UM CACTO CHAMADO XHOBA . V – 21 DE JUNHO - 2019
– MALAMBA é a palavra
- Boligrafando estórias na cor antiga em Ondundozonanandana (Perto de Etosha). Estávamos ainda em Luderitz, terra soprada a frio e com areia, por Nosso Senhor … Foi no ano de 1999
Por
T´Chingange - No Algarve do M´Puto
Aqui em Luderitz, como as horas acordam cedo desfazendo-se em minutos gélidos pelos sopros do mar, gozando mais regradamente os bens da inteligência e da vida, remexo a chávena com meu especial milongo de adstringir triglicéridos, uma cachaça, aguardente do M´Puto trazida em contrabando; assim feito muambeiro, tomei com um agrado, aquele agora da vida na forma de café arábico. Desolando-me numa sinceridade gemida de tudo o que é ilusão, indeferia-me nos contornos que se transportam sempre às costas, um pessimismo que sempre se enrola no soalho do cerebelo.
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Assim taciturno, com o kispo enfiado pelas orelhas, todos os cinco, fomos ver o padrão de Luderitz numa ponta pedregosa colocado pelos Tugas naqueles tempos de quando ainda se alimentavam sonhos de grandeza com Diogo Can. Sei o quanto é difícil ler o indecifrável mas soe dizer-se que a teoria do pessimismo quando implodida num deserto, é bem consoladora para os que sofrem e eu, com meus sessenta e quatro anos nesse então, já não tinha fornalha para alimentar lentas combustões. Isso - Na forma de chatice!
Necessitando de renovar minha paz por mais uns dias em país que não o meu, insurgia-me contra essa maçada de pagar expedientes ou emolumentos numa terra com padrões de meus ancestrais situados um pouco mais a Sul e no lugar de Elizabeth Bay. Foi quando vimos as duas hienas esgueirar-se na esquina salitrosa dum prédio roído pela maresia; chafurdavam em um conjunto de bidons contentores contendo restos. Neste encanto de desespero entre o mar e o deserto, rendilhamos nossos sonhos com muitas pedras roliças, daquelas que já andaram e desandaram milhares de vezes a recordar que somos uns nada comandados por mistérios…
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Mesmo que rumine uma harmonia que me favoreça a dormir embalado pela mão de Deus, esta paz fica-me cara porque aqui na terra, os homens pagam-se bem pelos expedientes. Regressando à teoria do pessimismo, terei de concordar que é certo o que se diz de que o que tiver que acontecer, acontece, e neste caso aproveitarei rever um oceano de acácias, desertos e bichos na firme vontade de não ser extorquido como um qualquer turista para ver pedras e ou atravessar uma curta ponte construída pelos colonos. Em áfrica tudo é possível (TIA - That is África).
Coabitando com este gozo de incertezas, preencho a inspiração sem doçura, um veludo negro cuspilhando-me num desconsolo na alma. Mas como “há males que vêem por bem” acoitei minha curiosidade em ver cavalos selvagens por esta grande área aonde as areias foram tomando conta das casas; eram em tempos cavalgaduras dos alemães até que um dia em que os diamantes de sonho deixaram de aparecer a brilhar, Também a guerra grande que chegou até aqui destroçou vidas com brilhos cintilantes como as estrelas do céu que aqui e de noite são aos triliões.
Sem me assustar com a calma tremeluzente que carrego, trotei como aqueles cavalos a sobreviver alvoroços e, daqui segui, seguimos para Windhoek feito um naco grande de sabão p´ra macaco com almofadinhas de chita branca, carteira com dólares verdes numa forma de amaciar minha rigidez branca. Em terras de negro que, só parecem querer meu kumbú, irei rever meu Rundu, meus amigos fujões do outro lado chamado de Calai no Okavango, um rio de maravilha que desagua numa lagoa grande chamada de Delta. Outra corrida! Outra viagem! A vida é assim mesmo, como um carrossel.
Recordar a estória do final do ano de 1975 de, quando um General de Pretória num dia intercalado das guerras independentistas, chega um indivíduo sem nome a Grootfontein; Este senhor levando um visto de trabalho em nome de João Miranda saído às pressas de Angola; um Hércules C-130, levou a família inteira para Pretória. João Miranda que tinha todos os seus bens em Dírico, não queria por nada ir para Portugal, seu Trás-os-Montes na Miranda do Douro. A este homem quase lendário, deram-lhe um apartamento do tipo T4 totalmente equipado; o General viu nele o perfil certo para ser integrado no batalhão Búfalo por ser um bom conhecedor do terreno e falar a língua local e dos bosquímanos, os Khoisans.
A companhia Búfalo estava a ser organizada já algum tempo no intuito de intervir em Angola salvaguardando investidas comunistas. Ovoboland seria um território tampão àquele avanço. Dizia-se que estavam ali em Windhoek os recrutadores de possíveis militares a integrar naquele batalhão, eis PIDE-DGS. Tudo dependeria da aptidão e vontade de vir a ser um soldado da fortuna, vulgo mercenário, segundo os pontos de vista diferentes e diferenciados dos “mãos-limpas”. Foi lá no Hotel Safari que me instalei em diferentes fases da independência de Angola. Pela primeira vez comi ostras no gelo; ali, iria recolher elementos junto a muitos refugiados, alguns deles, agentes da PIDE que tinham uma noção exacta das movimentações em curso. Recordo um tal de Rocha de Oshakati, que me fez o especial favor de me dar abrigo numa casa em que a porta era uma autêntica obra de arte – Um imponente búfalo.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
UM CACTO CHAMADO XHOBA . IV – 21 DE JUNHO - 2019
– MALAMBA é a palavra
- Boligrafando estórias na cor antiga em Ondundozonanandana. Estávamos ainda em Luderitz, terra soprada a frio e com areia, por Nosso Senhor … Foi no ano de 1999
Por
T´Chingange - No Algarve do M´Puto
Com destino ao povoado de Ondundozonanandana, lugar perdido no Norte da Namíbia, não muito distante do Etosha Pan e marcado em círculo no mapa Michelin, lá prosseguimos viagem a partir de Ai-Ais do Fish River por estrada pavimentada rolando quilómetros na savana até Windhoek a capital da Namíbia. Era para assim ser mas, chegados ao cruzamento entre as estradas B1 e B4 em Keetmanshop, derivamos para Luderitz pela Estrada nacional B4.
Andando por este mundo, mares, desertos, matos, savanas, anharas e terras agrestes com matutos e mamelucos de outras latitudes, estava agora a tornar-me um mestiço mazombo viajando na terra e no tempo, ora sem GPS porque ainda não existia ora perguntando aqui e ali ou riscando o mapa com esboços, nomes e cópias destes borradas de café, lama e até sarapintados de cafufutila, esses salpicos salivados de euforia que descuidadamente saltam das nossas falas eufóricas, entusiasmáticas.
Na minha vontade, parecia só querer ser uma lenda a comparar com o feito de Amyr Klink que sozinho e num barco a remos atravessou o Oceano Atlântico percorrendo sete mil quilómetros. Foi o primeiro feito a ser amplamente divulgado na imprensa internacional que ocorreu entre 10 de Junho e 19 de Setembro de 1984, entre Luderitz, na Namíbia (África) e Salvador, na Bahia (Brasil) – quinze anos atrás. Foi um feito invulgar a mostrar o quanto a tenacidade pode vencer um sonho.
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Juro que eu, em plena consciência nunca faria isto, meter-me ao mar sem balizas firmes assentes em algo de referência, como os padrões semeados ao longo da costa pelos Tugas, vendo só o horizonte curvo a confundir-se com o céu do Nosso Senhor! Menos mal que nesse tempo de lá para trás só se cogitava que o Universo não tinha bordos, era uma fumaça sem fim. Agora tenho a certeza que vou terminar meus dias sem saber aonde fica esse tal de cu-de-judas do fim do Mundo.
O mundo continuou a girar como sempre e, não mudou por este feito mas seus “Cem Dias entre Céu e Mar” ficaram nos anais da coragem marítima. Comparar-me assim minuciosamente com tamanhas aventuras é consolar-me com alheios fumos, fumos de charutos como se fossem pensamentos num tom cor-de-rosa que s perfilam em matemática quântica. Desfalecido nos ombros, um pouco mais tolo e muito mais míope, agora, já com a audição a não ouvir cantares de galo, coxeio-me em vozeados ambientes de cochichos frouxos. Coitado de mim! Bom - prá frente. Em Keetmanshop, procuramos em arcas carne de caça para fazer um brai-churrasco e acabamos por encontrar uma carne escura; era de órix, esse belo animal que se podem ver fazendo pose nas dunas de areia vermelha lá no horizonte.
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A senhora bóher do armazém-venda, queria impingir-nos outra carne porque aquela era de caça mas, mal sabia ela que era isto que procurávamos. Em seu conceito, não era normal os turistas comerem bichos-do-mato. Como podem verificar, missionando o toutiço, perdi inteiramente as minhas belas cores europeias, a cara sarapintada de funchos, crateras com rugas extravagantes. Isto só pode fazer confusão a quem anda sempre teso, com seus colarinhos engomados, cheio de obséquios e unhas estimadas, sem nunca sentir os medos indefinidos que arrepiam as carnes como pés de galinha. Desfigurado pelo tempo, cheio de cãs, estonteado pelos muitos calores, passeio pelo mundo o meu isolamento procurando entreter-me cada vez mais só; metido entre meus botões…
Por vezes as companhias são obtusas e confusas, cheias de nove e onze horas como se fossem os donos de todos os relógios; já me aconteceu destas tormentas mas, agora interessa é falar de Luderitz. Chegamos ali ao fim duma tarde, um frio com vento de arrepiar para cima de nós; aqui nem pensar em ficar em camping. A areia era cuspida pelo Nosso Senhor como gente abençoada e, assim tinha sido até aqui na estrada que nos trouxe. Recolhemo-nos no Krabbehoft Guesthouse Catering e apartments embrulhados em nossos kispos tiritando das quinambas.
Tudo ao molhe e fé em Deus! Havia gente jovem de muitos lados e na confusão do meu Inglês raspikui misturava-se com o je suis e falas com tremas na vontade de “seja o que Deus quiser”- Saravá! Dizia eu para desatarraxar as encrencas. Afinal não éramos os únicos malucos a andar soprados ao vento da aventura. Ao chegar ali, os hóspedes têm a sensação de ter caído repentinamente nas páginas de um romance de Hemingway, talvez Papillon. Bem! Uma mistura de tudo… Um espírito e, um ambiente ultra "bush", uma caserna bechuanaland com gente estendida pelos corredores dormindo em sacos cama. Lá fora as hienas castanhas farejavam os bidons de lixo, os restos, assim mesmo como se fossem cães…
(Continua...)
O Soba T´Chingange
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