ANGOLA – DA LIBERTAÇÃO À INDEPENDÊNCIA - IV
Crónica 3157 – (08.06.2021) – 14.06.2021 - Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha… Afinal, não o era e, juro que não o sabia…
Por T´Chingange, no Algharb do M´Puto
Antes que me esqueça relembro: Ano de 1975 - A 9 de Julho, após três semanas de violentos combates, a FNLA é expulsa de Luanda, e Jonas Savimbi pede protecção ao Exército português ordenando aos seus apoiantes que deixem a capital - a LUUA. Foi neste então que recrudesceu o som do martelar: “tá, tá, tá" e, por toda a Luanda de noite e de dia a mente restolhava-se inibida de vontade, fazendo caixotes. Para mim, o porto de Luanda estava longe! Nada veio, nem as fotos de casamento na Sagrada Família.
Deus, O Nosso Senhor, também andava distraído por muitos outros lados - de nada valia gritarmos “Valha-me-Deus” porque definitivamente todos estavam condenados, antes mesmo de qualquer definitivo julgamento. Em Muquitixe, terra dos ananases, já tinha visto as estrias duma Kalashe (kalashnikov)! E o soldado ébrio do MPLA segurando a arma de forma desajeitada deu-me o alerta final! Podia também ser um soldado da FNLA ou UNITA mas, assim me calhou: -Vai-te embora branco… Esta não é a tua terra! E quem vai dizer o contrário com um canhângulo nos olhos…
Naquela mensagem messiânica de António Nunes Frade do Bondo da Baixa de Cassange podia ler-se: “Maria, a deusa protectora dos negros, a verdadeira deusa, há muito que anda preocupada com o sofrer dos angolanos e, assim, resolveu aparecer em Cassulo – Cuenda (…)”. Aquela santa por sinal era negra, talvez uma réplica de nossa Senhora da Aparecida… “Para que as balas das armas dos tugas não sejam mortíferas, é necessário vestir panos amarrados à cintura com uma trança de capim “caxinde” e, no pulso, uma pulseira do capim “seno”. Dá que pensar nesta misticidade, práticas usuais nos mentores de cariz religioso.
Os protestos no velho Reino do Cassange tiveram origem na resistência à administração colonial anos antes mas, a 4 de Janeiro de 1961, na Baixa do Cassange, norte de Angola, os negros que trabalhavam nos campos de algodão iniciaram uma greve lançando a que foi chamada a “Guerra da Maria”, nome de um dos instigadores, António Mariano. Os protestos iniciaram-se à volta de Tembo Aluma, na proximidade do posto administrativo de Mangano e espalharam-se desta zona fronteiriça até ao coração do distrito de Malange.
A Baixa de Cassange foi apaziguada pela Companhia de Caçadores Especiais, que ficou célebre pelas represálias exercidas naqueles dias que levou o arcebispo D. Manuel Nune Gabriel a comentar: “A acção dos militares, exaltada por alguns dos elementos da população citadina, lançou o terror nos arredores de Malange e, outros pontos do distrito, contribuindo param uma onda de ódio. O clima de medo e desconfiança originou mortes que só a irreflexão, podem explicar mas não justificar”
A inconsciência foi tal que, não se tomaram em consideração as características dominadoras e guerreiras da tribo dos Maholos, habitantes da Baixa de Cassange, que já quando da pacificação portuguesa do século anterior se revelaram elementos dificilmente domináveis e extremamente perigosos. No dizer do General Fernando Pinto de Resende, Comandante da 2ª Região Aérea, pode ler-se: “Fizemos deles agricultores de algodão, claro que à força, e agora estamos nós a bombardeá-los do céu”
Os agricultores africanos, uns 150.000 em 35.000 famílias, eram coagidos a cultivar o algodão em parcelas de terrenos designados para tal. Não havia salários para este trabalho e no final de cada campanha os africanos eram obrigados a vender o algodão à Cotonang e à Lagos & Irmão, a preços fixos, abaixo dos do mercado, num valor 5 a 6 vezes menor do que o preço mundial. A lucrativa economia do algodão na região era baseada nesse cultivo obrigatório, produzindo cerca de 5.000 toneladas por ano. Em empresas semelhantes, como a Companhia de Diamantes de Angola (DIAMANG), os trabalhadores ganhavam um salário abaixo do de subsistência e os accionistas obtinham resultados extraordinários pelo seu investimento.
A “cultura do algodão era uma exploração infame dos indígenas; portanto, geradora do maior antagonismo para com este tipo de trabalho obrigatório (lucro de 400$00 por ano nas piores áreas...), Para o agricultor, quando tinha o infortúnio de perder toda a cultura, recebiam zero por um ano de trabalho. Este é apenas um exemplo das muitas vilanagens que a tribo branca com a anuência do governo do M´Puto fazia à tribo negra”. Claro que a grande maioria de colonos e mazombos estavam à margem de todas estas arbitrariedades, diga-se! Os protestos iniciaram-se à volta de Tembo Aluma, na proximidade do posto administrativo de Mangano e espalharam-se desta zona fronteiriça até ao coração do distrito de Malange.
Na madrugada de 04 de Fevereiro de 1961, em Luanda, “supostamente o MPLA” ataca a Casa de Reclusão, Esquadra da Policia Móvel e cadeia de S. Paulo sob a alçada da PIDE, com a intenção de libertar presos políticos, entre os quais Domingos Magalhães Paiva e Agostinho Mendes de Carvalho, politico e escritor, usando o pseudónimo de Uanhenga Xitu. A 11 do mesmo mês, repete-se o assalto. O Cónego Manuel das Neves entre outros esteve na organização destas acções permitindo que debaixo do altar da Sé Catedral se escondessem catanas.
Este diria mais tarde: “É suicida combater com catanas, mas romper-se-á assim o mito de que todos estamos satisfeitos com os portugueses”. Era suicida combater com catanas e ele, sabia-o na perfeição. Era óbvio que por esta via quereria criar mártires por forma a provocar um levantamento mais generalizado na sociedade luandense e, mais propriamente entre os moradores dos musseques, gente da periferia, que paulatinamente ia ficando mais focada para a luta de libertação. Em paralelo com a notória sublevação era já elevada a condição cultural da sociedade citadina. Em resposta a toda eta sublevação, as autoridades, distribuíram espingardas “Mauser” à população branca da capital e arredores…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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