Sexta-feira, 30 de Julho de 2021
CAZUMBI . LXVII

MOKANDA DA LUUA – Luanda do Mu Ukulu, era uma vez . I de IV

A realidade da Luanda actual. Crónica 3171 – 30 de Julho de 2021

Mu Ukulu02.jpeg

kimbo 0.jpgAS ESCOLHAS DO KIMBO

Publicado a 5 de Outubro de 2019… Fonte Jornal de Angola

Ao domingo, entre o largo do Baleizão e a Lello, a avenida Rainha N´jinga, antiga avenida dos Restauradores, transforma-se numa pista. Apesar da sua proximidade com a principal esquadra da Polícia Nacional, a larga via não é patrulhada nem possui qualquer sinalética horizontal, num vasto percurso, nem passadeiras para peões. Quando cai a noite, um grande troço mergulha na escuridão por ausência de iluminação pública, mas ao lado do degradado e agora entaipado Baleizão a iluminação funciona sempre em quatro postes, dia e noite. No lado oposto, há troços sem iluminação, que só surge lá no fundo, nas imediações da empresa francesa Total. Não é raro ver-se, aos domingos, carros e motorizadas a alta velocidade e jovens a patinar nas faixas, tudo num zigue-zague despido de temor no meio de centenas ou milhares de jovens que vão ou vêm da Ilha a pé e passam rapidamente pela “cidade” ao encontro dos seus bairros.

Mu Ukulu52.jpg É a rua que liga a Fortaleza de S. Miguel, hoje Museu Militar, e anfitriã do centro comercial Fortaleza, ao centro da cidade. A encosta da fortaleza já foi poiso de macacos nos tempos idos do colonialismo e a rua que a circunda lugar de namoro romântico. O centro de Luanda onde imperam os altaneiros e novéis prédios da Sonangol, em vias de ser privatizada, a antiga livraria Lello, hoje fantasmagórica, o largo da Portugália, onde os portugueses faziam câmbio paralelo, com as suas duas árvores-avós, o prédio da Biker - ainda com alguns serviços, como a Foto N´gufo, e com um “restaurante típico", fechado com chapas e onde ratos e insectos convivem com o povo real que aí almoça por mil kwanzas, num ambiente “apocalíptico” -, que já albergou mesas de snooker e ambiente de tertúlia de jornalistas, outros tempos, pré-históricos, de que não restam escritos. Ali ao lado destruíram o largo e edificaram dois blocos de vidro com dezenas de andares, onde trabalha uma classe burocrática nacional-expatriada.

Mu Ukulu46.jpg Mas a grande avenida não se detém, na esquina onde era a Sonylândia e hoje é um banco, estreita-se, a Moviflor portuguesa substituiu o luxuoso Quintas & Irmão, cujo dono permaneceu na Independência, mas viu a sua casa ocupada ilegalmente, e o fundo da rua desemboca no Eixo-Viário, uma obra feita pelo colonialismo português, que liga o Kinaxixi à Marginal e ao Miramar, hoje quase toda castanha e sem verdura, com iluminação aqui e ali. As árvores começaram a ser arrancadas em 1975, quando começou a faltar o carvão para cozinhar, e o Largo do Ambiente é frio, nada acolhedor, quase escuro e sem presença humana. Eixo-Viário do antigo Benfica de Luanda do Victorino Cunha, onde os portugueses plantaram verdura nas barrocas e a Independência construiu arranha-céus da Sonangol e de outras empresas estatais majestáticas.

Mu Ukulu49.jpg Os abandonados e degradados edifícios coloniais, com janelas com persianas, são na maioria “fantasmas” mudos e quietos, desafiando o futuro da capital. Um mundo novo. Os colonos foram embora e o Estado tomou conta das suas propriedades, expropriou e começou a vender a si próprio ao desbarato. Os elevadores foram destruídos e transformados em contentores de lixo, os corrimãos das escadas desapareceram, divisões e mais divisões foram construídas sem qualquer plano ou segurança para albergar familiares vindos dos bairros e do mundo rural, nada oferecido, tudo pago. Os quintais foram apropriados por quem chegou primeiro e transformados em autênticas “pensões residenciais” surreais, com divisões precárias e sujas alugadas a bom preço, 40-50 mil kwanzas mensais, porque estão na cidade e Luanda é a cidade mais cara do mundo.

Os quintais, ou melhor, os cubículos mukifos, também são alugados ao dia às zungueiras para guardarem as mercadorias que não conseguem carregar para os seus casebres nos bairros. Mas não só, os quintais são pontos de grande tráfego comercial, sobretudo, de bebidas alcoólicas, quem os detém há mais tempo usufrui de tudo o que pode acrescentar dinheiro sem muito trabalho. Os terraços não existem. Em seu lugar surgiu uma miríade de cubículos, muitos de chapa, sem água e quase sempre com luz puxada de gatos e paga mensalmente a alguém, alugados por quem chegou primeiro ao prédio e se diz “dono”. O luandense é manso. Quando lhe falam “o dono”, se cala, se ajoelha, submisso, e paga, mesmo que o dinheiro não seja o seu, e depois diz em voz baixa “está mal”.

Mu Ukulu51.jpg Sem árvores… Só se encontram árvores com troncos muito grossos, sinal de longa vida, árvores coloniais, no Largo do Atlético, hoje largo sem nome definido, mas que 44 anos após a proclamação da Independência continua a celebrar a batalha de Ambuíla, que ditou a perda da soberania do Reino do Congo e a decapitação do rei, cuja cabeça foi transportada para a ermida da Nazaré, na Marginal, que este ano comemora 355 anos. Um largo agora fechado e em obras sem prazo. As vendedoras dizem-me que passou para a propriedade do banco BCI, "se apropriaram", diz-me um jovem que todos os dias me pede dinheiro para comer.

(Continua…)

O Soba T´Chingange (o relator)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:20
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Domingo, 25 de Julho de 2021
XICULULU . CXXXIX

 

MULOLAS DA VIDA

CRÓNICA DE SÁBADO nº 316025.07.2021

BRECHAS DA LEI... TEMPOS SALGADOS

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Por: soba002.jpgT'Chingange, no AlGharb do M'Puto

No mundo jurídico, existem as chamadas “BRECHAS DA LEI”, das quais competentes advogados fazem uso para adiar ao máximo a condenação de algum cliente ou conquistar as mais surpreendentes absolvições de indiciados de NOMENCLATURA. Aqui no M'Puto todos sabem como isto da justiça funciona, das muitas maneiras de tudo se ir protelando até prescrever e ficar tudo em "ÁGUAS DE BACALHAU". Não sei o porquê disto ter este nome quando tudo termina em nada, mas posso acreditar que é pelo cheiro que este deita na forma de dessalar.

araujo200.jpg Enquanto que na prática jurídica se fazem recursos sobre recursos diluindo o tempo, na arte de cozinhar vai-se mudando águas sucessivas para amenizar e, até se pode usar leite no retirar do sal para ser mais perfeito o engenho de cozinhar.

Justiça - Nós, depois de demasiado atazanados, apuramos nas resteas dos pedaços de dúvida, a bem atilada arte de que tudo pode ser falso no viver, ou até, ninguém saber de nada com ataques pimbas de falsificadas amnésias. Deslealdade ou compadrio de acreditar que nunca mesmo, ou depois, rem que tudo fique cozinhado num ARRE ou num vulgar balhame Deus bem à maneira do Norte…

Que afinal os homens tiram seu prazer do medo dos outros, do sofrimento, levando uns e outros à moleza até se acreditar pelo cansaço que uns vão para o céu sem culpas e outros, ARRE, o inferno é-lhes mesmo possível! GRELHA, CHOÇA, PILDRA...

araujo27.jpg O que sempre vejo, mesmo sem querer, é que toda a acção chamada de processo, principia por uma gota de palavra pensada, que vai colando com outras guardadas, fazendo castelos que vão rompendo o rumo por despiste. Depois, a gente que não nasceu ontem, se ganha em experiência, pois sim, coça-se o queixo e aquilo que era deixa de ser, inteligênciando-nos com esses tais de recursos mais instâncias que se arrastam e, que até se perdem por querer querendo; por vezes os ilustres da toga até se dão ao luxo de cortar as folhas e, são mais os buracos do que as fissuras ficando tudo por “assim mesmo”.

E, desmerecidos da cachimónia, notamos a olhos vistos que a situação fica política, assim mesmo sem tino nem prosápia caindo num fundo de resolução, quando toca a dinheiro. E, eu quero mesmo achar a ideia, tomar o rumozinho das coisas, mas fico num houve, que não houve, que nem acredito no como contar, porque estou remexendo e, às vezes não é fácil porque fé, não é! Sempre MILHÕES... É ou não é, NOÉ!?

araujo155.jpg Na vida há sempre quem queira encontrar alguma “brecha”, ou até as crie, na tentativa de justificar atitudes que relativizam princípios, visando ao ganho pessoal ou material... Brechas mais Cunhas Lda... Muitos mascaram o apego ao poder e o interesse em viver sob os holofotes, com o argumento de prestação de serviço altruísta e o escambau. Isso! Voluntariado, associações indevidas, frequência de lugares impróprios e compartilhamento de interesses questionáveis, com motivos “politicamente correctos” - assim se justificam deste simples jeito pela falta do IN...

araujo172.jpg Por causa desse modo de agir, o que, a princípio soa insignificante, pode agigantar-se e, posteriormente causar muito sofrimento a todos nós, os TERCEIROS, por via do CHAKAZUL. Por isso, devemos estar atentos ao facto de que, quando Deus diz: “PARE!”, quer dizer exactamente isso. Mas, parece também que já ninguém vai à missa! Bom dia! Esta "não estória” nos ensina que só estaremos sob o sono de “assim diz o Senhor”. E, assim fica: O PERIGO ANDA SOLTO...

Ilustrações de Costa Araújo

O Soba T'Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:46
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Sábado, 24 de Julho de 2021
MOKANDA DO SOBA . CLXXIV

ANGOLA DA LIBERTAÇÃO - XI

- A INDEPENDÊNCIA DIVIDIDA… Crónica 3169 - 22.07.2021

-Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha, mesmo não sendo “preto”… Afinal, não o era e, continuo “branco”…

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Por   t´chingange2.jpgT´Chingange, no AlGharb do M´Puto

Com botas de michelin ponta de ferro, calções de ganga, camisola de flanela e chapéu quico com os big-five, curto o calor do dia enquanto o sol se põe a pique com uns agradáveis vinte e dois graus no zénite. Ao cair da noite os chacais miam não muito longe e até posso ver seus olhos amarelos quando dirijo o farolim da varanda em sua direcção. As noites têm sido escuras, o céu fica todo a descoberto e posso ver com perfeição as estrelas do cruzeiro do Sul.

No M´Puto os ratos saiam das tocas! As divergências na CCPA - Comissão Coordenadora do Programa em Angola, atingiram seu clímax! A linha progressista partia nozes com o nariz! Entretanto, Otelo Saraiva de Carvalho chegava ao seu gabinete COPCOM com a prometida ajuda de Havana ao MPLA. Este militar, visto como o novo Ché Guevara, encontrava-se em Cuba desde o dia 21 de Julho para assistir no dia 26 à celebração do ataque ao quartel de Moncada. Isto era o que se fazia constar para não se depararem com embaraços diplomáticos em relações internacionais. Mas, afinal como é que Costa Gomes, o presidente de todos os portugueses alinhava nisto!? Lá iremos…

kianda05.jpg No M´Puto o ordenado mínimo nacional era de 3.300 escudos. Apesar disso os cinemas enchiam-se para ver dois filmes até então censurados: “Bob e Carol” e “A grande farra” Nestes dias em Angola era a aflição, fazendo caixas e caixotes a prever a debandada pelo “ forçado abandono”. Vejam bem esta grande preocupação de nossos “manos metropolitanos” que no M´Puto viam filmes incentivadores de ”Swing” - uma suposta terapia de grupo de todos na cama curtindo o sexo em conjunto – um novo tipo de relacionamento com os quatro, fazendo uma orgia para combater a velha moral. Uma coisa de levar as mãos à cabeça num “balha-me Deus”…

No M´Puto andava-se muito a pé pois que a gasolina estava racionada, devido ao embargo de petróleo pelos países árabes e, em retaliação ao apoio de Portugal aos Estados Unidos, aliados de Israel na guerra do Yom Kippur. Os jornais esgotavam-se rapidamente e, nos cafés e esplanadas falava-se do derrube iminente do regime, comentava-se o livro do general Spinola “Portugal e o Futuro”. Lançado a 22 de Fevereiro de 1974, também esgotou rapidamente. Existiam siglas políticas para todos os gostos: MIRN, LUAR, MRPP, MDP-CDE, e edecéteras. Fizeram-se saneamentos nas empresas. Foram os anos das fugas para o Brasil e de vendas ao desbarato das vivendas do Estoril e Restelo.

guerra12.jpg Silva Cardoso o Alto-Comissário depois do Acordo de Alvor, era constantemente atacado pelo MPLA em comunicados via rádio e panfletos por não ser suficientemente revolucionário. Afirmavam que já não servia à revolução Angolana. Em dado momento, Silva Cardoso perante a constante insistência do MPLA de que teria de ser substituído, sugeriu à Direcção do mesmo movimento que classificassem o seu sentido de revolução ao referirem claramente que os brancos não eram queridos em Angola; isto para que assim, Lisboa evacuasse essa etnia alvo de “um ataque sistemático” por eles. Era só um jogo de palavras para fazer actuar o CR do MFA de Lisboa…

Havia apropriação abusiva de veículos e instalações pertencentes ao Estado; já havia dificuldade em distinguir se aquele organismo antes estatal o era efectivamente, ou não. Em Malange quase toda a população civil se refugiara no quartel das NF e, em N´Dalatando verificou-se o total abandono de todas as lojas e residências que foram alvo de pilhagem pela população africana apoiada por elementos das FAPLA, forças armadas do MPLA.

Agostinho Neto, escudado pelo apoio militar de Brejnev, do marechal Tito e de Fidel de castro, já não necessitava de ser afável com grande parte dos militares portugueses; alguns, poucos deram-se conta mas, já era tarde para fazer marcha-à-ré. O MPLA iria liquidar os outros dois Movimentos fazendo tábua rasa da presença portuguesa e dos acordos que tinha estabelecido com todos. Neto era um salafrário e já era demasiado tarde para recuar o processo. Entretanto, na confusão de Angola e pelas suas estradas os angolanos fugiam levando apenas malas com roupa, fugindo das fazendas para as cidades.

spi3.jpg Famílias portuguesas, brancos de condição, alguns com três gerações de filhos africanos, como formigas kissonde tresmalhavam-se à procura de uma solução; uns iam para sul, outros para este e até para o Norte até que a PONTE- AÉREA começou a pairar como sendo a solução mais válida. Diversas companhias de aviação tais como a soviética Aeroflot, dispuseram-se a retirar este grande número de gente que, até então laborava em normalidade. Também ouve aqui, em Angola, saneamentos, ocupações selvagens, marchas silenciosas e “manif´s” de júbilo para milhares de negros a receberem Agostinho Neto e Jonas Savimbi.

Municípios foram ocupados formando comissões administrativas desastrosas, Liceus a serem ocupados por jovens guedelhudos brancos e negros de carapinhas ornadas com tranças, copiando Ângela Davis que personificava o movimento “black power”. A euforia transformou-se em crescente preocupação, com discursos agressivos dos supostos “pais da independência” e luto ditado pelo crepitar das armas na batalha pelo controlo de Luanda. Costa Gomes, conhecido popularmente por “o rolha”, aceitou a demissão de Silva Cardoso nomeando interinamente Alto-Comissário Ferreira de Macedo, o homem que Rosa Coutinho e a CCPA queriam para este cargo.

silva p0.jpg Este General e mais outro chamado de Carlos Fabião e um outro major de nome Canto e Castro iriam a Luanda estudar a situação. Nesta altura, as notícias eram desconexas e o tempo comia as palavras de ordem ventilando-as em desordens. Ninguém entendia o que se passava e quando sabia já aquilo que parecia ser, tinha alterado para coisa-outra. Não havia como gerir este estado de coisas pois o descomando era verificado naquele agora. Tudo se configurava para a fuga e neste entretém de ordens e alterações a estas, começa a configurar-se a “Ponte LuaLix”. Diversas companhias de aviação tais como a soviética Aeroflot dispuseram-se a retirar este grande número de gente que até ali só atrapalhava as directivas do MPLA. “Branco, vai para a tua terra” era o que mais se podia ouvir…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 04:35
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Terça-feira, 20 de Julho de 2021
MALAMBAS . CCLXI

N'ZAMBI ... TEMA EM EXECUÇÃO, PORQUE AINDA ESTOU EM CONSTRUÇÃO...

FALAR POR FALAR - Crónica 3168 - 20.07.2021

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Por:   soba0.jpeg T'Chingange - no AlGharb do M'Puto

N'ZAMBI tem o mesmo nome de Deus mas só pode ser nomeado por quem o conhece e sabe amar na plenitude. A mim sempre me foi interdito, um apócrifo por parte de mãe, pai, terra, mar e até ar. E, porque simplesmente já nasceu assim e depois, no estudo do pai-nosso, encafifado na sacristia, os quadros ali pendurados, acho que até metiam medo ao menino Jesus Messias. Suponho por isso, bem ser um ET, pois li e ouvi relatos desconsiderados por apócrifos...

O espaço, Kalunga, as árvores que falam com assobios de vento; falas de velho cego contando viagens, olhando o pequeno cesto de adivinhação, apalpando o tempo com suspirosas lamúrias. Vou vos dizer: Minhas falas têm um passado fermentado nos dias de futuro, de por-viver, porque nasci num tempo que ainda não o era. Isto parece loucura mas, meu tio do lado de mãe que era Nosso Senhor por alcunha, destinou-me às viagens só sonhadas por ele porque nunca, que eu saiba, saiu de sua terra feita kimbo de barro chapado nos ripados. Taipa de atados com lianas de chinguiços do mato, matebas...

araujo49.jpg Andei, com meus próprios pés no mundo inteiro, pelos pequenos caminhos que se rasgaram para mim; na guerra eram fiotes, carreiros ou pistas. Com a onça aprendi a colocar no chão um pé diante de um outro, com passos de sumaúma, sem barulho e sempre na fila do pirilau. Desconsegui voar, mas mantive sonhos de penas e uma boca em forma de bico, para colher da madrugada as gotas cacimbadas da noite, e mel silvestre, único alimento de muitos dias de peregrinação só mesmo de imaginação porque as abelhas ferram, não sei se o sabem...

Morri na Curva e renasci várias vezes, deixando o corpo fermentar nesta fala da vida que agora uso, por vezes sem vírgula e às vezes tudojunto. Com esta fala e as mãos percebi-me um T'Chingange sem cajado de nobreza, assim mesmo de feitiço, nem menino, nem mabeco, noutra fala de kandengue: exerci todo o poder da terra e agora o que me sobra é a impossibilidade da morte, garantida por uma mutopa cheia e fumegante, mais uma taça de sangue das minhas próprias verrugas feitas uvas.

ÁFRICA13.jpg O T'Xipilika avisou:- Este menino não é gente... Mas meu coração é, ainda! Uma vez, quando uma seta turra encontrou ninho no meu peito, provei o coração para não morrer. Sabia a nada feito pedra, dura como ela, como a dos túmulos seca e enervada com a terra do Panguila, do Bengo e Icolo mais outros Kifangondo e Fundas, tudo água de cu-lavado, preparado mulato dos morros de Catete e mais a montante do rio, também chamado de Zenza, com nascente no Planalto do Uíge, passando por Quiculungo e Samba Caju…

Minha mãe Arminda Loureiro, preparou-me mal para mudar o curso das coisas, criando-me com o leite das nossas cabras, chamadas de chibitas e deixando-me à solta quando já era no tempo de mokandar, bebia nas directas tetas das cabritinhas pois, do produtor directo ao consumidor... No respectivamente, recebi o mukuali sagrado, com o qual me perdi na submissão aos velhos e à tradição. Com dendém e barro vermelho segurei a vida por entre os dedos, gritei todos os gritos e, entreguei minha singularidade ao espírito mais branco e assim foi, vim coradamente esbranquiçado, um mwadié, mulungu e t'chindere num país futuramente alheio de mentiroso... Tudo mesmo de só fingir.

baú3.jpg Branco mesmo de mwene-putu de um país longínquo, de tanto que nem se via, nem sentia! Ué! Tio Kaluviaviri me disse que esse espírito era o DIABO feito gente de assustar minino... Construí e desconstrui depois e antes da minha vida ficar estória no  torno dum punhal com nome de catana. Assim a guardei numa capa chamada de bainha, feita de pele de crocodilo e, na esperança de ali sempre ficar - embainhada. E, todas as gargantas se ousaram usar, só de gritos contra mim próprio... Porque a noite era escura, as pessoas ficaram talqualmente escuras e tudo mesmo escureceu. Um dia tracei dois caminhos: um em direcção à mata, o outro voltado ao morro.

Por este, encontrou o mukuali grande na direcção e, então num vou fazer como, vi-me nas agruras de decidir: Ou MATO ou MORRO! Agora que a cinza cobriu as guerras, tudo ficou como num mar de palha, quersedizer numa vinha-d’alhos no jeito banho maria oraipronobis e, vamos ver como termina para saber como é que fica, que ninguém mesmo, te darão ouvidos na hora e na morte - ámen. Teus gemidos ficam altos como o riso da hiena, o latido agudo do mabeco na confusão de se chorar, se rir ou até cacarejar pois que até o galo feito prosperidade entra na contenda... Teus, meus, nossos gemidos são o eco quebrado de palavras que já não existem. Verdade mesmo!

ÁFRICA4.jpg Ninguém te ouviu, te ouve, nem ouvirá... Nem mesmo a coruja com uma espada afiada. O mukuali sagrado que precisas para morrer, não regressa - vais ter de viver meu! O destino nem é teu! Pópilas. Karamba, por cima de nossas cabeças caem as gotas da maldição com Ruína, Ruína, Ruína das cinzas da cidade! Grito, Grito, Grito de raiva enraivecida! Choro, Choro, Choro das lágrimas dos crocodilos! Estás lixado, tramado, vais morrer sozinho, e morto, ué, não vais poder cuidar do teu próprio enterro. T'Xipilika e KaluviaviriI tinham suas razões. Filhos-da-caixa! Estragaram minha defuntação...

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:26
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Segunda-feira, 19 de Julho de 2021
N'GUZU . XL

Crónica 3167 – Sábado, 17. 07.2021

FRAGRÂNCIA DA VIDA - Minha fragância é de CATINGA, da pura...

-N'GUZU em kimbundo quer dizer força...

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Por   tonito15.jpg  T'Chingange, no AlGharb do M'Puto

Tomando um café de cheiro longínquo de Timor, posso adivinhar toda a gente de pés varridos, lavando as mãos com água sanitária na forma de lixivia, de quarto em quarto de hora, esfregando com sabão macaco ou outro de cheiro para eliminar uma doença invisível que se agarra às pessoas...

Por via dessa praga invisível, esfrega-se a mesa, besuntam-se as mãos com gel, passa pano, borrifa as batatas, tira e põe-se a máscara para afugentar o invisível e vem a pergunta ao jeito de indefinida postura tal e qual é, de quem quer viver dono de si mesmo: - o mundo pode parar assim átoa!?

aramis2.jpg Um bom perfume tem a capacidade de atrair as pessoas. Inconscientemente, elas se deleitam com a subtil delicadeza de seu aroma se desejam estar por perto de quem o está usando. Por falta do "ARAMIS" uso um barato perfume feito de alecrim mas, seu efeito logologo se transforma nesse tal de "Catinga".

É exactamente isso que se pode extrair da metáfora que o apóstolo Paulo usou ao afirmar que somos o “Bom perfume de Cristo”. E, sendo assim como fico com minha genuína catinga exalada das próprias axilas...

aramis1.jpg Ser perfume de Cristo significa ter em nós o que há de mais atraente em Jesus. Nós, ao carregamos em nossa vida, se as pessoas são atraídas por sentirem que há um perfume especial em nossa maneira de ser, pois então que o seja: "CATINGA".

Não é necessário haver nenhum esforço de nossa parte para que se ACHEGUEM. Ao se relacionarem connosco, elas, as pessoas, perceberão no tempo e hábito que somos diferentes. Até os moscardos feitos besouros nos roçarão!

aramis0.jpg  Quem o suporta, sentir-se há feliz em nos conhecer como se pregássemos o evangelho mesmo sem palavras; só esse tal PERFUME! E, quando assim é com este requinte, nem precisamos de estratégias artificiais de aproximação. Nossas feromonas impregnadas desse suor perfumado, serão abençoadas com nossos actos de bondade...

As pessoas que querem estar ao nosso lado, simplesmente esperam ouvir nossas palavras, desfrutar nossa companhia e sê-lo na forma certa de permitir que se exale esse perfume legado por nossa singularidade; na fragrância de vida acertada com àqueles que se nos acerca.

aramis3.jpg Em resumo, “se o amor de Deus, Alá, o Sol ou Buda" estiver em seu coração, assim se manifestar em sua vida. Esse suave ou intenso perfume nos envolverá, e nossa influência será o perfeito enlevo e bênção dos que nos cercam”. Pude ler isto na Bíblia de um outro jeito. Por isso, poder dizer-se que não é difícil ser-se um missionário se o quiser ser; basta o querer!

Não precisamos ser pregadores nem saber muitas coisas para impressionar as pessoas, porque somos e temos essa mensagem de perfume. E, porque só mesmo quem trabalha exala esse auspicioso perfume chamado de CATINGA. Se permitirmos que Cristo exale Seu perfume por nosso intermédio, seremos fragrância de vida naqueles com quem convivemos... Comecei sem saber o que, e como o dizer e, aconteceu...

Feliz semana.

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:19
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Domingo, 18 de Julho de 2021
MOKANDA DO SOBA . CLXXIII

ANGOLA – DA LIBERTAÇÃO À INDEPENDÊNCIA - X

Crónica 3166 - 17.07.2021“SE BEM ME LEMBRO” - Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha, mesmo não sendo “preto”… Afinal, não o era e, continuo “branco”…

O carro de fumo da lua2.jpg

Por soba002.jpg T´Chingange, no AlGharb do M´Puto

Ainda mergulhado na embriague do passado, o meu amigo Camundongo, Comando do Maculussu de outros passados, tem uma lança no estandarte da Kizomba e, assim, foi seu baptismo na cubata de Albandeira do M´Puto e, mesmo sem se lhe ver os cascos, os dentes, as unhas e as orelhas fizemos dele um afinadíssimo preto. Afinal tinha mesmo bitacaias nas orelhas! Tratando-o por tu, mandei-o pentear macacos com afinidades ao MPLA. Mas, no finalmente, ele, tal como eu, vivia e vive ainda no Ontem com quase 50 anos de intervalo…

O mwadié mulungo, continua um hoje cohabitando com os Mucubais - um sonho perene cheio de cacimbo pelas manhãs e, com aquela tremulina das quenturas tropicais que fazem tremelicar dedos. Enfim! Só que, eu tenho as coisas contadas de outro jeito, sem aquelas bravatas de Kifangondo aonde roubaram as culatras dos ”tirabikines”… Ondulando assim miragens das anharas, pasto de facocheros, mabecos e bandos de galinhas do mato feitas capotas, arranhando seu disco partido – tou fraca, tou fraca, estou fraca, conto sem lhe dar bola, a minha estória! Ué…

toledo20.jpg Kafundanga Neves é seu nome de branca alvura. Refém do seu ADN penetra na vida um dia de cada vez, penosamente candongando chinguiços como num conto insuficiente; Sendo assim, passo a contar meu capítulo. O padre António de Araújo Oliveira, um fervoroso defensor da UNITA, só o foi até tomar conhecimento de alguns crimes na Jamba. Em 1973, Savimbi volta a quebrar o segundo pacto com os Tugas, atacando de surpresa a guarnição de Santar em Moxico… As “NT – Tropa do M´Puto” reagem àquele ataque. O general Bettencourt Rodrigues é retirado de Angola para substituir o general Spínola na Guiné.

O novo comandante da Zona Militar do Leste, general Ferreira de Macedo, passa a atacar a UNITA sem piedade. Em Agosto, depois da realização do seu 3º Congresso em Lungwé-Bungo, a UNITA dispersa seus homens da guerrilha pelo Cuando-Cubango. O maior ataque daquele movimento contra os portugueses, é saldado em 19 baixas do lado das “NT -Tugas” no lugar de Alto Kuito N´honga, já depois do VINTICINCO de Abril de 1974, apanhando desprevenidas as novas tropas, magalas guedelhudos com a cabeça cheia de devaneios comunistas e, com a “vitória é certa” no cocuruto da mona.

zeka1.jpg Assim chegados a 1974, o Exército português, domina totalmente o território angolano já dotado de magnificas estradas construídas dela JAEA e Engenharia Militar. O território dito Ultramarino estava dotado de todas as infraestruturas como escolas com ensino para todos, universidade, hospitais, carreira aéreas e rodoviárias unindo todas as cidades e domínio administrativo. Havia também uma rede sanitária de apoio às muitas pecuárias de Norte a Sul e uma pesca e agricultura florescentes; Angola estava nos países do topo em África, com uma boa situação económica e, fornecendo à Metrópole os bens essenciais para manter sua economia em crescendo.

Lisboa estava em condições de negociar o futuro, algo que, anos antes, havia sido defendido por Kenneth Kaunda, ao enviar a Salazar um manifesto pedindo “uma solução multirracial para Angola” e contestando as teses integralistas que defendiam Portugal do Minho a Timor. Assim e abruptamente o ano de 1974 e 1975 é vivido com intensidade em Lisboa e alguma apreensão em Luanda. O Tempo diz-nos que se Portugal tivesse aceita aquela intermediação de Kenneth Kaunda, muito possivelmente a história de Angola seria outra. Entra-se assim em um outro capítulo: A INDEPÊNDENCIA ADIVIDIDA.

zeka15.jpg Em Lisboa desmantelava-se a PIDE. A televisão enche as cabeças do cidadão com novas ideologias e, os angolanos brancos a cada dia que passa, sentem que aquelas políticas do MFA precipitam a normalidade da vida em toda Angola e, em especial sua capital – Luanda. Começa aqui a “odisseia dos retornados” - saber como dar solução a uma nova vida largando tudo e todos. Começam aqui as noites mal dormidas com pressão e afastamento de nossos supostos irmãos do M´Puto. Estávamos sendo paulatinamente destinados ao abandono. As notícias chegadas de Lisboa até nós na dita “Província Ultramarina” eram por demais alarmantes; os comunistas tinham tomado as rédeas do comando na Metrópole – estávamos fritos! Trata de fazer caixotes e pôr passaportes em dia…

A 29 de Novembro de 1975, forma-se a DISA, Direcção de Informação e Segurança de Angola, Polícia política do MPLA, formada pelos soviéticos e alemães do Leste. A UNITA viria a criar a BRINDE – Brigada de Informação e Defesa, treinada pelos Sul-Africanos. O preparo de ambas as criadas instituições com gente autónoma era simplesmente nula. Os angolanos estavam a ser jogados às feras e da Metrópole sabia-se: A TV, iniciava as suas emissões ao meio-dia com desenhos do Pato Donald e do Rato Mikey, preenchendo as tardes com a Telescola. O saudoso Vitorino Nemésio acalentava os serões semanais com o programa “Se bem me lembro…”.  

luis33.jpg Nicolau Breyner e Simone de Oliveira subiam ao palco do Teatro Monumental do Saldanha, com a peça “ A menina Alice e o inspector”. Amália continuava suas viagens em digressão pelo mundo; o fado era levado ao Japão que, sem entender patavina de português, deliciavam-se com as farpas e lamúrias do canto nacional. No Parque Mayer, o Capitólio anunciava a estreia de Marco Paulo.  Em Angola abundavam as canções de intervenção do Rui Mingas com “porrada se refilares!” e peixe podre, fuba ruim com edecéteras de fazer raivas e makas – estávamos feitos!...

No M´Puto os guedelhudos e barbudos surgiram aos milhares a imitar o Ché Guevara, juntando-se no Coliseu dos Recreios, “hippies” aplaudindo de punhos fechados, bem ao jeito do símbolo do PS e entre pensamentos de Lenine com Marx e Mao, surgindo os desaparecidos Zeca Afonso e Ary dos Santos em espectáculos organizados pela Casa da Imprensa e, com as direcções das gentes ditas vanguardistas afectas ao Partido Comunista do Álvaro Cunhal. Em Angola numa ida de Zeca Afonso a Nova Lisboa, actual Huambo, a multidão era tanta para ver o Zeca Afonso que eu, fui literalmente rodado no ar para poder entrar no pavilhão descoberto. Nesta altura eu, que pertencia ao Comité da Caála da UNITA com o cargo de Secretário de Relações Públicas, fui convidado e, lá fui em minhas tarefas…

(Continua...)

O Soba T´Chingange    



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:42
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Sexta-feira, 16 de Julho de 2021
MUGIMBO . CXXV

OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO  - Crónica 3165 - 16.07.2021

- FORMAS ENGANOSAS... CICATRIZES DO TEMPO - NEM SEMPRE É O QUE PARECE...

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Por   soba k.jpgT'Chingange . No AlGharb do M´Puto

Há algum tempo, no jornal "San Francisco", Georg relatou que um menino de sete anos de idade se aproximou da proprietária de uma mercearia, apontou um revólver para ela e exigiu que lhe entregasse o dinheiro contido na caixa registadora...

A mulher conhecia o menino e supôs que ele, estava brincando. Ela achava-se completamente enganada. Como se recusou a entregar o dinheiro, ele a matou! No inquérito, o menino, ainda incapaz de compreender a enormidade de seu acto, explicou que ele só o fizera assim, por ter visto na televisão cena igual...

mocanda12.jpg  Não é preciso dizer que a televisão era desconhecida no tempo do bíblico David; contudo, o verso certamente enuncia um princípio que deve ser adoptado em nossos lares como se o fora, uma metáfora de PARÁBOLA...

Numerosos estudos científicos demonstram, além de qualquer dúvida razoável, que há uma estreita correlação entre o que a televisão mostra, violência, crime, despeito por alguns valores e, das racionalizações no sentido oposto num sem fim de vicissitudes reais.

elvira4.jpg  Somos transformados pela contemplação! Sobre muitos de nós, gente comum, professores, comentadeiros, historiadores, advogados e políticos, na generalidade, exercem uma fascinação hipnótica sobre nós, ouvintes. E, tudo é feito a propósito com forma e jeito pensado.

Para nós ouvintes, ela, a TV, em si mesma, não é boa nem má para proclamar mensagens. Só que bons e maus cidadãos em número de milhões de pessoas, nem sempre têm o preparo para discernir no que é ou o não é, porque tal coisa, tal assunto o foi dito na TV.

MIRAN5.jpg Tal como Deus, Satanás também a usa, a TV para insinuar-se em lares que aparentemente são cristãos, ateus, agnósticos, ou de um outro pensar. Podemos estar certos de uma coisa: o inimigo continuará a praticar seus enganos por intermédio destes meios com a crescente eficácia e, à medida que nos aproximamos dum evento, uma eleição, tudo se agudiza! Por mim, já nem confio nas sondagens! Tornei-me assim, um descrente militante...

Também e, principalmente na politica nos tentam cativar deturpando a verdade ou omitindo o essencial. E, neste palco de vida fazem-se incestos nos interesses. Mas, haverá sempre um MAS, aonde se torna possível que todos, assim apegados à mídia percam a força de vontade para resistir à "TENTAÇÃO"...

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:25
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Segunda-feira, 12 de Julho de 2021
MOKANDA DO SOBA . CLXXII

ANGOLA – DA LIBERTAÇÃO À INDEPENDÊNCIA - IX

Crónica 3164 - 10.07.2021 - Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha, mesmo sendo “branco mazombo” Afinal, não o era e, juro que não o sabia…

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Por soba24.jpgT´Chingange, no AlGharb do M´Puto

Mergulhado numa embriaguez de galinheiro, bocejada de silêncios na forma de galo capado, entrecortados pelos sussurros dela, a embriaguez, pude discernir uma repentina agonia sobrenatural dum anjo violentado por uma catrefada de diabos, uma vermelhidão de labaredas de inferno, tentáculos apertando-me a garganta, o corpo a tremer-me dos pés ao cerebelo inesperando-me os sentidos. Uf! Acordei de boca aberta, seca, corpo tenso e dedos inteiriçados de brasa palpitante com o bicho do tempo a bulir-me coisas do passado; coisas de Angola…

Coisas atazanadas contra vontade no cerebelo com adjacências pontiagudas de hérnias covidescas, coisas hodiernas muito cheias de putrefactos factos e, já lá vão uns largos anos. O regime instaurado em Portugal a 25 de Abril de 1974 durante, após e agora, tudo tem feito e, assim continua, escondendo crimes contra a humanidade pelos quais é directamente responsável. A independência que era desejada pela grande maioria de gente “branca” que estava na Colónia, não viu nem de longe, nem de perto, respeitados os tratados do MFA, de Portugal e outras violentadas traquinices…

guerri3.jpg Assim, Portugal, promovendo por isso e, a propósito, o mito de que a Revolução dos Cravos foi uma “revolução sem sangue”, eu, como muitos milhares de rotulados e “silenciados retornados”, relembra-se o que se tenta esquecer passados que são 47 anos. Quando um alto mandatário do Governo do M´Puto – Portugal, mencionar este desaire que foi a “DESCOLONIZAÇÃO” e, pedir desculpas pelo facto de isto ter sucedido duma forma tão trágica eu, me remeterei a um defuntado silêncio, juro!…

No ano de 1970 e 1971 com o lançamento da operação “Siroco” e “Rojão RH” a região do Leste de Angola é completamente dominada após a realização de operações especiais aos quais participaram Comandos, Páras, Fusos e o Esquadrão a Cavalo estacionado em Silva Porto, actual cidade do Cuíto. As autoridades portuguesas instauram um prémio de 100 contos a quem entregasse Jonas Savimbi, vivo e, outro de 50 contos, pela cabeça de Antunes Kahali, um comandante da UNITA conhecido pela sua crueldade.

guerra5.jpg Kahali, decepava os órgãos sexuais dos militares portugueses abatidos, expondo-os com frases insultuosas nas aldeias e carreiros ali chamados de picadas. Diz-se que o major Vitor Alves arrecadou o prémio apresentando uma cabeça que não era a de Kahali  pois este soube-se ter falecido na Jamba em uma data posterior. Nesta mesma altura, o MPLA cria um grupo chefiado por Manuel Muti que tinha a obsessão de matar Savimbi. Fracassada essa tarefa, Muti adere à “Revolta do Leste” e acabando por mais tarde se entregar às “NT- Nossas Tropas” como se davam a conhecer as tropas do M´Puto em seus relatórios. Foi no lugar de Ninda que este aventureiro da guerrilha se entregou. Com o MPLA derrotado militarmente no Leste, Portugal desencadeia nova operação especial contra as bases de Savimbi, saldada por elevado número de baixas entre os guerrilheiros…   

Acontece a partir desta data a “Operação Madeira” por via de Jonas Malheiro Savimbi originar variadas tentativas na aproximação aos militares portugueses. Face ao domínio português no leste, o MPLA de Chipenda alia-se à FNLA. Em Kinshasa, estes, criam o Conselho Supremo de Libertação de Angola (CSLA), presidido por Holden Roberto. Esta criação foi efémera pois que nesta altura o MPLA dependia quase exclusivamente da ex-URSS e seus satélites. A FNLA , dependia dos Estados unidos da América e Europa e esta combinação não resultaria como é óbvio.

guerra13.jpg A tal de “Operação Madeira” teve como intermediários Jonas Savimbi e o general Bettencourt Rodrigues e, tendo como mediador o madeiro da povoação de Cangumbe chamado Duarte Oliveira. O tenente Sabino apareceu sempre como o negociador por parte da UNITA. A UNITA comprometeu-se a não atacar os madeireiros e a tropa instalada naquele vasto Leste. Por esta via reptícia ambas as partes faziam seu jogo do gato e rato. Á UNITA, era-lhe dado bens logísticos a fim de sobreviver em banho-maria como e vulgar afirmar. Este acordo beneficiava os madeireiros, a qum a UNITA com muita frequência, incendiava suas serrações e camiões de transporte.

Mas, Savimbi com a conhecida sua habilidade de manobra atacava por vezes e de surpresa; o diálogo entre as “NT do M´Puto” Savimbi, foi retomado numa segunda fase que é agora conhecida pelo “pacto de não-agressão”. Savimbi e o então Secretário-Geral do Governo da Província Ultramarina de Angola, coronel Soares Carneiro auspiciam-se em contactos tendo por intermediário o padre António de Araújo Oliveira, um fervoroso defensor da UNITA mas, só até este tomar conhecimento de alguns crimes na Jamba, nomeadamente pela queima de pessoas vidas.

guerra22.jpg E, foi aquele padre que da parte do “loby português, se levantou para lamentar  e condenar os assassínios das famílias Pedro N´Gueve Jonatão Chingunji, o “Tito” e Fernando Wilson dos Santos. Mais tarde o padre Oliveira, já director do Colégio Universitário Pio XII em Lisboa confessou: “-Reflecti muito e concluí que a UNITA se serve das pessoas para atingir os seus fins. Assim sendo, não posso deixar de os condenar”. O padre Antonio Araújo  não estava só  neste pensar!

O “pacto de não-agressão” confinava a actividade da UNITA a uma determinada zona, pré-estabelecida com os portugueses. O movimento recebia das NT – Exército Português armamento, com a condição de combater novas escaladas do MPLA do Leste. A própria FNLA pede uma coluna que tenta infiltrar-se na região. Holden Roberto conta que recebeu uma carta de Savimbi, advertindo-o para “não ultrapassar certa linha”; ignorando o aviso, a coluna do ELNA foi atacada e destroçada pela tropa portuguesa. Pressupõe-se assim que seguindo métodos de Mao Tzé Tung o  astuto Savimbi avisou as NT Tugas da sua localização. Em 1973, Savimbi volta a quebrar o segundo pacto com os Tugas, atacando de surpresa a guarnição de Santar em Moxico...       

(Continua…)

O Soba T´Chingange   



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:36
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Quinta-feira, 8 de Julho de 2021
MUJIMBO . CXXIV

SER OU NÃO SER COMENDADOR - FUNERAL SEM CHORO

- É costume ouvir-se dizer: " foi-se sem deixar de si saudades”...  Crónica 3063 - de 08.07.2021

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Por soba04.jpgT'Chingange, no AlGharb do M'Puto

Não me lembro de ter ouvido falar nem de ter assistido a alguma cerimónia fúnebre em que as faltas “ou pecados” da pessoa falecida tivessem sido destacadas pelos oradores. Elas podem até ser amplamente conhecidas, mas o bom senso manda que se realce só os aspectos positivos; afinal, todo mundo tem defeitos misturados nas virtudes e, nunca o inverso disto.

Certamente deixamos a marca do que fazemos positivamente, ou do que fazemos e que não deve ser imitado. Entretanto, é certo que ninguém quer imaginar ser mencionado em nenhuma ocasião, muito menos depois que tiver morrido ainda em vida, por causa dos seus defeitos ou procedimentos não usuais. Nem no livro sagrado da Bíblia, se escondem as falhas de nenhum de seus personagens, mesmo dos mais destacados heróis, entre os quais não está o rei mencionado em este nosso verso explanado em texto co o nome adulterado de Joe! A Joe, o que é de Joe… A Berardo o que é dele! Joe e Berardo são uma só pessoa…

soba21.jpeg E, lendo “ao calhas” ou aleatoriamente o livro dos livros camado de Bíblia, leio que Jeorão era filho primogênito de Josafá que reinou pouco tempo, mas deixou um histórico lamentável. Para começar, embora fosse rei e tivesse a maior parte no espólio deixado pelo pai, tão logo assumiu o reinado, de olho na herança dos irmãos, matou-os à espada. Já naqueles tempos havia formas bizarronas de tratar a vida...

A esposa de Jeorão, Atalia, filha dos ímpios Acabe e Jezabel, mais tarde tentou acabar com a linhagem de Davi. Jeorão rejeitou as advertências e promoveu a decadência moral e espiritual dos moradores de Jerusalém e de Judá. Finalmente morreu acometido de uma terrível enfermidade, que deixou suas entranhas expostas.

roxo135.jpg De acordo com um costume da época, os reis, ao morrerem, eram colocados em uma sepultura especial, em um local chamado “sepulcro dos reis”, algo como se fora um panteão. Não foi esse o caso de Jeorão. Quando morreu, não recebeu nenhuma homenagem por via de seus graves desvios às regras sociais de então.

O povo não lhe queimou incenso, ele não foi sepultado no sepulcro dos reis, e o cronista diz a respeito dele que “se foi sem deixar de si saudades”. Em contraste, Ezequias “foi sepultado na colina onde estão os túmulos dos descendentes de Davi. Todo Judá e o povo de Jerusalém lhe prestaram homenagens".

berard1.jpg Os bons exemplos, por norma, eram e ainda o são, enaltecidos pela sociedade. Por vezes leio a Biblia e, fico com vontade de não mais a ler porque são muitos desaires e até comportamentos bárbaros no meu entender. Em verdade, nem carece estarem esparramados no livro dos livros! Vejo no estágio de um qualquer curriculum, não ser pecaminoso desejar ser estimado, mas isso é resultado do bem que a pessoa espalha ou espalhou, difundiu ou influiu em seu meio, noé!? Será que posso entender este caso tão antigo com o de JOE BERNARDO, um ilustre cidadão português que, num repente, MORREU, estando vivo…

berard2.jpg Morreu, por fruto da hipocrisia dum povo que o bajulou, de governantes e gente com poder nas instâncias bancárias, que o embalaram e subsidiaram; mesmo de altos dignatários que lhe deram guarida e ajudaram, com dolo para todos NÒS, ao ponto de merecer medalhas de mérito e comendas como se o fora: um exemplo a seguir… Isso! Do amor e perdão que reparte, da acolhida que oferece e do serviço prestado, com altruísmo e lealdade - supostamente!

berard3.png Acima de tudo, é importante que sejamos conhecidos e lembrados por nossa fidelidade aos nossos com o beneplácito superior... Ele, Bernardo, lá terá a sua fé... O filme continuará com este e outros ilustres TRAPACEIROS… Com o suceder de TANTOS ERROS E AZARES, corremos o risco de ver O M´PUTO cair novamente, engolido num culto de personalidade com ataque á já frágil democracia…

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:51
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MALAMBAS . CCLX

PÁGINAS SOCIAIS - CENSURA NO FB! – QUEM ORDENA?

-Neste PAÍS chamado M'PUTO Crónica 3162 - 08.06.2021

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Por soba k.jpgT'Chingange no AlGharb do M'Puto

Malamba é a palavra - origem do dialecto KIBUNDU. Não partilhei nada que justifique o BLOQUEIO e, creio andarem a limitar-me  no uso da malamba. A maioria dos portugueses ainda está muito longe de conseguir enxergar que há uma ditadura instalada neste PAÍS chamado M'PUTO. Há muito que há censura no FB - Facebook ,mas agora, estão a apertar o cerco conforme as ordens dos governos para garantir que Cabritas e outros GOVERNANTES ao mais alto nível, façam desmandos e, fiquem impunes de suas asneiras. É assim que me obrigam a pensar.

sacag9.jpgO coração humano é uma fábrica de desejos. Nem sempre discernido, o desejo é um poder que motiva, uma força que leva à acção, um ímã que atrai; é o que eu quero ter, fazer e experimentar em liberdade... Não quero algemas. O desejo, "janela da alma", mostra para onde estamos indo e, qual será seu destino. Obsessão por objectos, coisas e pessoas; o desejo é a tentativa de conseguir algo para preencher um vazio na vida. Segundo os psicólogos, os desejos não devem ser confundidos com as emoções, nem as emoções com os sentimentos, que estão para elas assim como as ondas para o oceano.

step6.jpg Enquanto a emoção nasce na mente, o desejo está enraizado na estrutura corporal; digo isto porque andei a ler umas coisas periclitantes. Por isso, romancistas e roteiristas o exploram em profusão, e os publicitários elaboram estratégias para criar um senso de necessidade e seduzir os consumidores – NÓS. E, em geral, a publicidade associa algo ou alguém com atributos ou indícios desejáveis ao produto. Procurar satisfazer os desejos do coração não é errado, pois essa é uma necessidade universal mas, o problema é contentarmo-nos com superficialidades ou vulgaridades. Querem fazer-nos de bobos, robôs sem vontade próprio! Está mal!

Há quem afirme que o verdadeiro conhecimento deriva daquilo que pode ser comprovado por meio da observação. Sim! Mas, como é que as pessoas reconhecem algo verdadeiro? Todos reconhecemos que existem várias fontes de conhecimento disponíveis. Uma delas é o mundo ao redor, que revela as digitais do Universo, ainda que estejamos em uma realidade de pecado pela já vulgar mentira. Outra razão, nos convida a sermos racionais e mantermo-nos dentro da lógica da experiência. Em verdade, mandam as boas regras que as fontes, devam ser analisadas sob as lentes do bom senso, um bem escasso no Mundo actual...

SACADURA2.jpeg Dinheiro, sexo, comida, conhecimento, popularidade, status, poder, desporto, influência, carros, aparelhos e milhares de itens! Não devemos negar os desejos, mas avaliá-los, hierarquizá-los e aprofundá-los. Cortá-los é uma má punição porque diz quem sabe que, assim como as células precisam do oxigénio, o girassol precisa do astro-rei e os pássaros precisam do céu - Haja Deus. Todos temos conhecimento de muitos e, de megas processos que se arrastam na justiça, tanto que até a vontade prescreve seu entendimento. Uns são rasgados, outros cortados a tesoura por republicanos procuradores e muitos outros, omitidos por conveniência de uma das partes. Por vezes, todos somos lesados e, a bem da Nação, assim ficamos, entenda-se…

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:44
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Segunda-feira, 5 de Julho de 2021
MOKANDA DO SOBA . CLXXI

ANGOLA – DA LIBERTAÇÃO À INDEPENDÊNCIA - VIII

Crónica 3161 - 05.07.2021 - Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha… Afinal, não o era e, juro que não o sabia…

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Por soba24.jpg T´Chingange, no Algharb do M´Puto

Tenho andado a contar minha existência falando de lado para não resvalar em falsas alegrias, mexendo e virando-me para os pequenos prazeres, antes que me falte o raso da paciência com conversas compridas e até demasiado baralhadas. E, reunindo minhas fontes, coço os avisos de que meus suores na forma de catinga, se esfriem nos nadas ou medos de em tantas coisas pensar. Sendo assim e, com goles de muitos pensamentos engavelados, agarro o medo enraizado no gerúndio, porque na verdade esta vida está muito cheia de ocultos caminhos, também conhecidos por carreiros, veredas ou fiotes...

E, eles, os caminhos ficaram no tempo baralhados, porque se ultrapassaram em 47 e mais anos. De tudo o que falo sobre Angola, eu e ela, nós dois, eramos mesmo pertencentes! Agora com leis novas, o futuro foi tropeçando nelas, ditadas e formatadas pela nomenclatura vigente e assim, perdi meus requisitos ficando atazanado num frio feito cacimbo; mas a todo o tempo escuto tudo, seus cheiros de mato, de chuva em terra molhada com estalinho de estrelas no antes, durante e depois da kúkia descer no horizonte – Aiué…

massau5.jpg Decorria o ano de 1975 – Chipenda, então comandante militar do MPLA alia-se ao grupo de guerrilheiros descontentes que reclamam por “maus tratos”, no episódio conhecido por “Revolta do Leste”. Já sob o comando de Chipenda, o grupo ataca, sem sucesso, a “Base Vicy “ do MPLA, em Lusaca. Formam assim a “Revolta do Leste”, passando a combater contra a facção do MPLA de Neto e portugueses. Para agravar ainda mais a situação, surge nova dissidência no MPLA, com um grupo de intelectuais chefiados por Gentil Viana. Gentil Viana era conselheiro pessoal de Neto e de formação Chinesa em Pequim, entre os anos de 1970 e 1972; Em 1977 é preso e torturado pelo próprio MPLA.

Viana cria a “Revolta Activa” sem objectivo militar, com uma direcção demasiado fechada a Neto e, exigindo a este “direito da livre opinião”. Teremos de voltar ao ano de 1968 e acompanhar a situação no M´Puto para saber ao certo as implicações dos acontecimentos em relação à Província de Angola. Salazar é hospitalizado em Julho desse ano, depois de ter caído de uma cadeira no Forte de S. António em S. João do Estoril. Após a casca de banana ter funcionado na perfeição, novo ânimo invade os nacionalistas em Angola mas, o seu substituto, Professor Marcelo Caetano, aparece com um discurso suave, defendendo “novos brasis” na África Ultramarina.

chipenda.jpg No interior de Angola, os guerrilheiros respondem com o recrudescimento dos ataques. O Exército português forma novos GE – Grupos Especiais que passam a actuar no Leste; a PIDE cria os “Flechas”, os “TE-Tropas Especiais de Cabinda e “Milícias”- grupos de ataque essencialmente formados por guerrilheiros capturados e desintoxicados do ideal nacionalista, antigos “Turras”, ao que se juntam os “gendarmes catangueses” que haviam apoiado Moisés Tchombé e, que se refugiaram em Angola após a fracassada tentativa de secessão do Catanga, actual Shaba da República do Zaire.

É curioso o percurso e destino destes homens que, nos anos pós independência, serviram de instrumento de pressão do governo de Angola junto de Mobutu. Após o 25 de Abril, Rosa Coutinho pressiona-os a se integrarem no MPLA, sob a ameaça de expulsão para o Zaire, onde as suas vidas corriam perigo. Nos anos subsequentes à independência, armados por Angola, efectuam duas invasões goradas ao Shaba, rechaçados por pára-quedistas marroquinos, belgas e guerrilheiros da UNITA.

retornar6.jpg Pelo abrigo do acordo estabelecido entre Savimbi e Mobutu, a UNITA manteve no Shaba um batalhão por longo tempo. Os “gendarmes” preparavam-se para a terceira invasão do ex-Catanga, quando Neto intercedeu e acordou com Mobutu que a mesma não se efectuaria, na condição do Zaire expulsar Holden Roberto e a FNLA. E, assim aconteceu! Holden foi para o exílio na Costa do Marfim e, posteriormente França, aonde se manteve até à assinatura dos Acordos de Bicesse. Figuras de proa da FNLA, como Johny Pinock Eduardo, Paulo Tuba, Baltazar Manuel e Hendrick Vaal Neto passam-se para o MPLA.

Mesmo assim, no interior de Angola, não apoiados por qualquer país estrangeiro e sobrevivendo com o material bélico capturado aos cubanos e governamentais, bolsas do ELNA continuaram a resistir. Somente em Dezembro de 1985, a FNLA comunicou oficialmente que abandonava de vez a luta armada. Em Agosto de 1969 a UNITA realiza o 2º Congresso, durante o qual elege o imbinda Miguel N´Zau Puna para secretário-geral do movimento.

povo1.jpg Em 1970, o Papa Paulo VI, que em 1967 havia estado em Fátima de Portugal, recebe em Roma Amílcar Cabral. Este seria assassinado em Conacri em Janeiro de 1973, por dissidentes do PAIGC em conluio com elementos da PIDE. O Papa Paulo VI recebe também na mesma altura Agostinho Neto e Marcelino dos Santos. Portugal responde com uma grande ofensiva no Leste de Angola, onde o discurso moderado de Marcelo Caetano colhe frutos imediatos.

Após um ataque à primeira Região do MPLA, mais de quatro mil guerrilheiros entregam-se às tropas portuguesas passando a integrar os “Flechas”; os quarteis do ELNA também se rendem. O Norte de Angola está sob controlo do Exército português, que inicia em 1970/71, o avanço pelo leste, sob o comando dos generais Costa Gomes, comandante-Chefe das FA em Angola e Bettencourt Rodrigues, comandante da Zona Militar Leste.     

(Continua…)

O Soba T´Chingange   



PUBLICADO POR kimbolagoa às 23:12
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Sexta-feira, 2 de Julho de 2021
MOKANDA DO SOBA . CLXX

ANGOLA – DA LIBERTAÇÃO À INDEPENDÊNCIA - VII

Crónica 3160 - 01.07.2021 - Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha… Afinal, não o era e, juro que não o sabia… Não lembra ao diabo que passou também a ser satanás e, eis que, Joseph Desirée do Zaire, passa a chamar-se Mobut N´Guendu Kukuwa Zabanga Sese Seko…

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Por   soba002.jpgT´Chingange, no Algharb do M´Puto

Jogando búzios relembro agora, muitos anos depois, a Luanda Capital de Angola Província colonial, para mim o centro do mundo de então. Tempos em que a Mutamba era o centro de tudo! Bem perto ficava o lugar aonde antigamente se refugiavam os escravos fujões, o seu primeiro refúgio. Em kimbundo refúgio é ingombota, e essa acção de ali se esconderem, pois assim ficou baptizado o local. Quando passou a ser habitado as pessoas diziam que moravam na n´gombota e os portugueses corromperam a expressão adicionando o “I” tendo ficado em Imgombota, do jeito actual.

E, é assim que darei continuação ao tema “DA LIBERTAÇÃO À INDEPENDÊNCIA”. Em Março de 1964, Jonas Savimbi, Tony da Costa Fernandes, N´Zau Puna e o advogado Paulo Tjipilica, anunciam na capital zambiana, Lusaca, um novo movimento independentista: A União Nacional para a Independência Total de Angola – UNITA. Quatro meses depois, na reunião da OUA no Cairo, Savimbi afirma em clara alusão aos Estados Unidos da América, na altura apoiantes de Holden Roberto: “-Demito-me das minhas funções, que são do interesse do povo angolano e dos objectivos dos países irmãos.” Recorde-se que era até aqui, ministro do GRAE com o cargo de Ministro dos Estrangeiros…

negritas.jpg Savimbi recebe então uma proposta do MPLA, visando a criação de uma “Super-direcção Nacional de Luta” que incluiria membros de todos os movimentos já formados. Este concorda e escreve um texto de denúncia contra Holden Roberto, distribuído na reunião do Cairo mas, imprevisivelmente, parte para a China com mais onze companheiros aonde frequentam a Academia Militar de Nanquim. A partir de 1966/67, Mao Tzé-Tung passa a fornecer apoio militar à UNITA, então expulsa da Zâmbia por ter atacado um comboio do Caminho de Ferro de Benguela – CFB.

De facto, Jonas Savimbi havia abordado com o presidente Kaunda que a UNITA não atacaria os comboios do CFB que escoavam o minério zambiano para o porto do Lobito; a economia da Zâmbia dependia muito desta exportação. Por Savimbi não ter cumprido este acordo, quando se preparava para entrar clandestinamente em Angola a partir da Zâmbia, Kaunda manda-o prender. No decorrer da guerra colonial o portugueses aproveitaram habilmente esta situação e, conforme as conveniências, passam a fechar a linha férrea, atribuindo a paralisação a ataques feitos pela UNITA e MPLA; desta forma Kaunda ficou manietado às vontades do M´Puto.

Mu Ukulu57.jpg Com o apoio americano, no ano de 1965, o sargento Josp Desirée toma o poder no Zaire e instaura a “lei da autenticidade”. Absurdamente obriga os zairenses com nomes europeus a adoptarem nomes africanos. Não lembra ao diabo que passou também a ser satanás e, eis que, Joseph Desirée passa a chamar-se Mobut N´Guendu Kukuwa Zabanga Sese Seko. Este nome significa ser “o rei das árvores, dos rios, dos céus”. Não vem daí mal ao Mundo porque eu próprio, sendo relator destes acontecimentos tomei o nome de Soba T´Chingange com nascimento no vapor Niassa - portanto um Niassalês…

Neste ano de 1965, sob o comando de Jacob Caetano com o pseudónimo de guerra de Monstro Imortal, guerrilheiros do MPLA saem de Brazaville, atravessam o terreno hostil de Mobutu e pelas barreiras postas pela topa portuguesa ao longo da fronteira e, infiltram-se na riquíssima região dos Dembos, onde passam a praticar emboscadas na apelidada “estrada do café” – Luanda, Caxito, Carmona (Uíge). Chegam mesmo a atingir o Ucua e a Funda, muito próxima de Luanda.

monstro5.jpgmonstro1.jpgnito1.jpg Monstro Imortal, viria mais tarde a liderar juntamente com Bernardo Alves – “Nito”, José Van Dunen e o comandante Bakaloff, o golpe 27 de Maio de 1977 na tentativa de derrubar Agostinho Neto do poder (assunto a ser recuperado mais à frente). No auge da guerra-fria, com o Zaire de Mobutu transformado em centro de estratégia norte-americano, não somente para a África subsariana mas, de todo o continente. A ex-URSS e países do Leste redobram o seu apoio ao MPLA, apesar de Neto ter tentado apoios para a sua causa em países ocidentais.

Nesse ano de 1965, Che Guevara encontra-se com Agostinho Neto em Brazzaville. Desse encontro resultou a ajuda militar cubana às FAPLA – Força Armadas Populares de Libertação de Angola do MPLA. Pouco depois, onze oficiais cubanos entram em Cabinda, em uma coluna comandada por Pedalé, Nicolau Spencer e Chipenda. São atacados pela tropa portuguesa junto a Buco-Zau mas, eles e os cubanos escapam, permanecendo no enclave até final de 1966; de realçar aqui que nestas ocorrências, passaram a ser recordados pela sua indisciplina, dentro e fora do movimento...

mud22.jpg Em Março de 1966 no local de Mwangai, a UNITA realiza o seu primeiro Congresso. Em Dezembro, os homens de Savimbi atacam Cassamba e, no dia de Natal, Vila Teixeira de Sousa, actual Luena. Ao início da actividade militar da UNITA, o MPLA, responde com a abertura da Frente Leste, tendo o primeiro combate contra as tropas portuguesas ocorrido em Lumbala no saliente de Cazombo. O primeiro comandante da Frente leste foi Hoji ia-Henda, sobrinho de Mendes de Carvalho e, viria a perder a vida em Abril de 1968 no ataque a Caripande.

Em Setembro do mesmo ano, na mesma região e perto de do rio Lueji, num ataque helitransportado pela tropa Tuga, morre o médico Américo Boavida, o “Kimbanda”, nome de guerra, palavra que no dialecto kimbundo significa médico. Em resposta o Exército português instala no Bié o Grupo de Cavalaria nº 1 (CCAV 1), chamados regularmente por “Dragões” e, que foi reforçado no ano de 1970 com o primeiro Esquadrão Operacional a cavalo. Quase em simultâneo o MPLA cria a Norte, a chamada 4ª Região Político-Militar na região das Lundas para reforçar a 1ª Região dos Dembos que se mantinha bastante isolada. No Leste, ocorreram todos os acontecimentos que originaram a cisão do MPLA, a qual perdurou até 1975. Daniel Chipenda, então comandante militar do MPLA, passa a liderar esta cisão, que originou a fragmentação do MPLA tornando-o pouco expressivo em sua acção de guerrilha…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:03
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