Quinta-feira, 31 de Dezembro de 2009
TUNDAMUNJILA . 2009

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

          ENTREVISTA A T´CHINGANGE

 

Dedicada aos meus amigos, especialmente aos mais próximos súbditos colaboradores do Reino de Manikongo o Fintador de Jacarés “O Boni da Katumbela” e Embaixador do Kacuacu ; Ao Jamba Ouvidor-Mor nas terras de Vera Cruz; à correspondente do T´Xissa, Marquesa do Quipeio e ao Chato do Xiça, meu mano cazucuta.

Entrevista de quando eu não era mentiroso; agora tenho de falar verdade para não me mentir. Votos de bom ano de 2002 chupando múcua na Lua

 

 OSOBA NA 1ª ENCARNAÇÃO

 

Chato do Xiça

Estava por mim prometida entrevista a um cronista do jornal regional chamado de Devaneios da Praia do Françês, em Alagos do Brasil. Por ano e meio, foi-se adiando o momento, até que em fins de Dezembro de 2009 (Hoje) se proporcionou tal.

Aristides Arrais, um natural de Bustos de Aveiro, uma zona costeira da Beira Litoral Portuguêsa, ávido de conhecimentos históricos da sua Lusa pátria, intrigava-se do porquê, dum conterrâneo seu, optar nos dias de hoje por ser um seu vizinho.

Arrais, com mais de 45 anos de permanência no Brasil, nunca deixou de ter contacto com a sua terra natal, da qual mensalmente lhe chega um jornal dando conhecimento das inovações dessa sua terra.

Ele e eu, estabelecemos uma empatia de cumplicidade com troca de vivências e, de assunto para curiosidade, fez-me o convite para me entrevistar; sem gravação foi tomando anotações de minhas respostas.

Despido de inibições, subterfúgio ou medos, fui-lhe dando as respostas da qual se reproduz com o beneplácito de ambos:

 

Com a responsabilidade do

P . Arrais: - Você está com um camarada cujos dedos da mão comportam o amigo T´Chingange mas, uma dúvida subsiste em mim. Porque optou pelo Brasil para viver?

 

R . T´Chi: - Fundamentalmente porque aqui, existem as caracteristicas mais parecidas com as de Angola. A empatia e formas de convívio são de relacionamento rápido, um pouco à semelhança de Angola. Em Portugal, talvez pelo clima, as pessoas são frias, introvertidas e calculistas no relacionamento e, leva anos para que por exemplo, haja abertura de se ser visita de casa. Pode viver-se com um vizinho durante anos, sem nunca haver um cumprimento formal; quando muito dá-se um bom dia mal humorado ou distanciado.

O uso da gravata, a desmedida concorrência entre profissionais, a ostentação no ser e no ter com a sempre persistente inveja estão sempre presentes. Bem, além da quentura do clima, temos aqui as mesmas  frutas de Angola e, queiramos ou não, influi-nos bastante.

Em Portugal não se cultiva a amizade como aqui no Brasil ou a Angola do meu tempo.

 

P . Arrais: - Mas, em Portugal, a esmagadora maioria tem medo dos assaltos, mortes e raptos. Porque não tomou isto em conta?

 

R . T´Chi: - Essa não é a minha filosofia de vida. Não adianta procurar o que o destino já nos reserva. Não vou escravizar-me escondido no medo.

Pensar nas coisas ruíns, é como ter herança dum relógio roscófe embrulhado em papel besuntado de quicuanga; a todo o momento o rato roe.

 

P. Arrais: -  E, que me diz dos políticos?

 

R . T´Chi: - É tudo igual, cá e lá. Quanto mais a gente mexe mais fede. Todos são bonzinhos cordeiros quando contactam com o poder mas, com o tempo tornam-se vampíros e chupam-nos o tutano. È uma penicada de corruptos que cometem incestos todos os dias e os tribunais nada fazem porque navegam nas mesmas águas. Eles, estão a derrubar a democracia! Há excepções felizmente.

Tem políticos que valem menos que um molho de capim. Nem uma ovelha alimentam;... Só eles mesmo.

 

P. Arrais: -  E, não pensa volar à sua Angola?

 

R . T´Chi: - Angola ainda é um eco de tundamunjila. Ouço sua tosse nas matas da minha vida; seus rios correm dentro das minhas águas mas, fuba de bombó tenho por aqui mesmo. Angola ainda é uma casa meio construida de adobes secos de pouco sol, com muitos kizombaqueteiros ou cazucuteiros. Nunca é tarde para virar salalé e ir lá pepetelar mwangolé,...Pode ser.

 

P. Arrais: -  Se bem entendi parece guardar algum rancor de ser forçado a sair de Angola, de forma abrupta e sem nada?

 

R . T´Chi: - O meu rancor anda a ser dissipado pelo mundo e vai direitinho para os políticos de tuji do Puto que num faz-de-conta de estadistas só fizeram bosta em Angola.

Tudo o que sucedeu no após 975, foi por culpa dos “PREC´S” e seus generais de aviário do MFA que em vez de salvaguardar seus patrícios, vergonhosamente até os saquearam.

Os movimentos armados  fizeram o que poderam. A guerra foi uma sequência tendo  Portugal  e seus políticos de então como únicos culpados; nossas memórias são o gestemunho no sangue do tempo. 

(Continua....2ª parte)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:08
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Quarta-feira, 30 de Dezembro de 2009
CIDADÃO DO MUNDO . II

 

 FÁBRICA DE LETRAS DOKIMBO

         ENTRE PARÁ E PORÓ

 SAMBA . BAIRRO DE LUANDA ... de Luanda, expostas ao risco

 

 

Lá no bairro Malhoas  construímos uma jangada de banga!

Das tarefas dignas, o Pica era o rouba-pregos, o Capicua era o desvia-tábuas, o Cocho Necas era o amarrador-mor, nosso Capitão-mor. Ao fim de alguns dias rebocamos a jangada para as águas pouco profundas lá no matope da Samba a uns dois quilometros.

A inauguração da jangada foi uma autentica desgraça; nada sabíamos  do Titanic, mas este acto desconseguido foi p´ra nós mais marcante. A vaidade dos quatro subiu toda naquele estrado de jangada e, claro, o equilíbrio trambulhou-nos em bassula. Mesmo sem “iceberg”,  afundamos todos de uma só vez, num repentemente.

O nosso orgulho, afogou-se ali naquelas águas baixas da Samba; concluí que o código da minha tirocinada capitania, se  esfumou na ânsia grandiosa daquela juventude.

Como é que eu iria atravessar aquele mar da Samba?

Foram projectos grandiosos de juventude e, com o correr dos anos, já na fase de empedernida clarividência concluí na vida que não basta querer fazer, antes disso  é necessário fazer querer!

 

Tempos de pitangas e cigarras chamando quentura em acácia rubra. Anos mais tarde voltei ali e, já não encontrei coqueiros, casuarinas nem palmeiras no contraste; o morro tinha sido alisado, desordenadamente a cidade crescera até ali ao nosso mar; este simplesmente, já não existia. Em seu lugar erguia-se um foguetão, em homenagem a um prócere em jeito de mausoléu.

Uma homenagem a Agostinho Neto.

O amaranhado caserio de ruas sem ordem, repleto de velhas chapas, papelões e restos de tugi, tinham tomado o nosso mar. Já não havia mangue, nem carangueijos e, a ilha de areia branca tinha simplesmente desaparecido. Como foi possível?

Havia gente ajudando cães, gatos e moscas basculhando nas dixitas de toda a cidade; Não adianta procurar nos mwangolês brigadistas, generalistas, capitãnistas do porquê uns têm tudo demais e, muitos outros, tudo de menos.

Neste entretanto, o rouba-pregos Pica ja era general do MPLA, O Necas sobrevivia na penumbra dos arrabaldes de Coimbra do Puto, o Zorba Capicua era um aposentado da Polícia Judiciária e eu, burrifafa o sonho em terras de N´Dongo e  de N´Gola.

Lá,  já não posso  dizer ... terra à vista!!!...

Taparam-me o sonho.

 

 

Glossário:  banga - estilo, bassula - queda fintada , bisgava - agarrava com bisgo, colava, catinga  -suor, cheiro activo de transpiração, funge - comida de mandioca, mangue - vegetação de água salobra,  matope - lodo (Moçambique), mwangolês- os donos de Angola mulembeira - árvore que dá uma espécie de pequenos figos, puto - petiz, rapaz ladino, Rabo de Junco - pássaro,  tugi - merda, dejectos, Dixita - lixeira, Samba – lugar, bairro de Luanda, (Angola).

  

O Soba T´Chingange             



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:44
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Terça-feira, 29 de Dezembro de 2009
RECIFE – A SAGA DO AÇUCAR . VIII

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

        Os mouros e Mazagão 

 

João IV O REI D. JOÃO IV

 

A partir de 1640, quando da aclamação de D. João IV, diante da força armada da Companhia Holandesa das ìndias Ocidentais, se torna evidente que o Império Colonial Português na Ásia era coisa do passado. Perdidos que estavam os territóios de Malaca, as feitorias e fortalezas na Índia como Mazagão, as ilhas de Colombo, Ceilão e os territórios Craganor, Cohim, e Bombaim e o abandono da Arábia e Golfo Pérsico com a mão “amiga” dos Inglêses, o Arquipélago das Molucas, parte de Timor e o afastamento com massacre de missionários do Japão.

Os desastres sucessivos no império a Ásia ficou reduzido a Goa, Damão e Dio e até isto seperdeu por volta dos anos sesenta e um do século XX. Naquele então também se perderam fortalezas na Índia Baçaim e Macau na China; tudo, cujo sacrifício exigiu para se sobreviver, comer sola de sapato. Portugal no final do século XX ficou reduzido ao pequeno rectângulo e as ilhas insulares.

Já na época de D.João IV, em Portugal tomava corpo a ideia de que para retomar Pernambuco e Luanda em Angola, a coroa Portuguêsa teria de abdicar de suas posseções na Ásia. O Brasil resistiu até 1822, Angola até 1975 e Macau em 1999. Restam-nos os territórios insulares da Madeira e dos Açores não se sabe até quando; mas, se fossem “mouros ou pretos” já teriam logrado a independência. Lá chegaremos!...

 

Os escravos à luz dos preceitos religiosos, eram vistos como mouros, fossem brancos, morenos, cafusos, mestiços, mamelucos ou matutos e, como tal “infieis” para o mundo.

Do Vaticano, o Papa Eugénio IV  autorizava o “direito” de cativar. O preceito bíblico sob os descendentes de Cã, filho de Noé que ousou descobrir as vergonhas de seu pai bêbado, levou-os a ficar desprovidos de roupa, outras misérias e até a liberdade sobre si mesmos, levando-os impreterivelmente à escravidão. O Papa Urbano VIII a 22 de Abril de 1639 extinguiu por Bula, a escravidão mas, assim não aconteceu na prática. Outros interesses faziam rolar as políticas distantes; do seu pedestal, o Papa não via tudo e, seus pastores acomodando-se a regalias não supervisionadas, levou a que lá longe, no Brasil, "sem negros não houvesse  açucar, nem Pernambuco”.

 

A insurreição de Pernambuco com João Fernando Vieira a incentivar a guerrilha convocou o capitâo António Dias Cardoso que veio a ser o principal estratega militar na base da guerrilha e, foi no Monte de Taboca com apenas 300 homesns em armas, uns facões, foices e paus queimados em forma de chuço ou matraca que se bateram com uma força de 1200 infantes comandados pelo malufo Coronel Henrique Van Hans a 3 de Agosto de 1645. A batalha de corpo-a-corpo durou cinco horas ficando no terreno 600 malufos mortos ou feridos de morte, ficando com uma grande quantidade de armamento e munições que supriram faltas às forças de Vieira.

 

Após a surpreendente vitória do Monte das Tabocas juntou-se-lhes as forças de André Vidal de Negreiros a 13 de Agosto, tomando de assalto com sucesso a fortaleza do Pontal do Cabo de Santo Agostinho, que se entregou sem resistência após seu comandante Diederick Van Hoogs, dar às de vila-diogo ( ter fugido ).

Desta forma as forças dos inssurretas ficaram na posse de um porto de mar reactivando as comunicações maritimas com Bahia, Funchal, Santiago de Cabo Verde, Angra do Heroismo e Lisboa; havia no entanto muita pirataria e, os barcos de Portugal desguarnecidos de escolta estavam muito sugeitos a abordagens o que passou a contecer com bastante frequência pois que os Holandeses, eram então senhores do Atlântico Norte.

Há que ter em conta que alguns dos oficiais das tropas Holandesas estando já casados com portuguêsas, levaram-nos a considerar tomar partido por Portugal vendendo-se ou simplesmente entregando-se; no fundo eram mercenários ao serviço de uma Companhia e a força que os movia mudou de rumo, simplesmente alteraram o cenário.

 

( Continua... As emboscadas dos filhoa da terra... IX)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:22
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Segunda-feira, 28 de Dezembro de 2009
BRASIL E O CANGAÇO . XXVII

 FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

              O Velho Chico em Penedo

 VELA QUADRADA

CIDADE DE PENEDO NO RIO SÃO FRANCISCO

 

 

16 - TÁCTICA DO GRUPO DE LAMPIÃO

 

A táctica empregada por Lampião era a de não dar combate em campo aberto, ter sempre ao dispor as melhores montadas e carregar ou inutilizar as armas pertencentes aos comerciantes e fazendeiros fora da sua graciosidade.

O cabra zarolho era bem desconfiado e tinha sempre a preocupação de deixar o lado direito em permanente vigilância de guarda-costas de canina ferocidade; atacava de emboscada ou ficava horas a fio para tocaiar algum inimigo ou perseguidor. Actuava somente quando tinha a certeza do êxito e, quando se via sem as cartas do mando em mão, debandada ordenadamente deixando batedores na retaguarda. Em casos extremos, sacrificava alguns dos seus cabras ocupando a força dos perseguidores.

Só entrava em núcleos populacionais após ouvir os enviados cabras de sua confiança como observadores de tudo o que fosse relevante para relatar, movimentos anormais, forças da ordem, melhor acesso e possível fuga.

Quando se via em apuros por insistente perseguição refugiava-se na caatinga meses seguidos, até que a falta de logística em recursos de viveres e honorários em atraso, causasse o desânimo nos volantes perseguidores.

 

17 – AFINAL, QUEM ERA LAMPIÃO?

 

Nascido a quatro de Junho de 1898, filho de José Ferreira da Silva com o nome de Virgolino Ferreira da Silva em Vila Bela, estado de Pernambuco e, hoje com o nome de Carqueja.

Lampião foi a alcunha espontânea em função do seu fuzil parecer um lampião de luz quando disparava e, no escuro usava dar tiros com aquele fogacho de candeeiro para encontrar coisas perdidas.

Logo após a morte de seu pai pelos Volantes Alagoanos que iam em sua procura, Lampião e seu irmão António Ferreira que já eram criminosos ficaram a partir daí com mais estímulo para continuar na senda do crime; o Alferes José Lucena que matou seu pai, passou desse instante a ser procurado pela mira dos irmãos ansiosos de vingança.

O Pernambucano Leonardo Motta descreve lampião do seguinte modo:

- Amulatado, de estatura meã, magro e semi-corcunda, de barba e nuca raspados ordinariamente, cabelos compridos e, sempre que possível perfumados, com o olho direito vazado e cego por pico de espinheira, dedos cheios de anéis com brilhantes verdadeiros e falsos, de óculos redondos de aros dourados para esconder o lado vesgo, ao pescoço um grande e vistoso lenço de cores berrantes e seguro nas pontas por um anel valioso de doutor em direito. Na perna esquerda trás uma bala costurada nas calças de brim escuro, a mesma bala que matou o sargento “Quelé”. Sobre o peito ostenta a medalha do padre Cícero que diz ser seu padrinho e escapulários com saquinhos de “rezas fortes”, chapéu de cangaceiro adornado de correias de metal branco. Folgazão quando entre poucos estranhos e, no meio de seus comparsas. Sempre que era rodeado por desconhecidos, uma cabra dispunha-se do seu lado direito, ligeiramente por detrás tomando o porte de guarda-costas. Usava um paletó e camisa de riscado claro e nos pés alpercatas de ilhoses amarelas, reluzentes. A tiracolo dois pesados bornais de balas e bugigangas protegidas por cobertura de xaile fino. O tórax era guarnecido por três cartucheiras bem providas. Ágil como um felino nos primeiros anos de cangaço, tinha sempre às mãos o fuzil, à cintura duas pistolas parabelum e um facão com setenta e oito centímetros de lâmina; O homem que não briga para desperdiçar munição, a cada morte correspondia um corte naquela longa lâmina.

 

Lampião ingressou no banditismo após ter sido arrieiro de Delmiro Gouveia aonde se revelou buliçoso no trato e no manejo do facão. Alem de seu irmão os cabras José Manuel e António Porcino foram os primeiros companheiros na onda devastadora daquilo a que se veio a chamar cangaço. Com aqueles dois novos companheiros mas já bem conhecidos na arte de matar em todo o sertão, fizeram o seu primeiro ataque no ano de 1918 no lugar de Olhos dágua do Chicão, seguindo-se Marvilha, Água branca e Sant’ana do Ipanema em 1926; neste então, já Lampião, tinha sessenta homens às suas ordens.

O curioso caso da patente de Capitão é sumariamente descrita por Gato Bravo que ainda em vida afirmou ter acompanhado Lampião na luta contra os revoltosos da coluna Prestes; em 1926 os revoltosos de Isidro Lopes entraram no Ceará quando Lampião foi convidado a ajudar as forças legalistas na repressão àqueles revoltosos.

 

( Continua... O Velho Chico ... XXVIII)

O Soba T´Chingange  

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:12
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Domingo, 27 de Dezembro de 2009
O LIXO DE PORTUGAL !

 


Sempre que atravesso a fronteira de Portugal por ar, ou acompanho as notícias pela net, sinto uma enorme tristeza e o coração apertado por ver a que ponto chegou o meu país: Portugal está um lixo!
Há décadas, e porventura séculos, que a lusitânia é uma lixeira, porque depois do Império, foi fartar vilanagem!

Recentemente, descobriu-se que, afinal, o lixo também tem tentáculos ocultos e parece que ninguém sai incólume desta descoberta! Muitos dos vírus que proliferam e vivem à custa do lixo, vieram armar-se em virgens imaculadas, sobretudo depois que um procurador e um juiz supremo roeram a corda da justiça e disseram, mais uma vez, amém ao " engenhocas prodígio " , mentor desta e de outras maroscas!

Antes dele, outro engenheiro, mais íntegro e verdadeiro, talvez aconselhado no confessionário pelo seu guia espiritual, preferira denunciar os " travestis " da sua confiança e saltar do barco a tempo, largando o país no pântano.
Como sabia nadar, o grande timoneiro, rápido se agarrou a " tacho " mais nobre e, sobretudo, mais condizente com a sua formação, para os lados da ONU.

Se " El más grande comandante " da confraria da rosa teve a coragem de deixar o país e o partido no pântano é porque outro valor mais alto se impôs no seu espírito atribulado, quiçá dilacerado. Pela renúncia ao Poder e a coragem que teve em denunciar os correlegionários e reconhecer os desmandos , lhe perdoo pelos " jobs " que deu aos " boys " que o atraiçoaram vergonhosamente pelas costas.

Afinal, agora sabe-se que o lixo de Portugal tem sido uma mina de ouro para os " calhordas ", os chicos-espertos e os políticos sem escrúpulos que a democracia vai encobrindo sob o manto da imunidade Parlamentar.

Provalmente, agora já não há método que consiga reciclar todo o lixo de Portugal, porque esses vírus da concupiscência animal se enraizaram na alma desses parasitas e vampiros da dignidade de um povo desonrado e violado na sua ingenuidade.

Assim, só lhe resta o suicídio, mas como corajoso bastante não é, o povo prefere votar em quem lhe vai anestaziando o corpo com vãs promessas, para melhor lhe eutanaziar alma.

Revolta-te e liberta-te, enquanto vives, povo desalmado! Se não o fizeres, lixado sejas " ad eternam ", porque a Terra não precisa de lixo assim.
 
JAMBA


PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:52
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SABOR DE MABOQUE . II

    FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

   " No Palácio do Governo”

    Ainda falando do livro de Dulse Braga recordo:

 

 SABOR DE MABOQUE O LIDRO DA DULCE BRAGA

 

Recordo que um pouco de mim por lá ia ficando, ficou; reinventando a minha própria vida recreei ideias novas, alguns ideais velhos noutras  ousadias.

Peregrinando maleitas desfrisei a vida descruzando agouros de tempos bafientos. Havia recíprocas saudades com odores de mamoeiros na parte de trás do quintal.

 

«Aquela foi uma longa e tensa viagem. Quando paravamos o carro nas barreiras militares, perscrutávamos cautelosamente os símbolos das farda, o dialeto que falavam  e a compleição física dos homens para termos a certeza de que não pertenciam ao MPLA. Por morarmos no Bié, provincia dominada pela UNITA, tinhamos sido forçados a nos filiar a esse movimento que emitia uma carteira de identificação. A minha, eu havia perdido em Silva Porto  (Cuito). Esse registo era como óleo lubrificante nas barreiras da UNITA, mas podia significar a morte numa barreira do MPLA.»

 

Isto que Dulce refere em seu livro eram instruções básicas que serviam para ambos os movimentos armados.

 

« Dia 27 de Agosto de 1975, já em Luanda, fui com a minha mãe à igreja da Nossa  Senhora dos Remédios, que servia de Sé  de Luanda desde 1897, na actual rua Rainha N´Zinga (Jinga) M´bande  que viveu entre 1583 e 1663; filha de N´Gola Kiluanji Kia Samba, o rei de cujo nome saíu a denominação de Angola. Só no Brasil é que vim a tomar conhecimento da verdadeira história da minha terra; em tempos coloniais só nos davam a conhecer os padrões plantados ao longo da costa e pouco mais.»

 

Eu, O T´Chingange, nesse então, estava em Luanda como deslocado e desalojado. Ido da Caála com uma guia de marcha apresentei-me no Palácio do Governo e e ali fiquei como destacado ajudando outros funcionários do Quadro Administrativo a tomar o avião o mais rápido possivel para o Puto.

Com um salvo conduto assinado pelo ultimo Governador de Angola o Alto-Comissário Leonel Cardoso movia-me com alguma facilidade e, sei o quanto são verdadeiras as descrições do dia a dia de Luanda, a carência de viveres enquanto na periferia, num tal cinturão de  defesa rebentavam granadas que mais não eram para provocar o medo. Afugentar os brancos seguindo as ordens do Almirante Vermelho Rosa Coutinho.

No palácio eu, ia avisando pelo telefone os Administrativos, Administradores e angariadores do contrato, alguns perseguidos: - que se deviam encaminhar para o aeroporto Craveiro Lopes (ou de Belas).

 

( Continua... a ponte dos retornados...III)

O Soba T´Chingange




PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:15
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Sábado, 26 de Dezembro de 2009
LUANDINO E OS MAZOMBOS

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

          O LIVRO DOS GUERILHEIROS

 

Começo por exclarecer que mazombo é o nome dado aos filhos de brancos Portuguêses nascidos a partir de 1640 em Pernambuco. Embora não houvesse nesse então, muitos brancos e brancas em África, já havia no entanto brancos, filhos destes, nascidos aí. Foram os primeiros brancos, nativistas dos actuais brancos também referênciados como brancos de segunda e que originaram a prole de mestiçagem que constitui a sociedade Angolana de hoge.

Neste livro de Luandino, mazombo surge como um vocábulo depreciativo de palerma mas, está àquem do termo verdadeiro atendendo à semântica comungada entre Brasil e Angola com Governadores Gerais comuns. Estes, normalmente eram os Capitães da armada Real que assumiam ambos os cargos e daí transladarem homens feito escravos, para suas capitânias do Brasil.

 

 Portal e Comunidade de ... O livro de LUANDINO

 

As armadas eram subdivididas e, do regresso do Brasil levavam n´zimbos, buzios de boa cotação para aquisição das “peças”, o nome dado aos escravos. Este dinheiro veio a ser substituido por libongos ou panos, e mais tarde dinheiro em bronze, com o nome de macuta.

Nesta crónina bregeira, sou um mazongo bezugo com direitos irreconhecidos à nacionalidade Angolana mas, quero lá saber disso,... Já sou soba à muito tempo pr´álem de ter sido  vizinho deste meu patrício e amigo Luandino Vieira na rua de Oliveira Barbosa, paralela ao rio seco, não muito distante da Cacimba da Maianga ou Manhanga e perpendicular à António Barroso. Bem,... eu morava na rua José Maria Antunes, uma rua que quando chuvia também parecia um rio.

A dedicatória do livro faz-me justiça pois que logo a seguir aos rios velhos vem: - Ao C. M. (T´Chingange), camundongo e amigo, assinado um êlle com rabiscos em forma de êmmes  e um Òoo mal fexado no final,... um traço por debaixo.

 

E, uma pequena parte do livro fala assim:

 

«...”era uma vez no tempo que não tinha minas nas picadas, a gente ainda andávamos descalços de medo. Neste tempo agora, ele, Makongo, cheirava o chão mata e ar, mas sempre queria se vanguardiar, todo voluntário em itenerário perigoso. Nosso comandante, o camarada Ndiki Ndia, assimilado como era, aceitava. A gente, deixávamos; ninguèm pedia crítica ou autocrítica – na vida não deve se contrariar miondona de cada qual, ponto de ordem. E a dele, as dele, de geração eram, isso era: o Kinjila Solongongo que no voo não pia só, arripia também. Porque três vezes o voo da mina, por perto ou por longe, e ele já se cambalhotava no pó,  placado nos zungais depois do estoiro. No minuto de antes saquelava, era quimbanda de perigos. Se diz que nessas horas ouvia-se sempre o piado do holococo voando muito alto.”...»

 

O Soba T´Chingange

 

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:07
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Quinta-feira, 24 de Dezembro de 2009
NATAL E OS AMIGOS

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

       DA MINHA SANZALA

Este ano, na sala da casa grande, construí uma árvore de Natal; cortei uns bordões do meu pãntano, fiz uma tenda bivaque de índio, enrolei uma longa raiz em espiral, juntei umas verduras, bolas reluzentas, laçarotes de várias cores e luzes com música de fundo. Ao lado fiz uma lapinha com musgo e pequenas plantas rasteiras do meu pantanal, juntei umas pedras, fiz caminhos de areia da cõr do açucar a terminar na gruta, esconderijo do menino Jesus no berço de palha, Nossa Senhora e D. José. 

Lembrei-me de colocar uns cartões com os nomes recordados de todos os meus amigos, mas eram muitos e tapariam a luz da árvore. Assim decidi fazer uma lista fragmentada por empatias e outras relações pelo que, designei letras para agrupar os tentáculos amistosos. O ideal era pendurar estes papeis nos galhos de um embondeiro de modo a ficarem como múcuas, mas,... sucede que não tenho nenhum à mão. Assim, vamos fazer-de-conta que de cada ramo da árvore imaginária está apenso um nome, o seu,... e segue lista:

POSTAIS DE NATAL

NATAL . 2009

 

A - DO REINO DE MANIKONGO

Sua Magestade O Rei Dom Grafanil I; O Visconde do Mussulu, Embaixador itenerante da Globália com sede em Cienfuegos (Cuba), o futuro Vice-Rei após “la muetre de Dom Fidel su grande camarada; O Embaixador do Kacuacu, mandatário da Katumbela Boniboni; O Cipaio-Mor do Kimbo, Senhor do Poço Acelerador de partículas  N´Dalatando; O Kimbanda, Komando Ninja HN, Cipaio-Mor Guardião da Torre do Zombo e substituto provisório do Bispo; O Marquês do Limpopo, Senhor Contente, borracheiro do Reino; O Juiz da Festa Dom Jamba, futuro Ouvidor do Rei em Terras de Vera Cruz;  O Juiz do Povo Dom Pirica Fuca-Fuca; O Duque da Figueira, Projectista-Mor do Reino; O Comendador dos Vales D´el Rei, Ex-Senhor da Euro-Lux, aviador de fingir da Áfro-Lux e portador da Roda Mágica; À Fidalga do Ferro-Agudo, política desfalecida; O Marquês do Maculussu Joli-Xanel, Senhor das garinas catorzinhas; O Cipaio Ximba, exilado do Reino, revelação Rotária em crescendo; O Homem-Rico, Senhor da Abrotea e dos Ventos refrescantes; À Marquesa do Malhoas, Dona Isabel algures em Vila Real; À Viscondesa do Kipeio, Dona Teresa do N´Xissa; O M´Fumo Manhanga, filho do Soba, Senhor do Olho-Azul (Chaka-zulu); À Condensa Dona Magdalena, do sítio do Pardal-Rosa; O Walter, Zelador-Mor do Jardim do Reino da Lagoa; O Kamba Carmo algures no Huambo enfeitando os Jardins Mwangolés; O sempre ausente Senhor-Rico Perestrelo, Donatário do Moxico; O Kamba Juiz Kamundongo Araujo, Senhor das M´Boas de Luanda ; O Kalundu M. Vieira, distinto albino; A nova Comendadora em Terras de Vera-Cruz, Duquesa de Arganil,  Rosa  Casado da Xácara do Paríso.

 

B - AOS MANOS  ESQUECIDOS DE  N´GOLA

O meu lider doutros tempos Alcides Sakala, o mano José Caxihungo, Adalberto Júnior; Jofre justino; N´Dachala; Isak Wambembe; Celestino; Morgado; Fernando Rocha; Semedo e Veiga Sénior; Adelino Cunha; Frade; Paulino e Pinto do Mucussu no Okavango.

 

C – EM LUGARES LONGINQUOS E LUANDA

O Trofa; O Junça, O Batalha; O Céu; O Morais; O Rodrigues; O Jimba; O Bien Beto do Sumbe;  O Carmo Silva; O Chiquinho;  O Kota Amores de Benguela; A Balbina e seu pai Kota Pais da Cunha do Cantinho do Inferno; O Ùnico do Malhoas Futebol Clube; O  Araujo das pacaças; do Fernando Ramos da Casa do Minho de Luanda; Da Luiza do folclore minhoto; O Tonho da Maianga; O Braga das motas; O Aninhas; o Artur com seu said-car ; O Almeida do Rio Seco e Helder Vilar da Caála.

 

D – NOS LUGARES DO PUTO

O Herculano Cardoso dos carros de Braga; O Martins da Maianga; O Cruz da Maianga; O Zorba do Rio Seco; O Ribeiro dos seguros; O Monteiro da EAMA e O Rente do Malhoas.

 

E – DOS KAMARADAS

General Pica; Brigadeiros Trofa e Wilson; Batalha; Céu, Napumuceno; O Kalukembe; O Katumbela; o Cassoalála, O Mulato do Biópio; O Major Chico do Lobito; O Major Kapote e o Capitão Malembelembe.

 

G – DOS AMIGOS DO PSD DO PUTO

Francisco Ramos; Rui Correia; Jaime; Alberto; Boto; Arnaldo Caetano; José Inácio Presidente do Município; Marques de Porches; Madalena e Pacheco.

 

H – DOS OUTROS - PS DO PUTO

Malveira; Verissimo; Teresa do Kipeio; Nunes de Carvoeiro; Pardal Presidente de Junta; André da Farmácia e Águas da Cruz. 

 

I – ALGUNS OUTROS

Osvaldo bike; Cerol Bike; Manecas; Jorge da Caixa Agricola; Luis do café; Ribeiro da Agricultura; Dinis das terras do fim do Mundo em Angola; Gilberto do Cubango; Monteiro; Luisa da Rua Nova; Tilinha; Kota Mateus Gralha; Dona Augusta; Dona Conceição, Zé Domingos; Nuno Domingos; Victor bike pintor; Artur e Ana da Gazeta da Lagoa; Paulo Pereira; Furtado Alves; Leal da Brogueira; António Cristo do Totta; José António do Algoz; Albertina do Algoz; O Repsina de Portimaõ; Rosa Roma; O Pina da Sanipina; Ricardo Pina das Flores; Luis de Camões; Paula do Jophil; Eurico Doutor; Rosa Tomás; Moreira Sul Africano; Suzana da Africa do sul; João Grou do Comaki; Elza do Reiki; Estorninho; Joaquim Gonçalves, o “Sapo”; Joaquim Gonçalves Bike; Machado de Albandeira; Farinha Bike; Amilcar Bike de Portimão; Carlos Bike do café de Portimão; Alice Cruz da Maianga; Zé manuel das cópias da Cãmara da Lagoa; Victória das Finanças; Bento do Banco e Sandra das Sesmarias.

 

J – DOS MACONGINOS

Kota-Soba Valério Guerra; Ex-Soba Cabeças; Torres; Leonel; Carlos Modas; Garcês de Faro; Pinheiro do Parchal; Américo da Sagres; Maria José; Santos Pereira; Cabrita dos Fados; Tony Ferreira; Dionisio de Sousa e Amadeu das Sesmarias.

 

K – DO TRABALHO E AFINS

Camilo Rebocho Vaz Neto; Bacelar; barreto; Bica; Brás do Teodolito; Cardoso do Teodolito; João Liberto; Cristina; Diamantino das cópias; Filhó de Loulé; Garrocho Filho de  Armação de Pera; Lestienne Gerard de Lurdes - França; Inácio das piscinas; Lima da Fatacil; Lucas das Obras; Mário Nunes das Viágens, Mogo dos Passeios de pêra; Nelson dos projectos, Águas; Plácido; Paula Barros; Gonçalo Praia do cavaquinho; Pedro Frias; victor do Teodolito de Silves; Julio Solicitadr de Silves; Carlos Coelho dos Teodolitos; Alexandre do BTT; Sandra Botelho; Alfredo da Aljaloca; Victor da Aljaloca; Victor das Cabras em Estombar; Soares Mendes; Lourenço dos Rotários; Araujo dos Combatentes; Suzel da Solamigo; Rolf Malufo em Porches;

 

L – TANTOS OUTROS COM  SUA E MINHA  FAMILIA

Almir de Olinda do Brasil; Valmir de São Paulo no Brasil; Ireno em Esteio do Brasil; Elaine de São Paulo em Brasil; Arrais de Bustos e Ana no Brasil; Ricardo Keller do Francês no Brasil; Carlos Roberts de Marechal Deodoro, no Brasil; Tom Alemão; Lourenço Siripipi da África do Sul; Travanca; Travassos de Silves, Samuel da África do Sul; Vasco Maia; Vasco Mourinho; Maria Gonçalves de Messejana e toda a família; Paulo Candeias de Ermidas do Sado; Bruno Borralho de Estômbar; Pedro Silva de Ermidas do Sado; Peralta e esposa Bete em Porches e O Isidro do Peixe em Lagoa.

 

Não puz cartâo na árvore de Natal mas, aqui fica em expresso o meu carinho; Não estão aqui todos porque a mente tem os seus lapsos. Que me desculpem.

E, para que conste na minha mágica Torre do Zombo, e no bojo dum embondeiro do reino de Manikongo, Vos abraço a todos.

 

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:31
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CIDADÃO DO MUNDO . I

  FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

          ENTRE PARÁ E PORÓ

Navio UIGE, fundeado ao ...  NAVIO UIGE . A IDA 

 

Entre Pará e Paró fica a minha terra, a terra do sabiá. Tem palmeiras, casuarinas, coqueiros, acácias e cigarras barulhentas que nas noites quentes namoram o luar.

Repimpei espigado na ternura tardia dum amor que o mar lambeu, com Sol e sombra, azul e branco, muito calor, muito ardor.

Após a esquina e mais outro cotovelo vem o cipó no quintal da minha avó. Chamava-se Madalena Topeta, de cara grande e ventas largas cobertas por um lenço cinzento e bolas brancas em luto preto; Avó Topeta metia-me medo com o irmão de nome Guerra que era austero bruto e, curandeiro quimbanda do Puto; daquele quintal saíam cheiros fortes de combinações, mezinhas, rezas e manigâncias de manjerico com arrudia.

Como eu me lembro!… desse cheiro de ervas e, da figura grande desse meu tio Guerra...assustadora de mirrar  miúdos,  como o homem do saco, amigo do lobo mau.

Cresci em espanto a ver o rio grande no fundo do vale e a serra branca de neve  para lá dos montes intermédios. A Serra da Estrela.

Do mar, que não via, tinha um escuro medo indefinido... simplesmente!

Atravessei esse mar mais tarde. Deslumbrei-me na imensidão e voei, voei como um sabiá... e felizei-me.

 

Mesclado entre o lusco e o fusco do tempo, com paracuca, fui crescendo rodeado de catinga com funge. Na sombra da mulembeira do Catambor bisgava rabos de junco.

Encardindo na tez depois duma eternidade olho uma foto amarelada a relembrar a minha mocidade; havia nela uma felicidade de inocência que no correr dos anos foi desbotando. Entre a maturidade e os  desvarios, registaram-se-se capítulos de puto pilha galinhas, salta muros, fisga celestes, canários, periquitos e siripipis.

Como qualquer criança também tinha um bairro e a rua daquele, quando chovia era um rio feito de água de verdade trambulhando no zinco e adobe, latas ao rebolão que entravam no meu portão.

Quando chovia era a valer; o céu desabava e, naquela rua que virava rio, eu...eu era mais que um simples capitão d'areia, tirocinava-me como o meu tio Guerra.

Um dia, eu e os demais miúdos do rio seco do Malhoas cheios de devaneios, resolvemos construir uma jangada. Juntamos tábuas com cordame de sisal, tambores sem uso e outras quinquilharias de luminosidade e fingimentos de motor, pau de mastro e outros trastes de fundo de obra em execução.

( Continua... II )

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 01:12
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Quarta-feira, 23 de Dezembro de 2009
É QUASE NATAL

 KIMBOLAGOA

            BOAS FESTAS

 

   OS  DARDOS DO KIMBO

 

Num pedaço de sítio longÍnquo, resgatando pedaços de lembranças, chupando a acidez da múkua, abraço os meus amigos, muitos deles sem a t´chipala vísivel . 

Simbólicamente abraço o imbondeiro da saudade contendo-vos no seu corpo.  

Agradeço aos meus leitores, especialmente aos blogues que atribuiram ao kimbo o Prémio Dardos. São eles:

- Fogareiro da Catumbela  

- Bimbe ( Zé Cahango)

Vou fazer uma rebita, algures na minha floresta, juntar todos os kambas e kiandar  um bom novo ano de 2010 para vôs

A família é nos imposta mas, nôs Amigos,... regamos a amizade.

Uma vida sem amigos é como uma primavera sem andorinhas. 

E, voando neste pequeno nada, envio um pouco de mim envolto num Obrigado

 

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:05
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Terça-feira, 22 de Dezembro de 2009
O NOSSO PORTUGAL . III

  O QUE SE DIZ  . NATAL DE 2009

             Estado do Sítio

   Desesperados 

Pior do que isto parece impossível, mas é bom que os indígenas estejam preparados para situações ainda mais desgraçadas nos próximos tempos. 

O partido do senhor presidente relativo do Conselho anda de cabeça perdida, desesperado e sem qualquer tino nos neurónios.

A ressaca das eleições de 27 de Setembro está agora bem visível e tem tendên’cia para se agravar desgraçadamente até ao dia em que os indígenas o ponham na rua. Vai ser difícil, mas nestes tempos natalícios é legítimo ter alguma esperança num desfecho feliz para tamanha desgraça. O alvo da fúria socialista é, como o foi no Verão, o Presidente da República.

O partido do senhor presidente relativo do Conselho não suporta que Cavaco Silva diga aos indígenas o que toda a gente pensa. Isto é, que as suas grandes preocupações são o desemprego galopante, o endividamento externo, a dívida pública e a falta de competitividade e produtividade, factores que impedem um crescimento económico saudável, única forma de criar emprego e aumentar o nível de vida dos indígenas que desgraçadamente vivem neste sítio cada vez mais pobre, deprimido, manhoso e obviamente cada vez mais mal frequentado. É óbvio que perante as desgraças sociais que abalam o sítio, a última preocupação de qualquer pessoa com um mínimo de sanidade seja a história dos casamentos entre homossexuais.

É evidente que numa situação em que aumenta a pobreza e há cada vez mais pessoas à beira do desespero, a última das preocupações deva ser a conversa fiada da regionalização. Pois bem. Indiferentes a tudo e a todos, na tentativa vã de esconderem o estado em que deixaram o sítio, os socialistas liderados pelo senhor presidente relativo do Conselho atiram-se ao Presidente da República de forma desvairada para ver se o calam e desviam as atenções dos indígenas. Mas estão muito bem enganados.

A realidade, fria e dura, está aí à vista de toda a gente. Nem mesmo os mais ferozes optimistas já o conseguem ser. Restam os vendidos por uns pratos de lentilhas. Mas destes não rezará qualquer história. Foram miseráveis ontem, são-no hoje e assim continuarão. É por isso que este poder socialista, desesperado por ter perdido a maioria absoluta e pela desgraça que provoca todos os dias em milhões de indígenas, se atiça contra Cavaco Silva, o único referencial de seriedade. É por isso que neste Natal triste, desgraçado e quase sem esperança é legítimo pedir ao Menino Jesus que nos livre deste Mal.

António Ribeiro Ferreira, Jornalista

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:29
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Segunda-feira, 21 de Dezembro de 2009
RECIFE – A SAGA DO AÇUCAR . VII

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

        As agruras de Olinda

 

 ... Matias de Albuquerque (1928 MATIAS DE ALBUQUERQUE

Em1630, tropas mercenárias da Companhia das Índias Ocidentais invadem a capitânia de pernambuco e dominam toda a regiáo do Nordeste do Brasil por vinte e  quatro anos. Insatisfeito com a situação, os naturais da terra sob a liderança de João Fernandes Vieira, um senhor de engenho, nascido no Funchal, inicía em 1645 a reconquista do território devolvendo-o à soberania Lusa em 1654.

Em Olinda sede da Capitânia de Pernambuco governava Matias de Albuquerque; este, procurava concentar os esforços da defesa no porto de Recife só que, o General Malufo Theodoro Waerdenburch, seguindo o plano traçado com os mandatários da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, desembarcou suas forças na praia de Pau Amarelo a Sul do Recife num total de 3000 homens. Marchou sobre a vila de Olinda tendo vencido Matias de Albuquerque no combate de fogo à Vila de Olinda queimando nobres edifícios avaliados em milhares de cruzados.

Matias de Albuquerque, perante tamanha força, impossibilitado, e de coração esfrangalhado retirou para o lugar de Capiboaribe a uma légua de distância do Recife, fortificando o sítio com 4 peças de canhão e 200 homens de armas. Inicia-se assim a guerra da resistência pernambucana com a fundação da Arraial do Bom Jesus aonde permaneceram por cinco anos utilizando táticas de guerrilha aprendidas com os índigenas.

Naquele Arraial do Bom Jesus,  compareceram com seus comandados, Luis Barbalho, Martins Soares Moreno, Filipe Camarão com seus índios e Henrique Dias com seus negros quilombolas resolutos a manter uma guerra de vinte e quatro horas por dia no espírito de todos de um sentimento nativista.

 

Em Abril de 1632 Domingos Fernando Calabar, um mestiço cazucuteiro, dado ao embuste, dado ao desprezo dos demais, e acusado de contrabando, passa-se para o lado dos invasores Malufos.

Os Malufos, agora reforçados nos conhecimentos do terreno de Calabar,  após o reforço de novas tropas elevando os efectivos para 5500 infantes e militares de armas, apoiados por 42 embarcações conquistam a Capitânia de Rio Grande do Norte, Paraíba e Hamaracá.

O Arraial do Bom Jesus, sitiado durante três meses e três dias, capitulou a 6 de Junho de 1635. Faltava nesse então tudo o que podia servir de sustento; consumiram cavalos, couros,cães, gatos, e ratos e, porque não havia mais polvora deram-se por perdidos. Furatando-se ardilosamente ao cerco iniciaram uma marcha para a Bahia com uma tropa de 140 homens brancos, acrescidos dos negros de Henrique Dias e dos índios de Filipe Camarão com a qual a 19 de Julho de 1636, tomam a Vila de Porto Calvo  situada no interior, a uns 30 quilómetros da praia de Maragogi, actual estado de Alagoas.

Mesmo desfalecidos por tão penosa marcha, tiveram a força aliada à astúcia com ousadia de tomar tal praça com 4 companhias num total de 400 militares bem armados e municiados.

 

O comandante Malufo Alexandre Picard, por ocasião da rendição, entregou como prisioneiro Domingos Fernando Calabar, o traidor mestiço que foi de imediato e sumáriamente condenado à morte por garroteamento em 22 de julho daquele mesmo ano; o traidor pagou o preço certo e sem desconto para gaudio de toda a gesta Luso-Brasileira no comando Matias de Albuquerque.

O Conde João Mauricio de Nassau-Siegen  chegando a 23 de Janeiro de 1637 trouxe consigo a mais importante missão cientifica que até então pisara em terras da América, ainda hoje objecto de atenção de todos que se dedicam ao estuda das ciências e botânica daquele periodo.

A administração do Conde de Maurício de Nassau deu um surto de progresso estendendo fronteiras desde Maranhão à foz do Rio São Francisco.

 

( Continua... Os mouros e Mazagão... VIII)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:38
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Sábado, 19 de Dezembro de 2009
SABOR DE MABOQUE

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

          A N´harêa do Bié

 
SABOR DE MABOQUE O LIVRO DE DULCE BRAGA

Dois meses depois da revolução portuguesa dos cravos (25 de abril de 1974) uma jovem nascida e criada no coração de Angola, passa como de costume suas últimas férias escolares no verão europeu. Foram três meses de prenúncio do rebuliço que sua vida seria dali em diante. Com o fim das férias e consequente retorno para a ainda colônia angolana, ela se vê vivendo e temendo por seu grande e primeiro amor, pelos seus amigos, pela sua confortável situação sócioeconômica, no epicentro do rodamoinho da guerra civil angolana. É um relato verídico, quase um diário das perdas, das dores, do medo, da angústia, da luta pela sobrevivência, do desespero e de todas as demais mazelas que as guerras invariavelmente injetam em todos os seus participantes, activos ou passivos. Um ano depois de sua chegada ao Brasil, país para onde fugiu a menos de dois meses do dia da independência de Angola (11 de novembro de 1975), ninguém mais notava ser ela uma estrangeira. A perda do sotaque juntamente com a hibernação de toda a sua infância e adolescência, foi a maneira pragmática que inconscientemente usou para não ser questionada sobre sua origem e não mexer nas feridas que começavam a cicatrizar. Trinta anos depois o personagem por ela adotado para viver no novo país, que tão carinhosamente a recebeu dá sinais de esgotamento e como uma árvore sem raízes reclama por elas, para que possa continuar erecta. Essa reivindicação do seu âmago, juntamento com um velho pedido de seu marido e seus filhos para que escrevesse sua experiência de vida, desencadearam um processo de resgate das memórias olfativas, gustativas, sonoras, visuais e emocionais. A erupção desse enorme vulcão provoca uma profunda catarse e finalmente ela dialoga em paz com o seu pedaço por tantos anos amortecido.

 

Foi no Recife, mais propriamente na livraria da antiga alfandega que eu adquiri este livro. Uma vida igual a tantos outras, a recordar um maboque.

O Bié tem a forma de um coração meio desfeito e o da Dulce por lá ficou um pouco num lugar chamado de N´herêa muito perto do Andulo e Bimbe.

Logo ao iniciar diz:

" ...Sentei-me na cama com um maboque em cada mão, admirando e evocando o cheiro da infância, de Angola, dos piqueniques na beira do rio Kwanza, das caçadas, da adoleescência no clube da N´harêa, da fazenga da Calucinga, das cachoeiras, do cheiro do musgo no caminho da n´haka, da igreja, da pastelaria Primor, do primeiro beijo"..."Hoje, com o Brasil somado a Portugal e Angola, sinto-me cidadã de três países,...em terras de Tupiniquins, meus sonhos ainda são africanos".

 

Esta é a Globália que também a mim me envolve. Só altero a ordem de prioridades porque não serei mais reçarcido dessa mala de pandora que me roubaram. Em terras Tupis seguro as pontas, os sonhos de Angola, agora Brasil e o Portugal com políticos de meia-tigela que me vergastaram na terceira ponta desse triângulo.

Também pertenço a essa saga da Dulce Braga Cidadão do Mundo, filho de terra madrasta.. (Quem quizer saber mais, vá até www.ponteseditoras.com.br )

Os  Maconginos e Xicoronhos vão gostar dessa leitura.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:53
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Sexta-feira, 18 de Dezembro de 2009
RECIFE – A SAGA DO AÇUCAR . VI

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

A batallha de Guararapes

     

   João Fernandes Vieira e os ...   JOÃO FERNANDES VIEIRA

- Herói de Pernambuco

- Governador de Angola entre 1656 e 1661

A usura  do governador Pedro Cézar tinha transbordado em  traquinices resultado daqui a morte de alguns dos defensores. O próprio governador e o Ouvidor Francisco de Figueiroa foram presos e levados para Loanda.

Estes “ilustres desclassificados” na visão de pontos de vista dos cronistas de então, foram embarcados para o Recife; estes, com mais alguns destacados comerciantes negreiros, compraram a sua liberdade a troco dos seus baús carregados de joias, ouro e patrimonio de indevida apropriação à igreja e seus pares, ricos negreiros não colaborantes.

A soltura de Figueiroa  ficou-lhe em mais de 15 mil cruzados pelo que, pode assim regressar ao Brasil tendo-se instalado em Bahia de todos os Santos por algum tempo.

Figueiroa regressa à Madeira em uma escolta de navetas a cinco navios que regressavam da Índia aportando  no Funchal para reabastecimento.

 

D. João IV, tendo notícias de que a holanda preparava uma armada destinada a reforçar as guarnições holandesas de pernambuco e Bahia. Sabendo disso, deu ordens musculadas para que Portugal enviasse tropas de infantaria para tais destinos pois que se estava a tornar demasiada tardia a ajuda solicitada por Pernambuco. Em Lisboa formaram-se 100 infantes em 2 caravelas; no Porto, outras tantas de Viana do Minho, Aveiro, Algarve, e Setubal. Ao mesmo tempo dava ordens a Figueiroa que levantasse 500 infantes da ilha da Madeira e Açores para tal envolvimento militar.

 

D. João IV determinou aos oficiais de primeira linha fidalga, que “ a gente vadia, ociosa, e de pouca utilidade à Coroa, fossem presos e levados à luta do Brasil porque “ He grande o aperto e necessidade daquelle estado”. Convem dizer-se que não é verdade que o reino se esqueceu dos revoltosos de Pernambuco; o que sucedeu foi de que não tinha reunido toda a diplomacia para ter sucesso e só reactivou a pressa após Inglaterra ter daeclarado guerra à holanda. Aqui D. João IV actuou rápido, em força e a todo o custo sobrecarregando o povo em taxas de guerra adicionais. O açucar fazia-lhe falta para custear tudo isso e ainda salvaguardar as fronteiras Ibéricas da impetuosidade dos vizinhos Castelhanos.

 

Em 1647, Francisco de Figueiroa chega à Bahia. Em 4 de Agosto de 1648 reune-se às tropas sob o comando de Francisco Barreto de Pernambuco e. É a 19 de Fevereiro de 1649 que toma parte na segunda batalha de Guararápos com o posto de Mestre-de-Campo do seu terço de guerra.

Francisco Barreto, após aquela grande batalha, escreveria ao rei a 11 de Março de 1649 enaltecendo os  tres Mestres-de-Campo, Vieira, Figueiroa e Vidal da seguinte forma: - “Procederão com tão assinalado valor  que depois de Deus, forão eles a causa de alcançar vitória pelo que merecem as mercês que justamente podem esperar tão leaes vassallos, por seus merecimentos”.

Figueiroa, tendo sido soldado, capitão, almirante, governador de Cabo Verde, ouvidor em Angola e Mestre-de-Campo na batalha de guararape, por rôgo seu foi designado de figalgo com a comenda da Ordem de Cristo depois das formalidades das “provanças” para a sua admissão na Ordem de Cristo e, após a consulta da Mesa da Consciência e Ordens o ter aprovado a tal merecimento. Coisa tiradas a ferros, sabe-se lá do porquê!

( Continua... As agruras de Olinda... VII)

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:15
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Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2009
BRASIL E O CANGAÇO . XXVI

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

           XINGÓ EM PAULO AFONSO

 

 Paulo Afonso - Bahia ...   XINGÓ

 

15.1 – RIO ABAIXO . PIRANHAS

 

Benjamim Abraão de nacionalidade Libanêsa, a quem conheciam como “o Turco”, foi o fotógrafo que corajosamente se aventurou no sertão procurando Lampião; tinha em mente filmar no seu meio natural as acções de Lampião. Chegou até ele levando os artefactos apropriados mas, só depois de lhe mostrar fotos do seu padrinho padre Cícero tiradas por ele mesmo em Juazeiro, é que com relactiva liberdade foi tirando fotos e filmando cenas fingidas das suas vidas quotidianas, sua vestimenta, as rezas matinais pedindo graças e, formas de progredir no terreno.

Lampião, nunca permitiu a Abraão filmar ataques reais feitos pelos seus cabras; o material veio a ser publicado com bastantes fotos no Diário de Pernambuco em Recife o que, causou forte impacto a nivel do governo de Gertúlio Vargas. As cenas filmadas por Abraão foram exibidas nas salas de espectáculos do Recife, tendo impressionado fortemente as várias correntes de opinião com o sequente aproveitamento político, fofocas dos notáveis e intelectuais em tertulias tão em voga nesse então.

O próprio presidente deu ordens expressas para se exterminar a qualquer custo, tal bando; Abraão entendeu que  aqueles bravos lutavam sem o saber por um ideal contra a oligarquia reacionária de todo o Nordeste, com especial intervenção no estado de Pernambuco. Em realidade, Virgulino Ferreira, até 1920 tinha no seu grupo gente com altruismo dessa indule ou seja, tinham a ambição de mudar as regras do jogo e a relação entre as autoridades, os macacos, e a grande população pobre e indefesa; O padre Cícero era conotado como mentor desta filosofia mas, não podia dar-se a conhecer como estando ligado a esses conceitos, pois que era um clérigo.

Virgulino Ferreira da Silva, vulgo o Lampião, fazia-se notar como sendo o governador do sertão Nordestino; isto era um desafio ousado ao poder e, esse foi o pior procedimento que sendo tomado como acção politica punha em descrédito toda a autoridade. Abraão, com uma visão mais ocidental, pois que não era oriundo dali, dizia abertamente que por fruto das injustiças sociais, Lampião, a partir de Pajeú, passou a ser o padrão estético e cultural do povo sofrido do sertão. Tudo despoletou a partir da morte macabra de seu pai por José de Sena Maranhão.

 

João Firmino, tocador de sanfona descreveu algumas cenas de festas com Lampião; Lampião nunca pisou a povoação de Piranhas pois era aqui que ele tinha um dos seus amigos da volante. O tenente Aniceto estava bem comprometido com Virgiulino, era o que se falava então; foi dizendo que a fama de Lampião era mais negra porque os desqualificados, batedores de carteira faziam tropelias usando o seu nome.

Jozias Valão ex-volante foi dizendo que o ataque a Piranhas foi feito de forma sangrenta por Gato e Corisco, cabras do sub-grupo de Lampião;  Gato vinha libertar sua mulher de nome Nascimento raptada pelo sargento Bezerra; deixou dez habitantes mortos, sangrando nas ruas ingremes de Piranhas mas viu  a morte por um tiro certeiro de Artur Palmeira duma sacada a uns quarenta e cinco metros de distância.

Jozias Valão foi dizendo que Lampião entrou no cangaço para se vingar e acabou sendo um vingador bandido que muitos toleram porque não conhecem o tamanho dos seus crimes.

- Levei toda a minha juventude no rastro de Lampião e vi muito sangue; não posso dizer bem de quem não o merece.

Esta opinião foi tambem recolhida por mim por um velho senhor reformado da hidroeléctrica no jardim principal de Paulo Afonso junto ao coreto fronteiro à igreja de Nossa Senhora de Fátima. Após eu ter tirado uma foto à escultura em granito representando Maria Bonita, com uns três metros de altura este velho senhor reclamava não ser justo aquela figura estár ali representada pois que não era merecedora de tal mérito dizem«ndo: - Quantas mulheres dignas mãe, que se esforçam por fazer crescer seus filhos com sacrifício danado, não têm esta representação e, logo aqui em frente à igreja da Nossa Senhora de Fátima, uma representação digna da sagrada família.

 

( Continua... O Velho Chico ... XXVII)

O Soba T´Chingange   




PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:25
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Quarta-feira, 16 de Dezembro de 2009
O NOSSO PORTUGAL . II

 CORRESPONDENTES DO KIMBO

            Da N´ga Duquesa do N´Xissa

O Palhaço

Crónica de Mário Crespo

 

Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si. O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa. O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros vociferando insultos. O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas. O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também. O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem. O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres. O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada.


Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver.

O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar.

E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha. O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político. Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A escolha é simples.

Ou nós, ou o palhaço

O soba subscreve

T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:36
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NA PELE DUM GUIA

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

            OKAVANGO

 

DELTA DO OKAVANGO

Vi rastos de leão na estrada de terra que percorriamos.

Saí do todo-o-terreno para ver melhor, e informei o grupo de Japoneses, que estava seguindo a peugada de felinos: - É uma fêmea adulta,...Não, ...São duas fêmeas adultas.

Eu conhecia essas leoas. Estavamos no território do grupo de Marta, um grupo formado por apenas duas leoas adultas.

Suspeitei que uma delas tivesse tido uma cria recentemente. Para me assegurar de que as leoas não tinham entrado no mato fechado à minha esquerda, andei mais um pouco sem perceber do quanto me estava afastando do Geep. Esperava que elas estivessem em um ponto da planície à minha direita, onde seria fácil vê-las.

"Ei!,...gritei para so ansiosos Japoneses que espiavam pela traseira do Land-Rover: - "Há pegadas de filhotes aqui! Parece que eles foram para ali", e apontei para o mato. "E os leões adultos foram para acolá", estendendo o braço na direção duns morros de salalé. 

Foi, quando nesta posição de encruzilhada, concluí em silêncio e só para mim: Estúpido, estúpido, estupido!

No quarto "estúpido", as  leoas surgiram.

Quando a gente treina para se ser guia, depois de aprender algumas regras, na convivência com animais selvagens e perigosos, fica-se tão normal como olhar para os dois lados antes de atravessar uma rua.

Como guias, também aprendemos que há coisas que se fazem no mato de forma improvisada. Marta e a irmã  que eu já vira antes rasgando em pedaços outros animais, estavam vindo na minha direção. 

 

Senti-me frio, desprotejido  numa adrenalina pegajosa. Deixei meu treinamento e intuição assumir o controlo da situação.

Os braços já estavam erguidos, fazendo-me com que parecece ser maior em tamanho.  Encarei as leoas, mostrando-lhes os olhos arregalados à maneira de como  fazem os predadores para fazer hesitar o impulso do atacante. Elas nâo vinham em linha recta na minha direção; ziguezagueavam, de um para outro lado aproximando-se mais devagar do que seria normal; um sinal de ataque simulado.

Saber de que as leoas não tinham a certeza de que me iriam matar, pouco me animou, e nem fiquei aliviado quando pararam a uns sete metros de mim. Recuaram, o pelo do dorso arrepiado, o focinho franzido em careta, com grunhidos graves medrados no ar.

Dei uns passos atrás.

Elas vieram de novo, e pararam ainda mais perto. O rugido que dei não foi muito ameaçador. Elas recuaram, a barriga roçando o chão, os olhos concentrados em mim, os meus nelas. Quando pararam, os rabos retorciodos, dei outro passo atrás. Elas arremeteram.

Três vezes avançaram sobre mim. Na quarta, pararam e, eu aproximei-me mais do veículo. Nesse momento, quando vieram, foi em linha recta.

 

Pronto, pensei, e dei um rugido que soou mais ameaçador que o primeiro. Elas não desaceleraram , e só se passou um segundo até me alcançarem.

Mas passaram directo, ufff!,...antes que me apercebesse de que o ataque não era para mim.

Tudo o que restou foi o odor pungente delas, que seguiram para junto dos filhotes que estavam do outro lado.

Trémulo, minha vontade era sentar-me mas, continuei recuando. Ao chegar ao Land-Rover, virei-me. O Japoês Limpopó Aliálatas, estava com a câmara de vídeo solta na mão, a lente tapada, e uma expressão de desapontamento.

Quando caí no banco, querendo chorar, vomitar, querendo rir e gritar em simultâneo, Limpopó  Aliálatas falou: "Sinto muito, mas não consegui filmar desta vez. Pode repetir?"

 

Do Soba (em apertos, na pele dum guia. Coisa já vivida numa visita a Maun no Botswana). Extraido das Seleçõe do Reader´s Digest

T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:39
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Segunda-feira, 14 de Dezembro de 2009
O NOSSO PORTUGAL

CORRESPONDENTES DO KIMBO

          Gentileza do Chato do Xissa

 

 A BANDEIRA

 

Para avivar a memória  a quem, por norma, não anota!!!  Um  dos Motivos porque o Governo se tornou fiador de 20 mil  milhões de euros de transacções intra bancárias......??? 
Os de hoje, vão estar como gestores de Banca amanhã,  pois os de ontem, já estão por lá hoje. Correcto???? Se  pensa que não, vejamos:

 

 PARA QUE A PLEBE  SAIBA:


Fernando Nogueira:

Antes -Ministro da  Presidência, Justiça e Defesa
Agora - Presidente do  BCP Angola

 

 

 

José de Oliveira e Costa:

Antes  -Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais
Agora  -Presidente do Banco Português de Negócios  (BPN)

 
Rui  Machete:

Antes - Ministro dos Assuntos  Sociais
Agora - Presidente do Conselho Superior do  BPN;
Presidente do Conselho Executivo da  FLAD

 

Armando Vara:

Antes - Ministro adjunto do  Primeiro Ministro
Agora - Vice-Presidente do  BCP

 
Paulo Teixeira Pinto:
Antes - Secretário  de Estado da Presidência do Conselho de  Ministros
Agora - Presidente do BCP (Ex. - Depois de  3 anos de 'trabalho',
Saiu com 10 milhões de  indemnização !!! e mais 35.000EUR x 15 meses por ano até  morrer...)
 

António Vitorino:

Antes -Ministro  da Presidência e da Defesa
Agora -Vice-Presidente da  PT Internacional;
Presidente da Assembleia Geral do  Santander Totta - (e ainda umas 'patacas' como  comentador RTP)

 

Celeste Cardona:

Antes -  Ministra da Justiça
Agora - Vogal do CA da  CGD
 

José Silveira Godinho:

Antes - Secretário  de Estado das Finanças
Agora - Administrador do  BES
 

João de Deus Pinheiro:

Antes - Ministro da  Educação e Negócios Estrangeiros
Agora - Vogal do CA  do Banco Privado Português.

 

Elias da  Costa:

Antes - Secretário de Estado da Construção e  Habitação -
Agora - Vogal do CA do  BES

 
Ferreira do Amaral:

Antes - Ministro das  Obras Públicas (que entregou todas as pontes a jusante  de Vila Franca de Xira à Lusoponte)
Agora -  Presidente da Lusoponte, com quem se tem de renegociar o  contrato.
etc etc etc...


O que é isto  ?   Cunha ?   Gamanço ?
- Não, não é a  América Latina, nem Angola. É Portugal no seu esplendor
...e depois até querem que se  declarem as prendas de casamento e o seu valor.

É tempo de parar!

Divulguem isto ao Mundo

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:27
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RECIFE – A SAGA DO AÇUCAR . V

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

A tomada de Loanda pelos Mafulos . ANGOLA

         LUANDA VISTA DA FORTALEZA DE S. MIGUEL

 

Pernambuco com o contributo da Madeira foi a capitânia que gerou o nativismo mais virulento da história brasileira; mais à frente irei reiterar este conceito com a descrição da batalha de Guararapes e João Fernandes Vieira mestre de campo nomeado pelo rei D, João IV. Também há o factor de tonalidade democrática misturando lavradores, figalgos, funcionários do reino, comerciantes, ouvidores  e artesãos misturados entre florntinos, genovezes, e flamengos originando um modelo  especial com apego à terra e conceito de brasileiro; uma caracteristica sem igual da colonização portuguesa. O mundo das nações deverá enaltecer este predicado na história da colonização do povo português ao  invés de os menospresar.

Tudo o exposto demonstra bem a mescla de gentes, e o surgir de  um linguajar de escravaria com estratos subalternos do engenho e a relação entre o patrão, coronel ou fazendeiro.

A par de João Fernandes Vieira surgem outros nomes como Geronimo de ornellas e Francisco de Figueiroa, todos eles Madeirenses a não esquecer porque engrandeceram o mundo Lusófono.

A figura pública de Figueiroa foi contestada quando ainda era governador de Cabo Verde mas, na saga Atlântica, como herói na tomada de Pernambuco, passou a ter uma forte ligação com a história. Na sua relação com Angola, interessa descrever o seu trajecto de vida.

 

A vinte e dois de Janeiro de 1639, Filipe III, rei de Portugal sob o domínio de Castela, nomou Pedro César de Mendonça Governador e Capitâo-General dos Reinos do Congo e N´Gola. Francisco de Figueiroa que já era um destacado homem, reinvindicador de seu posto de fidalgo da corte, foi nomeado Almirante, o segundo posto depois do de General e simultâneamente Ouvidor da Colónia, um alto cargo nesse então. Nesta expedição a terras de África embarcou como soldado António de Oliveira Cadornega que mais tarde, entre 1860 e 1861, escreveria a história das guerras Angolanas em três volumes da Agência Geral do Ultramar. As duas naus “Rei Dadid e Santa Catarina” chegariam a Loanda em 18 de Outubro desse ano de 1639.

No dia 30 de Maio de 1641, parte do recife uma expedição de 21 navios comandada por Cornelis Cornelis Zonjil com 3000 homens, marinheiros Mafulos (Holandêses)  e infantes mercenários de várias nacionalidades da Europa de então a soldo da Companhia das Indias Ocidentais, todos eles esperimentados nas guerras de Flandres e Alemanha. Estas forças de guerra tinham por objectivo tomar Loanda, ocupar N´Gola e dominar o mercado de escravaria da região, importante mão-de-obra para os engenhos de Pernambuco em seu poder.

 

Ao largo da baia de Loanda, a 23 de Agosto desse ano, esta esquadra é avistada de terra, do lugar sobranceiro de fortaleza de São Miguel e parte alta do insípido caserio daquele esboço de cidade já com quase 4000 almas.

Os moradores com seus governantes, arraia miuda de desterrados e escravos evacuaram a cidade levando os haveres possiveis, refugiando-se no arraial de Kilunda do Bengo. Esta fuga teve  redobradas dificuldades por terem à-perna os nativos descontentes flagelando os mwana-pwós e o governador Pedro Cézar. Este governador tinha-se revelado um homem de má índole, inépto no mando de gente e detendo haveres por corruptas e enganosas tramoias.

 

No dia 25 de Agosto de 1641 os Mafulos com toda aquela  gente de olho azul, vestida de ferro, tomam posse de todo aquele caserio e fortaleza sem grande contratempo.

Na manhã de 17 de Maio de 1643, dois anos depois, os Mafulos, contrariando acordos de relação comercial dúbia por parte de alguns portuguêses, atacam por isso mesmo, de forma inesperada, o arraial do Bengo.

 

( Continua... A batalha de Guararapes... VI)

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:10
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Domingo, 13 de Dezembro de 2009
ALAMBAMENTO DO PUTO

 FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

             Prémio pessoa - Mundo em mudança

 

 ... em Fernando Pessoa FERNANDO PESSOA

 

O prémio Pessoa 2009 foi atribuido a D. Manuel Clemente, Bispo do Porto. Contestado por uns, aplaudido por outros, o júri justifica-se com os tempos difíceis de vida em Portugal  no tocante a valores que a sociedade deve manter como basilar na sociedade conturbada dos dias que correm.

D. Manuel Clemente tem-se destacado por uma postura cívica na defesa intransigente da família como o núcleo padrão da sociedade; humanista de primeira linha, mantem a defesa do diálogo e da tolerância chamando amiudadamente os políticos e a sociedade em geral aos valores a cultivar; a atenção a dar aos desfavorecidos, gente de rua sem mãe ou pai para  preencher o amor maior na vida de cada um.

No meio de tanta opinião cínica, explicando o não explicável D. Manuel Clemente relembra que a família núclear é um casal de homem e mulher, progenitores de gerações.

É da maior justiça atribuir o prémio ao Bispo do Porto.

A qualquer união entre gente do mesmo sexo e, no sexo, terá de se lhe  dar outro nome que não o de casamento. Chamem-lhe "alambamento ou abaregamento" entre união de homossexuais conformo se dizia em terras de expansão Lusófona. 

A desigualdade tem de ter um trato diferenciado. Não é preciso refletir assim tanto nisto; a distinção  tem de ser distinta. 

Parece que em Portugal não há mais nada para entreter o povo; os políticos arranjam estas manobras de diversão para distrair-nos com coisas de pouca valia.

É demais!...

O Soba T´Chingange

 

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:02
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Sábado, 12 de Dezembro de 2009
RECIFE – A SAGA DO AÇUCAR . IV

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

        Os caixões de açucar

Olinda - PE Papel de Parede ...   OLINDA

 

Os Tugas, resgataram a prática do uso escravo podendo de forma sintética mencionar o padre António Virira quando refere “ Sem açucar não há escravos e sem escravos não há açucar”.

A Madeira como berçário de novas práticas sociais foi nos primordios  da expanção Lusa, o primeiro e mais importante mercado receptor de escravos aficanos. À illha chegaram os primeiros escravos guanches, marroquinos e africanos que contribuiram para o arranque económico do arquipélago e a diáspora Lusa.

Depois, foi o pau brasil, e os caixotes de nobres madeiras que serviam para transporte do ouro branco.

 

Nos dias de hoje, ainda se pode apreciar mobilias feitas de boas madeiras levadas do Brasil como o jatobá, jacarandá, sucupira ou angico; estas madeiras, curiosamente eram tão somente a estrutura dos “caixões” para transportar  300 quilos de açucar. Talves por isso se designe aos contadores ou administradores das remessas de “caixeiros” pois, mais não eram tão somente do que zeladores dessas caixas de açucar.

Os maiores e melhores organizados destes caixeiros eram os imigrantes ou colonos de ascendência judaica, essa grande diáspora unida à semelhança dos Ilheus que por via da inquizição levaram famílias inteiras a se refugiarem nas praças do Norte da Europa como Amstedão, Antueérpia, Rochela, Londres ou Bordeus. Por iniciativa própria e por sobrevivência, estabeleceram redes de negócio familiares que vieram a ser considerados como o principal suporte da rede comercial resultante dos descobrimentos. Esta rede comercial é em realidade uma verdadeira contradição com os comportamentos da expanção cristã, o que me leva a salvar a teoria de que em negócios tudo é possivel. Nesta rede comercial, Angola, aparece como principal consumidor de vinho da Madeira a par com o Brasil, país irmão.

 

Há escritos de caixeiros referindo fornecimento de 100 pipas de vinho da Madeira no ano de 1651, poucos anos após Salvador Correia de Sá e Benevides ter escorraçado os Mafulos de Loanda.

No Funchal, em São Vicente do Brasil, Pernambuco, Bahia, Luanda e Santiago de Cabo Verde por via do negócio do vinho, há novas apetências surgindo por isso uma chusma de pequenos burgueses. São estes os vértices do mundo Português, a Lusofonia actual que dá agora importância com consciência  às praças dum antigo recheio colonial.

Muitos de nós de genes mestiça, somos o fruto deste fado chamado de diáspora; o fruto desses antigos mestiços, capitães, mestres e serviçais, escravos duma sanzala qualquer, servindo sempre um senhor. O senhor do engenho ou navegador aventureiro da rota do cabo.

 

A rectórica com manipulação de novos discursos, para serem históricos, terão de se basear nessa evocações, fundamentos na reposição da verdade. É para  isso que servem os grandes homens, a que  vulgarmente chamamos de estadistas.

 

( Continua... A batalha de Guararapes... V)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:59
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Sexta-feira, 11 de Dezembro de 2009
BRASIL E O CANGAÇO . XXV

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

           Rio Velho Chico

  ... Canion , Rio São FranciscoCANYON EM CANINDÉ

A 300 quilómetros de Maceió, no meio do rio São Francisco, fica a cidade de Paulo Afonso; este nome deriva do dono de então que era pertença de um Português a quem lhe foi atribuída a capitania por feitos meritosos à coroa Portuguesa. Dizem os documentos, que em 1725, Paulo Afonso por aqui assentou arraial em virtude dos muitos rápidos e cascatas o impedirem de avançar mais a montante.

Neste lugar de deslumbrante beleza natural e, em meados do século XX, o dono de uma fábrica de tecidos teve a necessidade de tocar o empreendimento com maquinaria moderna e, conhecedor de novas tecnologias por formação académica e andanças pela Europa, teve a ousadia de naquela cascata majestosa de Paulo Afonso construir um pequena usina afim de servir com energia eléctrica a sua fábrica de tecidos.

Esse homem chamava-se Delmiro Gouveia que veio dar o nome a uma nova cidade do sertão Brasileiro; O sonho que a principio parecia impossível foi com alguma tenacidade levado a efeito naquele ermo de rio com abruptos arrifes formando um profundo e estreito vale com mais de 50 metros de altura.

No decorrer do tempo, do progresso e da necessidade de energia nesta área de áspera correnteza fizeram-se numa primeira fase três hidroeléctricas e, mais recentemente outras duas e, porque houve necessidade de se construir um canal para a quarta barragem, a cidade acabou por ficar rodeada de água e como tal, o seu casco histórico passou a ser uma ilha. Para quem percorre 300 quilómetros de áspera paisagem passando por Arapiraca, Monteirópolis, Olhos de Água do Casado e Delmiro Gouveia, aquelas toalhas de água e verdura refrescante fazem luxúria ao olhar; a pele sacia-se de humidade e, entre exótica vegetação a gente consola-se de sombra de agaroba ou acácia. 

 

Foi nestes alcantilados rochosos com muitas cavernas a jusante nos lugares de Xingo e Piranhas que serviu durante muitos anos ao facínora Lampião e seus grupos.

Traçando um circulo com 150 quilómetros abrangeremos todo o sertão que serviu de coito a Lampião por mais de vinte anos os estados de Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Ceará.

Pode dizer-se que uma linha começando em Juazeiro do Norte no Ceará. Juazeiro do sul e Jeremoabo em Bahia, Propriá em Sergipe, S. José da Tapera e Jacaré dos Homens em Alagoas, Águas Belas e Caruaru em Pernambuco, Monteiro e Pombal na Paraiba fechando o circuito em Juazeiro do Norte, que temos a grande área de intervenção do homem do “ corpo fechado”; o povo dizia que bala alguma entrava naquele corpo, daí o medo às ordens intempestivas do cabra sangrador de gente.

No final de 1930 a audácia selvagem dos grupos sinistros de Lampião eram combatidos pelos Volantes, civis contratados para fazer frente aos cangaceiros. Eram enquadrados por graduados oficiais e sargentos da polícia militar; o comportamento destes grupos nem sempre se portavam como defensores da ordem, faziam atrocidades da mesma envergadura dos cabras do facão e o povo ficava com medo de ambos os lados.

Por esse ano de 1930 Corisco e Lampião continuavam organizados em alcateia intranquilizando todo o Sertão; surgindo periodicamente em povoados longínquos com mais incidência nos estados de Bahia e Sergipe; os muitos refúgios do velho Chico estavam ali à mão.

 

( Continua... O Velho Chico ... XXVI)

O Soba T´Chingange   



PUBLICADO POR kimbolagoa às 23:59
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KALUNGA TUPI . II

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO                   

      Mensagem para Iemanjá

Museu Histórico Nacional LIBAMBOS

Não quis reter tal pedido, e por isso, dei encaminhamento para que os Santos e, maus olhados não se interponham entre mim e todos os Orixás; subindo ás nuvens, rezei pela Sinhá, no bojo dum pássaro de ferro de nome “Varig”.

Para trás, entre coqueiros impregnados de bênção Xangô, ficaram velas e rosas espalhadas no areal da praia do Francês. Famílias de matutos, descem do agreste ou sertão e, em grupos, desabafam ali anos de descriminação em “dança-de-pretos”; a separação de terras e família dalém mar, são choradas com batuque, zungus ou  maracatus, cerceando afrontas do destino.

Este culto de Orixás, tem no dia oito de Dezembro um dia maior, pois a Nossa Senhora da Conceição é uma santa católica muito venerada e, faz parte das festas, iniciação e incorporação de Santos através de ritos, ritmos, cânticos e tambores sagrados. Noutros lados, a veneração deste mesmo dia, é feita a nome de Nossa Senhora da Aparecida.

 

Estas “Familias-de-Santo” com suas crenças, dançam com olhos revirando até à exaustão na beira mar. Embuidas de segredos invioláveis, com as lagoas de Mundaú e Manguaba por perto, invocam ritos do reino da rainha N´Zinga. È um exorcismo muito próprio na forma Nagô, a mais autentica tradição Afro-brasileira com origem em Angola.

Não vi ervas de preparo liambado, sómente negras gordas à força de tapioca, dando ordem à roda e libambos atados uns aos outros.

Beira mar, beira lagoa,...com  o estremo mitológico Jejeriorubá


Glossário - palavras sublinhadas

Condomblé – festa-de-Santos; Iemanjá / orixá – deus do mar; Tupi – índio da região de Alagoas; Sunga- calção de banho curto; sirí – caranguejo pequeno de mangue; quilombo – o mesmo que quimbo, sanzala rural; Xangô – prática de zungus, maracatus, práticas espíritas com dança; brama – marca de cerveja; nagô – crenças de tradição Bantu ( Angola ); Agreste – faixa entre o Sertão e a mata atlântica junto à costa; Sertão –Para lá do agreste, terra árida; zungus / maracatus – práticas de condomblé; jejeriorubá fetichismo africano ( costa ocidental ); matuto – cruzamento entre índio, mulato, preto ou branco;

N´Zinga – rainha do Congo, norte de Angola; liambado – com fumo de liamba, de erva psicótica; libambos – corrente, em fila, presos à mesma corrente; panos de comprar peças ( escravos) atados em forma de corrente  (forma simbólica).

               

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 01:20
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Quinta-feira, 10 de Dezembro de 2009
RECIFE – A SAGA DO AÇUCAR . III

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

O bodo dos pobres na “Folia do Divino”

 

 ILHA DE SANTA MARIA

 

 

 

Aos combatentes Madeirenses que se bateram nas campanhas de Bahia e Pernambuco contra os Mafulos, receberam tenças ou cargos administrativos como recompensa pelos serviços prestados; assim, se alicerçou as instituições régias de soberania local defendendo-a de corsários franceses, castelhanos e os referidos Mafulos.

Por via do novo tratado de Madrid que substituíu o já desuzado trato de Tordesilhas, constituiíu como primordial a efectiva ocupação do território por gente Lusa. Em 1746 foram enviados casais Açoreanos para terras do Sul; estava em curso o estancar de gente de Castela que ao longo dos anos se tinha instalado na foz do rio Prata, actual Uruguai, uma parte da grande Cisplatina.

Florianópolis passou a ser nesta corrente migratória a 10ª ilha dos Açores em terras do Brasil; as evidências estão mais vivas do que na terra mãe atravês das festas do Espirito Santo e os mistérios em honra do “Divino”, festa de Pentecostes que no calendário católico têm lugar cinquenta dias após a celebração da Pascoa. A tradição foi difundida nas ilhas por influência da Rainha D. Isabel  (1276 a 1336).

 

Tive oportunidade de assistir anos atrás à coroação de um Imperador na Ilha de santa Maria dos Açores e, nesse dia fui ao bodo dos pobres; ”folia do divino” que ocorre em toda a Ilha e que foi transposta para Santa Catarina do Brasil.

Em S. Vicente, persiste a tradição do bodo, mesa farta no dia do Divino Espírito Santo aonde ninguém paga e ainda leva merenda ou bolo para suas casas.

Na ilha de Santa Maria comprovo porque vi, em Santa Barbara e Vila do Porto, aos fins de semana andam uns mordomos com vestimentas especiais como os das irmandades, fazendo peditório para esta época de quermesse. Por vezes gente vinda da diáspora da  globália saudosa desses costumes dá alvissaras ofertando tudo para esta festa e, são inumeros os voluntários a ajudar nas muitas actividades.

Na triângulação Europa, África e Américas, principalmente a Madeira mas, também os Açores, estiveram no princípio dos usos como um laboratório esperimental da sociedade Atlântica.

Convêm desmistificar de que não é verdade terem sido os portuguêses que estiveram na origem da escravidão do negro e a criação desse mercado. No mundo Mediterrânico, crescente fértil e na África em geral já existia há muito tempo a escravidão entre tribos como coisa natural, mão-de-obra barata; isto está descrito nos testamentos da Bíblia, no livro do Gênises em que os vencidos eram tornados à condição de escravos, em troca de suas vidas; gente da tribo de Canã; este gesto era tomado como “humanitário” e, fez parte de todos os códigos da antiguidade como o de Hamorábi, e o direio Romano que serviu de  referência no mundo Português, mas não só, até o século XIX.

 

A escravidão foi introduzida na América em 1492 pelo próprio Colombo e conquiatadores que se lhe seguiram pois que, em suas naus já levavam escravos. Foi, no entanto, a partir de 1501 que os introduziram em São Domingos.  No Brasil, só se comprova a existência de escravos a partir de 1531, na Capitânia de São Vicente.

( Continua... Os caixões de açucar... IV)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:59
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Quarta-feira, 9 de Dezembro de 2009
TUIUIÚ

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

         Hoje vi um tuiuiú

 

O dia despertou às quatro horas e trinta minutos e, pelas cinco e dez, saio do portão do encontro do mar resoluto a subir a  a visivel ingreme encosta da Serra do Mar  no sítio “Do Francês.

 

 O MEU VIZINHO TUIUIÚ

 

 

Cruzei as pequenas dunas de areia branca, com o coqueiral ao lado, o som das ondas e vento cheirando a maresia, depois pequenos charcos contornados por esboços de mata atlântica, bem perto das trazeiras da minha casa grande. Chegado ao charco maior, um pantanal de dimensões reduzidas, vi um pássaro de intrigante pescoço alto que, pata-ante-pata de surrateira graciosidade buscava minhocas, caracois, cobrinhas,... Vigiava bichos rastejantes para na altura certa zás-tráz-práz e, em seguida ondulando o pescoço deglutir a vitima.

- Mas, aquele é mesmo um tuiuiú?

- Já tinha visto um em Mato Grosso e, este parecia ser igual mas, será mesmo?

Aqui, tão longe de Poconé, de Cuiaba, das colinas e currais contornados por quilométricos charcos, unidos por muitas  pontes de madeira em provisória transpantaneira.

- E,... Era mesmo um TUIUIÚ; fiquei feliz de ter um vizinho Tuiuiú.

Entrelaçado com plantas, parecendo próteas da África do Sul por semelhança, e capim, vi outras indefenidas flores de cheiros desconhecidos.

Passei dunas cerceadas em verde de palmeiras expontâneas com pequenos cachos de côcos, outros lugares menos densos parecendo anharas e, no sopé da elevação entre o frondoso arvoredo de sopé de serra entre pedregais e argila de variadas cores, brotava água límpida.

Pata-ante-pata  o tuiuiú espevitou o pescoço comprido e ficou de estátua um tempão apreciando-me já envolto em mata. Curioso, segui caminho vendo nas abertas e em viés, o seu comportamento pedante e altivo. Só, tendo dois cachorros por companhia, ali estava recebendo a primazia da sua visão,... a dum tuiuiú.

 

Nesse enorme tabuleiro, um mar de cana-de-açucar lá no cimo da mata, a chuva tropical entre Abril e Setembro, furiosamente despeja-se ali. Durante  os outros  seis meses do ano, esse líquido crucial sai por muitas pequenas nascentes alimentando a várzea pantanosa.

Como um bandeirante, descobrindo conceitos novos de casa grande, capela e sanzala, embrenhei-me nas sombras frescas de mato esvoaçado por codornas com saltitâncias de preás.  Gentes subalternas dum engenho crioulo, amores escondidos espreguiçados mais além do tronco arranhado de castigo. Pensando, caminhando, dava largas à liberdade entre pássaros bulhando piáres, micos chiando susto, alertando o bando, secretárias grasnando o silêncio com cágados a se escondem nas águas ferrugentas.

Chupando cana-de-açucar rumei de volta à casa grande, saciando a sede com sumarentos cajus amarelos, vermelhos e raiados  de ambas as cores. Comia os  frutos de cima enquanto o cão, tigre de nome, se lambuzava com os caídos no solo.

Havia muitas e muitas plantas por mim desconhecidas entre sápotis, bromélias, palmeiras silvestres , mangueiras, jabuticabas, e capim, muito capim formando fofas ilhas do pântano.

Os urubus pretos de cabeça vermelha voavam em circulo; no chão, uns quantos depenicavam bicho morto.

Como um micro laboratório do mundo, ali se  sustentava uma  perpétua  cadeia  alimentar, até que uma mão num qualquer dia, traiçoeira ou inocentemente, lançasse fogo; somos uns vulneráveis dependentes de acasos, in-felizmente.

Já eram horas de voltar; o sol picava!

 

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:02
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Terça-feira, 8 de Dezembro de 2009
KALUNGA TUPI . I

   FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO                       

                   Mensagem para Iemanjá

 Iemanjá

 

Alagoas, Maceió - Brasil. Dia oito de Dezembro do ano 2009, dia de Nossa Senhora da Conceição.

A água estava a 28 graus naquela praia de origem Tupi; o vento soprava do mar agitando-se em ondas enroladas que se espraiavam ao longo da praia do Francês; do lado norte, ouvia-se um estalar de foguetes intercortados a assobios batucados, um batuque repercutido como que, vindo de longe ecoando vozes de orixás.

Numa vontade de viver, gemidos perturbados de ondas, comprometiam aquelas vozes que, nos recifes de coral chispavam brancura.

Ginasticando lerdos movimentos transbordava-me em dúvidas; nadava no meio de naufragadas flores e papeis que surgindo do nada me  raspavam o corpo. Que seria aquilo?

Uma folha em jeito de carta redobrada boiava mesmo à minha frente; aguçado de curiosidade peguei-a e tentei dobrá-la mas, molhada como estava, não seria possível decifrar o conteúdo da escrita que só transparecia; outra e mais outra surgiu e, resolvi guardar duas destas na sunga para mais tarde as poder ler.

 

Já bem refastelado, na esplanada “Caçarola”, acompanhado de casquinha de sirí e brama shop, desdobrei as duas cartas cuidadosamente secando-as ao vento; enquanto isto o Remi ia-me contando as estórias do Lampião, homem de mato, destemido ladrão nascido em Bom Concelho e que por ali espalhou terror; Curiosamente, já sabia que comparsas deste bandoleiro tinham fugido para Angola, mais própriamente para  a actual Huila aonde se regeneraram em negócios de ferragens.

Após a secura daquelas cartas, pude ler e, não resisto transcrever uma delas, pois foi-me dado o condão provisório de orixá portador.

Pude ler então, misturas de sofrimento, chagas fundidas a água. Sonhos escondidos em mistérios de quilombo ,  aliavam-se no soro daquela existência aliviadora.

Celebrando fé da desencontrada missiva, desci à terra feito “Pai-de-Santo”, sentindo a dor daquela mulher,... mulher com condecorações cicatrizadas na alma.

     Molhado em pensamentos transgredidos li a carta que dizia:

 

- (início de citação)... “Minha Mãe Iemanjá, peço a Deus e nossa Senhora sorte, saúde e felicidade para todos os meus filhos dando paz e amor na casa de cada um. Peço para meu filho Giraldo que volte para casa dele para ficar com sua esposa e sua filha e, também possa vir visitar-me em minha casa.

Peço que ele se afaste daquela outra mulher e, que não sofra daquela outra, macumba, nem outro mal para si e toda a sua família.

Só peço paz, saúde e sorte com felicidade para ele.

Minha mãe, peço que a Senhora me dê minha aposentadoria com saúde, e um ano novo cheio de muita paz; peço que me cure dessas preocupações que sinto, e me liberte; que me cure também da dor que sinto no estômago e, por tudo quanto é sagrado faça com que meus cabelos parem de cair.

                            de sua filha

                            Sinha ....Ferreira da Silva ....(fim de citação)

( Continua... Tupi II )

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:38
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RECIFE . A SAGA DO AÇUCAR . II

 

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

        A Madeira, foi o início

 

 

 MADEIRA MADEIRA

 

Saído da casa da cultura do Recife, antiga prisão politica, é agora tempo de falar da influência que as ilhas da Madeira e Açores tiveram na introdução do açucar no Brasil e, implícita   emancipação com o surgimento do conceito de se, ser brasileiro.

Esta gesta de gente que lutou pela liberdade contra os Holandeses por alturas  de 1640, enfrentou do outro lado do Atlântico os mesmos Mafulos que em paralelo com a rapina de Olinda, se apoderaram da cidade de Loanda em Angola. Esses alguns intervenientes, salientaram-se como heróis que a história quiz esquecer; muitos morreram em prol de terras que passaram  a ser  as suas; supostamente, uns em Brasil, outros, no reino de N´Gola,... Uma esquina esquecida do mundo.

A descoberta da Madeira aconteceu em 1420 e, em 8 de Maio de 1440 o infante D. Henrique lançou a base de estrutura no conceito de posse, dando a Tristão Vaz carta de Capitão de Machico. Esta, foi a primeira capitânia a sêr atribuida a gente que por feitos se tornou de “linhagem Lusa” defendendo-se assim um sistema institucional que deu corpo em novas terras.

 

 A formação do Brasil colonial, foi à semelhança de Machico, também, partindo da atribuição da capitânia, a  de S. Vicente, ”a Nova Madeira” na costa Atlântica das terras de Vera Cruz. Aqui nasceu a grande metropole que é hoge, São Paulo com quase vinte milhões de almas.

Na capitânia de S. Vicente foram construidos os primeiros engenhos açucareiros; mestres madeirenses às ordens dum senhor governador de nome António Pedro Leme, terá sido o pioneiro no plantio das primeiras socas de cana oriundas da Madeira.

Com aquelas primeiras mudas de cana-de-açucar, das quais se formaram os primeiros canaviais deu-se início à saga do açucar na faixa litorânea Paulista.

Os Madeirenses, foram assim, os primeiros colonizadores e, isto,... foi só o início. No decorrer dos anos, foram até às imensas regiões do Sul aonde se situa agora o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; mais tarde e com maior impacto tomaram raizes no Nordeste Brasileiro.

O facto de a Madeira ter sido modelo de referência para o espaço global da Lusofonia Atlântica, não tem sido reconhecido nem divulgado. Esta migração humana que arrastou consigo um universo de conceitos, técnologia, usos, costumes, cultura e novos conhecimentos e até pesquisa no campo da flora, sivicultura em geral, teve um impacto de evidente progresso e, daqui atribuir-se a Portugal o início do conceito de globalidade; em verdade este mérito tem tudo a ver com o génes Luso.

 

Nesta primeira pedra da gesta Lusa em terras mais além de Sagres, houve impactos negativos mas, os de mais-valias para o Mundo valorizaram o arco-iris final.

A pequenês da Ilha Atlântica e sucessivas crises naquela tão dificil empinada topografia, levou os ilheus a buscar outros destinos menos trabalhosos e mais auspiciosos; primeiro foram para os Açores e Canárias mas, mais tarde, em precárias embarcações quinhentistas sulcaram  com os continentais terras longinquas como Curaçau, Venezuela, Brasil, Angola e África do Sul, levando consigo um modelo de virtude social, político e económico. Saíram deles os canaviais com seus canais de rega, engenhos e rodas motrizes. O seu contributo na feitura do Brasil teve início com a libertação do Maranhão (S. Luis) que se deu no ano de 1642 tendo António Teixeira de Mello como libertador enquanto que em Pernambuco e, pelo ano de 1645, João Fernandes Vieira organizava resistência armada aos Holandêses; para tal, em 1646, recebeu do rei D. João IV a carta de patente de mestre-de-campo para chefiar um terço da Infantaria formada nas Ilhas, 500 homens recrutados na Madeira, Ilha do Pico, S. Miguel, Faial e Graciosa no Arquipélago dos Açores. Este terço era constituido por quatro companhias de 125 homens.

 

( Continua... O bodo dos pobres... III )

O Soba T´Chingange




PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:41
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Segunda-feira, 7 de Dezembro de 2009
LUANDA ENTRE OS SÉCULOS XIX E XX

 

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

         Postal d’uma época

 

Igreja do Carmo   LUA . IGREJA DO CARMO

 

Nas manhãs de todos os dias ou quase quase, um odor de café fazia surtidas nos narizes da gente à mistura com os outros cheiros e também o de cajueiro em flôr. O pai de Juca de tempos a tempos trazia da roça de Kifangondo umas bagas de café que distribuia entre a visinhança. As N´gas mais-velhas secavam e torravam tais bagas que resultava depois num delicioso café.

Juka filho, caçador de plim-plaus e celestes, tinha um jacó que só dizia asneiradas das grossas, seu filho daquela, matumbo e o inofensivo olá, olá, olá, repetido como disco rachado. O dito cujo também tinha um macaco que deu em comer o próprio rabo, era um auto-rabeta canibal de si próprio; Um dia soltou-se e foi defenitivamente para o mato.

 

As avé-marias da Sé e da Igreja do Carmo faziam fugir em revoada os rabos-de-junco comedores de mamão; as celeste acoitavam-se nas mulembeiras e até piriquitos e cardeais davam sinal ao cair da tarde em bandos ondulantes indo lá para os lados do Quinaxixe.

Entre o cazumbi de  entretantos da urbe, as mulatas ondulavam bailado para as bandas do porto e do mercado que ficavam quase lado a lado. Por perto o cheiro do vinho era bem activo e as frutas fermentadas faziam pluf-pluf em barricas de quimbombo.

 

Uma quitandeira enchia sua quinda com rolos de tabaco e, entretanto de coto na boca, ia bafurando a queima lenta do charuto mal-cheiroso. Seu filho escanchava-se sonolento atado nas costas por um pano de cores vivas.

A Mutamba, centro rodoviário, surgiu mais tarde.

Apanhava o numero três para ir do Malhoas da Maianga ao Bungo fazer coisas à ordem do agora filho Engenheiro Paiva Neto, com o mesmo nome de seu pai.

Juro, se isto não é verdade, anda quase próximo nestas recordações milagrosas do antes Kipaka, cinema dos meus sonhos abandonados. Uma cultura de cinema. A minha.

 

O céu compunha o panorama de encanto naquela Luanda, tão cheia de silêncios sufocados na revolta de estar longe, contrafeito, envolto em caramelos de liberdade, e outros cheiros de mar, jasmim, alfazema ou flor de goiabeira.

O apetite ao passeio de Paiva Neto boiou no tempo encontros de gentes com cheiro a naftalina e... eu, procurava-me como viajante insaciável dum enigmático acaso de forças de brando silêncio.

 

O comboio do Bungo, deu o acorde de doçura musicada em apito longo; um registo sem segredos, conturbado. De vez em quando ainda apita.

Neste sonhar de muitos caminhos, poderia imaginar outro postal ou foto mas, esta foi a  mais verdadeira foto, com mais de muitos anos apreendidos na soturna  auto-estima.

 

O Soba T´Chingange 

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:26
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Domingo, 6 de Dezembro de 2009
MOKANDA - 2ª PARTE

CORRESPONDENTES DO KIMBO

          GENTILEZA DO EMBAICADOR DO KACUACU

 

   LUA .BAIRRO DA MAIANGA

 

Agora mudando de assunto vou falar das garinas da Lua, cinquentinhas e catorzinhas que vuzumunam um gajo.

 

1. As T´Shakiras: São as boazudas do pedaço. Gostam de gingar, usar roupas curtas e justas, fio dental ou asa delta e, na parte crucial, têm tatuagem. A andar parecem a Shakira a dançar, no  olhar  a astucia: "Eat me!". Seu alvo preferêncial é a chefia, cabolas não lhes interessam.

 

2. As de Baixo Nível: também conhecidas por "Me leva que eu vou",  estão sempre disponíveis. Basta um saldo de 10, " Ce-que-sabe" uma sessão de cinema no Belas ou um lanche no Jango. Umas birras com hambúrguer na roulote da tia Fefa resolve o problema. A maka destas é que são muito "disponíveis" e qualquer muadié lhes leva.

 

 3. As Titanics: São as encalhadas. A situação destas jovens é critica, o seu slogan è: "Haja homem! ". São muito selectivas na escolha dos parceiros e, isto faz com que  os candidatos fujam.

 

 4. As de "Colega que não apanha nada": São damas belas e inteligentes e, com elas é só trabalho e para além do trabalho … só trabalho mesmo. São simpáticas, prestativas e não misturam dever com prazer.  Se te armas em esperto vão te dar uma nega.

 

 5. As Ngaxi wa Kudiwa ou Galinhas Velhas: Aqui a chaparia está bala sem estrias, a montra é  bonita mas o armazém está malaique, baba óleo. Como galinhas velhas, só mesmo para fazer canja, ou pitar quando um gajo está desumorado.

 

Olha só os mambos de comentários das garinas:

 - «Cornos que dão de comer deixá-los crescer»
 - «Essa daí ,...chuta com o chefe»

 

Soba, elas juntam-se mesmo só para falar mal das outras. O carro que está há 3 meses no mecânico, e  até agora não consegue pagar a reparação; na casa daquela cortaram a luz por não pagar, está mbora preocupado com o carro novo da colega? Saber quem lhe deu dinheiro? Onde foi buscar a massa? Só desconsegue garantir cartão da parabólica, já acabou há bué, nem massa para pôr combustível no carro!

Estas fofoqueiras infestam as empresas pá, e vou te dizer como elas são chamadas:

 

 1. Fofotal – É a fofoqueira da TOTAL.
 2. Fofessa – É a fofoqueira da ESSO
 3. Fofangol – É a fofoqueira da Sonangol.
 4. Fofopina – É a fofoqueira da Panalpina.
 5. Zongalamento – Actividade praticada pelos zongolas do Banco de Fomento.
 6. Fofodiama- É a fofoqueira da Endiama.
 7. Tri-fofa – Como a estória das três porquinhas? Fofoqueira dos três AAA.

                     

Soba, isto é outra Maka Mais….

Na segunda-feira passada houve tolerância de ponto por causa do jogo com o Uganda (mesmo com o apoio popular empatamos). Estas tolerâncias de ponto, ao nível da imagem, só nos tiram pontos.
Está bem, você sai do emprego mesmo já sem autorização da entidade patronal? Você, ninguém mais te manda? Você já é  Manda-Chuva? Então não se trabalha mais?
Isto do tudo é possível, é mesmo outra Maka Mais….

Meu Kamba Soba, desculpa ter ficado tanto tempo sem te escrever; há aqui pessoas que lhes falta uma dimensão cultural e gostam de ir me queixar. Vão ir queixar que escrevo estes mambos nas horas de trabalho! 

Manda noticias aí da Tuga, e um abraço aos meus "pulas". Diz naquela gaja da Mariana, que em brevemente vamos se matar saudades.

 

 Tchau ilustre Soba

 Morro da Lua-Angola.

 

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:12
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Sábado, 5 de Dezembro de 2009
UM HINO À KALUNGA - III

     FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

              Alegria de viver

 

quilombola_de_sibauma.jpg MUSSEQUE = QUILOMBO

 

O pessoal de bordo sempre atento a esta odisseia de um velho com 70 anos sauda-o com uma gritaria e, em unissono ouve-se o apito grave troando um adeus,...  até à próxima amigo Zé.

O regresso ao cais bem perto de onde se situa a sua casa humilde, pode demorar até um pouco mais de duas horas.

Sua modesta casa denota não ter rendimentos que façam dele um homem remediado, aliás  o aspecto raia a tacanhés da sobrvivência mas, é aqui que podemos realçar a sua alegria no fazer por tostão uma tarefa de milhão.

 

Senhor Zé Peixe, na sua pobre casa, tem um frigorifico aonde conserva frutas e, a uma pergunta do jornalista, responde que sua alimentação é essencialmente de fruta, só bebe água de côco e não se lembra de quando tomou banho de água doce.

É ou não um hino à vida esta singela postura dum homem que quase, ou mesmo analfabeto nos transmite o poder e querer  ao invês de quem se desloca com meia mala cheia de medicamentos. Isto, confunde os piegas dando-nos esperanças no estímulo de gozar a plenitude da natureza a quem verdadeiramente tem força de vontade.

E, o mundo fala ao redor da crize. Feliz do senhor Zé Peixe.

Na Kalunga e, no bombordo do meu barco, a costa fibromiálgica da N´Gola, das kwangiadas, musas do Xiloango, Bengo, Dange e ninfas do Cuvo, do Giraul e do Kunene não há lugar para estas mordomias..

Em terras do Brasil, todos esses rios, lambem-me a saudade.

( Acaba...Um Hino à Kalunga )

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:54
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Sexta-feira, 4 de Dezembro de 2009
CIMEIRA DA CACHUPA

   FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

              A turma da Galera do Paraíso

 

Em terras de Vera Cruz reunidos que estavão condições para formar uma Assembleia digna da Globália deu-se alvissaras aos emissários originários de Cabo Verde, Moçambique, Angola, Portugal, Brasil e Itália.

Esta amálgama de gente designada de “Turma da Galera” após um entretanto do Soba  T´Chingange após a chamada “por badalo”, acharam por bem dar conhecimento ao Reino de Manikongo, ao seu rei D. Grafanil I, a toda a nobreza, clero e Kimbanda, deste modo.

Em quórum unissono tomaram a decisão de que este Akto ficasse registado nas gavetas de jatobá da Torre do Zombo com a chancela de D. Rosa Comendadora das terras do Paraíso e Massagueira.

Assim, a representante de Cabo Verde Leonor, tendo ofertado uma cachupa com todos e a todos, foi-lhe atribuido o galardão maior das terras de La Mancha com a postura duma medalha em seu peito: “D. Quixote com lança, montado num gerico com seu auxiliar Sancho Pança  ao lado”.

Miguel Cervantes idealizou uma guerra de vento tendo moinhos como guerreiros inimigos. Aludindo a essa guerra sem sangue, retribuimos o agradecimento a Leonor com o seguinte documento:

 

         cachupa de Cabo Verde

ALVARÁ DA CACHUPA

 

A vida sem amigos, é um céu sem andorinhas.

A turma da GALERA  DO PARAÍSO, neste dia da graça de 15 de Novembro de 2009, explorando os recantos da amizade que existe em cada um de nós, reunidos em Assembleia no lugar do Francês em Alagoas do Brasil com uma mui digna representação nas pessoas de Dona Rosa, Comendadora da Galera, Senhor Tulio, Emissário do imperador defuntado Nero, Senhor Aristides Arrais, Donatário da Lagoa Azeda e seus mangais, e os Exmos Antónios I, II e III respectivamente  Embaixadores da Calábria, da Guarda e Allgarves, com suas Exmas Esposas, vêm neste singelo Akto, agraciar a Exma Madame Dona Leonor, como a Princesa da Cachupa.

Extraindo alegrias das pequenas coisas, com Ela, queremos fazer da vida um espéctáculo permanente revelando-nos: - Ás vezes o maior inimigo que temos, somos nós próprios.

Porque estamos aqui reunidos fazendo um hino à vida, vamos recordar este agrado rindo dos nossos anceios e outros absurdos obstáculos com a humilde chancela que nos foi legada: - O Nome, Sobrenome  e, Cognome.

E, para que este acto conste em registo de memórias e emoções, com Ela, a Princesa da Cachupa, soltamos as depressivas visões omissas, compartilhando o caminho e o carinho aos vindouros. 

Encarquilhados num feitiço louco, subscrevemos esta dita cuja.----

 

 

A Agraciada:__________Leonor   Jordão  

  

Os Agraciadores:_____ Toda a Turma da Galera do Paraíso

 

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:21
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Quinta-feira, 3 de Dezembro de 2009
LUANDA . ENTRE OS SÉCULOS XIX E XX . 2ª PARTE

FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

Postal d’uma época - II

 LUANDA . FORTALEZA DE S. MIGUEL

 

Na praça dos Correios no meio do jardim de acácias e jacarandás ficava o coreto aonde dentro de momentos iria tocar a banda do Regimento de Cavalaria e Expedicionários do Reino.

Havia um coreto muito melhor ornamentado em frente ao Palácio do Governo. De vêz em quando Paiva Neto, ia lá às festas organizadas pela esposa do Senhor Governador juntando a gente notável daquela Luanda, tão cheia de pó com cheiro ocre, fuba fermentada e peixe podre curtido.

Os serviços administrativos ficavam lá na Alta ladeando o palácio, a imprensa do reino aonde já se publicava o Boletim da Colónia estava bem perto.

 

Na Praia do Bispo intercalado com mato, espinheiras e piteiras escondiam-se umas cubatas de pescadores que na falta de melhor agarravam tainhas com fateichas, faziam esteiras por encomenda e curtiam a preguiça estirados na sombra dos coqueiros.

O Alto das cruzes aonde se enterravam os mortos ficava bem do outro lado no topo das barrocas arenosas e, também por lá perto ficava a lagoa do Quinaxixe rodeada de imbondeiros e muitas piteiras de chinguiços agrestes.

Um dia, Paiva Neto aventurou-se subir até Quinaxixe e jurou para nunca mais, chegou esfalfado que sob o susto assistiu a uma macabra visão de gente negra cortando o pénis a crianças. Ficou a saber que não era bem isso; tratava-se do culto da circunscizão a filhos  de trabalhadores assalariados do Caminho de Ferro. Estes assalariados contratados em terras de Ambaca e Pungo N´Dongo que  viviam no bairro do Maculusso faziam questão de fazer valer suas práticas de cultura e higiene.

O Comboio apitou ao sair da estação da Maianga, lugar em que Paiva Neto ia com frequência instruir funcionários de segunda linha ou seja auxiliares de vigilância e capinadores do tramo até o Bungo no sentido descendente e, do outro lado até às oficinas do lugar de Vila Alice, um bairro novo para funcionários administradores da nova via de Ambaca. Mais tarde a via  estendeu-se até Malange.

 

O capim desordenadamente acastanhado defenia as inexistentes infraestroturas bulhando com o vento; detinha-se nos muros esfarelados em caliça de tijolo de só barro, nem cozido nem fermentado, só taipa caiada em cal de mabanga queimada. A sugeira era espantada pelas patas ágeis dos galináceos buscando matacanhas entre pocilgados lugares. Num lugar mais recatado havia sempre uns tufos de chá caxinde da qual a N´ga Mingas fazia refresco e muitas vezes chá cheiroso.

( Continua... as avé marias da Igreja do Carmo ... 3ª parte )

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:51
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HÁ VÁRIOS INFERNOS!...

 CORRESPONDENTES DO KIMBO

               EMBAICHADOR DO KAKUACU

 

UMA KIANDA DO ZALA

                                    O ZALA E A BARRACUDA

 

SÓ MESMO O ANGOLANO  PARA NOS FAZER RIR.................

Um homem pacato, morre e vai para o inferno.
Ao chegar lá, ele descobre que há um inferno diferente para cada
país e, decide tentar o menos penoso para passar a sua eternidade.
Ele vai ao inferno alemão e vê uma pequena fila de pessoas e pergunta : 

 
O que fazem aqui ?
Disseram-lhe: « - Primeiro põe-te numa cadeira eléctrica por uma hora.
Depois põe-te numa cama de pregos por mais uma hora.
Ao final, o diabo alemão vem com um chicote e chicoteia-te até a noite».
O homem não gosta do que ouve e tenta a sua sorte num outro inferno. Ele passa pelo inferno dos EUA, da Rússia e muitos mais.
Todos eles praticam o mesmo que o inferno Alemão. Mas o que
fazer então?
 
Ele continua a andar até que descobre uma grande fila no inferno de
Angola, era tão longa que fazia lembrar a missa do papa na cimangola.

 
Muito intrigado, ele pergunta o que fazem nesse inferno. Ao que lhe
Respondem: Primeiro põe-te numa cadeira eléctrica por uma hora.
Depois põe-te numa cama de pregos por mais uma hora. Por fim o
diabo Angolano vem com um chicote e chicoteia-te até a noite.
Aí, mais admirado ainda, o homem pergunta: Mas é exactamente o mesmo tratamento que fazem nos outros infernos. Porque razão então a fila aqui é tão grande?

Resposta:
"Porque aqui nunca há electricidade, portanto a cadeira
eléctrica não funciona. Os pregos foram encomendados e pagos,
mas nunca foram fornecidos, os contentores estão presos no
porto, portanto a cama é muito confortável. 
E o diabo angolano é trabalhador da função pública, por isso
vem, assina o ponto e depois sai para tratar de assuntos
pessoais, portanto nunca está presente para chicotear
os mortos"...

"ANGOLA KUIA"

 Com o Soba T´Chingange


PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:03
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Quarta-feira, 2 de Dezembro de 2009
BRASIL E O CANGAÇO . XXIV

  FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO

             Herói do olho caído

 

  ... Canion , Rio São Francisco CANYON NO RIO S. FRANCISCO

 

 

Por esta declaração, pode deduzir-se, o quanto era invejável a logística do cabra do cangaço.

Um sobrevivente ao combate final de nome “O Balão”, relata como a costureira, referindo-se à metralhadora, deu a sua sinistra gargalhada naquele dia de 28 de Julho de 1938 pelas 5 horas da manhã. Rompia o dia quando aquela bordadeira nos costurou.

 

- Estávamos acampados no Rio de São Francisco; Lampião reuniu os homens e leu um missal encardido em voz alta, todos nós ficamos ajoelhados ao lado das barracas, respondendo amem e batendo a mão no peito na hora do Senhor Deus. Amoroso foi buscar água para o café e, foi quando se agachou no córrego de onde veio o primeiro tiro. Havia uma metralhadora atrás de duas pedras a uns vinte metros da barraca de Lampião. Pedro Cândido, o traidor tinha dado ao sargento a posição das barracas e disposição das camas. Mergulhão foi cortado ao meio quando se levantava.

Eu mantive-me deitado, coloquei o bornal de balas no ombro direito, calcei uma alpercata e, quando me levantei vi o soldado batendo com o fuzil na cabeça de Mergulhão. Num repente, ele estava com o cano da sua arma encostada na minha perna e eu, apontava o meu mosquetão contra sua barriga. Atiramos! Caímos os dois e fomos formar uma cruz  junto ao corpo de Mergulhão.

As balas batiam nas pedras saltando faíscas e lascas, ouviam-se gritos e, com o eco, na gruta parecia um inferno.

Levantei-me devagar; o soldado estava morto e, minha perna não fora quebrada. Foi então que vi Lampião caído de costas, de cara voltada ao lado, com uma bala na cabeça.

Moeda, Tempo Duro, Quinta-Feira, todos estavam mortas. Contei os corpos dos amigos: - Nove homens e Maria Bonita. Maria Deá Oliveira, ferida, escondeu-se num recanto da gruta.

Luís Pedro, gritou que ia pegar o dinheiro e ouro na barraca de Lampião mas, caíu atingido por uma rajada. Corri até ele, peguei seu mosquetão e, com Zé Sereno, consegui furar o cerco. Tive a impressão que a bordadeira enguiçou no momento exacto; para mim foi Deus que me deu uma mão. (fim de citação, Guerreiros do Sol de Frederico Pernambucano de Mello).                           

 

Lampião caiu às mãos do tenente João Bezerra da Silva, comandante geral da tropa volante do São Francisco.

Foi em Angico, naquela “cova de defunto” no linguajar de Corisco; tudo se defuntou naquele sítio perto de Piranhas, no lábio do rio, caminho de água com pancada mansa e flocos de areia enforquilhadas em lajes íngremes, altos arrifes.

O capitão honorário “herói do olho caído”, morreu de bruços com um tiro na testa. 

Gente contactada por mim, natural de Água Branca, perto de Delmiro Gouveia disse-me que entre Lampião e João Bezerra havia um trato secreto de corrupta relação entre estes dois trastes, palavras do entrevistado e mais disse, que entre o trato de gente marginal do cangaço e as autoridades constituidas em volantes não havia diferença. Textoalmente foi-me dito que se era morto por dá-cá-aquela-palha e por ter cão ou esfolado por não o ter; leve o diabo à escolha.

O tenente João Bezerra recebia beneses por encobrir e fazer teatro de diversão para enganar os seus superiores mas, um dia a pressão destes não deu para encobrir, nem avisar o companheiro de compadrio.

 

( Continua... 2ª Parte - O Velho Chico ... XXV)

O Soba T´Chingange      



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:32
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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