ANGOLA – DA LIBERTAÇÃO À INDEPENDÊNCIA - V
Crónica 3158 - 18.06.2021 - Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha… Afinal, não o era e, juro que não o sabia…
Por T´Chingange, no Algharb do M´Puto
O ano de 1961, ficando a uma distância de sessenta anos, convêm relembrar mesmo de forma sucinta o que aconteceu na Colónia chamada de Província de Angola. O padre Franklin da Costa que não concordava com a politica colonial e, que foi mais tarde bispo do Lubango sofreu dissabores por admoestação ao longo de sua vida pastoral pela PIDE, tendo o militar operacional Neves Bendinha, nesse então, morrido às mãos dessa policia na Cadeia de S. Paulo de Luanda. Os intelectuais Belarmino Van-Dúnen, Noé Silva Saúde, Francisco Santana e Virgílio Sotto-Mayor foram presos e condenados, cumprindo pena no Campo Prisional do Tarrafal. Naquele período de entre 04 a 12 de Fevereiro de 1961, disse-se haver entre mortos e feridos e de parte a parte, um total de cinco mil … A Fortaleza de S. Pedro da Barra e a Cadeia de S. Paulo, encheram-se de presos. Pinto de Andrade foi desterrado para a ilha do Príncipe e Agostinho Neto é envido, primeiro para Lisboa e, mais tarde para Santo Antão e Santiago de Cabo Verde; Aqui, Neto, continuou a exercer medicina sob vigilância policial; viria a ser transferido para o Aljube e libertado no ano de 1962 com a condição de ficar com residência fixa em Portugal de onde consegue fugir clandestinamente com a família, refugiando-se em Leopoldville.
O ataque da UPA contra os fazendeiros brancos do Norte de Angola, abrangeu uma faixa extensa que vai desde a fronteira com o Congo Zaire até bem perto de Luanda, a maior parte do Distrito do Congo, Províncias do Uíge e Zaire, uma parte do Cuanza Norte e a região de Nambuangongo. Centenas de brancos e trabalhadores Bailundos, contratados, são barbaramente assassinados, incluindo mulheres e crianças. Nem os missionários escapam a esta onda contando-se entre estes os bem respeitados padres Lázaro e Pedro João; o primeiro morto na povoação de Pângala e, o segundo, na Damba.
No ataque a Quitexe, então Concelho de Ambaca com sede em Camabatela, foram assassinadas várias crianças. Podem ver-se muitas fotos com seus corpos seminus ou nus, retalhados por catanas; fotos que correram o mundo indignando na forma tão violenta de fazer terrorismo. A violência destes acontecimentos de quinze de Março e sequentes dias, motivou dos bispos angolanos, a publicação de uma “Exortação Pastoral” condenando as acções de terror de um e outro lado, apelando às autoridades não esquecerem as leis de justiça e caridade por forma a aproximar os homens e não originar um crescendo de inimigos. O texto da Pastoral enviado para Lisboa a ser publicado no jornal “Novidades” é desautorizado a sua publicação…
Salazar, detém a pasta da Defesa, por via da tentativa de golpe de Estado por Botelho Moniz. É neste então que prefere o tão propalado discurso em que diz: “ para Angola, rapidamente e em força”. Inicia-se imediatamente o envio regular, por via aérea e marítima. O primeiro contingente de militares embarca no navio Niassa, no cais de Santa Apolónia, em Lisboa. O império português estava ameaçado de morte como nunca em cinco séculos e, a resposta possível foi o envio imediato de um corpo expedicionário. O envio acontece a 21 de Abril, em reacção ao levantamento supostamente do MPLA em Luanda e aos massacres da UPA no Norte.
Ninguém imaginava que a guerra duraria mais de uma década terminando logo após o vinticinco de Abril de 1974. No cais de Santa Apolónia, em Lisboa, as famílias juntaram-se para a despedida aos militares. Estes embarcaram em fila ordenada no Niassa e da amurada gritavam "Viva Portugal". O Diário de Notícias de 22 de Abril dava honras de primeira página ao embarque das tropas. "Aclamando Portugal e o exército e cantando o hino nacional partiu ontem para Angola uma força expedicionária" - era o título, mostrando optimismo sobre uma rápida solução do conflito. Só que a Guerra Colonial duraria até esse ano de 1974, e seria combatida em três frentes africanas – Angola, Moçambique e Guiné Bissau. Entretanto na rádio cantava-se “Angola - é nossa”
Hoje, pode encontrar-se em Portugal, mais de 300 monumentos dedicados aos que combateram por um país que estava condenado a ser de novo só europeu. Angola e mais quatro nações africanas de língua portuguesa, são hoje independentes mas, terei aqui de me focar só a Angola a rainha do Império Luso. Os paquetes Niassa, Santa Maria, Vera Cruz, Pátria e Infante D. Henrique levam sucessivos contingentes sendo recebidos euforicamente pela população branca em grandiosos desfiles ao longo na Avenida Marginal de Luanda com o nome de Diogo Cão e agora, com o nome de Avenida 4 de Fevereiro… Na Angola de 1961, a situação é crítica; cidades, vilas e pequenos lugares do Norte são saqueadas pelos guerrilheiros chamados por “Turras”, diminutivo de terroristas. Estes Turras, à sua passagem, destruíam as estruturas das fazendas de café, que até então eram o principal abastecedor do mercado internacional. Até 1974 saiam daí 330 mil toneladas por ano; hoje que são passados sessenta anos, esta produção decresceu para números muito inferiores.
Pode ler-se actualmente (ano de 2021) que a produção do café ainda contínua irrisória e longe de alcançar lugares cimeiros em África, em particular, e no mundo em geral, devido ao fraco investimento e falta de políticas concretas para os produtores, segundo especialistas em agronomia. Em consequência do fraco investimento neste sector, tem sido variável e nivelada por baixo, comparativamente ao tempo colonial, período em que a Colonia, foi o terceiro maior produtor mundial desse “bago vermelho”. Voltando àqueles tempos em que aquela era a minha terra – assim o pensava, o Ministro do Ultramar Adriano Moreira desloca-se com frequência à Colonia adivinhando-se mudanças.
O Governador Silva Tavares é substituído pelo General Venâncio Deslandes que acumula o Comando-Chefe das Forças Armadas. Face aos acontecimentos na Baixa de Cassange, o Ministro Adriano Moreira põe fim à desumana política da cultura compulsiva do Algodão e sua venda obrigatória à “Cotonang”. O general Deslandes inicia a retomada do Norte de Angola em Junho de 1961, pelo posto de Lucunga. Em Novembro, Deslandes anuncia o apaziguamento do Norte, saldado por 121 baixas de militares oriundos do M´Puto. Em Dezembro de 61, já se encontrava em Angola mais de 30 mil soldados magalas do M´Puto. Em 1966 já eram 60 mil e, em 1974 chegaram a mais de 65 mil. Diga-se que as guerrilhas do MPLA e FNLA eram quase inexistentes no ano de 1974 mas, urdia-se pela calada e, no M´Puto outras diligências singularizadas pelo Partido Comunista e suas células com mistura de traidores…
As comunidades corporativas e intelectuais da Província em consonância com uma boa parte significativa de grande parte de comerciantes conceituados como Venâncio Guimarães, chegaram a propor a Venâncio Deslandes um golpe do tipo de Ian Smith da Rodésia tornando o território independente ou com uma autonomia progressiva mas, não houve a vontade necessária para tal. Perdeu-se uma grande oportunidade de mudar o rumo em Angola de uma forma controlada a favor de gente que se veio a revelar desclassificada, impreparada e ladra. Recorde-se que Ian Douglas Smith, foi um político, fazendeiro e militar que serviu como primeiro-ministro da colónia britânica da Rodésia do Sul entre 13 de Abril de 1964 e 11 de Novembro de 1965 e depois primeiro-ministro da Rodésia, depois da Declaração Unilateral de Independência, em 11 de Novembro de 1965, até 1 de Junho de 1979.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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