FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
" O ENCLAVE"
RIO CHILOANGO
De facto, os descolonizadores Tugas, ignoraram e desrespeitaram o Artº 3º dos tratados de Chinfuma (1883), Chicamba (1884) e Simulambuco (1885): «Portugal obriga-se a manter a integridade dos territórios sob o seu protetorado», e foram indiferentes ao Artº 12º dos tratados de Chinfuma e Chicamba, cuja redação é: «São declarados nulos quaisquer tratados ou contratos que encerrem cláusulas contrárias aos artigos anteriores».
Neste contexto, assiste aos Imbíndas denunciar, internacionalmente, o incumprimento por parte de Portugal dos tratados atrás referidos, e levar o caso à ONU para discussão e resolução, até porque é altura da chamada descolonização, vigorava ainda a Constituição Política Portuguesa de 1933, apenas revogada um ano depois do «golpe» militar de 25 de Abril de 1974. Acresce ainda a dúvida quanto à competência e legalidade dos intervenientes por parte de Portugal no acordo de Alvor que veio a ser anulado.
Por tudo isto se conclui que o caso de Cabinda não é político nem militar, mas sim uma questão jurídica que aguarda a solução adequada.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
- Tratado de Chinfuma (1883); Chícamba (1884) e Simulambuco (1885)
- O Enclave de Cabinda (padre Joaquim Martins, 1976)
- Nobreza de Portugal e do Brasil (pág. 458)
- A Independência de Cabinda (edição Litoral, 1877)
- Alfredo Albuquerque, Nós, os Cabindas (1933)
- Cabindas (Joaquim Martins, 1972)
- Boletim Oficial: n's 571, 6/9/1856; 483, 30/12/1854; 388, 5/3/1853; 42, 1883.
- Colecção oficial da Legislação Portuguesa, 1883 edição Imprensa Nacional
- Diário do Governo: VI série, no. 167, 19/7/974; 14 série, no. 124,27/7/74; 1' série no. 240,15/10/74; no. 23 de 28/1/75 14 série, no. 143 de 24/6/75; 251 série, no. 193, 22/8/75
- Acordo de Nakuru
- Efemérides Ultramarinas (1972)
Colaborador na divulgação: Soba T´Chingange
Edição do Autor Adulcino Silva
CORRESPONDENTES DO KIMBO
*MALEMBE-MALEMBE*
As escolhas do Exmo Visconde do Mussulu
PAU GRANDE . Reportagem de "O PAIS"
DOCUMENTOS AVULSO
Limites? Praticamente nenhuns. Quem quiser transformar-se da noite para o dia em licenciado, precisar de apagar todo o cadastro de crimes ou passar por um cidadão com os seus compromissos militares resolvidos, tem uma mão cheia de soluções. Só tem que dispor de dinheiro e descaramento quanto baste. Uma verdadeira indústria de falsificação funciona a todo o gás em Luanda.
Para saber como tais grupos mafiosos operam, O PAÍS percorreu, por algumas horas, um dos maiores e mais conhecidos centros de falsificação de documentos da capital: o chamado “Pau Grande”, sito no município do Cazenga.
Oito horas da manhã. Quarta-feira, 24 de Fevereiro de 2010. A equipa de reportagem d´O PAÍS chega ao município mais populoso de Angola, o Cazenga, mais propriamente no local onde foi erguido o Marco Histórico dos Heróis de 4 de Fevereiro. Ao contrário do que habitualmente acontece neste mês, não estamos ali para homenagear os gloriosos guerrilheiros, mas sim para conhecer de perto o local onde terá começado a maior burla bancária de todos os tempos no país. Defronte ao marco histórico, dezenas de jovens encontram-se reunidos numa amena cavaqueira.
Outros tantos estão já a consumir as primeiras cervejas do dia numa barraca feita com paredes de esteiras. O que parece ser um convívio normal e inocente é, na verdade, um posto ilegal e criminoso de trabalho.
Mal nos aproximamos à barraca onde se vendem as “birras”, alguns jovens com mochilas às costas perguntam-nos, na maior displicência, se queremos tratar documentos.
Pelo que, inicialmente, respondemos com um firme “não”. Alguns metros depois, notamos que é no pormenor que tudo faz sentido. Os mais cautelosos piscam o olho a toda gente que por ali passa ou então fazem gestos com as mãos indicando que ali se comercializa todo o tipo de documentos. Disfarçados de clientes de primeira viagem, acenamos positivamente aos mais discretos, como sinal de que queremos fazer negócio. Num ápice, estamos rodeados de oito jovens que apresentam e vendem os seus serviços.
“Temos todo o tipo de documento.
O que é que o kota quer?”, questionam-nos, para depois anunciarem que vendem cartas de condução, passaportes de disponibilidade, todo o tipo de documentos militares e policiais, certificados de habilitações literárias, registos criminais, atestados médicos e de residência, bilhetes de identidade, cédulas, alvarás, entre outros.
Receoso, o falso cliente, ou seja eu, mostro-me assustado com tamanha ousadia em pleno espaço público e digo que prefiro negociar no local onde são feitos os documentos. Num à-vontade, os jovens garantem que não há qualquer problema em fazer negócio na rua, no entanto, encaminham-me para um estúdio de fotografia defronte ao supermercado Zamba I. Para meu espanto, dentro da “Fuji Film” estão duas cidadãs chinesas, funcionárias do estúdio, que acompanham a negociação sem sequer mugir nem tugir. “Kota, diz o que queres?”, insiste o jovem de estatura média, trajado de calção, camisola e tênis branco da moda.
“Bem. Preciso de um documento para entregar numa empresa petrolífera. Quero ser um chefe administrativo.
Preciso de um certificado da Faculdade de Direito do último ano, registo criminal e um documento militar”, explico-me.
“Não há makas. São 12 mil Kwanzas, mas este preço pode ser discutido”, alertou, depois de me ver franzir o nariz.
Na verdade, o certificado de habilitações varia entre 10 e 12 mil Kwanzas; o registo criminal custa 2 mil e o passaporte de disponibilidade 5.500Kwanzas. Entretanto, como anuncio que vou querer mais outros documentos, o preço inicial reduz substancialmente para metade, isto é, seis mil Kwanzas para os três documentos.
Segundo os meus interlocutores, os preços dos certificados variam consoante o ano acadêmico e a Universidade. Ou seja, os canudos da Universidade Agostinho Neto (UAN) são mais caros em relação às universidades privadas, sendo que o valor dos diplomas das faculdades de Direito e Medicina são mais elevados. O mesmo acontece com as cartas de condução. As da SADC custam 16 mil Kwanzas, enquanto que as tradicionais de cor rosada, também conhecidas como “cartão de pão”, são comercializadas ao preço único de seis mil Kwanzas.
Os atestados médicos e de residência são vendidos ao preço de 1.500 Kwanzas.
A negociação entre o falso cliente (no caso o jornalista) e o falsário dura menos de vinte minutos, tempo suficiente para eu anotar num papel os meus dados pessoais, na verdade deturpados.
De acordo com os jovens mafiosos, a feitura do documento dura apenas dez minutos, devendo o interessado aguardar por ele numa barraca nas imediações. Caso não queira ficar naquele ambiente criminoso, o cliente pode ainda ir dar uma volta nos arredores do bairro. Feliz ou infelizmente a acção criminosa durou mais tempo do que o anunciado. Cerca de 30 minutos para a entrega do registo criminal.
“Na fonte está muito cheio. O kota que bumba o mambo tem mais de 50 papéis na mesa”, justifica-se, no seu português de “business man”, sem que para tal aceite levar-nos ao local exacto da máfia.
“Nós apenas recebemos o documento e levamos ao kota da banda.
Não estamos autorizados a levar lá os clientes, porque pode ser DNIC”, atira cauteloso.
Segundo o nosso interlocutor, que não se identifica, as acções são praticadas por mais de cem jovens que se encontram distribuídos na estrada que liga o Tanque do Cazenga e o Imbodeiro do mesmo bairro.
A ousadia do farsante é tanta que, enquanto esperamos pelo documento, um jovem membro da gangue criminosa dá-se ao luxo de, diante de todos, imitar com alguma perfeição (pelo menos aos nossos olhos e dos mais leigos) a assinatura dos directores provinciais da Viação e Trânsito que assinam as cartas de condução.
“A assinatura do director de Cabinda é assim. A de Luanda é assim”, exemplifica numa das folhas do seu fiel caderno onde transporta os documentos falsos já emitidos. Vaidoso, porque está próximo da perfeição, o jovem anuncia aos comparsas que nos próximos tempos vai deixar de ser intermediário para passar a tratar, ele mesmo, os documentos falsos.
“Já tenho uma máquina de dactilografar. Falta apenas um computador para ´bumbar´ as cartas de condução da SADC e outros ´ducús’ militares que dão mais dinheiro”, diz perante a cumplicidade das meninas de olhos rasgados e a estupefacção do repórter-cliente.
O relógio já marcava 14 horas quando o jovem nos trouxe o documento militar. Mas outro farsante diz que o traímos porque somos clientes dele. Aliás, prossegue, "o muadié" tem cara de um dos meus familiares”. Pura astúcia. Argumento infeliz rapidamente entendido pelo concorrente que o afasta. Como é dia de jogo Petro-ASA, os jovens retiram-se mais cedo do campo de “trabalho” porque têm de ir assistir ao derby luandense.
Curiosamente, a nossa reportagem constatou que o crime realiza-se a poucos metros de duas unidades policiais, sendo que tudo é feito às claras. Os falsificadores, com idades compreendidas entre os 16 e 50 anos, espalhados por toda avenida, em pequenos grupos, são muito populares entre os moradores e comerciantes que praticam nos arredores negócios decentes.
Nem tudo é falso
Entretanto, de acordo com dados obtidos no local, nem todos os documentos feitos no “Pau Grande” são totalmente falsos.
O PAÍS soube que os animadores deste obscuro negócio funcionam, em alguns casos, com os funcionários públicos das mais variadas repartições do Estado. Por exemplo, deu para verificar como uma falsa carta de condução da SADC não tinha ainda sido plastificada porque os farsantes aguardavam pelo selo original, redondo e prateado, que dá maior credibilidade ao documento. “O selo é original. Vem mesmo da fonte”, garante. Por outro lado, caso o solicitante queira de facto uma carta de condução original proveniente dos Serviços de Viação e Trânsito, isso também se transaciona. É tudo uma questão de preço, que no caso varia entre mil a 1.400 dólares. Paga-se e não é preciso fazer o exame de condução! Ali ainda é possível adquirir-se passaportes, declaração escolar, guias médicas, cédulas marítimas, entre muitos outros papéis oficiais necessários para os mais diversos fins burocráticos.
Segundo apurou O PAÍS, a Polícia tem realizado algumas acções de busca e captura dos farsantes, sendo que, em muitos casos, são apreendidos carimbos, papéis já timbrados de instituições públicas e privadas.
Um farsante confidenciounos, orgulhoso, que em todas as faculdades tem pelo menos um estudante que ingressou com o seu certificado. “Tenho a minha marca em todas as faculdades”.
Não obstante, os falsificadores do Pau Grande garantem que a fraude milionária do BNA não começou no ´SIAC´ do Cazenga, como também é conhecido o lugar, numa alusão ao oficial Serviço Integrado de Atendimento ao Cliente, que funciona nas novas urbanizações de Talatona, em Luanda.
“Isso é coisa de peixe muito grande. São outras redes de filhinhos de papais que estudaram nas faculdades do exterior que falsificaram os documentos”, diz outro jovem, que falsifica documentos há mais de 15 anos.
Para ele, se alguém do grupo tivesse participado da fraude bancária, já não estaria no bairro e toda a gente se aperceberia.
Enquanto esta reportagem foi feita, pelo menos seis cidadãos foram vistos a solicitar o serviço dos farsantes, uns por motivos acadêmicos e outros de emprego.
Convém sublinhar que a falsificação de documentos não é prática delitiva exclusiva do município do Cazenga. Ela ramificou-se um pouco por toda a cidade capital. “As pessoas falam mais do Pau Grande porque aqui o documento é feito com perfeição”, argumenta um jovem.
Bilhetes de Identidade, cartas de condução, cédulas de naascimento, registos criminais e atestados médicos e de residência, estão entre os documentos mais solicitados.
Nota da Redacção: os documentos adquiridos pelos jornalistas para dar suporte ao presente trabalho de reportagem vão ser destruídos ou, caso as instituições públicas mencionadas os pretendam obter para efeitos de comparação e peritagem, estão obviamente disponíveis.
Seleção de
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
O projecto de Nelo
O fiel depositário de Sakapwma* ( Seu Pai )
MASCARAS AFRICANAS
Pelo museu do Dundo passaram cientistas, jornalistas, cineastas, professores, reis, presidentes, governadores, ministros, visitantes vários no intuito de conhecerem a cultura Kioca; citaremos alguns, tais como o Professor Luis Câmara Cascudo (Brasileiro, um dos maiores expoentes internacionais do folclore e de quem se tornou amigo, conforme cartas em seu poder), Professor Hermann Baumman (grande etnógrafo Alemão que ficou durante um ano, aprendendo junto a Acácio), Gilberto Freire, Dr. Joseph Miller (Professor da Universidade de Vírginia nos EUA), Bárbara Smith (Universidade de Boon na Alemanha), Sra. Mary Louise Bastin (pesquisadora e escritora Belga), Vac Dante (correspondente de guerra e fotógrafo artístico Italiano), Imperador e Imperatriz da Áustria (que o visitaram por duas vezes), Presidente General Craveiro Lopes, Dom João Rei da Bulgária.
Acácio Videira a todos acompanhava dando a assistência necessária repassando seus conhecimentos.
O seu aprendizado da etnia tchockwe foi fruto do contacto com o reconhecido etnógrafo Dr. José Redinha, do qual se tornou amigo. O Museu do Dundo foi objecto de especial atenção deste credenciado técnico.
Acácio Videira na sua paixão pela escultura ancestral dos Kiocos extravasou a sua força artística e criativa, começando a esculpir suas próprias obras. Foi ao longo dos anos, aceitando pequenos agrados dos nativos, adicionando a seu próprio espólio estatuetas facultadas pela amizade de tanta gente de arte; gente omitida das venturas da vida; humildes e inocentes artistas que têm agora relevância pelo mão do filho de Sakapwma.
Ocasiões houve, de negociar extra-Museu, peças que o nativo fazia questão de que fosse para ele o. Soube sempre desvincular o que era de grande valor etnográfico e necessário para o acervo do Museu.
No decorrer de 28 anos, montou um pequeno patrimônio de 350 peças genuínas (cerca de treze peças por ano), de grande valor etnológico. O facto de serem poucas em número é revelador de que não tirou aproveitamento de uma situação que se lhe oferecia em desfavor do museu do Dundo; Sakapwma caso o quisesse, teria condições de possuir hoje milhares de peças.
Após a independência de Angola, por imposição dum arredio destino, veio para o Brasil. Mostrando sua obra em exposições de sucesso, participou em várias palestras para as quais foi convidado, transmitindo assim seus conhecimentos a estudantes de vários níveis. Suas intervenções eram apreciadas por sua sapiência num encanto de magia e sabedoria tão característica de quem absorveu a sabedoria oral dos povos de África.
Na década de 90 passou a dar aulas de pintura, escultura na Escola Nair e no INECAC da cidade de Contagem, tendo como alunos crianças carentes. Este trabalho mereceu reconhecimento por parte da prefeitura, tornando-o cidadão honorário de Contagem.
Quando largou esta atividade por questões administrativas, entrou em depressão acelerada que o levou mais rapidamente à morte.
( Continua )
José Manuel Primo Videira (Nelo)
Subscreve: O Soba T´chingange
CORRESPONDENTES DO KIMBO As escolhas do Exmo Embaixador do Kacuacu
A minha leitura de 2ª Feira
Lusofonia O país do futuro próximo Rio de Janeiro. Guardem esta ideia: nos próximos dez anos regressará a emigração portuguesa para o Brasil. Só espero que não ultrapasse a imigração brasileira para Portugal - nós precisamos de mais gente, e gente nova, do que eles. Mas a nova emigração portuguesa para aqui vai ser diferente da anterior: vai ter características de fuga de cérebros. Aqui e ali vou encontrando os precursores. É o casal de geólogos - ela transmontana e ele ribatejano - que dão aulas na Escola de Minas de Ouro Preto. É o jovem arquiteto que veio estagiar para São Paulo e foi ficando. É o professor universitário que quer ir para Florianópolis, Santa Catarina. É o casal que antecipou a reforma e, ainda em idade de abrir um negócio, se deixou tentar pelo Rio Grande do Norte ou Alagoas. E outros. A violência nas grandes cidades brasileiras ainda assusta muito. A distância entre o conforto da classe média-alta e a labuta do brasileiro comum continua enorme, e não é fácil de encarar. A diferença entre o euro e o real - que já foi maior - também faz pensar duas vezes. Acrescentada à distância das viagens, faz com que não seja como ir trabalhar para a city de Londres e poder visitar a família várias vezes ao ano. Mas, ainda assim, eles virão. Quando começarem a ver que uma das excelentes universidades federais (e só nos últimos anos abriram mais 14) pode contratar uma centena de professores de uma vez, e com contratos praticamente para a vida. Quando lhes disserem que ainda há concursos públicos que são abertos a “cidadãos brasileiros e portugueses”. Quando se derem conta de que as políticas do Governo Lula - em particular o programa conhecido como “bolsa-família” - tiraram milhões de brasileiros da pobreza e puseram as suas crianças no sistema de ensino. Quando descobrirem que aqui é um prazer lidar com uma multidão de estudantes universitários empenhados, desempoeirados e informais. Os portugueses verão, e virão.
Sou ambivalente em relação a este movimento. O lado positivo será apresentar ao Brasil uma nova geração de portugueses, que aqui reatará (e ampliará) uma tradição que passou por Jorge de Sena, Jaime Cortesão ou Agostinho da Silva. E para os portugueses é compreensível como nascerá o fascínio. Embora eu suspeite que muitos irão para cidades com mais qualidade de vida (e menos crime) como Brasília, Curitiba ou Florianópolis, é preciso reconhecer que o Rio e São Paulo são a nossa Nova Iorque - ou a Meca e a Medina da língua portuguesa no Novo Mundo, duas cidades que todos nós deveríamos experimentar uma vez na vida. Mas isto significará que Portugal não os conseguiu segurar. O que aliás já é verdade. Em teoria, nós poderíamos conseguir reequilibrar a balança. Não há razão para que a Universidade de Coimbra, que aqui toda a gente ainda reconhece, não atraia uma geração de brasileiros, endinheirados ou com bolsas brasileiras. Em certos centros de excelências, essa possibilidade já é visível. Lisboa e Porto seriam - já são -um destino interessante para jovens brasileiros sedentos de Europa. Para isto acontecer, os portugueses também terão de rever a sua visão dos brasileiros. Os portugueses terão sobretudo de entender que ser aberto é, hoje, a única maneira de ser forte. E terão de entender que, face às tendências que não podemos mudar, o que mais vale é prevê-las e navegá-las da forma mais vantajosa possível. Porque elas vêm de mansinho, ninguém as espera, e de repente instalam-se, incontornáveis. Daqui a dez anos falamos! Rui Tavares - Historiador. Deputado independente ao Parlamento Europeu pelo Bloco de Esquerda (http://twitter.com/ruitavares) |
MALEMBE-MALEMBE
As escolhas do Exmo Visconde do Mussulu
HENRIQUE MEDINA CARREIRA
- Numa entrevista à SIC Noticias, para ler e reler,... Para quem não viu, leia a síntese:
JOSÉ SÓCRATES É UM HOMEM DE CIRCO
A economia vai derrotar a democracia de 1976.
José Sócrates é um homem de circo, de espetáculo. Portugal está a ser gerido por medíocres, Guterres, Barroso, Santana Lopes e este José Sócrates; não perceberam o essencial do problema do país.
O desemprego não é um problema, é uma consequência de alguma coisa que não está bem na economia. Já estou enjoado de medidinhas. Já nem sei o que é que isso custa, nem sequer sei se estão a ser aplicadas.
A população não vai aguentar daqui a dez anos um Estado Social como aquele em que nós estamos a viver. Este que está lá agora, o José Sócrates, é um homem de espetáculo, é um homem de circo. Desde a primeira hora. É gente de circo. E prezam o espetáculo porque querem enganar a sociedade.
Vocês, comunicação social, o que dão é esta conversa de «inflação menos 1 ponto», o «crescimento 0,1 em vez de 0,6». Se as pessoas soubessem o que é 0,1 de crescimento, que é um café por português de três em três dias... Portanto andamos a discutir um café de três em três dias... mas é sem açúcar.
Eu não sou candidato a nada, por conseguinte não quero ser popular. Eu não quero é enganar os portugueses. Nem digo mal por prazer, nem quero ser «popularuxo» porque não dependo do aparelho político!"
Ainda há dias, num supermercado, numa fila para pagar, estava uma rapariga de umbigo de fora com umas garrafas, e em vez de multiplicar «6x3=18», contava com os dedos: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7... Isto não é ensino... É falta de ensino, é uma treta! É o futuro que está em causa!
Os números são fatais. Dos números ninguém se livra, mesmo que não goste. Uma economia que em cada três anos dos últimos 27, cresceu 1%... Esta economia não resiste num país europeu.
Para quem anda a viver da política para tratar da sua vida, não se lhe pode esperar coisa nenhuma. A causa pública exige entrega e desinteresse.
(Continua)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
T’XIPALA DO PUTO
PEDRAS DA MULOLA
Pica, Aninhas e Batalha, duvidavam que eu fosse mesmo branco! Subia ao coqueiro com a mesma agilidade deles, matava sardões com a mesma pontaria de fisga e tinha o mesmo jeito para apanhar rabos-de-junco nas lagoas do Futungo ou Belas.
Num dia de inspirada arte, com muito jeito, pintei de branco a minha t’xipala.
Após uma investida de valentia no quintal do Malhoas ás maças-da-índia, gajájas e goiabas, mostrei a dita foto à turma dos “ salta muros”; a minha turma (galera)!
Seguiram-se risadas desconformadas.
Foi uma risada que trespassou o silêncio muito para além do Almeida das Vacas. Aquele riso não era verdadeiramente de alegria; era, isso sim, um misto de valentia lambuzada a medo.
Pica, pulou de macaquice chamando-me de t’chingange!
T’chingange?!
Mais tarde, fiquei a saber que aquela figura, t’chingange, era gente de verdade; pintada com argila branca, no terreiro do kimbo, pulava como que possuído, lançando agoiros e maus olhados para quem não lhe nutriam simpatia.
Aquela figura quando não pintava o rosto, tapavam-no com uma grande máscara de madeira e, às vezes, surgia empoleirados em antas, que lhe davam um porte de mistério superior; vindo do mato, chocalhavam guizos atados às kinambas.
T’chingange era por assim dizer simultãneamente advogado e polícia, pois vergastava com rabo de boi os desviados de condutas correctas. Castigava as esposas infiéis, provocava as chuvas ou desviava outras influências por feitiçaria não reconhecida, levando o terror aos libertinos e os catravez desclassificados, mesmo.
A partir daquele dia os meus kambas passaram a respeitar-me duma forma medrosa, tudo porque as tradições diziam cobras e lagartos dos T’chinganges e eu, naquela foto, parecia ser isso mesmo!
Naquele tempo perfumávamo-nos de ignorância atrás do carro-da-tifa chamando de monangamba aos trabalhadores da recolha do lixo que nos davam berrida.
Hoje, longe no tempo recordo o besugo alegre que fui em terras do além-mar após cara lambida a cuspo por minha mãe Arminda Loureiro; como se fosse uma cria de cheetah saída dum jardim do Puto.
Glossário:
T’chingangi - um misto de feiticeiro, justiceiro, advogado do diabo ( de quem se tem medo); kinambas - pernas; mokanda - carta; Puto - Portugal; candengue - moço, rapaz; kamundongo- natural de Luanda, rato; rabo-de-junco - pássaro; t’xipala - fotografia (de rosto); Carro-da-tifa - desinfestação de ruas ou quintais para matar o mosquito e outras pragas; besugo - labrego ou simplório (gíria de Angola); monangamba - trabalhadores sem classificação especial (perjurativo); kimbo – sanzala (planalto central de Angola), povoado; Cheetah – felino veloz das savanas de Angol; berrida – afugentar, fuga, bazar correndo; mazombo – assim como branco de segunda, filho de brancos mas nascido em Angola (nome levado de Pernambuco para a N´Gola dos pretos), apalermado ( forma depreciativa e odiosa).
( Continua...)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
MANIKONGO
T’chingange no reino de N´zinga-a-N´kuwu
Nau de 1485 (As kiandas N´dele)
Cipaio Kafundanga, deu uma gargalhada interrompida por um gargarejar rouco; linguarejou algo enquanto apontava o mais além das águas ao Kafa que, meio distraído olhava o dedão sacudido pelo sisal do loando.
- Olha só, tás a ver um pássaro n´dele lá no longe!
Era fim de dia e um cacimbo pegajoso e semi-espesso descia às águas na caída do implacável sol tropical mas, lá longe, no horizonte, divisava-se uma grande gaivota com asas brancas saindo fora de água.
Ambos se levantaram e tapando com as mãos o brilho de reflexo da kalunga no sobrolho, colocaram-nas a modos de ver melhor aquela grande gaivota que lentamente se deslocava para a embocadura da baia de Loanda colada, xacatando à água.
- Que gaivota grande é aquela?
Era demasiado grande e alta para ser canoa. De mãos abertas, Kafa T´chingange gesticulando chamou seu pai que estava na saliência coberta do n´jango e que, entretanto balbuciando surpresa em muxoxos intercalados de cuspidelas se aproximou.
N´dele n´dele, aiiuê mam´etu é!, gritou em alvoroço uma mulher que correu a recolher dois filhos seus, brincando na esquindiva entre coqueiros.
Uma outra coisa branca surgiu lá mais atrás e depois outra e mais outra. Passado duas horas já mesmo, quase noite já eram seis grandes canoas. Podia vêr-se em cada pano de vela uma cruz vermelha.
- Kafundanga, vai correr na cubata do kimbanda Kapossoca lá no matope e chama ele vir no mais rápidamente, disse com voz pigarrada o kota Kafa Futila.
O cipaio correu com todos os pés vuzumunando medos incontidos. Entretanto as seis naus permaneciam ao largo da baia do Bungo lançarando ancoras ao mar com muitas braças gritadas com pauladas no bombordo audiveis da costa.
Podia-se ver já luzes acesas ao redor das naus com a proa virado para mar aberto. Tudo indicava que iam ficar por ali quando, de um dos lados de uma das naus saiu uma bola de fogo, uma nuvem de fumo e um trovão de meter medo. Era a saudação habitual na chegada a um qualquer lugar para avisar possiveis indigenas e intimidar qualquer iniciativa bélica.
Envolto em uma pele de leopardo, correndo aos tropeções de velho mangunheiro, kota kapossoca preguiçoso de meter medo aos candengues, ufanava surpresa quando chegou junto do seu chefe kafa Futila; trapalhado com suas missangas venenosas formigava interjeições medrosas agitando um chinguiço com queixada de caveira cebeirosa no topo. Seu poder de prever acontecidos estava comprometido nesta desavizada visita vinda da kalunga. E, eram seis kiandas de poder além n´zumbi, eram um verdadeiro kazumbi botando fogo pelas ventas.
Imponente, Futila com sua kiginga pediu explicações ao seu feitiçeiro gordo; explica só!: - Que kilamba é essa de kilombelombe que cospe fogo? Que kilunza é essa? N´dongos estranhos mesmo!
Xinguilado, o kimbanda tentou explicar o inexplicável e disse ser mesmo culpa dos m´fumos do muije de Kifangondo que estavam trapalhando e desobedecer ordens memória do rei defuntado mais velho N´timu Wene da Matamba e N`dongo da Ambaca e do Pungo. Por isso os kazumbis estão xingando e estamos xinguilados, mesmo! Eles vutucaram nossa ilha da Mazenga. Dizendo isto gesticulou o ar, zunindo a moca queixada nuns quantos circulos e picando por três vezes o inisivel nada na direção das grandes canoas iluminadas de luz e feitiço.
Esta explicação espatafurdica vinha ao encontro das raivas de Kafutila pois os kasucutas de kifangondo eram mesmo uns filhos dos matumbolas mazombos no completamente, que lhe faziam negaças perante o rei; filhos duma peste, calombolocas com rabo de surucucu.
( Continua.. Na lha Mazenga )
O Soba T´Chingange
CORRESPONDENTES DO KIMBO
As escolhas da Condessa do Kipeio
Mokanda *IRS para 2010*
IRS. "O ARCO IRIS DA FINANÇAS"
Olá súbditos do Kimbo,
Está a chegar a altura de mais um IRS, por isso como acabei de receber esta informação, resolvi partilhá-la convosco:
Alteração ao IRS 2009 - Atenção à actualização da relação dos seus dependentes
Actualize a sua lista de dependentes na DECLARAÇÃO ANUAL DE RENDIMENTOS - IRS (Por definição, são seus dependentes, todos aqueles que você é OBRIGADO, POR LEI, A SUSTENTAR)
Assim, são SEUS DEPENDENTES:
- Vagabundos;
- Assessores do Presidente da República;
- Assessores do Governo (até mesmo os familiares nomeados por confiança política);
- Águas de ... (consumos mínimos e estimados);
- EDP (consumos mínimos e consumo estimado);
- TELECOM; VODAPHONE; OPTIMUS; etc.
- Gás de Portugal (consumos mínimos e estimados);
- Beneficiárias da taxa de saneamento básico (recolha de lixo, etc.);
- Centros de inspeção de veículos;
- Companhias seguradoras (seguro automóvel obrigatório);
- BRISA - Portagens;
- Concessionárias de parques e estacionamento automóvel;
- Concessionárias de terminais aeroportuárias e rodoviárias;
- Instituições financeiras - Taxas de administração e manutenção de contas correntes, renovação anual de cartões,
requisição de cheque etc.;
- Mais de 230 deputados da Assembleia da República, com os respectivos ESQUEMAS de apoio.
- BCP, BPN, BPP e demais esquemas de enriquecimento fácil de administradores e gestores cleptomaníacos
a que o estado entrega os impostos que pago, para evitar o alarme social e financeiro e, agora, também, a
BES, BPI,..., CGD...
... Para o ano é provável que tenha ainda MAIS!
Consolo
Um soneto a calhar (quase) inédito de José Régio
A HISTÓRIA REPETE-SE NOS TEMPOS QUE CORREM
Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.
Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.
E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,
Também faz o pequeno “sacrifício”
De trinta contos – só! – por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.
(Em 1969 no dia de uma reunião de antigos alunos)
O Chato do Xiça
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
O projecto de Nelo
O fiel depositário de Sakapwma* ( Seu Pai )
máscara da lunda
Este projeto permite que a sociedade brasileira amenize os conflitos étnico raciais ao ser reconhecida a contribuição dos africanos e seus descendentes na construção da sociedade brasileira actual, na economia do país, na construção de sua cultura e sua identidade nacional.
A maneira mais clara de reconhecer a história deste segmento étnico no seio da nação Brasileira é ensinar a história de suas raízes ancestrais a partir de África. Esta tarefa vai dirigida em primeira linha aos professores e jovens brasileiros, futuros responsáveis do país. Acreditamos que os alunos ao conhecerem esta cultura aprenderão a se respeitar e a olhar os colegas negros de outra forma, onde terão a oportunidade de conviver bem com as diferenças. O projecto em si, resgata o orgulho da comunidade negra, a emancipação dos afro-descentes e sua auto-estima e criar a recíproca admiração no respeito pelo homem.
Eu Nelo, passo a apresentar meu pai:
Acácio Videira, português / brasileiro, nasceu artista e como tal frequentou a Escola de Belas Artes no Porto - Portugal, não tendo continuidade em seus estudos por ter sido convocado para a 2ª guerra, tendo prestado serviço por 30 meses como expedicionário. Em 1946 foi para Angola aonde se desenvolveu como profissional de fotografia. Em 1949 teve início a sua grande carreira de etnógrafo quando foi convidado para trabalhar no Museu do Dundo patrimônio da Companhia de Diamantes de Angola.
O capricho do destino jogou-o na atividade que o levaria a se tornar o último e maior expoente da arte e cultura africana Lunda-Kioka (ou tchockwe/ Quioca). Como etnógrafo, artista e cientista ultrapassou o didatismo ao se tornar a verdadeira criação artística, genuína, nativa e ancestral.
Embrenhou-se pelos matos contactando os povos que viviam nas aldeias ou senzalas do interior, sendo que muitos deles, eram avessos à presença de brancos. Com o tempo e graças à sua habilidade, carisma, espírito aventureiro, conhecimento de rudimentos de mágica (fazia aparecer e desaparecer cigarros, moedas, etc.) logrou ter sucesso.
Acácio, conhecedor do dialeto kioco, sem preconceitos de comer e dormir no chão convivendo vários dias no kimbo conseguiu ao longo de 28 anos, o respeito, admiração, e carinho, sendo por isso contemplado com o título de Sakapwma (grande homem, feiticeiro, o que vê e tudo sabe).
No decorrer do tempo, foi sendo homenageado com cantos e músicas, onde o sentimento nativo era naquele branco, o de um grande amigo e conselheiro.
O resultado deste trabalho era traduzido na agregação ao seu conhecimento das tradições, usos, costumes, folclore, lendas; enfim, toda a cultura destes povos.
Reportando para o acervo do museu, peças, músicas, fotografias, anotações e materiais, colocou ao longo dos anos o Museu do Dundo como o 3° maior Museu de Arte Etnográfica do mundo.
( Continua )
José Manuel Primo Videira (Nelo)
Subscreve: O Soba T´chingange
CORRESPONDENTES DO KIMBO
PORTUGAL - A 3ª república
As escolhas do Cipaio-mor WR do Diriko
O simbolo
*Parte 2*
Publicado a 10 de Setembro de 2005, na Grande Reportagem nº 244
A rede de negócios que Soares dirigiu enquanto Presidente foi sediada na empresa Emaudio, agrupando um núcleo de próximos seus, dos quais António Almeida Santos, eterna ponte entre política e vida económica, Carlos Melancia seu ex-ministro, e o próprio filho, João.
A figura central era Rui Mateus, que detinha 60 mil ações da Fundação de Relações Internacionais (subtraída por Soares à influência do PS após abandonar a sua liderança), as quais eram do Presidente, mas de que fizera o outro fiel depositário na sua permanência em Belém, relata Mateus em Contos Proibidos.
Soares controlaria assim a Emaudio pelo seu principal testa-de-ferro no grupo empresarial. Diz Mateus que o Presidente queria investir nos média: daí o convite inicial para Sílvio Berlusconi (o grande senhor da TV italiana, mas ainda longe de conquistar o governo) visitar Belém.
Acordou-se a sua entrada com 40% numa empresa em que o grupo de Soares reteria o resto, mas tudo se gorou por divergências no investimento. Soares tentou então a sorte com Rupert Murdoch, que chegou a Lisboa munido de um memorando interno sobre a associação a "amigos íntimos e apoiantes do Presidente Soares", com vista a "garantir o controlo de interesses nos média favoráveis ao Presidente Soares e, assumimos apoiar a sua reeleição".
Interpôs-se, porém outro magnata, Robert Maxwell, arqui-rival de Murdoch, que invocou em Belém credenciais socialistas. Soares daria ordem para se fazer o negócio com este. O empresário inglês passou a enviar à Emaudio 30 mil euros mensais. Apesar de os projectos tardarem, a equipa de Soares garantira o seu "mensalão".
Só há quatro anos foi criminalizado o tráfico de influências em Portugal, com a adesão à Convenção Penal Europeia contra a Corrupção. Mas a ética política é um valor permanente, e as suas violações não prescrevem.
Daí a actualidade destes factos, com a recandidatura de Soares. O então Presidente ficaria, aliás, nervoso com a entrada em cena das autoridades judiciais, episódio a merecer análise própria.
(Continua... 3ª Parte)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
O projecto de Nelo
O fiel depositário de Sakapwma* (Seu Pai)
MÁSCARA TCHOCKWE
Após publicação da Mokanda resposta de “Nelo - 39 anos depois” o Kimbo, tomou conhecimento da grande importância em Angola encetar contacto com o patrimônio do qual Nelo é fiel depositário; o legado de seu pai Sakapwa, peças reunidas ao longo de uma vida dedicada à pesquisa etnográfica do povo da Lunda. Segue-se a apresentação de seus anseios traduzidos em projecto; É dever de o Kimbo dar a conhecer o seu projecto:
APRESENTAÇÃO . IDEIA DE PROJETO AFRO-BRASILEIRO
BRASIL
A lei 10.639/03 prevê a obrigatoriedade do ensino ter conteúdos sobre história e cultura afro-brasileira.
Actualmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a Lei 11.465/08, que inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
Agora, com a nova lei, confere-se o mesmo destaque ao ensino da história e cultura dos povos indígenas.
A medida vale para as escolas de ensino fundamental e médio, públicas e privadas, e deverá fazer parte de todo o currículo escolar, especialmente nas áreas de educação artística, literatura e história.
O conteúdo escolar deverá incluir o estudo da história da África e dos africanos, a luta e cultura dos negros e indígenas no Brasil. A proposta é mostrar a contribuição de todos estes grupos nas áreas sociais, económica e política, para a formação da população brasileira.
África é um continente composto de 56 países; a lei ainda é omissa quanto ao que se deve ensinar de África e qual África, mas subentende-se que incidirá mais no tocante ao Mundo Lusófono abrangendo os povos da CPLP (comunidade de países de língua portuguesa) e PALOP´S (países africanos de língua oficial portuguesa). Não obstante, se não fosse esta lei, ninguém se mobilizaria.
Apesar disso, e no passar dos anos, a maioria do povo brasileiro ainda não conhece a relevância da contribuição histórico-social dos descendentes de africanos no Brasil. O que há, são ações pontuais de iniciativa de movimentos negros, do MEC (ministério de educação e cultura) ou de universidades federais e públicas. Tudo, ainda muito tímido.
Essa lei deverá ajudar a tratar os negros positivamente e não como subclasse ou ex-escravos, muitas vezes de forma ridicularizada. Sei que há vários grupos de pesquisadores e do movimento negro, que produziram excelentes materiais para contribuir com o ensino da história e cultura negra, mas está tudo disseminado.
Haverá um questionamento de educadores sobre outros grupos imigrantes não contemplados nos currículos. Portugueses, italianos, alemães, japoneses e todos os outros que abraçaram o Brasil como terra sua de maneira digna. Percebe-se de forma emocionante que todos eles convivem, mantendo suas culturas de origem; às vezes, até em cidades onde são minoritários, e sem qualquer descriminação por parte das instituições governamentais. Isto, só por si, já é um grande avanço. É o único País no mundo cujo povo se permite a esta vivência que deu certo; aonde Árabes, Judeus e outros povos que pelo mundo fora se digladiam, vivem aqui, em pacífica harmonia.
No entanto caminhamos por passos, e agora temos a oportunidade de fazer justiça aos nossos ancestrais que vieram há 500 anos sequestrados de suas pátrias e famílias: “Os AFRICANOS”. As outras culturas, de uma maneira geral, estão já contempladas em seus redutos brasileiros ou em sua pátria mãe.
Os índios, já estão sendo contemplados com Leis que, por serem indígenas autóctones, têm trato diferenciado do resto da sociedade; os indígenas só por si, e com toda a legitimidade, saem beneficiados por suas próprias Leis.
Todos!... Formamos a população brasileira.
* Sacapwma: - Grande homem; feiticeiro que sabe e vê tudo; o mesmo que T´Chingange dos ovibundus.
(Continua...)
José M. Primo Videira (Nelo)
Subscreve: O Soba T´Chingange
Aniversários dos kotas
" AKTO RÉGIO - Flores da n´nhaka"
BANDEIRA DO KIMBO
DIA 23/03/10 A KIZOMBA TEM A HONRA DE PARTICIPAR
3 ANIVERSÁRIOS AO MESMO TEMPO :
VISCONDE DO MUSSULO . Embaixador Itenerante da Globália, Senhor de Cienfuegos e Donatário dos Imbondeiros do Kimbo
FUCA-FUCA . Juiz do Povo, Portador da roda ratada, Zelador-mor do piriquito do Reino
KALUANDA MWATA H.VILAR . Homem-rico, Donatário das Cassoneiras do Reino e do bisgo das mulembas.
IRÁ AO SACRIFICIO UM UNGULO ACOMPANHADO COM KIZACA E T´XIZANGUA COM SUMO DE UVA E CEVADA.
COMO EMBAIXADOR ITENERANTE DO KIMBO E POR MOTIVOS DE AFASTAMENTO TEMPORÁRIO DO REINO E KIMBO DO SOBA
T´CHINGANGE AQUI FICA A CONVOCATÓRIA PARA A PRESENÇA DE TODOS OS KIZOMBEIROS DE LAGOA-ALLGARBE.
UM ESPECIAL CONVITE AO SOBADO DE PORTIMÃO, SÁBIO SAKAPWA (VALÉRIO G.) QUE MUITO NOS ORGULHARA´ COM A SUA PRESENÇA ESTE AKTO ESTÁ MARCADO PARA AS 12,30 DO DIA 23/03/10 (HOJE) NO D´JANGO DO PESCADOR.
OS RESPONSÁVEIS PELAS FALTAS QUE VIRÃO A COMETER PAGARÃO GASOSA A DOBRAR!
FLORES DA N´NHAKA para os Kotas
REINO DO SONHO, LENDA E FANTASIA
O Visconde do Mussulu
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
EXPEDIÇÃO "Angola, terra da Gazosa"
"Além Kanjala,estradas sinuosas"
LOBITO
Esta viagem de teimosia ao Lobito e Benguela respirou coerência porque queríamos sentir o ondulado de 180 mil buracos em oitenta quilómetros e ficar zonzos de internar paciência e, valeu pela beleza das vistas além asfalto, para lá do urbano, além do morro M´gelo. Por ali o além era mais bonito.
Os sabores da antiga infância sinuosa, como aquela picada, trazia à ideia o muxoxo da quintandeira lá do bairro, quando o contentor não era alimentação de uns e queixas para outros e, sem luz, havia misturas escondidas de prazeres. Na inventariação disto tudo vejo que todos têm um forte compromisso para com a democracia na reconciliação dos direitos do homem, da sua liberdade, do fundamental para e, em união saírem do marasmo em que se meteram dando voz aos competentes, castigar os ineptos ou lesa gente, acomodados no compadrio da coisa fácil.
Só mesmo o Bien nos poderia levar a este cú do mundo com um carro remendado de tanto reforço; podia ver-se as muitas verguinhas soldadas no chassi e o vidro retrovisor do lado dele já só era metade; ajustado de vez em quando, aguentou toda a viagem; atrás nenhuma luz, nem um simples reflector.
Na quase foz do Cubal, ali junto à estrada das tormentas o rio sai das alturas por um fundo canal com rápidos e margens escarpadas, cheias de vegetação nas vertentes; dos jacarés que falam haver, não vi nenhum mas, imaginei vislumbrar uns quantos em surdina frescura; ali bem perto na antiga estrada para a praia do Quilombo lá estava o tal embondeiro referência de infância e a viragem à direita naquela mesma picada.
Nas agressivas barrocas antes dos tais penhascos misturava-se um alcantarilhado de cubatas castanhas como a terra; desciam em presépio pobre a terminar cá em baixo numa escola em cuja cornija se podia ler o seu nome " Havemos de voltar”; recordar eu que tantas vezes também repeti aqueles mesmos dizeres numa busca desenfreada mas, tal como a erva do diabo, o desejável raramente passa no mesmo sitio; faz sementeira insatisfeita além Calaári, além Karoo, muito para lá do Namibe mas, nunca naquele certo sitio. Afinal aquela gente, tal como eu também foram intornados para ali, foz dum rio chorado nas terras altas. É importante refazer os afectos!
Saindo deste sapal aonde as mil formas de vida contemplam a natureza e, continuando a busca da aventura febril da mítica África deixamos o Kota da vata Diogo Cão, verdadeiro no nome e pescador de lagostas daquele sítio chamado de Quilombo. Além daqueles crustáceos também ali há cacusso, tipioco (bagre de rio) e lagostim do bom.
( Continua... Angola, terra da gazosa...X )
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“Mokanda do Nelo . 39 anos depois”
Flor da amizade
Querida "irmã" Ibib,
Este após expulsão de Angola, não foi fácil. Pelas tuas palavras percebo que são quase as mesmas de minha mãe quando em Setembro de 1975, com minha irmã foi para Portugal. Foi um horror; inacreditável o que o governo ingrato deixou que se fizesse para mal de todos.
Durante centenas de anos enchemos de riqueza o bandulho do Puto, eh.. povinho,... da colonização, não souberam aplicar o amealhado. Hoje é uma vergonha sentir a degradação da democracia, que nem de mão estenda conseguem ressarcir OS PECADOS COVARDES.
Durante a leitura, vivenciei nosso drama; foi difícil! No entanto, NOSSO BOM DEUS, fortaleceu-nos numa força hérculea para suplantarmos essa adversidade gratuita proporcionada por gente imatura.
A imagem que tenho de vós, é a de pessoas novas, com uma criança no Largo da Maianga na Luanda de então; de repente esse altar de boas recordações transforma-se numa realidade que transcendeu o susto. Leva um tempo para absorver a VERDADE.
Máscaras
Meu pai deixou um legado, arte gentílica genuína do povo e cultura Africana Lunda-Kioka (ou tchockwe ou Quioca) e, recebemos confirmação de que dia 21 de Março será a abertura de uma exposição nossa na Fundação Palmares em Brasília. Aguardamos e,... assim que tiver mais noticias, faremos o reencontro.
Assim, para vocês conhecerem os projectos de nossa vida envio um extrato do historial e o espólio etnólogo de meu pai:
Acácio Videira, nasceu artista e como tal, frequentou a Escola de Belas Artes no Porto - Portugal. Foi convocado para a 2ª guerra tendo prestado serviço por 30 meses como expedicionário. Em 1946 foi para Angola onde se desenvolveu como profissional de fotografia. Em 1949 teve início a sua grande carreira de etnógrafo, quando foi convidado para trabalhar no Museu do Dundo patrimônio da Companhia de Diamantes de Angola.
Seus conhecimentos sobre esta etnia passam pelo aprendizado com o grande etnógrafo e amigo Dr. José Redinha, também seu prezado colega no Museu do Dundo.
Se tiveres tempo lê! Da-te-há um apanhado de nossos sonhos.
Graças à Dra. Eliane, Vice-presidente da Fundação Palmares que ficou nossa amiga, ansiamos que o nosso sonho se torne realidade.
Beijos saudosos,
Nelo e Familia
( Continua... O legado de Acácio Videira )
O Soba T´Chingange
FÁBRICADE LETRAS DO KIMBO
CABINDA . NA LAGOA DO BUMELAMBUTO
A natureza da ligação de Cabinda a angola, em 1956, só pode ser interpretada como medida de organização administrativa. Apenas isso.
A pretensão dos Cabindas é, por outro lado, abrangida pela Carta das Nações Unidas, mormente no seu artigo 73º que estabelece as aspirações políticas das populações às suas livres determinações.
Caso ainda subsistam dúvidas à comunidade internacional, sugere-se um referendo entre os cabindas com o objectivo de determinar o desejo das populações do território, e respeito ao seu resultado. De contrário, a manter-se a actual situação política, corre-se o risco de se desencadear um processo muito perigoso para a paz naquela região de África, com permanentes revoltas secessionistas contra Angola.
A OUA
A Organização de Unidade Africana (OUA) no «âmbito do programa de libertação total de África», com base nos dados históricos e jurídicos dos territórios sob domínio europeu, registou Angola com o número 35 e o de Cabinda sob o número 39.
A OUA entendeu, assim, distinguir a questão de Angola da de Cabinda. Nesta perspectiva, aquela organização internacional revela a posição contrária à anexação de Cabinda a angola alegando que tal facto assenta numa denegação de Direito.
Pode dizer-se que Cabinda desde 1975 não vive uma situação de normalidade. Nos últimos anos a situação militar agravou-se acentuadamente, especialmente no interior Norte.
Os poucos atos políticos que o governo de Luanda tem realizado em Cabinda não têm tido o apoio das populações locais. Os Imbindas manifestam-se contra a dependência de Luanda, e têm vindo a revelar uma grande solidariedade para com os líderes da FLEC. As populações prestam aos independentistas uma contribuição espontânea e generosa.
A sustentação destes princípios básicos concede aos cabindas a necessária força aglutinadora da luta pelo ideal independentista.
(Continua... VII... ultima)
O Soba T´Chingange
MAYOMBE 2010 - VIII
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
T’XIPALA DO PUTO
O caixote da T´xipala, uma Balba
Hoje lembrei-me de desfragmentar o meu disco afim de dar arrumo a todas as mokandas do ego-consciente e, corri tão rápido que, as kinambas desconseguiram acompanhar a velocidade desse mundo alambazado (mundo maluco).
Nesse espaço de lembranças cacimbadas em odor de tamarindo e gajája, o branco candengue que era eu, estava lá longe, no Puto; teria os meus seis anos quando fui tirar a minha primeira fotografia. A caminho do fotografo, minha mãe reparou que tinha um escuro de tição no rosto e, ali,
A fotografia tirada naquela máquina caixote, com manga preta de esconder susto, parece agora, ter andado num tornado castanho de fúria amarela pontilhada a cagadelas de mosca tsé-tsé.
O relâmpago daquela coisa susteve-me os últimos soluços. O meu espírito gravado naquela foto de kimbanda foi ficando castanho quase claro e sarapintado como pele de kota, um mais velho queimado do sol.
Depois foram os apitos roucos e longos dum barco que se afastava dum cais de nome Sodré e, muitas casas com luzes e água,... muita água balouçando o azul na linha de horizonte; uns peixes brincavam voando antes e depois duma linha festejada mas que não cheguei a ver. A linha chamava-se equador e aquela muita água era a kalunga tão cheia de kiandas ainda desconhecidas nesse então.
Por força das circunstâncias, coisa que me transcendia, atravessando o atlântico num vapor de nome Uíge tornei-me no tempo um kamunndongo.
Vim a saber depois que, aquela foto, era para anexar a uma carta de chamada que o meu pai tinha mandado de Lucala; a companhia marítima de nome Colonial teria de a apensar ao processo da família.
De pé n’areia calcorreei as encostas dos musseques com o Pica mulato, o Aninhas preto, o Batalha cafuso e o mazombo Braga das bicicletas. Sem sabermos, construíamos todos os dias uma descolorida amizade, impregnada duma vivência que o tempo dissolveu por ideias ou ideais por via do kwata-kwata ké preto.
Naquela foto de menino do puto, eu não tinha verdadeiramente uma cor de gente; era assim como um boneco com umas calças de ganga grosseira, sarapintado de manchas a descair sobre uns sapatos tipo tamancos; vendo-a, amarelecida, podia passar por uma cor de pele das que os meus amigos tinham.
Glossário:
T’chingangi - um misto de feiticeiro, justiceiro, advogado do diabo ( de quem se tem medo); kinambas - pernas; mokanda - carta; Puto - Portugal; candengue - moço, rapaz; kamundongo- natural de Luanda, rato; rabo-de-junco - pássaro; t’xipala - fotografia (de rosto); Carro-da-tifa - desinfestação de ruas ou quintais para matar o mosquito e outras pragas; besugo - labrego ou simplório (gíria de Angola); monangamba - trabalhadores sem classificação especial (perjurativo); kimbo – sanzala (planalto central de Angola), povoado; Cheetah – felino veloz das savanas de Angol; berrida – afugentar, fuga, bazar correndo; mazombo – assim como branco de segunda, filho de brancos mas nascido em Angola (nome levado de Pernambuco para a N´Gola dos pretos).
( Continua...)
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“O tio Tonito - 2ª Parte”
O Pilão mais parecido com o manguito canguixe
- Naquele tempo dos sobas Mandume e Mandinga de Seles, as mulheres tinham os deveres de cuidar das lavras, cuidar da filharada, das galinhas, limpar o Embo em frente à embala, fazer panelas de barro para cozinhar mas, principalmente dar educação às filhas no sentido de virem a ser competentes. Os homens coçam preguiça debaixo de uma acácia, cortam a mata para fazer lenha, caçam e cuidam do gado mas, fundamentalmente são os procriadores da tribo, mangonheiros que chegue.
Kabassa, a mulher de Mandinga, junta as meninas em um certo dia da idade julgada justa e leva-as até ao penedo do T´chikukuvanda de lage larga e plana levando consigo uma quinda com milho no carolo. As meninas dispoem-se em circulo tendo um monticulo de milho à sua frente já solto do carolo; ao centro Kabassa dá ordem à tarefa de escola. Começa por explicar a função de obediência das mulheres, e com o canguixe, toca cada uma delas na palma das mãos como que a selar o compromisso de cada uma delas vir a ser o símbolo do amor futuro na união duma família sem fome. Segue-se o pisar do milho, separação do farelo para as galinhas, regressando depois às cubatas de taipa des seus pais que um dia, serão suas.
Depois desta conversa Mustaffá Zaffa numa dialéctica linguajada de intercalados trajeitos, falou de uma máquina que tem arrecadada no quintal de Junjeiros que faz arco-iris; neste então queria fazer crer que os seus tomates eram os mais gostosos de toda a Ibéria. Balelas!
Acabada a palestra o JP com seus grandes olhos pejados de curiosidade da rocambolesca descrição, perfilhou silhueta de sapiência e demonstrou-me ter gostado. JP estava predestinado a partir daquele momento a sêr o zelador cipaio ajudante das coisas da escrita.
Eis, que num dia a akta da coisa chegou repleta de interjeições. Este registo fica arquivado na torre do Zombo lembrando aos ateus e agnosticos que há vidas verdadeiras que até parecem mentiras.
Ninguém nasce feliz, é necessário trabalhar para isso, disse eu a JP ao despedir-me naquele Agosto de 2009. lancei-lhe o repto ou o mote de no próximo agosto de 2010: -apresentar-me uma dissertação acerca do tema:
“O DIABO, TÊM PÉS DE BARRO”.
Só depois desse trabalho estará em condições de passar a ser o meu ajudante mona de escriba e arquivista na Torre doZombo; o mona-cipaio JPBB
Glossário: Palavras sublinhadas
Canguixe: - Pilão de pisar milho com forma de manguito (usado por uma só mão) que martela o cereal na taça de madeira ou directamente numa superficie plana e dura - África Ocidental; monjolo; T´Chikukuvanda: - lagarto de médio porte de cores garridas, normalmente vermelho e verde e com aspecto agressivo porque solavanca a cabeça em geito de ameaça; na gíria é um português albino do Puto de manias que só faz banga e nada mais; um gweta reles; Mona: - diminutivo de monangamba, trabalhador diarista, um faz-de-tudo, um pau para toda obra; biscateiro; Embo: - pátio, terreiro.
O tio Tonito
O Soba T´Chingange
CORRESPONDENTES DO KIMBO
PORTUGAL - A 3ª república
O simbolo
* Parte 1 *
Todos deverão pensar um pouco na escolha dos que nos devem governar, vai sendo tempo de ler e meditar sobre quem já nos governou, GOVERNANDO-SE.
Só espero que quem receba estes escritos não os deixem morrer na memória do vosso computador.
E mais ainda, que não deixem de os fazer chegar ao maior número possível de pessoas.
* Mário Soares *
Outra faceta distingue a candidatura de Mário Soares a Belém das anteriores, surge após a edição de Contos Proibidos - Memórias de um PS desconhecido, do seu ex-companheiro de partido Rui Mateus.
O livro, que noutra democracia europeia daria escândalo e inquérito judicial veio a público nos últimos meses do segundo mandato presidencial de Soares e foi ignorado pelos poderes da República.
Em síntese, que diz Mateus?
Que, após ganhar as primeiras presidenciais, 1986, Soares fundou com alguns amigos políticos um grupo empresarial destinado a usar os fundos financeiros remanescentes da campanha. Que a esse grupo competia canalizar apoios monetários antes dirigidos ao PS, tanto mais que Soares detestava quem lhe sucedeu no partido, Vítor Constâncio (um anti-soarista), e procurava uma dócil alternativa a essa liderança.
Que um dos objectivos da recolha de dinheiros era para financiar a reeleição de Soares. Que, não podendo presidir ao grupo por razões óbvias, Soares colocou os amigos como testas-de-ferro, embora reunisse amiúde com eles para orientar a estratégia das empresas, tanto em Belém como nas suas residências particulares.
Que, no exercício do seu "magistério de influência" (palavras suas noutro contexto), convocou alguns magnatas internacionais - Rupert Murdoch, Sílvio Berlusconi, Robert Maxwelle Stanley Ho - para o visitarem na Presidência da República e se associarem ao grupo, a troco de avultadas quantias que pagariam para facilitação dos seus investimentos
Que moral tem um país para criticar Avelino Ferreira Torres, Isaltino Morais, Valentim Loureiro ou Fátima Felgueiras se acha normal uma candidatura presidencial manchada por estas revelações? E que foi feito dos negócios do Presidente Soares? Pela relevância do tema, fique atento à 2ª parte.
(Continua... 2ª Parte)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“O tio Tonito” - 1ª Parte
A FLÔR DO CARDO
Foi no dia 26 de Agosto de 2009 que aconteceu o encontro de família transbordando quentura, febras, sardinha assada e moamba com pirão de milho. Tudo sucedeu no Embo (Pátio Andaluz) do Bitó das Seis Marias com a presença do Mustaffá Mamadou Só-ares Mohamed Zaffa um sobrinho passado dos carretos chegado recentemente de Sun City via Messejana e Sotavento, e um outro também sobrinho ainda candengue de nome Jota Pê, filho da Nanda Kaganita, também uma minha sobrinha muito parecida com a bisavó Topeta de Barbeita.
A dona da casa, tia Maria Ibib gozava de mordomias.
Como esta assembleia de família foi tão cheia de carinhos e risos, pedi ao JP que fizesse uma akta do acontecido para ficar nos anais da estória e, o desafio foi aceite na hora.
Mustaffá Só-ares chegou no seu brilhante mercedes carregado de cagança do Puto acompanhado de sua secretária Victória de Jungeiros; Mustaffá, veio todo ele feito Indio da India, um rajá com um turbante de espantar princepes com todos acessórios, pendentes e zingarelhos; trazia uma garrafa de wisky que preencheu os intervalos das conversas até que esgotou lá pelas duas da manhã. Foi uma companhia muito agradável que encantou a plateia com suas aventuras além arábias e da Luua (Luanda).
Para impõr respeito à turma e mediar as intempéries, fui buscar o meu chapeu de Soba e bramindo o meu canguixe de pau-ferro dei soberania à desordenãnça tornando-se assim num akto extraordinário.
Nestes edeceteras da vida e, neste espaço de tempo gozados com gargalhadas, tive de explicar os detalhes de uso ancestral daquele chinguiço de pau torto no seio da sociedade Bantu Africana, particularmente em Angola.
Comendo moamba de galinha com óleo de palma e pirão de milho, não era um despropósito fazer uma palestra acerca do canguixe, um instrumento de importância social de Angola desde os tempos de Mandume e Mandinga de Seles.
E com o manguito candixe na mão esplanei a minha estória:
- Este pilão, canguixe, huim ou monjolo foi e ainda é o artefato mais usado nas tribos de África. É´ duro como cornos e tem no seu miolo central a madeira preta e dura e na periferia circular madeira branca e mais mole; Há aqui uma sintonia entre preto e branco que complementam no trato da vida, a principal função no manuseamento do alimento milho, base alimentar das gentes do planalto.
( Continua ....2ª parte )
O tio Tonito
O Soba T´Chingange
CORRESPONDENTES DO KIMBO
As escolhas do Exmo Visconde do Mussulu PORTUGAL ONDULADO
Orçamento da ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA para 2010
Inacreditável (ou não)!!!
Reparem no que se segue, façam as contas e digam-me para quantas variantes, estradas, escolas, hospitais etc, etc. não daria este orçamento cuidadosamente acautelado no Orçamento de Estado para 2010!
E chama-se a isto viver em Democracia quando uns comem tudo e os outros não comem nada!
Caríssimos:
Atentem BEM no valor que o Bolso dos Portugueses terá de suportar para GARANTIR a existência e funcionamento (???) daquilo a que se chama ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA.
Seguem-se ALGUMAS das rúbricas existentes no Orçamento que acaba de ser públicado em Diário da República.
Caso queiram consultar essa peça MARAVILHOSA e de SONHO só terão de ir ao site WWW.dre.pt e acederem ao Diário da República nº 28 - I série - datado de 10 de Fevereiro de 2010 - RESOLUÇÃO da Assembleia da República nº 11/2010.
Então DELICIEM-SE:
1 - Vencimento de Deputados...................................12 milhões e 349 mil Euros
2 - Ajudas de Custo de Deputados..................... .... 2 milhões e 724 mil Euros
3 - Transportes de Deputados................................... 3 milhões e 869 mil Euros
4 - Deslocações e Estadas...................................... 2 milhões e 363 mil Euros
5 - Assistência Técnica (?????)............................... 2 milhões e 948 mil Euros (deve ser para apertar alguns parafusos!)
6 - Outros Trabalhos Especializados (???) ......... 3 milhões e 593 mil Euros (resta saber quais!)
7 - SERVIÇO RESTAURANTE, REFEITÓRIO, CAFETARIA......... 961 mil Euros
8 - Subvenções aos Grupos Parlamentares................ 970 mil Euros
9 - Equipamento de Informática............................. 2 milhões e 110 mil Euros
10 - Outros Investimentos (?????)......................... 2 milhões e 420 mil Euros
11 - Edifícios................................................................. 2 milhões e 686 mil Euros
12 - Transfer's (???????) Diversos (????)........... 13 milhões e 506 mil Euros
13 - SUBVENÇÃO aos PARTIDOS representados
na Assembleia da República.......... ................ 16 milhões e 977 mil Euros
14 - SUBVENÇÕES ESTATAIS PARA
AMPANHAS ELEITORAIS .............................. 73 milhões e 798 mil Euros
São estas, ALGUMAS das rubricas do orçamento da ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA!
Em resumo e NO TOTAL a DESPESA ORÇAMENTADA para "aquela casinha", relativamente ao ANO de 2 010, é: 191 Milhões, 405 mil, 356 Euros e 61 cêntimos - Ver Folha 372 do acima referido Diário da República nº 28 - 1ª Série de 10 de Fevereiro de 2010.
Nos termos do disposto no Artigo 148º. da Constituição da República Portuguesa :"(...) A Assembleia da República tem o MINIMO de cento e oitenta deputados e o MÁXIMO de duzentos e trinta deputados, nos termos da Lei Eleitoral (...)".
Acho desnecessário dizer se, EFECTIVAMENTE, a dita Assembleia funciona com 180 ou 230 deputados...
E por aqui me fico.
Façam umas "contitas" e tirem CONCLUSÕES quanto ao valor que suportamos, POR CADA DEPUTADO.
J. Santos
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“Mokanda . 39 anos depois”
AMIGOS DA GLOBÁLIA
UMA MOKANDA DE VERDADE ( Igual a tantas outras! )
Amigo Nelo, estou de novo a enviar notícias nossas com mais um pouco das nossas odisseias, pois não sei se será viável encontrarmo-nos pessoalmente. Apesar de estarmos no mesmo país a distância ainda é considerável. Gostaria imenso de nos encontrarmos e darmos aquele abraço do reencontro 39 anos depois.
Em 7 de Agosto de 1975 deixámos Luanda com muita mágoa e chegámos a Lisboa ainda mais magoados. Foi terrível descer aquele avião e ter à nossa espera umas sras da Cruz Vermelha ou de outra organização qualquer, que nos deram uma esmola de 500 escudos por adulto, como se pedintes fossemos.
Fomos para Torres Novas porque aí vivia uma cunhada, irmã de meu marido. Eu fui logo tratar de concorrer ao quadro de professores agregados do distrito de Santarèm e meu marido inscreveu-se no Quadro Geral de Adidos e também na imigração. Ele detestava estar em Portugal, por isso queria sair nem que fosse para o fim do Mundo de barco à vela. Fomos muito mal recebidos pelo povo português que nos considerava ladrões, nós que chegámos de mãos e almas vazias!
Meus filhos foram com minha mãe para o Alentejo, para casa de minha irmã que idolatrava a Catarina Eufémia que, até andava com o seu retrato no peito enquanto o marido destelhava montes de ricaços latifundiários. Era um poder popular besta em que Vasco Gonçalves queria tornar todos uns pobretões. Os generais de aviário queriam meter-nos no Campo pequeno e passar-nos na quentura da metralha Estivemos um mês sem os ver, separados deles pela 1ªvez.
Comecei a trabalhar a 17 de Outubro em Alcanena (14kms de Torres Novas)
Meu marido só foi colocado em Novembro.
Meus filhos, por caridade das freiras do colégio Santa Maria, começaram a frequentar o infantário.
Só comecei a pagar o infantário quando recebi o 1º vencimento... Tantas mudanças,... tudo tão diferente!
Meu irmão, por caridade do director, foi com a família para a Casa Pia de Beja, onde tinha crescido. Enfim, lá nos fomos aguentando. Hoje fico por aqui. Não te quero massar. Espero que nos contes as tuas odisseias, se achares bem.
Houve tempo em que não conseguia falar disto, só queria esquecer, mas o tempo tudo suaviza e até já consegui ir a Angola ( no ano que mataram Savimbi ) e apesar das mudanças, gostei de ir. Envio uma foto recente do nosso filho,que está a trabalhar na África do Sul. Ele já está com 38 anos e ficou careca muito cedo. Quando tiver fotos recentes do outro filho enviar-tas-ei. Creio já te ter enviado da minha querida neta Aral.
As nossas vidas também foram descolonizadas.
Dá muitos beijos à tua linda família. Um grande abraço do Soba. Um beijão saudoso da tua irmã adotiva Ibib.
PS: Manda teu nº de telefone para ouvir a tua voz, ok
22 de fevereiro de 2010
Dá notícias,
Maria Ibib
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
EXPEDIÇÃO "Angola,terra da Gazosa"
Havemos de voltar à terra do matrindindi - ( 2ª parte )
UM CANTINHO DO INFERNO
A escassos quinhentos metros ali estava a casa mãe da fazenda de algodão que dava guarida a todos estes camionistas que vinham do planalto central com as suas cargas; ali tinham o conforto da família Pais da Cunha e como centro produtor de algodão tinham muita gente dependente; havia cinema e até o salão da ferrunfunfa ou seja da farra fim de semana aonde se esgotava parte do salário bebendo até transnadar; Segunda feira era quase certo que a maioria ficava no quimbo próximo; Os filhos do patrão subornavam com frequência os subalternos com umas cervejas para os deixarem conduzir o tractor ou a carrinha Bedfor e era um gozo do caraças ; bem, foi assim que aprenderam a conduzir.
O novo povo está a desenvolver-se mas as carências por se notar serem muitas resolvemos voltar ali noutro dia levando roupa para aquela gente o que veio a verificar-se dias depois de tocarmos o coração do representante da Cruz vermelha com sede em Sumbe; depois de muitas falas no convencimento de que ali não haveria negócio, compramos um balão de roupa (fardo). Portanto neste desenrolar de conversa ultrapassei aqui uns dias para coordenar melhor todo este vem e vai; O Setas dispensou-nos o carro e o filho Cado para nos levar lá e depois de enchermos o dito cujo Land Roover, ultrapassadas as instâncias, curvas e buracos.
Ao chegarmos ao novo povo ali estava uma quitandeira vendendo pão e vai daí o "DiJei" Zito a que eu lá atrás chamei de mandrak resolveu comprar o pão todo para distribuir pelo povo e, assim foi:
- fizemos uma fila e distribuímos em menos de nada todo aquele pão. Ao todo perfazia quarenta e oito e cada um custou cinco kwanzas; O fardo ficou com o nomeado de momento que tinha mais distinção, aliás todos eram conhecidos daqueles idos tempos; Bebemos marufo em latas algo amassadas e, em agradecimento deram-me um canguixe, que alguns também chamaram de hwim; trata-se de um pilão de usar só com uma mão, feito de pau ferro e que pila milho ou qualquer outro cereal tendo a forma de um maço curvo mas grosso na base. Este instrumento foi-me oferecido pela Linda e, está agora num lugar de destaque na minha estante museu; quiseram que trouxéssemos um cabrito e galinhas mas o objectivo era mesmo dar.
Assim, resta dizer que do Cantinho do Inferno ainda há paredes de pé só que a confiança de voltar é tão efémera como as bazucadas que ali caíram; esvai-se em minutos, o tempo de uma batucada e depois!.. Talvez,... Mas, com umas quantas chapas de zinco tudo aquilo poderia começar a funcionar em menos de uma semana mas, e mas, diz o ditado que não basta querer, é forçoso fazer querer mas,... Há ainda outras coisas que só os generais podem fazer,... Mas, o amanhã vai chegar, mas,... Terá de ser num outro amanhã.
Mas!...
Os matrindindis continuam livres como sempre os vi! Só os incautos morrem na picada.
( Continua... Angola, terra da gazosa...IX )
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO “22 MESES DE KIMBO”
BANDEIRA DO KIMBO
Visitantes : 22 200
Kimbo Blog teve início a 13 de Maio de 2008. Constituiu-se com gente nobre e rica com o único objectivo de inaltecerem a amizade, brincando com ela, a vida, porque esta, levada a sério permanentemente, torna-se um fardo pesado de suportar. Rápidamente, o kimbo, tornou-se uma instituição pública tendo como seu maior entusiasta o Soba, o senhor dum sonho tomado a sério só por ele próprio. A partir da Torre do Zombo ele navega nas calendas desenvolvento estórias um dia atrás do outro, com uma noite de permeio. De início, destacaram-se os nobres Visconde do Mussulu, o Embaixador do Kakuacu, o Juiz da Festa Jamba e o Cipaio-mor N´dalatando mas, pouco a pouco foram ficando dormidos no relento, fora da paliçada e do sonho, perdidos nas anharas sem mergulhar na memória.
A Kalunga
O Soba, reconstruindo o passado com novas cores, ficou armado de lanças, escudos e zingarelhos até aos artelhos. Enredado em missangas, colares feitos de feijão macunde, feijão maluco bichado, salalé e amuletos oferecidos por um novo amigo chamado de Pieter, múmia com mais de trezentos anos, tornou-se piloto da sua nave estelar; rumando entre ventos de mãos dadas com essa Kianda, Januário Pieter, múmia principal do seu teatro de vida, de inventação em inventação, foram colando espaços à mente Kwangiade.
O património Humano do Kimbo aumentou lentamente com gente ilundada.
Agora, é tempo de começar a esquecer e ser esquecido diz o Soba:
- Ocuparme-ei de registar na Torre do Zombo coisas de enaltecer vazios por basculhar na posse dos matumbolas, seguindo sempre o N´kulukulo, o N´zambi maior de todos os mulungos.
Graciosamente, o tempo colocou o soba no posto de “O grande Mulungo, Mwana-pwó de toda a Kalunga”, uma patética angustia feita estátua no estado eufórico.
Renunciando à tentação política do Puto, acantonado pelos mwangolês kamundongos, arrastado no turbilhão de inquietude, o soba radicaliza-se no sossego, antes só que mal desavindo e, uma extraordinária apatia concisa na escrita a sua luz eufórica. No ontem, desta missão do kimbo, agora só mesmo, sinto a sombra; continuo a percorrer o escuro de mim mesmo, desvigilado de qualquer olho gordo.
Glossário . palavras sublinhadas:
T’chinganji - um misto de feiticeiro, justiceiro, advogado do diabo ( de quem se tem medo); Torre do Zombo – arquivo do kimbo; t´chikukuvanda – lagarto; Kianda – bruxa, espírito das águas; Kwangiada – musa do Kwanza; Ilundada – iluminada, senhor dos espíritos; Matumbola – um morto-vivo ou vice versa; N´kuluculo – Deus Zulu; N´Zambi – Deus do povo Bantu, Angola; Mulungo – branco; Kalunga – o mar e seus espíritos, espíritos da água; Mwangolês kamundongos – Angolanos com o poder, Senhores de Luanda com cumbú, os todo-poderosos da gazosa; Olho gordo – mau olhdo; Muana-pwó – branco do puto com vestimenta do século XIX.
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO Mani - O grande senhor
O MANI KONGO
João e Vicente Puna, filhos de Manuel José Puna, fidalgo Barão de Cabinda visitaram Portugal, a convite do Governo, tendo feito seus estudos em Lisboa, e foram recebidos pelo rei D. Luis I. Este monarca foi também padrinho de Manuel José Puna, que quando visitou Lisboa ainda não era batizando. O título de Barão de Cabinda foi-lhe dado por D. Luis I «de juros e herdeiros» (sic).
O mercado de escravos não era só negócio para os europeus. O desenvolvimento daquele negócio foi incentivado pelos próprios Maní (homens poderosos) nos seus próprios domínios e em proveito próprio como Franque Cacolo, um dos notáveis de Cabinda que enriqueceu com o tráfico de escravos. Esta revelação foi feita por seu neto D. Domingos José Franque em «Nós, os Cabindas» (página 49).
Também o pai do autor daquele livro, Francisco Franque, depois de ter estado alguns anos no Brasil, onde adquiriu conhecimentos de náutica, levou, em barco próprio, um carregamento de escravos para aquele país. Também havia escravos por nascerem de outros escravos.
REIVINDICAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA
A ideia da Independência manifesta-se publicamente pela primeira vez quando o Governo português decidiu unir administrativamente Cabinda a angola, em
Refira-se que já em 20 de Novembro de 1962, Ranque Franque foi ouvido pela 4ª Comissão da Assembléia Geral das Nações Unidas em representação do Movimento de Libertação do Enclave de Cabinda (MLEC).
A ideia dos Imbíndas serem independentes toma forma definitiva ao se aperceberem que Portugal, após o «golpe» militar de 1974, não lhes assegurar, no mínimo, a manutenção da sua autoridade e integridade territorial, deveres assumidos nos tratados de Chifuma (29.9.1883), de Chicambo (20.12.1884) e Simulâmbuco (1.2.1885), artigos 3º e 9º deste último tratado que diz: Portugal obriga-se a manter a integridade do território de Cabinda colocada sob seu protetorado, e declara-se a respeitar os usos e costumes dos Cabindas.
( Continua .... VII )
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
Jequitibá – Pau da Binga
A minha curiosidade em verdade, já vem de quando, nesse então, atravessamos o rio Cubal em uma balsa de paus de binga para comermos ostras em uma ilha na foz deste rio. A balsa era um conjunto atado de troncos de duma árvore que mais parecia esponja de esferovite e, em tudo muito semelhante à embauba. A atadura dos troncos era feita de de mateba, casca de mutamba. Binga, é o nome popular daquela arvore em Angola e, foi esta que deu o nome aos rápidos situados a uns 80 quilómetros da cidade do Sumbe ( Ex Novo Redondo ). Enquanto a binga é conhecida no Brasil por embauba, a árvore conhecida por binga em Angola é aqui referênciada por jequitibá, totalmente diferente daquela outra, de grande porte, magestosa; conhece-se um
JEQUITIBÁ-ROSA
« Jequitibá-rosa no Parque estadual do Vassununga, Santa Rita do Passa Quatro, São Paulo (Brasil). Esta árvore pode ser considerada um dos maiores e mais antigos seres vivos do mundo, com idade estimada em 3.050 anos. Por ironia, neste terreno, um dos mais férteis do planeta, planta-se cana de açúcar, e esta árvore apenas não foi cortada antes de ser criado o parque por ter sido muito difícil arranjar um instrumento para conseguir derrubá-la. Esta árvore ainda frutifica »
Conta a lenda que ao pé do "Pau de Binga" se realizavam as reuniões dos Mondrongos, feiticeiros da pior espécie. As suas sessões de macumba eram muito concorridas e presididas pelo próprio demônio
Gritos e gemidos horrendos, intercalados de lúgubres cantos, eram ouvidos à distância, fazendo tremer de pavor os moradores dos ranchos mais próximos. A cachaça, fervida de mistura com ossos de defuntos, penas de galinhas, pedaços de imagem, raízes de outras coisas imundas, era distribuído aos macumbeiros, que assim ficavam com o "corpo fechado" a qualquer malefício ( este espírito de imunidade foi incutido aos primeiros guerrilheiros da UPA que actuaram nos primeiros levantamentos no Congo de Angola ). Até de madrugada aquelas vozes rouquenhas e sinistras eram ouvidas nas suas invocações ao deus de seu culto: Satanás.
Pau de binga ou Jequitibá é talvez o mais antigo património do reino vegetal. Não tenho conhecimento de outra árvore mais antiga. Esta “Patriarca da Floresta”, mede
Nota: Do fruto do Jequitibá faziam-se "bingas" (isqueiros) para acender cigarros; daí o nome de Pau de Binga.
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
O SAPO CURURU, ajudante de Kianda
O braço alado de Alcácer Quibir
É mesmo assim, para ver se estava vivo!
Explico!... Estou no meu segundo termo de vida.
«O primeiro foi passado com Dom Sebastião. Segui-o como pagem para o norte de África e com ele morri
Os meus guias apoderaram-se dele, o braço; deixou verdadeiramente de ser meu e, desde então conduzem-no a seu belo prazer escrevendo coisas inéditas e até inacreditáveis».
É assim,... Estórias cheias de makutu como esta. O sapo continua a dissertar coisas:
- A vida atrai a vida, com o teu sonho alimentas o teu saber sempre, quando e enquanto esperas o teu silêncio, num lugar aonda jamais estiveste.
Estas palavras enigmáticas deixavam-me ainda mais confuso. No imediato só pensava ter uma cubata de taipa de 32 palmos de cumprimento por 20 de largura, coberta a colmo, um espaço amplo à frente tendo uns 500 por 1000 palmos e tudo isto rodeado de 4 mulembeiras e um embandeiro ao centro. Terei de divisar os rápidos dum rio na encosta nascente aonde irei buscar água. Ao redor e em circulo mais cubatas dos súbditos do reino tendo na retaguarda de cada parcela um quintal de fundo com árvores frutais. Do lado poente a floresta com N´hiwas e cassoneiras a contrastar o pôr do Sol. Afinal é um sonho simples de realizar mas o raio do sapo cururu referia-se a dez palmos de terra na vertical; só podia ser “ um lugar aonde jamais estiveste”.
- Tu que conferenciaste com uma mamba negra de Belize no Mayombe, que fumaste cigarros caricoco com um pássaro no lugar da Manhanga de Luanda, que pulaste o poço de Ot´xicoto Lake com M´c Giver onde as ninfas lambem rochas e que morreste pela segunda vez na curva da morte de Kalukembe, estás preparado para tudo.
Estupefeito pelo rápido curriculum dos ácaros da minha vida, pestanejei incrédulo. A minha cabeça num repente entrou em parafuso de pavor e, sem perder a noção do meu poder, neste preciso momento não queria mais ouvir o feio sapo. Defini seis mosaicos da varanda ao redor do sapo com o indicador esticado e ordenei:
- Até que eu me destine continuar as falas contigo, ficas aí prisioneiro nesse quadrado a hibernar.
Tinha de primeiro, refletir em tudo para arrumar os carretos e só depois decidir.
De boca aberta ali ficou o sapo preso na quadratura do circulo de olhos esbugalhados feito estátua. Tinha de rever os tratos com a kwangiade Januário Pieter e só depois assumir um compromisso de como continuar. De momento recordo o que ficou escrito quando do ultimo encontro com Januário,
« E, foi assim que nos despedimos das antigas terras de Abd-Allah e, sem limite de tempo, ficou uma vaga esperança de um novo encontro nas terras do rio de “
(Continua... Os mazombos de Sacramento...)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
Monangamba na t´ximpaca* ( 2ª parte)
Talvez, um monangamba
Kabassa, veio animar de contente o seu homem exclamando:
- Chi!!!... é grande mesmo! Referia-se ao facóquero.
O facóquero foi lançado em cima duma esteira colorida, misto de tranças de couro e palha espalmada.
Kabassa trazia numa mão um cigarro de cânhamo; de boca aberta deslumbrava alegria perfilando os dentes todos e, todos brancos. Na outra mão trazia um agasalho para o seu M´fumu Monangamba uma capa, adorno de pele de boi.
Kabassa trazia um toucado e adornos por todo o corpo; faltavam-lhe pernas, braços e pescoço para tanta argola de latão.
No chão de terra pisada viam-se utensilagens para o leite; pendurados em paus e corpos viam-se correias de couro. A contornar todas as libatas os chinguiços dispunham-se irregularmente em circulo de arestas fendendo o ar; serviam para defesa dos leões e outros felinos.
As mulheres surgiram carregadas de discos de casca de ovo de avestruz no peito e nas orelhas, esguias e escorridas; viam-se esteiras, cerâmicas, cachimbos, pentes e cabaças gravadas.
Do meio de muitas ferrarias e obras de talha à mistura com panos de algodão entrelaçados com fio de latão e tiras de couro saiu um candengue que, era eu!
Eu mesmo, o candengue T´Chingange.
Não sei como e, porquê estava ali, todo farrusco, com enjoo de intenso boi e bosta cheirando a leite azedo.
Caluviavirí era a alcunha do chefe de posto, meu pai de faz de conta Manel Povelide do Puto. .
Tenho ainda o dente de facóquero que o cipaio Monangamba-nome-de-banga me ofereceu. Eu, era o menino camundongo, besugo do Puto que por ali testemunhava com inocência o supérfluo, o estritamente necessário sem fronteiras de ordem ou outros interesses.
Naquela noite, tudo foi feito na roda da grande fogueira e batuque com t´xinguvo.
Foi só um grão de sal em pura satisfação espiritual!
Glossário: Tuga – o mesmo que Portuga, tropa Português; Saguins – macacos de pequeno porte; Fiote – natural do enclave de Cabinda (Mayombe); biala de suza – Cacusso preparado à maneira de Cabinda (peixe do rio Chiloango); funge – prato africano feito de farinha de mandioca; cazumbi – feitiço; maka – confusão, disturbio; ninja - tartaruga, policia de intervenção de Angola; mujimbos – boatos; t’chisssangua – bebida doce feita com milho (Angola); kimbombo – bebida fermentada de milho; marufo – malavo, vinho extraído da seiva da palmeira; FLEC –Frente de Libertação de Cabinda; primus – cerveja Zairense; carcamano - estrangeiro
* - Adaptação de crónica antiga “ O Cipaio Mandinga”
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
MANIKONGO
T’chingange no reino de N´zinga-a-N´kuwu
Mulher Muxiloanda
Kissama além de respeitado, era temido pelas suas capacidades que pareciam ser galácticas; coisas que só ele decifrava e conseguia ler, coisa desconhecida pelos demais Ambundos. Fala-se que consultava as estrelas do alto da Mulemba, estudava o efeito dos ventos, da trovoada e às vezes ficava como que em transe de mãos para o espaço como que dirigindo-se a um ser maior; era um kimbanda como nenhum outro, que adivinhava as chuvas.
Naqueles tempos antigos, a tradição oral era o meio normal de comunicar a história, os costumes que com devaneios e muita imaginação passavam de pais para filhos, de avós para netos; os mitos e crenças com o tempo iam avolumando e levando os vindouros a interpretar os factos sem uma consistente certeza; eis que surge um Kissama que de uma forma primária descreve os factos por escrita.
Por saberem escrever coisas, Kissama e T’chingange eram levados em alta consideração por todos os habitantes ali da ilha das cabras, do Bungo, Coqueiros, Ingombotas, Mulemba e Maculusso.
- Pronto, o m´fumo T´cha Samba já pode vir, está tudo separado por quindas segundo o valor; agora é só esperar, disse o tesoureiro Kafa filho.
Trocou impressões com seu pai acerca dos lotes de zimbos e irrequieto decidiu dar um repouso á ansiedade. Hoje ou amanhã teria de confrontar o soba ministro encarregado das finanças.
-Temos tempo para pescar uns caxuchos p´ro jantar, disse virando-se para o cipaio ximbicador de farta estatura que tinha grande experiencia em lançar as redes de loando; sendo morador do Bungo, um casario que se podia avistar do outro lado da baia, era o mais esperto nas artes e o mais sabido das marés, da lua cheia. Desde candengue que estava habituado a lidar com o mar, fazendo dele um verdadeiro cipaio Muxiloanda.
Não muito longe, nas águas da ponta azul, meteram umas mabangas na armadilha loando, ataram-no a uma corda de sisal e ali permaneceram olhando o horizonte e os peixes-agulha que faziam floridos fintados à frente de enormes barracudas.
O rei N´gondo da Ambaca tinha dado ordens explícitas ao seu fiel e audaz soba de Pungo Andongo Tchiloange T´cha Samba para recolher o máximo de zimbos pois que estava quase sem fundos para pagar aos seus muitos funcionários em todo o reino. Kafa pai e Kafa filho sabiam que a todo o momento T´cha Samba iria aparecer a recolher todo o tesouro apanhado nos últimos três meses pois, tinham conhecimento que a comitiva tinha pernoitado nas cubatas do Maculusso do outro lado da baia.
Pensando nisto T´chingange comentava ao cipaio:
-Ainda bem que os m´zungos do Mussulu terminaram a apanha no tempo certo; da última vez a tempestade não deu tempo, m´fumo Samba ficou por demais zangado e quase me castigava p´ra ir de m´zungo no Kacuacu.
( Continua.. Na lha Mazenga )
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
EXPEDIÇÃO "Angola,terra da Gazosa"
Havemos de voltar à terra do matrindindi
MATRINDINDI
Matrindindi é uma carocha de perfil pré-histórico, talvez um normal insecto coleóptero do género do escaravelho, só que este é muito mais extravagante, de cor escura e com muitos picos; mais parece obra deformada de bruxa ruím; O Land Roover pisava-os sem alternativa e sucediam-se estalos como de castanhas a rebentar no calor da fogueira.
A serra do Chamaco via-se ao longe, como teta saliente na cordilheira no caminho de Seles e, na vasta região uma floresta de espinheiras, acácias com picos medonhos, pau ferro, babosas, newas, matebas, lengues e lungwengué da qual se fazem cordas de muita resistência.
Em terras de N`gunza Kabolo, soba antigo que deixou bom nome, avançamos pelo matagal, por ali aonde a guerra existia há escassos meses e a comprovar lá estavam as carcaças enferrujadas de muitas caminhetas, machimbombos, IFAS, URAIS e nós calcorreando desvios, contornando maboques, upapas e lenwenue de bagas curativas da pele, em geral mas, mais conhecida na cura de ferida de matacanha ou bitacaia, como muitos a conhecem.
O rio Lua estava ali perto e o nosso primeiro destino também era o Caçosso, n`haca de belas hortas contornando aquele rio que ia desaguar no rio Cubal. Noutro tempo havia macacos pulando pelas bimgas, gajajeiras, goiabeiras e mangueiras altas mas, depois da ocupação por parte da Unita os macacos viraram refeição.
"Vou ti bater minina" dizia a Vitória*, num tom de lembrança saudosa a antiga empregada; esta que também pertenceu à OMA e com a vitória ou morte foi sobrevivendo; ali estava impregnada de álcool coporroto, feito de casca de banana ou batata e, no entanto lembrava-se das tareias que levou por causa da menina Dina, filha do patrão. Um grande abraço selou a saudade e, muitos mais de toda a gente que queria falar com aqueles. Os mesmos que em pequenos perseguiam macacos e apanhavam matrindindis.
Apanhámos Sape-Sape (graviola) e também sementes para replantar no Puto, revestimos mangueiras em capim atado com mutamba para mais tarde trazermos, o que assim foi. Apanhamos tanga, uma melancia gentia que os homens do calahári, (os Bushmen) aproveitam para fazer o "Kalahari thirstland Liqueur"; aproveitamos trazer uns cambungues (papais), ukeluá-muflé (folha de abóbora) para fazer esparregado e, no regresso do rio até àquilo que era Cassosso apanhámos as bagas vermelhas que no tempo passado servia para colar as cartas e, que por isso ainda conhecemos por árvore da cola.
Do Cassosso só existiam ruínas mas, a mulembeira ainda lá estava, agora menos imponente porque a cortaram parcialmente. Dali seguimos até ao Cantinho do Inferno; o porquê deste sitio se chamar assim deve-se ao facto de numa baixa pantanosa as camionetas mercedes, chevrolet`s, magiros e Ford`s ficarem ali atascadas dias e dias.
* Nota: Vitória, entusiasta da OMA, morreu encharcada em cachaça dois anos após esta escrita (2002).
( Continua... Angola, terra da gazosa...VIII )
O Soba T´Chingange
POVO IMBINDA - V
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
Os grandes senhores
FLEC nas matas do Mayombe
A acção católica desenvolveu-se a partir de cinco missões masculinas e três femininas. A saber: Cabinda, Zenza do Itombe do Lucula, Lândana, Belize, Necuto, Nossa Senhora do Mundo, além de muitas capelas espalhadas pelo território.
A moral tradicional dos Cabindas visa basicamente comportamentos tendentes à coesão e fortalecimento da família, da etnia. Por isso o argumento da obrigatoriedade é a tradição dos antepassados.
A mulher casada ou amancebada é obrigada a guardar fidelidade ao marido ou ao companheiro. O homem, porém, não é obrigado a guardar fidelidade à esposa ou à companheira.
A junção da última sílaba de Mafuka com Binda, nome de um importante dignitário do Rei Ngoyo, dá Kapinda que pela semântica se tornou
Segundo antigas crónicas e narrativas de viagens, os dignitários, fidalgos e titulares Cabindas eram imensos. Os mais comuns, porém, nas diversas cortes destes Reinos eram: Marubuku (Vice-Rei), Makaia (sucessor presuntivo do Rei), Mafuka (ministro do Comércio), Mucurata (urna espécie de ministro de guerra), Samário (cobrador de impostos), N´gúvulo (primeiro intérprete do Rei e seu porta-voz), Maukaka (chefe de polícia), Mangovo (ministro dos Estrangeiros) N´kotokuanda (espécie de procurador-geral e advogado público). A Corte era, via de regra, composta por cerca de meia centena de «GRANDES SENHORES»
Os Reis de N´goyo concediam títulos diversos às suas gentes que se notabilizavam por serviços prestados aos povos ou aos monarcas. Citam-se alguns de que o Príncipe D. Domingos José Franque, ilustre Imbindense (descendente de D. Francisco Franque, um nobre, coronel honorário do Exército português), refere no seu livro «Nós, os Cabindas», editados em 1940.
Mambuco: espécie de Vice-Rei que governava na zona litoral. Bona-Zanei: uma autoridade especial que tinha poderes para perdoar penas, inclusive a de morte. Mafuka, Mambondo e Mancafi - títulos apenas concedidos a fidalgos do litoral. Mas existem ainda outros títulos, como: Capita, Furcico e Mongovo Velho, atribuídos a indivíduos em recompensa dos serviços prestados ao Reino.
Existiam também os Bimpabas. Estes, porém, integravam o governo e a sua missão equivalia à dos diplomatas que, credenciados para o efeito pelos Reis, tratavam de assuntos noutros reinos.
( Continua .... VI )
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
Embauba – a árvore da preguiça
EMBAUBA
Bem cedo, com o fresco natural antes do nascer do sol, as dunas do mar entrecortadas de clareiras de areia branca, ondulavam silhuetas com beijos de vento. Aquele vento também me tocava em segredos de aventuras de gente que buscavam permanentemente, tesouros como forma de vida.
Olhando a serra do mar a sul, conseguia àquela hora matinal divisar um sem fim de estrelas e, na esperança encontrei a lua diluindo-se no céu difuso entre nuvens.
Parei no topo da primeira duna vendo um mar verde esmeralda; risquei no chão o sinal da luz enquanto interiorizava os segredos do silêncio contido na maravilha dum simples grão de areia, na razão de viver. Um pequeno nada de felicidade a dar-nos empenho para viver. Pequenos nadas que tornam tudo melhor ao nosso redor. Pena que nem todos envolventes podem vislumbrar coisas para além da torpeza chamada de iliteracia dando normalmente interpretação disforme ao espírito do conteúdo. Lamento.
Andei uma hora mais e já internado na mata atlântica do sopé da serra do mar detive-me junto a uma árvore conhecida por embauba. Fiquei mais tarde a saber que esta designação é comum a várias espécies de árvores do genero das cecropias que podem chegar a
A caracteristica que eu achei de salientar, é o facto de serem ocas e em seu interior circularem formigas do gênero Azteca, fazendo uma simbiose perfeita protegendo-as de animais herbivoros nocivos ao seu desenvolvimento.
Para confirmar o que alguêm me tinha dito em conversa informal no sítio do Paraiso da Massagueira, cortei o caule de uma jovem árvore a confirmar e, lá estavam as formigas em azáfama, retirando seiva para se alimentarem. Interessante esta sincronia entre o reino animal e mineral; quantas coisas na natureza para nos retratar o que é a condição de sustentabilidade no ciclo de vida e cadeia alimentar.
Não fui capaz de, depois desta esperiência, manter-me alheio ao mundo exterior sem transmitir esta esperiência e, é assim que a estou legando para satisfação sem esperar retorno do que quer que seja.
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
O SAPO CURURU, FALOU DE NOVO
Gente do Cunene . Himbas
Ao cair da tarde, o escuro humido fez com que o sapo surgisse de novo na varanda da minha casa.
Acredito desde criança que um dia um sapo feio como este desvendaria o meu próprio sonho e, se este bicho era mesmo esse tal, então tinha ali o grande presente da minha segunda vida; este sonho em duplicado terá de ser uma lenda.
Lendo os meus pensamentos o sapo nesta segunda aparição, tornou a falar na primeiríssima pessoa.
- Eu, sou parte da tua lenda meu amigo!
Ué!...O bicho é um espírito falante... E, continuou:
- Por isso quero que prossigas o teu sonho conforme o idealizado.
O descarado tratava-me por tu, e dizia-se meu amigo,... Bolas!
- Eu sou o emissário espião do teu amigo Januário Pieter, aquele que contigo saltitou entre Jablines-Annet cerca de Paris e Alhambra, a cidade mussulmana que originou Granada em terras antigas de Abd-Allah.
Fiquei espantado com a descrição tão verdadeira saindo da bocarra daquele sapo feio, sarapintado de veneno amarelo; um tanto temeroso e incrédulo, mas também curioso por se desvendar este mistério só meu e,... Logo, logo por um ser inimaginável.
Januário Pieter quando do último encontro em Alhambra e depois na tasca do sopé da serra Nevada com kimbandas, kiandas e matumbolas técnicos da bolunga de xylinoide, ficamos de nos reencontrar
O sapo continuou, ora falando indecifráveis dizeres ora tossindo palavras, ora castanholando estalidos como os kwanhamas - Kam´ssaqueles, homens do Cubango de Angola.
- E, que sabes tu do meu sonho?
Perguntei ao sapo Cururu.
Belisquei-me, entretanto para sentir a dor da existência a confirmar que eu era eu, e estava vivinho da costa.
( Continua....)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
Monangamba na t´ximpaca *
Monangamba-nome-de-banga
De calções folgados e sapatilhas de pé rapado, ali, era só mesmo, um cipaio acantonado recordando os muxitos d´antigamente.
Monangamba-nome-de-banga, agachou-se por detrás da espinheira, espevitou os odores do embaciado cacimbo e pé ante pé galgou uns metros penetrando o olhar para além do tal muxito.
Tenso de bravura afastou as bissapas, colocou a sua curta azagaia no arco e, com gestos lentos tomou pose de felino; de mão estendida prendia o arco e, afinando pontaria largou o tenso ensebado fio de couro.
Da t´ximpaca suou um grunhido forte e agudo ferindo o silêncio da planura; a flecha, de certeira, fez jorrar o sangue na lama manchando-a de pintura de morte; entretanto o bicho esperneava com frémito mal contido.
Monangamba-nome-de-banga em três pulos, com deve ser num senhor dono dos segredos da selva atou as patas traseiras do já morto bicho com improvisorias matebas.
Acariciou o áspero lombo do facóquero, assim como um leão acaricia de estimada gula a presa e, deslizou as mãos calejadas ao longo do focinho até sentir as presas de osso cortante que se salientavam dos maxilares em forma de foice.
Ouvia-se o restolhar do resto da vara de javalis bufando de raiva e medo quando Monamgamba-nome-de-banga carregava o animal no costado nu. Compunha-se ali no oblíquo contraluz do amanhecer um selvagem quadro de perturbante e frágil sobrevivência, tal como nos ancestrais tempos silenciados da perdida imensidão.
Monangamba, sem delírio, destemidamente só, dignificou o gesto, o único de homenagem a um herói; ele próprio!
Já cansado chegou ao seu Kimbo.
Ao seu encontro vieram os candengues gesticulando bravezas de fingir pulando ao redor de Monangamba; cercavam-no com toques afáveis de caricias tribais.
Naquele dia Monangamba, era o maior!
Limitado de geométrica forma circular o kimbo era formado dum conjunto de cubatas arredondadas, paredes de lama e bosta seca disposta em tabique de taipa, um postigo pequeno e cobertura em colmo enegrecido do tempo; Foi duma destas cubatas que saiu uma mulher com especial espalhafato . Era Kabassa, a Mucuisse, mulher de Monangamba-nome-de-banga.
Glossário
Monangamba-nome-de-banga - nome de estilo; Bissapas - arbustos; Cipaio - guarda de posto administrativo; mateba - palmeira de onde se extrai vinho de palma ou casca da mesma para fazer cordame; camundongo - nativo de Luanda (N´gola); monangamba - trabalhador sem especificação; muxito - tufo de mato; N´fumu - chefe, homem de respeito; t´xinguvo - tronco monobloco trapezoidal, com ranhura longitudinal que ecoa som mais grave que o tambor; t´ximpaca - cacimba de água de chuva; facóquero - da família do Javali; Candengues – Jovens, putos, pivetes.
* - Adaptação de crónica antiga “ O Cipaio Mandinga”
( Continua...)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
Mussendo - Um óbito no Huambo
Uma homenagem aos meus auxiliares em campo da Cãmara Municial da Caála: - Pumuma, Jamba, Otaca, kumuna, Botomona, Francisco e Zacarias. A ferrugem do tempo calcinou projectos ali ao lado da pedra do sargento Canas a caminho do Quipeio, a ilha dos amores. O presidente Casimiro Gouveia nunca soube que era o Caluviáviri.
MUJIMBOS NA ANHARA
Jaka kapiango num mês bolurento, muita chuva, pouco dinheiro, maka na família, dívidas sem pagar no senhor Zeca gweta da loja do kimbo lá na Vila Flôr. Teve de dar nome na administração aonde devia impostos; quinze dias depois, seguia de contrato para a roça em Samtomé no vapor “Mouzinho”.
Na vida dele toda negra, só engordoreceu vontade de fazer seu sonho pois,... só ajuntou o insuficiente para comprar uma junta de bois. Nem quase só, nenhuma coisa mesmo, nada ki kima n´go; foi no Longonjo trabalhar terreno bom no plantio de milho mas, a velhice chegou antes do tempo certo. Ele só desconseguia viver melhor do que queria; sempre escorria sua fraca sombra fazendo encontro com o sonho que tinha andado dormir no seu coração.
O tempo foi comendo lembranças da roça lá no Samtomé que, de muita sorte voltou no seu kimbo, suas botas, sua lavra, sua primeira, segunda e terceira mulher.
Num dia mais tarde Jaka Capiango foi ficar só envelhecido de seco, castigos e fomes. Seu nome ficou de sucesso no livro de contratados no angariador da administração; um exemplo de sucesso apontado na palavra do senhor governador de distrito na Nova Lisboa.
Jaka morreu contraminado sugando sinzas em estória de saudade antiga, sua dicunji dos mares verdes de Samtomé; uma vida de nó em três voltas. No Santomé já só juntou mesmo chuva grossa mais mil chuvisquinhos e berros do capatáz tuga peidador de bufas importadas do Puto. Por muitas vezes saíu voando sombra negra de raiva no toque, zuido e úivo dum longo chicote; lentamente ia-se morrendo.
Seus kambas kwachas lhe lembraram, boa pessoa, inchados de bolunga doce e t´chissângua fermentada com paracuca acompanhar. Neste entretanto, o choro de lágrimas encarquilhavam mulheres de velhos rostos carpidando, simplesmente.
Saí só falando calado “ m´bika ia kaputo, caputo ué”. O Sol de Jaka se apagou entornado de escuridão que lhe torceu por demais seu coração.
O Soba T´Chingange
5º ENCONTRO COM A KIANDA – A bolunga de xylinoide
SAÚVAS
E, quase para terminar “O legado De Januário Pieter”, passo ao assunto de primeira instância, a bolunga de xylinoide conhecida também por combucha, tão cheio de esquísitos ácidos de complexas escritas declináveis, ortografia e sintaxe, coisas que não cabem no meu pau-de-arara.
- Flavonoides : - Flavinoides como a vitamina P, quarcetol, kenfrol, minicetol, são exenciais para a absorção da vitamina c numa acção protectora os vasos, dando-lhes elastecidade.
- Os Polifenois : - do chá verde, aumentam o crescimento das bifidobactérias intestinais, actuando como probiótico. No envelhecimento a flora intestinal, modifica as suas proporções, as bifido, diminuem a, as clostridias aumentam, assim como os lactobacilos estreptococos e outros enterobactérias.
O metabolismo das bifidobactérias desempenham importante papel na saúde. Em resumo o combucha é um adaptador, criando equilibrio entre várias funções dando-nos o conforto corporal.
A última coisa que Januário Pieter disse, foi a de que, não obstante este seu legado ter sido descrito numa assembleia de Kwangiades
E, foi assim que nos despedimos das antigas terras de Abd-Allah e, sem limite de tempo, ficou uma vaga esperança de um novo encontro nas terras do rio de “
Para finalizar exponho os “sites” que servirão de consulta aos mais interessados do Kimbo. Que façam um bom uso!
grupokombucha@yahoogrupos.com.br
http://br.maisbuscados.yahoo.com
http://www..rifetchnology.com/kombucha.htm
Glossário:
Mussendo: - Crónica ou conto do povo
Gweta: - Branco (normalmente é depreciativo)
Nada ki kima n´go : - So´mesmo, nnhuma coisa.
Dicunji : - Peixe mulher, foca com bigodes, morsa da kalunga, lontra das pedras, sereia no geral.
Kambas kwachas: - Amigo Cipaio guarda rios, amigo umbundo, companheiro da UNITA.
T´chissângua : - Bebida fermentada a partir do milho ou massambala, bolunga no geral.
Paracuca: - Ginguba com açucar na forma de bolacha tipo torrão de Alicante.
m´bika ia kaputo, caputo ué: - Escravo de branco, é também branco.
Kwangiades: - Musas do rio Kwanza.
Makutu !: - Mentira!
( Acaba aqui a série da bolunga de xylinoide )
Da N´haka do Soba T´Chingange
As escolhas do Soba
A crise,... e a Matemática de mendigo
PEDINTE E A MATEMÁTICA
Escreve um estagiário de Matemática. Preste atenção à sua pesquisa:
Nunca tinha pensado nisto. Vou mudar de profissão. Se um dia destes me encontrarem no semáforo, não se admirem... e já agora deixem mais de 0,10€.
Um sinal de trânsito muda de estado em média a cada 30 segundos (trinta segundos no vermelho e trinta no verde). Então, a cada minuto um mendigo tem 30 segundos para faturar pelo menos € 0,10, o que numa hora dará: 60 x 0,10 = € 6,00.
Se ele trabalhar 8 horas por dia, 25 dias por mês, num mês terá faturado: 25 x 8 x 6 = € 1.200,00. Será que isso é uma conta maluca?
Bom, 6 euros por hora é uma conta bastante razoável para quem está no sinal, uma vez que, quem doa nunca dá somente 10 centimos e sim 20, 50 e às vezes até 1,00 €.
Mas, tudo bem, se ele faturar a metade: € 3,00 por hora terá € 600,00 no final do mês, que é o salário de um estagiário com carga de 35 horas semanais ou 7 horas por dia.
Ainda assim, quando ele consegue uma moeda de € 1,00 (o que não é raro), ele pode descansar tranquilo debaixo de uma árvore por mais 9 mudanças do sinal de trânsito, sem nenhum chefe para "encher o saco" por causa disto.
Mas considerando que é apenas teoria, vamos ao mundo real.
De posse destes dados fui entrevistar uma mulher que pede esmolas, e que sempre vejo trocar seus rendimentos na padaria em frente ao CEFET. Então perguntei-lhe quanto é que faturava por dia. Imagine o que ela respondeu?
É isso mesmo,... De 35 a 40 euros em média o que dá (25 dias por mês) x 35 = 875 ou 25 x 40 = 1000 €,... E ela disse que não mendiga 8 horas por dia.
Moral da História :
É melhor ser mendigo do que estagiário (e muito menos PROFESSOR), desta forma, ser estagiário ou professor, é pior que ser Mendigo...
Estude a vida toda e peça esmolas; é mais fácil e melhor que arrumar emprego.
Lembre-se :
Mendigo não paga 1/3 do que ganha pra sustentar um bando de ladrões. E, ainda falta o rendimento social de inserção...PAGO POR TODOS NÓS!...
Que país é este?
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
Cavalo de Troia
Num qualquer país do Mundo, a educação é importante mas, particularmente em Portugal, se não houver emprego para os instruidos, não haverá desenvolvimento.
Os governos das nações terão de proporcionar condições que possibilitarem a prosperidade dos negócios e sequente criação de empregos. Nada será bem sucedido e os poblemas não se resolverão se não houver um governo credível.
Sem estruturas sociais firmes que garantam um sistema bancário saudável, os investidores não confiarão; logicamente vão pensar que estão a ser enganados.
Com o desemprego a crescer desmedidamente, Portugal está neste patamar de preocupações
O desemprego terá de ser visto como um desperdício de recursos, um elemento destruidor do sentimento e valor do indivíduo; as consequências sociais indesejáveis que daí advem serão a violência, estado que só poderá gerar ainda mais violência. A falta de confiança dos portugueses em Portugal e, no processo democrático corrompido tão farto de teorias financeiras falidas, são mais que suficientes para alterar as coisas. O presidente da República terá de ser alquimista fazendo do chumbo Ouro, urgentemente. O povo terá de ser também alquimista e previdente contentando-se com uns cardos, tengarrinhas e rabaça da borda rio com um naco de chouriço a dar cheiro e sabor para comer. Quando mais perto se chega do sonho, mais ele se torna difícil, um labirinto, mas a vida é assim mesmo, uma constante persistência até chegar à razão a que nos propusemos; entretanto vamos contornando a torre da nossa própria existência até alcançar no topo das muralhas, o vento eterno do silêncio; o além sem horizontes. Quem está acostumado a andar pelo mundo porque nasceu em terra madrasta, sabe que é necessário partir um dia. Entretanto, um cavalo de Troia entrou no meu computador, literalmente fornicou-me o sistema resultando daí ter ficado descomando por completo. ( Continua....) As manias do Soba T´Chingange
RECORDAÇÔES ANGOLA
fogareiro da catumbela
aerograma
NAÇÃO OVIBUNDU
ANGOLA - OS MEUS PONTOS DE VISTA
NGOLA KIMBO
KIMANGOLA
ANGOLA - BRASIL
KITANDA
ANGOLA MEDUSAS
morrodamaianga
NOTICIAS ANGOLA (Tempo Real)
PÁGINA UM
PULULU
BIMBE
COMPILAÇÃO DE FOTOS
MOÇAMBIQUE
MUKANDAS DO MONTE ESTORIL
À MARGEM
PENSAR E FALAR ANGOLA