Domingo, 31 de Agosto de 2014
MONANGAMBA . XVIII

O DRAGÃO E OS TUGAS – Da terra do Mao Tse Tung

Monangamba - trabalhador sem especificação, faz-de-tudo (por vezes pejorativo).

Por

 T´Chingange

Gottfried Leibnitz no ano de 1697 afirmava: “É melhor não nos preocuparmos tanto em levar coisas europeias aos chineses mas, acima de tudo, em trazer para a Europa as mais importantes ideias chinesas, dado que os chineses são hostis à guerra e, uma vez que estamos a deslizar para uma sociedade cada vez mais corrupta, pode ser oportuno pedir aos chineses que nos enviem missionários…” Isto, dito à 317 anos leva-me em crer que a Europa esteve fechada sobre si mesma muito mais tempo do que o bom senso preconizava. Fechados em um horizonte missionário mercantilista, os portugueses, não obstante terem sido os primeiros a contactar com esse povo e essa cultura, abandonaram-se perante outras nações mais ávidas em enriquecer; deram no correr dos tempos primazia aos judeus de Antuérpia, Amesterdão e Italianos servindo-se de Portugal como interposto comercial; enquanto os portugueses se adentravam em novos mundos comendo solas de sapatos demolhadas em sacrifícios, os senhores holandeses mercantilizavam as nossas especiarias levando o maior pedaço de lucro.

 Um destes dias de verão, um sobrinho meu gozando férias na minha casa e, ficando acomodado no quarto dos fundos, ficou intrigado com uma ducha instalada ao lado da sanita e foi tal a curiosidade que me obrigou a explicar que aquilo era um zingarelho de lavar rabos; e disse-lhe mais que aquela ducha amovível evitava o uso de um bidé tornando muito mais higiénico o acto de lavar e limpar as intimidades de cada qual, evitando riscos de contágio e um sem fim de eventuais contágios de flor do Congo, impinges e todo esse mundo microbiológico, tão comum nas humidades e suores em peles distintas. Não demorou muito a ser interpelado: - Oi! Tio! … Aquilo funciona! É mesmomesmo porreiro! Vai daí, perguntou-me aonde poderia comprar coisa igual ao que lhe esclareci: - Procurei em muitos lados uma ducha semelhante a esta que trouxe do Brasil e não tendo encontrado fui obrigado a adquirir aquela ducha de jardim que usaste; esta tem a particularidade de ter chuveiro, leque ou esguicho, posição que regulei como sento a óptima e que normalmente se usa para lavar os pára lamas dos carros.

 Pois, é isso! Apanhei um susto porque a força daquilo penetrou-me no fiofó, sabe, o forever até à estria numero trinta e três! – É eficaz em excesso! Eficaz mesmo, hoje mesmo vou comprar um zingarelho desses! Afirmou. Fábio não se limitou só dizendo isto, mais disse que com isto, que tal e coisa, não tem de passar vergonhas ao despir as cuecas enxovalhadas; a conversa ficou por aqui. Nessa mesma tarde Fábio traz-me uma novidade: Tio, consegui comprar um limpo o fiofó! E, esta hein! Eu, que corri seca e Meca procurando isto, ele, o jovem Fábio surge-me com uma genuína ducha. -Aonde compraste? Resposta: -Nos chineses!

E, ai estava, ducha, com chave dorsal e à boa maneira, suporte de colar na parede com parafusos e buchas caso se opte por essa fixação e a própria bicha moldável; tudo anatómicamente perfeito! Nos trinques! Claro que fiquei deslumbrado! Por tudo e mais uns outros zingarelhos tais como um parafuso de plástico para segurar o chapéu de praia na areia, uma lanterna de ultra luzes recarregável e outras pequenas coisas úteis: Extasiado dou-me conta do quanto perdemos em todos estes 317 anos burilando os chineses com injurias ridículas menosprezando suas idiotas habilidades. Estes preconceitos antichineses deturparam-nos o bom senso, sentido da vida e, dou-me agora conta que, é nestas contradições do óbvio que se encontram os sábios, homens com talentos e luzes. Agora, com tanto tempo desperdiçado, teremos de copiá-los! …

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:35
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Sábado, 30 de Agosto de 2014
MUJIMBO . LXV

M´PUTO  PERIGO  DE MORTE A droga da "Burundanga" ou "Escopolamina"

Não sei que vos diga, mas mais vale prevenir que remediar
Mujimbo : Boato, Anda de boca em boca

As escolhas de

 Soba T´Chingange 

Quando forem abordados por um homem de muletas que lhes dê um papel com um número de telefone para ligar por eles, não o faça; leia o que se segue, e quando for abordado por tal homem lembre-se disto. É mesmo importante! Pode ser mortal! É muito conveniente estar atento...

O último sábado procurava um telefone público e encontrei um apenas em frente ao estacionamento de Soriana (Praça de Espanha, Lisboa). Estacionei a alguns metros mais atrás e desci do carro. Entretanto chegou um homem sem uma perna e com muletas. Perguntou-me se podia ajudá-lo a marcar um número, e deu-me o cartão de crédito para a chamada e um papel onde estava anotado o telefone.

 A escopolamina é um fármaco antagonista dos receptores muscarínicos, também conhecido como uma substância anticolinérgica. É o enantiómero da hioscina, l-hioscina. É obtida a partir de plantas da família Solanaceae. Faz parte dos metabólitos secundários das plantas. Atua impedindo a passagem de determinados impulsos nervosos ao S.N.C. (Sistema Nervoso Central) pela inibição da ação do neurotransmissor acetilcolina.

 

Com muito prazer para ajudar, peguei no papel e comecei a marcar o número. Então em poucos segundos comecei a sentir que desmaiava. Acontecia algo de anormal, corri para o carro e fechei-me enjoado. Tonto, tentei ligar o carro e afastei-me um pouco, estacionando aí... Depois, não me lembro de mais nada. Mais tarde despertei enjoado, a cabeça estourava-me... consegui chegar até minha casa, seguindo de imediato para o hospital. Após os exames ao sangue, confirmou-se o que já suspeitava. Era a droga que está de
moda: a "Burundanga" ou "Escopolamina". "Tiveste sorte, disse-me o médico". Não foi uma intoxicação, mas apenas a reacção à droga...Não quero imaginar o teria acontecido se os teus dedos tivessem absorvido toda a droga ou ficasses lá mais 30 segundos...!

 Com uma dose mais forte, uma pessoa pode ficar até 8 dias desligada deste mundo. Nunca tinha pensado que aquilo se podia passar comigo! E foi tudo tão rápido... Escrevo não para os assustar, mas para os alertar. Não se deixem surpreender! Oxalá não aconteça nada consigo! O Médico do hospital (Dr. Raul Quesada) comentou que eram já vários os casos como este e falou dos mortos encontrados sem órgãos. Encontraram-se restos dessa droga nos dedos dos mortos. Estão a traficar os órgãos!!! Tenham cuidado e falem disto a todos os familiares, amigos, vizinhos.... Podem salvar uma vida! A "Escolopamina ou Burundanga", usada também em medicina, provém da América do Sul e é a droga mais usada pelos criminosos (geralmente em número de 3) que escolhem as suas vítimas.

 Actua em 2 minutos, faz parar a actividade do cérebro e com ela os criminosos roubam à vontade as vítimas fazendo-lhes o mal que pretendem: Roubos, Abusos, etc. E DEPOIS, NÃO se LEMBRARÃO de NADA!!! Em doses maiores pode fazer a vítima entrar em coma e até levar à morte. Pode ser apresentada em rebuçados, doces, papel, num livro que se abre... um pano, que uma vez aberto, deixa escapar a droga em forma de gás.....Cuidado com pessoas que vêm falar connosco, como se nos conhecessem...especialmente nas estações... Não deixe entrar estranhos em casa! Alerte a toda as pessoas dos seus contactos.

 

Estes dados foram fornecidos pelo Instituto da Droga e da Toxicodependência, IP Departamento de Planeamento e Administração Geral Núcleo de Gestão de Recursos Humanos Pç de Alvalade, n.º 7 - 8.ª Piso 1700-036 Lisboa*

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:35
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Sexta-feira, 29 de Agosto de 2014
MOKANDA DA LUUA . XXIX

ANGOLA GERAÇÃO CANGURU – Bolunga com pirão e carne de caça

Por

  Dy - Dionísio de Sousa  (Reis Vissapa) 

África, é uma bênção e um veneno.

Chega de malandragem e cabulice, ou acabas o liceu ou vais trabalhar. Palavras sábias da minha saudosa mãe que não era adepta da “Geração Canguru” e que dava o litro para me proporcionar uma educação académica melhor do que ela própria tivera. Percebi de imediato que os meus dias de vagabundagem endémica estavam prestes a finalizar. Sem grandes opções perante este xeque-mate optei por enveredar pela viela do trabalho, algo de que nunca me arrependi. Neste contexto tive como primeira experiência uma fugaz passagem pelos serviços de meteorologia, nessa época instalados no aeroporto da Mucanca. Para azar meu apanhei como chefe um “engomadinho” que parecia ter engolido um garfo e ingerido toneladas de prosápia e que olhava de alto para tudo o que não era branco de primeira. Negando-me a trabalhar sob as ordens de tal criatura acabei por ir parar à brigada recém criada para estudar as águas fecundas dos maravilhosos rios de Angola. Depois de algumas cunhas lá me admitiram nos seus quadros como assalariado o que devo dizer foi uma lança em África pois esses serviços tiveram início com um batalhão de pessoas importadas do “talhão” que iniciaram as suas vidas em Angola com todas as mordomias e mais algumas.

 Casas apetrechadas, carros e até criados, à imagem de muitos outros em diversos ramos de actividade que chagavam à “Província com a papinha feita e a maçaroca garantida”. Mas nem todos vinham de livre e espontânea vontade. Mais ou menos na mesma altura, finais dos anos cinquenta, Luís Alberto, rapaz de boas famílias com mais cinco ou seis anos que eu, vagabundeava pela Lisboa nocturna em grande actividade. Os seus escritórios preferidos eram os “Nigth Club” nome pomposo dado aos “Cabarets” onde fulgurantes “Borboletas” ganhavam a vida à ficha e pequenos antros onde se jogava a dinheiro à socapa. Em relativamente pouco tempo o Luís delapidou uma pequena fortuna o que deixou os manos de linhagem marinheira e bem encaminhados na vida em franco desassossego. Rapazes de hábitos militares espartanos agarraram no Luizinho e contra a sua vontade “degradaram-no” para Angola. Acabámos por nos conhecer na dita brigada para onde entrou de imediato com um salário razoável. Mas nem tudo eram rosas para ele pois tinha de se apresentar na PIDE-DGS de dois em dois meses. A polícia de estado do velho Salazar tinha várias incumbências além da primária que era vasculhar os detractores do regime. Fiscalizava também os negócios de diamantes feitos à revelia da Diamang ou da Condiama ou mais propriamente da De Beers e sempre que podia apreendia os frasquinhos de brilhantes que desapareciam das delegações sem deixar rasto.  

 Para vos dar ideia do aspecto deste amante transcontinental da boa vida começo por dizer que teria aproximadamente um metro e oitenta, cabelo negro e liso penteado para trás e aconchegado com algum “Brilcream”, uma fleuma capaz de fazer irritar um granito e um humor mordaz carregado de sarcasmo. Quando nos encontrámos pela primeira vez identifiquei-o de imediato com a figura criada por Péricles Maranhão para a contra-capa da revista brasileira O Cruzeiro o famigerado “Amigo de Onça”. Ainda vestia à maneira dos “Bindges” alcunha que servia para identificar quem cruzara o Equador recentemente. Durante dois meses poucas ou nenhumas palavras saíram da sua boca e era visível que o desterro forçado não era definitivamente do seu agrado. Finalmente enviaram-nos para as terras do fim do mundo e o bom da Luís lá foi connosco, desta feita já com roupa apropriada e muito mais loquaz.  Quem nunca trabalhou nas brigadas que pululavam em Angola numa tentativa de se fazer à pressa um levantamento dos recursos da “Quinta do Patriarca” não sabe o que perdeu. Deslocação para lugares onde a densidade populacional raramente atingia um habitante, negro ou branco por cem quilómetros quadrados e caça a perder de vista.

 Manadas imensas de búfalos, gnus, olongues, zebras e palancas, toda a sorte de predadores, uma variedade infinita de insectos e répteis e uma impressionante e espectacular quantidade de aves diversas. Tenho de convir que tal éden no antigo Cuando-Cubango deve ter sido um murro no peito do nosso Luís, habituado a mirar apenas as aves nocturnas da longínqua Lisboa. Lembro-me de uma das primeiras noites em que tivemos de ocupar um casebre junto à jangada dos Caocos no rio Cubango e ele verificou consternado que o tecto se movia volta e meia. As cobras “Rateiras” ziguezagueavam pelo capim que servia de telhado com toda a tranquilidade, pouco se importando com quem estivesse a dormir no chão. O seu olhar de espanto quando viu o primeiro jacaré no seu habitat natural e o atravessar a vau de uma manada de gado que iria percorrer a pé centenas de quilómetros até à Lunda levando para tal tarefa cerca de meio ano. Ao fim de um mês de medições e mais medições já Luís Alberto mergulhara nas águas do rio sem qualquer temor e exercitava com sucesso a carabina abatendo os primeiros antílopes. Sem o notar o veneno africano invadia-lhe o corpo e o espírito inexoravelmente. Aprendi com ele em contrapartida a jogar póker e Burro Americano à luz de um petromax e ouvi histórias da sua vida de estroina.

 Cumprido o primeiro ano de degredo e direito a um mês de férias o Luís não foi de modas e mandou-se para Luanda e eu acompanhei-o. Passamos noites seguidas a calcorrear os cabarets da capital angolana e o “Rex”, o “Bambi”, o “Estoril” e muito outros fizeram parte do nosso cardápio nocturno. Quando a noite se extinguia estávamos a ouvir fado na “Casa Portuguesa” ou no “Retiro da Saudade”. Por vezes alterávamos o programa e íamos jogar à batota num primeiro andar junto ao velho cinema Colonial e no rés-do-chão comíamos sandes de carne assada e caldo verde para arrematar a noite. Saciado da sua sede pela vida nocturna voltamos ambos para o Lubango para mais um ano de deambulações pelo maravilhoso sul de Angola, navegando rios de sonho e calcorreando “picadas” de encanto. A fleuma e a mordacidade desapareciam por completo no mato e davam lugar a um espírito folgazão completamente embriagado com as “chanas”, as “mulolas” e a beleza sagrada das sanzalas que polvilhavam os territórios do sul. Um dia por condição menor desterraram-me por castigo para o Curoca, lá onde as Montanheiras Negras vivem enfeitiçadas pelas magníficas “Quedas do Montenegro”. Ele foi incumbido de me levar para a beira do Cunene num todo o terreno “Nissan Patrol”. Um temporal tremendo entre a Oncócua e o rio tornou a picada num lamaçal e espantei-me com a perícia com que guiou a viatura na picada escorregadia. Luís Alberto estava completamente envenenado por África nada restava do homem das vestes idiotas com que deixara Lisboa.  

 Nesse ano deslocou-se de novo a Luanda por altura das férias e permaneceu lá apenas uma semana. O mato clamava pela sua presença e ele estava deserto por lhe fazer a vontade. As noites iluminadas por miríades de estrelas, as caçadas ao romper da aurora a frescura gratificante das águas dos rios, o pirão com carne de caça, a bolunga, as gentes do interior com o seu carinho e hospitalidade inequívoca, transformaram o seu degredo no mais ofuscante dos paraísos. Tivemos de sair os dois à pressa de Angola e viemos por caminhos diferentes. Certo dia vi na Avenida da Liberdade um sobretudo igual a outro que eu conhecera das noites frias de Agosto no planalto da Huíla. Cor de mostarda e mesclado de quadradinhos azulados e já bastante puído envergado no corpo de alguém que caminhava no nada e dorido. Era o Luís e, foi uma alegria revê-lo. Voltara à vida antiga e à mulher da noite ainda mais antiga mas dobrado pela saudade e pelo veneno.  Disseram-me que morreu tragicamente na estação do Rossio num assalto perpetuado por um gang de africanos. Nunca averiguei a veracidade deste facto mas sei que morreu pobre por ter morrido longe do seu mato de eleição e imensamente rico por ter vivido em Angola.

Reis Vissapa

As opções do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:51
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Quinta-feira, 28 de Agosto de 2014
FRATERNIDADES . LXV

HUMPATA –Do tempo das carroças bóer… 

Por

Eduardo Torres  Eduardo Torres

Ainda muito criança, quando a Europa era fustigada pelos efeitos devastadores da segunda grande guerra mundial, costumava o meu pai levar a família, uma vez por mês, no mínimo, à vila da Humpata, distante da cidade, cerca de vinte e dois quilómetros. Lá residiam os meus avós maternos, e grande parte da família. Os meus avós eram agricultores, e tinham também comércio tradicional, quer na vila, quer na Serra das Neves, para onde se deslocavam em carroça, tipo "bóer", puxada por uma junta de bois, e naquele lugar se mantinham isolados, no mínimo uma semana. Havia pessoal nativo, de confiança, que guardava a casa fechada, e algum gado, pois só com a presença dos meus avós é que se estabelecia contacto pessoal e comercial com a gente radicada naquele local.

 

Angola, distante do mundo de então, situada numa parta de África vista de uma forma própria do tempo e do afastamento existente da civilização, era uma terra difícil, doentia, com excepção das zonas planalticas, onde o clima era ameno e saudável, mas simultaneamente tranquila, onde reinava a paz e só se sabiam os horrores da guerra, pela B.B.C. através da voz do Fernando Pessa, uma vez por dia e cerca das nove da noite. Nessa época a gasolina era importada dos Estados Unido, em latas de cinco litros, ou tambores de cinquenta litros. Lembro-me, que à data, a carrinha do meu pai ainda nem tinha indicador, para se saber a quantia de gasolina, havia necessidade de mergulhar no depósito, uma vareta em madeira, com indicações espaçadas igualmente, que correspondiam a cinco litros. Por a gasolina ser racionada, embora na época as viaturas não fossem muitas a circular, recordo-me, de o meu pai, para a poupar, nas descidas fechar a ignição, deixar a viatura descer livremente, e depois meter a terceira ou segunda, consoante a necessidade, e voltar a colocar o motor em rotação. A caixa de velocidades, tinha unicamente primeira, segunda e terceira, além da marcha-atrás.

A estrada, de piso razoável, permitia uma boa média, embora lenta para não elevar o consumo. Era um sistema usado, mesmo em viagens mais longas, levando a viatura sempre uma ou duas latas de gasolina, para socorrer no caso de surgir qualquer emergência. Mas o automóvel dos meus amores de criança, foi uma "limusine" Nash, que antecedeu a carrinha Chevrolet, e que me causou um profundo desgosto ao ser vendida. O meu avô deslocava-se, quando tinha necessidade, a pé, da Humpata ao Lubango, e negava-se peremptoriamente a ser conduzido de automóvel, no regresso, porque segundo ele, quem tinha vindo a pé, podia regressar da mesma maneira. E quando o conheci, já não era novo...

Quantas histórias reais da vida, eu vivi neste meu ciclo já longo de vida. As transformações a que assisti, a evolução lenta ou rápida, o desenvolvimento da tecnologia que me permite hoje escrever num iPad algumas das imensas histórias que fizeram parte do nosso dia-a-dia, com a inerente saudade que acompanha a descrição disso...

As opções do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:29
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Terça-feira, 26 de Agosto de 2014
MOKANDA DO BRASIL . II

AS FALAS DE ARRAIS  Se ficamos, o cachorro morde... Se corremos, o cachorro pega.

Por

 T´Chingange

De

Arrais

Nas minhas falas de amigo, enaltecendo as qualidades dum amigo natural de Burgos enfiado até ao pescoço nas águas quentes de Maceió, filtrei seu sangue de coisas intoxicantes enviando-lhe um ramo de salsa picada. Esta salsa não é, logicamente, uma vulgar salsa; apanhei-a no quintal aonde Mfumo Manhanga, num lugar do M´Puto chamado de Amieiro, meu filho catiri faz nascer tomates do tamanho de melões. Meti-a num subscrito do Facebook e enviei-lha. Ele chama-se Arrais da Maré-alta, assim mesmo! Recomendei que a guardasse no frigorífico com a indicação expressa de todos os santos dias dela bebesse um chá para retirar venenos acumulados.

 Isto, tendo a finalidade de depois mijá-los no pé de graviola que eu ajudei a plantar no seu quintal da Praia do Francês.Há pessoas que chegam a nós, como obra do destino, pela mão de Deus oferecendo-nos verdades, pureza, tranquilidade e Luz. Arrais é um desses feiticeiros deslumbradores, que bota conversa só pra boi dormir com encanto; sabedoria que se torna no rabisco dos dias em um pouco de nós! Amigos assim, que falam o que nós calamos; que sorriem o que choramos! Que nos silenciam o que nos vai na alma! Há pessoas que inspiram a nossa vida tornando-nos melhores e este Arrais de nome é mesmomesmo assim deste jeito. O curioso é que ele próprio não sabe que tem esse condão! Um Homem, um amigo, um poeta, um jornalista, um camarada! Um edecéteras... Ele é tudo isso! A sua companhia é muito prazeroso! E, claro que mandei um abraço para ele.... 

 Eis que dias depois, ele comenta esta foto, expressamente dirigida à minha pessoa: -Esse tronco de árvore, que compõe a imagem, envolve a história da escravidão da raça negra no Brasil. A árvore situa-se num local denominado Serra da Barriga, assim conhecida porque vista ao longe, mais parece uma criatura gigante deitada de costas. A serra situa-se numa cidade município denominado União dos Palmares, que remete a uma extensa área em que se aglomeraram escravos fugidos das fazendas de seus donos. A Serra da Barriga era o melhor lugar para resistir a qualquer ataque. Dos recontros que houve sobressaiu uma grande figura reconhecida um ícone pela raça negra do mundo inteiro com o nome de Zumbi dos Palmares.

 Tudo isto cabe como introdução, para mencionar que junto ao tronco desta árvore estão depositadas as cinzas de um notável senhor, digno representante da negritude do Brasil, Abdias Nascimento.  Abdias, activista negro, ex-senador, ex-deputado federal, fundador do Movimento Negro Unificado, defensor da cultura e da igualdade das populações, falecido no mês de Maio de 2011 foi homenageado nesta Serra da Barriga em União dos Palmares, com a presença de vários militantes e activistas da causa negra; alguns deles vindos do exterior, ocasionaram que ali fossem depositadas suas cinzas.

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:14
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Segunda-feira, 25 de Agosto de 2014
MALAMBAS . XVIII

ALUQUETE É UM CADEADO OS CINTOS DE CASTIDADE E A E.I.L!...

MALAMBA: É a palavra.

Por

 T´Chingange

 Não tenho a plena certeza mas iria jurar que Rui Manuel Barbot da Costa, conhecido no meio literário como Mário Cláudio foi meu professor de Antologia à Literatura Portuguesa na Secção Preparatória aos Institutos em regime nocturno na E.I.L. (Escola Industrial de Luanda) lá pelos anos de 1964 ou 1965. Caso não tenha sido este, saliente-se a história que sendo verdadeira, não deixa de o ser com outro qualquer professor; se porventura alguém souber, que o refira neste quase fórum dos Antigos Estudantes daquele estabelecimento de Ensino. Nós alunos já cansados do trabalho normal, fadigas não mensuráveis na via do sono, tínhamos de ouvir este senhor professor que muitas das vezes surgia enfardado de tirilene verde em divisas de alferes. Apanhado nas malhas da incorporação de mancebos lá no M´Puto, destinaram-lhe uma pacífica guerra na zona operacional da Luua. Terei aqui de referir que os altos mandatários castrenses, decidiram considerar aquela cidade como contando 100% em tempo e regalias da guerra colonial.

 Curtiam penares nos mukifos do estado-maior deslocando pontos coloridos no mapa de estratégias a simbolizar recontros de morte; nesta guerra de secretaria aos credenciados oficiais ainda lhe davam a possibilidade de ser professores e, nós felizmente fomos bafejados com um bom professor e pedagogo. Nas noites de aborrecida matéria de decifrar conjugações, rimas de poemas, leituras rupestres de Camilo Castelo Branco ou viagens à santa terrinha por Eça de Queirós, as pestanas esmoreciam-se num sonolento silêncio. Eis que neste então, Mário Cláudio, nosso professor e bom sociólogo ou psicólogo, bom observador, mudava o curso do tema desviando-se a propósito e por forma a despertar-nos da torpeza sonolenta com cantigas de amigo de D. Dinis, de amor e maldizer, coisas antigas de escárnio e, sempre dava um jeito diferente para chegar aos cintos de castidade que os cavaleiros da Távola Redonda ou da Ordem de Santiago, Da ordem de Cristo, Templários e Cruzados colocavam em suas mulheres quando saiam para guerras longínquas.

 Isto agora, parece-nos inaudito mas em tempos medievais os Nobres Senhores que lutavam contra os infiéis, muçulmanos e outros do norte de África deixavam suas donzelas esposas metidas numas cuecas de ferro ou bronze levando consigo as chaves do aluquete; aquelas cuecas eram malhadas nas casas de ferragem e, de aluquete fechado, lá iam pra frente de armas deixando no seguro suas mulheres! Sucede que já nesse tempo havia tecnologia de rebentar e recolocar tais cuecas e estes episódios se vos despertam curiosidade, podem imaginar em nossas aulas o sono a escafeder-se num ai! Ficávamos todos uns autênticos olharapos! A mente tem destes mistérios carregados de muito cazumbi e, ele, Mário Cláudio sabia disso. Nestes entretantos das aulas todos nós fazíamos muitas perguntas tais como a de como era possível fazerem a higiene em seus corpos com aqueles zingarelhos, enfim, podem imaginar o que esta via proporcionava.

 Foi com este professor que passei a gostar de histórias e fiquei a saber que as damas da corte mandavam ir ferreiros de Damasco e Toledo para ao seu serviço soltarem-nas de suas prisões e fazerem os forrobodós pondo chifres dourados e revirados aos seus amos e senhores! Nós mariolas de espantar kiandas amorosas, cozinhávamos também corações em n´hiwas e imbondeiros nos morros da Luua, dos veados, da Cruz e até fazíamos gaifonas à ilha dos padrecos bem do outro lado do Mussulo, sempre, sempre a recordar aquelas doçuras medievais! Em verdade foi este professor que leu a minha cartilha de contar estórias, missossos e mussendos! Tu, António T´Chingange, vais ser um bom contador de mentiras; um inventor de nata crioula! Sim! Ele disse isso de mim por via das redacções contando aleatoriamente o que nos viesse à cabeça! Ou ele era adivinho, tinha premonição, ou estava propenso a ser agora e aqui uma nova kianda! Gostei mesmo muito deste professor! Se todos fossem como ele, eu hoje seria catedrático! Já calcorreei as pedras da calçada de Coimbra mas, não vejo maneira de e, desta forma, ficar Douto a valer! Cada qual tem a sua sina!

O Soba T`Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 05:35
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Domingo, 24 de Agosto de 2014
MISSOSSO . VIII

RIO BENGO Aquele jacaré era gente ruim, nasceu de corpo errado!...

Missosso: Da literatura oral angolana, contos, adivinhas e provérbios com homens, monstros, kiandas de Cazumbi, animais e almas dialogando sobre a vida, filologia, religião tradicional e filosofia dos povos de dialecto quimbundu. Óscar Ribas foi o seu criador.

Por

 T´Chingange

Menino, jacaré te comeu o cachorro! Te comeu o cachorro! N´ga Kilumba de braços abertos enquanto corria gesticulava aflição e, entre entrecortadas frases imperceptíveis de ai-iu-é e uaué no som de aguda aflição, múltiplos gritos de candengues irrompiam-lhe atrás na alvoroçada e sofreada impaciência. De olhos quase fechados pela sensação dum perigo perigoso, N´ga repetia-se na aflitiva superstição: - uaué, jacaré comeu todinho teu betovan… levou teu cão… lhe cambalhotou e escafedeu-se no fundo do Bengo! Agorinha mesmo só saíam bolhinhas. Num pude fazer mesmo nada menino Chupeta! Num rápidamente voltou na tona e riu de gargalhada, assim de feito gente má. Sundiameno dele que me deu susto! Concluiu já mais tranquila a quitandeira de farinha de pau e cacussus do rio Bengo, ali mesmo nas lagoas do Panguila.

 Chupeta, menino mazombo que saiu pardo filho de senhor Nepomuceno e Chica N´gaeta, agora quase homem mantinha seu nome de menininho, de quando só queria chupeta molhada em água com açúcar, uma aguadilha garapa saída da cana da Tentativa. Chupeta andava agora com seu isolamento dentro de si quase todo feito alvoroço no seu pensamento. Chupeta, encafifado na sua compenetração de mauindo, mazumbila seus pensamentos aludindo que, agora sim, agora os factos tinham provas indiciadoras de crime do sungadibengo, fidacaixa que lhe insultou e lhe dissera na própria cara que ele, Chupeta, sofreria muito se não largasse a Carminha dele. Sungadibengo sentia um grande amor platónico por Carminha mas, esta não lhe ligava! Essa era a verdadeira conclusão conclusiva!

 Foi isso mesmo, disse Chupeta com altas falas: -Esse xoxombo, feiticeiro de tuji se escondeu na pele do jacaré para me fazer sofrer! Ele que o disse, ele que o fez, vai procurar ele! Menino chupeta deu ordens a dois cipaios para buscar esse mabeco na cubata dele por primeiro indiciado no crime da morte de seu cachorro betovan. Os cipaios, bem que foram mas nada de nada, no kimbo esse tal de Nekas, sungadibengo calumbungu, nem sombra nem rasto; tudo isto começou quando Nekas, muito enamorado de Carminha soube que chupeta, descabaçou sua amada (amada só de pensamento); isso lhe deixou muito triste e, de tanta raiva virou jacaré e, assim ficou só porque nesse momento de pensamento fatídico a cabeça virou-se-lhe. Menino Chupeta, já muito homem e muito temeroso nunca mais voltou àquela lagoa do Panguila, nem mesmo para apanhar cacussus de que tanto gostava.  De nem se lavar nessas águas, agora só lhe conhecem por Chupeta Katinga, mesmomesmo de malcheiroso.

Glossário: Mauindo: – pulga penetrante; mazumbila: - aparecimento de espíritos na forma humana; Xoxombo: - criatura perversa; cacussu: peixe do rio; calumbungu: Chifre com efeito mágico; descabaçou: furou-lhe o Hímen (tirou-lhe os três – pop.); sundiameno: filho do vizinho; tuji: - bosta; katinga: - suor, cheiro de sovaco.

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:39
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Sábado, 23 de Agosto de 2014
MAIANGA . VI

AS FALAS DE ZECA - Kinga Yófel 

Maianga: Bairro antigo e popular de Luanda

Por

 José Santos- Impregnado de paludismo duma especial estirpe kaluanda, Zeca colecciona n´zimbos das areias dum chamado de Rio Seco da Maianga, nosso antigo rio. Ele não quer acreditar que aquele tempo passou e agora, agora somos aves raras em extinção.

Aiué! Nos matubas avilo bué! Tremo só de pensar quando os naifa me furar os fio e de vez o nguzo malé pra sempre e mazé kitetinha ficar triste bué…, num tem mais o recoreco riscando no semba do molhinhdo de óleo de dénden. Depois nos diván sofrer paka com os saquinho massembando. Ter também os sorte do Nzambi me mandar os cirurgião com os mãos de mbambi.Agora falando sério te digo verdade mesmo! Tem sorte mesmo na koka dos operação! Topa só os mambo dos sorte! No DoisMileDoze um kamba dos SessentaeNove nos particular com os catana le cortaram tudo.

 Ficou tristinho que dava pena. Durante um ano andou com os saquinho e com os massage nos saco dos matuba vazio. Pagou os cerca dos cinco mil dos euros…Topa só dinovo os sorte de outro avilo dos SetentaeDois. Em Abril DoisMileCatoze botou os naifa especial nos matuba perturbado pelos PSA. Le capou tudo e botou nos parede os impermeabilização com os bostik por causa dos humidade num vortar, que dá os vontade de sempre querer pingar os “água” amarelino caté num deixa dormir direito. Nesse, o N’Zambitáva lá de batinha verde iluminado os mãos dos cirurgião! Foi sucesso total. Le mandaram embora e sem saco (algalia). Já foi várias vezes nos verificação e tudo corre bem e sem os aflição! Tá confortado e conformado, mas queixou que nguzo bazou nos penso dos operação.

 Diz que de vez enquanto sente os calor, mas que levantar é mentira mesmo botando os vapor dos cachimbo do comboio que passava na cidade alta, nos caldeira cheios dos lenha em brasa dos madeira dos cabinda ou do sucupira. Tá conformado e muito contente. Num tem mais lamento porque relembra bem esse tempo de muzangala apetitoso, porque o gosto ficou na boca e pra sempre. Ah! Desse tempo de menhungo biológico, mesmesmo sendo pelas poeiradas esteiras do Bo, Cassenga, Sambizanga…, ou dos sofá de pele de pakassa oleado com Bien-être de zumbo dos Bambi, Copacabana, Tamar…

 Ok. Nos finalmente de Agosto vou provar os teu Milongo. Só peço a N’Zambi que me faça andar dinovo nos “Ndongo” e com a minha barona na praia da Samba. Enquanto tu ficas com as perninhas cruzadas no areal cheio de redes e topando o meu k kamba pescador Zacaria remendar os rasgos das redes causados pelo tuje do peixe balão. Com aqueles dedos compridos cheios de feitiço que beulavam juntinhos no fio de pesca dando nós pra sempre. Bom, até lá fico quietinho no Kinga Yófel como mandaste e parecido como na formatura da recruta no RIL. Kandandus  do ZECA 

Ilustrações de Costa Araújo

Opções do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:26
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Sexta-feira, 22 de Agosto de 2014
MALAMBAS . XVII

ANGOLA . MAIOMBE   UMA CAGANITA DE HERÓI…HEROICIDADES!

MALAMBA: É a palavra.

Por

 T´Chingange

 Felizmente, para além de muitos roubos e desmandos à minha pessoa nunca me assacaram de ter feito algo criminoso, a não ser o da minha própria vida deixar de servir meus próprios propósitos. De trama em trama, urdidos na penumbra da ética desleixei-me; de desinteresse em desinteresse, fui-me falecendo nas vontades desconsumadas desconsumiveis! Raziado nos quereres, entusiasmo-me em caçar notícias anómalas, coisas desacreditadas e, conspícuo no meu dever, busco os profundos devaneios sem me restringir à magreza dos casos acontecidos, fidedignos ou não! Por isto e mais aquilo, imagino estranhezas, mujimbos bizarros ou bizarrocos sem minguar ornatos de imaginação. O meu tempo de tropa! De magala vestido em zuarte ou caqui amarelo!

 Naquele um dia do passado com minhas ideias xaxualhadas no vento, contava as marcas de folhas de milho trespassadas nos meus medos, algumas ficaram no corpo encostadas na pele dactilografadas em relevo de código de veias para cego ler dedilhando-as como marcas de carolos. Podia ler às cegas o cardápio da noite, desfolhada de trás para a frente como um relatório de guerra e, lá estava aquela especial ranhura comprida, uma centopeia por onde com muita sorte a vida não saíra. Afinal, da sorte saída debaixo dum choro vermelho de barro com sangue, a vida mijou-me no cacimbo da morte, uma papa de sangue quente correndo, sorriu-me na cara dum anjo capado, o padre capelão da companhia.

 Meu rapaz, tiveste muita sorte, agradece a nossa Senhora dos Milagres por abrires esses olhos! Eu, não sabia se era tarde ou muito cedo para saltar p´ro além mas, o prémio de Governador-geral surgiu desse reencontro com a vida numa curva da morte do Maiombe! É muito de periclitante falar duma guerra que não é nossa, duma guerra que nos cuspiu, que tudo nela transpirava um queixume e, nos legou mágoas escondidas.

 Com um grande desespero a ladrar-me por dentro, uma humilhação lambida de amor ultrajado, mordo o beiço franzido palpitante de recordações. Isto já passou! Agora, sim falo dela, da guerra de tuji com ar preguiçoso de como quem cumpre uma formalidade inútil e aborrecida. De e, por tudo isso, recebo 150 Euros, uma caganita de herói.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:15
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Quinta-feira, 21 de Agosto de 2014
MISSOSSO . VII

LUANDA  . 1953 … NUVENS DE AÇUCAR NA FEIRA DS VICENTINAS…Nª Sra DO CARMO…

Missosso: Da literatura oral angolana, contos, adivinhas e provérbios com homens, monstros, kiandas de Cazumbi, animais e almas dialogando sobre a vida, filologia, religião tradicional e filosofia dos povos de dialecto quimbundu. Óscar Ribas foi o seu criador.

Por

 T´Chingange

 Juka Kibiala sozinhado frente a frente com um copo de kimbombo falava filosofias baratas entremeadas de bordoadas de aduelas de barril anilhadas no seu cerebelo e cabelo e, duma vez eu escutei o resmungo, que no desemprego crónico dele nunca que ninguém lhe pisou os calos; nas falas dele dizia que essa era mesmomesmo a sua grande dignidade! Com seu chapéu de papelão aba larga, com serpentinas coloridas e uma pena de jacó de Cabinda fazia umas horas extras enrolando açúcar num pauzinho; rola que rola, despejava sua alegria de simplicidade no riso da criançada. Rosado e leve que nem nuvem, o algodãozinho de açúcar lambuzava a gulodice dos catraios, candengues e pivetes em troca de uma quinhenta de macuta. Neste tempo de medos ainda agarrados no cu das calças, meu tio Manel Topeto do M´Puto ensinou Kibiala a enrolar o pau de bambu afiado a naifa, na nuvem.

 Naquela feira das Vicentinas e no largo da Nossa Senhora do Carmo entre a Mutamba e o Maculussu, meu tio Manel Topeto botava uma massa espremida dum pano branco com um funil na ponta que no seu jeito sódele enrolava no tacho assim-assim sempre pra direita formando uma ravianga de curvas em óleo fervente. Meu tio tornou-se um perito nessa arte de fazer farturas e as velhotas benfeitoras só o queriam a ele para fazer aquela tarefa. Corria o ano de 1953 na cidade de Luanda; eu, candengue gozava de uns trocados para rodar nas cadeiras do carrossel mais aviões, chupar uns pirolitos ou beber mission dos coqueiros. Naquela semana de feira de Nª Senhora do Carmo minha felicidade suplantava todos os caminhos corridos com carro de arame, do visgo da mulembeira, do alçapão de apanhar celestes, Januários e rabos-de-junco, com painço da venda do Hernâni do Rio Seco.

 Juka Kibiala, com seu grande coração, berridando gotinhas de cacimbo nos olhos dele, puro-sangue do Catambor, quase meu vizinho do salvo seja, ria com a boca cheia de dentes brancos e esfregados na mateba com carvão; ria mesmo de boca cheia com o menino branco que era eu, o Tonito, branco do musseque, sobrinho do Siô Manel Topeto seu capataz, vou-lhe agradar. Ele só fingia que recebia uma quinhenta e dava-me a nuvem branca de açúcar e, eu só fingia que lhe dava. De agradecido, um dia dei-lhe um bico-de-lacre numa gaiola e ele chorou de agradecimento!

 Obrigado menino Tonito! Auá, nunca que ninguém me deu nada assim! Pegou na gaiola, abriu a porta e deu liberdade nele e sorriu só! É melhor assim: -Pássaro não quer prisão! E, nem sei como, mas percebi! Dei-lhe mesmo uma grande alegria. Ensinou-me nesse um dia que a certeza não nasce feita!

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:22
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Quarta-feira, 20 de Agosto de 2014
MAIANGA . V

TRUQUES -  COMO ABASTECER SEU VEICULO

Maianga: Bairro de Luanda

As escolhas de

 T´Chingange

Truques para abastecer seu veículo - Vale a pena ler. O autor deste texto trabalha numa refinaria há 31 anos como engenheiro de segurança para abastecer os veículos! Assim que você levar a sério e passar a aplicar os truques que a seguir são explicados, aproveitará ao máximo seu combustível e, portanto, seu dinheiro...


- Encher o tanque sempre pela manhã e, o mais cedo possível. Porque a temperatura ambiente e do solo é mais baixa.

- Porque todos os postos de combustíveis têm seus depósitos debaixo terra. Assim, estando a terra mais fria, a densidade da gasolina e do diesel é menor; O contrário se passa durante o dia, que a temperatura do solo sobe, e os combustíveis tendem a expandir-se.

- Por isto, se você enche o tanque ao meio-dia, pela tarde ou ao anoitecer, o litro de combustível não será um litro exactamente. Na indústria petrolífera, a gravidade específica e a temperatura de um solo têm um papel muito importante.

- Onde eu trabalho cada carregamento de combustível nos caminhões é cuidadosamente controlada no que diz respeito à temperatura. Para que, a cada galão vertido no depósito (cisterna) do caminhão seja exacto.

- Quando for pessoalmente encher o tanque, não aperte a pistola ao máximo (pedir ao frentista no caso de ser servido). Segundo a pressão que se exerça sobre a pistola, a velocidade pode ser lenta, média ou alta.

- Prefira sempre o modo mais lento e poupará mais dinheiro. Ao encher mais lentamente, cria-se menos vapor e, a maior parte do combustível vertido converte-se num cheio real, eficaz.

-Todas as mangueiras vertedoras de combustível devolvem o vapor para o depósito. Se encherem o tanque apertando a pistola ao máximo uma percentagem do precioso líquido que entra no tanque do seu veículo transforma-se em vapor do combustível, já contabilizado, volta pela mangueira de combustível (surtidor) ao depósito da estação.

-Isso faz com que, os postos consigam recuperar parte do combustível vendido, e o usuário acaba pagando como se tivesse recebido a real quantidade contabilizada, menos combustível no tanque pagando mais dinheiro.

- Deve encher o tanque antes que este baixe da metade. Quanto mais combustível tenha no depósito, menos ar há dentro do mesmo. O combustível evapora-se mais rapidamente do que você pensa.

-Os grandes depósitos cisterna das refinarias têm tetos flutuantes no interior, mantendo o ar separado do combustível, com o objectivo de manter a evaporação ao mínimo.

- Não encher o tanque quando o posto de combustíveis estiver sendo reabastecido e nem imediatamente depois. Se você chega ao posto de combustíveis e vê um caminhão tanque que
está abastecendo os depósitos subterrâneos do mesmo, ou os acaba de reabastecer, evite, se puder, abastecer no dito posto nesse momento.

-Ao reabastecer os depósitos, o combustível é jorrado dentro do depósito, isso faz com que o combustível ainda restante nos mesmos seja agitado e os sedimentos assentados ao fundo acabam ficando em suspensão por um tempo. Assim sendo você corre o risco de abastecer seu tanque com combustível sujo.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:42
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Terça-feira, 19 de Agosto de 2014
KWANGIADES . XIX

ANGOLA . XISSA . MALANGE  – Zé do telhado2ª de 2 partes

Por

 T´Chingange

 -Foi-se num truz, fez uafo, e nós todos ficamos com muito medo, muita nhufa! o quimbanda mandou ficarmos muito de longe e usou uns milongos de espanta cazumbi! Fizeram uma campa saída da terra e Caputo recomendou que aquele gweta bom teria de ser agora venerado e, todos deveriam segundo uma escala dar-lhe de comida, arroz, peixe e carne com farinha de milho para alimentar sua kianda, sua alma! Assim passou a ser e, foi desta forma que fui encontrar tal campa por volta de 1959. Posso explicar. – Foi o senhor Fernando camionista de uma Magirus que me levou até lá.  Meu pai trabalhava como assalariado na construção da ponte do Caminho de Ferro de Luanda - Malange  sobre o rio Lucala e, foi com este senhor Fernando que ia reabastecer os homens da brigada com  quem eu fui.

 Ainda recordando o tempo do M´Puto, Aninhas, sua mulher, sugere-lhe sempre uma mudança de vida, e tanto repete, que um dia marcha para o Porto afim de embarcar para o Brasil. Atravessa o mar na Barca Oliveira desembarcando em Porto Alegre no Rio Grande do Sul. Zé tentou ser um homem de bem, trabalhou numa grande fazenda lidando com o gado que ele tão bem conhecia mas, as saudades da sua Aninhas eram muitas e, como não havia maneira de ganhar fortuna rápida, resolveu regressar carregado de sombras na mioleira em função do que um patrício lhe disse; sua mulher não estava a receber as remessas, alguém estava a governar-se desviando-as e,...as finanças penhorando todos os seus bens por dividas ao fisco e a gordos agiotas de patihas abastadas. Zé voltou na mesma Barca de Oliveira que o tinha levado, por volta de 1851.

  Acaba por ser preso a 31 de Março de 1859 quando tenta fugir de novo para o Brasil. Esteve preso na Cadeia da Relação, onde conheceu Camilo Castelo Branco que o refere em Memórias do Cárcere.. A 9 de Dezembro de 1859 foi julgado e condenado ao degredo perpétuo em Angola. A 28 de Setembro de 1863 a pena foi-lhe comutada para 15 anos de degredo mas, ele acabou por ficar no seu Xissa de Malanje. Negociando em borracha, cera e marfim, levava então uma vida desafogada e decente. Umbigou-se com uma angolana de nome Conceição, de quem teve três filhos. Conhecido entre os locais como o kimuezo, homem de barbas grandes, faleceu aos 57 anos, vítima de varíola. Foi sepultado na aldeia de Xissa, município de Mucari, a meia centena de quilómetros de Malanje, sendo-lhe erguido um mausoléu, objecto de romagens por parte do povo que o respeitava como um chefe mwata.

 Não pude esquecer aqueles mais de mil quilómetros por picadas de terra, e foi Catete, Dondo, N´Dalatando, Lucala, Kalomboloca, Samba-caju, Negage e depois regressar via Mabubas, Caxito, Kacuaco e por fim De novo Luanda! O curioso da viagem foi mesmo esta visita à simples tumba de Zé do Telhado ainda sem telheiro, uma singela placa colocada pelo administrador do Xissa e nada mais. Mais tarde vim também a trabalhar como funcionário dos Caminhos-de-ferro come brigadeiro. O mesmo engenheiro chefe de meu pai de nome Paiva Neto, veio muito mais tarde a ser também o meu, pois fui brigadeiro dos Caminhos-de-ferro do Norte.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:09
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Segunda-feira, 18 de Agosto de 2014
PUTO . LI

NUM TEMPO COM CINSAS . PORTUGAL E  A SUA DEMOCRACIA

As escolhas de   T´Chingange

Por

 Paulo Neto da Rua Direita Viseu

 Portugal é um país sui-generis a vários títulos. Tem serviços que funcionam em alternância, exemplarmente e pessimamente. Todos os serviços do Estado, quando é para extorquirem dinheiro em impostos e coimas ao cidadão, são supersónicos. Quando é para pagarem, ressarcirem, devolverem dinheiro as utentes, são mais lentos que o antigo comboio do Vale do Vouga, nas subidas. Se um cidadão se atrasa no pagamento de uma prestação de um crédito à banca – consumo, habitação, cartão – logo entra na lista negra do Banco de Portugal, que detém uma hábil rede para difusão do “crime”. É o cidadão-incumpridor, a mais das vezes sendo-o por força dos sucessivos cortes salariais de que é alvo, ou porque, de repente, se viu numa imprevista e impensável situação de precariedade e desemprego.

 In extremis, em 24 horas é alvo de devassas, arrestos e penhoras de salários e bens. Tornou-se um “bandido”, um “criminoso”. Porém, hoje sabemos que o maior prevaricador é o Estado, que o maior “calaceiro” é o sistema bancário português, em geral. E ninguém defende o cidadão, ninguém o informa, não há listas negras onde figurem, expostos, esses incumpridores, para defesa do consumidor, do utente.

Ou seja, o sistema, em regime de monopólio de interesses está viciado, é unilateral, desonesto e prepotente. Para quando - para lá da inevitabilidade da política do facto consumado e já não mais ocultável - uma atitude séria por parte das entidades reguladoras e supervisoras das boas práticas, não perante o seu lastimável corporativismo, não perante os indecentes sócios do clube que as integram, por vezes contumazes prevaricadores, não perante os mercados cúpidos compostos de agiotas e especuladores de alto coturno que as dominam, mas sim face ao indefeso cidadão-pagante, vítima final de todas as arbitrariedades, desmandos e vigarices?

As opções de T´Chingange

 

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:50
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Sábado, 16 de Agosto de 2014
MALAMBAS . XVII

DIA DE SOL HOJE, 16 DE AGOSTO DE 2014, ESTE ASTRO REI NASCEU DEBAIXO DA PONTE – EU EXPLICO…

MALAMBA: É a palavra.

Por

   T´Chingange

  Quando for para o céu via Dubai vou levar no mínimo, podas de três tipos de figueiras diferentes para São Matias, um muito amigo de São Pedro e a quem tenho de dar agrados; por seu intermédio quero meter uma cunha ao homem das chaves e, eu sei que eles são unha com carne. Vou gamar umas podas ao meu vizinho de figos lampos, de São João, de três num prato, figos Rei e caralhetes, um nome que minha mãe referia mas que não vem no dicionário nem tampouco nos alfarrábios. Consultando o catálogo fiquei a saber de muitas variedades tais como o Lampa Branco, Lampa Preto, Bebera Branca, Bebera Preta, Burjassota Branca e Vindimo mais as variedades de figo para secar como a Branco do Douro, Rei Branco, Rei Preto, Pingo de Mel e Branco Regional.

 Eu, que nada entendo disto mas gosto a valer, vou levar-lhe uma qualidade de figo branco, uma de corado e outra de figo negro. O curioso da pesquisa que fiz e desconhecia, é a de que o figo é um falso fruto, pois é um receptáculo que contém centenas de pequenos frutos e, que vulgarmente chamamos sementes. O primeiro fruto da figueira, produzido em finais da Primavera e conhecidos por figos de São João, recebem o nome de figo lampo. É pena que seja uma fruta perecível, o figo maduro não se conserva mais de 3 dias no frigorífico e por isso utiliza-se como puré para confeitarias, em conserva ou confeitados; são frutos muito frágeis, pelo que a sua conservação em boa condição é difícil, por isso, a importância comercial dos figos secos ou em conserva.

 

Comecei o dia a caminhar às seis horas exactas, ainda estava escuro e no trajecto escolhido fui elaborando a crónica deste dia e nada me bulia de concreto no cerebelo e exactamente às sete horas, estando eu na Estrada Municipal nº 530 que liga Messejana a Rio de Moinhos olhei para trás e, pela primeira vez sucedeu ver nascer o Sol debaixo da ponte; meio ofuscado por seus raios havia uma linha difusa acima dele! Com umas podas de figueira fanadas em beira de picada a fazer de pala para tapar o Sol, vi bem definida a ponte da via A 1 que liga o M´Puto ás praias do Algarve. Eu, que andei por esse mundo medindo as latitudes e longitudes logologo ao nascer do astro rei bem na linha do horizonte, 1º quadrante, 2º quadrante, 3º quadrante e mais o 4º e depois o cálculo com logaritmos, derivadas, correcção de esferecidade e trigonometria esférica para saber o meu lugar, marcando riscos no mapa, estradas do mundo, estradas da vida, aqui e, pela primeira vez e ás exactas sete horas do dia 16 de Agosto, fazia isto, não com o teodolito, mas com as folhas de figueira elevadas ao mesmo céu que meu amigo São Matias me quer levar!

Aparte disto terei de acrescentar que o figo é conhecido pelo seu carácter curativo desde há muitos séculos. Pelas suas propriedades regula a digestão, ajuda a ultrapassar o esgotamento, estimula a capacidade de concentração, melhora o ânimo e elimina o nervosismo. O seu uso externo está recomendado para as inflamações da boca, chagas e queimaduras. O figo, pelas suas numerosas sementes, foi, para muitas culturas, símbolo de fé e sabedoria, enquanto que a figueira simboliza a fertilidade. Por hoje é tudo!

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:31
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Sexta-feira, 15 de Agosto de 2014
KWANGIADES . XVIII

ANGOLA . XISSA . MALANGE  – Zé do telhado – 1ª de 2 partes

Chato Valente, foi um dos chefes do posto do xissa em Angola; daqui fala o Chato do Xissa! Era assim que atendia o telefone! Dos tempos antigos... O Governador Reboxo Vaz quando do primeiro contacto com ele, não gostou disso! Mas, ele não tinha culpa de ser chato de nome...

Por

 T´Chingange - Produz cultura tão naturalmente como as abelhas produzem mel; reconhece que a cultura é uma inventação...Ou um artefacto estórico. Civilização é tão só, um refinamento de costumes

Num dia antigo, Paulo Caputo berrou disparates saídos do fundo se sua raiva; ele via coisas que mais ninguém via, que só ele via e, dizia que isto assim não pode ser! Naquele buraco surgiram uns ossos brancos; ninguém que podia saber mais se tais ossos eram de branco ou de preto. Só mesmo um antropólogo podia explicar se era homem ou mulher, se macaco ou gente mas ele, Caputo, via o branco mwata vestido naquele esqueleto de mwadié kimuezo, um degredado com o nome de Zé do Telhado do M´Puto. Caputo, ainda monandengue foi levado com seu pai para trabalhar nas distantes minas do Kongo, propriedade do rei Leopoldo. Seu pai foi contratado para trabalhar nas minas daquele grande território propriedade dum senhor mwana-pwó poderoso. Sua tia de nome Conceição Umbigou-se com kimuezo e teve dois filhos e uma filha, mas ele era o sobrinho mais velho, herdeiro de tudo de sua tia Conceição.

 Zé do Telhado, alcunha de José Teixeira da Silva nasceu em Penafiel a 22 de Junho de 1818 e faleceu em Mucari, aldeia do Xissa em Malanje, Angola, no ano de 1875. Foi um militar e famoso salteador português que actuou no Marão. Conhecido por "roubar aos ricos para dar aos pobres", um pouco à semelhança de Lampião do nordeste Brasileiro. Para lá do Marão mandam os que lá estão! Esta frase deve-se a ele! Sua experiência militar começa no quartel de Cavalaria,  Lanceiros da Rainha; toma parte contra o partido dos setembristas mas derrotado, em 1837 refugia-se em Espanha. Ao regressar, envolve-se na Revolução da Maria da Fonte colocando-se às ordens do General Sá da Bandeira. Com o posto de sargento, distingue-se com bravura recebendo a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, a mais alta condecoração que ainda hoje vigora em Portugal. O seu «partido» entra em desgraça e é expulso das forças armadas. Já como "Zé do Telhado", chefe bandoleiro, realiza um grande número de assaltos por todo o Norte de Portugal

  Caputo, ao regressar já adulto, sua tia pediu-lhe que fosse naquele lugar no meio das duas n´hiwas e descobrisse as ossadas do kimuezo seu marido, que tinha morrido duma peste medonha; explicou-lhe que sendo ele o herdeiro absoluto de tudo teria de prestar-lhe honras merecidas. Aquela peste que o matou não deu para perder tempo e ali se enterrou de qualquer jeito; aquilo de bexigas era muito de terrível, doença que contagiava e, às pressas de medo, ali foi metido. Agora era tempo de o desenterrar e prestar-lhe honras. -Temos de dar a este branco sepultura de gente! Disse Paulo Caputo a todos os curiosos do Xissa. Mesmo tendo passado tanto tempo, nas falas de Caputo havia alguma nhufa, assim uma cagufa diferente, de respeito com peçonha! Afinal ele era seu tio e tinha sido ele o fazedor daquela riqueza. - Ele, kimuezo, andava fraco por causa das picadas de mosca tzé-tzé e isso da varíola, desse jeito penetrou nele num repentemente! Disse-lhe Conceição uns dois dias antes desta tarefa.

Kimuezo: -homem de barbas compridas; nhufa: -medo

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:27
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Quinta-feira, 14 de Agosto de 2014
XICULULU . LV

M´PUTO - Os arautos da transparência...

Xicululu: - Olhar de esguelha, mau-olhado, olho gordo, cobiça

As escolhas de   Ramos Matias - (Á. Sul)

Por

 Domingos Ferreira - Professor/Investigador Universidade do Texas, EUA, Universidade Nova de Lisboa

Os arautos da transparência, têm como adjunto do primeiro-ministro, o senhor Carlos Moedas (filho do JOSÉ MOEDAS, de BEJA, jornalista já falecido, homem de enorme valor) que se veio agora a saber ter 3 empresas ligadas às Finanças, aos Seguros e à Imagem e Comunicação, tendo tido como sócios, Pais do Amaral, Alexandre Relvas e Filipe de Button a quem comprou todas as quotas em Dezembro passado. Como clientes tem a Ren, a EDP, o IAPMEI, a ANA, a Liberty Seguros entre outros. Nada obsceno para quem é adjunto de PPC! E não é que o bom do Moedas até comprou as participações dos ex-sócios para "oferecer" o bolo inteiro à mulher???!!!!. Disse ele à Sábado. Não esquecer ainda que o Carlos Moedas é um dos homens de confiança do Goldman Sachs, a cabeça do Polvo Financeiro Mundial, onde estava a trabalhar antes de vir para o Governo. Adoro estes liberais de trazer por casa, dependentes do Estado, quer para um emprego, quer para os seus negócios.

 Lamentavelmente, a política económica suicidária da UE, que resultou nas tragédias que já todos conhecem, acresce a queda do Governo Holandês (ironicamente, acérrimo defensor da austeridade) e o agravamento da recessão em Espanha. Por conseguinte, a zona euro vê o seu espaço de manobra cada vez mais reduzido e os ataques dos especuladores são cada vez mais mortíferos. Vale a pena lembrar uma vez mais que o Goldman and Sachs, o Citygroup, o Wells Fargo, etc. apostaram biliões de dólares na implosão da moeda única. Na sequência dos avultadíssimos lucros obtidos durante a crise financeira de 2008 e das suspeitas de manipulação de mercado que recaíam sobre estas entidades; o Senado norte ­americano levantou um inquérito que resultou na condenação dos seus gestores. Ficou também demonstrado que o Goldman and Sachs aconselhou os seus clientes a efectuarem investimentos no mercado de derivados num determinado sentido. Todavia, esta entidade realizou apostas em sentido contrário no mesmo mercado. Deste modo, obtiveram lucros de 17 biliões de dólares (com prejuízo para os seus clientes).

 Estes predadores criminosos, disfarçados de banqueiros e investidores respeitáveis, são jogadores de póquer que jogam com as cartas marcadas e, por esta via, auferem lucros avultadíssimos, tornando-se, assim, nos homens mais ricos e influentes do planeta. Entretanto, todos os dias são lançados milhões de pessoas no desemprego e na pobreza em todo o planeta em resultado desta actividade predatória. Tudo isto, revoltantemente, acontece com a cumplicidade de governantes e das autoridades reguladoras. Desde a crise financeira de 1929 que o Goldman and Sachs tem estado ligado a todos os escândalos financeiros que envolvem especulação e manipulação de mercado, com os quais tem sempre obtido lucros monstruosos. Acresce que este banco tem armazenado milhares de toneladas de zinco, alumínio, petróleo, cereais, etc., com o objectivo de provocar a subida dos preços e assim obter lucros astronómicos. Desta maneira, condiciona o crescimento da economia mundial, bem como condena milhões de pessoas a fome.


No que toca a canibalização económica de um país a fórmula é simples: o Goldman, com a cumplicidade das agências de rating, declara que um governo está insolvente, como consequência as yields sobem e obriga-o, assim, a pedir mais empréstimos com juros agiotas. Em simultâneo impõe duras medidas de austeridade que empobrecem esse pais. De seguida, em nome do aumento da competitividade e da modernização, obriga-os a abrir os seus sectores económicos estratégicos (energia, águas, saúde, banca, seguros, etc.) às corporações internacionais. Como as empresas nacionais estão bastante fragilizadas e depauperadas pelas medidas de austeridade e da consequente recessão não conseguem competir e acabam por ser presa fácil das grandes corporações internacionais.

 A estratégia predadora do Goldman and Sachs tem sido muito eficiente. Esta passa por infiltrar os seus quadros nas grandes instituições políticas e financeiras internacionais, de forma a condicionar e manipular a evolução política e económica em seu favor e em prejuízo das populações. Desta maneira, dos cargos de CEO do Banco Mundial, do FMI, da FED, etc. fazem parte quadros oriundos do Goldman and Sachs. E na UE estão: Mário Draghi (BCE), Mário Monti e Lucas Papademos (primeiros-ministros de Itália e da Grécia, respectivamente), entre outros. Alguns eurodeputados ficaram estupefactos quando descobriram que alguns consultores da Comissão Europeia, bem como da própria Ângela Merkel, tem fortes ligações ao Goldman and Sachs. Este poderoso império do mal, que se exprime através de sociedades anónimas, está a destruir não só a economia e o modelo social, como também as impotentes democracias europeias.

As opções do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:19
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Terça-feira, 12 de Agosto de 2014
MUSSENDO . VIII

HUAMBO - Pude cheirar o azedo de sua morte, bufas importadas do M´Puto.

Mussendo: Conto curto de raiz popular, missiva em forma de mokanda (carta) do Kimbundo de Angola (N´gola) durante o tempo colonial (Arnaldo Santos foi seu 1º mestre).

Por

    T´Chingange

Uns dias atrás, na devoração dos meus passados, ressurgi do nada como uma kianda na Ilha dos Amores do Quipeio e, o que vi, surpreendeu-me sobremaneira. Pude observar por detrás de chinguiços ressequidos e vissapas espinhosamente verdes, um militar vestido de caqui e zuarte com polainas de lona, tal como era usual nos soldados expedicionários do início do século XX para as Áfricas Coloniais. Este homem de antigas sarjas, tinha divisas de sargento também do tempo de Kaprandanda. Estranhei estar este militar um pouco afastado de seu bivaque situado no sopé da pedra Nganda la Kawe mas apercebi-me em seguida que ele não estava só. Apurando bem a visão pude ver um mulher desnuda debruçada na corrente de água fria e límpida; Aquela mulher negra de seios arrebitados com tudo no seu lugar, enfeitiçava seu mwana-pwó magala do M´Puto de nome Muenge. Entendi que ela o chamava assim porque correspondia ao nome Canas que era efectivamente o seu.

 Soube por intermédio da minha sapiente kianda, uma múmia de nome Januário Pieter que aquele cafeco era filha do soba Wambu Kalunga, homem muito respeitado em todo o planalto do Huambo. Deu-me a conhecer que na segunda metade do ano de 1901, se deu início à revolta nos povos do Bailundo. Para lhe fazer frente, organizaram-se duas colunas de expedicionários. Uma saiu de Luanda sob o comando de Massano de Amorim, e a outra saiu de Benguela tendo no comando Teixeira Moutinho. Ambas suportaram longas marchas e duros combates, todos eles contados por vitórias. O sargento Canas pertencia a esta segunda coluna. Convêm aqui referir que a seguir à Conferência de Berlim de 1885, o governo Tuga desencadeou um conjunto de acções de âmbito militar, administrativo, de investigação e de delimitação de fronteiras e também de melhoria de infra-estruturas, comunicações e do comércio. Havia que formalizar no terreno a possessão da Colónia Angola a fim de assumir total soberania desta. As campanhas militares iriam estender-se até meados dos anos 30 do século vinte.

 Este umbigamento do sargento Canas ou Muenge, embora se fizesse em surdina, não passou totalmente despercebido ao povo do soba Wambu Kalunga e no meio de toda esta vivência com cheiro de pólvora e ânimos exaltados, num dia de muito afago com N´Jingala, era este seu nome, surgiu-lhe à porta da libata um monandengue dizendo que os homens de Kahululo, o noivo consorte desta filhota do soba, após terem dançado toda a noite ao som dos tambores de guerra, muito cheios de bolunga de milho fermentada de raiva, estavam a caminho vindos do lugar do Longonjo preparados para a luta. - Verdade mesmo! Diz o monandengue cipaio. Eles estão muito cheios de revoltosa Luta! A pretexto disto e também dos impostos de cubata, os bóeres do sul, alinhavados com Bismarck, tinham insuflado raivas a estes por modo a se insubordinarem aos Tugas; para esse efeito forneceram-lhes armas de fogo, mausers, canhângulos e água do diabo ou ardente que lhes virava as cabeças ao avesso.

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 Retirando-se às arrecuas das libatas e, com toda a sua disponível força, os homens de Canas Muenge, agrupam-se por grupos em um dos lados e usando as pedras roliças dispersas ao redor e na falda daquele monólito sem nome, só pedra grande e de respeito. Foi num então rápido e envolto num intenso cheiro de pólvora, balas em ricochete, ordens zoadas a eco e uivos medonhos; uma destas, apanhou-o levando-o num ápice à santa terrinha das Beiras. Antes do último suspiro lembrou-se das caldeiradas d´eirozes, da orelheira de porco com feijão branco, a açorda e caldo verde gordo e o bacalhau do Algarve. Seu último pensamento foi para a sua N´Jingala! A lápide que eu vi no sopé da pedra que passou a ter o seu nome, nada disto fala mas, pude cheirar o azedo de sua morte com bufas importadas do M´Puto e total esquecimento dos novos senhores, mwangolés esquecedores dos feitos Tugas.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:19
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Segunda-feira, 11 de Agosto de 2014
MALAMBAS . XVI

TEMPOS CINZENTOS - Ando a semear assobios mas, nos intervalos da vida, durmo!

MALAMBA: É a palavra.

Por

   T´Chingange

Um pedaço de mim nunca mais o terei! Ficou lá na Caála a devorar meus pensamentos, lá na Catata a perturbar minhas vivências, lá em Caluquembe afagando-me violentamente as rugas que gemem dentro de mim freneticamente. Quando descobrir que nunca é tarde de mais para lá voltar, regressarei com meus fugidos medos e vergonhas de roer, rogando à Nossa Senhora do Monte que a paz desça sobre mim; tapar o buraco das feridas, lamber a hóstia consagrada do peito e da vida que corre por debaixo dele; matar a traição espolinhada no esquecimento do capim e cardos iguais ao do nosso Senhor Cristo rodeando a capela da minha peregrinação; minha muxima do kwanza transladada para este monte.

 Os nossos monumentos, aqueles que nos são próprios, são as tradições orais que morrem connosco mais velhos, mais kotas que o tempo faz desaparecer extinguindo-se esquecido. Hoje, em Angola, as autoridades tradicionais não possuem nem audiência, nem meios próprios de expressão. As instituições que sofrem irrupção agressiva da modernidade e falta de condução no plano institucional omitem o património oral dos mais velhos; a sobrevivência e revitalização que se quer permanente ficam aquém do desejado desperdiçando-se culturas tão cheias de valores; valores que não constam nas bibliotecas. O rico património linguístico de Angola que deveria ter um desenvolvimento harmonioso com a modernidade é escamoteado por ignorância; É curioso referir que os Tugas muito se empenharam para guardar essas riquezas através de secretarias criadas para o efeito com antropólogos e etnólogos.

 A tradição oral, diz que Wambu kalunga foi um exímio caçador que se instalou na região da Caála, na província do Huambo, nas zonas do Ussombo, Makolo e Kondombe, aonde se radicou e umbigou com sua esposa. Não obstante ser um bom caçador, nunca chegou a assumir cargo de responsabilidade junto do soba Kalunga. Sabe-se todavia que um monumento foi erguido a sua memória e que os restos mortais de Wambu e mais duas raparigas que se acredita terem sido enterradas vivas com ele, pois assim era a tradição, continuam ainda hoje protegidos por anciões. O Mais velho Cipriano Kangandjo, um ancião muito respeitado, diz que Wambo, foi enterrado com honras devido a sua participação decisiva na batalha que se travou nas grandes pedras de Nganda la Kawe, entre os filiados de Kahululo, esposo de sua filha NJingala e os seus homens.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:40
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FRATERNIDADES . LXV

ATITUDES VENCEDORAS Acredita em ti… 

As escolhas de

 Stella Pugliesi

 Carlos Hilsdorf - Autor do best-seller Atitudes Vencedoras. Economista, pós-graduado em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas - Brasil. Convidado para apresentações em diversos Congressos e Fóruns nacionais, como o Congresso Internacional de Educação, o Fórum Nacional de Recursos Humanos, o Fórum Internacional de Criatividade, o Congresso Nacional de Qualidade de Vida.

Não dê ouvidos aos pessimistas

Um grupo de sapos resolveu organizar uma competição. O objectivo era alcançar o topo de uma árvore muito alta. Vários sapos se inscreveram para o desafio. Uma multidão de sapos se juntou em volta da árvore para ver a disputa. E a competição começou! Sinceramente, ninguém naquela multidão realmente acreditava que sapinhos tão pequenos pudessem chegar ao topo daquela enorme árvore.

 Eles gargalhavam e os desencorajavam dizendo coisas como: - Ah, isto É IMPOSSÍVEL! – Eles, NUNCA vão chegar ao topo! – Eles, não têm NENHUMA chance! A árvore é muito alta! - Oh é difícil DEMAIS! E os sapos começaram a cair. Um por um. Só alguns continuaram a subir mais e mais. Mas a multidão continuava a gritar: - É muito difícil! NINGUÉM vai conseguir! - Desistam, é IMPOSSÍVEL! Outros sapos se cansaram e desistiram...

 Mas UM continuou a subir, a subir e a subir. Este não desistia! No final, depois de um grande esforço, ele foi o ÚNICO a atingir o topo! Naturalmente, todos os outros sapos queriam saber como ele conseguiu. Assim que ele desceu, um dos sapos perguntou ao campeão como ele conseguiu forças para atingir o objectivo? Neste exacto momento, aparecem os pais do sapo campeão e dizem: - Ele é surdo! O sapo campeão era um sapo SURDO!

Compartilhei esta breve fábula para que possamos reflectir sobre seu ensinamento. Não dê ouvidos aos pessimistas e pessoas com pensamentos negativos. Não escutes os que te desencorajam. Acredite, acima de tudo, em ti, no teu potencial; aprende a gostares de ti mesmo.

 

 

Ilustrações de T´Chingange

As opções do Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:31
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Domingo, 10 de Agosto de 2014
MUSSENDO . VII

UM ÓBITO NO HUAMBO - Jaka Kapiango, a vida, só lhe castigou

Mussendo: Conto curto de raiz popular, missiva em forma de mokanda (carta) do Kimbundo de Angola (N´gola) durante o tempo colonial (Arnaldo Santos foi seu 1º mestre).

Por

   T´Chingange

Esta estória é já uma segunda versão com ligeiras alterações para recordar e dar continuidade falando de tempos mais antigos; do tempo do sargento Canas,  das pedras de Nganda la Kawe dos sobas  Huambo Calunga e Cunhamgâmua e sua filha com pretensões de vir a ser branca, uma gweta assim como o mwana-pwó Canas. Uma homenagem aos meus auxiliares em campo da Câmara Municipal da Caála: - Pumuma, Jamba, Otaca, kumuna, Botomona, Francisco e Zacarias. A ferrugem do tempo calcinou projectos ali ao lado da pedra dde Nganda la Kaweo aonde o sargento Canas também foi enterrado; fica a caminho do Quipeio e, a ilha dos amores. O presidente Casimiro Gouveia nunca soube que era o Caluviáviri.

 Jaka Kapiango num mês bolorento, muita chuva, pouco dinheiro, maka na família, dívidas sem pagar no senhor Zeca gweta da loja do kimbo lá na Vila Flor. Teve de dar nome na administração aonde devia impostos de cubata; quinze dias depois, seguia de contrato para a roça em Samtomé no vapor “Mouzinho”.

 Na vida dele toda negra, só engordoreceu vontade de fazer seu sonho pois,... Só ajuntou o insuficiente para comprar uma junta de bois. Nem quase só, nenhuma coisa mesmo, nada ki kima n´go; foi no Longonjo trabalhar terreno bom no plantio de milho mas, a velhice chegou antes do tempo certo. Ele, só desconseguia viver melhor do que queria; sempre escorria sua fraca sombra fazendo encontro com o sonho que tinha andado dormir no seu coração. O tempo foi comendo lembranças da roça lá no Samtomé que, de muita sorte voltou no seu kimbo, suas botas, sua lavra, sua primeira, segunda e terceira mulher.

 Num dia mais tarde Jaka Kapiango foi ficar só envelhecido de seco, castigos e fomes. Seu nome ficou de sucesso no livro de contratados no angariador da administração; um exemplo de sucesso apontado na palavra do senhor governador de distrito na Nova Lisboa. Jaka morreu contraminado sugando cinzas em estória de saudade antiga, sua dicunji dos mares verdes de Samtomé; uma vida de nó em três voltas. No Samtomé já só juntou mesmo chuva grossa mais mil chuvisquinhos e berros do capataz tuga peidador de bufas importadas do Puto. Por muitas vezes saiu voando sombra negra de raiva no toque, zunido e uivo dum longo chicote; lentamente ia-se morrendo.

 Seus kambas kwachas lhe lembraram, boa pessoa, inchados de bolunga doce e t´chissângwa fermentada  com paracuca a acompanhar.  Neste entretanto, o choro de lágrimas encarquilhava mulheres de velhos rostos carpidando, simplesmente. Sai só falando calado “ m´bika ia kaputo, caputo ué”. O Sol de Jaka se apagou entornado de escuridão que lhe torceu por demais seu coração.

Glossário: m´bika ia kaputo, caputo ué: - escravo de branco, branco é!

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:29
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Sábado, 9 de Agosto de 2014
CAFUFUTILA . LV

TEMPOS ANTIGOS . ABELINO E O LEÃO DA RODÉSIA
Kafufutila / kifufutila : Farinha de bombô com açucar.

Por

 Dy - Reis Vissapa

 

 Tenho dois netos beirões que são a minha maior alegria; para grande tristeza minha eu que sou um africano de quinta geração preferia que eles tivessem nascido num lugar qualquer em Angola, que podia ser a Chibia, Humpata ou mesmo Camucuio. De preferência longe do talhão! Mas a vida não é aquilo que a gente quer, lá dizia o avô Messias um colega meu dos tempos em que era bancário lá na minha terra. Entre muitas das razões que aponto para este meu desgosto há algumas que são relevantes. Primeiro nasceram praticamente calçados, privados do contacto com a poeira dos carreiros e aquele prazer imenso de sentir uma bitacaia a reproduzir-se no dedo grande do pé, ou tirar em corrida um espinho da sola dos pés. Segundo, não presenciarem um bando de milhares de singelas zanguinhas volteando em nuvens no espaço ou contemplarem uma iridescente vianganga no alto duma espinheira. Terceiro não brincarem com carrinhos de arame, ou fazerem carros de tabaibeira.  
 Entre ambos, devem ter uma tonelada de quinquilharia de plástico a que os pais chamam brinquedos. Finalmente e para não me alongar em razões, terem um dia de ir para a embaixada de Angola mendigar um visto para a terra deles, esperando em filas imensas a oportunidade de ter um emprego do outro lado do mar, à imagem e semelhança das filas no IARN abrilista. Em consequência disto, chegarem lá e ouvirem os nossos patrícios dizerem. – Olha Capunda, estão a chegar os “Retornados”, será que trazem os Idi-Amin nos caixotes?! Uns bichinhos esquisitos que fomos acusados de ter importado para o talhão na altura da descolonização. Ou então. – Esses Retornados tomam muito banho, gastam muito gás, mano. – Ou ainda como ouvi há meia dúzia de dias à porta de um supermercado – Oh Irene! Estamos tramadas com esta crise, o diabo dos Retornados deram cabo disto. Perco-me no trivial quando o essencial era falar do Abelino.  Pois bem, o Avelino, quando chegou a Angola para a colonizar em meados dos anos cinquenta, trocava os Vês pelos Bês. Os pais já tinham tentado colonizar a França mas como esta estava cheia de colonos franceses optaram por Angola, terra onde se abanava uma goiabeira e caíam moedas de ouro – Chamo-me Abelino apresentou-se ele, e tal como o meu neto diz com esse trocadilho – Abô, oh abô, olha o bião.

 Calouro no liceu Diogo Cão, o Abelino passou pelas tradicionais partidas da época, tais como ir apanhar abacaxis com uma escada ou uma caçada aos gambozinos, no entanto na sua educação alguém se esqueceu de lhe explicar o que era um Leão da Rodésia. Pois bem um Leão da Rodésia era um penico enorme com cerca sessenta centímetros de altura e uma bocarra de trinta de largura especialmente desenhada para bochechas anais. Muito usado nas fazendas e casas de comerciantes do mato, não vou perder tempo a explicar para que servia aquela maravilha da tecnologia sanitária e porque razão foi assim denominado.  Um ano depois o Abelino já falava português correctamente e para ele um Leão da Rodésia era um canzarrão enorme que o Ian Smith inventara para comer os negros. Foi em Agosto férias grandes depois de termos pedinchado garrafões de vinho, uns patacos e sabe Deus que mais aos comerciantes do Lubango, fizemos numa camioneta da Missão de Estudos uma excursão pelo sul de Angola. Um esplendor segundo o Abelino até ao dia em que partimos um semi-eixo e chegámos por volta da uma da manhã à loja do mato e habitação do velho Borrega. À boa maneira africana o comerciante recebeu-nos principescamente, e pelas duas da matina enchíamos a mula com as penosas de churrasco e mamámos-lhes três garrafões de Sanguinhal. 
 Gentilmente cedeu-nos o armazém do milho na parte de trás da fazenda para passarmos a noite. Bem avinhados aceitámos de bom grado a oferta e lá fomos para aquele hotel de cinco estrelas, cheio de sacas de milho, charruas, cangas de bois e uma boa dose de
colchões de palha de maçaroca, e ao fundo encostado à parede um armário de duas portas onde estava repimpado no interior um Leão da Rodésia. O alarme soou menos de um quarto de hora depois, o Abelino ou por ter abusado do Sanguinhal ou do doce de guibas (Goiabas) da Dona Felizarda Borrega, começou a contorcer-se e a lançar na escuridão ruídos estranhos de mau presságio. Eram quase cinco da madrugada e ninguém pregara olho. – Um por um suplicámos-lhe para ir ao mato.

 Tá quieto ou… Bom, depois dos gambozinos e dos abacaxis e outras maroteiras do género o Avelino não pôs o pé na rua por nada deste mundo. Para piorar a situação o Toupeira habituado a dormir até em pé, vinte das vinte e quatro horas do dia, gritou-lhe. - Olha o Leão da Rodésia, Avelino. Um silêncio de morte estendeu-se pelo armazém e finalmente e como por encanto ele serenou, não arredando pé do colchão de palha de maçaroca até o sol mandar um ar de sua graça.  Quando nos levantámos pergunta o Toupeira ao Abelino – Puxa pá, porquê que não usaste logo o Leão da Rodésia se tinhas tanto medo de ir à rua? – Qual Leão da Rodésia? – Tenho um medo desses cães que até estremeço e olha… Olhámos uns para os outros espantados e eu pensei cá para comigo que cara não ia fazer a Dona Felizarda quando fosse ao armazém durante o dia e deparasse com o estado do colchão.

Reis Vissapa

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:20
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Sexta-feira, 8 de Agosto de 2014
MUSSENDO . VI

COISAS DA CHINAO Dragão e os Tugas euro arianos…

Mussendo: Conto curto de raiz popular, missiva em forma de mokanda (carta) do Kimbundo de Angola (N´gola) durante o tempo colonial (Arnaldo Santos foi seu 1º mestre).

Por

  T´Chingange

 Gottfried Leibniz no ano de 1697, afirmava: “ É melhor não nos preocuparmos tanto em levar coisas da europa para os chineses mas, acima de tudo, em trazer para a europa as mais importantes ideias chinesas, dado que os chineses são hostis à guerra e, uma vez que estamos a deslizar para uma sociedade cada vez mais corrupta, pode ser oportuno pedir aos chineses que nos enviem missionários…” Isto dito à 317 anos, leva-me em crer que a europa esteve fechada sobre si muito mais tempo do que o bom senso preconizava. Fechados em um horizonte mercantil e missionário os portugueses não obstante terem sido os primeiros a contactar com esse povo e essa cultura, abandonaram-se perante outras nações mais ávidas a enriquecer, sem passarem por essas privações de comer solas de sapatos para sobreviver; Havia já nesse então braveza de torpe aventura Tuga para desbravar terras desconhecidas mas, muito pouca habilidade a fazer negócios com diplomacia. Paulatinamente o poder do comércio foi sendo transferido para os judeus de Amesterdão, Antuérpia e o novo império da coroa Britânica com sua armada invencível. Portugal com três milhões de habitantes, tinha-se tornado um entreposto comercial de produtos (e gente), sendo os ganhos substanciais para Holandeses e Ingleses que, comprando a matéria-prima a granel, as especiarias, depois de confeccionada por eles, retornava a preços incomportáveis.

 Ontem um sobrinho meu gozando férias no mukifo dos fundos de minha casa com banheiro privativo e a custo zero, ficou intrigado com uma ducha instalada mesmo ao lado da sanita bem na ponta duma bicha maleável destinada a lavar rabos; pensando ele que era para dar banho ao cão, tive de dar explicações quanto ao seu benefício no seu uso, poupando também no espaço de um bidé antihigiénico lavando indistintas intimidades de homens ou mulheres. Logo nesse dia esse meu sobrinho excitado dirigiu-se-me: - Oi tio!... Aquilo funciona! É mesmo porreiro! Só que tem um jacto muito forte! Tomara, andei em todas as lojas á procura dum desses regadores e não encontrando tive de comprar uma ducha tipo jacto para regar jardim, ora leque, ora jacto ou regador só que eu tinha disposto o zingarelho na forma de jacto limpa pára lamas de carro! Desta forma o fiofó, seria limpo até às estrias mais interiores. Claro que tive de explanar esta questão do fiofó com suas 33 estrias e a que muitas vezes chamo amistosamente de forever porque falar de cu assim a seco é um pouco feio. Atento à minha explicação foi dizendo que teria de comprar uma coisa dessas para não mais passar vergonhas ao despir suas emporcalhadas cuecas! Que sofria de gazofagia, aerofagia ou lá o que era de distúrbios intestinais.

 Ontem Fábio traz-me uma novidade! Consegui comprar esse de limpa fiofó! Eu, que tanto tinha procurado, intrigado perguntei-lhe: - Aonde conseguiste arranjar essa coisa? Resposta: - Nos chinocas! E esta, tal e qual, bicha maleável, com chave dorsal, braçadeira de fixar na parede com parafusos e buchas na própria forma anatómica de limpar as estrias mais íntimas do forever! Claro que fiquei deslumbrado! Por isto e demais zingarelhos que trouxe de lá como parafuso de espetar areia de praia para prender chapéu, uma lanterna de luzes tipo very light recarregável, e outras mais, coisas talentosas. Extasiado, dou-me conta do quanto perdemos em todos estes 317 anos burilando os chinocas injuriando-os, ridicularizando-os em suas habilidades. Estes preconceitos antichineses deturparam-nos o bom sentido da vida e, dou-me agora conta que, nas contradições do óbvio, é ali que se encontram os sábios, os homens com talentos e luzes! A Europa já deu o que tinha a dar; corrompemo-nos até o tutano e não há como reverter a situação. Estamos estragados! No fim dum ciclo civilizacional! Agora, é tarde demais para copiá-los!

Ilustrações de T´Chingange

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:06
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Quinta-feira, 7 de Agosto de 2014
MISSOSSO . VI

NA ARÁBIA . NÃO RESISTO CONTAR ESTA… È TÃO VERDADEIRA QUE ATÉ PARECE MENTIRA

Tó, o garanhão

Missosso: Da literatura oral angolana, contos, adivinhas e provérbios com homens, monstros, kiandas de Cazumbi, animais e almas dialogando sobre a vida, filologia, religião tradicional e filosofia dos povos de dialecto quimbundu. Óscar Ribas foi o seu criador.

Por

 T´Chingange

Meu amigo Tó é um garanhão! tem de se ter cautela para não entrar-mos nas más graças do Tó porque ele, língua-de-trapo, põe a boca no trombone e tudo vira o que ele bem quiser! Eu, que não quero cair nas suas mazalengas, até estou com medo de vos contar esta mas, o que tem de ser é muito forte! Se porventura encontrarem este Tó, assim um senhor de seriedade na aparência e já um pouco entrado na idade, nada lhe digam que os rumores são efectivamente muito mais perigosos que os tumores. Pois, continuando, este meu amigo Tó... que é muito bem relacionado com magnatas de todo o mundo, foi à Arábia Saudita. Recebido pelo amigo Sheik Maumed Aki e, sabendo este do quanto Tó era perdido por odaliscas e odalascas, levou-o para a sua tenda Mor, aquela dos encantos Alibabázados.

 Nessa noite de cantos ondulados na cálida acalmia do deserto, assistiu a um show erótico de danças do ventre, uma coisa muito comum que os homens dali, têem de entretêm para espicaçar ternuras espaciais. Ao ver que o Tó estava a ficar nervoso o Sheik Aki disse-lhe: -escolhe a que quiseres, e faz-te á vida!!! O Tó não se fez rogado e, com bom olho, assim daqueles de xicululu, tipo turco, com sensores parapiscológicos de vibrar antenas normais em paranóicas, escolheu a que melhor lhe pareceu.!!! A Shakira. Não cabe aqui descrever tais escassas vestes e lantejoulas porque ele nada disso viu! Só viu o íntimo daquela m´boa torneada pelo rei dos reis que nem ele sabia, nem queria saber de tal monarca. Se, ele queria mesmo trepar o coqueiro, que interessava  a sua sombra; nestas coisas só interessa o que interessa!

 E claro, com o apetite aguçado não perdeu tempo!!! Mas a Shakira só dizia isnobidishe.!!! isnobidishe... Depois de um curto intervalo, pumba novamente em acção, e a garota gritava isnobidishe, isnobidishe, e o Tó pensava, deve estar a gostar para gritar tanto.!!! Rsrsrsr, descansou um pouco e novamente ao ataque; o Tó, era como disse, um garanhão! Um puro-sangue lusitano.!!!! A Belezura, novamente gritava ‘‘isnobidishe’’, e sempre que o Tó atacava ela gritava com o ISNOBIDISHE.! Assim foi piafora, pela noite fora. No outro dia, todo roto, Tó foi convidado pelo Sheik Aki para uma partida de GOLFE; Tó não podia recusar, além do mais relacionar-se-ia com a cambada do petróleo, cheia de caroço e, lá foi ele chambeta, mas armado sempre em bom,!!! Pois, fazer uma partida de Golfe (…).  A cada tacada que dava lá do fundo gritavam ISNOBIDISHE!!! Foi quando o Tó perguntou ao Sheik Aki: - Amigão, o que quer dizer Isnobidishe.??? A isto o Sheik Aki responde-lhe FORA DO BURACO.!!!!! Hehehehe

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:50
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Quarta-feira, 6 de Agosto de 2014
KWANGIADES . XVIII

MAIANGAFALAS ANTIGAS DO ZECA -UUABUAMA O QUE ESCREVES KKAMBA…

Por

 José Santos- Impregnado de paludismo duma especial estirpe kaluanda, Zeca colecciona n´zimbos das areias dum chamado de Rio Seco da Maianga, nosso antigo rio. Ele não quer acreditar que aquele tempo passou e agora, agora somos aves raras em extinção. Eu também não alinho nessa teoria do esquecimento e espero a todo o momento um passaporte diplomático para irmos à Luua. Eu e ele! Sentados, claro!

Tenho que ir nesse "RIO" que corre nessa cabeça que habitas. Quero ser baptizado por ti, quero ser teu discípulo e botar pregação com o teu livrinho de T´Ching, agarrado à mão por esses matos do Mundo. Há muito que sou inspirado por ti nesses teus belos "Missossos" do KIMBO LAGOA, que faço livro há muito e, eis-me aqui contigo nesse cazumbi que um dia nos juntou de novo, porque julgo que te conheço do tempo daquelas tremunos, deambulações pelo nosso bairro e nesse amor pelo Rio Seco da Maianga que um dia nos viu crescer. Na verdade estamos separados. Eu, neste M´Puto aos trambolhões e tu aí nessa terra de Vera Cruz de milhões de almas tão diferentes, tão cruzadas desse sangue meio lusitano, meio angolano lambuzado de baleizão kitoco com sotaque brasileiro de caramuru…

Mas, o Mundo está todo esfrangalhado em toda a parte; estamos separados, mas sinto que somos feitos do mesmo loando. Há um grito que ximbica no nosso coração de fazer missangas engasgadoras. Botas falas de injustiça na máquina de impressão para que todos as ouçam só feitas mesmo num estado de natural descomprometimento. É um sentimento, uma sensibilidade, o respeito pelo ser humano que se juntam e são banda que batucam nosso coração; uma fé que se abre na kubata do nosso coração; intransmissível! Não tem moda pimba nem banga de matumbo bem de vida. Sem adereços de bate palmas só pula como um zulu. Estudioso e, ao jeito de ermitão…, mergulha nas barrocas mais fundas do saber, para interpretar, saber ensaiar no mundo em que habita. Ele nem quer saber quem morreu, só chora… À partida não se preocupa com ismos, preocupa-se sim com a RAIZ que alimenta a árvore e muito cava para contar quantas são, como se alimentam, se são envenenadas por ervas daninhas que crescem do nada e fazem secar os seus veios de vida.

 Vejo-te transportado por uma tipóia de loando como um makota de Ambaca, por vezes, ou muitas vezes incompreendido e, até mal olhado… Na verdade, por vezes também me é difícil entender o que risco p´ra todos, do que vai no meu muxima e nesse linguajar que é BI no meu, nosso corpo. Para melhor compreenderem tenho feito Glossário do Kimbundu. Acreditem que já não sei escrever as minhas falas apenas com a pena molhada no tinteiro do Camões. Não é banga, nem saudosismo de matumbo esperto… É grande prazer e paixão. Muito lamento não ser mais dotado! Comigo é estranho, porque muito estudo e nunca mais consigo a licenciatura para virar um sábio, um mestre. Dizem que ultrapassei a idade e já não vale a pena! Que caduquei! Por isto tudo, e agora, vou fazer minhas férias no meu quintal com o livro do T´Ching debaixo de um coqueiro de plástico, dar gozo na minha barriga de Jinguba e balouçar na rede, jiboiar nas nossas lembranças tropicanas.

GLOSSÁRIO:
Missosso – conto popular;Atu/mutu - pessoas/a; NZambi - Deus; Malembelembe - muito devagar, com cautela; tremuno - jogo de bola de trapos; Uuabuama – maravilhoso; cazumbi -feitiço; loando – esteira feita de folha de coqueiro ou palmeira e atado com matebas, ximbica - rema com bordão; missanga – colar; batucam- dançam ao som do tambor; matumbo – burro, palerma; makota – chefe tribal, que tem poder; muxima – saudade, recordação

Adaptação das mokandas de Zeca

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:47
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Terça-feira, 5 de Agosto de 2014
MOKANDA DA LUUA . XXVIII

ANGOLA . No Cuneneziguezagueando as margens do Cunene…

PÁSSARO DE MEL

Por

   Dy - Dionísio de Sousa  (Reis Vissapa) 

O Unimog da brigada dos rios ziguezagueava as margens do Cunene deixando as esplendorosas quedas do Ruacaná para trás dirigindo-se para a foz do rio dos elefantes onde tencionavam montar o nosso acampamento. Por idade menor foi-me reservado o lugar da carroçaria e os meus gritos para o Monteiro Ferreira abrandar o andamento dando-me tempo para me desviar das espinheiras e manter o equilíbrio, se chegavam aos seus ouvidos ele não ligava peva. Quando estacionámos numa idílica clareira que marginava o rio cristalino, todos os arranhões das unhas-de-gato deixaram de arder com o bálsamo que aquele éden emanava. Os sivos competiam em beleza com os mutiátis e mulembas de porta altivo rodeando um círculo de terra perfeitamente calcado e acolhedor. Um frémito de prazer percorreu-me o corpo e o sangue parecia acalentar-me as entranhas. Ali estava eu aos dezassete anos deslumbrado com aquele paraíso perdido nas terras do Cuanhama. Os dias deslizavam fascinantes pelos meus olhos quando medíamos a profundidade do Cunene espiando-lhe os contornos do leito com uma vara hidrométrica. Vogávamos pelos seus braços num Zodiac pneumático rodeando ilhas de encanto e descendo rápidos imprevistos onde as águas saltavam em novelos de espuma alva. Verde de mil matizes coloria as margens povoadas de águias pesqueiras e íbis elegantes, e de longe em longe encontrávamos caíndes de invulgar delicadeza, desdentando-se nas águas frescas.
 O meu periclitante calendário precisava cerca de um mês naquele lugar onde a mão de Deus se esmerara. Aos fins de tarde descansávamos o corpo exausto nas cadeiras articuladas de lona verde usufruindo o fabuloso espectáculo de uma família de hipopótamos que desde o dia que ali havíamos chegado se instalara no remanso que distava meia dúzia de metros da margem. O macho e a fêmea brincando com a cria em cabriolas ágeis e surpreendentes para o avantajado dos seus corpos. – Vamos ter visitas – Murmurou o Ferreira, quebrando a magia do instante. – Achas? – Perguntou fleumático o Negrão. O Artiaga no seu habitual pragmatismo acrescentou. – Só se forem algumas muximbas que venham montar aqui as suas cubatas. Tirando as idas do Esteves ao Chitado para renovar o rancho, nada nem ninguém aparecia por ali. Uma avezinha graciosa batia asas pairando quase por cima das nossas cabeças, chilreando aflita como se quisesse comunicar algo. – É o pássaro-do-mel – Comentou o Alfredo com o cachimbo fumegante na boca. – Este aqui? - Sim esse que anda aqui por cima de nós. - E então? - Vem anunciar visitas. A descrença lia-se no olhar dos meus companheiros de brigada, mas ninguém ousava pôr em dúvida a experiência do Ferreira, no que dizia respeito a assuntos de mato. - Se calhar. - Disse o Blandira. O experimentado caçador remeteu-se a um mutismo próprio dos homens que conheciam África e os seus segredos, só quebrado pelo Boa noite, durmam bem. - Quando nos fomos deitar.

  O pássaro-do-mel não mentira ao Alfredo. Tivemos na realidade duas visitas em vez de uma. Por volta das quatro da manhã uma restolhada assustadora pôs todo o mundo fora das tendas num abrir e fechar de olhos. O Monteiro estava cá fora com a Winchester 73 que o Jonh Wayne usara no filme do mesmo nome e que nós chamávamos de “Trinta x Trinta”. – Elefantes!... Murmurou baixinho para mim. – Onde estão? - Não os ouves? – Oiço mas não vejo! Mas eles vêem-te podes crer! Não foi grande ideia ter montado o acampamento no trilho deles, … NMão estão nada satisfeitos! – Mas foi o Alfredo que escolheu este lugar. - Pois foi isso que o pássaro de mel me veio dizer. – Retorquiu! Os elefantes ainda reclamaram por algum tempo a sua passagem, mas a fogueira ainda flamejante e o barulho que fizemos levou-os a irem beber ao rio por um atalho. Já o sol se aproximava do meio-dia quando o Comandante Reis chefe da Brigada dos Rios chegou ao acampamento numa visita inesperada.

 No advento da televisão e do telemóvel lembro-me vezes sem conta do meu Pássaro de Mel. Espero ansioso que ele me faça uma visita alertando-me para uma manada de elefantes que vêm repreender-me por ter feito o meu acampamento no sítio errado. Acho que o Monteiro Ferreira os levou a todos para parte incerta, pois tal como eu não gostava de telemóveis. Por onde andará ele agora, mais os elefantes e a alegre família de hipopótamos que moraram ao meu lado quando eu tinha dezassete anos, lá longe no Cuanhama.

Reis Vissapa

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:10
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Segunda-feira, 4 de Agosto de 2014
XICULULU . LIV

BANCO ESPÍRITO SANTO ANGOLA - O  caricato caso do BESA!

Xicululu: - Olhar de esguelha, mau-olhado, olho gordo, cobiça

Por

 T´Chingange

VICE-PRESIDENTE DO MPLA RECUSA-SE A DEVOLVER EMPRÉSTIMO DO BESA

A cúpula do regime do MPLA, um clima de inquietação em função de um apelo presidencial que se destinou em encorajar membros da entourage que beneficiaram de empréstimos milionários, no Banco Espírito Santo de Angola (BESA), a estudarem modalidades de devolução dos créditos. Pois é! O Vice-Presidente do MPLA, ROBERTO DE ALMEIDA que terá recebido o crédito de 10 milhões de dólares que aplicou na construção de um edifício no terreno ao lado da sua residência na Rua Rei Katiavala, da LUUA, terá dado sinais de desentendido alegando que julgou que o dinheiro teria sido uma oferta.

 Ao todo, o BESA emprestou 5,7 mil milhões de dólares a conhecidas figuras do regime angolano, incluindo vários membros do Bureau Político do MPLA que alega ter perdido rastos. Há suspeitas de que 745 milhões foram parar às mãos de ÁLVARO SOBRINHO, presidente daquele banco até 2012. Em meios informais, insinua-se que uma “Joint” ligada a empresaria MARTA DOS SANTOS, irmã do PR, em parceria com um construtor português JOSÉ GUILHERME, terão recebido cerca de 800 milhões de dólares de crédito, que aplicaram na construção de um conjunto de edifícios na rua onde se situa a Universidade Óscar Ribas, no TALATONA, em LUANDA. No sentido de salvar o BESA, do referido buraco financeiro, o Estado angolano emitiu uma garantia soberana de 5 mil milhões - cujos termos exactos não são conhecidos. Ao mesmo tempo as autoridades aplicam-se no sentido de ocultar nomes dos devedores a fim de evitar escândalos públicos.

 FESTA DE LUXO EMBARAÇA O GENERAL NUNDA... LISBOA - O gabinete do chefe de Estado-Maior General das FAA, general Geraldo Sachipengo Nunda, tem registado alguma tensão nos últimos dias com a exposição pública do seu director-adjunto de gabinete, o brigadeiro Miguel Ramos, como um indivíduo multimilionário. O BRIGADEIRO MIGUEL RAMOS deu uma festa de luxo e pagou à revista "PEOPLE" para divulgar o seu 50ª aniversário. O brigadeiro foi capa de revista tendo-se apresentado como "GENERAL". A exposição desatou as más-línguas do Ministério da Defesa que têm manifestado descontentamento pela forma como o general Nunda, se associa a negócios escusos com o referido brigadeiro, para a provisão de equipamentos às FAA, como veículos. Uma vez milionário, o brigadeiro passou a olhar o seu superior apenas como um sócio minoritário. É o brigadeiro MIGUEL RAMOS quem praticamente controla as finanças do Estado-Maior. De realçar que o general NUNDA sempre manteve uma imagem de modéstia, não associada aos escândalos de saque do exército, porém o carácter extravagante do seu subordinado e sócio ameaça expô-lo como apenas mais um general que se aproveita da baderna do exército para enriquecimento ilícito.

 

 Caros Amigos: Mão amiga endereçou-me a informação que vos estou a enviar. O curioso é que este "Vice" ROBERTO DE ALMEIDA, conheci eu como discreto empregado do Banco Totta Standard de Angola, a trabalhar rotineiramente no Sector de Conta Alheia (letras à cobrança). Muito calado dava para ver que tinha ambições de fazer algo mais importante, logo que tivesse oportunidade. Creio que ele tinha alguns estudos em direito. A verdade é que quando aconteceu a descolonização o fulano foi o primeiro Presidente da Assembleia, composta por gente do MPLA. Ora na época todos em Angola era pró-comunistas, todos eram anti tudo. Também deviam ser contra o capital, mas aí...não creio que lhes faltasse apetite pelo dinheirinho. E eis-me agora a constatar que o ex-revolucionário ROBERTO DE ALMEIDA, como quem não percebe nada de Bancos, passou pelo BESA, meteu ao bolso a grossa maquia que é referida na notícia, mas, vejam só...PENSOU QUE ERA OFERTA, o simplório!

 E o pior é que o que ele fez foi replicado por uns tantos mais do aparelho político reinante, que, sabe-se lá com cobertura de quem, consideraram o BESA a Misericórdia lá do sítio, e sacaram milhões de milhões! Como é que isto foi possível? Que país é aquele e por que leis se rege? Quanto ao JOSÉ GUILHERME, pessoa próxima de Massamá e Amadora, sei que era empresário de construção de alguma dimensão, mas quando leio o volume das obras adjudicadas em Angola até me assusto, não o julgava capaz de se meter em tanto. E se foi com cunha do Salgado que ele lá conseguiu adjudicações, começo a achar razoável que tivesse dado "um regalo" ao padrinho! Não é dito se o JOSÉ GUILHERME pagou o empréstimo dos 800 milhões ao BESA, ou se também se abotoou! Quem estiver ligado ao desporto lembra-se que há uns bons anos atrás, apoiou alguém, que não recordo, à presidência do BENFICA.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:26
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Domingo, 3 de Agosto de 2014
CAFUFUTILA . XLIIV
TEMPOS ANTIGOS . UM EMBONDEIRO NA LUA

 

Kafufutila / kifufutila : Farinha de bombô com açucar.

Por

 T´Chingange

Meu amigo Quissange foi para a guerra e passou-se! Por abandono de todos, virou cantor repentista. Naquele tempo de lucidez ele chamava-se de Céu dos Santos, agora,... Só tinha nuvens com ele. -Como é Kota, quando voltas à EIL da Luua? Luanda, não sabemos se anda ou se foge! Neil Amstrong aterrou ali, aonde existem morros com o nome da Cruz, dos Veados e da Lua; precisamente aonde Amstrong deixou a sua marca. Quissange, meu amigo da EIL, cantor de banga, fala assim para mim e jura por N´zambi, tê-lo visto pulando com uma bandeira de riscas e estrelas. Tu tens a certeza? Perguntei-lhe.

 Quissange  com seus  pés calejados, suportam com gretas espalmadas um corpulento negro; aquele corpo, de baixo acima, está por demais maltratado; carregava o mapa-mundo pintado de mazelas de guerras, escaramuças da mata. Quissange, espumando vontade de vida, tentava fazer-nos querer filosofias de cachipemba misturada com liamba em sabedoria de quimbanda. Saído do seu sítio por força da guerra, só viu o tempo passar; de luta em luta, desbravando bissapas na busca duma mulola ou chimpaca com pau de mandioca mas, só desconseguiu! Entretanto eu fui para o M´Puto! Ele não vivia; estava metido num corpo cheio de riscadas lembranças de filária, matacanha e maus-tratos de quimbombo e bamga-sumo. Até que um dia já passado da moleirinha visionou um homem saltando nas barrocas dum além Mussulo; sem saber, estava assistindo ao primeiro passo do homem na Lua. Acabada a guerra, largou a arma e entreteve-se na cantoria com um instrumento de sofisticada tecnologia Quissange não é nome de gente mas, ele só queria mesmo ser tratado assim! Quissange, instrumento composto de ferrinhos de comprimentos diferentes, atados a uma galocha de madeira, chispados na ponta com os dedos, davam uma tonalidade mística que só África pode transmitir.

        Mas,... Este Quissange, era gente e tocava um instrumento que ele mesmo inventou. Tal inventação tomou o nome de Korimba e, com ele começou a ganhar algum dinheiro. Um pau atravessava uma lata de azeite galo vazia, na ponta saem uns chinguiços, nos quais ficam amarrados três fios de nylon que vão envolver um pedaço de ripa grampeada na lata. Tinha muito orgulho nesse invento. A partir dali, Quissange, deixou de ser um qualquer desclassificado!  Dizia ele sem saber do seu verdadeiro estado de maluquinho da silva! Passou por isso a ser o Quissange-show. Percorria a praia de cabo a rabo, voltava entretanto e sempre tocando o seu instrumento ia obtendo umas moedas de gasosa; essas gorjetas, faziam-no ultrapassar carências fundamentais. Sua família, ele nem sabia o que lhe sucedera ou talvez tivesse sido mesmo abandonado ao vento.

 Para uma vida a sério, era mesmomesmo necessário uma grande logística. Quissange por usufruto das calamidades contava coisas que só ele mesmo sabe.   Dedilhava as cordas de nylon com gargalos de Cuca enfiados na ponta de dois dedos; em cada mão tinha cinco mas, enquanto que na direita usava os tais dois, a esquerda corria com todos ao longo de parte do pau, amarrando o nylon a este. No fim da cantoria abria a boca de beiçolas espantadas e, sorria com os dentes todos; Quissange pessoa, com sons  de guerra, fantasiava-me segredos, concebidos no Mussulo em sucumbidas vontades. Nem sei como ainda se lembrava da EIL aonde andamos juntos no ciclo preparatório! Faltou-lhe um pouco de muita sorte para ser o próprio Neil Amstrong.

 Na minha última ida à Lua em 2005, encontrei o agora afamado Quissange-show na rua Marian N´gouabi. Disse-me que no presentemente tudo estava virado ao contrário, como embondeiro de raízes para o céu. Mais velhos, eu e ele, reciclávamos passados. Ninguém o levava a sério! Sóeu lhe dava uma esmerada atenção! Dizia ele:- Kota, ouve só. Queres ver?... -  Os brancos agora, chamam-se N´dumduma, Mangumbe, Chassama, Pepetela, Liuanhuca, T´chingange. Os pretos são José Eduardo dos Santos, Agostinho Neto, Fernando Dias dos Santos, Jorge Valentim” etecetera. - Como é Kota, quando voltas à EIL? O tempo dele tinha sido retido naquele tempo de gajajeira e tamarindo. Naquele dia muito de triste dei-lhe de gasosa todos os kwanzas que tinha no bolso; fui à cervejaria Sagres em outros dias mas nada de Céu dos Santos! Escafedeu-se nas suas nuvens!

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:06
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Sábado, 2 de Agosto de 2014
MOKANDA DO SOBA . LVIII

TEMPOS FRIOS . Na praia do Vau no M´Puto

Por

  T´Chingange

Num dia de verão, 30 de Julho, fui á praia do Vau apanhar iodo e, vim de lá com ódio; um quase igual, invertido! Tudo isto porque tomei banho de frio com um cacimbo de barlamentada brisa em horizonte fechado. Pelas 12 horas o sol despontou! Quando o cós do céu aconchegando o baço azul e branco do fumo das nuvens a traço vermelho na pele da loira, puxou meus olhos ao seu corpo desnudo. Foi assim! No preciso momento em que ela puxou o fio de nylon até o meio das pernas! Toda a sua pele num repentemente, ficou dentro de mim com algas ensombrando minha vontade e, foi quando de novo, o céu se fechou num escurecido e ventoso desejo calado, atormentando minha chuvinha.

 Olheio meu relógio para ter a noção de falsidade de suas horas; suas horas não definiam nem o meu tempo nem as minhas sensações; não tinham íntimo, nem tino, nem sonhos! Meu silêncio, muito cheio de calor, afogou-me o afago aos berros de um anunciante duma tourada numa próxima cidade, Albufeira do Alá, terra moçárabe, terra do Aladino com suas misteriosas fumarolas dispersas, exactamente na altura em que o restolho de algas pulou na retina dos meus olhos colados na pele da loira. Nos semi-sorrisos olhares da loira, seu corpo atravessou meus túneis disfarçados de vergonha. Uma lontra branca, condoído dela, ronronava feita gata ao redor de seus lânguidos cabelos.

 Na quietes de meu corpo, no despertar do meu dormido prazer, tive medo dos olhos dela, medo verdadeiro dum dolorido azul sem fingido sentimento. Suas rugas gemidas entraram-me no sangue. Vendo-a chorar, ganhei coragem e aproximei-me dela. - Posso chorar consigo? Perguntei-lhe! Queria viver no amor dela e, ela fascinada com meu gesto, mostrou-me seu grande amor, ... O mar! Seu nome era Brigitte Bardot.

 Brigitte Anne-Marie Bardot foi uma actriz francesa conhecida mundialmente por suas iniciais, BB e considerada o grande símbolo sexual dos anos 60 do século XX. Após ter-se retirado do mundo do cinema, tornou-se activista dos direitos dos animais. Roger Vadim, sem marido de então, fez dela o Ícone de popularidade após protagonizar o polémico filme E Deus Criou a Mulher. A intelectualidade francesa descrevi-a como "uma locomotiva na história das mulheres", tendo sido considerada em França, a mulher mais livre do Pós-Guerra. Seu estilo natural, incorporava-a a uma mistura de ninfa de femme fatale, com seus cabelos longos e loiros.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:08
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Sexta-feira, 1 de Agosto de 2014
XICULULU . LIII

ORIGEM DO NOME LUANDADepois da batalha de M´Bwila - III

Xicululu: - Olhar de esguelha, mau-olhado, olho gordo, cobiça

Por

 T´Chingange 

 Na batalha de Ambuila (Mbwila) o rei do N´Kongo com uma força de 25.000 homens fez frente ao exército português comandado por Luís Lopes de Sequeira; este, era composta por 450 Mosqueteiros e duas peças de artilharia. Também havia soldados do Brasil, nativos americanos, bem como de M´Bangalas, grupos de guerreiros do Kasanje Unido e outras forças africanas, somando cerca de 15000 soldados. N´kanga participou com armas nesta batalha, mas como os portugueses estavam bem equipados de armas de fogo, acabaram por vence-lo provocando-lhe grandes baixas. Isto sucedeu no dia 29 de Outubro de 1665. O rei António Vita N´kanga foi decapitado e, sua cabeça levada para Loanda como troféu e muitos prisioneiros. Esta vitória do M´puto foi festejada em todas as igrejas católicas do reino de N´Kongo, de M´pungu a N´dongo e no M´puto, através dos tempos.

 Os Tugas tudo fizeram para dividir os kimbundos dos Bakongos mas, a história confirma que os kaluandas ou luandinos são Bakongos.Com a reconquista de Angola e a expulsão dos Holandeses, os chamados Mafulos, no ano de 1648 pela esquadra Luso-brasileira comandada por Salvador Correia de Sá e Benevides, o nome da cidade foi mudado para S. Paulo de Assunção de Loanda em memória de Nossa Senhora do mesmo nome a 15 de Agosto de 1648; esta data passou a ser dia feriado municipal sobre o domínio Português.

 Nesse então já havia pombeiros que pactuavam com sobas da região de onde traziam “peças” para negociarem em Loanda. A troco de panos libongos adquiriam-se as “peças”, escravos, que eram depositados nos barracões do Maculussu em Loanda ou eram dirigidos para Benguela mais a Sul. Ocorreram várias revoltas contra estes actos esclavagistas tendo-se salientado nesta insubmissão às leis dispersas os sobados de Kissama e Dembos que, entretanto protegiam os fugitivos do antigo N´Dongo, que passou a ser conhecido por N´Gola no interior da Matamba, hoje conhecido por Malange, Pungo-Andongo, Ambaca e Kassange. Também se refugiavam ali as gentes acossadas dos matos mais distantes do Kuvale vindas do planalto central, lugar de muita chuva e boas terras de cultivo.

 Só em Abril de 1927 é que Loanda passou a se designar de Luanda por sugestão do historiador Padre Ruela Pombo e demais elite intelectual da altura. Durante centenas de anos Luanda foi somente um aglomerado de casas chamando-se aos sítios nomes que caíram em desuso. Existia o lugar da Kipaka, aonde se veio a construir a estação ferroviária junto ao Bungo e Caponta (porto de mar); A Nazaré aonde se encontra a capela do mesmo nome, Mutamba, Kafaco, Mazuica, Katomba, Maculusso, Ingombotas, Katari, Quitanda, Coqueiros, Misericórdia, Maianga e Samba   

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:25
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QUEM SOMOS
Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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