“GENTILEZA DA CONDESSA DO KIPEIO “. TR
Hernán Casciari*
A GLOBÁLIA . 3ª parte - EXCELENTE ANÁLISE E, COM PIADA ...
Irão e Iraque eram dois primos de 16 que roubavam motos e vendiam as peças, até que um dia roubaram uma peça da motoca dos Estados Unidos e acabou o negócio para eles. Agora estão comendo lixo. O mundo estava bem assim até que, um dia, a Rússia se juntou (sem casar) com a Perestroika e tiveram uma dúzia e meia de filhos. Todos esquisitos, alguns mongolóides, outros esquizofrénicos. Faz uma semana, e por causa de um conflito com tiros e mortos, os habitantes sérios do mundo descobriram que tem um país que se chama Kabardino-Balkaria. É um país com bandeira, presidente, hino, flora, fauna... e até gente! Eu fico com medo quando aparecem países de pouca idade, assim de repente. Que saibamos deles por ter ouvido falar e ainda temos que fingir que sabíamos, para não passarmos por ignorantes.
Mas aí, eu pergunto: por que continuam nascendo países, se os que já existem ainda não funcionam?
Por esta ordem de ideias Portugal será um kota de 62 anos, que se cagou para os filhos que fora de horas teve em África duma mãe trintona ( todos agora com por volta dos dois anos e meio – o safardana!), enquanto se perde de amores pela enteada katorzinha que do outro lado do Atlântico se insinua emergente e tesuda ao som do Samba. Proxeneta por tradição, sendo o mais velho na Europa acha que chegou a altura de os outros o sustentarem, e para tal usa de todos osestratagemas e de chantagem emocional: quando necessário até canta o Fado.
Só não aceita que lhe tirem a casa, a qual, mesmo pequena, tem uma fabulosa localização com... "aquela janela virada para o mar"! Já para não falar das vinhas ancestrais que lhe crescem nas traseiras do quintal, do azeite das oliveiras que bordejam a propriedade, do peixinho fresco que só falta conhecer o caminho para o assador para ser perfeito!
Ah! À sua custa vivem duas belas filhas solteironas já quarentonas: uma toda virada para a ecologia, com uns olhos azuis lindos como lagoas; e a outra, muito puta, a ameaçar casar sempre que a mesada tarda. Ambas com um temperamento assaz vulcânico, prometem ainda dar que falar: a primeira tem sempre a cama feita para um jovem ricaço que a visita amiúde de avião (mandou lá fazer uma pista de aterragem e tudo!); e a segunda, de tão bela, dá-se ao luxo de nem se depilar dasua floresta madressilva, recentemente eleita para Património Mundial da Humanidade.
* Hernán Casciari nasceu em Mercedes (Buenos Aires). Escritor e jornalista Argentino. É conhecido por seu trabalho ficcional na Internet, onde tem trabalhado na união entre literatura e blog, destacado na blognovela.
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“Shitemo. Secreta missão ”
Não obstante a postura dos governantes de Windohek mostrarem dureza no trato, as autoridades regionais faziam vista grossa às movimentações que o comércio local fazia com o outro lado dos rios Okavango, Cuito e Quando. O comércio floria em prosperidade, talvez de forma corrompida mas, tudo se vendia. No Divundo, tivemos necessidade de comprar mantimentos no shop do Miranda ao cuidado de sua filha Ana Maria e de todos os pacotes de bolacha que compramos só um estava no prazo de validade. Em terras do fim do Mundo vale tudo e, até tirar olhos; com a minha tribo da mini exploração africana nada de normal sucedeu mas ouvimos relatos de coisas mal paridas e defuntadas agruras de por-dá-cá-aquela-palha. O encontro com Pedro Rosa Mendes, autor do romance ficcionado de Baia dos Tigres aconteceu aqui em Divundo, no shop da Ana Maria de Andara. Fiquei a saber antecipadamente as agruras de Pedro Rosa Mendes descritas em seu livro, lidas mais tarde e da periclitância da guerra que se julgava não ter fim; não fiz muitas ondas porque o meu percurso de passeio não tinha o mesmo objectivo que o dele e, também não sabia o que ele viria a descrever em suas crónicas faladas via rádio todos os dias com o Puto.
Pedro Rosa Mendes . Jornalista
Não sei precisar o dia em que isto aconteceu mas foi útil ter uma visão diferente do que se estava a passar no terreno, no entanto pareceu-me tendencioso em seu livro no julgamento de Miranda comerciante, retratando-o como um brutamontes, só porque tinha pertencido à companhia Sul-Africana “Os Búfalos” que invadiu Angola no ano de 1975 quando das convulsões partidárias da corrida ao poder. Comparou-o a um Bóer “Mamburra” mal formado o que penso ser um exagero de todo. Eu, com a minha mini-tribo familiar, tínhamos partido de Cape Town enquanto Rosa tinha saído de Baia dos Tigres do Sul de Angola e até aqui, sucintamente descreveu a sua odisseia por terras em luta. Eu seguiria para Vitória Falls no Zimbabwe, retrocederia até Divundo e seguiria o rumo de Joanesburgo passando pelo delta do Okavango, tendo uma paragem de dois dias em Maun. Enquanto Rosa andou 10000 km, nós percorremos 13000. Ainda no Shitemo e, no lugar de Mukuwi um dia à tarde, observei a chegada de dois camiões carregados de sacos de farinha fuba tendo sido depositados num amplo armazém junto ao rio, creio que num lugar chamado de Nyondo.
Epupa Falls
Okavango Delta.Botswana
Omega camp . UNITA
No outro dia, um pouco antes do meio-dia fiz companhia a um sobrinho de Dona Elisabete e quando paramos no mesmo armazém reparei que se tinham evaporado todos os mantimentos ali depostos no dia anterior; nada perguntei mas, logicamente deduzi que naquela noite tudo foi passado para a outra margem para o Calai ou Mucusso. Era por aqui que se passava o grosso dos mantimentos não obstante haver ao longo do rio Okavango postos militares de observação e guarda; O termo "só para Inglês ver" ajustava-se aqui, na perfeição. O povo Ovambo sabia preservar a sua existência partilhando os dias menos bons. De cartão da Unita camuflado no forro dos calções, regozijei-me por observar esta vivência no silêncio das terras do Fim-do-Mundo.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“CUANHAMAS”
N´guzo: - força, destreza (quimbundo)
Guerreiros Cuanhamas
Cuamatos
A presença portuguesa em Angola até meados do século XIX resumia-se à ocupação de algumas faixas do litoral desde a foz do rio Zaire até ao mar de Benguela garantindo posse de alguns portos de mar. A sul de Benguela não obstante haver tentativas de fazer ocupação por D. Francisco de Sousa Coutinho no decorrer do século XVIII, os resultados foram escassos. Para além da foz do rio Cunene pouco mais era conhecido. Só em 1849 é que se procedeu ao reconhecimento e ocupação efectiva em Baia dos Tigres e Moçamedes com um assentamento de uma colónia de gentes desavindas com a independência do Brasil. Esta colónia oriunda de Recife em Pernambuco formada por gente dedicada ao cultivo de terras deu origem à fundação à vila de Moçamedes como colónia agrícola. Por esta altura, exploradores tugas contactavam na margem esquerda do Cunene com a tribo dos Ovambos, um povo orgulhoso e guerreiro dominador de outras tribos da região, os Cuanhamas e os Cuamatos, povos estes que iriam desempenhar importante papel nas campanhas militares que se vieram a verificar naquela região pelos portugueses.
Aldeia Ovambo . Humbe - Gambos
Mulher Himba
Os portugueses ocuparam em 1856 os Gambos e em 1859 o Humbe, região fronteiriça da região dos Cuanhamas mas, em 1885 uma revolta no Humbe levou à organização de uma força comandada pelo capitão de 2ª linha Pedro Augusto Chaves que após violentos combates conseguiu recuperar aquela região. Em 1886, uma expedição comandada pelo tenente Artur de Paiva conseguiu instalar os postos militares de “Princesa Amália”, na margem esquerda do Cubango e “Maria Pia” no lugar de Dongo. Tinha desta forma sido dado o início da definição da fronteira Sul com a Damaralândia cobiçada pelos Alemães; Havia então fortes confrontos diplomáticos na Europa para usurparem de Portugal aquela região. Muitos expedicionários idos da Metrópole sucumbiram vítimas de doenças e combates para garantir o que agora é a fronteira Sul de Angola, país independente e pouco amistoso com a história e os portugueses. Deveria coexistir nos dias de hoje uma ambiência cordial sem subjugação política mas ao invés disso a prepotência arrogante dos angolanos sobressai quando se dialoga com o tempo e as mentes actuais de fanáticos historiadores que pura e simplesmente omitem a intervenção dos brancos tugas, uma deformação torpe de consciências preconceituosas. Não se pode apear ou decepar a história como se fosse um pedaço de pedra na forma de gente.
(Continua…)
O Soba TChingange
AS ESCOLHAS DO EMBAIXADOR
HONORÁRIO DE MACEIÓ - CRF
Kuing Yamang
Entrevista de um professor chinês de economia, sobre a Europa, o Prof. Kuing Yamang - que viveu em França:
1. A sociedade europeia está em vias de se auto-destruir. O seu modelo social é muito exigente em meios financeiros. Mas, ao mesmo tempo, os europeus não querem trabalhar. Só três coisas lhes interessam: lazer/entretenimento, ecologia e futebol na TV! Vivem, portanto, bem acima dos seus meios, porque é preciso pagar estes sonhos de miúdos...
2. Os seus industriais deslocalizam-se porque não estão disponíveis para suportar o custo de trabalho na Europa, os seus impostos e taxas para financiar a sua assistência generalizada.
3. Portanto endividam-se, vivem a crédito. Mas os seus filhos não poderão pagar 'a conta'.
4. Os europeus destruíram, assim, a sua qualidade de vida empobrecendo. Votam orçamentos sempre deficitários. Estão asfixiados pela dívida e não poderão honrá-la.
5. Mas, para além de se endividar, têm outro vício: os seus governos 'sangram' os contribuintes. A Europa detém o recorde mundial da pressão fiscal. É um verdadeiro 'inferno fiscal' para aqueles que criam riqueza.
AFLIÇÕES
6. Não compreenderam que não se produz riqueza dividindo e partilhando mas sim trabalhando. Porque quanto mais se reparte esta riqueza limitada menos há para cada um. Aqueles que produzem e criam empregos são punidos por impostos e taxas e aqueles que não trabalham são encorajados por ajudas. É uma inversão de valores.
7. Portanto o seu sistema é perverso e vai implodir por esgotamento e sufocação. A deslocalização da sua capacidade produtiva provoca o abaixamento do seu nível de vida e o aumento do... da China!
8. Dentro de uma ou duas gerações "nós" (os chineses) iremos ultrapassá-los. Eles tornar-se-ão os nossos pobres. Dar-lhes-emos sacas de arroz...
9. Existe um outro cancro na Europa: existem funcionários a mais, um emprego em cada cinco. Estes funcionários são sedentos de dinheiro público, são de uma grande ineficácia, querem trabalhar o menos possível e apesar das inúmeras vantagens e direitos sociais, estão muitas vezes em greve. Mas os decisores acham que vale mais um funcionário ineficaz do que um desempregado...
10. Vão (os europeus) direitos a um muro e a alta velocidade...
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“GENTILEZA DA CONDESSA DO KIPEIO “. TR
Hernán Casciari*
A GLOBÁLIA . 2ª parte - EXCELENTE ANÁLISE E, COM PIADA ...
A Ilha dos Amores - Quipeio
A Itália é viúva há muito tempo. Vive cuidando de São Marino e do Vaticano, dois filhos católicos gémeos idênticos. Esteve casada em segundas núpcias com Alemanha (por pouco tempo e tiveram a Suíça), mas agora não quer saber mais de homens. A Itália gostaria de ser uma mulher como a Bélgica: advogada, executiva independente, que usa calças e fala de política de igual para igual com os homens (a Bélgica também fantasia de vez em quando que sabe preparar esparguete). A Espanha é a mulher mais linda de Europa (possivelmente a França se iguale a ela, mas perde espontaneidade por usar tanto perfume). É muito mamuda e está quase sempre bêbada. Geralmente deixa-se foder pela Inglaterra e depois denuncia-a. A Espanha tem filhos por todas as partes (quase todos de 13 anos), que moram longe. Gosta muito deles, mas perturbam-na quando têm fome, passam uma temporada na sua casa e assaltam sua geleira.
EUROPA
Outro que tem filhos espalhados pelo mundo é a Inglaterra. Sai de barco de noite, transa com alguns babacas e nove meses depois, aparece feita numa nova ilha em alguma parte do mundo. Mas não fica de mal com ela. Em geral, as ilhas vivem com a mãe, mas a Inglaterra alimenta-as. A Escócia e a Irlanda, os irmãos da Inglaterra que moram no andar de cima, passam a vida inteira bêbados, e nem sequer sabem jogar futebol. São a vergonha da família. A Suécia e a Noruega são duas lésbicas de quase 40 anos, que estão bem de corpo, apesar da idade, mas não ligam para ninguém. Transam e trabalham, pois são formadas em alguma coisa. Às vezes, fazem trio com a Holanda (quando necessitam maconha, haxixe e heroína); outras vezes infernizam a Finlândia, que é uma menina meio andrógina de 30 anos, que vive só em um apartamento sem mobília e passa o tempo falando pelo celular com Coreia. A Coreia (a do sul) vive de olho na sua irmã esquizofrénica. São gémeas, mas a do Norte tomou líquido amniótico quando saiu do útero e ficou estúpida. Passou a infância usando pistolas e agora, que vive só, é capaz de qualquer coisa. Estados Unidos, o retardadinho de 17 anos, vigia-a muito, não por medo, mas porque quer pegar as suas pistolas.
Hernán Casciari É escritor y jornalista. Nasceu em Buenos Aires, em 1971.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
AS ESCOLHAS DO EMBAIXADOR DO KAKUAKU – “Boniboni”
“O PRIMEIRO BRANCO” de MIA COUTO – 3ª Parte
Mia Couto
“XICULULO: -Olhar de esguelha, mau-olhado, olho gordo” |
Mantive-me português de nacionalidade mas, sou moçambicano de alma e coração. E, não tenho e não quero ter quaisquer certezas neste assunto! Quando estou em Portugal, sinto saudades de Moçambique, quando estou em Moçambique, sinto saudades de Portugal. E sinto-me bem quando estou com angolanos, brasileiros, cabo-verdianos, guineenses, timorenses, macaenses e portugueses da Europa. Se isto é mau? Não me parece. Se isto poderia acontecer se o rumo da História tivesse sido outro, também não me parece. Em minha casa, o inglês era a segunda língua (às vezes, alguns da família também se entendiam em ronga). É um paradoxo, uma vez que o meu bisavô participou, activa e definitivamente, na definição das fronteiras do Moçambique que conhecemos, em disputa com os "amigos" ingleses após a designada crise do mapa cor-de-rosa.
Moçambique
Às vezes sinto que alguns de nós prefeririam ter sido colonizados por outros povos. Este é o problema. Não me parece que tenham presente que, de uma forma ou de outra, todos os povos foram invadidos por outros e, ao contrário do que se diz, quando isso aconteceu, não existiu substituição de uns por outros. A grande maioria dos que lá estavam ficou e misturaram-se com os que chegaram. Isto também se passou com os ingleses e basta ir hoje ao reino Unido (a designação não poderia ser mais acertada) para verificar o que se está a passar. Portugal, dada a sua localização geográfica, está à frente da criação do homem do futuro (alguém chamou o "homem de bronze") há muito mais tempo que os outros.
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“GENTILEZA DA CONDESSA DO KIPEIO “. TR
Hernán Casciari É escritor y jornalista. Nasceu em Buenos Aires, em 1971.
A GLOBÁLIA . 1ª parte – 1ªEXCELENTE ANÁLISE E, COM PIADA ...
Li uma vez que a Argentina não é nem melhor, nem pior que a Espanha, só que mais jovem. Gostei dessa teoria e até inventei um truque para descobrir a idade dos países baseando-me no 'sistema cão'. Desde meninos nos explicam que para saber se um cão é jovem ou velho, deveríamos multiplicar a sua idade biológica por 7. No caso de países temos que dividir a sua idade histórica por 14 para conhecer a sua correspondência humana. Confuso? Neste artigo exponho alguns exemplares reveladores.
A Argentina nasceu em 1816, assim sendo, já tem 190 anos. Se dividimos estes anos por 14, a Argentina tem 'humanamente' cerca de 13 anos e meio, ou seja, está na pré-adolescência. É rebelde, se masturba, não tem memória, responde sem pensar e está cheia de acne. Quase todos os países da América Latina têm a mesma idade, e como acontece nesses casos, eles formam gangues. A gangue do Mercosul é formada por quatro adolescentes que tem um conjunto de rock. Ensaiam em uma garagem, fazem muito barulho, e jamais gravaram um disco. A Venezuela, que já tem peitinhos, está querendo unir-se-lhes para fazer o coro. Em realidade, como a maioria das mocinhas da sua idade, quer é sexo, neste caso com Brasil que tem 14 anos e um membro grande.
O México também é adolescente, mas com ascendente indígena. Por isso, ri pouco e não fuma nem um inofensivo baseado, como o resto dos seus amiguinhos. Mastiga coca, e se junta com os Estados Unidos, um retardado mental de 17 anos, que se dedica a atacar os meninos famintos de 6 anos em outros continentes. No outro extremo, está a China milenária. Se dividirmos os seus 1.200 anos por 14 obtemos uma senhora de 85, conservadora, com cheiro a xixi de gato, que passa o dia comendo arroz porque não tem - ainda - dinheiro para comprar uma dentadura postiça. A China tem um neto de 8 anos, Taiwan, que lhe faz a vida impossível. Está divorciada faz tempo de Japão, um velho chato, que se juntou às Filipinas, uma jovem pirada, que sempre está disposta a qualquer aberração em troca de grana.
Depois, estão os países que são maiores de idade e saem com o BMW do pai. Por exemplo, Austrália e Canadá. Típicos países que cresceram ao amparo de papai Inglaterra e mãe França, tiveram uma educação restrita e antiquada e agora se fingem de loucos. A Austrália é uma babaca de pouco mais de 18 anos, que faz topless e sexo com a África do Sul. O Canadá é um mocinho gay emancipado, que a qualquer momento pode adoptar o bebé da Groenlândia para formar uma dessas famílias alternativas que estão de moda. A França é uma separada de 36 anos, mais puta que uma galinha, mas muito respeitada no âmbito profissional. Tem um filho de apenas 6 anos: Mónaco, que vai acabar virando puto ou bailarino... ou ambas coisas. É a amante esporádica da Alemanha, um camionista rico que está casado com a Áustria, que sabe que é chifruda, mas que não se importa.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
AS ESCOLHAS DO KIMBO
“O dinheiro e o poder” - Visão de Tuiavvi
Graças à doutrina fomentada pelo valor do dinheiro o papalagui permite-se a ser cruel, ter o coração duro e sangue frio; mostra-se na generalidade velhaco, falso, raramente honesto e sempre perigoso quando corre atrás do dinheiro. É por isso que é raro um branco ter confiança noutro, pois todos conhecem a sua comum fraqueza. Nunca a gente sabe assim, se um homem que tem muito dinheiro terá bom coração, muito possivelmente será má pessoa. Nunca a gente sabe como ou donde vem a riqueza de alguém (* se for politico e português ou da Lusofonia, é quase que certo ser de roubo). Em contrapartida, também o homem rico não sabe se as honras que lhe prestam são devidas à sua pessoa ou ao seu dinheiro, quase sempre é o dinheiro.
A malha da usura
Nenhum papalagui quer renunciar ao dinheiro. Quem não gosta dele, é alvo de zombarias, é parvo (valea). Ser rico, isto é ter muito dinheiro, torna a pessoa feliz. O dinheiro é um aitu (o espírito maligno, o diabo), pois quem nele mexe em mais que a conta, fica sujeito ao seu sortilégio e, quem gosta dele tem de o servir, e consagrar-se-lhe por toda a vida com a sua força e alegria. Os brancos da Europa cultivam a crença que só o dinheiro torna a pessoa rica e feliz, cultivam isso como quem rega uma estimada flor! E quase todos se deixam seduzir por ele, o dinheiro, contraindo essa grave doença de se ser rico. Quando afirmo que o dinheiro não faz ninguém feliz e alegre digo-o pelo que vi, e antes traz graves perturbações ao ser humano.
Dartagnham
Esse metal redondo, para nós, será o maior inimigo. Com muito dinheiro, o papalagui julga-se mais forte que o Grande Espírito (Deus). Eis porque, do nascer ao pôr-do-sol, milhares e milhares de mãos mais não fazem que do que fabricar coisas, coisas cujo sentido ignoramos, e cuja beleza desconhecemos. O branco, procura inventar sempre coisas novas, as suas mãos tornam-se febris, o seu rosto cor-de-cinza e suas costas ficam curvas mas, os olhos brilham de felicidade sempre que consegue uma nova coisa, logo todos querem ter essa coisa, todos a adoram e a celebram com cantos de sua língua; quem assim não for é um pobre e reles cidadão, um desclassificado (*como eu)no exilio.
*- Anotações do Soba transcritor
(Continua…)
O Soba T´Chingange
“Beach do Francês” - 2ª Parte
Condição de Mulher
NA PRAIA DO FRANCÊS
Chapéus, mesas e cadeiras de todas as cores surgem preenchendo o branco da areia, tornando a vista multicolor com salpicos de tralhas e tarecos, caixas de isopor do coco frio, e caixas rolantes com ananases balouçando, outras com música de forró e o sempre presente” picolé caseiro caicó”. Um coco flutuava na borda de água e, no descer e subir dava piruetas de natural mestria, mais à frente um pescador atento às águas lançava a rede que, depois de fazer círculo e penetrar na água, quase sempre trazia uns peixes parecidos a bogas As sete mulheres deitadas ou sentadas iam-se rebolando para o bronze ideal, lambuzando-se com movimentos provocatórios ou talvez não, mas parecia sê-lo, naquele sol das sete horas; uma delas já dentro de água adorava o sol de mãos espalmadas para o céu, impregnada de Iemanjá fazia reluzir o brilho das suaves ondas.
COCO FRIO
O capitão tanguinha do “mar e céu”, descrevia como um raizeiro, perito quimbanda, as virtudes do chá doutorzinho e uma catrefa de técnicas de embelezamento com unguentos da tradição índia; falava dos seus inventos voadores, pois um dia, lá no sítio, observou uma folha de amendoeira caindo fazendo rocambolescos desenhos o que, o levou a inventar um pássaro que movia as asas e subia, subia como só ele sabia fazer. Vendeu a patente a um português que surgiu na praia e após uns entretantos e, alguns reais levou o seu “isopor” voador para Lisboa. Nesta praia funcionam as regras de “entre amigos” alugando os barcos em rodízio. Parados no curto horizonte estão os barcos Corais bar, o Maiara e o Massunim II. Como é bom curtir a vida de três peixinhos, no dia-a-dia. As sete mulheres entrelaçadas em suspiros e ai-ais foram ao “Restaurante Pato” da Massagueira festejar o seu dia. Uma nuvem prometendo chuva alçou-se comigo no instante de abalar.
O Soba T´Chingange
Não sei se a lista é correcta, mas não deverá andar longe da realidade. O problema é que estes “tachos” estarão divididos entre o “centrão” e por isso ninguém quer mexer no assunto.
Portugal tem hoje 349 Institutos Públicos, dos quais 111 não pertencem ao sector da Educação. Se descontarmos também os sectores da Saúde e da Segurança Social, restam ainda 45 Institutos com as mais diversas funções.
Há ainda a contabilizar perto de 600 organismos públicos, incluindo Direcções Gerais e Regionais, Observatórios, Fundos diversos, Governos Civis, etc.) cujas despesas podiam e deviam ser reduzidas, ou em alternativa – que parece ser mais sensato – os mesmos serem pura e simplesmente extintos.
Para se ter uma noção do despesismo do Estado, atentemos apenas nos supra-citados Institutos, com funções diversas, muitos dos quais nem se percebe bem para o que servem.
Veja-se então as transferências feitas em 2010 pelo governo socialista de Sócrates para estes organismos:
ORGANISMOS | DESPESA(em milhões de €) |
Cinemateca Portuguesa | 3,9 |
Instituto Português de Acreditação | 4,0 |
Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos | 6,4 |
Administração da Região Hidrográfica do Alentejo | 7,2 |
Instituto de Infra Estruturas Rodoviárias | 7,4 |
Instituto Português de Qualidade | 7,7 |
Administração da Região Hidrográfica do Norte | 8,6 |
Administração da Região Hidrográfica do Centro | 9,4 |
Instituto Hidrográfico | 10,1 |
Instituto do Vinho do Douro | 10,3 |
Instituto da Vinha e do Vinho | 11,5 |
Instituto Nacional da Administração | 11,5 |
Alto Comissariado para o Diálogo Intercultural | 12,3 |
Instituto da Construção e do Imobiliário | 12,4 |
Instituto da Propriedade Industrial | 14,0 |
Instituto de Cinema e Audiovisual | 16,0 |
Instituto Financeiro para o Desenvolvimento Regional | 18,4 |
Administração da Região Hidrográfica do Algarve | 18,9 |
Fundo para as Relações Internacionais | 21,0 |
Instituto de Gestão do Património Arquitectónico | 21,9 |
Instituto dos Museus | 22,7 |
Administração da Região Hidrográfica do Tejo | 23,4 |
Instituto de Medicina Legal | 27,5 |
Instituto de Conservação da Natureza | 28,2 |
Laboratório Nacional de Energia e Geologia | 28,4 |
Instituto de Gestão do Fundo Social Europeu | 28,6 |
Instituto de Gestão da Tesouraria e Crédito Público | 32,2 |
Laboratório Militar de Produtos Farmacêuticos | 32,2 |
Instituto de Informática | 33,1 |
Instituto Nacional de Aviação Civil | 44,4 |
Instituto Camões | 45,7 |
Agência para a Modernização Administrativa | 49,4 |
Instituto Nacional de Recursos Biológicos | 50,7 |
Instituto Portuário e de Transportes Marítimos | 65,5 |
Instituto de Desporto de Portugal | 79,6 |
Instituto de Mobilidade e dos Transportes Terrestres | 89,7 |
Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana | 328,5 |
Instituto do Turismo de Portugal | 340,6 |
Inst. Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação | 589,6 |
Instituto de Gestão Financeira | 804,9 |
Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas | 920,6 |
Instituto de Emprego e Formação Profissional | 1.119,9 |
TOTAL......................... | 5.018,4 |
- Se se reduzissem em 20% as despesas com este – e apenas estes – organismos, as poupanças rondariam os 1000 milhões de €, e, evitava-se a subida do IVA.
- Se fossem feitas fusões, extinções ou reduções mais drásticas a poupança seria da ordem dos 4000 milhões de €, e não seriam necessários cortes nos salários.
- Se para além disso mais em outros tantos Institutos se procedesse de igual forma, o PEC 3 não teria sequer razão de existir.
O Soba T´Chingange
“Beach do Francês” - 1ª Parte
Condição de Mulher
Praia do Francês
Eram grilos, cigarras ou tensão desmedidamente descontrolada, zunindo insistentemente nos ouvidos; será vento será chuva e, … o cão, uivando. Para lá do recife via-se o infinito redondo, formando uma linha mais azul separando os dois fluidos, água e ar. Uma jangada de vela triangular ondulava depois da espuma, entre o reflexo do sol e o refluxo das ondas, espumando brancura nos rochedos escuros; às seis da manhã as cores são mais azuis e as nuvens mancham o mar de escuras sombras. As cadeiras, chapéus e mesas iam surgindo ao longo da língua de areia que crescia conforme a secura da maré na “Beach do Francês”. Uma gorda velha, furava a areia, contorcendo o suporte da sombrinha num vai vem de vice-versa, até completar a correcta fundura para suportar a verticalidade mais o vento teimoso, que se fazia sentir. A mulher curiosamente tinha uma perna branca e outra preta; isto não podia ser, … fugia das características habituais.
Praia do TUGA
Entrei na água entornado de curiosidade e fui-me acercando até que pude definir uma prótese, branca e mais fina, desajustada na forma e estrutura; o sapato também desdizia com o resto e, fiquei com muita pena, desejando que as suas bóias fossem todas alugadas p’ra suprir carências tão óbvias. Não havia dúvidas, a senhora não tinha uma perna e sobrevivia alugando inflados pneus de carro, a baleia às riscas e o golfinho azul, aos pivetes que surgiam pela mão de seus pais; Não sei se por pena ou artimanha a coisa transparecia. A vida não é fácil neste paraíso. Esfregam-se ternuras com prótese, para encanto de tantos que nem dão por isso; aquela perna branca e fina era tão parte integrante da senhora que a vi coçar como se um mosquito a tivesse picado; como é possível, tanta familiaridade no apego àquilo que é nosso.
O flay-boat da Praiai da Francês
A balsa já tinha contornado o recife, podia ver-se a silhueta do homem ximbicando para norte até às piscinas baixas do recife; também ele estava esfolando a vida de todos os dias, numa tarefa que só ele sabia fazer daquela maneira, pescando no recife os frutos do mar. Já sentado no patamar do “Tarrafas bar”, acarinhado na sombra dum jango de folhas de coqueiro, com outros a rodear o espaço, podia ouvir a cantoria dum sábia e, não muito distante, misturava-se com insistência a cantoria dum bem-te-vi; estes e o mar conjugavam-se numa sinfonia com ondas sonoras batendo no recife e beijando a praia em suave batimento. Era a música da vida, um arrastar de cadeiras, um estalar de dedos tamborilados, um encher de bóia a sopro; era um novo dia que começava para a Malu, com o seu acarajé quentinho e, uma leva de gente a embarcar no Massunim I, barco de recreio e passeio. O ladrar do cão não condizia com o lugar mas este, lambuzava-se na água, de rabo a dar a dar, gania para o dono e, peneirando o corpo, salpicava o ar.
O Soba T´Chingange
AS ESCOLHAS DO EMBAIXADOR DO KAKUAKU – “Boniboni”
“O PRIMEIRO BRANCO” de MIA COUTO – 2ª Parte
Mia Couto
“XICULULO: -Olhar de esguelha, mau-olhado, olho gordo”
A culpa desta estagnação, segundo estes neonazis, reside na liberdade com os portugueses se “cruzaram” com os africanos. Isso resultou numa mudança profunda do carácter e da psicologia da nação lusitana. O “National Vanguard” não tem nenhuma dúvida ao afirmar: “os portugueses do século XVII e os dos séculos seguintes são duas raças diferentes”. Os articulistas advogam obviamente a favor da separação racial. Sociedades como a americana contiveram e contém uma percentagem considerável de negros. Mas essas “souberam” manter uma céptica fronteira entre os grupos raciais. Não houve cruzamento nem mestiçagens. Assim diz o jornal. Foi essa separação que, segundo a racista publicação, ajudou a manter a capacidade de progresso em países como os Estados Unidos da América. E conclui: não existe evidência nenhuma que a integração dos negros e dos judeus tenham trazido alguma vantagem em qualquer parte do mundo.
Livingstone* e Silva Porto
Embora estas publicações sejam casos isolados e representem uma faixa desprezível da opinião pública, a verdade é que não é por acaso que o jornal escolheu Portugal como um caso paradigmático. Todos nos lembrarmos do que escreveu Kaulza de Arriaga, quando explicava as maiores capacidades dos europeus do Norte em relação aos do Sul. Os trópicos como evidência de degradação e desumanização é um estereótipo antigo. Essa atitude de arrogância não é sequer nova. Uma parte da Europa há muito que lança sobre Portugal um olhar distante e de superioridade racial. Portugal é, afinal, o país de Eusébio, de Ricardo Chibanga, de Sara Tavares. Um episódio antigo ligado ao explorador britânico Livingstone ilustra bem como essa Europa olhava e olha para Portugal. Livinsgtone vangloriava-se ter sido o primeiro branco a atravessar a África Austral. Um dia alguém lhe chamou publicamente a atenção que isso não era verdade. Antes dele já o português Silva Porto tinha realizado tal travessia. Imperturbável, o inglês ripostou: - Eu nunca disse que fui o primeiro homem a fazê-lo. Disse apenas que fui o primeiro branco*.
*Mais que isso: Silva Porto AJUDOU Livingstone a chegar à costa, dando-lhe indicações (colhidas por ele próprio) necessárias para tal fim. Very gratefull,… Dr. Livingstone! Foi a confirmação escrita da verdade em forme de agradecimento
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“Vidas periféricas . PARAGUAÇU . III ”
AS CAJAZEIRAS
O cangaceiro Zeca Diabo chega carregado de azedume expresso em pálpebras pesadas, ciente duma nova responsabilidade quase caritativa de ter de matar alguém a bem do estado. Num repentemente é feito delegado plenipotenciário policial de papel passado com timbre de coronel. As irmãs cajazeiras Doroteia, Dulcineia e Judiceia num jogo de ciúme, artimanhas de amor e outras safadinhas do género ti-ti-ti, arranjam uma gravidez que força Odorico a dar a volta por cima regalando a periclitância ao seu “bunda mole” Dirceu Borboleta. Este casa, mas não demora muito, os boatos de má conduta da esposa conduz a uma tramóia de desconforto levando-o ao desespero de querer matar o culpado que tudo indicava na visão de Paraguaçu ser o seu rival Vladimir, o gazeteiro maldizente.
Zeca diabo na sua tarefa muito rigorosa missão de justiçar Sucupira depois de averiguar a verdade vai desabridamente enfrentar seu chefe Odorico acusando-o de ser o culpado da tramóia de trair as mulheres dos outros. Foi neste engrenamento de palavras que Odorico e Zeca Diabo apontam seu revolveres uma ao outro. E, aconteceu; Odorico ali ficou ferido de morte no salão nobre da prefeitura enquanto Zeca Diabo saía ensombrado com seu chapéu no meio duma multidão curiosa. Havia agora um defunto, o próprio Odorico Paraguaçu.
ODORICO PARAGUAÇU
ZECA DIABO NO LARGO DE SUCUPIRA - (MARECHAL DEODORO)
Vladimir, o gazeteiro, teve como primeira função em acto contínuo à tomada de posse, fazer inauguração do cemitério de Sucupira com o seu recente expirado antecessor, o homem que levou todo o seu tempo aperreado por não ter defunto. Na hora de baixar seus restos mortais, Vladimir gazeteiro, enalteceu o agora morto Odorico com rica dissertação oposicionista, enaltecendo-o e condecorando-o postumamente como o cidadão do século XX enquanto depunha uma coroa de flores a constar perpetuação.
A falácia e hipocrisia da política deu neste caricato fim um exemplo de como e quanto ela pode ser maquiavélica. De Odorico ficaram recordações dos seus discursos empolgados em suas entrevistas levando a que novos e actuais jornalistas forjem acasos da política actual. À laia de curiosidade segue um extracto dos seus supostos elevados linguajares.
SUCUPIRA É UMA ÁRVORE
Tendo lhe sido perguntado por um jornalista da Gazeta o que é que achava das mulheres ocupando cargos públicos ou de poder ele ripostou: -Deixando de lado os entretantos e indo directo aos finalmentes, sempre fui um feminista juramentado, admirador da capacidade feminina em todos os níveis e desvãos. Já mandei, inclusivamente, seu Dirceu convidar a mais que Excelentíssima, a Supimpíssima senhora doutora presidenta Dilma p’ra uma jenipapação oficial quando visitar Sucupira. Recebê-la será um prazer redobrado, recalculado e deduzido de taxas!
Gazeta: - No seu gabinete, qual é o papel principal das mulheres?
Odorico - As belas senhoras sabem que gozam de todas as licenciaturas e de todos os alvarás para penetrar e se estabelecer, não somentemente no meu gabinete, como talqualmente em meu coração.
Gazeta: - O senhor pretende propor recursos federais para a criação da Bolsas-Cemitério?
Odorico - Sim. Exigiremos, pleitearemos, suplicaremos recursos extras e os correspondentes etecéteras para o Bolsas-Cemitério, o vale transporte funerário e o auxílio paletó de defunto de forma que quem ama, quem gosta e por que não dizer quem idolatra sua terra possa nela dormir em paz o sono eterno sem preocupações com a prestação da cova própria.
Gazeta: - Como anda a taxa de analfabetismo de Sucupira? O senhor se preocupa com esses dados?
Odorico - Estamos estudando a proposta de abrir um curso de leitura de lápide, p´ra que nenhum cidadão sucupirano se perca nos meandros de nossa morada necrofílica na hora do prestamento homenageatício de seus idos entes amabilíssimos. Pergunte a seu Dirceu que, além de catalogar borboletas, é um nato leiturista de dados administratícios.
O Soba T´Chingange
AS ESCOLHAS DO EMBAIXADOR DO KAKUAKU – “Boniboni”
“O PRIMEIRO BRANCO” de MIA COUTO – 1ª Parte
“XICULULO:-Olhar de esguelha, mau-olhado, olho gordo”
SÁBADO, 29 JANEIRO 2011 . Mia Couto O que se vê hoje em Portugal é o resultado de uma mistura não selectiva e uniforme de 10 por cento de pretos e 90 por cento de brancos, um todo homogéneo. Trata-se de, facto, de uma nova raça – uma raça que estagnou na apatia e nada produziu de novo em 400 anos de História. Mia Couto
Os portugueses são o povo mais atrasado da Europa porque há séculos que se misturam com os negros. Quem o afirma é o jornal National Vanguard Tabloid, publicação oficial de uma organização inglesa que defende a “pureza da raça branca”. É curioso que o editorial da publicação tenha escolhido Portugal como o exemplo dos malefícios da contribuição do “sangue negro” para as sociedades europeias e americanas. Racismo assim, às claras, é muito pouco frequente. O caso é tão raro que vale a pena visitá-lo. O jornal assenta a sua argumentação em “factos históricos”. Portugal recebeu os primeiros escravos negros em meados do século XV. Dezenas de anos depois, os negros já eram 10 por cento do total da população lisboeta. Essa percentagem viria a crescer para 13 por cento no século seguinte. A pergunta imediata é a seguinte: Que destino tiveram estes africanos? Regressaram a África! A resposta é não. Eles foram absorvidos, misturaram-se do ponto de vista genético, social e cultural. Eles ajudaram a construir a Portugalidade introduzindo valores e dados culturais novos. A palavra minhoca é apenas uma de dezenas de outras marcas no domínio linguístico.
O autor de tal prosa racista do tal tablóide inglês não tem dúvida em identificar nesta mistura de raças e de culturas a razão daquilo que ele chama de “declínio da sociedade portuguesa”. Passo a citar: Os portugueses eram, até então, uma raça altamente civilizada, imaginativa, inteligente e corajosa. Mas devido ao rápido crescimento da população negra e o correspondente declínio dos brancos (cujos machos estavam em viagem longe da Europa) todo esse património de pureza foi adulterado. Falo deste caso como forma de reconhecer que os preconceitos rácicos são múltiplos e de múltiplas facetas. O mundo não obedece a uma fronteira simples que divide os racistas dos não racistas e que separa vítimas e culpados. Vale a pena, pois, continuar a citar as razões invocadas pelo “National Vanguard”, para a chamada degradação da cultura e enfraquecimento da raça: O que se vê hoje em Portugal é o resultado de uma mistura não selectiva e uniforme de 10 por cento de pretos e 90 por cento de brancos um todo homogéneo. Trata-se de, facto, de uma nova raça – uma raça que estagnou na apatia e nada produziu de novo em 400 anos de História. (Continua...) |
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“Shitemo. Secreta missão ”
ITENERÁRIO
A casa do senhor Miranda e da Dona Elisabete ficava a uns escassos 50 metros da margem do rio Okavango; podíamos até gritar às pessoas do outro lado que era Angola; gente pastoreando e de vez em quando uma canoa que passava na labuta da pesca ou simplesmente deslocando-se, ora subindo ora descendo o manso rio. Dona Elisabete logo nas primeiras horas do dia inesperava-nos com um cheiroso café da qual nunca não mais esqueci o sabor. A casa situada na parte superior da borda rio era totalmente em madeira tendo os quartos de habitação situados no piso superior; a madeira estalava de noite e qualquer movimento parecia ranger toda ela. O ranger da madeira ao mais leve movimento e o ressonar de toda a tribo mais os da casa era uma sinfonia de sossegada intranquilidade. Aquilo é que era mato, os cheiros e ruídos não tinham barreiras nem fronteiras e sentir o cheiro de Angola ali tão perto que já por si era uma inebriante adrenalina mista de roceiro e sertanejo, pesquisador e explorador. Estávamos desbravando coisas novas.
NO TOPO DA DUNA
Recordo que nos três ou quatro dias que ali passamos e num dos almoços feito pelo Kafundanga eu, armado em bravo macho quis provar do jindungo da casa e tendo a dona Elisabete dito que tivesse cuidado com aquele “cahombo” de fogo e estando eu habituado àquele viagra, obviamente não o temia. Estava enganado. Transpirei, chorei e até parece que o meu cérebro borbulhou no cocuruto da careca. Malvado jindungo. O riso contemporizou as sofridas mordidas mas, também deu azo a que não mais me esquecesse de tamanho veneno empolador de lábios e cérebro. A guerra do outro lado do rio estava brava e soube que as indicações do presidente Sam Nujoma eram a de não deixar passar ninguém para o lado de cá, Namíbia. Eu ouvi isso porque estava lá. Tiro neles, disse numa reunião nas margens do Okavango em assembleia com os comerciantes das redondezas, Nyangana, Nyondo, Mukuwi, Andara Divundo e Machari.
SAM NUJOMA . O 1º PRESIDENTE DA NAMÍBIA
Do outro lado do rio ficava o Dirico e Mucusso. Ali estava eu lateralmente à reunião recolhendo dados à minha disfarçada passagem como turista; Aquilo não era para levar muito a sério pois que as famílias de Ovambos estão de um e outro lado do rio mas haveria que lidar com essa postura oficial; por algum motivo Sam Nujoma veio a propósito ao Shitemo em helicóptero, com seu chapéu de palha e sapatilhas de pneu presas ao dedão; interessava mostrar ao mundo que por ali as coisas estavam controladas e estancadas. Quem sabe se, os serviços secretos não deram a conhecer que por ali andava um Soba T´chingange, algures a recolher dados logísticos para a sua Unita. Desconfiei disso mas indo eu com a tribo familiar em jeito de conhecer bichos, não senti ter sido atormentado; em realidade eu era um espião disfarçado e ninguém soube disso até aos recentes dias e após se terem passado uns bons doze anos. Em realidade tinha um cartão da Unita que testava ser um Órgão dirigente no exterior a poder ser usado em caso de um qualquer aperto; este plastificado cartão andava sempre comigo embora escondido no forro dos habituais calções. Felizmente fui aonde quis, vi o que me apeteceu e nada de anormal se passou neste breve percurso de crioulas ousadias; uma vida de mistério, enganos e aventuras sem nada cobrar a José Cachihungo.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“Vidas periféricas . PARAGUAÇU.II”
ZECA . O MATADOR DO SERTÃO
Pelas varandas do povo de Sucupira viam-se prostrados velhos, giboiando em suas redes, imundos corpos sem dignificar a resplandecente glória da alma num eterno céu. Qual é o pároco ou governante que em função disto, não fica preocupado, um verdadeiro atentado ao natural percurso da vida sem post-scriptum. As coisa, a continuar assim, Odorico pressionado pelo governo central despendendo altas verbas aos aposentados perenes, via-se na contingência de fixar uma idade para ter morte obrigatória; talvez oitenta, talvez noventa. Haveria que expôr em assembleia tal drástica medida em função da condição de se ficar sempiternamente vivo. Odorico saturado de tanta salubridade, puxava do seu charuto Romeu-e-julieta, ia até à varanda receber o fresco ar da lagoa e desabafar sozinhado: -Não estou para sustentar burros a pão-de-ló. Haveria que contratar no sertão um matuto matador que defuntasse uns quantos impertinentes filhos da peste, velhotes com cupim nos ossos, gozando de vigência plena e recebendo incomportáveis verbas em apólices de seguros.
FILHOS DA PESTE
Estes felizes segurados ou se tornavam mortos virtualmente por força da lei a criar ou a qualquer pretexto seriam mandados para os quintos dos infernos por um matador oficialmente deplorado. Está feito! Chamarei o Zeca Diabo lá dos cafundós e torná-lo-ei no justiceiro dos desinfelizes, talqualmente. Este povo está a ficar muito esperto, aprendeu a filosofar a morte manipulando a justiça divina: aprenderam o caminho de enganar a morte, uma manifestação de invertida capacidade da espécie humana. Filhos-duma-égua, para mal dos meus pecados.
CACTOS COROA DE FRADE . BR
Transtornado de todo, Odorico falava com as paredes nos intervalos de atendimento aos seus três amores e, até dissertava coisas nunca ouvistas: - Os erros da humanidade, sendo às vezes de somenos importância têm repercussões negativas no evoluir da sociedade. Em tempo muito antigo tudo era copiado à mão e o clero mantinha esse exclusivo do conhecimento e daí, numa operação de cópia, um monge copista ao passar a limpo os requisitos para se ser padre, escreveu no lugar de “permanência” a palavra de “abstinência”.
É por aquele erro que a igreja mantém seus pastores coarctados de proporcionar vida às transparências; uma decadente atitude que perdura. Tudo isto era referido a uma das suas três amadas cajazeiras com a máxima eloquência, uma forma de praticar ao vivo seus discursos palestrais. Odorico um certo dia acordou resplandecendo ideias novas; têm de haver aqui tráfico clandestino de doentes terminais, alguém está a fechar os olhos a este despropósito. Mande vir o Zeca Diabo! Disse ao seu secretário Dirceu Borboleta. O secretário com seu jeito sossegado no falar engasgou-se no acto e deu andamento ao despacho, proceda-se em conformidade.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“RUACANA FALLS ”
RUACANÁ COM E SEM ÁGUA
Das quedas do Ruacana só vimos o penedo escuro na forma de falésia escorrendo pequenos fios de água envolvendo árvores retorcidas estendendo aqui e além suas raízes; ao nível da margem aonde nós estávamos estendia-se um lago manso irregular entre tufos de vegetação. Não muito longe do gado beberricando aproveitamos refrescarmo-nos nas águas do Cunene, o mesmo que há muitos milénios desaguava no agora seco lago do Etoscha. Foi no regresso que tivemos a feliz sorte de ver uma mulher Himba, toda pintada de ocre vermelho com tiras de couro cruzando o peito desnudo e seus carrapitos de cabelo enlameado de barro. Foi um contacto fugidio á beira da picada que liga à povoação Ruacana mas, no registo das retinas de todos nós ficou aquela figura de gente agora quase na extinção.
OKAVANGO
Foi neste percurso e a caminho de Ondangwa que tentamos abraçar um embondeiro majestoso mas, os quatro da tribo não conseguiram chegar à metade. A xipala amarelecida relembra a euforia daqueles dias mas que agora estão confinadas à caixa de sapatos do mokifo do soba; O mofo foi lá deixado para preservar o espírito das terras do Fim-do-Mundo junto ás petrificadas árvores das terras de Kaokoland, Namíbia Twifelfontein.
RUA DE GROOTFONTEIN
Com o rumo assinalado para o Shitemo do Miranda no Okavango, seguimos a direcção de Grootfontein, uma singela cidade no meio da grande chana de África e após o almoço, na revisão de mapas, julgamos de interesse ficar por ali uma noite a fim de conhecermos o Waterberg Prateou National Park. Porque gostamos do lugar, acabamos por alugar um chalé bem junto à falésia colorida do Plateou entre acácias e porque não podíamos percorrer com o nosso 4x4 o planalto, inscrevemo-nos no safari da reserva e por lá andamos toda a manha desfrutando paisagens alargadas. O Cudu, Olongue, do buraco de observação, deu um pulo descabido ao clik da máquina fotográfica e desenfreou-se entre capim e pedras.
Waterberg Prateou National Park
Já no Camp, o brai de carne estava melhor que nunca e, após tão suculento repasto veio a soneca de passar pelas brasas. A tarde terminou com uma ascensão entre rochas de escorrida pintura natural em jeito de arco-íris e seguindo a pista fomos e viemos já no cair da noite, de papo cheio em coisas de vistas soberbas. A contornar o chalé amiudadamente recebíamos a visita de saguins, bambis, capotas e um sem fim de pássaros, bicos de lacre, viuvinhas, celestes e o sempre presente monteiro´s ornebil com seu grande bico amarelo e, adunco.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“Vidas periféricas . PARAGUAÇU”
Paraguaçu e Zeca Diabo
Vendo o filme do Bem-Amado representando a figura de Odorico Paraguaçu, e estando eu a tentar ler as Intermitências da morte de José Saramago, reflecti sobre a vida tão cheia de apólices seguradoras feitas a letra pequena dificultando a interpretação de omissões à mais estrita legalidade. Paraguaçu, agradando a todos na cata de votos ao lugar de prefeito duma terra conhecida por Sucupira, fez a sua campanha na corrida ao poder usando todos os estratagemas para eliminar o seu opositor, o farmacêutico Libório. Foi prometendo um cemitério àquele povo que até então era enterrado desumanamente num sopé da serra partilhando espaços com defuntados porcos e gericos. Odorico, tendo ganho as eleições, pós mãos à obra que veio a tornar-se emblemática do seu mandato; Haveria agora, depois de pronto, inaugurá-lo com um enterramento com pompa de fanfarra musical tocada a instrumentos dolorosamente quentes, soando notas frias de acordo com as circunstâncias; talqualmente.
FACETAS DUPLICADAS
O grande problema é que ninguém morria com o tempo passando rasteira ao seu mais nobre intento dado aquela terra. Maquiavélicamente Odorico armava tramas para que alguém morresse e, desesperada-mente, nada acontecia. Paraguaçu além de andar alarmado pelo facto de ninguém estar a morrer, era preocupante não se encontrar ninguém disposto a morrer. O seu opositor político não desperdiçava o tempo publicando na gazeta do seu correligionário Vladimir, faiscantes temas de desaforo à situação; o dinheiro tinha sido gasto num projecto sofrido de branca elefantíase sem uso, melhor era que fizessem daquele espaço um galinheiro e dali tirassem proveito na venda de ovos. Isto era um desaforo de todotamanho para a honorabilidade do prefeito Odorico metido até aos gorgomilos numa crise de muitas varas, política e até religiosa.
RESSURREIÇÃO
Sem morte não há ressurreição e sem ressurreição não há igreja o que, diga-se em verdade era altamente preocupante para o pároco poder gerir os seus fiéis: Este, dizendo não ser competente para formular juízo de valores outros que não os estritamente religiosos, ia tirando partido disso com uns subsídios do já escasso fundo público. Sem mortos não havia missas pagas, certidões e as habituais taxas. Odorico não era merecedor desta merecência tão cheia de invencionices tão própria da democradura como amiudadamente proferia no discurso directo tão cheios de empolgada eloquência.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“AUNGUS (pirão)”
ANGU,FUNGE,PIRÃO
“XICULULO: -Olhar de esguelha, mau olhado, olho gordo”
No início do século XIX as quitandeiras reuniam à sua volta o tabuleiro do ANGU; era comida barata para acudir aos negros libertos da escravidão de poucas posses. Esta prática passou a ter lugar em casas de telha, chapa ou capim a que se chamava a “Casa do Angu” que no Brasil se passou a designar de ZUNGU. Nestas casas organizavam-se batuques ou rebitas para alegrar gente carecida vindas do kimbo, sanzala ou quilombo ainda não acostumados à vida de liberdade. Como animais da selva, depois de estarem em cativeiro tinham alguma dificuldade em se readaptar a uma vida independente. Na regência do Brasil por D. João VI havia posturas a proibir essas casas havendo além de multas, oito dias de prisão efectiva para os donos de tais casas; em caso de reincidência, a prisão passava para os trinta dias. Isto tinha por fim controlar as revoltas dos escravos alforriados ou fujões que um pouco por todo o lado no Brasil se fazia sentir. Embora ouvesse comportamentos análogos tanto no Brasil como em Angola ou Moçambique, era no Brasil que esta prática mais se fazia notar pois que, o movimento dos abolicionistas era ali mais reinvindicativo, militante e lutador.
QUITANDEIRA
O batuque, barulho, falatório e rixas de negros perturbava políticos da nobreza e gente da corte que fazia valer a sua posição de status passeando honrarias de peito feito, inchado de medalhas honorificas num qualquer calçadão, largo, praça e demais lugares públicos de exposição social.
A referida imoralidade das gentes marginais dos ZUNGUS tomando em conta os muitos relatos de cariz oficial e, naquelas casas, era comparado aos cortiços de vagabundos e criadagem aonde, mesmo assim sentiam melhoria de vida, namorando a folga de exclusão entre homens e mulheres desavindas de fortuna e farturas de amor. Ali podiam encontrar abrigo temporário, hospedagem, aconchego solidário, diversão, festa e consolo de suspiros enroscados em troca de alimentação barata, carne de charque, tripas ou peixe salgado e, até consolo religiioso p´ra colmatar aflições. A dinâmica de dominação escravista era contemporizada entre o interesse senhorial e a ideologia de novas mentes anti-esclavagista tornava-a promíscua na vigilância tutelar, escassa, anárquica, negligente e até nefasta . A prática do Angu ou Zungu que deriva da língua bantu, ainda se pode observar na periferia de Salvador da Bahia, Fortaleza, Aracaju ou nos musseques de Luanda, Benguela, Bissau ou Maputo.
Preto kota fujão
Por carências afectivas, os terreiros da Umbanda foram transformando esses lugares em cultos variados tendo as Kiandas, Iemanjás, Calungas ou oxalás com pretos velhos ordenando rigores novos de cazumbis ou maracatus.
Em 1854 podia ler-se um Edital dando alvissras de 50U000 Rs para quem entregasse um “CRIOULO FUGUDO”, assim: Crioulo de nome Fortunato, fugido desde 18 de Outubro de 1854 – de 20 e tantos anos de idade, com falta de dentes na frente, com pouca ou nenhuma barba , baixo, picado das bechigas que teve há poucos anno, mal encarado,falla apressadoe com a boca cheia olhando para o chão; às vezes anda calçado intitulando-se forro, dizendo chamar-se Fortunato lopes da Silva. Sabe cozinhar e entende de plantações da roça.Quem o prender, entregar à prisão e avisar na corte ao seu snhor Eduardo Laemmert, rua da quitanda nº 77, receberá 50U000de gratificação. CARTAZ . 1854, RIO DE JANEIRO
O Soba T´Chingange
AS ESCOLHAS DO KIMBO
“Discursos de Tuiavvi”
O dinheiro é de facto o Deus do Papalagui, se a gente considerar Deus aquilo que mais se adora. É preciso notar que nas terras do homem branco é impossível viver sem dinheiro, uma só vez que seja, do nascer ao pôr-do-sol. Se não tiveres dinheiro nenhum, não poderás matar a fome nem mitigar a sede, não encontrarás esteira para a noite, serás lançado no fale pui-pui (prisão) e falar-se-á de ti em muitos e variados papéis (jornais); tudo isto só por não teres dinheiro! Até para nasceres tens que pagar e, quando morreres, a tua aiga (família) tem que pagar pela tua morte, para poder depositar o teu corpo na terra e pela grande pedra que te põem sobre a tumba, em sinal de recordação. Descobri uma única coisa pela qual se não pede ainda dinheiro na Europa, coisa que cada um pode fazer as vezes que quiser: respirar o ar. Sem dinheiro, tu és, na Europa, um homem sem cabeça e sem membros; não és nada. Tens que ter dinheiro. Precisas de comer, de beber e de dormir.
Samoanos
Quanto mais tiveres, melhor vives. A coisa passa-se assim: quando um Branco tem dinheiro suficiente para a sua comida, para a sua cabana, para a sua esteira e algo mais ainda, manda logo o seu irmão trabalhar para ele, graças ao dinheiro que tem a mais. Destina-lhe, para começar, aquele trabalho que lhe põe as mãos sujas e rugosas. Manda-o limpar os seus próprios excrementos. Se é mulher, arranja uma criada para o seu serviço, a qual tem que limpar-lhe a esteira suja, os pratos da comida e as peles para os pés, e remendar os panos rasgados; e tudo mais importante que faça terá que ser útil para a ama.
Cassoneiras do marufo
E isto até chegar ao ponto de nada mais fazer do que deitar-se na esteira, beber kava (bebida, marufo da palmeira), queimar os seus rolos de fumo, entregar as canoas já prontas e arrecadar o metal e o papel que outros, com o seu trabalho, ganharam para ele. Dizem então os homens: é rico. No mundo dos brancos, a importância de um homem não é determinada nem pela sua bravura, nem pela sua coragem, nem pelo fulgor do seu espírito , mas sim pela quantidade de dinheiro que possui ou que é capaz de ganhar por dia, dinheiro esse que fecha no seu grande baú de ferro, o qual nenhum tremor de terra é capaz de destruir. Muitos brancos há, que amontoam o dinheiro que para ele outros ganharam, o depositam num sítio bem guardado e para aí vão acarretando sempre mais, até que um dia já não precisam de mandar os outros trabalhar para eles, trabalhando o dinheiro no seu lugar. Nunca consegui perceber como é que isso era possível, sem haver magia negra; e no entanto tudo se passa assim: o dinheiro multiplica-se como as folhas de uma árvore e o homem, até quando dorme vai enriquecendo.
Palmeira macaúba
O papalagui regozija-se com o poder que a abundância de dinheiro lhes confere. Ficam inchados de orgulho, como frutos podres sob a chuva tropical. Fazem, com volúpia, trabalhar duramente muitos dos seus irmãos, enquanto o seu corpo engorda e se fortalece. Procedem assim sem que a consciência os apoquente. Roubam a todo o passo a força de outros homens e fazem-na sua, sem que isso os atormente ou lhes tire o sono. Há pois, na Europa, uma metade que trabalha muito e se suja, e outra metade que trabalha muito pouco ou nada. A primeira não tem tempo de sentar-se ao sol, ao passo que a outra o tem de sobra.
Do Livro: O PAPALAGUI – discursos de Tuiavii, nos mares do Sul; Recolha de Erich Sheurmann
(Continua…)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“A BATALHA DE LUANDA – O fim do ciclo”
Fortaleza de S. Miguel . Luanda
Sendo assim, no dia 6 de Novembro, depois de ter tomado a vila de Caxito, estabeleceu-se ele com os seus homens no Morro da Cal – uma pequena elevação de terreno situada a cerca de 30 Kms de Luanda e dali fez três disparos dos G5 contra a capital. Dos quais um atingiu a pista do aeroporto, outro caiu na baía e o terceiro atingiu a refinaria de petróleo do Alto da Mulemba, provocando um incêndio, que acabou por ser dominado. A estratégia resultou em pleno: o pânico previsto estabeleceu-se e generalizou-se, e, naturalmente começaram a circular boatos os mais diversos, um dos quais um concebido em termos de suscitar histeria colectiva e pavor. Os “fenelás” – assim o vulgo luandense chamava aos homens de Holden Roberto – vão entrar e vão degolar todos: pretos brancos e mulatos. Entretanto, as horas e os dias foram passando nessa terrível expectativa que se ia acentuando à medida que, um pouco por todo o lado na cidade, se ia escutando sons de disparos, resultantes do confronto que se ia verificando amiúde entre grupos de soldados que Santos e Castro ia mandando avançar em missões de sondagem do terreno e os militares que o MPLA tinha colocado fora do perímetro urbano da capital com missões de entreter o inimigo para deste modo possibilitar o envio de reforços.
Chegou-se finalmente a 11 de Novembro, dia marcado para a proclamação da independência, sem que no entanto se houvesse realizado o prometido assalto à capital. Mesmo assim, o pânico generalizado imperava e manteve-se sempre desde o nascer ao pôr-do-sol desse dia histórico, durante o qual o único facto de registo sucedeu cerca das 16 horas, quando o alto-comissário representante da soberania portuguesa, um militar de alta patente português, General Silva Cardoso, mandou arrear a Bandeira das Quinas que encimava o velho palácio da cidade alta, dobrou-a e, com ela debaixo de um dos braços, tomou o caminho da Ilha de Luanda, onde o aguardava um navio de guerra, para o trazer de regresso definitivo a Portugal. Deste modo inesperado e ademais ridículo e triste se concretizou o episódio final de quase cinco séculos de História!
Entretanto, e porque a crença generalizada era de que os homens de Santos e Castro ainda poderiam atingir Luanda, a cerimónia oficial da proclamação da independência, marcada inicialmente para as 17 horas desse dia, foi sendo sucessivamente protelada e acabou por ter lugar só em plena noite e de uma forma algo improvisada. Assim e apesar de todas as promessas e ameaças, os homens do coronel falharam: nem entraram na cidade nesse dia nem posteriormente realizaram qualquer tentativa nesse sentido, preferindo antes deixar os arredores da capital e empreender uma retirada em direcção à fronteira com o Zaire. Porque esse falhanço, porque tudo isso? Importa perguntar?
A resposta, ouvimo-la já aqui em Lisboa. Primeiro da boca do Coronel Santos e Castro, poucos meses antes da sua morte; e logo a seguir, por intermédio de alguns portugueses e angolanos, que foram seus companheiros nessa aventura. E tivemo-la confirmado, mais tarde, pelas mesmas fontes diplomáticas sul-africanas atrás referidas. Ei-la, pois, reproduzida de forma sintética mas clara. Na madrugada do dia 9 de Novembro e cumprindo o plano que estabelecera, o Coronel Santos e Castro dirigiu-se à tenda onde se albergava Holden Roberto, o Presidente da FLNA, para lhe comunicar que ia imediatamente pôr a funcionar os G5 e iniciar o bombardeamento da capital. E foi então informado que estava impossibilitado de o fazer, já que, um pouco antes, os artilheiros sul-africanos haviam desmantelado as culatras dos G5, tornando-os inoperacionais, embarcando a seguir num helicóptero que os transportou para bordo de um navio do seu país que os aguardava ao largo do porto de Ambriz. E isso no cumprimento de uma exigência imposta de Washington a Pretória.
Dito isto, só resta a lógica conclusão final. Não foram pois os homens do MPLA que impossibilitou a tomada de Luanda pelas forças comandadas pelo Coronel Santos e Castro. Nada disso! A responsabilidade do insucesso cabe a outro. E quem é ele? Resposta é inequívoca. Esse mesmo que, desde sempre, se notabilizou por promover guerras e fazer delas um negócio altamente lucrativo para si próprio: Os Estados Unidos da América.
(*) Coronel de Cavalaria do exército TUGA
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
" POLITICOS AQUI E LÁ. TUDO IGUAL"
JORNAL ATUALIDADES
Paulo Alencar*
Amigos,
Sabem o quanto custa a irresponsabilidade de votar no primeiro pilantra qua se apresenta a lhe oferecer esmolas ou se fazer passar por amigo do povo? Mesmo que não tenhamos votado num Tiririca ou em outros do mesmo nível que irão nos representar nas várias esferas do poder, eles estão eleitos. Então a maioria vence. Lógico. É o sentimento do povo brasileiro.
ENTÃO, CONFIRA... o quanto irão receber todos os deputados federais por mês:
Salário: R$ 16.512,00
Ajuda Custo: R$ 35.053,00 (Valor máximo, e não posso pensar que algum deles vá usar o valor mínimo). Essa ajuda de custo é para passagens aéreas até a base, fretamento de aeronaves (você já andou de avião ou anda com frequência) cota postal e telefonica, combustíveis, divulgação do mandato, aluguel de escritório político assinatura de publicações e serviços de tv e internet, contratação de segurança.
Auxilio Moradia: R$ 3.000,00
Auxilio Gabinete: R$ 60.000,00 (Para contratrar de 5 a 25 funcionários )
Despesa Médica: R$ Ilimitada (Pode gastar o que quiser mediante qualquer recibo, sem contestação)
Telefone Celular: R$ Ilimitado ( Não existe restrição de uso,então o que gastar é pago.
Bônus anual: R$ (+ 2 salários = 33.024,00)
Só com os números divulgados são: R$ 114.565,00 por mês, fora a bonificação anual e os ilimitados. Você não se está sentindo um palhaço muiiiiiiiito maior que o Tiririca por saber que esse valor e todos os outros não divulgados (que são bem maiores) vão sair do nosso bolso?....
E, DO SEU BOLSO TAMBÉM !!!!!!!
PORTAL DE DEVANEIOS . ACTUALIDADES DE MARECHAL DEODORO . 1ª CAPITAL DE ALAGOAS
MEUS SENTIMENTOS !!!!!!!!
Estou convencido que, se quisermos realmente dar um basta a todas as mazelas políticas existentes é comparcermos em massa às próximas eleições daqui a quatro anos anulando nosso voto. Este movimento silencioso, certamente mudará a convicção corrente (dos profissionais da política) de que nós somos um povo facilmente manipulável, incapaz de acabar com essa imensa comédia nacional. Um abraço aos meus queridos amigos.
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“OSHAKATI DA NAMIBIA ”
Da tenda para o buraco de observação e, um céu carregado de estrelas que nos tremelicavam olhares, de entusiasmo, nem nos apercebemos. Era a tranquilidade da natureza envolta em muitas coisas a serem descobertas. Nos dias que se seguiram percorremos as pistas assinalados de forma a ver o maior número de animais, que íamos registando num prospecto; o leão era sempre o mais procurado e, quando alguém os descobria assinalavam-nos aos demais colocando também um pionés no quadro-mapa da base Okaukuejo. A adrenalina escorregava-nos a partir dos olhos, atentos a qualquer movimento ou montículo estranho no meio do capim. E, demos as voltas de Namotoni e Alali parando em um e outro para descansarmos, relaxando à sombra fresca das acácias, tomarmos um café ou comer-se qualquer coisa rápida porque, não havia tempo a perder.
Twifelfontein - floresta petreficada
Esta reserva do” ETOSHA PAN” foi há muitos anos atrás um lago abastecido pelas águas do Cunene que aqui vazavam suas águas trazidas do planalto central da Angola à semelhança das águas do rio Cubango (Okavango) que desaguam no Delta do Botswana, um lago interior. Por um acidente cósmico, o rio Cunene foi desviado do seu curso desviando-se para o Oceano Atlântico. Este antigo lago do Etoscha é agora uma das grandes reservas aonde se podem ver um grande número de espécimes, suplantando a meu ver, a Reserva do “kruguer Park” na África do Sul. Este é o melhor destino para quem quiser ver animais em quantidade e em curto espaço de tempo. É claro que temos o Quénia, N’Goro-Goro, Delta do Okavango, e muitas outras mais pequenas reservas mas, como o Etoscha não há igual.
Namibia - Ovobolândia
Tínhamos ainda um longo percurso a percorrer em terras da Namíbia e o nosso próximo destino era a casa do Miranda e da Dona Elisabete na margem direita do Okavango no lugar do Shitemo. Sucede que a caminho do Rundu a maioria da tribo composta de Ricar, Isabel, Ibib, Marco e este Soba, quiseram ir até às quedas do Ruacana em terras de gente Himba e, dito e feito fomos a caminho de Oshakati aonde chegamos a tempo de almoçar no restaurante, pensão do Bicho, um Tuga natural de Estombar, do sítio da Ponte do Charuto. Como em África é fácil fazer amigos, logologo estávamos a par das novidades daquele ponto de fronteira com Angola e até ficamos a conhecer um comissário, talvez inspector da polícia de Angola que se prontificou acompanharmo-nos até o Lubango caso quiséssemos ir até lá. Em verdade só não aceitamos porque o aluguer do carro não comportava a entrada em Angola, um país nesse então em conflito e muito inchado em problemas. Em verdade o kota amigo Di, que em Windohek nos tinha prometido emprestar seu velho Mercedes furou o trato, coisa já prevista. Vieram à baila estórias de diamantes, fugas rocambolescas e exotismos próprios das terras do Fim-do-Mundo. Mestre Bicho, dono do motel, teve de comprar uns colchões para podermos dormir todos, tendo recomendado não tirarmos o plástico que os envolvia. Foi uma noite do caraças com a rastolhada de plástico e celofane. Noite para esquecer; ficou-me na retina a porta maciça com um baixo-relevo com a figura de um corpulento búfalo; anda por aí uma foto dessa escultura feita porta.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
AS ESCOLHAS DO KIMBO
“Discursos de Tuiavvi”
BAÚS . ARRANHA CÉUS
Mas se apenas quisermos dizer talofa (fazer saudação) a um amigo de outra ilha, não precisamos de ir a sua casa ou de correr dentro daquilo. Sopramos a mensagem em fios metálicos que se estendem, como lianas, de uma a outra ilha de pedra, e a mensagem chega ao sítio designado mais depressa do que um pássaro em pleno voo. Os homens das gretas pensam que tem direitos superiores aos do homem do campo e que aquilo que faz tem mais valor do que enterrar ou desenterrar frutos. Este conflito entre as duas partes não provoca contudo qualquer guerra entre elas. Quer viva entre gretas (na cidade), quer viva no campo, o Papalagui acha que tudo está bem como está. Quando o homem do campo entra nas gretas, admira o poderio do homem que as habita, e este canta e arrulha sempre que atravessa as aldeias do homem do campo. O homem das gretas deixa o homem do campo engordar artificialmente os seus porcos, e este deixa o homem das gretas construir e gozar os seus baús de pedra.
FLÔR DO MATO
Quanto a nós, filhos livres do sol e da luz, desejamos continuar fiéis ao Grande Espírito e não sobrecarregar com pedras o seu coração. Só indivíduos desvairados e doentes, homens que largaram a mão de Deus, serão capazes de viver felizes entre gretas daquelas, sem sol, sem luz e sem vento. Reconheçamos a incontestável felicidade do Papalagui, frustremos as suas tentativas de construir ao longo das nossas margens banhadas pelo sol, os seus baús de pedra, e de destruir a nossa alegria com pedras, gretas, sujidade barulho, fumo e areia, como é desejo seu fazer.
Flôr da Bromélia
Como todos vós sois testemunhas, o missionário proclama que Deus é amor e que um bom cristão deve ter sempre a imagem do amor presente no seu espírito. O Papalagui corrompeu-o, de modo que ele nos engana usando as palavras do Grande Espírito. A verdadeira divindade do homem branco é o metal redondo e o papel forte a que ele chama dinheiro. Quando lhes estendem uma peça de metal redondo e brilhante ou um papel grande e forte, logo os seus olhos brilham e a saliva lhe assoma aos lábios. O dinheiro é o objectivo do seu amor, o dinheiro é a sua divindade. Todos os homens brancos pensam nisso, até mesmo a dormir. Muitos há que pelo dinheiro, sacrificaram o riso, a honra, a consciência, a felicidade e até mesmo mulher e filhos. Quase todos eles sacrificam a saúde ao metal redondo e ao papel forte, isto é, ao dinheiro. Trazem-no dentro dos panos, dobrado e metido em duras peles. À noite, põem-no debaixo do seu rolo de dormir, para que ninguém lho roube. Pensam nisso todos os dias, a toda hora, a todo o instante.
Do Livro: O PAPALAGUI – discursos de Tuiavii, nos mares do Sul; Recolha de Erich Sheurmann
(Continua…)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“3º Império – O fim do ciclo”
FIM DUM CICLO
A BATALHA DE LUANDA. Por José Maria de Mendonça Júnior *
A única forma de minorar a injúria é reconstituir os factos, tal como ocorreram e com a caução de testemunhos presenciais, que ainda hoje e a qualquer momento, podem ser invocadas, respeitando o trajecto cronológico. O fim da luta armada em Angola ficou consagrado no acordo celebrado em Alvor (Algarve) no final de Janeiro de 1975, Acordo pelo qual se estabeleceu um governo de transição tripartido – Portugal e os três movimentos de libertação angolanos – a quem foi incumbida a tarefa de gerir o país até à data da independência marcada para 11 de Novembro desse mesmo ano de 1975.
Coronel José Mendonça Junior
A rivalidade entre as três formações angolanas, a ambição pelo mando absoluto e também a passividade da parte portuguesa conduziram rapidamente à sua falência total. Surgiram e multiplicaram-se, um pouco por todo o lado, casos de violência envolvendo as três partes angolanas, de tal modo que, no final de Agosto desse ano, o MPLA já era senhor absoluto da capital, de onde havia expulsado sem mais aquelas os representantes da UNITA e da FNLA. A opinião generalizada que então se formou, nessa altura, tanto em Angola como fora, era de que, assim tendo procedido, o MPLA estava a preparar-se para, em 11 de Novembro, proclamar unilateralmente a independência, na expectativa de que a passividade da opinião pública, tanto interna como a externa, ajudasse a consagrar a ilegalidade. Esqueceu-se, porém, Agostinho Neto, o então líder do MPLA que, com a descoberta do petróleo, acontecida anos antes, Angola passara a estar sob vigilância cerrada que, então como agora, controlam a produção e o comércio do crude à escala mundial. O resultado dessa falha de memória foi que, pouco tempo depois, Angola era, sem mais aquelas, invadida por uma força militar sul-africana procedente da Namíbia. A qual, depois de tomar, sucessivamente, as cidades do Lubango, Benguela e Lobito, avançou em direcção a Luanda aonde, no entanto, não chegou a entrar, já que ao atingir as margens do rio Cuanza (a cerca de 200 quilómetros da capital) foi mandada parar.
Por ordem de quem e porquê? Ocorre naturalmente perguntar?
O que restou do império
Segundo fontes diplomáticas sul-africanas desse tempo, Washington, que havia sugerido a invasão, fora quem formulara essa espécie de contra-ordem, acompanhada de um novo pedido: que os sul-africanos transferissem parte do material bélico que transportavam para um outro grupo armado, que, constituído por guerrilheiros da FNLA, soldados zairenses disponibilizados por Mobutu e alguns voluntários portugueses, e sob o comando do Coronel Santos e Castro, se encontravam nessa altura, a assediar Luanda pelo Norte, com o objectivo de a tomar, antes da data da proclamação da independência. Uma vez na posse do material cedido pelos sul-africanos , que incluía três peças G5 – fabricadas na RSA e capazes de atingir objectivos localizados de até 50 Kms – Santos e Castro começou a preparar o ataque e a tomada de Luanda concebido nos seguintes termos: bombardear primeiro, utilizando as peças cedidas com vista a estabelecer o pânico entre os defensores e a população da capital e, a seguir, realizar o assalto por terra. Plano que, uma vez concebido, foi divulgado via Kinshasa, com vista naturalmente a desmoralizar ainda mais o inimigo.
(*) Coronel de Cavalaria do exército TUGA
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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“Etoscha Pan da Namíbia”
AONDE FICAR DEPOIS DA "GATE"
Chegámos um pouco antes do fim do dia. A noite, aqui no Okaukuejo do Etoscha desce rápido; no lusco-fusco das 18 horas os portões encerram e só em caso de força maior se autoriza a saída pela noite. Ali, só gente do staff pode sair da área do arame farpado depois do cair da noite. Não havia chalés disponíveis para aquela noite e o recurso foi montar as duas tendas que levávamos na mala do “four bay four”, no espaço disponível entre a cercadura da reserva e os balneários do campismo e caravanismo. O buraco de observação de animais ficava relativamente perto, e bem pouco tempo depois deram indicação de que uma manada de elefantes sequiosos estava achegar; todos os restantes animais e até dois rinocerontes deram espaço ao verdadeiro rei do Etoscha; cansado que estava da viagem não demorei muito a adormecer feito um cepo e fiquei muito indignado de não me terem acordado quando apareceram os leões a beber lá pelas dez horas da noite. O “Okaukuejo Camp “ em forma de quadrado deve ter um 800 metros de lado, um bairro de chalés para turistas, uma zona de residências com telhados em capim para funcionários, e bem ao centro uma torre de onde se divisa o horizonte, ora mata, ora chana aberta em forma de clareiras.
O BURACO E O CHALÉ
O quadrado é todo cercado e tem um único portão por onde se sai e entra. Foi bom termos ficado nas duas tendas porque nessa noite os leões, provavelmente os mesmos que estiveram a beber no buraco, através das lonas da tenda podemos ouvir os rugidos misturados com choros de hienas, tudo isto se estava a passar não muito longe de nós e do arame farpado, o que perturbou na forma de medo as mulheres da nossa tribo, Isabel e Ibib. Logo ao romper do dia, após as seis horas e já matabixados, constatamos que dois leões tinham morto uma jovem girafa e de recente, ainda por ali estavam deitados guardando a presa enquanto hienas e chacais circulavam nervosos ao redor do lugar.
ACÁCIA NO PAN
Aquele barulho de mato zunindo o silêncio estrelado em escuro céu, não permitiu que as donas, dormissem tranquilas que, só falavam em víboras, escorpiões, aranhas, cobras de todo o formato, grandeza e perigosidade, centopeias e nos chacais comendo moscardos, borboletas e bichezas rastejantes de milhentas patas, junto às luminárias do camp; foi um alívio passar a seguinte noite num chalé moderno envolto em espinheiras de grande porte. Nunca tinha visto tanta espinheira junta como aqui nas vastas áreas planas da Namíbia, terra das acácias num semi-deserto a que chamam o grande Calahári ou Caroo. Aquela, não seria a única noite passada quase ao relento com chacais ensombrando tremuras medrosas entre candeeiros e farejadas sobrevivências.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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XI.LUNGUINE “O Maputo também tem papoilas?”
Crónica dedicada à Fidalga do Ferro-Agudo, que se ausentou para parte incerta. Vamos recordar AMÁLIA com aquele ramo de rosas, um agraciamento singelo do Soba em recentes tempos e que ficou registado na Torre do Zombo e, nos nossos corações.
PAPOILAS DO CAMPO
Passando o mercado das calamidades de Maputo, quatro quarteirões mais acima, subindo a avenida Kim-il-Sung fica a casa do Sol, hotel untuoso de pintura desmaiada burrifado de picadelas barrentas grafitadas de sujo. Ali no cruzamento entre a dita avenida e a esburacada avenida Mao-Tse-Tung sucedeu o encontro com o meu amigo, viajante de muitas façanhas amigo de longa data, fumador de bom charuto cohiba. Desta vês, acompanhei-o no vício do fumo com um bom café. Ali no “Afeganistão” estava combinado que naquela tarde iríamos falar de coisas, só por falar, sem premeditação de posturas nem temas, só mesmo para falar e... Na resposta da pergunta e vice-versa as coisas banais tornaram-se interessantes e vai daí lancei o desafio de ele pôr em escrito a estória rocambolesca do seu pai, destemido sertanejo colonial. A aguçar o desafio dei-lhe o mote da crónica; teria de magicar a envolvência dos factos, jogar com as palavras à semelhança do nosso comum amigo, o xiritung-da-xirgósia malabarista da escrita. Este meu amigo, Repsina de nome, filho dum cabo-de-guerra de linhagem castrense, recto na postura de comportamento, frontal e super verídico, dias mais tarde acabou por me entregar a crónica; praticamente um estudo duma planta que não é assim tão ruím para alguns e, desta feita, o escrito que segue é da sua autoria. Um desassossego espalmado em pó lá nas lonjuras do inframundo chingrilá não deveriam ser motivo de ternura mas, assim é a crónica:
- A papoila pertence a um género de plantas herbáceas da família das ”papaveráceas”. A sua contextura encerra uma boa quantidade de sementes que depois de amadurecidas produzem um óleo saudável e benéfico, que é transformado em rações para a alimentação de gado. Também é usada para dar cor a certos vinhos, medicamentos e para tingir lãs e malhas. As sementes são utilizadas para dar sabor a saladas de fruta, tartes, pastas, etc. Esta planta possui propriedades sedativas, anti-tússicas, sendo utilizada no fabrico de xaropes. As pétalas das flores podem ser usadas em tisanas misturadas com outras flores. A planta é ligeiramente tóxica. O seu habitat é em terrenos baldios, campos e pastos, beiras de caminhos tendo como origem a Ásia, África e Europa. A Planta herbácea, vivaz, cultivada como anual ou bianual, de porte erecto ou em forma de tufos, pode atingir uma altura de 20-60 cm. A tendência é para terem uma folhagem basal da qual as flores se erguem em hastes finas. As folhas são de cor verde-claro a verde médio, pubescentes ou mesmo cerdosas, grosseiramente dentadas ou recortadas. As flores de Papoila são solitárias, delicadas, com pétalas muito finas e brilhantes agrupadas num botão floral, podendo ser singelas ou dobradas e de várias cores desde o vermelho, rosa, laranja, branco, púrpura, amarelo, algumas com manchas negras na base das pétalas. Nos Himalaias há muitas papoilas azuis. A flor das Papoilas tem pouca duração mas rapidamente crescem outras. As sementes minúsculas estão fechadas numa bonita cápsula espalhando-as como os pimenteiros. Planta atractiva para abelhas e borboletas.
Na Grécia Antiga esta flor era dedicada a Hipnos, o Deus do Sono e a Morfeu, o Deus dos Sonhos. As estátuas de Demétrio eram decoradas com papoilas. Os Romanos dedicavam esta flor à Deusa Ceres. Segundo a lenda, Ceres vagueava pela Terra e não conseguia encontrar o que procurava. Então os outros Deuses decidiram cultivar papoilas. Certa vez a Deusa colheu as papoilas e caiu num sono profundo, quando acordou reparou que havia ainda muitas para colher. Desde então que o florescimento das papoilas está relacionado com a época das colheitas. Os Ucranianos consideram a flor como sendo o símbolo do Amor e da Beleza. Os Alemães como sendo símbolo de Fertilidade. Os Siberianos espalham papoilas nas pernas dos recém-casados, para que tenham uma família feliz e muitos filhos. Mas, na China as papoilas estão relacionadas com crenças más.
FERRAGUDO . TERRA DE NATÁLIA
A tarde ia adiantada e despedi-me desconvindo; este não foi o pedido que fiz a Repsina mas ele, creio, quis esquecer coisas menos boas nas suas recordações. Não era bem esta cena a pretendida mas, de todo o modo aqui fica a homenagem viva ao meu amigo Repsina, modesto senhor da sabedoria, pensador encantado, companheiro de muitas imaginadas viagens.
O Soba T´Chingange
RECORDAÇÔES ANGOLA
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