Sexta-feira, 30 de Setembro de 2016
MUJIMBO . XCIX

DO M´PUTO - DO LIVRO PROIBIDO . I

kimbo 0.jpg As escolhas do Kimbolagoa

DE

saraiva1.jpg JOSÉ ANTÓNIO SARAIVA - O que não pude (ou não quis) escrever até hoje.

Sobre Sócrates (Pág161)

an2.jpeg «O melhor do jornalismo é aquilo que não se pode escrever», disse-me a jornalista Ângela Silva quando lhe confidenciei que estava a escrever este livro. Por que o terá dito? Porque os jornalistas ouvem muita coisa, vêem muita coisa, falam com muita gente, mas não podem escrever tudo o que vêem e ouvem. Mesmo quando tal não lhes é explicitamente pedido, há regras a cumprir e afirmações que se subentende não se destinarem a publicação.

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E quando um jornalista não cumpre as regras, perde a confiança daqueles com quem se relaciona. Ao longo de mais de 40 anos como comentador e jornalista - 23 dos quais como director do Expresso e nove como director do Sol -, conheci pessoalmente quase todos os políticos de primeira linha, com uma excepção: Francisco Sá Carneiro. De resto, mantive conversas privadas com todos os Presidentes da República eleitos desde o 25 de Abril e com todos os primeiros-ministros dos Governos constitucionais, exceptuando António Costa (que só conheci em criança).

ame11.jpg Com quase todos almocei ou jantei, sabendo-se que as conversas se soltam à mesa, onde as pessoas são mais abertas. Entrevistei muitos deles várias vezes, para a televisão ou para a imprensa. Com alguns mantive longas conversas e frequentes contactos telefónicos. Mas nestas relações nunca confundi os planos. Mesmo quando me faziam confidências de natureza pessoal, eles sabiam que estavam a falar com um jornalista. Um jornalista em quem depositavam confiança, mas um jornalista. E essa distinção é importante, pois é ela que permite um livro deste tipo - que seria impensável se as relações tivessem passado do plano profissional para o plano, necessariamente mais íntimo, da amizade.

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 A única pessoa que me fez confidências a este título terá sido Margarida Marante, e isso está claramente referido no texto respectivo. No momento em que deixo profissionalmente o jornalismo - embora não a colaboração na imprensa - sinto ser o momento de divulgar aquilo que não pude (ou não quis) escrever até hoje. Inconfidências que me foram feitas e que entendi não dever revelar na altura, algumas com mais de 20 anos.

saraiva4.jpg Assim, quase todo o material deste livro é inédito, excepção feita a um ou outro episódio solto publicado nos livros Confissões de um Director de Jornal e Confissões. Para reconstituir as conversas e os episódios aqui descritos recorri à memória mas também às páginas de um diário que escrevi em certos períodos da vida. Nestes casos, o texto é impresso em itálico. Há quem procure ver neste tipo de livros memorialistas oportunidades para vinganças ou ajustes de contas.

saraiva2.jpg Pelo meu lado, nunca o fiz, não o faço e não o farei. O objectivo deste livro é deixar contribuições para a História - e, se não o fizesse com verdade, mais tarde ou mais cedo assaltar-me-iam os remorsos. A vingança, como o crime, nunca compensa. O leitor pode, pois, confiar naquilo que vai ler. Se houver incorrecções ou inexactidões, foram absolutamente involuntárias: foi a memória que me atraiçoou. Mas mesmo isso, a acontecer, será raro e pouco relevante.

J. A. S. - Junho de 2016

saraiva3.jpg José Sócrates

José Sócrates em privado é uma pessoa muitíssimo diferente - e bastante menos brilhante - do que aparenta ser em público. Direi mesmo que é um homem banal. A diferença entre uma pessoa e «outra» chega a ser estranha. Não tem grandes ideias e fala às vezes de temas a despropósito. Em 2001, quando era ministro do Ambiente, convidou-me para um almoço no restaurante italiano Il Gattopardo, no Hotel D. Pedro, nas Amoreiras, que estava muito na moda e que ele frequentava.

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Falámos de vários temas, e ele deu-me um lamiré que se confirmará: a escolha pelo Governo socialista de Emídio Rangel (que tinha deixado a SIC) para director-geral da RTP. Comento essa escolha - manifestando surpresa e mesmo alguma estranheza - mas não me alargo nas observações até porque sei que Sócrates e a namorada, Fernanda Câncio, se dão com Emídio Rangel e Margarida Marante.

sergio4.jpeg Pois bem, Marante dir-me-á uns dias depois referindo esse almoço: «Tu passaste a refeição inteira a dizer mal do Emídio!» Fico estupefacto. Primeiro, porque não era verdade; segundo, porque só estavam duas pessoas à mesa. Pergunto-lhe quem lho disse e ela confirma que foi Sócrates. Sabendo que eu e Marante éramos amigos, foi fazer aquela intriga para meter veneno entre nós - e, claro, entre mim e Rangel. Era este o estilo de Sócrates.

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No fim deste almoço no D. Pedro, Sócrates dá-me boleia para o Expresso no carro do Ministério. Mas não mostra qualquer pressa. Com o carro parado, fica imenso tempo a queixar-se, com o motorista a assistir, da perseguição que o José Manuel Fernandes lhe move no Público. Parece de cabeça perdida. Penso para comigo: «Mas faz sentido um ministro incomodarse tanto com coisas destas? Que importância tem isso?» Ele achava que o J. M. F. estava obcecado com ele - mas o certo é que ele também estava obcecado com o J. M. F.

(Continua…)

As Opções do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 23:28
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Quarta-feira, 28 de Setembro de 2016
MALAMBAS . CXLI

CINZAS DO TEMPO28.09.2016 - Faz falta aceitar que para além do mais temos instintos - Não há maior religião do que a verdade!

MALAMBA: É a palavra.

Por

soba15.jpgT´Chingange - (Otchingandji)

adiafa1.jpegHoje, deleitamo-nos de maneira instintiva com o relato de histórias acerca de terceiros, actores num imaginado palco que albergamos em nosso íntimo. Também as nossas estórias sem agá, aliadas àquelas, tornam-se artes criativas de nossos bancos de memória activadas com as dificuldades inerentes de quem as interpreta e, conseguindo combinar o passado com o presente e o futuro.

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São vínculos efectivos do antes e depois de sermos gente com afectividade, com enganos, lealdades e traições. Estas humanidades só surgiram há dois milhões de anos, quando nos tornamos Homo Habilis porque, antes disto, nós só eramos animais com mais ou menos 600 centímetros cúbicos de capacidade craniana. Guinchávamos como os macacos beduínos de hoje e, tinhamos até comportamentos mais bizarros do que o os destes.

eleuterio sanches.jpg Na evolução do tecido complexo que é o cérebro, aquela capacidade craniana subiu para mais de 1400 centímetros cúbicos levando-nos em crer que no futuro nossas cabeças serão tão grandes que só nasceremos por cesarianas. Houve no correr do tempo necessidade de nos agruparmos na condição de caçadores-recolectores e, nos dias de hoje, termos nas vivências os grupos sociais tais como o blogue Kimbolagoa da Sapo ou a Kizomba do Facebook, tornando nossa mente em um mapa que se expande continuamente.

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Uns fazem e outros aproveitam, uns trabalham e outros vêm trabalhar; estamos a copiar-nos mutuamente ou simplesmente aprovando com um gesto simples de clicar no gosto! Mas diga-se que há gente chata no sentido de aborrecida e, alguns são mesmo achatados nos polos. Há luz de critérios diversificados, bisbilhotamos, tiramos o sarro, trabalhamos o amor, o ódio, a suspeita, a admiração e a inveja; uma sociedade bem complicada!

tonito3.jpg Através de falas amáveis e generosas, fazemos do nosso grupo, nossa tribo, uma distinção especial; todos o fazem porque todos pensam estar no rumo certo em seu pensar e, efectivamente assim estarão segundo seus conceitos e preconceitos.  De uma ou outra maneira vamos criando identidade alternando-nos na competitividade beneficiando os futuros registos antropológicos e arqueológicos para os vindouros; bisnetos e trinetos do nosso paralém.

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Neste aprendizado, maravilhámo-nos com saltos de imaginação e no assombro da inventação equilibraremos o orgulho definindo-nos melhor no lugar que ocupamos na tribo e na natureza. De assombro em assombro, fazemos crescer a caixa craniana e também a epopeia de um mundo vivo aonde demónios e deuses não competem pela nossa lealdade. Ia para dizer deslealdade mas isso não é meritório; pretende-se não ser coisa de elevada relevância entre nós.

toledo18.jpg Somos um produto de nós mesmos, solidários ou frágeis, por vezes independentes. Adaptamo-nos à vida num mundo biológico ainda não totalmente desbravado. Sobreviveremos a longo prazo bisbilhotando, copiando-nos na autocompreensão inteligente e, com uma independência de pensamento.

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Terá de ser assim, pensar maior, tolerando-nos! Nestas quimeras genéticas todos nós seremos ao mesmo tempo, santos e pecadores defensores da verdade e hipócritas. Não me entendam mal ou subestimem. Ao longo dos anos tenho ficado bem defraudado com as pessoas de forma generaliza e, quando se trata de dinheiros de herança, mesmo entre família, a mente torna-se serpente.

tonito4.jpgSe virmos tudo o dito no plural, de forma mais ampla, teremos de compreender que em nossa condição humana faz falta aceitar que para além do mais temos instintos. Que destes, já perdemos muitos deles, mas nós faremos a estória tal como as abelhas produzm mel! Como elas, produziremos cultura naturalmente.

Imagens de Costa Araújo

O Soba T´Chingange - (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:43
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Segunda-feira, 26 de Setembro de 2016
MALAMBAS . CXL

CINZAS DO TEMPO 26.09.2016 - Não há maior religião do que a verdade! Somos o que somos enquanto o somos!

MALAMBA: É a palavra.
Por

soba15.jpgT´Chingange - (Otchingandji)

ki2.jpg Por enquanto só temos este planeta Terra para habitar e, é neste passo que temos de seguir nossa viagem com o sentido de desvendar o quanto baste para nos entendermos; entender a condição humana! E, precisamos de uma definição de história bem mais ampla do que aquela que convencionalmente é usada; uma busca de ciência e humanidade comuns por uma resposta ao grande enigma que é a nossa existência e, que esteja mais solidamente fundamentada do que o que dissemos ontem, anteontem e há vinte anos atrás.

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Sabemos pelos biólogos que a nossa origem biológica e nossos comportamentos sociais humanos são semelhantes ao que ocorreu noutras espécies do reino animal. Chegamos assim à chamada eussocialidade, o mais alto grau de organização social dos animais presentes nas sociedades mais complexas como a nossa.

ant3.jpg Nestas linhas evolutivas, teremos de recordar que na visão quântica, isto surge com uma singularidade ou seja no ponto em que a curvatura do espaço-tempo se tornou infinita. Como exemplo, podem ser citados as formigas, abelhas, cupins e rato-toupeira-pelado, um roedor africano. 

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Esta eussocialidade requer três características: uma sobreposição de gerações em um mesmo ninho (matriz), o cuidado cooperativo com a prole, e uma divisão de tarefas com reprodutores e operários. Ainda não nos foi devidamente explicado por que razão se tem esta natureza especial e, não qualquer outra de entre um vasto leque de naturezas possíveis.

matias j1.jpg Neste sentido, a humanidade não alcançou, e jamais alcançará uma compreensão total do sentido da existência da nossa espécie, porque a condição humana é um produto da história. Não apenas dos seis milénios de civilização mas muito mais do que isso com dígitos de centenas de milénios antes! Jesus Cristo na escala do Universo passou por nós ontem! Entre o ontem e hoje vão bem mais de dois mil anos.

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A nossa evolução tanto cultural como biológica tem de ser explorada sem se dissociarem. Nós produzimos cultura ao longo de muitos séculos tal como a abelha produz mel. As pessoas preferem interpretar a história como o desenrolar de um desígnio sobrenatural, a cujo autor devemos obediência. Esta reconfortante interpretação foi-se tornando menos sustentável à medida que o conhecimento do mundo real foi aumentando; assim continua.

garças9.jpg Nas explicações tradicionais, as histórias religiosas da criação, têm sido combinadas com as humanidades para atribuir sustentabilidade à existência da nossa espécie. A nossa existência está entre o lusco e o fusco mas, necessitamos de uma resposta plausível a este enigma que esteja melhor fundamentada. Sabe-se que as primeiras térmitas pareceram entre 200 a 150 milhões de anos atrás. Quanto a nós, seres humanos ao nível do Homo, só surgimos muito recentemente.

O Soba T´Chingange - (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:07
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Domingo, 25 de Setembro de 2016
MOKANDA DO SOBA . CXI

TEMPOS PARA ESQUECER25.09.2016 - ANGOLA DA LUUA XX. NA GUERRA DO TUNDAMUNJILA … Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo. “Vai para a tua terra, branco” era o que mais se ouvia na Luua de 74/75…

Por

soba15.jpg T´Chingange - (Otchingandji)

moka12.jpg (…) O descontrolo social em Luanda de uma forma ordenada e progressiva visava a que os brancos abandonassem Angola sem nada dela levarem. Nas escolas os alunos comentavam de forma propositada para os professores ouvirem: “ branco vai para a tua terra”; “a casa do professor é nossa”; “o carro do professor é nosso” e, por aí! Um pouco assim e por todo o lado! Eram as instruções de procedimento que tinham dos grupos de acções populares do MPLA e alguns fanáticos pais.

moka13.jpg Os alunos e gente comum, eram incentivados a dizer isto e lançar boatos. A Direcção Politica do MPLA excluiu à partida “a revolta activa” de Pinto de Andrade do seu seio. A este grupo reduzido da pequena burguesia Luandense foi dito e reiterado viverem à sombra do nome da família aludindo a propósito: “Vocês têm bagagem política, têm capacidade intelectual mas não têm arcaboiço para a fase histórica e revolucionária de Angola”. Foram excluídos por simplesmente terem uma diferente visão de descolonização.

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Vitor Alves dizia à Rádio Voz do Zaire que o número de vítimas provocadas desde Março de 1975 pela violência em Angola era superior ao causado pela guerra colonial naquela ex-colónia. Em três meses tinha morrido mais gente do que em 14 anos de guerra colonial; algo nada lisonjeiro para os novos nacionalistas Neto, Savimbi e Holdem.

moka15.jpg Em Luanda, somente os efectivos da UNITA não ultrapassavam o acordado em Alvor. A FNLA e o MPLA colocavam armas pesadas no topo dos edifícios. Estava-se em meados de Maio! O Comandante Naval Leonel Cardoso referiu não haver dúvidas de que o MPLA praticava acções simultâneas e concertadas em Luanda, N´Dalatando e Malange agravando a situação em fins de Maio de 1975. MPLA e FNLA estavam a criar zonas tampões nas quais ninguém podia sair ou entrar.

diogo2.jpg A dois de Junho é morto em combate o comandante Jika do MPLA; seguiram-se por todo o Norte de Angola ataques e contra-ataques com o predomínio do MPLA. As N.T. (tropas do M´Puto) efectuavam praticamente acções humanitárias com as missões mais diversificadas, levando pessoas e bens, mantimentos, evacuação de feridos e enterro de mortos. Os Angolanos de etnia negra, não estavam a mostrar em sua esmagadora maioria dignidade pela oferta recebida; não eram merecedores de apreço das pessoas de bom senso.

moka14.jpg Os brancos protestavam nas ruas a cinco de Junho; queriam sair de angola da forma possível! Nesse dia cinco de Junho pela uma da tarde, a Delegação da FNLA na Avenida Brasil, foi sujeita a bazucadas e morteiradas que acabaram por atingir o Hospital Universitário matando três funcionários. Os doentes tiveram de ser evacuados para o Hospital Maria Pia aonde passaram a funcionar todas as urgências.

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No M´Puto, ao tempo, havia uma embriaguez colectiva. Nas ruas agiganta-se a confusão social. A Função Pública estava de novo em pé de guerra. A extrema-esquerda estava mais activa do que nunca, denunciando a direita e malhava no PCP. O Governo diz que a situação se aproxima do caos e faz aprovar um diploma que possibilita a ilegalização dos partidos políticos.

moka16.jpg Chovem nos quarteis notícias de golpes e contragolpes; movem-se influências. Estão no activo as secretas: alemã, francesa e espanhola e há muito que a CIA e o KGB convivem entre os portugueses. Os serviços de informação poem a circular diversões na forma de boato! Mas, quem? "Uma das secretas; americanos ou os russos." Com que fim? "Lançar a casca de banana aos spinolistas", talvez. A partir daí o boato generaliza-se.

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Na Luua (Luanda), no dia anterior, 4 de Junho, as FAPLA bombardeou a Delegação da UNITA no Bairro Pica Pau (Comité da Paz). Morreram todos os seus ocupantes! Pela primeira vez a UNITA era atacada em Luanda e, foi com tudo! Lança granadas, metralhadoras pesadas e ligeiras; Isto sucedeu também nos bairros Operário e Cazenga.

moka17.jpg No Pica Pau esquartejaram e arrastaram corpos vertendo sangue no asfalto (mais de 200 jovens pioneiros da UNITA). O MPLA não queria em Luanda nem fenelas nem kwachas! Houve combates até no Largo da Maianga e na Avenida dos Combatentes. Entre os mortos havia 3 soldados portugueses. Jacob Caetano denominado de Monstro Imortal do MPLA foi um dos que conduziu estas acções de cruel incidência com espancamentos gratuitos e selvagens assassinando gente inocente.

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O MPLA já não se contentava em retirar a FNLA; agora era também a UNITA a ser erradicada da Luua. Quem ouvisse os discursos de Agostinho Neto ou um qualquer quadro de destaque do MPLA, verificaria sem esforço no prevalecer das palavras de ódio contra os brancos, ovambos ou afectos à UNITA, gente do norte afecta à FNLA e gente ligada à FLEC de Cabinda.

mok12.jpg As FAP na pessoa de Silva Cardoso dizia sentir-se impotente para resolver estes ataques mas no entanto, deu 24 horas para acabar com os tiroteios; a não se verificar seu cessar, teria de usar os meios ao seu alcance para se fazer cumprir. A FNLA estava a revelar-se ser um “tigre de papel”; fugiam ao primeiro tiro, largavam armas e de forma desordenada despareciam a receber protecção nos quarteis sob alçada dos portugueses. Eram como crianças crescidas que com uma arma na mão faziam coisas diabólicas, matando gente como quem mata galinhas; gente nada confiável!

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:02
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Sexta-feira, 23 de Setembro de 2016
MALAMBAS . CXXXIX

CINZAS DO TEMPO – 22.09.2016 - Não há maior religião do que a verdade! Somos o que somos enquanto o somos!

MALAMBA: É a palavra.

Por

soba15.jpgT´Chingange

cordova11.jpg Subjugado à nobreza do quase acaso, processei um mar de sensações, novos conhecimentos nas cidades históricas de Córdova e Toledo. Adão, lá no paraíso, comeu a maçã da árvore da tentação; é o que consta nos nossos livros de catequese e outras fontes do jardim celestial. A partir dum pecado original que originou ter eu ficado com um caroço, seguiram-se algazarradas aos sentidos das palavras. E sem gritos nem cânticos gregorianos, segui-me na vontade de apalpar uma insatisfeita curiosidade pela Mesquita Catedral de Córdova.

cordova10.jpg Neste monumento singular do mundo temos o testemunho da aliança milenar entre a arte e a fé. A arquitectura islâmica com resquícios helénicos, românicos e bizantinos, funde-se com a cristã numa das suas expressões mais belas. Entre uma floresta de colunas, arcos e cúpulas, surpreendem-nos extraordinárias obras de arte a testemunhar as pegadas dos séculos seculorum.

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Procurando a verdade, nem sempre achamos a resposta mais lógica e, nem sempre merecedora de ser levada ao cutelo ou ao fogo da veracidade porque, simplesmente nós num repente ficamos embebidos num caldo de culturas sem poder beber toda a água deste rio de vida, porque não somos guardiões de todas as heranças legadas.

cordova9.jpg A Mesquita-Catedral de Córdova mostra ao mundo a grandeza de sua estória que começou por ser uma basílica visigoda, que se desbordou em esplendor califal, e culminou com a arte do Gótico, do Renascimento e do Barroco. Não podemos aqui, fazer previsões na estratégia de criar valor de satisfação e fidelização nos parâmetros do tempo sem ferir dignidades vendidas ou dadas, no interesse de dar continuidade à vida, ao ser humano.

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Nós aqui não contemplamos uma preciosa relíquia do passado, nem nos encontramos no meio de um museu; entramos sim num lugar sagrado aberto ao mundo inteiro. Este conjunto monumental da antiga Mesquita foi consagrado de forma definitiva como Catedral de Santa Maria no ano de 1236. A parir desse dia num parasempre e seculorum, se celebra a Santa Liturgia para a comunidade cristã.

cordova8.jpg É necessário respirar o ar de espiritualidade que se diz dali, ser luz divina; assim é evocado! Ouça estes relatos e leia nos relevos da silharia do coro percorrendo a elegância dos muitos arcos bicolores. Ande com os cuidados recomendados entre multidões, porque até aqui os larápios filhos do mesmo Nosso Senhor andam cuidando de sua tarefa recolectora. O mundo é assim, e só temos mesmo de recolher com segurança nosso património se, se não quiser andar entretido em diligências policiais.

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Pois aqui está um edifício vivo, que foi transformado por homens de cultura e religiões diferentes ao longo da história; Os registos de roubos casuais, são casuais e na admiração ou indignação do acontecido, o que fica gravado mesmo no coração é este templo que para além de seus muros nos convida a contemplar os mistérios do sagrado.

O Soba T´Chingange em terras de Castilla de La Mancha

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:24
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Quinta-feira, 22 de Setembro de 2016
XICULULU . LXXXVII

TEMPO COM CINZAS - Constantino enganou-nos impondo ao Império Romano o cristianismo - Bruno sobre as técnicas mnemónicas disse que o tempo dá tudo e tudo toma, tudo muda mas nada morre - E, ele morreu na fogueira...

XICULULU : - Olhar de esguelha, mau-olhado, olho gordo, cobiça

Aos meus amigos (as) – 12ª de 12 Partes

Por

ferreira0.jpgCarlos Ferreira

bruno25.jpg (…) Bruno faz sua defesa sempre tentando convencer os inquisidores 1.) Da legitimidade das suas ideias filosóficas e da possibilidade de concilia-las com a revelação religiosa, e 2.) Alegando que a acusação toma peças isoladas do contexto de seu trabalho, e 3.) Que não sabe sobre o que se emendar. Bruno finalmente declarou que não tinha nada de que retractar-se e que ele nem sabia de que se esperava que retractasse. Os inquisidores rejeitaram seus argumentos e pressiona-o para umas retractarão formal.

bruno26.jpg A esta altura o Papa Clemente VIII ordenou que ele deveria ser sentenciado como um impenitente e herege pertinaz. A 20 de janeiro de 1600 Bruno é condenado. Ao final foi levado, a oito de Fevereiro, ao palácio do Grande Inquisidor para ouvir sua sentença de joelhos, diante dos acólitos assistentes e do governador da cidade.

bruno27.jpgQuando a sentença de morte foi lida para ele, ele dirigiu-se aos juízes dizendo: "Talvez vocês, meus juízes, pronunciem esta sentença contra mim com maior medo que o meu em recebe-la. Foram-lhe dados mais oito dias para ver se ele se arrependia. Não adiantou! Em 17 de fevereiro ele foi trazido ao Campo di Fiori, sua boca com uma mordaça, para ser queimado vivo.

bruno28.jpgFoi levado ao poste e, quando estava morrendo um crucifixo lhe foi apresentado, mas ele empurrou-o para longe com marcado desdém. Seus trabalhos foram colocados no Índex em agosto de 1603 e seus livros tornaram-se raros. Ao final do século XIX intelectuais italianos redescobriram Bruno, tomando-o como símbolo do tipo de filósofo de vanguarda ousado e livre, e mártir da ciência e da filosofia.

bruno15.jpg Para muitos no entanto não passou de um ocioso, um filósofo andarilho, um poeta vadio, e ficou longe de merecer ser chamado um cientista. Foi, sem dúvida, um pioneiro que acordou a Europa de um longo sono intelectual. Ele cunhou a frase "Libertas philosophica", o direito de pensar, sonhar e filosofar, e foi martirizado devido ao seu excessivo entusiasmo. A ideia do universo infinito foi uma das mais estimulantes ideias do Renascimento.  

(Fim)

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:14
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Terça-feira, 20 de Setembro de 2016
MALAMBAS . CXXXVIII

TEMPOS CINZENTOS . Apalpando as medidas da natureza, sarar as feridas do corpo - Teremos de tornear a palavra sentido … Nem oito, nem oitenta!...

MALAMBA: É a palavra.

Por

soba0.jpegT´Chingange

arau44.jpg A humanidade ergueu-se inteiramente pelo próprio pé através de uma série de eventos que ao longo da evolução se foram acumulando. Hoje, em Toledo, tive uma visita guiada para ver as termas dos Romanos e logo ao lado na capela de El Salvador pude ver na parede as evoluções civilizacionais desde o tempo dos Visigodos, passando pelos Romanos e depois os Muçulmanos. Está estampado na parede; os Muçulmanos construíram-nas encastrando nelas pedras de monumentos romanos tais como vigas, pilastras e cachorros.

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Mais por cima surgem as construções barrocas da idade média e, uns e outros foram aproveitando tudo o que lhes servia para se edificarem culturalmente; as formas de construção são bem distintas. No caso da Igreja de El Salvador está construída sobre uma antiga mesquita muçulmana, pelo que está orientada al sudeste, em direcção a Meca.

capeta0.jpg Teremos de tornear a palavra sentido para saber quanta intenção implica este conceito na evolução da humanidade, porque forçosamente necessita da existência de alguém que o conceba; o sentido! Pressupõe-se que na humanidade, os indivíduos têm esse sentido e, sempre o fazem com um propósito bem definido.

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Na construção da actual igreja reutilizaram-se diferentes elementos arquitectónicos visigodos, graças ao qual se conservaram com seus arcos de ferradura apoiados sobre pilastras visigodas e romanas com decoração esculpida com temas figurativos, nada habituais em este tipo de restos de construção. Tal como uma aranha, o sentido é aqui tecido como uma teia na intenção de apanhar uma mosca, tenha-se ou não 

pap2.jpg Na igreja de El Salvador foram baptizados Juana I de Castilla, la Loca, e o dramaturgo Francisco de Rojas Zorrilla. Não conheci nem um nem outro, mas o sentido disto é conjuntamente presentado em uma de suas caras nas  diversas cenas milagrosas da vida de Jesus, nesses registos sobrepostos: A cura do Cego, a Ressurreição de Lázaro, a Samaritana e outros temas de matiz eucarística que aludem a Cristo como Salvador.

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Neste sentido, o cérebro humano evolui segundo o mesmo conjunto de regras que a teia de aranha. E, a iconografia parece retomada de um sarcófago paleocristão podendo servir-nos de modelo porque o tosco no tratamento mostra-nos o abandono em que num dado momento e numa determinada razão, caiu o trabalho da pedra.

salvador1.jpg Nos marasmos de trabalhos árduos antigos, damo-nos conta agora, que o sentido mais amplo da existência humana é aquele que é baseado na ciência, uma vida mis longa, uma memória ampliada, uma visão melhorada com um comportamento menos agressivo. Enfim, uma capacidade atlética superior que me vai faltando. Mas, no mínimo que se mantenha um odor corporal agradável, sem catinga. Enfim! Uma lista de finuras fúteis.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:49
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Domingo, 18 de Setembro de 2016
MUXOXO . XXXVII

TEMPO COM CINSASQuando os heróis ficam bronze - A vida, é uma falácia - também, uma descoberta.

Por

t´chingange 0.jpg T´Chingange

cordova1.jpg Até certa idade, todos temos um bichinho-carpinteiro que é necessário matar antes que ele nos mate,… a curiosidade! Estando eu nessa idade, esta noite andei ao redor da estátua dum tal Capitão Gonzalo Córdova y Aguilar tentando saber o que terá sido  ele para o meterem ali numa eternidade de bronze, em um largo denominada de Plaza de Las Tendilhas de Espanha.

cordova8.jpg Já quase onze horas da noite e com 28 graus no escuro da noite, fico admirado de ver tanta gente movendo-se e, outros sentados comendo tapas de chouriço, bebendo seus tragos de copa de vino rioja com outras misturas batidas e efervescidas importadas das Américas, Cuba e outros exóticos países aonde o sonho poisa sadio na imaginação.

cordova2.jpg Os repuxos de água coloridos dão frescura ao conjunto. Emoldurado na azáfama de convívio surgem os tocadores de violino, os saltimbancos rolando habilidades recolhendo sobrevivências turísticas e, quem sabe uns larápios de permeio sondando o alheio. Uma coroa aqui outra mais ali no meio de gentis galanteios, uns trocos de simpatia a suprir as mínguas.

cordova4.jpg Creio que nada disto estava previsto por El Capitan Córdova entre os anos de 1453 a 1516 em seus comandos de campanhas militares que deram início à hegemonia da Espanha sobre a Itália nos primeiros anos da idade moderna.

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Chegado ao hotel perguntei ao senhor Hernandes, balconista em serviço de quem era aquele homem feito bronze da praça frontal e, ele só me soube dizer ser El Gran Capitán (O Grão-Capitão). Recolhi dados e fiquei a saber ter sido um notável fidalgo que com fidelidade serviu os Reis Católicos que lhe deram muito prestígio na corte de Espanha.

cordova5.jpg Filho de uma ilustre família, aos 13 anos de idade foi enviado à corte de Castela onde se tornou pajem da princesa Isabel, depois rainha de Castela. Que desempenhou importante papel na guerra contra o reino muçulmano de Granada, negociando a rendição da cidade em1492, antes sob domínio mouro. Justificação mais que merecida para constar em uma Plaza guapa.

cordova6.jpg O povoado que viria a dar origem à cidade de Córdova já tinha ganho importância no ano de 206 A.C. quando foi conquistado pelos romanos mas, por estes feitos tornou-se então a capital da província da Hispânia Ulterior. Dessa época, subsiste a Ponte Romana, com 16 arcos, que liga a parte central da cidade da Catedral e mesquita ao Campo da Verdade, no outro lado do Rio Guadalquivir.

cordova7.jpg A Reconquista de Córdova durou toda a Idade Média mas, só terminou no início da Idade Moderna em 1492, por este nobre Capitam quando os muçulmanos foram definitivamente expulsos pelos Reis Católicos, Fernando e Isabel. É agora uma cidade considerada património mundial pela UNESCO. Esta manhã ao aqui chegar nada sabia disto! Matei assim a curiosidade. Amanhã será outro dia.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:14
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Sexta-feira, 16 de Setembro de 2016
MUXIMA . LXII

MULOLAS DO TEMPO - As Maiangas da Luua

Muxima e Ongweva são saudades

Por

luis0.jpgLuis Martins Soares

luua7.jpg O abastecimento de águas desde os primórdios da colonização portuguesa, foi sempre um problema das autoridades coloniais. Alguns historiadores escreveram que Paulo Dias de Novaes reconhecendo não ser a ilha do Cabo o lugar mais adequado, avançou para terra firme e fundou a vila de São Paulo de Luanda em 25 de Janeiro de 1576, tendo lançado a primeira pedra para a edificação. A escolha do novo local para a vila foi influenciada sobremaneira pela existência de um magnífico porto natural, situado numa baía protegida por uma ilha

luua12.jpg Mas, foi uma fonte de água potável, que mais ponderou em sua decisão; era necessário abastecer as naus do reino e, as águas do poço da Maianga na então existente lagoa dos Elefantes eram suficientemente potáveis . Os poços deram origem anos mais tarde às duas Maiangas, a do Povo e a do Rey, que nasceram entre 1641 e 1648.

luua6.jpg A “REVISTA UNIVERSAL LISBONENSE” n°. 25 de 30 de Dezembro de 1852, publica artigo interessante sobre a cidade de S. Paulo de Assumpção de Loanda onde os poços denominados MAIANGAS fazem parte da matéria publicada: “Nos subúrbios ou arrabaldes da cidade há muitos arrimos (hortas), e as duas Maiangas (poços públicos) que servem de recreio aos seus moradores têem a cidade dentro das barreiras cinco quartos de milha de comprimento, e três quartos de milha na sua maior largura.:::::4A cidade alta é reputada mais saudável que a baixa pela sua vantajosa posição, todavia ambas sofrem sensível falta d’agua por não haver em Loanda mais que dois poços denominados Maiangas, dos quaes um só é público, e que não chega para o consumo dos seus habitantes “...etc.

luis50.jpg As Maiangas citadas são a Maianga do Povo e a Maianga do Rey que foram construídas em meados do século XVII a mando de Salvador Correia de Sá e Benevides. A água das cacimbas públicas e particulares (poços) é toda salobra. O poço Maianga do Rei serviu exclusivamente para abastecimento das estações públicas ou seja para uso dos religiosos e autoridades coloniais, conduzida em carros das obras públicas. 

luis51.jpg  Este poço localizado perto da Rua da Samba nunca despertou a minha curiosidade para o conhecer de perto quando eu e a família nos deslocávamos a pé para a Samba onde um rochedo plantado na beira-mar e na extremidade da praia servia de trampolim para os nossos mergulhos.::::7Conheci o poço Maianga do Povo bastante, pois morei muitos anos perto dele, no Bairro da Maianga. Internamente uma escada dá acesso até se atingir a linha de água onde parte da população local se abastecia da água salobra transportando-a por latas ou em barris.

 luis53.jpg O Rio Seco, no período das chuvas quando colecta as águas vindas das barrocas dos Quarteis no seu trajecto rumo à Samba, às vezes bastante caudaloso, passa muito perto destas Maiangas. As águas no seu trajecto final, segundo historiadores, desaguavam numa lagoa que era a Lagoa dos Elefantes antes de se descarregar no mar (no lugar da Samba).

luis52.jpg Os elefantes procuravam a lagoa para matarem a sede mas, pelo progresso, foram obrigados a procurar outros lugares como a Quiçama, pela invasão do seu território. O poço Maianga do Rey está reproduzido em um painel de azulejos nas paredes interiores da casamata, no estilo da azulejaria portuguesa do século XVIII, na Fortaleza de São Miguel.

maximbombo.jpeg Havia também a lagoa Cacimba do Kinaxixi transformada em ponto de abastecimento a luanda antiga do Maculussu e Ingombotas, na qual se abastecem os Padres Jesuítas afectos a Nossa Senhora do Carmo, um pouco acima da Mutamba. Os contos, missossos e mussendos de Óscar Ribas fazem menção desta lagoa, um lugar místico dos kaluandas e dos escravos traficados pela D. Isabel Maria Lane no século XVIII.

maianga do araujo.jpg Nota: A parte 10 (maximbombo) foi um complemento introduzido pelo relator desta.

As escolhas do Sob T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:16
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Terça-feira, 13 de Setembro de 2016
MOKANDA DO SOBA . CX

TEMPOS PARA ESQUECER 13.09.2016 - ANGOLA DA LUUA XX. NA GUERRA DO TUNDAMUNJILANesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo. “Vai para a tua terra, branco” era o slogan mais metralhado por palavras acintosamente venenosas…

Por

t´chingange 0.jpg T´Chingange

moka9.jpg (…) Veríssimo Sabino da UNITA, um comandante responsável, disse que o MPLA incitava a população, mulheres e crianças para avançar sobre a base da FNLA situada no Bairro Operário mas, isto já era conhecido por todos. Em Março de 1975 já havia misseis SAN 3 em poder do MPLA. Pergunta-se! Seriam usados contra quem? Decerto não o eram para construir a paz! O Postoyna, um vapor, descarregava numa praia bem perto de Luanda grande quantidade de material de guerra e viaturas com autometralhadoras tipo Panhard.

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Isto foi no dia 29 de Abril e para o efeito ocorreu mais um intenso tiroteio no subúrbio de Luanda para distrair as forças FMM para ali. Só neste entretém e, porque accionaram morteiros, houve 25 mortos e 110 feridos. As autoridades portuguesas perguntavam-se pela tal quarta força (dos brancos) e nada se constava. Andavam todos perplexos olhando um medo sem contornos definidos e mesmo sem nada fazer, pretendia-se que o fossem, culpados! Uma pura ficção com eventos borbulhando só na cabeça de obstinados árbitros; os revolucionários do vinte-e-cinco e do MPLA.

moka6.jpg No M´Puto, o PCP promove assembleias de bairro em Lisboa juntando a Câmara Municipal, as juntas de freguesias, as comissões de moradores, as comissões de trabalhadores, cooperativas, colectividades e grupos de cristãos para o socialismo. O espirito é unitário, apelo muito usado e, reúne "todas as forças verdadeiramente interessadas no avanço do processo revolucionário." O Primeiro-Ministro desloca-se até ao Sabugo para falar à população e lançar cravos vermelhos, como é habitual.

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A seguir ao 11 de Março, Mário Murteira tomou conta do Banco de Portugal, orientou o processo da nacionalização da banca, comandou toda a economia. Mário Murteira colado ao PCP desempenharia um lugar proeminente na Revolução. Mário Soares sabia e tinha toda a razão quando disse a Silva Lopes ministro das Finanças quando indigita Murteira: "Acabou de meter no Banco de Portugal o Partido Comunista". As coisa corriam ao descaso e Silva Lopes respondeu-lhe: "Você está a brincar”! Em verdade, todos estavam! …

moka7.jpg Creio que por estes dias da Luua, Lúcio Lara foi dos homens mais activos na contra informação. O MPLA tinha cada vez maior sofisticação nas formas de actuar. O sequestro de brancos para Praça de Touros de Luanda era levado a efeito pelo MPLA às claras. Ali, eram severamente espancados, seviciados, enfim, sujeitos aos mais inauditos vexames durante dias. Obrigam-nos a repetir vezes sem conta: “ O povo é o MPLA e o MPLA é o povo”. Com as NF – Nossas Forças, não se podia contar. Merda de tropa!

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E, a desmotivação entre estas, já era tão grande que ninguém podia contar com eles. Só estavam preocupadas em chegar ao 11 de Novembro sem se meter, sem dar tiros! Já em Maio, a população branca só esperava meios de evacuação porque nada mais lhes restava. Já havia um número elevado de locais com gente deslocada, que desesperava. As balas tracejantes continuavam a riscar os céus de Luanda. Era o 1º de Maio. Quem andou na guerra, não se recorda de ter visto assim tanto fogo. Os brancos tinham percebido por fim que estavam por sua conta e risco. Não havia a quem recorrer e, nada de tribunais.

moka8.jpg Entre 29 de Abril e 2 de Maio os luandenses viveram debaixo de fogo cerrado e de grande intensidade, armas ligeiras, armas pesadas, lança foguetes e morteiros com acções de fogo posto e pilhagem. Houve muitas prisões feitas de forma indiscriminada! Havia refugiados no Liceu Feminino D. Guiomar de Lencastre com sessenta desalojados. Na Faculdade de Ciências na Avenida Marginal com cento e cinquenta e mais outros trezentos na sede da juventude da UNITA na rua Luís de Camões.

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Esta gente tinha saído por expulsão dos Bairros da Vila Alice, Cuca, Vidrul, Terra Nova, Cazenga, Marçal, Bairro Marcelo Caetano, Lixeira e Boavista. Gente do povo, brancos, mestiços e negros a carecer de meios de subsistência, sem conta bancária grande ou pequena; só a roupa do corpo.

moka10.jpg Silva Cardoso o Alto-Comissário depois do Acordo de Alvor, era constantemente atacado pelo MPLA em comunicados via rádio e panfletos por não ser suficientemente revolucionário. Afirmavam que já não servia à revolução Angolana. Em dado momento, Silva Cardoso perante a constante insistência do MPLA de que teria de ser substituído, sugeriu à Direcção do mesmo movimento que classificassem o seu sentido de revolução ao referirem claramente que os brancos não eram queridos em Angola; isto para que assim, Lisboa evacuasse essa etnia alvo de “um ataque sistemático” por eles. Era só um jogo de palavras para fazer actuar o CR do MFA de Lisboa…

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Neto respondeu enfadado ao Alto-Comissário que para o preto, o branco era sinonimo de colonialista. Neto já se sentia com força para retorquir sem evasivas, prepotentemente sarcástico fustigava a pouca astucia duns e a burrice de muitos dos governantes portugueses. Almendra, o Comandante do COPLAD – Comando Operacional de Luanda, confirmava que alguns polícias brancos tinham sido presos em suas casas e levados pelo MPLA para a “tourada”, lugar prisão sob sua gestão.

moka11.jpg No M´Puto os partidos à direita do PS encaram o futuro com alguma contenção. Por aqueles dias, chegava a vez dos social-democratas assistirem ao boicote de um comício do PPD em Almada. Depois dos oradores discursarem há muita gente a impedir a saída dos social-democratas do recinto. O COPCOM é chamado a por ordem na confusão. Reina agora na nação uma incessante excitação. Mas isto, era lá a mais de 8000 quilómetros da Luua.

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Por Silva Cardoso se insurgir em comunicados contra os desmandos e incentivos de rebelião por parte do MPLA, Lopo do nascimento em Maio, exige a expulsão imediata do Alto-Comissário em carta dirigida ao Concelho da Revolução. No final deste mês de Maio já havia cerca de 25.000 desalojados em Luanda e 50.000 pedidos de passagem para Portugal. “Vai para a tua terra, branco” era o slogan mais metralhado por palavras acintosamente venenosas ensinadas no poder popular dos comités de bairro do MPLA.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 04:18
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Segunda-feira, 12 de Setembro de 2016
MOKANDA DA LUUA . XLIV

ANGOLA – DO HUAMBO -– "Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo - nem ele me persegue, nem eu fujo dele, um dia a gente se encontra"

OS LUANDENSES NUNCA VIRAM COM BONS OLHOS, AS GENTES DO SUL DO PAÍS ! 

Por

vumby0.jpgFernando Vumby Fórum Livre Opinião & Justiça

valentina0.jpgINTRODUÇÃO

Esta crónica, eu tinha que escrever qualquer dia, até porque conheço muita gente que sofreu apenas e simplesmente por ter tido um nome de origem sulano, curioso alguns até chegavam á ser barrados mesmo vivendo em Portugal, dependendo do tempo em que tinha fugido do país. Nem sei se na altura os tugas já estavam feitos com o regime vigente em Angola ou não, mas verdade é que, conheci casos de angolanos que foram repatriados com base nisto e, postos em Angola, acabaram eliminados.

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Estou a preparar uma obra intitulada o (Drama de Eslome Joaquim) Um homem que tinha feito tudo para se livrar do regime, e mesmo posto fora do país, o azar continuou á persegui-lo até que acabou morto em Angola depois de ter sido forçado á regressar para o país. Um dia, tinha sim que escrever esta crónica pois ainda há muita fachada, muitos abraços fingidos entre uns e outros, muitas nomeações simuladas, posições ocupadas para se vender o peixe desde á muito considerado por podre como bom, etc… etc.

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E até porque ainda existe uma certa resistência e dificuldades das gentes de origem sulana mesmo estando no MPLA e com cargos (importantes); por exemplo em exonerarem seus subordinados naturais de Luanda e pior se este for de carreira militar, dos tais generais do grupo dos intocáveis, conheço-os todos, tão bem e melhor que muitos. Se ate hoje fores á uma embaixada de Angola e dão conta que és do sul. A esfrega que apanhas se tiveres o azar em seres atendido por um kaluanda não será pera doce! Infelizmente as embaixadas foram transformadas em autênticos comités do MPLA.

vumby7.jpg Para não falar dos sulanos que ficam anos e anos sem promoção nas forças armadas, e se não forem lambe-botas ainda pior, pois ate acabam zombado pelos seus próprios colegas na unidade militar... Kota, esses sulanos dão pena, concluiu um jovem militar das FAA patenteado, enquanto o outro com mais idade numa roda de amigos dizia em voz alta e em bom-tom; " Há um tipo destes que veio da UNITA por ser ministro! "

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QUEM DISSE, QUE ISTO ACABOU?

Mesmo estando-se em tempo de (reconciliação) nacional e de uma (paz) vista por canudo, há verdades que por nada deste mundo temos o direito de esconde-las ou pinta-las porque se diz que isto já pertence ao passado. Nasci e cresci em Luanda e sou do tempo em que para se desprezar e desrespeitar as gentes do sul nunca faltaram os termos e apelidos dos mais depreciativos possíveis que ate hoje ainda estou para saber quem colocava isto na cabeça dos luandenses.

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Para os kaluandas todos que fossem do sul do país eram considerados como bailundos e á palavra bailundo (os baías) curiosamente ate chegaram á dar o significado de atrasado, burro, escravo, criado do branco e falso. Não sei se é pelo facto da maioria dos brancos na altura terem tido como preferência as gentes do sul do país, para trabalharem em suas casas como empregados domésticos internos os considerados por criados.

an4.jpeg Ainda naquela altura alguns velhos do sul de Angola que chegavam e se fixavam em Luanda e já tinham dado conta de que o ser-se sulano, raramente não era interpretado como pior do que o numero da (prostituta), para salvarem á pele dos seus filhos de possíveis humilhações viram-se obrigados á fazerem novos registos para os mesmos trocando os nomes de família e passaram á crescer ate morrer com nomes como se fossem naturais de Luanda.

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Sei que este é um tema que muita gente não gosta de abordar por receio em serem acusados de tribalistas, regionalistas ou coisas do género, eu não tenho kigila e vou continuar a abordar ate porque conheço pessoas que nasceram no Bié / Huambo / Bailundo cresceram em Luanda e morreram como naturais de Luanda e curioso com nomes que ate parecia que estavam reservados exclusivamente para os luandenses.

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Cumpro com isto o dever moral e patriótico ao não esconder estas verdades ocultadas e manipuladas propositadamente para se vender a ilusão de que este espírito e comportamento já foram banidos das mentes de certas pessoas o que não é verdade. Poderia até mesmo mencionar alguns nomes de pessoas; que se não se tivessem protegido por detrás das novas cédulas pessoais teriam problemas. Às pressas e, se calhar nas guerras do kwata-kwata, quando o MPLA relacionava toda gente do sul como simpatizante, militante ou amigo da UNITA. A ser assim, hoje não estariam vivas.

huambo.jpg Quem viveu em Luanda nesta altura sabe que houve até casos em que os próprios vizinhos eram os que denunciavam quem era e não era do sul de Angola, o relacionava como kwacha e raramente não dava á dica ao camarada com ordens para surrar tudo que era do sul. Curioso é mesmo havendo muita gente que já tinha aderido ao MPLA ainda nos tempos da guerrilha contra o regime português e, que depois ate se destacaram como grandes comandantes em frentes de combates contra o colonialismo português; foram subestimados pelo bureau político do mpla. Hoje a merda ainda é a mesma, muito embora com um cheiro um pouco diferente, muitos são os que partilham desta ideia!!!!!

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:39
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Domingo, 11 de Setembro de 2016
XICULULU . LXXXVI

TEMPOS DE CINZAS - Constantino enganou-nos impondo ao Império Romano o cristianismo - Bruno sobre as técnicas mnemónicas disse que o  tempo dá tudo e tudo toma, tudo muda mas nada morre...

XICULULU : - Olhar de esguelha, mau-olhado, olho gordo, cobiça

Aos meus amigos (as) – 11ª de 12 Partes

Por

ferreira0.jpgCarlos Ferreira

bruno6.jpg (…) O papa encarregou o cardeal Belarmino (1542-1621) de analisar e acompanhar o processo de Giordano Bruno. O Cardeal, originalmente Roberto Francesco Romolo Bellarmino, cardeal e teólogo (veio a ser canonizado São Roberto Belarmino) foi um dos maiores defensores do catolicismo contra os protestantes. Jesuíta em 1560, estudou em Roma e Pádua, ordenou-se em Louvain, Bélgica, onde leccionou teologia. Voltando à Itália, foi feito cardeal em 1599 pelo papa Clemente VIII, a quem ajudou na preparação da vulgata da Bíblia (159l-92) expurgando os erros da vulgata anterior de Sixtus V.

bruno22.jpg Grande teólogo dedicou-se ao estudo das controvérsias religiosas: escreveu entre 1586-93 "Lições Relativas às Controvérsias da Fé Cristã contra os Hereges Contemporâneos". Mais tarde salvou Galileu da condenação aconselhando-o, privadamente, - antes do processo - que tomasse a doutrina de Copérnico como hipótese. Dedicou-se grandemente aos pobres a quem destinava todos os seus rendimentos, vindo a morrer pobre.

bruno23.jpg O cardeal Belarmino extraiu das obras de Bruno 8 heresias; as quatro mais graves são duas teológicas e duas filosóficas: Teológicas: (a) negaria a transubstanciação; (b) prioridade ideal e real do Pai e da subordinação do Filho, este originado de um acto da vontade do Pai, que lhe é preexistente. Filosóficas: (a) pluralidade dos mundos (os actos divinos devem corresponder à potência infinita de Deus) implicaria também várias incarnações de Cristo um número infinito de vezes... (raciocínio tipicamente escolástico), e (b) alma presente no corpo como o piloto no barco.

bruno24.jpg Durante os sete anos do julgamento romano, Bruno a princípio desenvolveu sua linha defensiva prévia, negando qualquer interesse particular em questões teológicas e reafirmando o carácter filosófico de suas especulações. Essa distinção não satisfez os inquisidores, que pediram uma retractação incondicional de suas teorias.

bruno25.jpg Em certa época lhe foram dados quarenta dias para reconsiderar sua posição; ele prometia retractar-se mas renovava suas "tolices". Bruno então fez uma tentativa desesperada de demonstrar que seus pontos de vista não eram incompatíveis com a concepção cristã de Deus. Então conseguiu mais quarenta dias para deliberar mas não fez mais que confundir o papa e a inquisição.

(Continua…)

As opções de T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:07
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Quinta-feira, 8 de Setembro de 2016
MOKANDA DO SOBA . CIX

TEMPOS PARA ESQUECER08.09.2016 - ANGOLA DA LUUA XIX. NA GUERRA DO TUNDAMUNJILA … Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo.  Enquanto isto no cais de Luanda saíam camiões cheios de material bélico para o MPLA …

Por

soba0.jpgT´Chingange

dia91.jpg (…) Em Luanda havia mortos e feridos sem gente capaz de os tratar nos dispensários de saúde aliada à falta de medicamentos, gaze, algodão e utensílios, Muitos dos instrumentos foram capiangados por auxiliares para serem usados nos comités de bairro do poder popular; ao invés de se pôr cobro a isto tudo se agravou de forma exponencial! Era o caos na saúde! Não muito tempo depois do Acordo de Alvor e tendo Silva Cardoso como Alto-comissário a CCPA pedia a Lisboa mais poderes por modo a impor a sua estratégia.

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Silva Cardoso achava estar muito limitado e as práticas eram completamente fora do espírito do MFA por haver manobras de compadrio com o MPLA por parte de alguns oficiais desrespeitadores ao que estava estabelecido. Requeria-se haver mexidas nestes comandos mas de Lisboa nada de novo; Havia oficiais empenhados em instalar o que diziam ser “ a esquerda progressista” abandonando a política da “era Spinolista” e, tudo faziam sem serem sequer admoestados.

KAFUFUTILA0.jpg Podia por aqui, ler-se que Portugal com o seu MFA seguia uma “contradição básica” em reconhecer os três movimentos mas na prática ajudar só o MPLA. E, insistiam despudoradamente numa “quarta força” como era designada a ameaça branca, sabendo de antemão que esta não existia!

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Lisboa dizia à CCPA que deveria ajudar o MPLA e sempre lembrava não se remeterem a uma atitude passiva desprezando assim e dando força a práticas arbitrárias contrárias ao que o Alto-comissário queria impor. O Acordo de Alvor estava a ser minado pelo próprio CR órgão orientador do MFA e Silva Cardoso viu-se no meio duma contenda sem saber bem como agir. Não estava senhor de todos os dados; achava que estava a ser traído mas as provas disso eram sempre contaminadas.

africa5.jpg Em face disto Silva Cardoso fazia bluff dizendo amiudadamente ter de requerer intervenção a forças internacionais da ONU. Duma forma armadilhada e para eliminar definitivamente a FNLA, o MFA fazia secretamente acções concertadas por forma a assediar Savimbi para uma linha mais destacada mantendo-o como o fiel da balança na disputa FNLA versos MPLA. Mas, isto era só uma estratégia, uma manobra de diversão e, nada mais do que isso; não obstante, a maioria dos dirigentes da UNITA eram contrários a uma aproximação a Neto.

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Reina agora na Metrópole do M´Puto uma incessante excitação. Dia sim, dia não está para rebentar um golpe militar. Era o tempo da conspiração; está-se sempre à espera de onde virá a próxima trama secreta. O COPCOM dispõe de novas indicações, está em preparação um movimento hostil spinolista. Ao cabo de horas o oficial moderado Vítor Alves é substituído no Governo, nas pastas da Defesa e da Comunicação Social por dois oficiais ligados a Vasco Gonçalves, Silvano Ribeiro e Correia Jesuíno.

africa0.jpg Melo Antunes, Silva Lopes, Rui Vilar, Victor Constâncio e Maria de Lurdes Pintassilgo vão expor as linhas gerais do Programa Económico e Social em conferência. O grupo surgia num ingrediente do tempo como uma ficção. Os jornalistas estrangeiros presentes não percebiam como era possível "Estar já em curso um movimento geral de ocupações de terras no Alentejo, estando ali a propor medidas tão moderadas, ignorando o que se passava".

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Março de 1975 é o mês em que tudo vai acontecer no M´Puto. As notícias aparecem de hora a hora. A revolução estava em ponto de rebuçado. Chovem nos quarteis notícias de golpes e contragolpes. Movem-se influências. Estão no activo as secretas alemãs, francesa e espanhola e há muito que a CIA e o KGB convivem entre os portugueses.

africa8.jpg Consta agora à boca cheia, existir uma lista com nomes de 1500 figuras de direita a abater pela extrema-esquerda, operação designada "Matança da Páscoa". Atónita, a nação não quer acreditar. Em nome da Revolução, tudo era possível.

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Belém do M´Puto reforçava por decreto em Março de 1975 uma política de activa neutralidade em relação aos Movimentos, coisa que na prática nunca se verificou. A CCPA, tudo fazia para que Silva Cardoso fosse exonerado e, sempre se afadigavam em fazer listas de oficiais a sanear; exactamente aqueles que não eram declaradamente revolucionários de esquerda. Neste meio tempo o Cônsul Americano Killoran afirmava abertamente que se tornara impossível viver em Luanda porque não havia alimentos e muita violência na ruas e assaltos não permitindo uma normal vida social.

kiz7.jpg As ocupações selvagens ocorriam a todo o momento e já havia em Luanda uns quantos lugares destinados a dar guarida a desalojados vindos de toda a Angola. O general Silva Cardoso, devido ao desrespeito constante pelos militares Lusos teve de ameaçar não haver perdão para com os militares encontrados a actuar “com partidarismo”. Ele soube que militares portugueses foram encontrados a saquear casas e negócios de brancos junto com o MPLA; Era lógico que isto, ele, não o poderia afirmar!

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O papel de árbitro não se exercia com tiros! Isto já era letra morta; a anarquia já permitia aos partidos fazer quase tudo e entretanto o MPLA fazia chegar por mar, terra e ar armamento ligeiro e pesado. O MPLA fretava aviões à African Safari que entrava no espaço aéreo de Angola com conhecimento das “nossas” FA. Estes aviões aterravam em pistas já desactivadas e no Luso com armas pesadas declarando tratar-se de medicamentos e fardamento.

mona7.jpg Os procedimentos eram mais que muitos. Só no Luso o MPLA descarregou sete camiões. Enquanto isto sucedia, na praia de São Tiago, em Teixeira de Sousa e por via ferroviária faziam-se descarregamentos em toneladas. Em outros pontos da costa a norte e Sul de Luanda e até no próprio cais desta. Para distrair as parcas forças das FMM - Forças Militares Mistas, davam durante a noite festivais de tiros para o ar no Bairro Operário como manobra de diversão para despistar; enquanto isto no cais de Luanda saíam camiões cheios de material bélico para o MPLA.

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Entretanto no M´Puto a “reforma agrária” tenta usar o "decreto-lei das nacionalizações, através do qual se assegurará "o controlo da economia". Os ministros decidem intervir no complexo agrícola de herdades, Donas Marias e Cavacedos, em Moura. Mais de 1350 hectares. Com que argumento? Subaproveitamento das terras, deficiente alimentação do gado, despedimento sem justa causa, não pagamento de salários e, mais importante, mau relacionamento do patrão com os empregados. Andava tudo num reboliço, os trabalhadores de caçadeira às costas a tomar os montes alentejanos. Ninguém me contou, eu vi!…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:46
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Quarta-feira, 7 de Setembro de 2016
MUJIMBO . XCVIII

BRASIL . PONTOS DE VISTA . Enfim, o Golpe - Um golpe que atinge a credibilidade (que ainda resta) das Instituições. Como acreditar num Supremo que vive a transgredir a Constituição. Será isto?

Por

Fernando Gabeira 1.jpgFernando Gabeira  Fernando Gabeira é insuspeito para comentar este assunto, foi comunista e terrorista lutou para implantar uma ditadura nos moldes cubanos no Brasil. Hoje tem outro pensamento...

fern2.jpg "Depois de tantos meses de disputas, negociatas e articulações, o dia D do impeachment de Dilma Roussef chegou e enfim tivemos um golpe no Brasil. Mas para a surpresa minha, sua e do mundo, não houve o golpe tão propalado pelos defensores do governo Dilma, mas sim um outro golpe. Na verdade um golpe de mestre, orquestrado e costurado à sorrelfa, ou como se diz hoje em dia, na miúda, por gente graúda. Muito graúda. Se vocês não têm essa ideia com clareza ainda, vamos aos fatos.

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Mesmo sabedor da circunstância de que o impeachment estava sacramentado, Lula continuava trabalhando forte nos bastidores. Hoje soubemos o motivo. Não era para evitar o impeachment coisa nenhuma, mas sim para evitar a inabilitação de Dilma.

fern5.jpg Segunda pergunta mais importante: quem ganha com o golpe de hoje? Ao menos dois grandes grupos de pessoas: 1) Dilma, PT e todo mundo que trabalhava no discurso do golpe, que agora para sempre poderá dizer que “ah, tanto foi um golpe que ela sequer foi condenada – fica óbvio que ela não cometeu nenhum crime e o único intuito era tirá-la”;

fern3.png 2) Cunha e todos os demais parlamentares (PMDB em peso) que estão correndo o risco de perderem o mandato, especialmente em épocas de Lava-Jato – não perdendo os direitos políticos, eles poderão concorrer a novas eleições em breve e, por consequência, manter prerrogativas de foro.

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Ainda mais importante: quem participou desse Golpe, além de Lula? Temos todos os nomes, então vamos lá: José Eduardo Cardozo, óbvio; Renan Calheiros, óbvio; Ricardo Lewandowski, óbvio (que já estava com a decisão pronta e redigida, segundo ele porque a possibilidade daquela questão já vinha sendo abordada pela imprensa – aqui, oh!) e obviamente, todos os outros senadores que votaram pelo impeachment, mas não pela inabilitação ou que se abstiveram em relação à segunda, quais sejam: Acir Gurgacz (PDT-RO), Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), Cidinho Santos (PR-MT), Cristovam Buarque (PPS-DF), Edison Lobão (PMDB-MA), Eduardo Braga (PMDB-AM), Hélio José (PMDB-DF), Jader Barbalho (PMDB-PA), João Alberto Souza (PMDB-MA), Raimundo Lira (PMDB-PB), Renan Calheiros (PMDB-AL), Roberto Rocha (PSB-MA), Rose de Freitas (PMDB-ES), Telmário Mota (PDT-RR), Vicentinho Alves (PR-TO), Wellington Fagundes (PR-MT), Eunício Oliveira (PMDB-CE), Maria do Carmo Alves (DEM-SE) e Valdir Raupp (PMDB-RO).

 fern8.jpgÉ isso amigos, temos que dar a mão à palmatória. A ideia foi genial. Tudo foi feito na surdina e ninguém da imprensa – pelo menos que eu tenha lido – antecipou essa possibilidade. E vejam a sofisticação da manobra: agora estão falando de impugnar a decisão no STF, por conta da separação das votações.

fern6.jpg Mas não vejo como impugnar uma parte sem a outra. Quem votou hoje pelo impeachment, votou apenas pelo impeachment, não pelo destaque. Não seria possível presumir a inclusão do destaque na primeira parte da votação de hoje. Assim, se alguém quiser impugnar (como Caiado disse que irá fazer), a decisão do impeachment de Dilma fica anulada e outra sessão deveria ser convocada. É mole?

fern4.jpg Por fim, é óbvio ululante e não há como negar que a decisão de separar as votações de hoje foi inconstitucional. A leitura do art. 52, parágrafo único do texto constitucional não admite nenhuma outra interpretação, a não ser de que o impeachment leva à cassação dos direitos políticos.

Mas para que Constituição com o Senado que temos? Com os Partidos que temos? Com o STF que temos?

Hoje finalmente houve um golpe no Brasil. E que belo golpe".

As escolhas do Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 23:07
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Terça-feira, 6 de Setembro de 2016
MALAMBAS . CXXXVII

TEMPOS CINZENTOS . Apalpando as medidas da natureza, sarar as feridas do corpo … E, porque a politica se tornou um meio para alcançar fins desonestos...

MALAMBA: É a palavra.

Por

t´chingange 0.jpg T´Chingange

bra4.jpg Nós reclamamos a democracia no confronto com a realidade; esticamo-la, ridicularizamo-la e, na desvalorização desta, não a reinterpretamos como sendo uma questão principal. Isto, porque a gestão principal não é forçosamente a necessidade de uma nova ordem mas, a maneira como deve ser construída essa ordem! Não basta querer, é necessário fazer querer mas, a maioria dos políticos vê somente o seu umbigo servindo-se do aparelho ao invés de o servir.

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Premeditando seu próprio futuro prepara-o na subtileza mentirosa de falaciar quem serve. Num processo lento cria condições de base, assegura-se dos apoios e dá benesses que não são dele ou dela e nós temos de ser capazes de nos adaptarmos às várias psicologias dos novos tempos com esses novos e subtis métodos de mando. A democracia é débil porque a burguesia se desmoronou coabitando com corruptos comportamentos, dando facilidades sem penalizar corrupto e corruptor.

an2.jpeg E, porque a politica se tornou um meio para alcançar fins desonestos, sempre os políticos se nos mostram como sendo os mais puros, ao mais impolutos e, é esse bombom de comportamento que nos atraiçoa. É este o verdadeiro calcanhar de aquiles de todos nós que não estuda as atitudes dum candidato a ser chefe ou estadista; que nos deixamos ficar na indiferença no vamos ver o que vai dar.  

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É esta, uma muito má-prática nossa, de se deixar passar um dia de cada vez no ver vamos de como isto fica! Bem! Pode dizer-se: insultado, um homem pode transformar em armas as correntes que têm nos pés não é? Mas as grilhetas de agora já são outras, muito mais sofisticadas; tanto que nem damos por as ter.

maga2.jpg Isto porque nós, todos nós, queremos a liberdade e essa temo-la mas estamos coarctados por regras e leis que restringem o ser num sofisma de “a bem da nação”. E, aqui não há vinganças; há compadrios, manobras dilatórias, processos com recursos que nos desfalecem neste deixa andar.

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Deduzimo-nos na ideia de que tudo é equivalente e que o bem e o mal podem ser definidos de acordo com os desejos de cada qual. Mentimo-nos muitas e repetidas vezes sem dar a mão à palmatória por não se acreditar que este mundo não tem um verdadeiro sentido derradeiro de “xispeteó”.

jo5.jpg E, é sempre o homem que torna o sentido do derradeiro num jeito acomodado! Porque as pessoas existem e realizam-se não no isolamento mas na comunidade. Espreitando pelo postigo da memória antropológica só graças à debilidade desta, irei fazer do tudo um romance condescendente sem alvoroçar espeleólogos, ou os espíritos com malévolas insinuações, esquecendo as leis não cumpridas coisas rebuscadas em terras de promissão.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:25
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Segunda-feira, 5 de Setembro de 2016
CAFUFUTILA . CXVII

NAS FRINCHA DO TEMPOKIANDA COM ONGWEVA  - 12ª com várias partes…

AS TÁGIDES DE TOLEDO – Em Alhambra com Zachaf Pigafetta Roxo, a kianda tetravó de Roxo e Oxor.

Ongweva é saudade

Por

soba15.jpgT´Chingange

roxo69.jpg E, por fim tinha ali em frente dos olhos a Kianda Zachaf Pigafetta Roxo a tetravó da Assunção, uma mulher radiante de beleza, assim estonteante que se ondulava em imagem, ora era, ora não era nem deixava de o ser, quasequase um holograma falante. Depois daquele pulo desassombrado aquietei-me recordando-me estar entre o desejo de saber a verdade e o pavor que lhe tinha, porque zunia na minha cabeça legionários pensamentos.

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Recordo aqui que, involuntariamente houve em mim um ligeiro pestanejar de reluzir comoção, quasequase como um vaga-lume comovido de pirilampo. O meu espanto maior foi saber que ela a Kianda Zachaf sabia que eu era o T´Chingange relembrando que socorri sua trineta lá na praia do Guaxuma do Brasil, assim e assado com todos os pormenores de barbatana com o Zé Peixe de Sergipe.

roxo70.jpg Assim, e sem mais edecéteras e vírgulas espantadas de interrogação disse-lhes que sim! Era eu inteirinho da Costa, nascido e desfalecido num vapor chamado Niassa. Foram muitas as perguntas e interjeições com muxoxos de parte a parte! Era agora que íamos pôr os pontos nos iis. Sabes, temos algo em comum, disse ela: - Tu e eu nascemos em um lugar com o mesmo nome.

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Niassa! E, isso torna-te também um agente kalunga porque tens um espírito forte; para além das águas nascente num barco com o nome do meu lago tornando-te um Minkisi, um agente de ligação entre seres humanos e o físico divindade ou espírito das águas, que somos nós. Referia-se a ela e Januário Pieter ali caladinho ouvindo sem intervir.

roxo72.jpg Sentia-me diluir nas pernas e de novo belisquei-me; doeu e, sendo assim e com dor, só podia ser um humano. Estava em pulgas! Foi quando Januário Pieter assim no seu jeito cavernoso me disse: Eu e Zachaf Pigafetta somos irmãos! Isto, eu não podia imaginar e, continuou: Nossos pais fizeram uma longa travessia desde o lago Niassa, nesse então chamado Zachaf e o Kwanza. Os nossos mais-velhos assentaram arraiais em Cabo Ledo e, foi a partir daí que o destino me fez kianda itinerante da Globália.

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Esta estória para além de longa começava a ser demasiado intrincada. Encontrei Januário Pieter pela primeira vez em Jablines a nove quilómetros de Disneyland. Recordo que foi lá que este me contou coisas que desconhecia terem-se passado em Angola nos tempos recentes e, também lá detrás desde os tempos em que Luanda estava na posse dos Mafulos com os Tugas recolhidos em Massangano e do qual fizeram uma segunda capital de N´Gola. às margens do Kwanza. Bom a estória decerto iria ser bem interessante.

roxo73.jpg Acontece que a hora já era tardia,"El Pátio Riconcillo" estava para encerrar e, teríamos de fazer uma pausa, remoer o acontecido e ganhar folga para os próximos episódios. E Pieter foi dizendo que eles tinham muitas mocandas na cabeça para contar: - O mais importante nesta minha vida de kianda da Muxima é falar dos entretantos esquindivados de Kwanza acima, Kwanza abaixo relembrando meus tempos de candengue. Minha mana tem outras estórias que decerto te encantarão. Estamos aqui para isso; mungweno! Foi assim que nos despedimos por agora.

cronicas mano corvo2.jpg GLOSSÁRIO :

Minkisi: - Agente de ligação entre seres humanos e o físico, elementos de fogo, água, ar e terra; Kianda: - Fantasma, assombração das águas das lagoas, rios e mares ou Kalungas; Kalunga: Junção de espíritos na forma de água, divindade abstracta. O Soba T´Chingange muxoxo: - silvo produzido pelos lábios de vento aspirado entre dentes; esquindiva: - fazer revienga, finta, fazer piruetas, bazar dali.

Ilustrações de Assunção Roxo

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 09:09
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Domingo, 4 de Setembro de 2016
A CHUVA E O BOM TEMPO . LXVIV
ANGOLA .  TEMPO DE CINZAS - A HIPOCRISIA DO MUNDO  -  Entre Julho de 1974 e Novembro de 1975 morreram em Angola trezentas mil pessoas - Morreram em média "oito crianças" por dia e o Mundo nada falou!...
 

Por

maga1.jpg Luís Magalhães - Tem uma caneta Parker 21 espacial. Dessas que levam o homem a gatafunhar acontecimentos da Luua, da Angola que jamais esqueceu … (na guerra do tundamunjila)

luis46.jpgEsta foto foi onde apareceram os caixotes dos meus Pais, todos arrombados por quem os estava a guardar.Eu sinceramente nunca vi os Lobos guardarem as ovelhas mas...????

Entre Julho de 1974 e Novembro de 1975 morreram em Angola trezentas mil pessoas,que foram assassinadas nas cidades ou morreram durante a fuga devido ás balas dos "Movimentos de libertação" e das tropas estrangeiras (Cubanas e Russas) e outras por doenças e fome e outras ainda porque foram apanhadas no meio dos combates que o MPLA,a FNLA e a UNITA travavam.No meio desta confusão morreram em média "Oito crianças" por dia. 

luis33.jpg Anda por aqui uma foto de um menino Sirio que morreu afogado no Mar da Grécia, e aquilo foi de tal modo chocante que não houve Telejornal que não mostrasse essa foto no abrir dos Noticiários. Entretanto eu recuei há quarenta e um anos atrás e lembrei-me do UM MILHÃO E QUATROCENTOS MIL retornados ( Angolanos), que desembarcaram em Portugal que não tiveram o apoio dos refugiados Africanos e Árabes que a Europa lhes está dar actualmente, pois tivessem tido este apoio e de certeza que a revolta e a dor teriam sido muito amenizadas. Hoje a culpa disto tem nome e é dos Americanos, Espanhpois...

cafufu10.jpg Portugueses e Ingleses, e foi tudo feito na famosa cimeira nos Açores. Nós por cá, nunca se soube quem foram os culpados da famosa "Descolonização exemplar" e os Portugueses e os naturais das ex provincias Ultramarinas viram colar-lhes na testa o rótulo de retornados, uma gente que foi obrigada a fugir, foram insultados, foram violados e massacrados. Para mim são refugiados e como tal a História da Descolonização está a ser adulterada, porque os Povos das ex-colonias, os militares e os Movimentos de Libertação foram bonecos nas mãos de "obscuros Interesses pelos suspeitos do costume.

luis47.jpg Os Americanos e os Russos. Quanto a nós a desculpa morreu solteira acerca da "Descolonização" e actualmente andamos chocados com a fotografia do menino que deu á costa afogado numa praia algures, e nunca ninguém se importou com os nossos irmãos que penaram num País que os recebeu muito mal. Ora digam lá se isto não é hipocrisia?

As escolhas do Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:19
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Quinta-feira, 1 de Setembro de 2016
MOKANDA DO SOBA . CVIII

TEMPOS PARA ESQUECER01.09.2016 - ANGOLA DA LUUA XVIII. NA GUERRA DO TUNDAMUNJILA. … Nesta lengalenga de lembrarmos coisas mortas, cada homem é um mundo.  Nossa cabeça já não estava segura de nada…

Por

soba15.jpgT´Chingange

bordallo.jpg (…) O relatório da CCPA de Abril de 1975 dizia claramente que se deveria impedir por todos os meios fazer chegar ao poder a FNLA e que se deveria privilegiar um acordo entre a UNITA e o MPLA. Este relatório vincava nitidamente o MPLA como sendo o representante legitimo das forças progressistas angolanas e, que Portugal deveria dar colaboração total a este movimento. Deduzia-se que Savimbi não estava disposto a ser muleta de Neto e este por sua vez, não abdicava de vir a ser o futuro presidente de Angola.   

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Sugeria-se nesta fase que Savimbi tivesse um lugar de relevo na hierarquia do novo estado mas, a virulência marxista de Neto, Lúcio Lara e Nito Alves discordavam disto! Com Angola paralisada, géneros a escassear, desordem generalizada, hospitais regionais sem médicos e poucos enfermeiros classificados e escolas sem funcionamento, levava a ninguém entender do porquê chegar-se a isto e, sem perceber o que fazer no outro dia que viria sem volta nem reviravolta para melhor; só revolução!

PASTEL NATA.jpg No Sul, víamos passar caravanas de carros e carrinhas apinhadas a caminho do Sul, da Namíbia. Um destes dias teremos de seguir este rumo, dizia eu! Mas, fui ficando tentando gerir procedimentos no Comité da Caála! Não pensava sair de Angola e a UNITA era o partido mais consensual, aquele por quem mais tinha preferência. Nesta altura era eu um quadro civil da UNITA passando de Secretario de Informação Propaganda em uma inicial formação para Secretário de Relações Públicas. Recordo aqui outros membros tais como Liuanhica, Caputo, Alfredo, Jorge enfermeiro, Maria de Lurdes funcionária do Município, Kalakata (militar) e Camundongo funcionário da JAE que era o Presidente.

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Nossa cabeça já não estava segura de nada. A incerteza era a única coisa certa! Os pioneiros do MPLA marchavam pelas ruas da Caála com paus fingindo armas e capitaneados por uns recém-chegados branquelas, besugos do M´Puto. Falando axim com Karl Marx e Lénine Staline na cabeça, respiravam revolução dos pés às guedelhas. Estes personagens saídos do nada eram estudantes do M´Puto que aqui vinham somar pontos para seus curriculuns nas passagens administrativas das Universidades do M´Puto na mão de comunistas; Militantes do PCP e MDP.CDE ao cuidado do PREC e, aqui colocados ao serviço do MPLA.

rev5.jpg Nós interrogávamo-nos uns aos outros mas sempre ficávamos sem resposta! O medo entrava paulatinamente em nossos sentidos. Os militares de brincadeira ensaiavam, emboscavam-se por detrás dos muros das nossas casas, empunhavam armas de fingir e de passo certo seguiam as instruções do guedelhudo, esquerda, direita, esquerda direita e lá iam gritando a vitória é certa com vivas ao MPLA; Aqueles rapazolas guedelhudos estavam a cumprir com um serviço cívico e nós nem o sabíamos… Tudo era um segredo! Mas, duvido que o CCPA não o soubesse. Isto, vinha do Bureau Politico do MPLA com instruções do Rosa Vermelho Almirante da Tuji…

rev1.jpg Entretanto no M´Puto o lema era "a terra a quem a trabalha". Na Rádio Renascença os trabalhadores avançam para a greve. O Conselho de Estado fazia reuniões atrás de reuniões. A bem do povo e em nome da Junta de Salvação Nacional e do MFA, o almirante Rosa Coutinho, ligado ao PCP, aparece aos conselheiros de Estado, civis e militares, a sugerir legislação revolucionária. Qual? "Que o MFA não seja a expressão de um simples levantamento militar".

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"Entre as propostas levadas a discussão estava um diploma que permitia prender pessoas acusadas de sabotagem económica ou de não estarem com a revolução", Freitas do Amaral é mencionado nesse então. Passa já das quatro horas de 9 de Fevereiro, quando os conselheiros se manifestam. Os militares põem-se ao lado de Rosa Coutinho. Os civis, a maioria com formação jurídica, colocam-se na trincheira inimiga. Freitas do Amaral, Isabel Magalhães Collaço, Azeredo Perdigão, Henrique de Barros e Ruy Luís Gomes rejeitam o documento do almirante. Não havia volta a dar, gera-se enorme burburinho.

rev2.jpg Os militares estão furiosos. Sem ninguém esperar, o spinolista Carlos Fabião mete-se também a deambular: "Parar é morrer. Não há revolução sem leis revolucionárias." Os civis moderados nem querem acreditar. De igual modo, o almirante Pinheiro de Azevedo que não lidava bem com aquela revolução, em tom jocoso levanta-se, esbraceja. "Os Srs. conselheiros civis assinaram a sua sentença de morte! Puseram em causa a Revolução!" Na imprensa, na televisão e na rádio destacam-se notícias denunciando a sabotagem económica, a fuga de capitais para o estrangeiro.

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O Presidente da República anuncia para 12 de Abril eleições para a Assembleia Constituinte. Os partidos à direita do PCP suspiram de alívio; pura inocência. O curso da Revolução seguiria mesmo em diante mas o vice-presidente da CE de visita a Portugal comenta a Vitor Alves considerado um militar moderado: "É necessário ter muita coragem para viver em Portugal". No entanto a adesão à Europa atravessava-se já à frente dos portugueses.

rev8.jpg A milhares de quilómetros de distância dali, em Luanda, rebenta um conflito armado envolvendo o MPLA. Bom, quanto mais avança a Revolução maiores as conjecturas à sua volta. Os boatos crescem de tom. Na atmosfera, pesa a conspiração, os capitães ouvem falar na contra-revolução. Do Brasil chegam capitais portugueses, ajudando ao parto do MDLP, organização de direita onde figura o nome de António Spínola.

:::::

Em Coina do M´Puto é ocupada uma quinta, cujo destino final será a integração na Cooperativa Estrela Vermelha. O segredo é agora de polichinelo: o MDLP prepara um golpe militar, com a colaboração da guarda de Belém. Vasco Gonçalves, Melo Antunes, Rosa Coutinho, Pinho Freire, Pereira Pinto, Almada Contreiras, Costa Martins e Vasco Lourenço encontram-se com os líderes dos partidos para discutir a institucionalização do MFA. Entre os civis reina pouca convicção.

rev3.jpg Entretanto Vasco Gonçalves, comporta-se como se existisse apenas uma parte da nação, mas fala de alma e coração. "Não estamos interessados em voltar atrás nem o MFA o permitirá". Hostil aos capitalistas, a este respeito actuava sem duplicidade, continua: "A nova constituição não pode ir contra as conquistas que o MFA e as forças progressistas em Portugal já garantiram ao povo português."

:::::

No M´Puto Angola era coisa pouco falada, havia sempre outros compromissos; Angola era um caso menor! Havia que fortalecer os principios de Abril. Lá na minha rua distante duma pequena cidade chamada de Caála os pioneiros iam sendo substituídos por outros militares e, estes já carregavam kalashnikoves G3 e outras indistintas armas de repetição.  Mostravam os frisos de balas postas em diagonal pelo corpo exibindo sua petulante forma de valentia; nem sabiam eles, que assim eram usados para amedrontar! E, amedrontavam mesmo!

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:15
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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