau o sistema das pedras ou tijolos (para marcar lugar) que nunca ficam devidamente identificados.
2- O culpado é a especulação (...) que faz as mamãs comprarem o bacalhau para depois o revender à dona de casa do Alvalade.
3- (...,não interessa mencionar. È do foro interno e íntimo)
4- O cão Lukapa não teve culpa. Parece mesmo ser o único «inocente» provado. Mesmo que fosse o culposo, não foi detido e niguém mais o viu. (foi p´ra Mutamba de novo, na boleia do maximbombo 3 (três) da Maianga.
(...)
Luanda aos 27 de Abril de 1980. Ano do primeiro Congresso extraordinário do Partido e da criação da Assembleia do Povo.
Assina, o ilegivel inspector, mais o agente Dias (Olho Vivo).
Afinal aquele mugimbo era verdadeiro; Não havia bacalhau, o contentor desapareceu, evaporou do porto de Luanda. Foram tempos quase assim de verdadeiros, o cão continua fazendo das suas e porque roçou no 22 da José Maria Antunes, minha ex-casa, lembro de novo o malandro que continua procurando um dono provisório na Mutamba. È inaudito, este sacana, passou por mim nesta noite de insónia. Ia a fumar cigarrilhas “negrito caricoco” e sorria enquanto botava fumaça aos rolinhos como fazem os indíos. Este filho da mãe é mesmo esperto, calçinas e Caluanda. Estas estórias de Pepetela de tão verdadeiras, parecem mesmo mentiras. Perguntem ao primo do Rente, o Tony Melo do Correio da Manhã do Puto, se não é assim
O Soba T´chingange
O pastor-alemão, Leão dos Mares fantasiou-se em outro personagem tomando o nome de Lukapa; continuava a ser polícia mas quiz jogar o carnaval em plena marginal da Lua.Segue uma passagem do cão e os caluandas de Pepetela a condizer com a epoca festiva: “ – Carnaval é alegria, é cor, é ritmo, é riso. Não é isso que têm? O cão está a pôr no Carnaval a alegria que os grupos mataram nele. (...) O povo aplaudia e o pastor-alemão parecia era uma estrela de futebol a capiar e o público a fazer viem-viem-viem. (...) O cão estragava-lhes logo a disciplina e o aprumo, e o povo mais gozava.(...) Até que apareceu o grupo União Kianda da Corimba , pescadores dos mais pobremente trajados, um menino à frente, descalço, a comandar, nem rei nem rainha, muito menos enfermeiras, só homens com redes , panos na cabeça e mulheres com quindas de peixe. As puítas, as dicanzas, os kissanges, misturados aos búzios gigantes, criavam e recriavam o ritmo do mar. A canção falava da kianda, da jamanta, da calema, do oceano que é mãe, e daquela ilusão com cabelos de alga que só aparece uma vez na vida. O menino da frente viu o cão, interrompeu o passo, fez-lhe uma festa, convidou-o para a dança. O cão deu um salto, (fez umas finfias) o resto do grupo rodeou o pastor-alemão, não o enxotou, esqueceu o público, o júri, a tribuna, integrou o seu terrestre no se meio marítimo. E os latidos dele, ao ritmo do reco-reco, deram mais vida à música, truxeram sons de gaivotaa caçar. O grupo abria e fechava, lançando as redes, o cão dentro da rede a comandar a pescaria. (...) Foi assim que o União Kianda da Corimba ganhou o Carnaval daquele ano, pois o júri foi obrigado a confirmar o veredito popular.” Não fose aquele cão pastor-alemão tratado por Lukapa, e a União seria desclassificado, pois estavam sem uma verdadeira logística de coreografia e, nem tão pouco tinha uma uma canção que prestasse. Este Lukapa continua a ser visto na Mutamba. É um nato kamba político. É pepetela quem o afirma. O soba T´chingange
PAULO DIAS DE NOVAESfoto da Lua antiga
Este, é o nosso segundo personagem do romance “avulso”, um projecto que foi proposto pelo Soba T´chingange aos seus ilustres nobres do Kimbo. A falta de tempo é um argumento frágil mas é o recurso mais usado no Kimbo. Não fosse este particular e, não seriam nobres.
Paulo Dias Novaes, foi o chefe invasor que ficara prisioneiro juntamente com a missão de Jesuítas enviada pela Rainha Dona Catarina de Portugal. Foi prisioneiro do rei de N´dongo, N´gola Kiluanji kiassamba entre os anos de
Na ilha das cabras, viviam os muxiluandas, oficiais do reino de N´dongo que recolhiam os N´zimbos para transacionar como dinheiro. Um daqueles sete povoados ou sanzalas de então, era as Ingombotas, caserio que no correr do tempo foram armazéns depósito de de negros escravos enquanto esperavam embarque para esse mundo desconhecido de São Tomé, Ilha da Madeira, Cabo Verde, Brasil , costa do Caribe, Haiti e tantas outras terras aonde seria lançado o actual termo de globalidade. Maculussu era uma outra sanzala aonde habitavam os fieis macotas do reino de N´dongo ou N´gola como a partir de então começou a ser conhecido.
O rei de N´gola estava envolvido na revolta do soba Quiloango-Quiacongo. O Capitão Paulo Dias de Novaes aproveitando esse facto, ofereceu-se para desbaratar o soba. Pode assim e, de acordo com uma nova aliança, levar a efeito uma vingança de ferro e fogo. A vitoria das armas portuguesas sobre os rebelados, abriram caminho para melhor entendimento entre invasores e congolense e, uma longa trégua se seguiu daí por diante.
Portugueses já estabelecidos livremente no Kongo e em N´gola, que negociavam com sobas e régulos amparados e apoiados por estes, não viram com bons olhos a chegada do Governador Paulo Dias de Novas.
Paulo Dias Novaes, ambicioso e vingativo, com os olhos fixos nas lendárias minas de prata da Serra de Cambambe, invadiu o reino de N´gola espalhando terror o quanto baste entre os Ambundos e Ovibundos.
No ano de 1589 Paulo Dias de Novaes armou uma grande expedição ao Kongo para destruir a cidade de Baassa aonde residia o Rei do Kongo, porém a morte colheu-o em febres de paludismo.
E, eis que N´zinga Bandi, mulher culta, de rara beleza de espirito, e físico, surge inopinadamente na história para salvação de seu nobre povo de Matamba.
O cão de Pepetela e os Caluandas
Aquele cão era um pastor alemão, polícia do tempo pós colonial, proletário e anti-racista. Ao contrário dos cães de antigamente, daqueles que eram usados para apanhar turras feridos; aqueles cães comiam coelhos, mordiam a negros, rosnavam a mulatos e lambiam brancos.
Mas, este cão era um boavida. Levava dias a fio na Mutamba esperando reboque dum qualquer candidato, enchia a pança, durante uns dias era todo um cão a sério mas depois, misteriosamente desaparecia.
Aquele cão ”encontrou talvez em mim uma pessoa à altura para ele, alguém que se sabia fazer respeitar. Os cães são assim,conheço-os bem. Gostam de quem tem qualidade de chefe, de quem lhes dá segurança.(...) Só que, depois de uns dias, comecei a achar que o Leão dos Mares não parecia nada guarda. De dia brincava com os miúdos, à noite dormia. Nunca ladrava. Nem um gato passava pelo quintal à noite para o obrigar a ladrar? Não era isso, ele é que estava nas tintas . Os dias foram passando e eu a observar o bicho. Pacífico, simpático, brincalhão com as crianças. Tão amigo de todos que até deichava os monas da vizinhança virem roubar as mangas do meu quintal. Aí bravei. Já era demais. Comia a minha comida e não servia para nada. Amarrei-o com uma grande corda à mangueira. De dia ficava amarrado, à noite ficava solto. E carreguei-lhe no jindungo na comida do almoço. Na passagem lhe conto que tive que vuzumunar umas chapadas nuns miúdos que protestavam contra a prisão do cão. Pois é, esses kandengues de agora, com as porcarias que andam a aprender na escola e nas ruas, já refilam com os pais: que o povo tem o direito à palavra e eles são o povo. Veja lá! Na minha casa, não. Eu falo e o resto ouve. Quem tráz o dinheiro para casa? Quando eles ganharem o seu sustento e tiverem uma mulher em quem mandar e bater, então aceito que venham discutir comigo. Antes não, sou eu o chefe. Com este feitio enérgico é que subi na repartição, se fosse um mole, um pau-mandado, ainda hoje era escriturário-dactilógrafo de segunda, como na altura da independência. Zangulei pois uma porrada num dos miúdos para mostrar quem era o soba, o bando aquietou-se”.
Vale a pena acompanhar este cão que sempre passa pela Mutamba buscando boleia. Um tal Américo diz que ele, o cão tem masé um complezo de culpabilidade porque seria em tempos cão de guarda de colonos. Com a independência compreendeu que estava do lado errado. Agora exagera, tudo por causa do complexo de culpa. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
O Soba T´chingange
No reino de Manikongo
Apresentação dos principais personagens do romance Manikongo.
Diogo Cam foi o primeiro a contactar com este reino e daí, ter este previlégio, ser o primeiro do ainda projecto de história e romanse em fábrica de letras “avulso”.
Manikongo é um sub-estado do grande reino Bakongo. Este reino independente também conhecido por reino do Kongo, abrangia os territórios da Matamba e N´dongo posteriormente designado de N´gola e mais tarde por Angola.
Matamba ficava a norte do estuário do rio Congo ou Zaire e ia até ao vale do Cuango a sudoeste. A região de N´dongo, era quase toda a parte central de Angola de ambos os lados do rio Kwanza. Diogo Cam, apesar de ter sido o descobridor do rio Kwanza, só a 3 de Maio de 1560 é que Paulo Dias de Novaes assentou bases no intuito duma ocupação Lusa; submetendo os povos Bantos e, negociando-os como coisas ou peças, em verdade, os escravos que viriam a desenvolver o Brasil de hoge.
Este projecto passa por Palmeira dos Indíos e União dos Palmares, terras do Zumbi e, termina em São Paulo de Assunção de Loanda com os os retornados escravos de 1640 com Salvador Correia de Sá e Benevides.
Serão uns cento e cinquenta anos de geitos, trajeitos, falas e linguajares de muita inventação com a ajuda de N´zambi, o sempre deus dos Bantos.
Os Vanguardistas do Kimbo, O Soba T´chingange, O Rei Dom Grafanil I, o Cipaio-Mor N´dalatando, O Visconde do Mussulú e o Juis da Festa Jamba, Senhores da heráldica e brazão, donos da Catana, altos magistrados da Globália com assento permanente na Torre do Zombo, vão decerto dignificar este folhetim.
Nada surge sem trabalho. Fogo ao arcabuz!
Diogo Cam Nasceu na região de Vila Real em data desconhecida. D. João II enviou este a descobrir a costa aficana e principalmente chegar ao cabo da viragem dos mares a que se veio a chamar das tormentas ou Bojador; Logo na primeira viagem o rei foi induzido em erro e o entusiasmo fez crêr nas mentes que aquela passagem do rio que mais parecia um mar, seria o tal outro mar Índico e deste erro induzido, caiu em descredito.
As repercuções para Diogo, foram negativas pois que foi deichado sem pensão de sobrevivência tendo morrido em abandono.
As duas viágens a África foram feitas entre 1482 e 1486. Na primeira chegou à foz do Zaire tendo avançado até às quedas de Lebala que pensou que seria um outro rio a dezaguar naquele estuário (um outro suposto mar). Foi nesta viagem que tomou os primeiros contactos com princepes do reino de Manikongo de M´banza Kongo, capital do reino.
Em 1485, na segunda viágem ergueu um padrão em Cape Cross de Serra Parda, na Namibia, a fim de assinalar a presensa Portuguêsa naquela costa e, que é hoge conhecida como a costa dos esqueletos.
Em 1490, na sequência do primeiro contacto de Diogo Cam, é enviada uma expedição constituida por padres, monges, soldados, camponeses e vários profissionais na intenção de introduzir ali uma sociedade do tipo Luso.
O rei N´zinga-a.-N´kuvo é baptizado em 1509 com cerimónia a condizer, numa igreja alí construida a propósito. Foi, em África, o primeiro rei a ser cristianizado, tomando o nome de Dom Afonso I. O filho do rei N´zinga, com o nome cristão de Henrique, foi mandado para Portugal estudar as artes da magia da Cruz, tendo dali regressado em 1521 padre de estola com todos os rituais; Veio a ser o primeiro Bispo negro com diocese naquela mesma M´banza Kongo.
A envangelização, a reboque dos interesses dos Portuguêses e do monopólio comercial do reino, deram início ao tráfico negreiro sendo numa primeira fase enviados para São Tomé que com o correr dos tempos se tornou em parceria com Cabo Verde , os inerpostos comerciais de maior significado nesse então.
Aquelas operações de negócio, tinham a ajuda implícita dos Jezuitas, e Franciscanos. Era o início duma crua realidade em que homens, crianças e mulheres eram postos em porões de barcos nas piores condições de salubridade para outras paragens.
É neste roteiro, atravéz dos mares, o sertão e florestas, que vamos desenhar vivências daquele entâo.
O Soba T´chingange
Um certo oficial de transmissões
Estavamos em 1974, tempo de quando os militares começaram a ficar cançados de lutar; alguns contestatários passaram por Caxias, outros exploravam a guerra no seu melhor das colónias, o dinheirinho, outros só pensavam nas putas do B.O. Uma grande parte já se estava nas tintas para defender o colono; alguns estavam positivamente fora dos carretos.
Vale a pena lêr o FADO ALEXANDRINO para sentir o quanto isto é verdadeiro:
...(Abro o armário da roupa e um bando de gaivotas solta-se dos bolsos dos casacos, invade as paredes, desaparece de roldão, corredor fora a caminho da rua, vou ao quarto de banho onde o vento do equinóceo ruge nas torneiras, a louça do lavatório, do autoclismo, do bidé, centilam escamas de água à minha frente, e o quadro de espelhos, repleto de azulejos e das minhas órbitas enormes, adquiriu de súbito a incomensurável proximidade do horizonte. Deito-me e as molas oscilam brandas como um casco ancorado, com as lanternas da cabeceira a vogar sobre as ondas imóveis dos lençõis. Ainda bem que me prenderam, confessou ele à Dália, mostrando-lhe a cicatriz do máxilar partido, nem imaginas as lembranças agraváveis que touxe de Caxias)...
Este texto entre parentesis parece ser da autoria do T´chingange mas, não é! Está escrito na página 268 do Fado Alexandrino de Lobo Antunes.
Juro que não tiva nada a vêr com isto,...
O Soba T´chingange
BAKTUNS 10,11,12 E 13
Ultimo capitulo
A conquista espanhola por Cortês em 1519 d. C. veio encontrar a civilização Maia debilitada; a península do Iucatam estava com uma seca secular que levou os Maias terrenos Olmecas a sacrificarem jovens pedindo em troca desse sangue a chuva.
Organizavam encontros de futebol e a equipa perdedora era sacrificada ao deus da chuva; Os Toltecas ou Maias galácticos desaparecidos por volta do ano 830 d. C. não tinham este comportamento, foi um recurso de desespero dos Olmecas.
Nos sacrifícios em honra do deus Cac Mool os corações das crianças eram retirados ainda em vida com um punhal feito de obsidiana e, era depositado ainda quente no ventre do Chac Mool, o tal deus da chuva.
O que será esta nova era? (…) O fim do petróleo e início do hidrogénio, o dinheiro de plástico do crédito e débito!
No supérfluo tempo que me resta, tento relacionar-me com esse calendário Maia sabendo que o destino se sobrepõe ao querer; há um plano dimensional desconhecido.
Se é este o calendário cósmico, o Tzolkin Maia do mesmo deus N´zambi do povo banto, quero acreditar que tenho um guia que me faz viajar interiormente por onde o nada é tudo.
Para melhor compreensão no relacionamento dos 13 baktuns com o calendário Gregoriano seguem-se os tópicos principais que nos irão situar no espaço real dos acontecimentos conhecidos, cronologicamente a partir do ano 3113 Antes de Cristo:
- Baktun 10
Deu-se entre os anos 827 e 1221 d. Cristo
Em 1093 forma-se o Condado Portucalense por D. Henriques; em 1128 Afonso Henriques, filho do Conde D. Henriques com a ajuda dos templários de Santiago ganha a batalha de São Mamede que resulta depois de outras batalhas e conquistas na independência; no tratado de Samora em 1143 é concedida a independência a Portugal por D. Afonso VII, rei de Leão e Castela; de mencionar que o papa não confirmou tal, concedendo o título de “dux Portucalorum”.
- Baktum11
Deu-se entre os anos 1221 e 1615 d. Cristo
A 7 de Julho de 1494 é assinado o Tratado de Tordesilhas que divide o Mundo Novo entre Portugal e Espanha, em Roma o Papa Alexandre VII dispunha por Bulas as leis na Terra, chegada à Índia de Vasco da Gama, Cristóvão Colombo descobre a América em 1492, Fernão de Magalhães, português ao serviço de Espanha dá a volta ao mundo.
- Baktun 12
Entre os anos 1615 e 2012 d. Cristo (calendário Gregoriano)
Passagem da idade Média e Iluminismo para a era Moderna e Atómica. Descoberta do carro, execução de estradas, pontes, navios, aviões, raio leiser, rádio X, a lâmpada, as linhas de montagem, as industrias de vestuário, calçado e a metalurgia. Explorações em África e distribuição de novos países pelo tratado de Berlim feito com os países emergentes Alemanha, Reino Unido, Bélgica e França. Em 1914 deflagra a 1ª grande guerra e em 1918 a segunda que provocou mais de 50 milhões de mortos. Rússia e Estados Unidos da América disparam a indústria do armamento dividindo o Mundo numa guerra-fria de muitos espiões; a televisão, surgem os bancos, o cartão de crédito, a biologia, o ADN, o computador, o telemóvel, a Internet, as regalias sociais, as férias e a descoberta do Mundo, viagens espaciais e chegada à lua, satélites espaciais e estações orbitais com férias no espaço, o terrorismo organizado.
Por último, a eleição de um negro como presidente dos Estados Unidos da América com um nome mussulmano de Barak Obama.
- Baktun 13
A partir do ano 2012 do calendário gregoriano
Será a era da energia cósmica da mente, a espiritualidade, o conhecimento do portal magnético, da luz e buraco negro, da cura de todos os males através da mão, o aquecimento global com o avanço dos mares pelo degelo, a bomba de hidrogénio, os meteoritos e as guerras pelo controlo da água. (final)
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Ninguém atinge a sabedoria perfeita, nesta vida; a análise da vida feita pelo homem é definitivamente limitada.
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Da n´haca do Soba T´chingange
BIBLIOGRAFIA
- A Profecia Maia de Alberto deuttenmuller
- Histórias de Israel de Samuel J. Schultz
O elefante milagreiro
Salomão, o Jamba de Saramago do ano de 1553, oferta de Dom João III a seu primo o Arquiduque Maximiliano da Áustria, genro do Imperador Carlos V, passou por Pádua e fez tremer a queixada relíquia de Santo António de Lisboa e Pádua; o Salomão desta inventação de José Saramago fez um milagre à porta da catedral de Pádua. O conarca, homem condutor do elefante, burlão quanto baste, estava mancumonado com o bisbo e, eis que o dito cujo bicho de quatro toneladas, se ajoelha com as duas patas dianteiras, uma coisa nunca presenciada de um esquesito e trombudo animal. Um milagre por inteiro, diz o dignissimo relactor Saramago ao afirmar que a assistência presente no adro, em grande número, toda ela, acto contínuo se ajoelhou imitando o quadrupede.
Em troca, Salomão recebeu uma generosa aspersão de água benta com aquela coisa, um zingarelho de espantar espíritos que os bispos usam. Dentro da catedral a múmia do santo António estremeceu de gozo no túmulo, afirmação de gente muito crédula.
Esta estória dum ateu que se diz agnóstico, é tão ou mais macabra que as já muitas estórias aqui descritas pelo relactor vanguardista deste blog, o ilustre desconhecido T´chingange. Háka!
Não é que, o cornaca tirava pelos do cú do elefante para fazer pulseiras de macumba, vendendo estas aos fieis devotos ao santo.
E, não é que comprometeu sériamente nesta operação de trapassa e candonga o mui nobre Arquiduque Maximiliano da Áustria, como um vulgar Lello cigano da nossa praça numa corrupta ligação com inspectores da ASAE da ilha de Lançarote, 600 anos depois ( ou antes,...já não sei!)
O nosso ilustre Juiz da Festa, “jamba” de kognome, vanguardista de chave dourada do chã da Abrotea, vai ter de dar a sua abalizada opinião . Este transcendente assunto diz-lhe respeito, quase por inteiro!
Com esta bizarra estória apráz-me propôr aos portadores da catana dourada do kimbo que, aquando completar um ano de blog se atribua um galardão do tipo “o òscar de chocalho em cristal” ao melhor selecionado dum concurso do tipo fábrica de letras, a levar algures e, a efeito.
E,... como coincide com um 13 de Maio, uma data milagrosa, talvez calhe bem.
O Soba T´chingange
O 4 DE FEVEREIRO NA SERRA DA BARRIGA . BRASIL
Um contributo para Angola
Com esta crónica, o Kimbo, na pessoa do Soba T´chingange vai iníciar um romance "avulso" a ter início no ano de 1448, ano da chegada de Diogo Cam à foz do rio Congo. Aos vanguardistas do kimbo, portadores da catana d´ouro, faço um apelo no sentido de contribuirem no desenrolar deste projecto, romance que é uma incógnita de como se vai desenrolar e acabar. O fim, será talvez com a tomada aos holandeses, aquela que passou a ser São Paulo de Assunção de Loanda após a conquista por Salvador de Sá e Benevides, (vão ser uns duzentos nanos de inventação a condizer com a real história de Angola). Está em aberto outras participações. Com um veemente apelo ao colectivo como fábrica de cultura em laboração permanente, Vamos juntos,... conseguir!
Em 1888 a filha de D. Pedro, a princesa regente Dona Isabel,determina por lei Áurea o fim da escravatura.
Quatro anos antes, a 25 de Março de 1884, o presidente da província do Ceará (Fortaleza), declara a abolição da escravatura em todo o seu estado, assim, o Ceará entra para a história como sendo o primeiro a acabar com o trabalho escravo no Brasil.
Em Janeiro de 1881, um movimento liderado por francisco josé do Nascimento conhecido pelo Chico da Matilde, fez ouvir o grito que então foi brado " No porto do Ceará não se embarcam mais galinhas de Angola"; referência clara aos escravos vindos da costa de Angola.
Porto Galinhas tem esse nome porque era ali que desmbarcavam os escravos, idos após permanecerem na engorda nas ilhas dos Frades e das Cabras.
Com o apoio da população e alguns militares, o transporte das "galinas ", deichou de ser feito pelo Chico conhecido também como o dragão do mar. Naquele mar raso, sem as jangadas do dragão Chico não seria possivel haver escravos. Por esta insubordinação, Chico é demitido do posto de prático naquela capitânia de portos.
Este movimento emamcipador, articulado com a Sociedade Cearense, consegue alforria de todos os escravos da vila de Aracape, hoje chamada de redenção. Seguiu-se-lhe Mossoró no Rio Grande do Norte.
Chico da Matilde vem a ser recebido triunfalmente como um herói libertador em Rio de Janeiro.
O Governo Imperial, vê-se obrigado em 1885 a decretar a lei do sexagenário dando assim alforria a todos os escravos com mais de sessenta anos. Três anos depois, a 13 de de Maio de 1888, a princesa Dona Isabel, é práticamente obrigada a decretar a lei Áurea.
A emancipação do Ceará pela actuação de Chico da Matilde, foi em verdade decisivo para a causa abolicionista.
Em terras do Zumbi, na Serra da Barriga
O soba T´chingange
Em cada ano, o Sol desloca-se para Norte por 182 dias, voltando ao Sul por mais 182 dias formando o Solstício.
Esta pirâmide está no centro exacto das quatro estações, Primavera, Verão, Outono e Inverno e, é no equinócio, que o Sol cruza o ponto central das quatro estações formando exactamente 90 graus; o 365º dia em falta aponta do topo as quatro direcções eriçando a pele da serpente.
Chichen, o cérebro da serpente aliado ao Itzá, é o saber e conhecimento
Fiquei ali especado tentando desbravar os mistérios do mundo feito um Chichen-men, um Olmeca pulando com uma ancestral bola de borracha pronto para o sacrifício final no poço Itzá.
A conquista espanhola por Cortês em 1519 d. C. veio encontrar a civilização Maia debilitada; a península do Iucatam estava com uma seca secular que levou os Maias terrenos Olmecas a sacrificarem jovens pedindo em troca desse sangue, a chuva.
- Baktun 7
Deu-se entre os anos de 355 antes de Cristo e 39 depois de Cristo
A civilização helénica no seu maior expoente, Alexandre o grande, inicio do império Romano que durou 6 séculos e ascensão de Roma, expansão dos Celtas na Europa ocidental, construção da muralha da China, nascimento, morte e ascensão de Jesus Cristo, aparecimento dos Zapotecas e Olmecas e a fundação de Teotihuacan no México, Júlio César governa Roma e os Romanos.
- Baktum 8
Deu-se entre os anos 39 e 433 do novo calendário Gregoriano
Foi a construção da pirâmide do Sol em Teotihuacan, Estátuas da ilha de Páscoa surgimento da cultura Nasça em Tihuanaco nos Andes Peruanos, expansão e colapso do império Romano, ascensão do cristianismo, expansão do Budismo na China e sudeste asiático.
- Baktun 9
Deu-se entre os anos 433 e 827 d. Cristo
Maomé na ascensão do Islão, desavenças entre cristãos Romanos e o resto da Europa Ocidental e a Europa Oriental cristã Bizantina, ascensão do hinduísmo na Índia e expansão do Budismo no Tibete, Coreia e Japão, domínio de Tihuanaco nos Andes, o surgimento da civilização Polinésia na Oceânia. No ano 830 d. Cristo os Maias clássicos abandonam as suas cidades.
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O Soba T´chingange
ZUMBI DOS PALMARES (um T´chingange antigo)
ZUMBI DE GENIPABO
Novos trilhos
Festejando o 4 de Fevereiro da Lua
A generosa mente do Soba de inspiração inesgotável, rompendo monotonias, mesmo ausente e “sem modéstia”, cruelmente, aparece.
Em dias de trovoada enaltece a verídica fraternidade daqueles seus ilustres nobres, súbditos e afins in-fectuados.
As coisas boas comem-se. O soba, dando-se por inteiro ao Kimbo, oferece em farto repasto canibalista o “seu todo” numa dantesca orgia pantacruélica.
O convívio entrelaça mentes boas a outras que impregnadas dum doce e singular vazio, são o expoênte máximo da felicidade.
O soba para ser comido, têm de primeiro, sêr escaldado duas vezes e a água que daí sair terá de ser engarrafada para futuras vivências, caso contrário perderá o seu bom gosto.
O seu ADN carregado de paludismo, flôr-do-kongo, filária e matacanha, após o escaldamento vai dar-lhe um sabor único (esquisito, como dizem os espanhois). As cartilagens devem sêr as do primeiro tira-gosto, bem tostadinhas ao forno; devem ser acompanhadas com o marufo da mais alta cassoneira, um verdadeiro espumante africano.
Viver a Kizomba verdadeira é, e será sempre um akto de extirpar excrecências frunculosas da sociedade ou parceiro mais próximo, sempre, sempre, com muito amor.
Esta noite sonhei ser uma nuvem preta; segui uma luz brilhante num grande espaço etéreo, ora salão ora clareira no meio duma mata de exuberante verde, envolto em outras nuvens brancas. Vislumbrava corpos de formas onduladas, corpos espirituais como projeção de sombras ou talvez ologramas. Sentados com rostos risonhos em uma mesa improvisada, ali estavam quase todos os kizombeiros do Kimbo do reino de Manikongo.
Comendo braços, pernas, mãos e cabeças de gente, excitados, deglutiam pedaços crocantes de orelha tostada, uma especialidade besuntada em azeite e jindungo partido em pedacitos pelo Visconde do Mussulú (number one). Nem sempre assim sucede, pois, às vezes juntam pedaços de mocoto dos tornozelos recheados com muito tomate e cebola. Dizem que é chussú (galinha) mas eu sei que é mocoto de pé de gente.
Desta vez não era um ungulo (porco), era mesmo pedaços de gente tostada ao forno.
E, lá estava o Ximba, um cipaio vetado ao abandono por guerras e perigos esforçados em nectar de sol e o Duque do Maculussu, senhor das águas de sota e barlavento com ou sem brisa e, sempre, sempre com bombordo espreitado os farois acesos de donzelas malamadas.
Numa visão multifusa todos os galácticos kizombeiros de dentes caninos salientes rosnavam de quando em quando e, deitavam fumo pelas orelhas, coisa de rara e sublime beleza. Os cantares tristonhos, confundiam os vanguardistas canibais do reino. Às alegrias, intercalavam-se grunhidos de fundo num macabro zurzir à ordem estabelecida.
O Rei Dom Grafanil I estava como sempre atentamente distraido.
De chocalho ausente, as orelhas do soba estavam a ser objecto de tira gosto pelo Senhor dos Vales, um apreciador por excelência dessas partes tostadas.
No meio de predicados perversos havia amores, ódios, raivas incontidas, orgulhos feridos e o coito interrompido de orgasmo esganado.
Os meus amigos canibais, trespassavam-me o corpo feito febra.
No meio da clareira, uma mulher bronzeada, integralmente nua, cabelos escorridos até à cintura, surgiu do nada; seus olhos impressionantemente grandes eram de onça.
A figura de bronze feito mulher, rodopiava perante olhos esbugalhados daquela assembleia canibalescamente guloza.
Com os olhos eles comem tudo!
Num repentemente a cena saiu do ecram dos “pinga amor”!
Como um verdadeiro sonho, vi-me na travessa do Poço, em Lisboa dum século atrás, as pretas escravas levando os baldes de mijo e merda dos senhores nobres a serem lançados no tal poço ou no Tejo; os sonhos trespassam sítios e tempos como se nos movessemos em ondas de medulada frequência, levitando-se sem curvas, nem fricção.
Sentado num cadeirão, via em frente o retrato do Camões. Era preto!... e, parecia soprar uma caravela lusa com cruz de cristo.
Estava numa residêncial perto do Chiado e também da praça Camões. Este outro, era branco, épico e genuino, só que...petreficado.
Na mesa em frente de mim, ainda havia restos do cacto “wachuma” do sertão brasileiro e uma garrafa de jenipabo.
Estava explicado o sonho. Aquela mistela, era um forte alucinogénio e eu, tomei daquilo à toa. O Kimbanda estava doente das quinambas no hospital de Porto-à-mão e, não pode ser consultado em tempo.
Mas que milongo! E, eis que,...
Intempestivamente num zás-tráz-páz, aquela donzela integralmente nua é levada pelo soba Katete, um filho da mãe que saíu não se sabe de onde. Um novo personagem do glorioso EME a fixar.
Este soba comia todos os inimigos começando pelo coração, no estado cruo e num ritual que agora não interessa descrever.
Que terá acontecido àquela bronzeada criatura, boa como o milho?...
Como um salmão que volta à sua nascente para se findar, nós os humanos vamos para um qualquer indefinido sitio deste mundo, para ficar paulatinamente e progressivamente sós.
A vida não é fácil como diz o ilustre Cipaio-mor N´dalatando. Por mim, a desilusão quanto a gentes, sobe em espiral, infelizmente.
Para tudo se procura uma satisfação, física, científica ou qualquer outra e, afinal nem tudo tem explicação!
Esfreguei os olhos cheios de ramela dum cacimbo telepático, vesti-me e saí no meio da chuva para recolher o visto dum tipo chamado de Novaes com a devida prepotência dum sub-auxiliar de adjunto do Vice Cônsul da Tapurbana, o meu quilombo, um quarteirão mais abaixo.
Fingindo-se erudito em terras de Vera-Cruz, na Tapurbana do Zumbi,
O Soba T´chingange
RECORDAÇÔES ANGOLA
fogareiro da catumbela
aerograma
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