Segunda-feira, 31 de Julho de 2017
MALAMBAS CLXXVIII

NAS FRINCHAS DO TEMPO - 19.07.2017 - (Parte 2 de 3) - Aqui no Limpopo de África, apaziguando rijezas adversas, perfilando anjos com a singularidade do mundo …

Por

soba10.jpgT´Chingange

Ao sol do Calahári e em sítios chamados de Gauteng e Limpopo, limito-me a ver e a ouvir a transpiração do medo, de como será quando a mancha negra querer suplantar-se á mancha branca fazendo ruir as filosóficas teses de eugenia importadas da bretanha puritana. Durante os tempos, pastores e ideólogos seguidores de suas verdades tentaram mudar por selecção o arco-iris das gentes transtornando a sustentabilidade social da África. Surgiu assim a política do apartheid que tornou a África do Sul, num lugar de difícil conciliação entre as diferentes cores de pele; prática de difícil harmonia com os padrões da natureza.

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Surgiram as lutas entre Ingleses, Bóeres e Zulus envoltas em teorias de submissão com místicas que se fizeram prevalecer entre soluços africânderes, saltos de guerra Zulus, nenhures Khoisans e a pré-potência colonial britânica. Vi centenas, senão milhares de campas em cemitérios cobertos de capim por entre fragas esquecidas de África; gente que se entregou à luta por uma fatia de independência e sempre perseguidos pela incompreensão do mundo. 

boher3.jpg Para compreender a turbulência das mentes, teremos forçosamente de entrar no mundo do paratrás, relembrar aqueles velhos ditos das profecias duma tal sexta trombeta a soar alarme em dó maior; da guerra que se avizinha com as previsões do homem das batatas e, também pelos exemplos sociais africanos do Cairo a Kape Town gravados na política de países a tons deslavados, como as pinturas de batique do género de Xipamanine que mostram caveiras entre ossos amolgados com talas de falas espiritualmente supersticiosas.… 

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Aos velhos, será cruel deixá-los privados de respostas e será de bom senso até, não se lhes fazer perguntas de passados não amistosos porque dos muitos dias, das muitas noites, das muitas injustiças pode sem se querer saírem à luz do tempo a mostrar as gigantescas presenças de feridas mortais. Angola, Zimbabwé, Togo, Nigéria, Senegal, Burquina, Moçambique e tantos outros. E, o preto que mata branco, que lhe rouba a fazenda, do branco que mata preto porque é turra; daí abrirem-se gavetões, com ossários feitos pó pelo tempo. Que importância terá, saber-se agora se a mulher de Lot em Sodoma, ao olhar para trás se transformou em sal-gema ou sal marinho.

boher6.jpg Ou, até saber se a embriaguez de Noé, foi de vinho branco ou de vinho tinto se neste agora sabemos poder estar a ser tramados até os tornozelos. Afinal a cor de Noé era indistintamente um albino! Ninguém tem condições de desmentir esta suposta mentira, porque os escritos não faziam menção desta particularidade tão cheia de superstições. Tudo misturado com profecias de despertar duendes sem sexo ou kiandas sem nexo, tudo a provocar adrenalina. Crer ou não, sempre serão preocupantes por se manterem coladas aos cerebelos.

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Em 1916 Johanna Brandt recebeu uma visão de um anjo que lhe mostrou uma terrível cena de horrores e males que se aguardavam em Johannesburg. Os negros estavam-se organizando em segredo cortando o poder por dentro e ao redor da cidade. E, tudo aconteceu inesperadamente. Nisto, ela os viu espalhar-se pelas áreas residenciais matando brancos. Milhares e milhares morrerão durante a "Noite Egípcia" que descerá sobre a cidade! Disse o anjo….

boher7.jpg Ela, a Johanna disse: Quando vi todos os corpos mutilados à minha volta na visão, eu gritei: Isso não pode ser, porque não há tantas pessoas em Joanesburgo! Ela estava no ano de 1916, cento e um anos atrás. Sentado em umas velhas e reaproveitadas solipas grosas de ferrocarril, escrevo isto sem saber se correr para norte ou para oeste, sem plano de fuga certo, incrédulo até. Só de mente transtornada lá fui correndo para Sul, terra de Paul Kruger junto ao Orange River refugiando-me no buraco de Kimberley assim como fazem as suricatas, como o fizeram eles em tempos - os veteranos bóeres fugidos dos ingleses.

boher8.jpg A vida é uma odisseia neste mundo global; estas nuvens negras que em nada ajudam a compreenderem o belo que a vida realmente tem. Hoje e depois de dar a volta à reserva de Pilanesberg ao lado de Sun City e, já no final do roteiro, depois de ver vários animais, desanimado por não ver o elefante, um dos big five, qual o meu espanto ver este enorme paquiderme, cortando pela raiz pequenos arbustos junto à vedação do Bakgatla, minha ocasional residência…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:14
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Domingo, 30 de Julho de 2017
CAFUFUILA . CXXIV

ONGWEVA DO TEMPO - KIANDA ROXO – 28.0.2017 - 20ª parte

Kiandas e calungas! De novo em Massangano… O futuro dos povos bantus ainda anda a ser fabricado…

Por

t´chingange 0.jpgT´Chingange

De novo em Massangano fui ler os catrapázios guardados numa tão velha arca que, até os aloquetes tiveram de ser arrombados com um improvisado escopro e uma maceta com cabo de pau-ferro. Foi assim que retirei um rolo meio a se desfazer muito atacado de bolor estórico com as pontas quase a se separarem por rachadura. Levei à vontade três dias a aquecer o mukifo tão insalubre; entretanto andei pelo mato à procura das resinas apropriadas para enrijar aquele papel em rolo de laço folgado e a se  desfazer.

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Com muito cuidado lá consegui estirar a folha, entornar nela o verniz ligeiramente aquecido e, com muita sorte vi que o grudar da resina na velha tinta das letras traçadas com pena de pavão, ressaltaram-nas ficando assim quase salientes e de melhor leitura. Como a sombra, a história tem obscuridades e, foi a palavra escrita na parte superior direita que me despertou ainda mais curiosidade: - Dun. Mais abaixo podia ler-se Balthasar Van Dun, oficial da Companhia das Índias Ocidentais Holandesas.

roxo128.jpg Sabe-se da estória que quando o almirante holandês da Companhia das Índias Ocidentais tomou Luanda, os portugueses fugiram todos para Massangano, e por ali permaneceram durante a ocupação, até à chegada do luso-brasileiro Salvador Correia de Sá e Benevides, que reconquistou a Fortaleza de S. Miguel, na baía de Luanda em 1648.

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Vim a saber neste então muito posterior àquela onda do tempo que a construção deste Forte tinha também em vista a defesa das redes comerciais de mercadorias tais como cera, peles, dentes de marfim, pedras preciosas mas, e especialmente da venda de escravos às Américas, e também para segurança do presídio de Massangano, que a monarquia portuguesa utilizava como local de degredo.

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Pois é aqui que situo a minha epopeia neste romance mussendo de três continentes por via de seguir a peugada das kiandas, kwangiades ou calungas Roxo e Oxor de Guaxuma. Pois, em uma outra minha andança ao serviço da rainha de Portugal D. Maria I e, com o cargo de tenente, tive de escoltar uma leva de prisioneiros participantes da chamada Inconfidência Mineira nos fins do século XVIII, um movimento militar no Estado de Minas Gerais do Brasil.

roxo138.jpg As vidas são assim, intemporais e fui no ano de 1790 chamado desde a vila de São Vicente para escoltar presos militares, uns revoltosos capitaneados por Joaquim José da Silva Xavier, conhecido pela alcunha de Tiradentes. Reclamavam contra o pesado pagamento de um tributo em ouro cobrado aos mineiros brasileiros pela coroa portuguesa e, vai daí e para exemplo enforcaram o Alferes por liderar aquela insurreição.

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O curioso disto são os contornos que dão às conjuras para aproveitamento político e, vai daí o pobre alferes viu-se metido em alhadas pelos ideólogos políticos que conjugaram o facto, tal como sendo uma revolta a favor da independência do Estado de Minas Gerais. A tal revolta, quase uma inventação a que chamaram de Inconfidência Mineira. Reinava então a rainha D. Maria I e, ainda estou para saber por que carga de água, fui eu o nomeado para tal tarefa, quando um sargento ou cabo-de-guerra o poderiam fazer sem transtorno algum para a administração.

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A estória tem assim destas nuances, mas vim a saber que diplomaticamente assim fui nomeado para me retirarem do Comando da capitânia de São Vicente. Já naquele tempo havia bufos que enchiam as orelhas às gentes de mais galões e querendo livrar-se de mim, um inveterado rebelde que não via a monarquia com bons olhos, aproveitaram a deixa e lá me mandaram para aquele longínquo presidio às margens do rio Kwanza. Há bens que vêem por males…

maga5.jpg José Alvares Maciel era o nome mais sonante de entre aqueles degredados e com quem ainda mantive alguns contactos. Foi por ele que vim a saber ser esta peripécia urdida pelos políticos; sei que veio mais tarde a ser solto para divagar como pombeiro (vendedor ambulante) nos matos da Matamba e, acabando por morrer lá para os lados de N´Dalatando, deixando uma prole de filhos com o nome de Alvares.

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Outros supostos mentores civis faziam parte do lote que estiveram presos por algum tempo, destacando-se mais tarde como cidadãos de carreira, uns como funcionários do reino e outros como comerciantes. A luta pela independência do Brasil saiu-lhes pelo cano com as estrias invertidas. Eu mais tarde acabei por ficar destacado na Fortaleza de São Miguel chefiando um destacamento policial situado na rua do Casuno bem junto às cubatas do Palácio do Governador Manuel de Almeida e Vasconcelos de Soveral, 1.º Conde da Lapa - Governador e Capitão-General com quem mantive muito boas reacções.

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Foi nesta minha ida para a Fortaleza de São Miguel da cidade de São Paulo de Assunção de Loanda que tive de recolher elementos e documentos em Massangano a fim de para ali os levar e arquivar. Foi neste então que tive de enrijar o papel mofado, o tal que tinha a palavra Dun no lado supra direito. Ali estava descrita a linhagem de Dun em África que vem de Balthasar Van Dun, também conhecido como Van Dunem.

fiume01.jpg Dun foi para África como funcionário da Companhia das índias Ocidentais Holandesas mas tinha uma função dupla, a de militar e a de negociador de escravos com os descendentes de N´Gola Kilwanje. Quis a estória que nessa missão dupla e de também negociador com os portugueses, ficar por ali com uma prole de filhos mazombos mamelucos. Os negócios sempre suplantam as políticas e, eis que eram os próprios portugueses que vendiam escravos a este inimigo holandês de origem, um súbdito de Maurício de Nassau.

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Van Dun teve forçosamente de lidar com o pai da Kianda Roxo, Morgan Tsvangirai pois era ele que cobrava as taxas para o reino através de posturas lançada pelos governadores Pedro César de Meneses, em oposição aos Holandeses e Francisco de Souto-Maior, ambos capitães generais. Como almoxarife de Massangano, tinha a seu cargo o trato comercial e a recolha dum percentual na venda individual ou lotes de peças e, aqui ficavam arquivados os livros em estas malas seladas com lacre e chancela real do M´Puto. Lamentavelmente, todo este material envelhecia sem os necessários resguardos dum bibliotecário.

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Os escravos “peças negras” eram enviados para o Recife, base de Nassau no Brasil. Van Dum era um bom comerciante, sabia como fazer os seus tráficos, tanto com os portugueses como com os Reis e Sobas de Angola. Sua esposa era negra, e era mais racista que ele próprio. Tudo isto me foi confidenciado já nem sei em que circunstâncias, pela Kianda Roxo em plena quiangala. Sei que isto se passou na rua do Casuno, em um terraço cheio de buganvílias rosas; isto, eu lembro! Ainda posso cheirar aquele aroma à mistura com o ar húmido vindo do mar da baia de Loanda à mistura com as muitas flores que ali havia.

MONA1.jpg Ela, a kianda Roxo tinha uma relação próxima com as filhas de Van Dunem; E, nem uma kianda consegue guardar confidências para todo o sempre. E, foi logo a seguir a estes encontros que a mente de Roxo se sumiu gerando um outra versão de calunga escafedendo-se nas brumas de uma outra e mais outra kianda com nova posturas de espirito matumbola, assim como numa metamorfose complicada.

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As Kiandas Roxo e Oxor de agora, andam entre continentes não se recordando da cor de sua casca holográfica naqueles idos tempos de mar muito azul. E, ora são gente de carne e osso e, logologo mudam para uma assombração invisível para todos, menos para mim; mas, só após introduzir uma palavra secreta e uma reza curta perante N´Zambi, o mago dos magos. Recordo que já nesse longínquo ano, eu e ela víamos as implicações éticas que este fenómeno tem naturalmente, o de ter em conta que a escravatura não começou com a chegada dos Europeus a África.

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A Rainha N´Zinga, com o nome cristianizado de Dona Ana se Sousa “N´Gola”, seu título real em quimbundo, dominou a região conhecida hoje por Angola. Para além de ser considerada a primeira nacionalista de Angola, foi também a sua primeira grande colonizadora pois que  durante o seu reinado anexou outros reinos e territórios, submetendo e escravizando seus súbditos, vendendo-os aos portugueses e Mafulos que os levavam para o Brasil.

nzi1.jpg Por isso dizer-se que a escravidão, sob formas diversas, já existia nas tribos locais. Com um copo de gim e água tónica no lugar do Gato Preto de Rio Maior, a 27 de Maio de 2017, pude recordar aqueles longínquos dias e, de novo falar em sonhos ao som de merengues kizombados com terna amizade. E, curiosamente nem se falou nessa “Gloriosa Família” do tempo dos flamengos e, que deu ao M´Puto a primeiríssima ministra de pele morena, de um preto menos preto. A nossa Ministra da Justiça! Vejam só como a estória dá voltas…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:49
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Quinta-feira, 27 de Julho de 2017
MONANGAMBA . XLVI

BAKGATLA DE PILANESBERG - 22.07.2017- Com sorte amaciaremos leite coalhado …Viemos ver leões cientes de que não podemos sobreviver à traição gerada dentro de nós...

Por

soba10.jpgT´Chingange

Nas frinchas de meu tempo e muitas vezes, lembro-me aqui no mato de coisas infectas com mais de quarenta anos. Ficou-me bem ciente que podemos sobreviver aos idiotas e até gananciosos que nos governaram nesse lapso de tempo e aqui, longe dos novelos do M´Puto retempero-me com biltong e heineken lager beer. Um retempero de engano, táseaver! Misturando ideias no amaciar de leite coalhado de zebra do Pilanesberg, revejo a promiscua simbiose dos políticos do M´Puto com militares e afins, como coisa infecta.

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A vaca voadora chamada de geringonça, uma estranha simbiose de animal com muitas patas, muitas tetas e asas secretas, também com lambebotas, engraxam-nos os dias com pomada retirada das nossas próprias gorduras. Com a benevolência de Marcelo presidente, com quem simpatizo, enfeitam os gráficos de crescimento económico engodando-nos o olho sem questionarem a subida dum tal de endividamento para uma vida; a coisa mais essencial desta periclitante estória da crise, vista do lo nefasto…

vacas voadoras.jpg Não sei se o povo é tonto ou se simplesmente anda mareado ou marinado numa mistura de leite de hiena. Nós, velhos resistentes, retemperando ideias de balouçadas agruras do tempo em que os militares vendiam armas ao inimigo comprimimo-nos em delicadezas; um misto de descrença sem aprofundar delicadas falas. Já chega de tibiezas! Roubaram arma em Tancos! Será que roubaram, ou já o tinham sido desviadas?

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Isto, há quarenta e três anos, na Luua da Mutamba e arredores da N´Gola, era o dia-a-dia; roubavam até chaimites, paióis inteiros para entregar ao MPLA. Agora Tancos, é coisa pouca! Só um esboço de antigas passagens da estória, de nossas vivências em África com saída abrupta como a água que sai pelo tubo ladrão. Também nesse então nos enfeitavam as mentes com cravos vermelhos e seitoiras miniatura da Catarina Eufémia. Prá-frente camarada, avante!

araujo86.jpg Ando neste morro ou mato, vendo uma fauna bem mais interessante do que esses abutres de há quarenta e três anos atrás mechiam livremente dentro dum governo de tuji que também se dizia nosso. Primeiro com Spinola do monócolo, do pengalim e luvas de couro preto, depois com Costa Gomes, o rolha. Governos que nos entorpeceram com melífluos sussurros ouvidos por todos no vestíbulo do CR  (leia-se Concelho da Revolução) do Estado Português. Fomos salvos pelo Ramalho Eanes e pelo Comandos a quem sempre prestarei homenagem com respeito e orgulho.

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Naquele então ecoavam falsidade nos propósitos; tal como agora, nós muito descansados, muito inocentes; a maioria nada disto fala, pois para quê, já passou!... Mansamente enfiam-nos no curral como se fôramos gnus aqui do Bakagatla Pilansberg. Esta gente não o parecendo ser ambiciosa, falam-nos com familiaridade, que usam sua força e suas ambições em apelo a sentimentos que infantilmente se alojam no coração de todos nós, mais os albinos, os verdadeiros m´puteiros.

REPU6.jpg Naquele então foram muitos a arruinar as raízes da sociedade, a trabalhar até em segredo com a justiça, ocultos na noite para demolir nossas fundações; minar também os alicerces da nação portuguesa, coisa infecta num corpo, simbiose de militar com político, um promíscuo MFA que nos sucumbia a mando de outras potências.

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Apalpando as medidas da natureza, sarar as feridas do corpo, de esquecer as tropas passando armas ao inimigo, velhaquices de todo o tamanho vendendo-nos ao desbarato, pior que numa feira da ladra. Isto do roubo em Tancos deve ser uma manobra de diversão! Tem muito esturro e nunca se irá saber o busilis do ferúculo...

PAPAL6.jpg O meu dia aqui  entre as espinheiras do Pilansberg,  termina com um adeus aos hipopótamos na lagoa do mankwe, deitados feitos pedras com a kúkia do sol poente rebrilhando em seu dorso, uma visão deslumbrante. E já noite, as luzes do acampamento do Gate Bakgatla, bem ao lado do meu sonho, tremelicam ao chacal que salta para agarrar borboletas ofuscadas na luz. Sempre fugindo, porque neste mato ou morro, não quero ser borboleta !

Monangamba - trabalhador sem especificação, faz-de-tudo (por vezes pejorativo).

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 03:15
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Quarta-feira, 26 de Julho de 2017
MONANGAMBA . XLV

BAKGATLA DE PILANESBERG - 21.07.2017-Tinha em mente encontrar búfalos mas com uma sorte de amaciar leite coalhado no meu four-by-ford, vi quatro leoas a dormir…

Por

soba10.jpgT´Chingange

Cativo de meus espaços e rodeado de acácias, troco ideias com meus obstinados silêncios na perspectiva de extrair ausentes sentimentos. No intuito de mostrar o que ninguém viu antes e, porque “nem sempre vemos o que desejamos”, tive hoje a sorte de ver três leoas numa encosta pedregosa no lugar de Tsukudu. Depois de seguir atrás dum enorme elefante bufador de palha mal mastigada, assim fomos cheirando seus perfumes até nos escapulirmos por uma picada a subir para o morro da marula.

herero0.jpg Meu carro ocasional não é um four-by-ford e, por isso tive o cuidado em o não arranhar dos lados pelas acácias nem por debaixo pelos pedregulhos agressivos. Tinha em mente encontrar búfalos mas com uma sorte de amaciar leite coalhado vi quatro leoas a dormir; por sorte, uma levantou-se por instantes para eu poder ver seu perfil; o suficiente para não me sentir defraudado neste safari de tirar fotos com um smartphone pelo óculo dum binóculo.

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Minha inventação roubada de minha neta cusca de quinze anos muito cheia de chatos pergaminhos, resultou em fotos amarelecidas rodeadas dum círculo difuso. Ela disse que aprendeu isto na química da escola relembrando até ser um método usado pelos paparásis, fotógrafos intrusos de mostrar intimidades de gente célebre para serem mostradas em revistas fofoqueiras.

hereros2.jpg Como ainda tenho o dente de facóchero que o cipaio Mandinga me ofereceu no tempo do antigamente, lembro-me agora que por via desta sorte de menino camondongo, mazombo filho do senhor Manel Monteiro do Mwene-Puto, aqui estou com calções de caqui recordado esse meu velho tempo de ir a missa.

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Pois, recordo assim que o que Deus uniu não pode ser desfeito mesmo que por vezes, se viole os preceitos divinos dos mestres com escapulários. Se a vida é uma sentença com um princípio e um fim, não conseguiremos ouvir o grito da vida se sentirmos remorsos daquilo que não fizemos, ou daquilo que poderíamos ter feito; não podemos assumir a culpa dos pais, nem dos pais de outros pais.

pila0.jpg Na percepção parcial das vitais contingências, tecidas e compostas nas coincidências de que a vida é feita, encontraremos o rigoroso sentido do passado, por fortuitos efeitos que determinam o futuro próximo e distante. Cada um de nós foi o que foi por uma coisa pequena, que nem sempre se escolheu dedo ou arado que por coisa pouca mudou nossas vidas.

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Por via de duvidas também usamos amuletos da sorte na forma duma nota de dólar, um santinho, uma qualquer nossa senhora da aparecida mais responsos escondidos em forros de malas e maletas. Até uma vagem envernizada de feijão maluco serve para o efeito! Por agora ando com esse tal amuleto, um dente de javali que o cipaio Mandiga me deu em um outro e antigo tempo.

herero01.jpg O místico junta-se com a Cruz e o Cristo numa caixa, asfixiando-O no tempo todo e, sempre picado em sua coroa de medonhos espinhos grandes como o destas acácias de África. Com um credo na ponta das falas, fico na beira do charco vendo os bichos desfilar sobrevivências fugindo uns dos outros mas e principalmente daqueles leões que dormem na encosta do morro.

hereros4.jpg Num dia antigo, eu próprio na primeiríssima pessoa berrei disparates saídos do fundo de minha raiva; via coisas que mais ninguém via. Eu, um gweta mwata vestido num calção e balalaika de caqui feito um bóer e, conduzindo um carro com seis juntas de bois com seu pai Manel, um Mwana-Pwó poderoso das terras de Quilengues; terras altas de N´Gola como estas aqui aonde o leão ruge, no monte da marula de Tshukudu. Os sonhos mesmo que falsificados voam rápido…

Monangamba - trabalhador sem especificação, faz-de-tudo (por vezes pejorativo).

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 05:30
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Segunda-feira, 17 de Julho de 2017
MALAMBAS CLXXVII

NAS FRINCHAS DO TEMPO - 17.07.2017 - (Parte 1 de 2) - Aqui no Limpopo de África, apaziguando rijezas adversas, relembro a singularidade do mundo …

Por

soba10.jpgT´Chingange

Nos vínculos efectivos do antes, agora, depois e, enquanto gente, vamos rever humanidades antigas de quando passamos de animais quadrupedes a pessoas com mais de 600 centímetros cúbicos de capacidade craniana. Se agora temos 1.500 centímetros cúbicos de capacidade, tudo leva em crer que no futuro, nossas cabeças serão tão grandes que só se nascera de operação cesária.  

007.png Em meus sonhos, por vezes sou um soldado romano com aquelas vestimentas cheias de couros e latas para fazer couraça nas guerras mas, e num repentemente o sonho cavalga milhares de anos situando-me num ermo, lugar de olhar o desespero de crateras tendo um amigo cabeçudo ali ao lado, um ser vindo do futuro, falando-me coisas por pensamento; assim imagine-se como um espírito feito ser espacial, um ET de código EC 325 da galáxia dos manitus cabeçudos, digo eu.

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Naquele enquanto de um momento, chegada a hora de comer, sorvemos uma coisa languinhenta, gelatinosa dum verde acinzentado, sabendo a nada com algas. Interrogo-me nesse então do porquê aquilo saber a algas sem ali haver mar e de também se chamar àquele sítio o mar da tranquilidade.  É difícil entender estes sonhos que combinam o passado, o presente e o futuro sem passar pelo particípio, assim num ápice.

mandrak5.jpg Curioso é de que neles, os sonhos, não se expressam nos vínculos sentimentais ao jeito de gente, de como se é na terra, com enganos, traições, mentiras e roubos de biliões.  Pois então, estes sonhos têm mudado em muito a minha maneira de ser à luz de critérios vulgares entre nós. Esses de se banalizar o mal de proveitos diversificados a outros; técnicas de vaporizar o sarro usurpando-nos de tudo com inveja e desamor, suspeitas num diz-que-sim e diz-que-não retiradas dum baú com amáveis suavidades de usucapianço.

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Nossos vestígios antropológicos estão a definhar-se retirando ao assombro o orgulho, assim como se fora uma nova epopeia e, aonde demónios e deuses se entendem às mil-maravilhas, aonde tudo parece normal. Nesta tolerância de quimeras genéticas, todos nos tornamos por fruto do tempo em mentirosos, assim uma geringonça de santos com pecadores substituindo no plural a independência de pensamento e até, cruz-credo, eliminando-nos o instinto.

ET3.jpg Instinto que nos foi legado mas que só raras vezes surge e porque cadavez mais nos tornam no tempo autómatos confinados a um tablet cheio de pensamentos encafifados num ecrã. Andamos conscientemente a ser modulados para ficar confinados a uma pequena caixa que nos mostra tudo no paralém por paralaxe. O cientistas, justificam nova teorias encavalitando-nos numa evolução derrubando o que era num que não-era. Andamos a ser encaixotados!

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Somo um produto de nós mesmos, solidários ou frágeis, por vezes independentes só no suficiente para nos adaptarmos à vida nova, copiando-nos na autocompreensão, das coisas incompreendidas, uma coisa estupida de dizer, lá terá de ser! Estou mesmo lixado! Não sonho planos credíveis nos moldes hodiernos. Já quase cibernético, fico-me a lembrar quanto transtorno causa uma simples fagulha que ateia leis, despachos, adendas pirateadas em  posturas…

(Continua…)

O Soba T´Chingange     



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:28
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Domingo, 16 de Julho de 2017
MUKANDA DA LUUA. XLVII

BOA NOITE...16.07.2017- LAMENTO DE UMA AMIGA QUE MORA EM LUANDA... MERECE SER LIDO ... Parte 3 de 3

roxomania1.jpgAs escolhas de Assunção Roxo

Por: Isabel Batista

(…) Na Luua – Os Tugas de novo se vão? Sei lá…mas vão - Já vimos esse filme antes. As casas restaurantes e lojas vazias. …A periferia de Luanda que está acordando entretanto de um pesadelo no entanto, hoje fala-se muito mais do que anos atrás. Há a radio, a televisão, a internet mais o Google! O povo, o candongueiro opinam: -A vida pulula cedo na luta pela vida, 150 Kwanzas para ir e por vezes nenhum para voltar!

zé peixe9.jpg Tá duro, mas vamos de caxexe, devagar; o trânsito começa às cinco, gente a bulir, a acreditar sem alternativa. Ajudar e partilhar! Verbos renovados, sem ninguém a nos perguntar o que achamos de nós mesmos? Não contamos, não servimos! Não prestamos mais aqui, mas o que faço do “olhar” de minha mãe na senda dos 90…O que faço disto?

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O que faço dos amigos que na rua conheci meninos, hoje homens feitos! E, o Pedrito cheirando gasolina em frasco escondido em cartuxo sebento… Outros cheirando fumo de bateria na praia, sem irem nunca ao mar porque vieram do Huambo na altura do bilo a serio, por aí… Fora os outros que já se foram.

socie4.jpg Menti-lhes quando conversávamos sentados no chão, no Kinaxixi comigo a dizer: quando fores grande tudo vai ser diferente! E, está a ser sim, para o que faço de meus discursos incendiados “lá fora” quando me associam a assuntos de que não tenho conhecimentos. O coração a bater, a bater, tentar entender, perceber e fazer perceber, apelar para aquilo que não tem apelo…

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Tudo isto e quando a vergonha alheia afinal também está no pacote de nossos pertences, já gastos; sei onde nasci! Minha família de 5 gerações! Sim! Mas há parentes que não nos pertencem! Família da maka, nossa bandeira que já foi festa de carnaval gweta. Atentos esperançados e curiosos com o futuro que se quer ser melhor que os passados. Também mais consideração mais respeito pelo que abdicamos.

luanda6.jpg Todos os livros e discos e filmes que passaram ao largo, os amigos de longe e família arco-íris; cafés e bibliotecas que já tivemos, livrarias e galerias de arte que o mundo aconteceu. Como nós nos sujeitámos no analítico com paralítico? A água e a luz que falham num aguenta isso, enche a banheira? E aí firmes sem esquindivas com as questões, inventando, criatividade de bué.

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Na musica, na arte, na vida., na panela, no transporte, firmes frouxos, levando e levados no enfim com jinguba ou mandioca. Faca na garganta! Injustiça vadia sempre com as mulheres na frente! No garante lá de casa, deitar, fechar pernas, abrir pernas, fumar vaidades e silêncios; muitos silêncios. Mas a cidade! Ué. É um atentado, uma vergonha o não conseguirmos explicar direito a quem nos pergunta: mas porquê?

koisan5.jpg Tu que vives e estás aí sem entender, com teus bebés e família mais papagaio e sempre um porquê no consciente? Sou educada ya!? Respondo: - Eu queria saber; só sinto! Aqui dizem quando se vai menos bem de saúde. Pois ”sinto o corpo” assim falido; é isso, sinto-o no coração que bate e pula. E o coração, quando se está bem…não se sente. oh!!!!!!!... já vou longa...perdão.

Isabel Batista

t´chingange.jpegNota de T´Chingange: As alegações da teoria pseudo-científica são de que a Luua da Terra pode ter sido colonizada por uma nave alienígena. Os agora matrindindis surgiram antes dos Pulas e Tugas do M´Puto; tinham capacete e suas sementes trazidas do espaço deram um fenomeno chamados de baobás extra de paragordos.  Só muito recentemente passaram a ser de imbondeiros! Eles, os imbondeiros choram agora de tristeza de raizes no ar porque os Tugas  conhecedores das honabilidades ferteis, perderam-se num labirinto de dá-cá-o-meu  a que chamam de gasosa. Os mwangolés sugadores, feitos gente num repente começaram a surgir de olhos bicudos para os lados, uma  tecnologica anatomica  prepotentemente superior.  

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 00:56
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Sábado, 15 de Julho de 2017
FRATERNIDADES . XCVII

CAFÉ DA MANHA – N´Dapandúla - O tempo não passa pela amizade mas, a amizade passa pelo tempo. É preciso segurá-la enquanto existe!

"Ndapandula", significa "Obrigada(o)" em Umbundo; uma língua de origem Bantu e uma das mais faladas em Angola, depois do português.

Por

soba10.jpgT´Chingange (Otchingandji)

Bom dia amizades! Tenho estado cá a pensar: Somos amigos para sempre, mas entre o dia de ficarmos amigos e o dia de morrermos, vai uma distância tão grande como a vida. E, quem é capaz de definir a AMIZADE? São os conflitos e contradições que nos tornam seres humanos… As amizades são escolhas que vamos fazendo de pessoas que surgem na nossa vida quase sempre por acaso.

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Acordei perturbado pelas três e quinze da manhã (noite escura), sonhava insistentemente que deveria ir para onde não estava e, estando lá procurava as chaves da porta e não encontrava. Caramba, um rebuliço duma rã que saltava na minha mente ou talvez no forro da casa familiar alugada por uns dias na SPA do Limpopo. O descanso trazia rastos de quezílias de tugi, tudo por causa do GPS que não dizia que era por ali, deveria ir em frente por mais vinte quilómetros na N 1.

amigo da onça.jpg Mas que merda desta tecnologia que nos atormenta a cárie dentária mesmo sem dentes do sizo, que coisa. Aqui cheira a mijo, essa gente vai para a piscina, vem de lá senta-se aqui no sofá e, este cheiro entra pelos neurónios. Baralhei-me por instante! Coisas, tão pouca a fazer confusão na gente; daquelas que o vento nem bulia e despertando assim estremunhado, dei com minha mulher, acordadinha da silva diz: Ainda nem preguei olho, diz ela… Despertei! Minha consciência bulida com saltos de cucaracha estava a ser testada; na resposta do porquê disse que ficou nervosa após aquela confusão do GPS e as chaves.

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Verdade! Ao me deitar ontem, nesta noite, fiz um escarcéu porque as chaves não estavam ali junto à televisão aonde se tinha dito para ficar e, um caraças, de aonde estão? Foste tu!? É sempre a mesma coisa… Não fui eu e, nem eu, diz a neta Lara, picuinhas, interpondo-se entre o eu e o ela como se nos fossemos engalfinhar e, assim de repentinamente elas as putas das chaves, inimigas do consolo, lá estavam penduradas na porta dos fundos logo junto à cozinha, a fazer-nos gaifonas; e, dei de truz com a verdade.

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Assim era, fui eu que abri, disse em silêncio calado como um predador que pica a presa e como se nada fosse engole, mas não fui eu que fechei. Pópilas! Isto nem merecia discussão e agora de nervosa diz que não dorme e eu, cabisbaixei-me, fiquei sem sono. Bem feito! Vim para aqui escrever coisas desaforadas e ela, minha mulher lá ficou a dormir que nem uma libélula pulando em suaves sonhos de pétala em pétala, flor em flor. Isto há coisas que contadas nem parecem mentiras.

matrindindi1.jpg Agora vou fazer mais o quê? Para meu sossego tenho até um plano D com vírgulas e pontos de exclamação ou interrogação suplentes mas, sem saída, este D torna-se desistência; normalmente quando falha o plano A, recorro ao B e ainda o C mas, em verdade há coisas de que não podemos ser donos. Seremos sempre dependentes dum espaço que a seu tempo nos come o corpo, o cérebro e a sabedoria. Pedi desculpa assim tão silenciada que ninguém diz ter ouvido. Mas que tal fado, minha nossa!

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Ando encafifado com uma máquina de fazer “alegria” para comemorar os amigos que fiz em que cada qual, diz ter mais de 60 outros amigos comuns. Não preciso de mais amigos, que se lixem pois tenho família suficientemente para rabejar. Minha neta fica fula, ela é polo norte e eu do sul, sempre lançando faíscas de íman, coisas invisíveis dum amor profundo. Um iceberg que se desprende das gélidas partes e num repentemente aquece nos silêncios da noite.

MALUCOS4.jpg Os artefactos que encontrei para elaborar esta felicidade são uns zingarelhos vencidos, tortos como uns chinguiços do mato, só servem pra fazer fogo, churrasco, brai ou parrilha. É um segredo de minha patente mas, posso adiantar que além de alegria a máquina é capaz de produzir arco-íris pra deslumbrar vidas; ela, a máquina tem a capacidade para enrolar meus silêncios nas pontas. Posso acrescentar que o último protótipo é parecido com uma foice! Produzir não apenas arco-íris normais mas também duplos e triplos, e até alguns invertidos

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Modas parvas, estas minhas inventações como o Sushi, ou Selfie sticks com edecéteras estrambólicos. Vivemos num mundo de modas e de gostos influenciados pelos midia. Sempre assim foi, agora o é ainda mais devido à velocidade e visibilidade que a Internet veio dar a todas as novas tendências. Quanto a amigos: Com o decorrer do tempo vamos conhecendo-os melhor, e aí começam as escolhas, ou ficam muito amigos, assim-assim, ou descartamo-nos por alguma incompatibilidade.

pedras 002.jpg Às kátiuscas e Kings das Dúzias, vou simplesmente apagá-los do meu kimbo. Agora quem quiser ser meu amigo tem de dizer o nome do cão e pô-lo a ladrar em dó maior e dizer a tabuada de forma inversa senão, risco-o!… Normalmente, com os amigos-da-onça, afastamo-nos, e o outro percebe que já não é Bem-vindo porque é de Peniche e dá às de vila Diogo; tudo resolvido!

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 Mas... É aqui que está o buril da questão, quando o outro é burro, matumbo mesmo, e não percebe que está a mais... Que já não é Benvindo, um Soares com quem não nos identificamos, que já é ''persona non grata''', que já mete nojo. Como é que fazemos? Como é que vou inventar essa tal máquina de fazer “alegria” com estas derivações tão periclitantes? Bom dia, desculpem o desabafo deste lusco-fusco africano! O leão rugiu esta noite, viva o Sporting…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:00
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Sexta-feira, 14 de Julho de 2017
MAIANGA . XXI

CAFÉ DA MANHÃ . Aquilo que vi, não vi! Aquele mendigo fundiu-se no mesmo senhor vestido de organza - Andava eu neste então, nos caminhos de Santiago, fugido de França…

Maianga é um bairro da Luua

Por

soba15.jpgT´Chingange - (O mano Corvo)

maianga9.jpg Cisne e os templários

Em um tempo muito ido e sendo arqueiro da Ordem de Cristo ao serviço da Rainha Isabel a Católica por bula do papa Alexandre VI, na cidade de Burgos, sucedeu que um dia fui abordado por um mendigo que só o era em aspecto. Aguardava uma carruagem a fim de seguir até Santiago de Compostela.

araujo62.jpgCosta Araújo Araújo - (O ajudante del Greco)

Saído de Paris, eu também ia nessa direcção; de samarra, um cajado e um odre feito de bexiga de cabra com água do Rio Sena. As sandálias muito gastas lançavam já umas barbelas na qual se lhe agarravam uns carrapitos que brilhavam. A luz destes era tão intensa que dava para ver o caminho certo.

arau44.jpg Aquele mendigo tinha com ele uma relíquia do Santo e por todos os motivos que só ele sabia teria de fazer a entrega disso e pessoalmente ao Abade Grão-Mestre. Qual o meu espanto quando passado pouco tempo surge no lusco-fusco da madrugada um bando de cisnes rebocando um aveludado coche sem rodas, irradiando luz por milhares de pirilampos ao seu redor.

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Neste inusitado veículo vinha um velho senhor vestido de cetim e organza e mais panos fosforescentes, popelinas desconhecidas por mim. Só podia ser um sonho! Mais atrás numa viatura flutuante havia quatro donzelas cobertas também em cetim e sedas bordadas a oiro e prata, levitadas em cor reluzente. Tudo isto se passou numa ponte romana, tendo um marco miliário redondo e alto já com as letras do seculo e milhas desgastadas.

arau45.jpg Ainda hoje, tantos anos já passados, fico interrogando-me: - Aquilo que vi, não vi! Aquele mendigo fundiu-se no mesmo senhor vestido de organza ficando num só. Uma visão doutro mundo e no limiar duma vida, talvez penumbra de morte; uma de muitas viragens, charneiras duma era, a dos templários fugidos da foice segadora do rei Filipe IV de Espana e III de Portugal.  

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Quando vi este quadro de Zé Costa Araújo veio-me logologo à ideia, esse tal episódio. Isto é a ressurreição duma epopeia antiga antes de em um dia treze e duma sexta-feira, ceifarem milhares de soldados daquela ordem. Foi Filipe IV, rei de França que deu ordens nesse sentido com a anuência do Papa  Clemente V. Estavamos em mil trezentos e troca o passo - (Poucos andavam de charrete)

araujo114.jpg Ele o Zé Augusto, dono e feitor desta tela, era aquele velho mendigo feito de dois dessa lenda antiga mas, que só eu conhecia em pleno. A partir daí passou a dobrar seu nome; nem ele sabe desse porquê escrever-se Costa Araújo Araújo; dois Araújos em um só! Mais tarde, encontrámo-nos em Toledo sendo este pintor auxiliar de El Greco. Foi aí que fizemos um pacto de amizade cuspindo na mãos e mijando de forma cruzada sobre o rio Tejo. Consegui guardar este segredo até hoje. Isto do quadro só pode ser obra dum talentoso bruxo; ele mesmo: Araújo Araújo!

Ilustrações de Costa Araújo Araújo 

Adenda da história

No Concílio de Vienne (1311 - 1312), o chefe supremo da Igreja anunciou a extinção da ordem religiosa por meio de ação administrativa. Com esse precedente, Filipe IV pode prender, saquear e matar todos os cavaleiros templários presentes na França.
Em pouco tempo, Jacques de Molay, grão-mestre dos templários, foi levado à fogueira em uma pequena ilha do rio Sena. Segundo o relato de um escritor da época, antes de morrer Molay profetizou que Filipe IV e o Papa Clemente V seriam julgados por Deus pela injustiça que haviam cometido. Poucas semanas depois, o rei da França e o Papa faleceram. Tal coincidência, ainda hoje, nutre os mitos que falam sobre os segredos e mistérios da Ordem dos Templários.

Do Mano-Corvo T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:16
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Quarta-feira, 12 de Julho de 2017
MALAMBAS CLXXVI

NAS FRINCHAS DO TEMPO -12.07.2017Aqui no Limpopo de África, apaziguando rijezas adversas, relembro a singularidade do mundo. O futuro anda a trambicar-nos…

Por

soba15.jpgT´Chingange

À medida que o ritmo de mudança acelera na sociedade, as pessoas de mais idade, kotas como eu, Assunção, Eduardo ou Araújo, retiram-se para um ambiente mais pessoal ou particular cortando alguns contactos no imediato, ficando mais pelas relações cada vez mais transitórias que surgem pelo digital facebook. Só eu, tenho mais de sete mil amigos na rede social mas, fujo de um lado para outro, deixando coisas por aqui e por ali.

acacia karoo.jpg Assunção estabeleceu-se numa linda aldeia, tendo como jardim uns vasos com flores de cores várias de malvas e gladíolos ao redor de uma oliveira centenária. Araújo fica em seu mukifo transbordando para a tela traços e cores que só ele sabe fazer com beleza. Eduardo balança seus antigos pensamentos em suaves crónicas do dia-a-dia com sua família e seu deserto. Nos tempos que correm já não estamos ligados a um único objecto durante um longo espaço de tempo.

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Estamos forçosamente ligados por breves períodos na sucessão de objectos que se suplantam. O aspecto de uma cidade pode mudar por completo em um curto espaço de tempo. Isto de o passado desaparecer num ápice é um fenómeno real e com tendência para se tornar muito mais abrangente, até mesmo em cidades saturadas de história e cultura. Este procedimento passa também a regular a relação entre pessoas; o casamento por exemplo já não o é para toda a vida como antigamente.

arte1.jpg Os casais cansam-se e, por “ um dá cá aquela palha” como soe dizer-se; qualquer ninharia se torna num motivo de separação. As pessoas já não têm o mesmo apego às gentes ou coisas, mudando com rápida frequência e, porque o tempo urge. Enquanto se muda rapidamente o urbanismo de uma cidade, também os mais velhos estão sendo mandados para lares, ou asilos e, porque a vida agitada não dá tempo aos filhos para deles cuidarem.

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A família vive uma confrangedora realidade que cria litígios na mente das pessoas mais sensíveis ou até mal preparadas para enfrentar o futuro. A cidade aonde vivo uma boa parte do ano, no prazo de um ano, seu urbanismo mudou radicalmente; suas ruas passaram a ter um só sentido e toda a sinalização foi alterada. Um jardim infantil novo veio a substituir um outro fito à menos de três anos.

magao01.jpg Até criaram uma praça vermelha feita em tartan, um piso igual ao dos campos de ténis, desperdiçando o dinheiro destes (meu, também) sem um real benefício à crise de que tanto se fala. A maioria das pessoas não vê bem esta aplicação dos seus impostos, IRS, IRC, IMI, o custo da água e da energia nesta miragem de sucesso! A futilidade chegou a estremos mal compreendidos por quem sempre vislumbrou objectividade na feitura das coisas! Políticos de má formação, gente ambiciosa açambarcam nossas reais necessidades.  

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Modas incompreendidas por quem conta tostão por tostão para mandar o filho para a universidade. Estamos na era do efémero, sim! À medida que o ritmo da mudança se realiza a sociedade é levada a executar uma economia de transitoriedade. A maior parte das vezes torna-se mais barato comprar coisa nova do que mandar concertar uma outra já velha. Isto necessariamente meche com as ideias e ideais.

lagoa1.jpg Também pelo que se observa no dia-a-dia, é mais vantajoso fazer coisas baratas, não reparáveis; coisas a deitar fora após serem usadas. Podemos assim prever mais progressos técnicos com novos aperfeiçoamentos e, em espaços de tempo cada vez mais curtos. Assim será! Isto, não vai parar.

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:39
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Domingo, 9 de Julho de 2017
MUJIMBO . LXXXVIII

KIZOMBA DA LUUA09.07.2017 -Mujimbos com borututu, coisa antiga…

Por

t´chingange.jpegT´Chingange

O tempo não conta - a verdade é sempre actual – Julho de 2017

  valentina0.jpgborututu.jpgO kota Liuanhica, de bravura esquecida sozinhava-se na praia da ilha. Luanda estava no outro lado pendurada na água com prédios e barrocas sujas. Aquela reflexão também o escorria em descontentamento. Debruçado sobre si mesmo na areia, após uma noite trespassada de kizomba, recordava a grande noite cultural com passagem de modelos no Miramar; para ele, homem de antes quebrar que torcer, de peito desfeito, o que viu tornava-se num grande desaforo.

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Aquele, era um dia de domingo. Sua vida estava feita num esquecimento desde que sua filha N´Riquitita desanovinha virou modelo naquele concurso da Maianga. Os amigos à boca pequena iam falando entre risos sarcásticos das altas qualidades de sua filha m´boa pra chuchu que aparecia com frequência nas colunas sociais e ao lado de cantores famosos, estrangeiros  e outros dali mesmo, cheios de kuduro nos poros com catinga de corrumba, mas badalados nos meios de comunicação.

araujo93.jpg No sábado de ontem ele viu mesmo; estava lá na certificação descodificando a verdadeira verdade dos mujimbos da cacimba do Rio Seco e Catambor. N´Riquitita apareceu espevitadamente enroscada a Nelson Ned e, talvez pelo tamanho deste, os kaluandas do bairro gozavam a cena. Compreendeu ali o porquê dos kotas rindo com todos os dentes da boca; isto para Liuanhica era um demasiado e desclassificado contratempo de vergonha; sua filha assim nas más-línguas despidas até os tornozelos.

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Os kasucuteiros, kuribotas do Catambor, roíam-lhe todos os dias a paciência com muxoxos mujimbados de diz-que-diz daquela garina, que tal e coisa, mais enfim, que tu sabes ou adivinhas. Com saudades do antigamente o impensável passou a possível e a nostalgia do tempo colonial transbordou na sociedade da Luua. Perdido naquela oblíqua contraluz duma imensidão de pensamentos, recordou os exemplos de vida que seu pai Sambo lá no planalto do Huambo lhe transmitiu. Traçou uma bissetriz no pensamento n´dele e, assim mesmo tomar decisão sem catetos nem hipotenusa da sua própria desconfiança.

14632930_10207853196554526_3028057283901920621_n.jTinha de voltar à sua terra, agora que a revolução se estava a tornar num estorvo, com o fim da guerra o melhor mesmo era voltar ao seu Quipeio, lá aonde ainda resistiam uns manos estudantes daqueles idos tempos. N'Riquitita tem já vergonha do seu Kota pai, evita-o a todo o custo, atarefada entre banquetes milionários e concursos de misses em tudo o que é lado, exibindo roupas e jóias nas kizombas de alambazados.

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Passaram uns meses... Kota Liuanhica voltou ao planalto, juntou-se ao seu primo Siripipi juntando ervas, raízes e folhas seguindo as pisadas do seu pai Sambo, grande conhecedor na cura de maleitas e malazengas através de plantas; envia estas em cartuxos para Luanda que, por sua vez, são reencaminhadas para o M´Puto. Tornou-se assim um especialista de sucesso no trato do borututu e, à noite, no ximbeco de Zacarias vai dando informações às pessoas de tal produto. Num poucoapouo de malembelembe N´Riquinha passou ao esquecimento...

ÁFRICA17.jpg Naquele vila do Quipeio ele, era o maior conhecedor das plantas do mato – Chi patrão!!! Brututo é bom mesmo! Dizia Zacarias detrás dum velho balcão colonial propriedade do meu pai de faz-de-conta. Isso! De vender carapau frito e farinha de milho mais fuba só vendido em medidas de quartilho; espólios trazidas de Trancoso da Beira fria do M´Puto cheios de chouriço defumado com lenha de pinho e giesta brava. Enquanto isso, eu e meu pai de faz-de-conta, conhecido por Caluviaviri, comíamos uma kizaca acompanhada com quiçângua trazida da Catata.

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Meu pai de faz-de-conta era um estudioso nestas coisas de plantas e bichos, por isso aproveitou dar largas ao seu conhecimento do borututu - Desde há muitos anos que o borututu é usado como chá ou em simples lavagens; colonos e indígenas tinham sempre uma vasilha com raiz de borututu num sítio fresco, ou frigorifico, para beber a qualquer hora. Uma forma de tratar deficiências biliares por ter nele substâncias com propriedades purificadoras e antioxidantes.

angola4.jpg Esta planta é um dos mais poderosos desintoxicantes naturais para o fígado. Protege o sistema digestivo e o aparelho urinário - Como prevenção ao paludismo usavam um filtro de pedra chamado de selha que ia escorrendo gota a gota a água para um vaso ou garrafão, com um pau de borututu dentro. A água ficava com uma tonalidade de âmbar.

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Pois então - Curava as doenças hepáticas, entre as quais a hepatite, icterícia, biliosa, doenças de estômago em geral, vesícula, baço e todo o aparelho urinário - Se quiserem desintoxicar-se de tanta coisa ruim que hoje se come, reduzirem o colesterol e riscos de trombose tomem isso, acrescentou Liuanhica. O meu tio-avô Guerra do M´Puto que curava a ciática cortando um nervo atrás da orelha não sabia nada disto.

araujo1.jpg Lá aonde ele estiver, no sítio que Deus tem, vai ficar contente desta nova do seu sobrinho neto T´Chingange que no correr da vida se tornou quase um Kimbanda de Rooibos. Agora até tomo o borututu como um ritual de pura satisfação espiritual! Às vezes junto-lhe um pouco de mel derivado do pólen de tília para agradar o sabor; desta forma talvez chegue aos 333 anos.

araujo68.jpgImagens de Costa Araújo Araújo

Glossário

Kizomba – dança, festa com baile ou eventos teatrais;  Mujimbos – boatos, falatório; Cacimba – cisterna, depósito de água; Kazucuteiros – trambiqueiros, aldrabões ou que vivem de expedientes menos claros; Caluanda - nativo de Luanda (N´gola); kuribotas – fanático, tendencioso, curioso, espia; Kizaca – saca folha, folha de mandioca pisada cozinhada tipo esparregado; Borututu – raiz curativa; Ximbeco – negócio, boteco, loja ou venda; T'chizangua / quiçângua – bebida feita de milho fermentado, normalmente de sabor adocicado; Quipeio – povoação do Huambo (Angola) Catambor – bairro suburbano de Luanda, confinante com a Maianga; Miramar - cinema esplanada; M´Puto – Portugal; Caluviaviri - um bicho do tipo do guaximim que mija mau cheiro; alcunha do meu pai de faz-de-conta porque tinha medo de se afogar e cheirava mal pra caramba...

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:29
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Sábado, 8 de Julho de 2017
MALAMBAS CLXXV

NAS FRINCHAS DO KAROO - 08.07.2017 Aqui no Karoo de África, apaziguando rijezas adversas, relembro a singularidade do mundo.

Por

t´chingange.jpegT´Chingange

Não existe ninguém que encontrando um espinho em seu pé não o retire após as primeiras dores; se não o fizer é porque é masoquista ou anda a treinar para o Guinessbook, um clube de excêntricos. Um amigo próximo disse-me que os pés dos bóeres têm olhos. Só entendi essa fala quando observei in situ um farmeiro de kimberley a andar de sandálias de pano colorido no meio do capim repleto de aranhas, centopeias, cobras e um sem fim de outros bichos rastejantes sem contar com os muitos picos espalhados a esmo pela terra barrenta.

BATATAS2.jpg Percorrendo o mato do Karoo africano, milhares de acácias com espinheiras do tamanho dum lápis, posso ver ao longe morros suaves de um e outro lado dos rios Orange e Vaal. Nestas condições de apaziguar rijezas adversas do mundo, relembro a singularidade ainda não totalmente definida fazendo-me num seixo redondo do Vaal. Seixo embrutecido que rebola no tempo só quando levado pela enxurrada desta mulola aonde me situo. Aqui há diamantes, dizem!

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Aqui há diamantes? Perguntei à suricata empinada numa pequena elevação que nada me disse, pudera! Sem se importar com essa brilhante pedra que ofusca gentes, fugiu para um dos muitos buracos ali espalhados; terra fresca denotando trabalho árduo para assim se refrescar daquele calor tórrido; calor que chega a ir a mais de cinquenta graus no pico do verão. Coisa para se dizer, Pópilas!

BATATAS1.jpg Pois aqui, damo-nos conta de que afinal, sempre há povos a descrever teorias ou filosofias novas clareadas por meio de metáforas que a natureza lhes ensina. Aquela de os pés dos bóeres têm olhos vuzumunava minha koca com lantejoulas rupestes. Nestes espaços abertos dissociamo-nos dos conflitos sociais; das metáforas criadas pelo homem a justificar coisas sempre compreendidas numa forma de agradar.

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As artes criativas dos homens continuarão a florescer com brilhantes expressões saídas da imaginação; novos níveis de conflito ou sedução e, porque a arte por vezes é a mentira a nos mostrar a verdade. Ué… Lembrei-me do professor Souares, um espiritualista com manias de mwata a enfeitar minha testa com unguentos de salsaparrilha e xixi de guaxinim fedorento, tentando resolver meus problemas de mau-olhado.

BATATAS6.jpg Este eterno conflito foi-nos legado pela inteligência que tende a evoluir no tumulto com velhas ou novas criticas - velhas teses ou teorias diferentes deste mwata Kimbanda da mututa que me quer desfrisar uns kumbús como assim, na saúde, na doença e o escambau… Um teste de vida de tendência evolutiva legada por Deus, porque pensar o contrário disto, será decerto uma imperdoável heresia.

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Este problema sempre presente e cada vez mais remanescente, não reside na natureza nem na existência de Deus mas, nas origens biológicas que pela mente cataloga o auge evolutivo na biosfera. Poderá dizer-se nesta pequena imagem de vida real que cada homem está por assim dizer num estreito nicho como numa burocracia de curral. A parede deste nicho esmaga-nos individualmente a personalidade levando-nos a não poder extravasar nossa euforia como se fossemos bois confinados a só a mugir até ser defuntados com um urro levado na ponta dum facão.

BATATAS5.jpg As nossas atitudes em relação às coisas, reflectem critérios de valor fundamentais tornando a relação homem-coisa em algo cada vez mais transitório. Se eu fosse professor catedrático teria de vasculhar os termos para não falar tão fora dos parâmetros convencionais. A ideia de usar um produto-coisa uma única vez ou durante um curto espaço de tempo, substitui-lo ou deitá-lo ao lixo, contraria a sociedade ou os indivíduos com uma herança de pobreza.

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As gentes do meu tempo, septuagenárias, que nasceram antes da invenção do plástico não estão tão habituadas a produtos de utilizar e deitar fora; até conservam seus casamentos para lá dos cinquenta anos; preferem reciclar a vontade de fazer querer em detrimento do só querer. Já nem vou a casamentos para não me sentir defraudado com a curta duração do umbigamento.

BATATAS7.jpg Em meus anexos do M´Puto tenho uma quantidade de quinquilharia porque sempre guardei na mira de amanhã vir a necessitar num amanhã mas dei-me conta que as coisas se suplantam todos os dias e tudo modifica num ápice. Esta resistência ao descartável está em vias de extinção em todo o mundo dito desenvolvido. Os lenços de pano são hoje considerados anti-higiénicos e, já pouca gente os usa. Agora há toalhetes e lenços cheirosos com adstringentes e de cheiros balsâmicos enxotadores de mosquitos.

arte3.jpg Comecei esta em querer falar no homem das batatas da África do Sul mas tudo escorregou na ladeira mais fácil a fim de não perturbar as mentes, pois sempre ouvi dizer que a fé move montanhas. E, num lugar ermo como este do Calahári, aonde o estio é brutal, um homem semeou batatas no deserto e, porque acreditou em Seu Senhor, foi abençoado com toneladas de tubérculos. Ao seu redor havia descrença e a surpresa apanhou-os de boca aberta. Este bóer do Vaal devia ter mesmo, olhos nos pés!

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:12
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Quinta-feira, 6 de Julho de 2017
MALAMBAS CLXXIV

NAS FRINCHAS DO TEMPO - 06.07.2017 - Somos divididos socialmente, não somente pela cor, ou forma de vestir  mas, e também, pelas nossas posições no tempo… 

Por

t´chingange 0.jpgT´Chingange

Neste nosso curso de enfrentar os conhecimentos, todos os dias serão uma prova à adaptabilidade humana das várias instituições que nos governam. Teremos forçosamente de modificar nosso caracter de existência para aprender esta permanente transitoriedade. Uns dias atrás um amigo meu fez reparo àquilo que eu disse, de que nós sempre seremos o fruto da mudança afirmando que com ou sem essa tua (minha) teoria de transitoriedade nós seremos sempre os mesmos.  

capeta0.jpg Esse meu amigo mora em uma ilha grande e tem um cão chamado de aspirinas. Em verdade a palavra aspirina surgiu oficialmente pela indústria alemã Bayer a 10 de Outubro de 1897. Se imaginarmos que meu amigo nasceu lá por volta de 1840, seu cão nesse então teria outro qualquer nome assim como Sócrates, o filósofo ateniense do período clássico da Grécia que morreu 3 anos antes de Cristo.

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Daqui se reproduz uma situação que deriva desta mesma palavra, “situ” do latim que quer dizer sítio e “ação” que quer dizer acto ou execução. Pode por analogia deduzir-se a partir disto que as linhas de delimitação entre o Sócrates e o aspirinas cachorro, são a duração do espaço de tempo durante o qual a situação acontece! Meu amigo ilhéu de nome Freitas, hoje talvez chamasse ao seu apirina “Samsung”, um nome bem mais recente e de acordo com seu hodierno viver, numa lógica evolutiva transitoriedade.

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Em verdade o primeiro telemóvel do Fernando da Ilha era um quase pesado tijolo e hoje e um fino Smartphone que cabe num pequeno bolso das cuecas. A este número crescente de situações às quais não se aplica esta situação, traz-nos implicações psicológicas tornando um simples facto em situação explosiva. Para se sobreviver, o indivíduo tem de se tornar infinitamente mais adaptável e hábil do que nunca.

missosso2.jpeg Eu, este meu migo Freitas da lha e todos os demais, teremos de procurar maneiras de fixação, totalmente novas e sempre transitórias pois que nossas antigas raízes tal como a religião, a pátria, família, nossas vivência de um bairro da Luua, nossa comunidade ou profissão, estão a ser abaladas. Abaladas pela força ciclópica do impulso acelerativo; e daqui, só seremos premiados se nosso comportamento modificar nosso carácter de existência.

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Daqui, termos de compreender a transitoriedade! O computador apareceu lá pelo ano de 1950 quando eu já comia côdea com leite retirado da cabrinha; sua característica de função, quantidade e velocidade, transformou-se em uma grande aceleração de conhecimentos, e isto, é poder! É mudança!  O computador, é quer se queira ou não, o artefacto que elevou a humanidade a uma exponencial de espantosa novidade.

libia2.jpg A aceleração do conhecimento é uma das mais importantes e talvez a menos compreendida de todas as formas sociais e, que naturalmente abala as nossas instituições. Claro que o ritmo crescente de mudança perturba o nosso equilíbrio interior e, até modifica a própria maneira de como experimentar a vida acelerando a integridade de cada qual. Esta aceleração de mudança, complica e muito a estrutura de nossas vidas, diversificando-nos nas formas que temos de representar e o número de papeis com uma inerente opção de obrigatoriedade.

natal1.jpg Obrigatoriedade de assim fazer, explicada a asfixiante sensação de complexidade da vida contemporânea. Não será exagero, dizer-se que a realidade hodierna origina mal-entendidos entre pais e filhos, entre homens e mulheres, americanos e europeus, cristãos ou muçulmanos, gente do Leste ou do Oeste. Somos assim divididos não somente pela cor, ou pela posição social ou económica mas, e também, pelas nossas posições no tempo.  

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:54
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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