Terça-feira, 30 de Junho de 2015
MUXOXO . XII

O CHOQUE PRESENTE Mas que é isto! Perderam as estribeiras!...  Carta Aberta a um MENTECAPTO (João César das Neves) - VAI À MERDA, JOÃO! VAI À MERDA!  Mas isto é assim!...

As escolhas de T´Chingange

Por

paz3.jpgCARLOS PAZ, PROFESSOR UNIVERSITÁRIO NO ISEG

paz5.jpg Meu Caro João, ouvi-te brevemente nos noticiários da TSF no fim-de-semana e não acreditei no que estava a ouvir. Confesso que pensei que fossem “excertos”, fora de contexto, de alguém a tentar destruir o (pouco) prestígio de Economista (que ainda te resta). Mas depois tive a enorme surpresa: fui ler, no Diário de Notícias a tua entrevista (ou deverei dizer: o arrazoado de DISPARATES que resolveste vomitar para os microfones de quem teve a suprema paciência de te ouvir). E, afinal, disseste mesmo aquilo que disseste, CONVICTO e em contexto. Tu não fazes a menor ideia do que é a vida fora da redoma protegida em que vives: - Não sabes o que é ser pobre;- Não sabes o que é ter fome;- Não sabes o que é ter a certeza de não ter um futuro.

dia20.jpgPior que isso, João, não sabes, NEM QUERES SABER! Limitas-te a vomitar ódio sobre TODOS aqueles que não pertencem ao teu meio. Sobes aquele teu tom de voz nasalado (aqui para nós que ninguém nos ouve: um bocado amaricado) para despejares a tua IGNORÂNCIA arvorada em ciência. Que de Economia NADA sabes, isso já tinha sido provado ao longo dos MUITOS anos em que foste assessor do teu amigo Aníbal e o ajudaste a tomar as BRILHANTES decisões de DESTRUÍR o Aparelho Produtivo Nacional (Indústria, Agricultura e Pescas). És tu (com ele) um dos PRINCIPAIS RESPONSÁVEIS de sermos um País SEM FUTURO.

fifa3.jpg De Economia NADA sabes e, pelos vistos, da VIDA REAL, sabes ainda MENOS! João, disseste coisas absolutamente INCRÍVEIS, como por exemplo: “A MAIOR PARTE dos Pensionistas está a fingir que são Pobres!” - Estarás tu bom da cabeça, João? Mais de 85% das Pensões pagas em Portugal são INFERIORES a 500 Euros por mês (bem sei que algumas delas são cumulativas – pessoas que recebem mais que uma “pensão” -  mas também sei que, mesmo assim, 65% dos Pensionistas recebe MENOS de 500 Euros por mês). Pior, João, TU TAMBÉM o sabes! E, mesmo assim, tens a LATA de dizer que a MAIORIA está a FINGIR que é Pobre? Estarás tu bom da cabeça, João? João, disseste mais coisas absolutamente INCRÍVEIS, como por exemplo: “Subir o salário mínimo é ESTRAGAR a vida aos Pobres!”- Estarás tu bom da cabeça, João?

dia15.jpg Na tua opinião, “obrigar os empregadores a pagar um salário maior” (as palavras são exactamente as tuas) estraga a vida aos desempregados não qualificados. O teu raciocínio: se o empregador tiver de pagar 500 euros por mês em vez de 485, prefere contratar um Licenciado (quiçá um Mestre ou um Doutor) do que um iletrado. Isto é um ABSURDO tão grande que nem é possível comentar! - Estarás tu bom da cabeça, João? - João, disseste outras coisas absolutamente INCRÍVEIS, como por exemplo: “Ainda não se pediram sacrifícios aos Portugueses!” - Estarás tu bom da cabeça, João? - Ainda não se pediram sacrifícios?!? - Em que País vives tu, João? Um milhão de desempregados; mais de 10 mil a partirem TODOS os meses para o estrangeiro; empresas a falirem TODOS os dias; casas entregues aos Bancos TODOS os dias; famílias a racionarem a comida, os cuidados de saúde, as despesas escolares e, mesmo assim, a ACUMULAREM dívidas a TODA a espécie de fornecedores.

cacu6.jpg Em que País vives tu, João? Estarás tu bom da cabeça, João? - Mas, João, a meio da famosa entrevista, deixaste cair a máscara: “Vamos ter de REDUZIR Salários!” Pronto! Assim dá para perceber. Foi só para isso que lá foste despejar os DISPARATES todos que despejaste. Tinhas de TRANSMITIR O RECADO daqueles que TE PAGAM: “há que reduzir os salários!”. Afinal estás bom da cabeça, João. Disseste TUDO aquilo perfeitamente pensado. Cumpriste aquilo para que te pagam os teus amigos da Opus Dei (a que pertences), dos Bancos (que assessoras), das Grandes Corporações (que te pagam Consultorias). Foste lá para transmitir o recado: “há que reduzir salários!”. Assim já se percebe a figura de mentecapto a que te prestaste. E, assim, já mereces uma resposta: - Vai à MERDA, João!

Um Abraço, Carlos Paz

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:50
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Segunda-feira, 29 de Junho de 2015
MALAMBAS . XC

TEMPO COM FRINCHAS . Sinto-me palhaço no particípio passado mas, vou fazer o quê!…

Por

soba0.jpegT´Chingange

isl00.jpg O ar está a mais de 30 graus, as cigarras algarvias riscam no ar sua permanente cantoria quente e opressiva; as rolas gemem do cipreste num exercício de respiração flutuando-me no sufoco de antigos sonhos, de quando jovem com electricidade estática e muito preenchido de interferências extras e externas. Neste agora e mais caduco, noto que até o cão trinca imaginárias pulgas batendo dente com dente para catá-las. Vêem ao de cima os minúsculos insectos da alma com penosidades não esclarecidas. Ouço o trote de dois cavalos que batem ferraduras no asfalto, zumbidos de carros a unirem-se aos de meus ouvidos e latidos de cães que farejam estes nos quintais de seus donos.

isl0.jpgÉ a tarde que cai, foguetes de Estômbar ou Silves anunciando folguedos da noite, o assustar de diabos moiros sem sonhos de cristãos velhos, turistas avermelhados, queimados e, elas cheirosas com vestes de suavidade nas condições folgadas da atmosfera, propicias à noite, a engate, ao latejar duma vida ou ilusão dela, na descoberta de gestos novos e olhares reluzentes afastando os gestos de enfado e da estupidez. Trocando memórias comigo mesmo, de repente sinto que nem todos os turistas estão num paraíso como este. Só hoje, noticiaram mais de trinta mortes numa praia da Tunísia. Tudo estava calmo naquela praia mediterrânica quando num repente, um diabo saca de uma kalashnikov ak 47 e dispara aleatoriamente para todos.

isl01.jpgComo saber num dado instante se se está no paraíso ou no inferno? Umas pessoas tomavam sol, outros, chá ou whisky, de repente surge a morte no meio de ingénuas vontades de viver a vida; ir ate lá tão longe para se morrer e, só para nos lembrar que a vida é frágil. Num ái não planeado tudo se foi para quem foi, na mira de um diabo que não obstante provocar movimentos de emigrantes saídos do norte de África, vêm pintados de islâmicos com a simples estratégia de matar vidas; fragmentos de vozes, risos, o barulharem na água ou batendo na areia, carregando o que há de frenético e ansioso como estas mesmas cigarras daqui do Algarve.   

isl2.jpgO cheiro vermelho da morte chegou ali sem o tal de perfume adocicado, algodão com fruta esbranquiçada, das memórias limpas que correm à frente da chuva. Abanei a cabeça para afastar estas imagens que são só uma vaga, fragilidades ou forma de minha eternidade. Também lá estava uma professora portuguesa de música. Serão agora muitos lá num indefinido salão conferenciando com S. Pedro, com S. Paulo, trocando memórias, bebendo chás, comendo biscoitos com cheiro de alecrim. Será que o anjo da verdade lhes apareceu? Que lhes explicou os porquês? Quem fala não sabe; quem sabe não fala. No fim de tudo um apagão, um silêncio, não se é nada!...

O Soba T´Chingange   



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:53
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Domingo, 28 de Junho de 2015
MUSSENDO . XVII

MUSSENDO DO M´PUTO - O que tem de ser tem muita força - Milagre de S. Gonçalo de Amarante...

Por

eça1.jpgAntónio Eça Queiroz - Filho de José Maria Teixeira de Queirós, nascido no Rio de Janeiro em 1820, e de Carolina Augusta Pereira d'Eça, nascida em Monção em 1826(Póvoa de Varzim, 25 de novembro de 1845Paris, 16 de agosto de 1900) é um dos mais importantes escritores portugueses de sempre. Foi autor, de romances de reconhecida importância, de Os Maias e O crime do Padre Amaro

 

eça02.jpgValdemira Gomes do Ó ou Mirita, como todos a conheciam em Tagilde, onde geria com pulso de ferro um minimercado com tasca associada atravessou a ponte sobre o Tâmega em direcção à bela Igreja de S. Gonçalo, onde entrou animada de plano concreto. Já dentro do rico templo procurou a pequena capela do santo, que à hora do almoço não apresentava grande movimento apesar daquele primeiro domingo de Junho ser a sua festa anual. Junto ao túmulo de calcário polícromo apenas duas mulheres rezavam, tocando o monumento umas vezes com as mãos, outras com a cabeça. Mirita esperou, de joelhos no chão. A seu lado, no interior de um saco colorido feito em espesso tecido bordado com motivos florais, descansava um outro saco de plástico transparente bem cheio de Doces do Santo, uma espécie de cavacas de Resende de formato inequivocamente fálico. Ela e o marido iriam nos dias mais próximos ter por sobre a mesa exclusiva os conhecidos “Caralhos de S. Gonçalo”.

eça03.jpgMas faltava o principal, de acordo com os conselhos da mulher de saber que consultara há duas semanas na Portela do Gove: devia esfregar a testa do corpo no túmulo do santo, mas sem qualquer roupa em cima… Por isso viera sem cuecas. Restava aguardar o momento em que a capela não tivesse ninguém, então iria erguer a saia, esfregando de seguida a felpuda intimidade no calcário pintado que cobria e alindava o túmulo do santo padroeiro de casadoiras e inférteis de longo curso. Finalmente o momento chegou. Ninguém à vista! Mirita levantou a saia que escolhera, larga e apropriada à ousada manobra e, cheia de cuidados, esfregou uma e outra vez a testa do sexo no vértice já um pouco gasto do velho túmulo, ao mesmo tempo que murmurava a ladainha que a Bruxa de Eiriz, como era conhecida a sua mulher de saber, lhe indicara por conveniente.

eça6.jpgNa sua devoção paroxística nem deu pela aproximação de uma outra mulher, bem mais velha, que a assustou com um comentário trocista: - Ó santinha…, deixe-se lá disso, carago… Olhe que não vão ser essas esfregadelas que a vão ajudar, isso é garantido… Mirita, que baixara num repente o largo vestido e se apressava a ganhar alguma compostura no meio de uma coradela que não enganava ninguém, apressou-se a ripostar uma quase irada e gaguejante pergunta: - E quem é você para saber se funciona ou não?… Sou parteira diplomada, Genoveva Pires ao seu dispor… Mas diga-me só uma coisa: - Já fez algum teste de fertilidade?… - Já fiz sim senhora! O doutor disse que eu não tinha nada estragado… Então a diplomada Genoveva pediu-lhe para a acompanhar para fora da igreja, pois tinha algo de muito importante para lhe dizer.

eça01.jpgJá cá fora, no parque lateral ao convento, mesmo em frente ao Museu Amadeo de Souza-Cardoso, as duas encontraram poiso calmo e relativamente distante de ouvidos alheios. Genoveva Pires foi direita ao assunto: - Minha santinha, se você não tem nada estragado… então quem está estragado é o seu homem. Ele porta-se bem no serviço? … Que sim, que era um animal completo, que não a deixava em paz noite nenhuma… A não ser quando apanhava grossa carraspana. Mas, acusava-a de não lhe dar filhos, um que fosse, e ela que bem queria, pois seria maneira dele a deixar em paz por uns tempos, ao menos… - Então é porque tem os leites estragados…, disse a diplomada em tom professoral. Que não podia ser, que nem lho poderia dizer, que a matava, que lhe fugiria, lamentava-se Valdemira Gomes do Ó, com lágrimas fáceis a inflamar-lhe já as vistas. O conselho da diplomada parteira chegou seco e pesado com um relâmpago do estio:- Arranje outro macho para o serviço… Mas longe daqui, que não seja conhecido… E faça a parte de comer os doces, e diga ao seu homem que veio à igreja esfregar-se, que ele assim achará que foi mesmo milagre…

eça04.jpgDa imediata reacção furiosa de Mirita resultou o fim da entrevista, com a parteira Genoveva a bater em retirada no meio de comentários pouco abonatórios à inteligência da putativa mãe frustrada. À falta de melhor, a gerente comercial de Tagilde voltou à igreja em busca de consolo no confessionário. Cinco meses se passaram, assim como muita água do Tâmega correu por baixo da velha testemunha granítica de napoleónicos esforços e galopes liberais ou absolutistas. Num início de tarde outonal, Valdemira do Ó, saía do restaurante “Zé da Calçada” apoderada do braço de um homem atarracado que se esforçava, de forma quase hostil para terceiros, por protegê-la de qualquer encontrão do muito povo que animava as ruas. A protuberância ventral que Mirita exibia não deixava dúvidas: estava grávida, muitíssimo grávida!…

eça5.jpgO casal encaminhou-se para uma Toyota Hiace, onde o homem, com cuidado extremo, ajudou a mulher a subir e a instalar-se comodamente no lugar do passageiro. Depois, ligando o rádio e beijando-a com carinho evidente, rumou à Igreja de S. Gonçalo. Mirita cabeceava de sono quando um leve toque no vidro da Hiace a fez despertar para uma incómoda realidade: do outro lado, com um sorriso de frincha negra, a parteira diplomada fez-lhe sinal para descer o vidro. Não querendo escândalo, a gerente comercial de Tagilde lá acedeu em descer o vidro, para de imediato ouvir um sonoro «Ahhh!…». - É, respondeu Mirita secamente. - E?…, Perguntou a parteira Genoveva. - Oh!…, Não lho vou dizer, carago… - Diga-me só se é de longe, minha filha. Não lhe quero mal nenhum, e por isso é que lhe pergunto se não é daqui… Porque, veja bem, se for daqui e tiver mais filhos, ainda pode acontecer uma coisa que você nunca quereria… Imagine que tem uma menina e ela, daqui a 20 anos, se apaixona por um meio irmão que não conhece?…

eça2.JPG- Bem…, começou a medo a futura mãe, ele não é daqui mas tem vivido por aqui… - Eu sei tudo sobre os pais e os filhos desta cidade e arredores…, bem, de quase todos!… Diga-me só quem é, para sabermos se há algum risco. Pela minha honra que nunca falarei no assunto… Mirita corou como uma romã madura e bem aberta, antes de garantir que não havia perigo nenhum: … É o padre!… Genoveva Pires deitou por momentos as mãos à cara, antes de declarar o seu espanto: - Ai então não há perigo por ser o padre?!… Pois olhe que agora é que o perigo é grande, mulher!… É que nem eu lhe conheço os filhos todos, carago… Eu bem lhe disse que isso era para se fazer longe daqui, santinha!… A conversa desfez-se ali, o vidro subiu lentamente, com o mesmo vagar com que a diplomada se afastava da Hiace. O atarracado marido regressava, de sorriso estampado no rosto. De longe ainda, apontou para um transparente saco repleto de “Caralhos de S. Gonçalo”. Ao entrar no furgão anunciou com felicidade evidente: - Hoje até me confessei!…

Autor: António Eça Queiroz (com algumas actualizações de T´Chingange)

Ilustrações de Costa Araújo Araújo

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PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:56
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Sábado, 27 de Junho de 2015
MUXIMA . XLIII

NUM TEMPO COM CINSAS  - Trocadilhos com bugigangas vindas de N’Dalatando …

Por

soba0.jpg  T´CHINGANGE - Nasceu em águas internacionais num vapor chamado Niassa. É cidadão do mundo, Angolano na diáspora - Mazombo por condição; anda pelo Mundo à procura de si mesmo! Sente-se e respira Angolano, tem cédula de Brasileiro e B. Identidade do M´Puto. Por vezes anda por África entre os bichos às arrecuas para fugir à regra, um paradigma novo, só dele.

alhinho.jpgEstava relembrando meu esquecimento, coisas estapafúrdias com interrogações a servir de vírgulas quando me surge Januário Pieter, como sempre velho e frágil com um traje de popelina branco, largo e por cima de uma balalaica amarelada. Sinceramente não pensava encontrar por aqui em terras do M´Puto este muito mais-velho amigo, mais velho que a sé de Braga, uma kianda que tudo indica nasceu no N´Dondo no tempo em que os Tugas por ali desbravavam terras de Cambambe, procurando ouro e prata e, também traficando gente a troco de bugigangas vindas de N’Dalatando e lugares ainda mais a norte; Sobas matumbos, que ali vinham trespassar gente escrava, os restos das batalhas entre kimbos por troca de quimbombo e aguardente e, que depois eram levados para as terras do açúcar, terras de Vera Cruz.

cacu1.jpgClaro que lhe dei um abraço prolongado e, porque o não fazia aqui em terras do M´Puto a metrópole antiga, agora demasiado enferma e, nos Algarves, perguntei-lhe: -Que fazes aqui meu kamba? Estava fazendo tempo para deglutir interrogações desta figura que criei lá nas lonjuras da Matamba! Ele olhou de soslaio para mim, olhos raiados de sangue como daqueles de noite mal passada, carregados de fumanças aliambadas, testa engelhada e, devolve-ma a mesma pergunta como se fosse um eco: - E tu, porque está aqui? Este encontro surpresivo começou assim como um empecilho, sem iniciativa de preliminares sustentáveis - Vou movendo-me no esquecimento do mundo! Falei assim a ele enquanto removia os fusíveis do raciocínio fazendo-lhe uma pergunta mais crucial! Ambos, e não sei porquê, tínhamos perdido a ansiedade de tempos antigos!

besanga0.jpgEle para mim: -Tu vieste de Angola naquele iate do Edú, diz isto apontando a outra margem do Arade de onde se desprendia um merengue de kuduro meio fungoso? - Andas a fazer figas na política n´dele? -Passaste-te para o inimigo n´dele? Eram três perguntas, 3 em um, de uma só resposta! Que merda é essa, exclamei eu! Nunca fui com a cara desse gajo, mazé tu estás saindo dos teus parâmetros espirituais para engraxares esse teu mano; é isso? Enquanto dizia isto esfregava meus dedos indicadores assim para lá e para cá indicando haver ali uma surdina amizade de compadrio entre eles; ele estava vendendo-se e também seus kambas espiritualíssimos, os puros de N´Gola.

coqueiros3.jpgPensiturno, Pieter a kianda kalunga, respondeu-me malembelembe e sábia responsabilidade impregnada de coisa ruim, talvez traição – Venho vender sonhos meu! Vê só isto! Nos também trazemos umas estátuas kiokas  txokwés para oferecer ao chefe do M´Puto, Pedro Candimba mais o Cavaco da Silva! Num repentemente fiquei mais desconfiado, ele não disse mas eu só desconfiei assim mesmo, ali daquelas figuras, de certo havia também umas pedras de feijão do Cafunfo, brilhantes! O sundiameno, personagem que eu criei, está a passar-me a perna, a trair-me!

cruzeiro5.jpgEle, na maior das desvirtudes contou mentiras encomendadas com ar vagamente de honrado, coisa incomum fazendo-me de curibota. Foi neste momento que surgiu um negro alto e gordo, engravatado e vestido também de preto como se fosse para um enterro. Era o seu guarda-costas com caninas e aguçadas escoriações rituais dos kiokos e um desenho de catana na face e do lado esquerdo! Isto dava-lhe um ar de arriscadamente assustador mas, a uma indicação de Januário, assim em gesto de refulgido cumprimento o personagem,  repentinamente ficou com um riso simpático, estendeu-me a mão. Este é o meu guarda-costas! Chama-se Gilberto, disse a kianda traidora em definitivamente. Bom! Esta fricção de pensamento dissolveu-se em embaixadora boa vontade originando falas de mansa hipocrisia e, falamos das memórias antigas e domiciliadas e tensas.

dia35.jpgTudo correu numa amizade de guerrilheiros indecentes, rugindo só para dentro. Saímos dali e fomos a um ximbeco tomar umas frias, o cão-de-guarda n´dele tomou uma cuca do M´puto e, já bem bebidos e refastelados na cachupa dos Verdianos, disse assim tipo de desabafo para agradar, que minha pessoa já podia voltar à Luua! Aquilo até que me pareceu um pouco com sinceridade mas, seu tom de família não me restaurou no espírito, um mínimo de confiança! Aquela parecia-me uma estranha conversa para me cambular! E falei assim: - Não, não meu! Kié kié isso, a Luua e eu andamos vagamente assustados e até divorciados! O resto da conversa não tem maior interesse por agora e encerrei o ocorrido só imaginando na camanga que o gajo trazia ali para a superioridade diplomática! Fingindo que era um vendedor do kénia com uma flanela com as palavras Dubai é k É! Voltei atrás e reli esta crónica e, mijei-me a rir a pensar que um dia destes me vão atribuir o prémio Agostinho Neto só por perpetuar as falas das guerrilheiros… Pois ao Luandino não lhe deram o prémio de Camões? Ele que escreve um kimbundo só n´dele, todo matumbado...

O Soba T´Chingange

 

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:12
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Sexta-feira, 26 de Junho de 2015
XICULULU . LVI

TEMPOS CINZENTOS - TOP SECRET - EU, ATÉ QUERIA GOSTAR DOS AMERICANOS...

XICULULU : - Olhar de esguelha, mau-olhado, olho gordo, cobiça

Por

soba0.jpg  T´CHINGANGE - Nasceu em águas internacionais num vapor chamado Niassa. É cidadão do mundo, Angolano na diáspora - Mazombo por condição; anda pelo Mundo à procura de si mesmo! Sente-se e respira Angolano, tem cédula de Brasileiro, B. Identidade do M´Puto e gosta imenso de toda a África - Anda às arrecuas para fugir à regra, um paradigma novo, só dele.

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É do nosso conhecimento que países hipócritas, para se esquivarem de males internos, vão sistematicamente lançar duvidas, quando não calúnias e problemas sociais em outros países com o fito de desestabilizar, assim sejam negociações em curso ou adulterarem o curso da estória com manobras de diversão. Tudo isso para desencaminhar assuntos transcendentes para outros mais controláveis. A estória ensina-nos e adverte até, que quando livros são queimados e proibidos, e pessoas são condenadas e lançadas em prisões por crimes de consciência, algo de podre já anda no ar; foi assim em épocas recentes mas, agora com marqueting análogo e muito mais sofisticado, as verdades surgem escamoteadas, ocultadas, truncadas, desvirtuadas numa sofisticação nunca vista!

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Institutos ou ONGS são criadas para purificarem os propósitos que são outros totalmente diferentes daqueles que pretendem. Os EUA são os campeões destas truculências. Eu, até queria gostar dos americanos, quer-se-dizer da sua política mas, eles são por demais estuporados, safados! Não tenho que ser um "Yes Men" de suas políticas porque tenho cérebro para analisar, pensar e daí tirar conclusões! Escutaram dias atrás e atrás da porta mas, coisa com sofisticação, o Francois Holland, o Nicolas Sarkozy, Jacques Chirac, amigos do peito, deles! Também o fizeram com todos os altos mandatários de França e Alemanha! Isto é uma bosta diplomática, ou não será!?... Isto já se passou com tantos outros e, depois deram-lhe o golpe na espinha dorsal como se faz com as cobras.

ame5.jpgUsaram mentiras, que era para os salvaguardar dos guerrilheiros, da intifada, dos mujaidines e não sei que mais com etecetera e tal mas, é tudo treta! Fizeram isso com Savimbi! Fizeram isso com Saddam Hussein! Fizeram isto com Muammar Al-Kadhafi! Fizeram isso com Bin Laden! Eles não têm amigos! Fizeram bosta e agora é a Europa que tem de suportar os refugiados de África. A África que eles sempre desestabilizaram! Os refugiados deveriam ser acantonados em frente à Casa Branca, ou Capitólio ou nos jardins de Washington! Mas são os patetas dos Europeus que vão suportar esta javardice! A nós que fomos escorraçados lá da África e agora aí estão na terra dos brancos, a moer-lhes a cabeça!

ame11.jpgHoje mesmo lançaram contra Portugal uma manobra de diversão e dispersão um relatorio da treta para entreter a malta! Dizem: "Violência contra mulheres e crianças, tráfico de pessoas para exploração sexual e laboral, uso da força policial excessiva, sobrelotação das prisões e exclusão social de ciganos  são mencionados no relatório de 2014 do Departamento de Estado norte-americano". Estes Americanos são mesmo competentes!? Como gosto deles!Ai.Iu.É...

AME10.jpg Eu também não queria falar assim mas, tenho de dizer isto para não explodir! Meus amigos negros, pretos, pardos, mamelucos, mulatos, cafusos, mazombos como eu, zebras e confusos que me perdoem mas tudo tem seu limite! Nem sempre posso mentir-me e manter um falso aprumo! Eu apoio sim o Francois Bonnet e as denúncias do wikileaks e os Franceses deveriam dar-lhe asilo político como gratidão! Também já tive o telefone grampeado e não gostei nada! Mas, não vou falar mais porque andam por aqui uns drones suspeitos, muito silenciosos a rondar-me a porta! Puxa vida, estou a ficar um perito nestasinteligências (Intelligence) e ninguém me aproveita como comentador das coisas tortas! FUI PARA O KIMBO!

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:02
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Quinta-feira, 25 de Junho de 2015
PUTO . LIV

TEMPO DE CINSAS . PORTUGAL NO SEU PIOR... “A broa dos velhos”- De que serviu aos velhos o governo?

As escolhas do Kimbo

Por

Pinto1.jpg Alberto Pinto Nogueira - Procurador-geral da República, no Tribunal da Relação do Porto, nasceu em 26/04/47 - natural de V. N. de GAIA., 66 anos de idade -  Fala como jurista módico que foi sem ser preciso ser um emérito catedrático entende que é, pura e simplesmente, criminoso a União Europeia (UE) ter submetido alguns dos seus estados ao estado de crise actual. 

Qualquer um de nós gostaria de ter escrito o que se segue e, porque não é um esquerdista com explosivos escondidos nos sapatos nem o Guarda Nocturno da área, aqui vai o que interessa ter-se presente.

araujo1.jpgUM POUCO DE HISTÓRIA

A República vive da mendicidade. É crónico. Alexandre de Gusmão, filósofo, diplomata e conselheiro de D. João V, acentuava que, depois de D. Manuel, o país era sustentado por estrangeiros. Era o Séc. XVIII. A monarquia reinava com sumptuosidades, luxos e luxúrias. A rondar o Séc. XX, Antero de Quental, poeta e filósofo, acordava em que Portugal se desmoronava desde o Séc. XVII. Era pedinte do exterior. A Corte, sempre a sacar os cofres públicos, ia metendo vales para nutrir nobrezas, caçadas, festanças e por aí fora…araujo4.jpg  Uma vez mais, entrou em bancarrota. Declarou falência em 1892. A I República herdou uma terra falida. Incumbiu-se de se autodestruir. Com lutas fratricidas e partidárias. Em muito poucos anos, desbaratou os grandes princípios democráticos e republicanos que a inspiraram. O período posterior, de autoritarismo, traduziu uma razia deletéria sobre a Nação. Geriu a coisa pública por e a favor de elites com um só pensamento: O Estado, sou eu. Retrocedia-se ao poder absoluto. A pobreza e miséria dissimulavam-se no Fado, Futebol e Fátima. As liberdades públicas foram extintas. O Pensamento foi abolido. Triturado.

dia54.jpg O Povo sofria a repressão e a guerra. O governo durou 40 anos! Com votos de vivos e de mortos. A II República recuperou os princípios fundamentais de 1910, massacrados em 1928. Superou muitos percalços, abusos e algumas atrocidades. Acreditou-se em 1974, com o reforço constitucional de 1976, que se faria Justiça ao Povo. Ingenuidade, logro e engano. Os partidos políticos logo capturaram o Estado, as autarquias, as empresas públicas. Nada aprenderam com a História, ignoram-na! Desprezam-na! Penhoraram a Nação. Com desvarios e desmandos. Obras faraónicas, estádios de futebol, auto-estradas pleonásticas, institutos públicos sobrepostos e inúteis, fundações público-privadas param gáudio de senadores, cartões de crédito de plafond ilimitado, etc. Delírio, esquizofrenia esbanjadora.

torres1.jpg O país faliu de novo em 1983. Reincidiu em 2011.  O governo arrasa tudo. Governa para a troika e obscuros mercados. Sustenta bancos. Outros negócios escuros. São o seu catecismo ideológico e político. Ao seu Povo reservou a austeridade. Só impostos e rombos nas reformas. As palavras "Povo” e “Cidadão” foram exterminadas do seu léxico. Há direitos e contractos com bancos, swaps, parcerias. Sacrossantos. Outros, (com trabalhadores e velhos) mais que estabelecidos há dezenas de anos, cobertos pela Constituição e pela Lei, se lhe não servem propósitos, o governo inconstitucionalizam aquela e ilegaliza esta. Leis vigentes são as que, a cada momento, acaricia. Hoje umas, amanhã outras sobre a mesma matéria. Revoga as primeiras, cozinha as segundas a seu agrado e bel- prazer.

diogo3.jpg É um estado fora de lei. Renega-se a Constituição da República que se jura cumprir. Em 2011, encomendou a um ex-banqueiro a sua revisão. Hoje, absolve-a mas condena os juízes que, sem senso, a não interpretam a seu jeito! Os empregados da troika mandam serrar as reformas e pensões. O servo cumpre. Mete a faca na broa dos velhos. Hoje 10, amanhã 15, depois 20%. Até à côdea. Velhos são velhos. Desossem-se. Já estão descarnados. Em 2014, de corte em corte (ou de facada em facada?), organizará e subsidiará, com o Orçamento do Estado, o seu funeral colectivo. De que serviu aos velhos o governo? E seu memorando?

Ilustrações de Costa Araujo Araujo (Mano Corvo)

As opções do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 05:38
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Quarta-feira, 24 de Junho de 2015
MISSOSSO . XVII

SUKUAMA! - Era um desencantador de serpentes! Um pouco triste mas fazia bem o que fazia…

Sucuama!: -Exclamação de espanto; suspirou; danou-se; ena pá!; admirou-se…

Por

soba0.jpg T´Chingange

suku0.jpg Romanof, ainda em vida e sendo empregado, quase-quase capataz do seu padrinho José do Telhado, de tanto ouvir este, contaminou-se como contador de estórias dos tempos de quando ainda era sargento, mas também de como mais tarde roubava as casas dos outros. Atordoado por tanta ideia acumulada, até eu que descrevo isto, experimento um estranho sentimento de me encontrar nesse lugar esquecido do Xissa da mata, lugar aonde o mundo passou por ali, sim senhor, mas muito arrependido foi-se embora. Romanof depois de fechar a venda-tasca-boteco, misto de botequim com venda de peixe seco, propriedade de seu padrinho, já quase noite, senta-se à sombra da mulembeira falando de coisas dele e alheias, com seus kambas.

suku01.jpg O tempo foi fazendo dele um exímio contador de inventações, estórias com ladainhas intrincadas com verdades e mentiras tudo-tudo misturado e, que no tempo, iam-se marinando em puras e verdadeiras. Ninguém do Kimbo do Xissa e arredores o dispensava em suas festas de alambamento ou casamento de papel passado! Ele era o supra-sumo do catravêz e ajudante dum padre que ali ia de vez em quando e quando solicitado exibir seu chapéu de três bicos, batina preta e colarinho branco e esticado. Ele só era conhecido por padre candimba mas, tinha nome de gente, parece que de Tomaz. Ele, padre, só ficava por ali mais tempo quando o Administrador mandava preparar um calulu com biala ou cacusso do rio Lucala ou uma muamba de capota.

suku02.jpg Nesses tempos de caprandando o paludismo e a tsé-tsé faziam muitas baixas na população e Romanof não só fazia de sacristão como ainda ajudava a entreter o pessoal, fosse em um funeral de óbito ou outro de outra natureza por defuntação consumada ou ainda casamento de como mandam as leis dos t´chinderes do M´Puto. Em sua gestão de capataz de loja de seu padrinho Zé do telhado, ele vendia panos estampados dos monhês, sandálias de couro, panelas de barro, sangas de purificar água, peixe-seco, farinha de mandioca e uma bolunga feita de milho com o nome de ximbombo a que mais tarde se chamou de quimbombo.

suku1.jpgNum grande armazém coberto, meio a telha meio a capim, juntava barricas de mel, de borracha e cestos de ráfia mateba com flor de algodão. Desconsegui saber de como ele tinha tempo para acudir a tanta coisa; certo que sua mulher Michelle Congolesa lhe dava uma ajuda; mais tarde os candengues dele também mas, seu coração andava sempre tumultuado para fazer ruido, organizar eventos. Um dia apareceu um homem muito moreno com um dragão, trazido por um monhé vindo dos matos, com um cesto arredondado e umas cobras orelhudas. Era um desencantador de serpentes! Um pouco triste mas fazia bem o que fazia!

suku4.jpgAs surucucus n´dele pareciam mortas mas, nas ondulações de sua flauta elas levantavam a cabeça rodopiando-se com movimentos estrábicos afinfados na flauta. Logo no início Romanof com seu linguajar esbracejado perguntou ao homem da pinta vermelha na testa de onde vinha ele. Ele, apontou primeiro para cima e depois já na horizontal apontou o sol poente. Todos ficavam de longe a ver o homem tocar, com medo e superstição! Ele era um homem espacial! Tal como veio assim se foi, num dia de cacimbo sem conseguir converter ninguém ao seu hinduísmo. Gente estranha que surge do nada como o salalé. O Xissa sempre foi assim muito cheio de misteriosas figuras, e mistérios desconseguidos. Nem sei se ficarei por aqui por mais uns tempos…

suku2.jpgMISSOSSO: Conto de raiz popular que em Angola teve seu criador e percursor o escritor Óscar Ribas. Neles, há diálogos com espíritos, calungas ou kiandas e animais que falam e, até fazem pouco dos mortais; superstições e crendices que fazem parte da cultura dos N´Golas.

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:00
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Terça-feira, 23 de Junho de 2015
MOKANDA DO SOBA . LXXIX

TEMPOS CINZENTOSTento aprender a viver com o vazio das coisas que costumam estar ali, lá e acolá…

Por

soba0.jpegT´Chingange

pedras00.jpg Na maré baixa da minha praia, costumo falar com as minhas pedras roliças com alguma familiaridade; digo minhas pedras, porque só eu lhes dou o valor de intimidade, tal como os enólogos fazem com os vinhos; enquanto estes são frutados e até aveludados, aquelas, são lisas, envernizadas e quando molhadas policromáticas na textura. Elas, as pedras têm o segredo do tempo do universo, uma coisa muito grande que no princípio era nada e, depois explodiu.

pedras0.jpg Só elas, as pedras e as areias, têm o verdadeiro segredo do mundo! Senti isso com as areias da praia monazíticas do Gunga no Brasil, com estímulos ao fluxo sanguíneo pela radiação e, ouvi seu murmúrio falante, coisa quase inacreditável. Algo assim como o crepitar dos pelos do bigode de meu sobrinho Zeferino Cailogo, ralo, mas falante, transtornando com seu cavernícolo som quem está ao seu redor. Ninguém pode imaginar o absurdo de tudo isto que escrevo mas, sem sucesso alivio, o quanto posso, no ridículo da situação.

pedras001.jpg Mas eu falo com as pedras, sim! Elas dizem-me coisas remotas, um antes que pode ser muito para lá do vago tempo, um antes com muitos milénios, anterior mesmo à invasão dos arianos, do tempo da pedra lascada, nada de como dizer isto de que foi há quatro dias atrás. Um tempo intemporal em que não havia lâminas para raspar bigodes ralos e muito menos para rapar os pelos do e da púbis. Neste meu jeito de reconstruir os dias nas noites, sente-se uma eternidade em acender a uma imensa espécie de força pacificadora movendo-me no esquecimento dos homens.

pedras1.jpg Dos homens que nos empurram para o abismo, um sonho de esvaziar pulmões que nos afunda lentamente entre ardências e constelações que flutuam no céu entre este mundo e a eternidade, fenómeno que ainda não vivi como uma coriza algo parecido com “ciriza” mas que significa inflamação da mucosa nasal, acompanhada eventualmente de espirros, secreção e obstrução nasal. Que no dizer popular ou coloquial pode-se chamar de "nariz escorrendo", "nariz entupido" ou até mesmo catarro escorrendo. Lugar duma passada encarnação talvez, sem se saber ao certo como pensar, se foi passado ou ainda virá a ser futuro.

pedras4.jpg Tenho que viver com o vazio das coisas que costumam estar e, depois escafedem-se! Primeiro as peças de afeitar o lusco-fusco da imagem, a seguir o pincel da barba dentro duma pequena terrina de cerâmica esmaltada com espuma de sabão macaco azul, coisa antiquíssima e, depois de tudo o que faz falta, até ficar só uma cama onde morrer. Cruz credo! Muitas vezes, parece-me ter vivido já demasiado, mas com tenacidade, aguardo a capacidade de esvair-me sem estrebuchar! Aprender a viver com o vazio das coisas, que costumam por norma estar ali, lá ou acolá. Fui até o ciriza!

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:51
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Segunda-feira, 22 de Junho de 2015
MUJIMBO . LXXXVIII

ANGOLA - CICATRIZES NO TEMPOBENTO KANGAMBA é "doutorado em MPLA" ....

Filomeno Vieira Lopes do Bloco Democrático afirmou isto e eu acradito!

Por

soba0.jpg T´CHINGANGE - Nasceu em águas internacionais num vapor chamado Niassa. É cidadão do mundo, Angolano na diáspora - Mazombo por condição; anda pelo Mundo à procura de si mesmo! Sente-se e respira Angolano, tem cédula de Brasileiro, B. Identidade do M´Puto e gosta imenso de toda a África - Anda às arrecuas para fugir à regra, um paradigma novo, só dele.

 

kanga1.jpgNão foi nada que eu já não tivesse comentado á muito tempo. Este senhor deve ter sido licenciado atrás duma bissapas sem porta para bater; senhor dá licença? Assim como o Rangel do M´Puto! - Entre está licenciado! Estas porcas vicissitudes descredibilizam um país e só com muito dinheiro e comprando gente miuda e mal formada, pode alcandorar-se a empresário de sucesso, a ser um embaixador de um país credivel ou ter a respeitabilidade com créditos! Ele é um homem do sistema! Ele vai buscar champanhe nos confins da Andorra e, trás o avião cheio de espumante para agradar aos engraxadores govenrnamentais; ele vai ao Brasil buscar meninas brancas e vistosas para regalar seus amigos e fazer banga em suas festas colossais. Ele dá de Angola uma imagem de festa permanente patrocinando o mundo da vaidade, das passareles. Basta ver a televisão via Globo instalada pelo resto de África! Ele é uma fraude que o povo deveria meter no xadrês, mas nada disto lhe sucede!

kanga01.jpgPor outro lado Joaquim Nafoia da UNITA disse que Kangamba - Secretário do MPLA para a Mobilização e Organização Periférica (Ké Ké Isto!?) - representa “o grupo de malfeitores que dirige o país” e “não entende nada de política”. Verdade! Kamgamba o gazosas montanelas, afirmou num comício que a oposição nunca governará Angola enquanto o MPLA existir! Para Noaquim Nafoi as declarações daquele dirigente do MPLA são prova de que “o MPLA está na falência” rejeitando também as acusações de incompetência por parte da oposição. Aqui ele não está a falar inverdades! A oposição está acomodada, bem paga e bem amedrontada; porqué?  É fácil chegar a esta conclusão!.

kanga2.jpg“Kangamba e o seu partido não têm o direito de tratar os partidos na oposição como incompetentes porque nenhum partido da oposição já governou para eles poderem aferir que a oposição falhou nisto ou naquilo”, disse Nafoi. Para o militante da UNITA as declarações de Kangamba  são prova também que Bento Kangamba  “tem o conhecimento das faudes que o seu partido tem feito“ nas eleições. -“De antemão já tem conhecimento da fraude que se prepara para 2017”, acrescentou!

kanga3.jpgAs afirmações de Kangamba “violam claramente a paz democrática no pais”. O presidente da república, e seus muitos procuradores deveriam cuidar um pouco mais do estado de direito! Filomeno Vieira Lopes refutando as acusações de Bento Kangamba de que se a oposição ganhar as eleições haverá “caça ao homem”, afirma: -“Isso é uma declaração de guerra contra o próprio povo”. E, é sim senhor!  Este senhor é matumbo sim! Com fotocopia de diplomado só pelo MPLA. Isto assim, não vai lá!...

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:11
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Sábado, 20 de Junho de 2015
MUXOXO . XI

O CHOQUE DO PASSADO - Agruras com kissalalé. Na mentalidade dos tempos, a precariedade permanente e descartável! 

Por

 soba0.jpeg T´Chingange

As desventuras do M´Puto imperial no tempo das descobertas…

diogo1.jpg As descobertas de novos mundos, dando conhecimento da globalidade, foram no seu início de um secretismo bem notório. Esta globalidade teve custos enormes na vida do pequeno rectângulo do M´Puto; como diz o poema de Fernando Pessoa, muitas noivas ficaram por casar para que esse mar fosse nosso; quanto do seu sal foram lágrimas cristalizadas, quantas solas de sapatos tiveram de amolecer para se poder comer, ó mar! Os novos povos saídos destes achamentos dos Tugas, egoisticamente só se debruçam sobre seus próprios tormentos, sua escravidão e, não se deram nem dão ao trabalho de escalpelizar o quanto sofrimento foi trazer esses novos mundos ao conhecimento da humanidade relembrando tudo o que houve de negativo e mau em suas, nossas relações.

bergntim1.jpg Eles Tugas, roubaram vilipendiaram, mataram, saquearam e um não sei que muitas mais atrocidades adjectivadas no pior cenário. Por isso tenho de lembrar aqui que as descobertas de terra indo de bombordo em bombordo, de cabo em cabo, tiveram um alto custo na vivência normal deste povo quase Viking e, lembrar também que a partir de 1480 desde a chegada de Diogo cão à Foz do rio Congo ou Zaire, novos problemas começaram. Muitos dos marujos que tripulavam as duas caravelas sob o patrocínio secreto de D. João II, voltaram a suas terras com seus parcos haveres, suas arcas, e sacolas, taleigos da viagem.

cruzeiro5.jpg Na segunda viagem de Diogo Cão sabe-se que visitaram a corte do rei do Congo M´Banza em 1485 e de regresso fizeram escala em Lagos, depois Lisboa e Porto. Daqui subiram em barcos menores rio Douro acima até à Régua até suas terras natalinas encavalitadas nas encostas desse rio. Isto sucedeu por volta de Agosto de 1485. Uma grande parte da tripulação saiu dali, lugar de Trás-os-Montes porque seu capitão ali nasceu e ali os reuniu, seus homens de confiança. Destes, alguns, regressaram a Galafura, Peso da Régua, Pinhão e depois dos abraços e em suas caves depositaram suas malas, os tais de taleigos; mal sabiam que nelas levavam as formigas salalé e kissonde.

rabelo0.jpg As malas por ali ficaram e algum tempo passado deram-se contas que estavam a ser invadidos por aquelas formigas e, quando os caibros e vigas da madeira de suas casas, pilares e pérgulas começaram a se desfazer, a ruir sem explicação! Salalé e kissonde cruzaram-se nas caves graníticas originando um nova formiga devoradora de madeira de pinho, carvalho e nogueira. Era o kissalalé e, foi um desespero ver as madeiras de um dia para o outro serem devoradas, suas casas ruíam, simplesmente. Eles bem tentaram eliminar tal formiga mas, não houve poses, mezinhas ou milongos que as eliminassem! Avançaram tão rápido que urgia tomarem-se medidas! Mas, quais!? Não foi possível!

kissonde1.jpg Elas, as kissalalés tinham seus refúgios nas covas de grandes fragas, penedias perfuradas. Só houve uma solução, queimá-las pelo fogo! Exterminando-as literalmente! Assim pensaram, assim fizeram! Mudaram-se para outro local queimando totalmente a primitiva povoação. Este é um dos muitos episódios que a saga da globália atormentou os Tugas e seu M´Puto. Não há agora moral para haver tanta negatividade a esse conceito de expansão Lusa chamada de colonização. O pior a acontecer, nesse então nem se sabia! O seu a seu dono, com a dignidade de restaurar aos espíritos, um mínimo de confiança. 

besanga0.jpgMuxoxo: é uma espécie de estalo que se dá com a língua aplicada ao palato, em sinal de desdém ou contrariedade…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:58
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Sexta-feira, 19 de Junho de 2015
XICULULU . LV

ANGOLA - "A independência foi um parto difícil, mas hoje já andamos com o nosso próprio pé" – 3ª de 3 partes

 As escolhas de Kimbolagoa

onofre2.jpg DR. ONOFRE ANTÓNIO ALVES MARTINS DOS SANTOS – Nasceu em Luanda a 16 de Dezembro de 1941 - Juíz Conselheiro do Tribunal Constitucional, Angola - Designado pelo Presidente da República JES a 20 de Junho de 2008. Ex-aluno do Liceu Nacional Salvador Correia. Fonte: Angop

ango0.jpgIsso pode ou não comprometer o futuro de Angola? - Naturalmente, compromete. Qualquer partido que está no poder precisa usar os recursos materiais para fazer mais escolas, hospitais e para ter mais defesa, mais segurança, etc. Mas, se te dizem que a sua receita vai baixar 50 por cento, tem que se fazer menos daquilo que estava previsto. É uma pena que vamos ter algum retrocesso, mas a vida das Nações é assim mesmo. Pode-se frustrar este ano, mas é impensável medir a perspectiva do futuro de Angola por causa do que vai acontecer nesse ano. Estou mais preocupado com o problema da diversificação da economia, que já constava da agenda de todos. O problema é como um filho que fica 10 anos na Universidade, quando deveria estar só cinco, pensando que o pai garante-lhe tudo.

ango4.jpg - Um filho desprecavido? Estamos a passar um pouco disso. Tudo era muito mais fácil. A actual quebra da receita, por causa da queda do preço do petróleo, teve o condão de nos despertar. Pode ser bom, mas não é em um ano que vamos diversificar a economia. Todos teremos que apertar o cinto, provavelmente, por alguns anos. A economia não se revigora em dois dias. Temos que ter a noção de que as coisas vão andar lentamente. Tenho pena que isto tenha acontecido. Mas, por outro lado, já que aconteceu, ela vai servir de despertador para acelerarmos outras reformas, nomeadamente de atracção de investimentos. Não podemos viver só de grandes investimentos, mas também de pequenos. Temos a sensação de que nos grandes investimentos, às vezes, nem um angolano é empregado. Contrariamente, os pequenos investimentos geralmente empregam muitos angolanos.

ango1.jpg- Ao nível da política externa, como vê Angola? - Vai continuar a manter o seu peso no continente africano, principalmente? Angola deve capitalizar isso. Neste momento, estamos no máximo. Angola está no Conselho de Segurança das Nações Unidas, está a liderar os Grandes Lagos e não há dúvidas de que Angola fez um processo de paz extremamente complexo e difícil; e teve uma negociação que contribuiu para a independência da Namíbia, entre outros. Angola tem uma experiência de diplomacia e de processo de conciliação bastante intenso. Eu não conheço em África um único país que teve processos tão bem conseguidos (???), e com sucesso, como os que Angola teve. Em Angola, todos os processos de paz demoraram, mas se conseguiu a paz. Há muita gente que pensa diferente em Angola. Pensa-se erradamente só por se estar há bastante tempo a governar. Mas é diferente do que Portugal viveu durante 45 anos de ditadura. Angola tem um processo de teor diferente daquilo que se viveu em Portugal.

ango3.jpg -Tem alguma mensagem ao angolanos pelos 40 da independência? Dou os parabéns ao povo angolano, porque conseguiu aquilo por que lutou durante muito tempo e pelo que já tem conseguido. Mesmo se compararmos com muitos países, mesmo com o gigante que está ao lado (África do Sul), a nossa situação é muito diferente. A única coisa que devemos fazer agora é não nos envaidecermos ou pensar que somos o máximo, mas com humildade pensar como é que podemos ajudar os outros a serem como nós, estabelecendo contactos diplomáticos com todos os povos, sobretudo os africanos a nossa volta. Não podemos esquecer que, para Angola ser independente, se deveu também à ajuda de muitos destes países africanos, que hoje estão um bocadinho com menos ordem que Angola, mas que esses países deram a mão. Também temos de dar a mão. Tem de haver mais solidariedade, mais encontros e mais dedicação aos países que estão à volta, porque acredito que nunca seremos grandes sem sermos generosos (!!!).

capulana1.jpg

(Fim)

Nota: as reticências (???) e (!!!) são do relator T´Chingange que não concorda com parte do aqui afirmado, não obstante julgar de muito lucida esta exposição, vinda de alguém que está dentro do aparelho de estado e da justiça! Tomara que todos os mwangolés tivessem estes propositos mesmo que respeitando as directivas de submissão ao poder! sabemos como isso é! Já não queremos ser inocentes e fundamentalmente não nos queremos enganar...

Xicululu : - Olhar de esguelha, mau-olhado, olho gordo, cobiça

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:06
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Quinta-feira, 18 de Junho de 2015
CAFUFUTILA . XCI

LUANDA - Relatos e histórias de antigamente… VII

Por

soba0.jpg T´CHINGANGE - Nasceu em águas internacionais num vapor chamado Niassa. É cidadão do mundo, Angolano na diáspora - Mazombo por condição; anda pelo Mundo à procura de si mesmo! Sente-se e respira Angolano, tem cédula de Brasileiro, B. Identidade do M´Puto e gosta imenso de toda a África. Anda às arrecuas para fugir à regra, um paradigma novo, só dele.

ana0.jpg O final oficial da escravatura em Angola não determinou a extinção do comércio de escravos! Muito pelo contrário, o fruto proibido passou a ser mais cobiçado e caro. A partir da decisão do governo e da reacção das demais classes dominantes, o decreto transformou a prática legal em prática ilegal, trazendo mais lucro aos comerciantes que lotavam navios rumo à América Central, Caraíbas, Trinidade, Tobago, Curaçau, Haiti  para o trabalho do café, América do Norte para a recolha do algodão e ao Brasil, mão-de-obra para os engenhos, corte e trato da cana do açúcar. Entretanto no M´Puto estala a Revolução da Maria da Fonte, a 23 de Março de 1846, surgindo na história a figura de José Teixeira da Silva, vulgo Zé do Telhado que é envolvido como líder da insurreição.

ana1.jpg Às ordens do General Sá da Bandeira, assume o posto de sargento e distingue-se de tal forma na bravura e qualidades militares que, na expedição a Valpaços, recebe a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, a mais alta condecoração que ainda hoje vigora em Portugal. O seu «partido» entra em desgraça, amontoa dívidas de impostos que não consegue pagar e é expulso das forças armadas. Já como "Zé do Telhado", chefe bandoleiro, realiza um grande número de assaltos por todo o Norte do M´Puto, durante um período muito conturbado em que os partidários miguelistas formam grupos de guerrilha em todo o país.

ana01.jpgA 9 de Dezembro de 1859 foi julgado e condenado ao degredo perpétuo na África Ocidental Portuguesa tendo-lhe sido comutada a pena para 15 anos de degredo, em Setembro de 1863. Viveu em Malanje, negociando em borracha, cera e marfim. Casou-se com uma angolana, Conceição, de quem teve três filhos. Conhecido entre os locais como o Kimuezo, (homem de barbas grandes) viveu desafogadamente vindo a falecer aos 57 anos, vítima de varíola e, sendo sepultado na aldeia de Xissa, município de Mucari, a meia centena de quilómetros de Malanje.

ana2.jpg Neste entretanto, a mais famosa traficante de escravos, em Angola, a mestiça Dona Ana Joaquina dos Santos, rica proprietária e de grande prestígio na sociedade Luandense desenvolve seu negócio de escravos com uma verdadeira frota de navios. Gozando de grande influência política junto de variadas tribos do interior, desde Malange até ao Bailundo e Namibe, para Sul teve um opositor na zona do Xissa que não simpatizava com esta prática. Este, era o Zé do Telhado a quem os negros consideravam um mwata, gente boa e sábia.

ana4.png No entanto os Governadores-Gerais recorriam a ela Dona Ana, amiudadamente para servir de medianeira em conflitos com os kimbos do sertão. Em seu palacete reuniam-se governadores e a alta burguesia, num tempo ainda em que os negros e os mestiços ricos de Luanda conviviam com os seus "iguais" brancos, pertencentes às mesmas categorias sociais: comerciantes, funcionários públicos, proprietários, mercadores de escravos e armadores de navios negreiros, com bens e interesses repartidos entre Angola e Brasil. Verifica-se já nesta fase da vida angolana uma estreita ligação com o Brasil um pouco até à margem dos interesses da Metrópole, o M´Puto distante. E, sempre tendo Luanda como o espaço decisor de tudo o que se passava na Matamba, matos indistintos com muitos sobas e intrincadas desavenças tribais.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:19
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Quarta-feira, 17 de Junho de 2015
MALAMBAS . LXXXIX

TEMPO COM FRINCHAS . Sinto-me palhaço no particípio passado mas, não dono do circo…

Malamba é a palavra

Por

soba0.jpeg T´Chingange

mss2.jpg Passada a horta do Torrica dobrando já a curva da ribeira de Messejana, no monte de Vasa Talegas interroguei-me sobre este nome já pouco usado na linguagem corrente; isto significa uma bolsa de ráfia ou pano-cru aonde se levam coisas normalmente comida, um pedaço de broa, chouriço e frutas a serem usadas como suprimentos em uma tarefa de ceifa, aqui em plena planície alentejana. Neste percurso doirado da falsa savana esperava ver abetardas, sisões, toutinegras ou grous mas só consegui ver nas ruínas do Monte dos Reguengos os peneireiros das torres, gaviões pretos, o tartanhão-caçador mais o cortiço de barriga negra.

amigo00.jpg O resultado do cultivo de cereais e sequeiro em regime de rotação origina a permanência de aves que não se vêem com frequência em outros lados. Nesta fingida estepe cerealífera pode com sorte, ver-se o roliceiro, o milhafre real em tempos mais frios, o peneireiro cinzento, garças boiadeiras, mas desta feita, vi em meu passeio a presenteira cegonha branca e castanha no topo do convento de S. Francisco. Na barragem do Reguengo pude apreciar os lindos patos-reais e mergulhões e até poupas mais a tarambola dourada.

melro1.jpg Enfim, um felizardo libertado como aqueles corvos grandes e pretos ondulando seus voos entre mesetas, carros desventrados e trastes espalhados como num cinema de pradaria abandonada com muito funcho, muito carrasco e rascassos. A sobra do Alentejo é só a que vem do céu, abrigue-se aqui menina debaixo do meu chapéu. Pensei nisto no galgar de metros pensados e com o firme propósito de emagrecer, de ter saúde o quanto baste para desbaratar os triglicéridos no lugar dos Maldonados, gente que dizem ter-se endinheirado aqui e nas fazendas em áfrica.  

mess0.jpgColhi umas quantas espigas de trigo e fiz um ramalhete com folhas de louro colhidas no convento abandonado do tal de S. Francisco com um belo brasão na frontaria. Neste entretém deparei com um cão arrebanhando umas quantas cabras na direcção do Monte do filipe; olhei ao redor e voltei olhar mais à frente procurando o pastor e, nada de gente! Era o rafeiro alentejano que só e mansarrão conduzia o rebanho pelas verduras, duma forma terna e eficaz, conduzindo-as até o lugar que ele cão, sabia ser o certo!  

mess9.jpg O alentejano cidadão, é terno e rude, é tudo ou um deserto; o que nós quisermos, comodistas, papistas ou comunistas; gente às direitas que por vezes se vê obrigado a andar às arrecuas, gente com honradez. De tudo tem como nos mistérios do Evangelho de Jesus Cristo que num domingo de missa, recorda o Martírio de sua morte no Monte Gólgota ao longo dos anos e dos séculos, como se por aqui tivesse andado como o fez na Galileia e Vale do Jordão. Nunca ninguém o viu passar por aqui no vale das talegas mas, lá também se faz ouvir o sino das Ave-Marias.

mess05.jpg Foi pena que não tivesse dado uma mãozinha a Dom Sebastião que daqui levou mancebos para essa tal de Alcácer Quibir para matar gente com espadas na forma de cruzes alongadas para matar os infiéis e, nem por misericórdia voltaram à sua aldeia azul e branca. Entro no adro da Misericórdia e abençoo-me na cruz que serviu para fingir mais uma vez a morte teatral da ascensão de Cristo! Ainda lá estavam os cordames que o amarraram; não sei se gosto destas representações, assim quase ao tipo dos sacrifícios das Filipinas porque estou farto de ver mortes! Vamos andando, um dia de cada vez neste calvário real! Fui!

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 23:05
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Terça-feira, 16 de Junho de 2015
FRATERNIDADES . LXXXIV

TEMPOS ACINZENTADOSA última curva, a felicidade ambicionada …
Por

torres.jpgEduardo Torres

to0.jpg Eu penso que cada um de nós pensa, goza e tira proveito da felicidade, de acordo com o modo e a ambição de ser feliz. Hoje, ao passar junto de uma tabacaria e venda de jornais, vi uma fila de pessoas à espera de vez para registarem o boletim do euro-milhões. Fiquei a pensar, quantas delas manteriam o sonho de serem premiadas, com um desfecho que lhes permitisse alcançar projectos que só poderiam levar a efeito, se de facto os números escolhidos correspondessem aos que haveriam de aparecer depois de a roda ditar os números. Será que a felicidade se mede pelo número de milhões de euros que se podem ganhar? Claro que eles ajudam muito, garantem possibilidades que de outro modo seriam difíceis de alcançar mas, será que a felicidade é só isso?

to01.jpg Hoje, ao olhar para o passado, de acordo com as ambições que tive, penso que fui sempre muito feliz e só tenho a agradecer à Providencia Divina a sorte que sempre tive na vida. Claro que me surgiram os chamados acidentes de percurso, a morte de familiares mas, fora isso, o que não é pouco, eu sempre consegui vencer as batalhas com que deparei na vida. Entendo hoje, que muitas vezes se encerram ciclos de felicidade por desperdiçar pequenas coisas, pequenos gestos, palavras que que num dado momento, o crucial, se deixou de dizer, ou se disse de maneira errada. Podemos ter num dado momento um final infeliz mas, sempre é tempo de se dar iniciar a um outro, reconstruindo-se.

to2.jpg Aprender a ser feliz, é um permanente trabalho de querer e ensinar a fazer querer. Felizmente foi isso que consegui, porque acertei nos números da felicidade, da saúde, e por ultimo, no dinheiro necessário para garantir estes primeiros bens. Como em tudo na vida, os excessos, podem até ser comprometedores! O dinheiro foi um invento necessário mas nem sempre trás consigo a felicidade; se esta se pudesse comprar, os ricos, tê-la-iam sempre ao invés dos outros mais atreitos a amarguras. Cada qual vive sua vida, mas não é dono dela, exactamente porque ela não tem preço; saúde e felicidade nem sempre se complementam com dinheiro. Mas acertar no euro-milhões, ajuda muito; isto apraz-me registar...

As opções do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:55
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Segunda-feira, 15 de Junho de 2015
XICULULU . LIV

ANGOLA - "A independência foi um parto difícil, mas hoje já andamos com o nosso próprio pé"2ª de 3 partes

 As escolhas de Kimbolagoa

onofre2.jpg DR. ONOFRE ANTÓNIO ALVES MARTINS DOS SANTOS – Nasceu em Luanda a 16 de Dezembro de 1941 - Juíz Conselheiro do Tribunal Constitucional, Angola - Designado pelo Presidente da República JES a 20 de Junho de 2008. Ex-aluno do Liceu Nacional Salvador Correia. Concluiu recentemente o curso de pós-graduação em Direito de Petróleo e Gás (2009-2010) na Faculdade de Direito na Universidade Agostinho Neto.

Fonte: Angop

nasc2.jpg - Foi o que aconteceu com os três movimentos? - Mas a democracia levou algum tempo a chegar como solução. No fundo, a ideia foi: ?vamos depor as armas e vamos disputar o poder na base do voto. O povo somos nós todos e vamos deixar o voto falar ao invés das armas? Esta foi a evolução que se deu em 1991/92 (com as primeiras eleições gerais em Angola). É verdade que o mérito se deveu aos partidos que lutaram entre si, que fizeram o acordo, mas precisamos de ter a noção de que o poder foi devolvido ao povo, no sentido rigoroso e literal do termo, através das eleições.

- Pessoalmente, em que termos acredita nessa evolução democrática do país? - Já tivemos três processos eleitorais (em 1992, 2008 e 2012), e notamos que a população eleitoral vai aumentando gradualmente. Dos quatro milhões, passamos para oito milhões de eleitores. Nas próximas eleições teremos mais eleitores. E a vontade do povo vai depender muito daquilo que quer para o seu futuro: um futuro de desenvolvimento e de uma maior justiça social. Por outro lado, as pessoas hoje têm muito mais educação. Este é um aspecto fundamental. Não podemos fugir disso. Angola tem feito um esforço muito grande na extensão da educação a toda sua população. Claro que ainda há regiões de difícil acesso e com carências.

lu6.jpg - Que vai resultar do que considera ? mais educação? - Resulta que as pessoas têm muito mais consciência. Enquanto, em 1992, as pessoas iam provavelmente por trás de uma bandeira, hoje já perguntam quais são as promessas para o futuro. Ainda estamos numa fase muito intermédia, em que se vota no partido do coração, mas não temos a menor dúvida de que há uma nova geração, mais educada, que já vê o futuro de uma maneira diferente e que espera dos partidos, além da bandeira e do mérito de terem feito a luta de libertação para a independência, pensamento de futuro. E aí vão perguntar ? -qual é o partido que está em melhores condições para nos assegurar melhores condições, para mim e para os meus filhos? Esta é a preocupação. É muito mais a projecção para o futuro que eu vejo como uma coisa que será a mais importante nos próximos tempos.

nasc6.jpg - Como "homem de eleições" como está Angola nesse sentido? - Defendo que as eleições devem ser fiscalizadas, observadas e ter todos os elementos de verificação e de transparência. Acredito que todas as que foram feitas até agora tiveram este alto padrão de verificação. Mas podemos melhorar estes padrões. Portanto, os partidos devem dizer exactamente quais os padrões que querem e discutir-se isso para que não haja dúvidas quanto aos resultados eleitorais, que dependem do povo. E o povo deve merecer a nossa confiança. Tivemos uma dominação colonial muito longa, uma luta de libertação de muitos anos, depois sucedeu uma guerra civil, também longa, que tornou o país quase martirizado. Felizmente, estamos a construir a reconciliação nacional e progredir. As coisas estão a progredir.

- Como vê a grande preocupação de momento; a queda do preço do petróleo no mercado internacional? - Todos estamos a enfrentar hoje um problema que é o de ainda não termos conseguido chegar à diversificação da economia.

Xicululu : - Olhar de esguelha, mau-olhado, olho gordo, cobiça

(Continua...)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:35
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Domingo, 14 de Junho de 2015
MULUNGU . XLVI

TEMPOS CUSPILHADASPasseando o esqueleto no Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves um reino outrora Tuga...

Por

soba0.jpegT´Chingange

sardinha0.jpg Há mais ou menos um ano atrás e estando eu no Brasil, pessoa amiga referiu-se ao facto de em Portugal país visitado por ele nesse então, as pessoas serem disciplinadas, não terem o apetite do roubo ou cobiçar o alheio. Isto passou-se em uma praça da pequena cidade de Lagoa do Algarve; ele reparou que as pessoas passavam por aquelas laranjeiras carregadas de bonitas laranjas e o estranho, era que ninguém tocava nelas. Não havia qualquer impedimento por qualquer resguardo para as não alcançar e não obstante estarem gulosas, bonitas a solicitar-nos esticar as mãos e recolhe-las, ninguém o fazia! Eu com a sede que tinha até me apeteceu agarrar uma mas retive-me mais por poder parecer mal do que outra causa; fiquei inibido proceder desse jeito disse ele; bonitas e nada de ladrões!?

sardinha01.jpg A pessoa em causa que descreveu isto desconhecia que as amarelinhas eram ácidas, azedas como trovisco e, nem me dei ao trabalho de esclarecer para subsistir na mente deles que os Tugas não roubavam como era tão habitual, eles o fazerem no seu Brasil! E, a propósito omiti a verdade porque já estava farto de tanto desaforo colocando os Tugas como os larápios da América, blá, blá, bla, coisa que insistentemente ouvia referindo tempos idos no roubo do pau-brasil, do ipê-roxo, das muitas especiarias, ouro e prata, um sem fim de maleitas sociais do qual lhes foi legado! Disse. Que chegavam da Metrópole com uma mão atrás e outra à frente e passado bem pouco tempo já tinham seu próprio posto de trabalho, sua padaria, borracharia ou sua própria venda.

sardinha1.jpg Normalmente nem replicava porque também tinha as minhas próprias queixas por fruto de uma descolonização de tugi mas eles nem iriam entender tal nefasta saga provocada por mariolas e traidores ao M´Puto e do M´Puto; desta feita contive-me para que ficassem com ideias edificantes sobre os Tugas e, que afinal, nem tudo neles era mau! De forma catedrática ia-lhes dizendo que o Brasil era quase um continente graças a terem sido um reino; que não foram desintegrados em vários países porque foram a sede do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e tendo D. João VI como o maior aglutinador dessa política; um estadista de valor e que eles sempre subestimaram e subestimam com charadas de mau gosto e desrespeito. Que não obstante o Brasil já ser grande, invadiu a Cisplatina ficando alargado com o actual Uruguai a sul e o Guiana Francesa a Norte por estar em guerra com os franceses tendo estes os espanhóis debaixo da alçada! A França de Napoleão.

sardinha2.jpg E, quantas mais coisas tinham de ser ensinadas, porque infelizmente, mesmo gente formada a nível universitário, não tinham um perfeito conhecimento da real história. Fui eu a contar a muitos as estórias do Caramuru, Do João Ramalho, do 1º Bispo do Brasil que os índios paparam com mais de oitenta náufragos ao largo de Cururipe no estado de Alagoas; da festa de arromba que aqueles índios Caetés fizeram em Julho de 1556 devorando Dom Pero Fernandes Sardinha, que ainda hoje por via disso, pagam um laudémio à Igreja católica pelos danos causados a Roma, blá, blá, blá. De tudo isto eu retirava ilações no fraco aprendizado nas escolas brasileiras! Claro que os ladrões existem aqui e lá mas, nesta actualidade, nem digo nada para não amesquinhar aquele elogio das laranjas feito por um brasileiro das terras Tugas!

Mulungu: É uma arvore de grande porte com flores vermelhas; existem no Brasil e em Angola

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:42
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Sábado, 13 de Junho de 2015
MALAMBA . LXXXVIII

ANGOLA - O OUVIDOR DO KIMBO - Relembrar o Luena (Kangamba) - antiga Vila Luso… 11ª de 11 Partes

Malamba e a palavra - As escolhas do Kimbo

Publicada por

nasc1.jpgH. Nascimento Rodrigues - Licenciado em Direito, Jurista eminente e homem público que se destacou, em todas s funções que exerceu no M´Puto - Nasceu no Luena (Kangamba), antiga Vila Luso em Angola…Faleceu no ano de 2010

kimbo1.jpg Nunca consegui entender de onde vinha a vocação daquela malta do kimbo para estas coisas, mas a verdade é que a possuíam. E foi assim que a vida rapidamente retomou o seu ritmo ronceiro e venturoso. Aos seis anos, como já contei, abalei de vez dos Luchazes para o Luena. Aos tempos de felicidade que tinha vivido, outros tempos de felicidade, diferente embora, se foram seguindo. Mas nunca mais esqueci Cangamba, os putos do kimbo e o mais velho de todos, aquele chefe negro a quem cabia defender o seu povo, escutar as queixas da aldeia, arbitrar disputas, pacificar, buscar comida que matasse a fome aos seus. Ele era o mais velho, /século) o que tinha o papel a que nós, portugueses, chamaríamos de “ouvidor”, porque ouvia o povo e julgava as causas.

moc2.jpg É verdade que a palavra “ouvidor”, que se usava em Portugal no tempo dos nossos reis, caiu entre nós em desuso. Ironia do destino foi mantida no Brasil, que a usou também na época dos capitães - donatários, a preservou e dela faz, hoje, a nível federal ou a nível estatal, no sector público tanto como no privado, um uso extensíssimo. Malhas que o Império teceu… O “Ouvidor do kimbo” é, assim, um título de simbiose, pois advém quer de Portugal, que é minha Pátria, quer de Angola, que é a minha Terra. Pretende ser esta, um desenrolar de memórias e de saudades, de poesia, de estórias e de comentários, incluindo comentários políticos, os melhores para a gente se rir.

preto4.jpg Será também uma forma de deixar aos meus treze netos um rasto meu, porque, pela ordem natural das coisas, sobretudo os mais pequenos, é provável que dele, nada retenham. No mais, caro caminhante de passagem por aqui, nunca se esqueça daquele provérbio saloio que diz assim: ”se não gostas do que lês, pois não leias”; ou, se preferir um provérbio ganguela, então escute este: ”um homem não é um jacaré. Um jacaré não é um homem. Mas o jacaré come o homem”.

kimbo2.jpg NOTA: Convem expor aqui uma de suas afirmações para que se entenda um pouco a mentalidade de quem veio de África por fruto da descolonização a comparar com o metropolitano do M´Puto; daqui a forma rsoluta com que milhares de retornadoas solucionaram suas vidas a partir do nada em 1975:  -“ Em África, ninguém espera nada do Estado, apenas de si próprio; é o contrário do que acontece em Portugal, e por extensão, no resto da Europa”.

(FIM)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:37
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Sexta-feira, 12 de Junho de 2015
CAFUFUTILA . XC

LUANDA - Relatos e histórias de antigamente… VI

Por

soba0.jpg T´CHINGANGE - Nasceu em águas internacionais num vapor chamado Niassa. É cidadão do mundo, Angolano na diáspora - Mazombo por condição; anda pelo Mundo à procura de si mesmo! Sente-se e respira Angolano, tem cédula de Brasileiro, B. Identidade do M´Puto e gosta imenso de toda a África; É mentiroso por opção e costuma praticar surf numa Praia que o não é… Anda às arrecuas para fugir à regra, um paradigma novo, só dele.

mai5.jpgPor ser uma negatividade o trato entre negros do negócio da escravatura é normalmente retraído ou omitido nos escritos. Quando os portugueses chegaram a Angola em 1480, deram-se conta que os sobas vendiam escravos aprisionados por pertencerem a outras tribos; este procedimento levou mais tarde os Tugas a se servirem deles como troca tornando-se negreiros. Claro que fomentavam essas guerras permanentes entre eles, pois que daí, tiravam grande proveito. Havia negreiros brancos e mestiços que criaram fortunas. Os negreiros fizeram palácios levando uma vida principesca usando esse tráfico humano como suporte; o Brasil, nesse então necessitava de mão-de-obra barata para o trato e corte da cana-de-açúcar.

kilo01.jpg O comércio de escravos angolanos começou em uma pequena escala, em meados de século XVI, mas veio a se tornar fluxo substancial de seres humanos apenas por volta de 1600, depois de o açúcar em Pernambuco e na Bahia se tornarem o principal produto agrícola mundial. Ao mesmo tempo, as décadas de secas e guerras entre exércitos africanos e conquistadores portugueses, também das ilusórias minas de prata no interior brasileiro, das febres prateadas da Cisplatina, dos saques de africanos fugidos de instituições e a reorganização da administração no novo continente, terra de Vera Cruz, deram ocasião a surgir uma nova forma de estar e, daí o surgimento de novos comerciantes, pequenos burgueses africanos e tugas já com mentalidade de novo brasileiro.

nova2.jpgO escravo era quase o único interesse naquela Angola; pois era no Braisl que todos se concentravam, terra em que espetando um pau de tudo dava, tudo germinava. Recordar aqui Dona Ana, uma famosa comerciante de escravos da época e, pela qual e através dela, se pode traçar um panorama social e económica da colónia portuguesa de Angola, suas relações com a metrópole, a Luanda de então.

nova.jpgSuas festas com gente colorida desfilando medalhas e títulos d´el Rei com as vicissitudes que o dinheiro dá a quem o tem; nada diferente das vivências hodiernas com os novos mwangolés, suas damas desfrisadas com cheiros afrodisíacos du Louvre, Paris e Lisbone, la plus grande ville du Portugal, une « ville mondiale » selon le classemen…. Voilá! Em luanda predomina a fala do quimbundo com uma gíria de crioulo e modos de estilo a que chamam de banga. Eles fazem banga por tudo e por nada! São banguistas por prepotência.. Como os povos ambundos moldam a pronúncia da toponímia das várias regiões ao seu modo de falar, eliminando alguns sons quando estes não alteram o significado do vocábulo, de Lu-ndandu passou-se a Lu-andu. O vocábulo, no processo de aportuguesamento, passou a ser feminino, uma vez que se referia a uma ilha, e que resultou em Luanda. Também se refere que é devido à esteira de espreguiçar nas areias quentes pelos pescadores da ilha Mazenga, os muchiloandas. A mesma esteira ou loando que serve para secar o peixe com que se faz o calulu ... 

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:06
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Quinta-feira, 11 de Junho de 2015
XICULULU . LIII

ANGOLA - "A independência foi um parto difícil, mas hoje já andamos com o nosso próprio pé" 1ª de 3 partes

As escolhas deKimbolagoa

onofre2.jpgDR. ONOFRE ANTÓNIO ALVES MARTINS DOS SANTOS – Nasceu em Luanda a 16 de Dezembro de 1941 - Juíz Conselheiro do Tribunal Constitucional - Designado pelo Presidente da República JES a 20 de Junho de 2008. Ex-aluno do Liceu Nacional Salvador Correia, licenciado em Direito 1954-1964 e em Ciências Económicas e Políticas pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra 1964-1966. Advogado em Luanda desde 1966, onde exerceu cumulativamente as funções de Juiz do Tribunal de Menores e de Execução de Penas até 1975. Foi por nomeação do Presidente da República o Director Geral das Eleições realizadas em 1992. Exerceu também diversos cargos como Consultor eleitoral em missões das Nações Unidas de 1994 a 2005, relacionadas com eleições na Guiné-Bissau; Serra Leoa; Bangladesh; Vukovar (antiga Jugoslávia); Lesotho; República Centro-Africana; Níger; Costa do Marfim e Ghana. Concluiu recentemente o curso de pós-graduação em Direito de Petróleo e Gás (2009-2010) na Faculdade de Direito na Universidade Agostinho Neto.

Fonte: Angop

onofre1.jpg11 Junho 2015 - Lisboa - O juiz-conselheiro do Tribunal Constitucional, Onofre dos Santos, recorda os momentos de muita desilusão que viveu no período da independência de Angola, porque esperava que "seria tudo maravilha". Em entrevista à Angop, em Lisboa, a propósito dos 40 anos da independência do país, o antigo director-geral das primeiras eleições gerais da história de Angola (1992) conclui que, apesar dos percalços vivenciados, no fim e ao cabo, valeu muito a pena a ocorrência, porque era "a resposta à dignidade dos angolanos", acima de tudo.

- Onde é que se encontrava aquando da proclamação da independência nacional, a 11 de Novembro de 1975? - Estava no Ambriz (província do Bengo). Vindo de Kinshasa (RD Congo), cheguei nos primeiros minutos do dia 11 de Novembro. Aterrei no Ambriz, uma discrição que consta no meu livro ?Os meus dias da independência? (2014), que, muitas vezes, é lembrado nesta altura. Naturalmente, passaram-se 40 anos, mas aqueles comentários lembram-me, perfeitamente, aquilo que foram momentos de expectativas, de esperanças, etc.

- Que memória ainda guarda? -  Sinceramente, tive muitas desilusões relativamente àquilo que estávamos à espera. Eu esperava um acontecimento glorioso; que seria tudo maravilha, mas, como todos sabemos, a independência nasceu como acontece com o nascimento das pessoas: com muito sangue. Foi um parto difícil e levou algum tempo a conseguir chegar-se àquele momento em que hoje andamos. Felizmente, hoje já andamos com o nosso próprio pé. Já se cresceu mais.

onofre3.jpg - Olhando para trás, valeu a pena a conquista da independência? - A independência é uma coisa que foi sonhada durante décadas. Não se pode recuar muitas antecedências, porque Angola nunca foi um país com a configuração geográfica e política que tem hoje. Havia muitos reinos com quem Portugal, nas suas viagens de descoberta, criou negociações ou tratados. Depois, houve ocupações, situações de domínio abusivo e, no fim, já no século XIX, criaram-se as colónias. Todos os países europeus sentiam que tinham que ter em África uma colónia, que, no fundo, era uma extensão, o seu espaço para expansão. Os europeus admitiam que era em África onde podiam fazer uma afirmação da sua existência na Europa, mesmo no caso de países tão pequenos como Portugal ou a Bélgica.

besanga0.jpg A independência valeu a pena, porque foi uma resposta à necessidade de dar dignidade aos angolanos. O problema não era saber se os angolanos iriam ficar melhor no dia seguinte. O importante é que os angolanos tinham o caminho aberto para a sua própria dignidade. Este é o ponto fundamental da independência. Se, hoje, ainda não conseguimos ser o país que gostaríamos de ser, em que o povo todo tenha os benefícios da independência, o facto é que, há 40 anos, foi conquistada a possibilidade de um caminho em que todos se sentissem mais dignos, porque não estaríamos sob dominação de outrem, por cima um europeu, que, em África, era sempre um estranho, e que, durante séculos, justificou a sua presença com função civilizadora. E houve muita coisa que aconteceu, que permitiu que os angolanos fossem tomando consciência de luta anti-colonial. Foi uma conjugação muito interessante, porque houve angolanos e cidadãos de outros países de língua portuguesa que saíram de Portugal, onde estavam a estudar, para enveredarem pela luta. Alguns deles tornaram-se presidentes ou primeiro-ministros, embora nada tenham conseguido sem o apoio das bases. Por exemplo, no caso da Casa dos Estudantes do Império, o Estado português pensava que era um viveiro de aportuguesados, mas, caricatamente, verificou que estava a criar líderes nacionalistas.

- besanga2.jpgFoi um erro de cálculo do regime colonial português? - Não que tenha sido um erro. Se calhar, ao criarem a Casa dos Estudantes do Império, fizeram-no de boa intenção. Às vezes, tenta-se fazer uma coisa, mas sai ao contrário.

- O "tiro colonial" saiu pela culatra a Portugal? - Por mais que a gente contrarie, aquilo que tem de ser e o que deve ser, acontece. A Casa dos Estudantes do Império é um marco, porque nela confluíram não só angolanos, como também moçambicanos, cabo-verdianos, santomenses, bissau-guineenses, entre outros. Curiosamente, coincidiu também com a luta de alguns portugueses, que queriam derrubar o regime fascista, que tinha o aspecto de dominação colonial. A Espanha, ao lado, era também fascista, mas como deu a independência à Guiné Equatorial, já não foi tão atacada nesse plano.

 

- O que terá falhado para que, após a independência, Angola entrasse em guerra? -Terá o período de transição sido eficaz e pacífico? - A transição nem foi eficaz, nem pacífica, porque Portugal, naquele momento, entendeu que havia movimentos com os quais fez acordo (os Acordos de Alvor), mas se verificou uma coisa: os angolanos não estavam todos coesos. Mesmo na luta de libertação, o MPLA, a UNITA e a FNLA nunca se congregaram. Houve tentativas para isso, mas o que é facto é que estas diferenças, por momento, se apagaram. Em Portugal (durante a assinatura dos Acordos de Alvor), os três partidos falaram numa só voz, mas, depois, vieram ao de cima as grandes divergências que havia entre eles. 

- Quais eram, nessa altura, as principais divergências? - Eram mais divergências ideológicas. Estávamos num mundo de dois blocos (o americano e o da então União Soviética), e havia uma inclinação para um destes lados. Havia a possibilidade de jogar com países vizinhos, como a África do Sul, que tinha naquela altura um sistema racista. Havia amigos/aliados de ocasião que foram usados, porque, em desespero de causa, a gente lança a mão ao primeiro amigo que nos estende a corda.

Xicululu : - Olhar de esguelha, mau-olhado, olho gordo, cobiça

(Continua...)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:06
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Quarta-feira, 10 de Junho de 2015
MONANGAMBA . XXIX

ANGOLAFALAS DE LUANDA DO ANTIGAMENTE. ... Coqueiros ao redor de 1960 - III

Por

 Américo.jpg Américo Barroso - Engenheiro de formação - Um kamundongo integral; Ele era do Bairro dos Coqueiros, morava na Rua Avelino Dias (Said Mingas). Ele era um mestre das falas com os "cús-tapados"; o filho da Dona Laura, faleceu a 5 de Maio de 2015  em lisboa.

"LUANDA TROPICAL" - BAIRRO DOS COQUEIROS

corimba4.jpg (...) Ela, a minha filha, nasceu na Vila Alice mas tem nacionalidade e mentalidade "brasuca". Tens uma boa memória! A professora (dona) do Colégio era a D. Mercedes, certo? As notícias de quem não via "à bué" de tempo, caem bem. Não ligues à maneira como me expresso, continuo a ser brincalhão e bem-humorado! Bom, fui assim enquanto vivia! Não conhecia este site da “Luanda Tropical” e, caí aqui por mero acaso. Todavia foi bom porque de imediato encontrei a alma de alguém que se lembrou de mim. " Moras em Cascais hein? Também és TIA? " Não me quero alongar demasiado para não te chatear. Dá notícias tuas, ok?

lampi2.jpg Nando. Vê se te recordas de mim!? Era amigo do Garrido, que morava no Largo do Pelourinho. Moravas por cima da camisaria Brasilia. Eu morava na Rua Avelino Dias. Os meus "cambas" eram o Fernando Ervedosa, Douttél Pinto, manos Peyroteo, Garnacho,etc... Também estive em França, em Nancy, já lá vão uns anos. Lembraste do Fanecas, o "gago", que arranjava máquinas de escrever, morava na travessa da Sé? Meu ávilo, dá noticias, valeu? Recebe um abraço

amigo1.jpg Como é meu ávilo, estou a ler a tua mensagem e a rir-me! Sou eu mesmo, Américo. Falas bué da malta, tens boa memória! O Marito tinha uma mana "cambuta" usava óculos, mas toda chique e vaporosa. Os Areias, Marroquino, Douttel Pinto, "bumbo" Catarino, Camané, filho da Virginia, o pai tinha "bumbi", que morava no Alfredo de Matos, e o Vilaverde também pertencia à família! A irmã era a Amélia, tinha uma prima que morava na Praia do Bispo. Falas no Ribeiro sapateiro que tripulava uma bicicleta de corridas, o filho nem me lembro do nome. Luís Buorrie, irmão da Alda.

dia30.jpg O Lima pára-quedista; o Joca, o irmão do Tarzan, o pai era dono da Farmácia Restauradores. Os pacotes de farinha musseque com açúcar que a malta comprava na venda do Silva. As nossas lutas nas barrocas que fazia traseiras com o cú tapado; O ringue foi construído pelo Catarino, lembras-te? Também na praia fazíamos os nossos combates com bué de assistência. Não te esqueças do Bilocas, o típico bangão, morava numa casa ao lado da fábrica de papel, a mãe era solteira e tinha uma mana toda "vaidosa" e vistosa.

luis19.jpg Não passava cartucho à malta. A Magy morava na casa de esquina frente ao merceeiro Silva. Mercearia do Oliveira, padaria dos Coqueiros onde a malta arranjava cumbu para comprar pão quentinho. As nossas reuniões à noite no Jardim do Canhão Roto. Essa da malta ir ao Quintas & Irmão orientar os dikitoys, quer se dizer capiangar deixando as caixas vazias, era obra de artistas. Em vida eu morava em Lisboa/centro. Não reparei aonde vives mas vamos marcar encontro para reviver os nossos "velhos tempos” se ainda for vivo.  FUI!

sol4.jpegNota: o relator desta, o Soba T´Chingange  capiangou estes textos das mokandas por via de amigos comuns e readaptou-os para este Kimbo; um morto não fala mas aqui há descrições como se ainda estivesse entre nós. Ele era um engenheiro com banga; tinha estilo estiloso de calcinhas Kaluanga. Lá do além chamaram-no sem se importar se no fazia falta! Ele não devia morrer assim à-toa…

 

(Fim)

Américo Barroso

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:18
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Terça-feira, 9 de Junho de 2015
MISSOSSO . XVI

MALAMGE - O Secúlo Romanof guardava a morte no sovaco; a catinga já lhe cheirava a cadáver.

Por

soba0.jpg T´Chingange

preto2.jpg Romanof andava muito cúmplice de sua velha cadeira, herança em kibaba de seu antigo padrinho e patrão de nome Zé do Telhado. Sempre se queixava rezingão dos tempos e num desenrasca se vivia na sua maneira! Carecia de ocupação saudável e, sempre fingia despedida de quando um de nós, seus ávilos lhe dizíamos que mano toma cuidado! Tu vais morrer sentado nessa cadeira, levas uma vida só de sentado, sesismudo e isso não é bom para o teu sangue! Ele fazia sua cara enrugada, mastigava as palavras, tirava seus sapatos empurrando-os para debaixo da mesa refilafustando:

preto3.jpg - Porcaria de coração! E, batia no peito como se castigando seu órgão nobre; por causa dele tinha de ficar ali todo o tempo se castigando nas lembranças de antigamente que só lhe dava sossego mesmo falando dos cansaços dos outros! Só isso lhe dava os contentamentos, falar dos alheios! Todos lhe diziam coisas que ele não gostava porque seu malembe-malembe lhes fazia confusão só à-toa. Romanof tinha este nome que de alcunha ficou mesmo seu nome; seu padrinho Zé do telhado lhe baptizou assim e com muito orgulho já com os seus setenta anos, engordava suas falas nos tristes silêncios lembrando sua mulher Xituca que se lhe morreu faz um ano, assim só sem mais nem menos! – Ela não tinha nada que morrer assim só num repentemente e sem avisar! … dizia ele muitas vezes.

preto0.jpg À noite lhe ouvíamos cantar suas lengalengas, ralhaduras com seu filho, um descendente muito feito de preguiça e que por ali passava só mesmo para lhe pedir cumbu! E, ele que num tinha, fazer sofrer assim seu pai que não tinha mais presente! Verdade, Romanof só tinha mesmo passado, e dizia: - Eu era, eu tinha, eu fazia e acontecia e, sempre seu padrinho estava presente que até nós nem duvidávamos! Ele mostrava as medalhas de seu padrinho-patrão que ele lhe legou; e, ali estavam penduradas por cima de sua própria estória, na entrada de seu mukifo de taipa, de barro com chinguiços e bosta de boi.

besanga3.jpg Ele tinha politicas razões para falar dele, do Zé do Telhado, um homem nas direitas da vida, um mwata mesmo! não havia outro branco de mais categoria, um gweta que a estória escondeu na cortina da vida! Afirmava ele com orgulho de muito aprumo. – Devia ter uma estátua aqui em Malange! Falava assim como que barafustando com os novos mwangolés que não tinham respeito na nação! - Esta terra vem lá detrás, e eles, num repentemente matam as almas, não têm de direito fazer isto! E, assim se ficava olhando no vento do tempo, cheirando os espíritos que corriam na fé de Cristo e, nos dias de que ninguém que pode mesmo tossir, ninguém que nada; no seu pé, Zé do Telhado era um branco bom, tinha adquirido direitos de respeito!

preto5.jpg Com tudo isto fazer dele Zé uma pedra, nós não tínhamos como falar no catravêz porque morto ele, podia não gostar? - Cala-te, não quero mais ouvir nada. Por soma de grandes cansaços nós os amigos, deixamos de lhe falar nos poucochinhos. Entartarugamos nossas falas num sono, na intenção de só apenas ficar na tristeza dele. Romanof defuntou-se um ano depois! A seu pedido, sua campa ficou ali por perto da campa do Zé do Telhado, seu patrão, seu padrinho e um bom branco. Ambos ficaram nos murmúrios das águas escuras, num sono derramado em conversas de apurados silêncios.

MISSOSSO: Conto de raiz popular que em Angola teve seu criador e percursor o escritor Óscar Ribas. Neles, há diálogos com espíritos, calungas ou kiandas e animais que falam, riem e até fazem pouco dos mortais, superstições e crendices que fazem parte da cultura dos N´Golas.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:12
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Segunda-feira, 8 de Junho de 2015
MALAMBA - LXXXVII
ANGOLA - O OUVIDOR DO KIMBO - Relembrar o Luena (Kangamba) - antiga Vila Luso… 9ª de 11 Partes

Malamba e a palavra - As escolhas do Kimbo

Publicada por:

nasc1.jpg H. Nascimento Rodrigues - Licenciado em Direito, Jurista eminente e homem público que se destacou, em todas s funções que exerceu no M´Puto - Nasceu no Luena (Kangamba), antiga Vila Luso em Angola…Faleceu no ano de 2010

mutopa0.jpg Era então que os mais velhos ficavam sentados ao redor das fogueiras, a beber marufo e a fumar nas suas mutopas e contavam as estórias de caçadas antigas, fabulosas, daquelas que não mais se repetiriam porque já não havia tanta caça e porque os jovens do kimbo tinham perdido o gosto da aventura de calcorrear matos e montes, galgar rios e penetrar até ao fundo dos fundos da floresta. Numa dessas ocasiões, por gentileza, trouxeram-me uma bâmbi cuja mãe fora morta na caçada. A pequenina gazela mal se sustinha nas esguias e muito frágeis pernas, tinha o focinho húmido e uma pele castanha, quase sedosa, que apetecia cheirar. Para mim foi amor à primeira.

corimba3.jpg Minha Mãe ocupou-se dedicadamente do bâmbi, porque percebeu o que eu não podia perceber: que o bâmbi, sem a mãe e com tão poucos dias, corria risco de vida. Alimentou-a a leite, com os meus mais velhos biberões, entrapou-a em pedaços de manta à noite, deixava-me pegar-lhe ao colo e tenho uma vaga ideia de que até sulfamidas lhe dissolveu no leite, não sei para quê.

mutopa5.jpgTudo foi em vão, porque uma certa manhã veio dizer-me que o bâmbi tinha morrido e a tinham enterrado no quintal, lá para os lados do kimbo. Ainda hoje tenho a certeza de que esse foi o primeiro grande desgosto da minha vida e recordo-me de ter chorado desalmadamente. Se há coisa, porém, que rapidamente cura desgostos é precisamente essa idade da meninice. Os “putos do kimbo” em breve estavam de volta, agora traziam a última maravilha: um carro feito de canas de bambu, com um enorme guiador, que não passava de um longo e estreito pau que servia para o mover.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:21
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Domingo, 7 de Junho de 2015
MULUNGU . XLV

TEMPOS CUSPILHADASPasseando o esqueleto num reino outrora moiro...

Por

soba0.jpg T´Chingange

mess04.jpg Ainda não eram sete horas da manhã quando iniciei a marcha do dia por duas horas na falsa estepe alentejana. Saí da minha Misericórdia, cruzei a rua do Outeiro entrando na Casal Ventoso e logo cheguei ao muro da Horta Nova aonde em outro recuado tempo botavam penicadas porque não havia como hoje quartos de banho; Foi com a chegada dos magalas da guerra em áfrica e, depois de 1971, que a gente  da terrana, na sua maioria, começou a ter quartos de banho em suas casas; antes não havia saneamento básico nem água canalizada.

mess7.jpgDesta Rua da Eirinha e um pouco mais adiante, virei à direita pela principal Rua de Alvalade. Pude ouvir as sete badaladas da Torre do relógio quando já descia para o cruzamento que liga a Rio de Moinhos à direita mas, eu iria seguir em frente via Alvalade como disse mas, aproveito recordar que em outros tempos se fazia ouvir os sinos da Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios lá no topo e junto às ruinas do castelo mouro; eram as avé-marias da terra, o toque das doz horas, tempos de terços e rosários cantados ou rexzados aonde quer que se estivesse. 

mess01.jpg Esta Igreja Matriz pode ser vista de todos os lados. Parei por momentos no chafariz de Alonso Gomes construído a 15 de Julho de 1880 uma veia de água que dizem sair debaixo do altar da Nossa Senhora dos Remédios; conta-se que em recentes tempos havia uma fonte uns cem metros mais ao lado e na chapada da colina; que a mesma fornecia de água para beber a todo o povo, lembro-me de ter bebido dela e que o dono proibiu às gentes irem ali se aprovisionar. Depois deste acontecido, a fonte que sempre deitou água secou completamente pelo que se disse logo ser o castigo da Santa pela proibição e eis que o dono, reconsiderando, a tornou a abrir e milagre, a bica recomeçou a botar água.

mess0.jpg Nesta terra de xistos, falsa savana, pode ver-se muitas carriças ou calhandrinas acompanhando-nos aos solavancos de funcho em funcho, de cardo em cardo. Pude ver e ouvir rebanhos de ovelhas com toques de variados timbres com chocalhos e badalos em clareiras de erva doirada com envolventes chaparros, sobreiros e oliveiras seculares. E lá está o pastor com o cajado acilhando o corpo ao chão mais o rafeiro Alentejano, estirando a preguiça na sombra do dono, duma azinheira ou sobreiro. Alentejo não tem sombra senão a que vem do céu e os abrigos nem sempre estão aonde a necessitamos. Tiradores de cortiça lançavam no meio do montado seus machados aos troncos descascando os sobreiros deixando-os como que despidos com um amarelo cruo.

mess1.jpg No topo de outra colina talvez a uns três quilómetros da anterior, lá estava a ermida de Nossa Senhora de Assunção com sua traça muito igual a tantas outras, de duas torres e riscada a azul nos cunhais e vigamentos fazendo um quadro bonito de se ver ao perto e lá detrás perfilando no horizonte também azul. Mais longe e já quase de regresso, passada que estava uma hora, lá estava a escola de Vale de Água, que em outros tempos dava ensinança aos putos de alguns montes por ali dispersos. Agora é um clube meio descuidado de pescadores, caçadores e outros mentirosos. No regresso retive minha atenção no desvio para o lugar da Aguentinha do Campo que de monte passou a turismo rural; transformações que os tempos obrigaram a que se fizesse por novas técnicas agrícolas com o uso de maquinarias variadas.

mess5.jpg A Buena Madre foi ficando para trás e já coçado pelo atrito pelos mais de dez quilómetros percorridos, comecei a ficar arrepelado nas peles das bochechas celulitosas. E, pude ver ainda pequenos tufos de papoilas do campo dum vermelho vivo entre outras de cardos em tons amarelos, brancos, azuis e violetas. Também dei pontapés a fungos na forma de velas, peidos de velha do qual sai um pó amarelo com cheiro de mofo.

mess6.jpg Tive este grato prazer de ver coisas que parecem não ser notadas por outras pessoas! Será que sou eu uma abetarda neste paraíso e, na forma de espírito. Belisquei-me e senti dor; era eu, mas não estava escrito que aqui viria passar meus setenta anos nesta “Mesjana” que em árabe quer dizer Messejana e que significava prisão. Seria aqui um campo de concentração dos Cristãos numa jihad islâmica do antigamente. A curiosidade é mesmo uma coisa se só alguns têem…

Mulungu: É uma arvore de grande porte com flores vermelhas; existem no Brasil e em Angola

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:04
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Sábado, 6 de Junho de 2015
PUTO . LIII
TEMPO DE CINSAS . PORTUGAL NO SEU PIOR... Uma pérola de texto!

As escolhas do kimbo

Não se refere o autor, porque qualquer um de de nós gostaria de o ter escrito.

PORTUGAL: QUE FUTURO ?...

Trinta e cinco anos de vida. Filho de gente humilde. Filho da aldeia. Filho do trabalho. Desde criança fui pastor, matei cordeiros, porcos e vacas, montei móveis, entreguei roupas, fui vendedor ambulante, servi à mesa e ao balcão. Limpei chãos, comi com as mãos, bebi do chão e nunca tive vergonha.

messjana0.jpg Na aldeia é assim, somos o que somos porque somos assim! Cresci numa aldeia que pouco mais tinha que gente, trabalho e gente trabalhadora. Cresci rodeado de aldeias sem saneamento básico, sem água, sem luz, sem estradas e com uma oferta de trabalho árduo e feroz. Cresci numa aldeia com valores, com gente que se olha nos olhos, com gente solidária, com amigos de todos os níveis, com família ali ao lado. Cresci com amigos que estudaram e com outros que trabalharam. Os que estudaram, muitos à custa de apoios do Governo, agora estão desempregados e a queixarem-se de tudo. Os que sempre trabalharam lá continuam a sua caminhada, a produzir para o País e a pouco se fazerem ouvir, apesar de terem contribuído para o apoio dos que estudaram e a nada receberem por produzir.

araujo10.jpg Cresci a ouvir dizer que éramos um País em Vias de Desenvolvimento e... de repente éramos já um País Desenvolvido, que depois de entrarmos para a União Europeia o dinheiro tinha chegado a "rodos" e que passamos de pobretanas a ricos "fartazanas". Cresci assim, sem nada e com tudo. E agora, o que temos nós?

1. Um país com duas imagens:A de Lisboa, cidade grandiosa, moderna, com tudo e mais alguma coisa, o lugar onde tudo se decide e onde tudo se divide, cidade com passado, presente e futuro. E a do interior do país, território desertificado, envelhecido,abandonado, improdutivo, esquecido, pisado.

2. Um país de vícios: Esqueceram-se os valores, sobrepuseram-se os doutores. Não interessa a tua história, interessa o lugar que ocupas. Não interessa o que defendes, interessa o que prometes. Não interessa como chegaste lá, mas sim o que representas lá. Não interessa o quanto produziste, interessa o que conseguiste. Não interessa o meio para atingir o fim, interessa o que me podes dar a mim. Não interessa o meu empenho, interessa o que obtenho. Não interessa que critiquem os políticos, interessa é estar lá. Não interessa saber que as associações de estudantes das universidades são o primeiro passo para a corrupção activa e passiva que prolifera em todos os sectores políticos, interessa é que o meu filho esteja lá.  Não interessa saber que as autarquias tenham gente a mais, interessa é que eu pertença aos quadros. Não interessa ter políticos que passem primeiro pelo mundo do trabalho,interessa é que o povo vá para o c...*

messejana9.jpg 3. Um país sem justiça: Pedófilos que são condenados e dão aulas passados uns dias. Pedófilos que por serem políticos são pegados em ombros e juízes que são enviados para as catacumbas do inferno. Assassinos que matam por trás e que são libertados passados sete anos por bom comportamento! Criminosos financeiros que escapam por motivos que nem ao diabo lembram. Políticos que passam a vida a enriquecer e que jamais têm problemas ou alguém questiona tais fortunas. Políticos que desgovernam um país e "emigram" para Paris. Bancos que assaltam um país e que o povo ainda ajuda a salvar. Um povo que vê tudo isto e entra no sistema, pedindo favores a toda a hora e alimentando a máquina que tanto critica e chora.

messejana5.jpg 4. Um país sem educação.Quem semeia ventos colhe tempestades. Numa época em que a sociedade global apresenta níveis de exigência altamente sofisticados, em Portugal a educação passou a ser um circo. Não se podem reprovar meninos mimados. Não se pode chumbar os malcriados. Os alunos podem bater e os professores nem a voz podem levantar. Entrar na universidade passou a ser obrigatório por causa das estatísticas. Os professores saem com os alunos e alunas e os alunos mandam nos professores. Ser doutor, afinal, é coisa banal.

messejana1.jpg

5. Um país que abandonou a produção endógena. Um país rico em solo, em clima e em tradições agrícolas que abandonou a sua história. Agora o que conta é ter serviços sofisticados, como se o afamado portátil fosse a salvação do país. Um país que julga que uma mega fábrica de automóveis dura para sempre. Um país que pensa que turismo no Algarve é que dá dinheiro para todos. Um país que abandonou a pecuária, a pesca e a agricultura. Que pisa quem ainda teima em produzir e destaca quem apenas usa gravata. Um país que proibiu a produção de Queijo da Serra artesanal na década de 90 e que agora dá prémios ao melhor queijo regional. Um país que diz ser o do Pastel de Belém, mas que esquece que tem cabrito de excelência, carne mirandesa maravilhosa, Vinho do Porto fabuloso, Ginginha deliciosa, Pastel de Tentugal tentador, Bolo Rei português, Vinho da Madeira, Vinho Verde, lacticínios dos Açores e Azeite de  Portugal para vender. E tanto, tanto mais... que sai da terra e da nossa história.

junho0.jpg 6. Um país sem gente e a perder a alma lusa:  - Um país que investiu forte na formação de um povo, em engenharias florestais, zoo técnicas, ambientais, mecânicas, civis, em arquitectos, em advogados, em médicos, em gestores, economistas e marketeers, em cursos profissionais, em novas tecnologias e em tudo o mais, e que agora fecha as portas e diz para os jovens emigrarem. Um país que está desertificado e sem gente jovem, mas com tanta gente velha e sábia que não tem a quem passar  tamanha sabedoria.

raujo8.jpg Um país com jovens empreendedores que desejam ficar mas são obrigados a partir. Um país com tanto para dar, mas com o barco da partida a abarrotar. Um país sem alma, sem motivação e sem alegria. Um país gerido por porcaria. E agora, vale a pena acreditar? Vale! Se formos capazes de participar, congregar novos ideais sociais e de mudar. Porquê acreditar? Porque oitocentos anos de história, construída a pulso, não se destroem em tempo algum. Porque o solo continua fértil, o mar continua nosso, o sol continua a brilhar e a nossa alma, ai a nossa alma, essa continua pura e lusitana e, cada vez mais fácil de amar.

M´PUTO -  Portugal em dialeto kimbundo e giria para designoar a metrople Lusa.

Ilustraçõe de Costa Araújo Araújo e fotos da aldeia de T´Chingange 

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:05
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Sexta-feira, 5 de Junho de 2015
CAFUFUTILA . LXXXIX

 LUANDA - Relatos e histórias de antigamente… V

Por

luis0.jpg Luis Martins Soares  Nasceu a 8 de Julho de 1934. Tem agora 81 nos de idade. Uma biblioteca de coisas esquecidas numa Luanda que nessa altura não tinha ainda 18 000 habitantes.

soba0.jpeg T´Chingange. Nasceu em águas internacionais num vapor chamado Niassa. É cidadão do mundo, Angolano da diáspora - Mazombo por condição; anda pelo Mundo à procura de si mesmo! Sente-se e respira Angolano, tem cédula do Brasil, B. Identidade do M´Puto e gosta imenso de toda a África; É mentiroso por opção e costuma praticar surf numa Praia que o não é… Anda às arrecuas para fugir à regra, um paradigma novo, só dele. 

dia0.jpg (... Falas de T´Chingange) Depois de 1950 começaram a surgir brancos chegados do M´Puto como vendedores de jornais, ardinas, engraxadores e empregados de mesa de café. Um destes tornou-se um homem rico, dono de um banco e negociante de sucesso, o banqueiro Horácio Roque, aquele que foi o dono do Banif, possuidor de uma fortuna calculada em 1,12 mil milhões de euros mas que também morreu; em vida foi comendador entre a comunidade Portuguesa residente na África do Sul (lugar aonde há mais comendadores de fala lusa por quilómetro quadrado). Casou com Fátima Roque que durante anos foi ministra de negócios do Governo no exilio da Unita (nesse então eu T´Chingange, era um quadro sem grande destaque e, desarmado deste movimento). Aliás, a grande maioria de empregados de café eram brancos. Coisa diferenciada de todo o resto de África; isto só se verificava em Luanda e outras cidades de Angola. Em nenhum outro lado de áfrica se verificava isto.  Esta situação manteve-se assim quase até 1975 quando da Independência.

dia4.jpg Luanda que foi fundada a 25 de Janeiro de 1576 pelo fidalgo e explorador português Paulo Dias de Novais, sob o nome de São Paulo da Assunção de Loanda, conta agora, ano de 2015, com uma população de aproximadamente 8.3 milhões de habitantes, tornando-a na terceira mais populosa cidade lusófona do mundo, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro, ambas no Brasil e, à frente das demais, incluindo Maputo, Brasília e Lisboa. Não entram neste computo as cidades de Paris em França e  Newark no estado de Nova Jérsei, nos Estados Unidos.

luis5.jpgA cidade de Luanda com seu diminutivo de Luua ganha o nome através da sua ilha (Ilha de Luanda), local onde os primeiros colonos portugueses se radicaram. O topónimo Luanda provém do étimo lu-ndandu. O prefixo lu, primitivamente uma das formas do plural nas línguas bantu, é comum nos nomes de zonas do litoral, de bacias de rios ou de regiões alagadas (exemplos: Luena, Lucala, Lobito) e, neste caso, refere-se à restinga tendo dum lado o Atlântico de mar aberto e do lado interior a bela baia de Luanda transformada recentemente.

HPIM1302.JPGAlguns escritos referem ser o loando uma esteira que os pescadores da ilha mazenga designada agora por restinga, usavam para descansarem dentro ou fora de suas cubatas e sendo alguns deles para dispor o peixe a secar em cima da quente areia. Estes pescadores tinham o nome de muchiloandas podendo também ser este nome como natural de Luanda, havendo outros como caluanda, camundongo ou calcinhas. Aqui os ricos e do governo são chamados de mwangolés, aos brancos chamam gwetas, besugos ou albinos (em desugo). Como rebelião o Calcinhas da Luua fala com muita gíria, um crioulo com português, quimbundo, umbundo e fala de banga ou estilo; coisas importadas do negro do mato (matumbo, mato com bumbo).

coqueiros3.jpg Fora de Luua poucos os entendem quando assim falam e ainda têm muito racismo embutido pela revolução na vertente ideológica do emepelá (MPLA) mas todos dizem com orgulho que esse é o seu ADN, sua kizumba, seu carisma de N´Gola. Luanda é das cidades mais caras do Mundo senão a mais cara e eles, matumbos, fazem muita banga nisso! Os Tugas lambem as botas aos mwangolés  na mira de agarrarem uns kumbús, o quitari (muito dinheiro) ficar ávulo.

dia35.jpgTudo anda com gasosa, nome de gorgeta que viciou todos de cima a baixo numa sociedade adultera até os tornozelos; cazucutas, aldrabões por natureza e nunca perdem a oportunidade de rebaixar os Tugas, os imbindas, os Kiocos Os Umbundos, os Kamessequeles e todas as outras etnias. Têm a mania que ainda têm sangue da Rainha Ana N´Zinga M´bande ou do seu pai N´Gola Kiluanji… ou ainda do Dom Hari A Kiluanji que governou em 1626.

CAFUFUTILA, (kifufutila): - farinha de mandioca torrada misturada com açúcar. Do Kimbundo de Angola

(Continua… Só com T´Chingange)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:14
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Quinta-feira, 4 de Junho de 2015
MUXIMA . XLII

NUM TEMPO COM CINSAS - Trocadilhos com caracóis, torradas e chouriço …
Por

soba0.jpeg T´Chingange

caracol0.jpg Escoiceando rezas envenenadas, amassadas nas inquietações e depois entrelaçadas em muxoxos, separo o sonho da realidade ou, tento colocar palavras no papel, porque o cérebro tem de ficar destinado para novas vibrações. Há pessoas tão sensíveis que acendem desejos às arrecuas, são tão inteiras que até perecem doentes com seus juntos e certos pensares parecendo aleatórios ou até espontâneos.

caracol01.jpg Catarino, dono das falsas estepes em terra das abetardas no seu palavrear ondulado como as mesas do seu Alentejo, vestido na sua ganga azul de mineiro de Aljustrel mas, sendo patrão dele mesmo, interrogou-me a alma pondo-a em sobressalto, perguntando-me algo que nunca ninguém o tinha feito: - Alguma vez alguém perguntou ao caracol, alguém se interrogou do quanto um caracol sofre ao ser cozido vivo!? 

caracol3.jpg No meio de uma caracolada com sabor de orégãos, tomilho e funcho, esta conversa assustava os menos avisados como eu mas isto, ninguém queria aceitar ou saber. Passei meu lenço de toalha de rolo no rosto, daqueles que se usam na cozinha e fui-me assustando nos restolhos das conversas, nos iluminados atalhos que cada um tem nos pormenores preparatórios para os bicho ficarem sem pedras por dentro. Convém saber-se que o "caracol" vem do latim cochleolus e que, no Brasil e em certas partes de Portugal, é usado principalmente para as espécies terrestres, enquanto que as espécies aquáticas são chamadas caramujos. Os caracóis não tem audição e utilizam especialmente os sentidos do tacto e do olfacto que se situam em todo o corpo mas principalmente nas antenas menores já que pouco enxergam com os olhos situados nas pontas das antenas maiores. Ao lado da boca fica o aparelho genital e a entrada e saída do ar dos pulmões, o pneumóstoma, que fica por baixo da concha.

caracol2.jpg Mas, dizia eu que aqueles pormenores preparatórios iniciavam-se por colocar o caracol após sua apanha em uma bacia com rodelas de batata, esperando o exacto momento em que aqueles roessem as rodelas totalmente deixando só a pele do tubérculo. Para cada malga de cochleolus, dispunha-se uma batata e, acontecendo isto, estarão os bichos em jeito de ir à panela! Cortam-se uns quantos alhos em pedacitos juntando-se-lhe cebola também picadinha, uma ou duas colheres de orégãos podendo também juntar-se-lhes outras sabores como o tomilho e louro para dar o gosto requerido podendo no final juntar-se-lhe umas folhas de hortelã. O lume tem de ser brando para que ponham as cabeças de fora e por forma a serem deglutidos preferivelmente sem o uso de palitos, pontas de piteira ou tabaibos; mas que crueldade!

caracol1.jpg Estas regras paulatinas contavam-se-me em inumana voz rouca, manchando o meu sossego. Era uma festa de amigos em final de tarde no consolo dum alpendre apergolado e com buganvílias com flores vermelhas. Estava calor, para mais de trinta graus com todos bebendo, todos contando zombarias e cavalhadas. Meu afilhado Catarino, homem de expediente, carecido de ocupação salarial, patrão disfarçado de rico, despachava as caracoletas, uma e mais uma, cúmplice neste sossego de vida, queixando-se de barriga cheia. Foi quando alguém se lembrou das conquilhas, das condelipas, das quitetas, das ostras e lagostas serem sufragadas do mesmo jeito! 

caracol00.jpg Entre cheiros e couves empilhadas a eito, ninguém reparou no meu triste silêncio! Não estava habituado. Milocas, a mulher do patrão disfarçado de rico mandão meu afilhado, para cá e para lá rompia o escuro inteiramente contrafeita com aquela pantagruélica tertúlia de bebedolas; só eu podia ver nela o desassossego na função de serviçal. Às tantas nem sei porquê, no meio das vozes que sobravam, ralhando com a preguiça do marido desferiu a sua razão: Catarino,… Pensas, na vida? – Penso! Até muito! Respondeu ele, rematando, … Porquê? – Porque só pensas sentado! Foi quando compreendi o desassossego do escuro; Catarino comia muito! – Traz-me isto! traz-me aquilo! E, …mais eteceteras. - Eu sozinha, dentro e fora, e vocês aí enfardando que nem moirões! Disse, já farta da borga e das extravagâncias. Eram horas de ir dormir! Os amigos foram-se levando os risos, as asneiradas. Ela, Milocas uma vez mais se aleijou; se aleijou na razão de mulher.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:06
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Quarta-feira, 3 de Junho de 2015
MONANGAMBA . XXVIII

ANGOLAFALAS DE LUANDA DO ANTIGAMENTE. ... Coqueiros ao redor de 1960 - II

Por

Américo.jpgAmérico Barroso - Engenheiro de formação, um kamba a toda a prova - Um kamundongo integral; Ele era do Bairro dos Coqueiros, morava na Rua Avelino Dias (Said Mingas), ao lado do Colégio Infante D. Henrique, pertinho da mercearia Oliveira;  Ele era um mestre das falas com os "cús-tapados"; o filho da Dona Laura, faleceu a 5 de Maio de 2015  em lisboa.

"LUANDA TROPICAL" - BAIRRO DOS COQUEIROS

dia19.jpg Será que cheguei tarde para falar do meu bairro? Sou novato neste sitio (Mokanda ao blogue Luanda Tropical); estou a navegar à toa, mas vou segurar o leme da embarcação. Sou do Bairro dos Coqueiros! Os meus "avilos" são tantos que quero reportar alguns para avivar memórias. A família do Manel Teddy Boy, pai da Mariza Cruz,"a kiduxa do euro milhões", eram vizinhos meus. Meus "cambas", falando do pessoal do "cú-tapado", quem se recorda de Douttel Pinto, Fernando Ervedosa, irmãos Areias e os Marroquinos.

coqueiros 1.jpg Os Garridos, do Largo do Pelourinho; da Bilocas, do Luis Burrié, irmão da Alda Peyroteo, Garnachos, do Lima paraquedista. O "bumbo" mais branco do nosso bairro: Catarino Vilaverde", o mwadié que aprumava" com a Sra. que morava no prédio Alfredo de Matos. Não cito o nome! (estou nos anos 60!). Estou só a dar uma dica para ver se alguém se recorda de mim... As nossas reuniões eram no Jardim do Canhão Roto, frente ao Alfredo de Matos.

coqueiros3.jpg Américo, penso que sejas o filho da Dona Laura que morava pegado ao colégio onde andei e lembro-me bem de ti. Eu morava no prédio de esquina com a fábrica de papel e conheci essa malta toda de que falas. Tenho estado com a Alda irmã do Luis. Ele vive no estrangeiro. Olá Bitucha! Acertaste na MOUCHE. Sou eu mesmo, filho da Dona Laura, o Américo.

coqueiros4.jpg Se moravas no prédio frente à fábrica de papel, é óbvio que te conheço! Deixa eu meter os miolos a funcionar para, "timidamente", dizer BINGO! Eu, já faleci mas, enquanto vivo morava em Lisboa, nos Anjos, e embora me mantivesse solteiro, tive a viver comigo um filhote com 15 anos desde que nasceu. A minha filha mais velha, hoje com 41 anos foi para o Brasil em 1977 com a mãe dela… A descolonização fez destes desencontros que por mais que queiramos não esquecemos, nem mesmo morto…

luis7.jpgMonangamba - trabalhador sem especificação, faz-de-tudo (por vezes pejorativo).

Nota: o relator desta, o Soba T´Chingange  capiangou estes textos das mokandas por via de amigos comuns e readaptou-os para este Kimbo; um morto não fala, mas aqui há descrições como se ainda estivesse entre nós.

Américo Barroso

 (Continua…)

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:04
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Terça-feira, 2 de Junho de 2015
MOKANDA DO SOBA . LXXVIII

TEMPO ACINZENTDOMeus amigo referem com frequência que tenho uma cabeça brilhante…

Por

soba0.jpegT´Chingange

araujo2.jpg Nossa memória é muito fértil e quando trabalhada vai para além dos limites normais e, muitos dirão até sem mais nem menos que sicrano é um anormal! Referem-se a mim, poi claro! Ponto parágrafo. A vida é muito repleta de incongruências, de coisas desavindas ou desavisadas mas, indo eu a caminho do Alentejo lembrei-me de pensar nisto e, relembrei que ultimamente meus próximos amigos me referem amiudadamente que tenho uma cabeça brilhante! Creio que querem dizer outra coisa menos normal e que só por deferência respeitadora, falam desse jeito enganando-me e, isso encafifa-me sobremaneira, até à raiz dos cabelos já escassos, porque em frente do espelho vejo sim, um velho setentão, careca, rugoso com carochas e carnes caídas ou encarquilhadas.

araujo5.jpg Olhar macilento no jeito de carneiro mal morto, testa aos socalcos, orelhas com cagoitas pretas e a pele zebrosa fazendo o mapa mundi de gémeo, com os óculos a fazer de equador e trópicos do câncer mais do capricórnio. De brilhante, só a careca reluzindo com a luz tardoz do janelico. Isto para não falar da estrutura inferior que já anda enlutada, quer se dizer de luto quase defuntado com as unhas escarafunchadas, as quinambas cheias de varizes mostrando as misérias da máquina venosa e, no meio aonde supostamente deveria estar a virtude, aí hó ái, nem digo nada para não me mentir, quebrar o mau-olhado das Kátiuscas e Brigites que não me desamparam a loja, um modo de se dizer!  

araujo1.jpg Estou mesmo como o meu frigorífico, sem gaz, minha máquina lavar com os tubos entupidos, e a porcaria da torradeira com a resistência pifada. Mas, estou em crer que tirando uns certos garanhões espaciais que isto é mesmo assim; um adúltero já não necessita de leite porque Já cresceu, um velho já não necessita de brilhantina porque já nem cabelo tem. Ando triste, um tanto desfalecido com pena de mim mas, vou fazer o quê? Apareceu nestes dias o Paulo Futre vendendo banha da cobra com uma bichona ao seu lado, toda lambuzada de batom e piscando o olho, que tal e coisa, que temos de esgadanhar a vida, uma treta para nos animar! Estou mesmo sem qualidade de vida, mesmo, mesmo desqualificado.

araujo3.jpg Mas para minha alegria, há uns dias atrás, telefona-me o Miguel Esteves Cardoso com aquele ar de gozo e bonacheirão: - Hê pá! Tu estás com a cabeça brilhante! Pópilas, digo eu, como é que lá do outro lado e de longe este tipo sabe das minhas mazelas? E, falar-me assim tão jocosamente! E continuou: - Li umas coisas tuas e deste-me uma ideia do caraças para o meu próximo livro! Que tens andado a passear o cachorro, pareces andar muito só!? Estou a telefonar-te para agradecer o “biltong” que envias-te lá das tuas terras do mato do Kaprivi!

araujo4.jpgEnfim,… a conversa continuou mas, agora que estou a caminho do Alentejo refilei sozinhado em mim. Estes gajos põem-se a escrever coisas dos outros, fazem massa com isso, fazem grandes vidas e eu, ando aqui a tinir, desaparafusado, reconstruindo-me, sabe-se lá, talvez na graça do meu tio Nosso Senhor de nome António mas alcunhado desta forma em terra alheia de Abravezes, um nome bem feio, mais o meu outro tio de nome José Lopes mas que todos conheciam pelo Cristo numa terra chamada de Barbeita, bem perto de Viseu. Menos mal que sou de uma família santificada! Minha avó, só por curiosidade chamava-se Madalena, mãe de Cristo e de Jesus! Minha outra tia era Maria! Pelos vistos estou mesmo abençoado! Abrilhantado…

O Sob T´Chingange  



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:12
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Segunda-feira, 1 de Junho de 2015
MALAMBA - LXXXVI

ANGOLA - O OUVIDOR DO KIMBO - Relembrar o Luena (Kangamba) - antiga Vila Luso… 9ª de 11 Partes

Malamba e a palavra - As escolhas do Kimbo

Publicada por:

nasc1.jpg H. Nascimento Rodrigues - Licenciado em Direito, Jurista eminente e homem público que se destacou, em todas s funções que exerceu no M´Puto - Nasceu no Luena (Kangamba), antiga Vila Luso em Angola…Faleceu no ano de 2010

quil5.jpg (…) E em regra era mesmo a questão das culturas, o desaparecimento de gado e, portanto, a situação de fome ou a de saúde dos povos do kimbo o principal motivo dessas conversas, como mais tarde me explicaria meu Pai. Era muito difícil, então, encontrar-se solução adequada para a substituição dos métodos tradicionais de cultivo praticados pelas gentes do kimbo, o puro trabalho muscular pela enxada, e explicar-se que as terras mereciam pousio sob pena de inevitável degradação. Bastava um ano de chuva torrencial ou de sol ardente para que tudo se perdesse. E daí à fome era um ai.

nasc4.jpg O gado, que não era abundante - umas vacas raras, uns cabritos e galinhas - era frequentemente atacado pelos predadores do costume: as cobras, as hienas, por vezes o leão, queixava-se o chefe da aldeia. Menos gado, ou criação a menos, significam também mais fome, está-se a ver. E finalmente, mas não menos grave, existiam as doenças clássicas, como o paludismo à cabeça, a doença do sono que, nessa altura, não tinha ainda ataque sistematizado, a lepra, e também os golpes mais fundos no corpo, causados pelo uso errado das catanas ou das enxadas.

nasc5.jpg Era por essas ocasiões que a conversa entre meu Pai e o velho “sécúlo” do kimbo terminava com as soluções possíveis: mandava-se retirar do armazém sacos de milho, distribuía-se fuba e algum arroz, e minha Mãe era mandada ao armário de nossa casa buscar os frascos de quinino para atacar o paludismo, ou alguma gaze e tintura de iodo para limpar as feridas das lâminas da catana.

nuno1.jpg Em situações mais delicadas, meu Pai autorizava a distribuição de uma meia dúzia de canhangulos, velhas espingardas que já não tinham memória do tempo do seu nascimento, mas que seriam capazes de disparar sobre javalis, gazelas e mesmo impalas-- carne para comer - umas duas ou três vezes em cada dez disparos. Os homens do kimbo percebiam o gesto de confiança, pois nunca vi meu Pai com uma arma na mão, sequer uma simples caçadeira para andar às perdizes.

nasc6.jpg E retribuíam, porque nessas ocasiões, regressados da caça e devolvidas as armas, havia festa no kimbo noite adentro, com cantares e dançares, as palmas das mãos marcando o ritmo dolente da música, as ancas das mulheres requebrando em direcção aos corpos dos homens, numa calucula que mais tarde me soaria parecida com as rebitas da cidade.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:42
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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