ANGOLA – DA LIBERTAÇÃO À INDEPENDÊNCIA - VIII
Crónica 3161 - 05.07.2021 - Na libertação e independência de uma terra que pensava também ser minha… Afinal, não o era e, juro que não o sabia…
Por T´Chingange, no Algharb do M´Puto
Tenho andado a contar minha existência falando de lado para não resvalar em falsas alegrias, mexendo e virando-me para os pequenos prazeres, antes que me falte o raso da paciência com conversas compridas e até demasiado baralhadas. E, reunindo minhas fontes, coço os avisos de que meus suores na forma de catinga, se esfriem nos nadas ou medos de em tantas coisas pensar. Sendo assim e, com goles de muitos pensamentos engavelados, agarro o medo enraizado no gerúndio, porque na verdade esta vida está muito cheia de ocultos caminhos, também conhecidos por carreiros, veredas ou fiotes...
E, eles, os caminhos ficaram no tempo baralhados, porque se ultrapassaram em 47 e mais anos. De tudo o que falo sobre Angola, eu e ela, nós dois, eramos mesmo pertencentes! Agora com leis novas, o futuro foi tropeçando nelas, ditadas e formatadas pela nomenclatura vigente e assim, perdi meus requisitos ficando atazanado num frio feito cacimbo; mas a todo o tempo escuto tudo, seus cheiros de mato, de chuva em terra molhada com estalinho de estrelas no antes, durante e depois da kúkia descer no horizonte – Aiué…
Decorria o ano de 1975 – Chipenda, então comandante militar do MPLA alia-se ao grupo de guerrilheiros descontentes que reclamam por “maus tratos”, no episódio conhecido por “Revolta do Leste”. Já sob o comando de Chipenda, o grupo ataca, sem sucesso, a “Base Vicy “ do MPLA, em Lusaca. Formam assim a “Revolta do Leste”, passando a combater contra a facção do MPLA de Neto e portugueses. Para agravar ainda mais a situação, surge nova dissidência no MPLA, com um grupo de intelectuais chefiados por Gentil Viana. Gentil Viana era conselheiro pessoal de Neto e de formação Chinesa em Pequim, entre os anos de 1970 e 1972; Em 1977 é preso e torturado pelo próprio MPLA.
Viana cria a “Revolta Activa” sem objectivo militar, com uma direcção demasiado fechada a Neto e, exigindo a este “direito da livre opinião”. Teremos de voltar ao ano de 1968 e acompanhar a situação no M´Puto para saber ao certo as implicações dos acontecimentos em relação à Província de Angola. Salazar é hospitalizado em Julho desse ano, depois de ter caído de uma cadeira no Forte de S. António em S. João do Estoril. Após a casca de banana ter funcionado na perfeição, novo ânimo invade os nacionalistas em Angola mas, o seu substituto, Professor Marcelo Caetano, aparece com um discurso suave, defendendo “novos brasis” na África Ultramarina.
No interior de Angola, os guerrilheiros respondem com o recrudescimento dos ataques. O Exército português forma novos GE – Grupos Especiais que passam a actuar no Leste; a PIDE cria os “Flechas”, os “TE-Tropas Especiais de Cabinda e “Milícias”- grupos de ataque essencialmente formados por guerrilheiros capturados e desintoxicados do ideal nacionalista, antigos “Turras”, ao que se juntam os “gendarmes catangueses” que haviam apoiado Moisés Tchombé e, que se refugiaram em Angola após a fracassada tentativa de secessão do Catanga, actual Shaba da República do Zaire.
É curioso o percurso e destino destes homens que, nos anos pós independência, serviram de instrumento de pressão do governo de Angola junto de Mobutu. Após o 25 de Abril, Rosa Coutinho pressiona-os a se integrarem no MPLA, sob a ameaça de expulsão para o Zaire, onde as suas vidas corriam perigo. Nos anos subsequentes à independência, armados por Angola, efectuam duas invasões goradas ao Shaba, rechaçados por pára-quedistas marroquinos, belgas e guerrilheiros da UNITA.
Pelo abrigo do acordo estabelecido entre Savimbi e Mobutu, a UNITA manteve no Shaba um batalhão por longo tempo. Os “gendarmes” preparavam-se para a terceira invasão do ex-Catanga, quando Neto intercedeu e acordou com Mobutu que a mesma não se efectuaria, na condição do Zaire expulsar Holden Roberto e a FNLA. E, assim aconteceu! Holden foi para o exílio na Costa do Marfim e, posteriormente França, aonde se manteve até à assinatura dos Acordos de Bicesse. Figuras de proa da FNLA, como Johny Pinock Eduardo, Paulo Tuba, Baltazar Manuel e Hendrick Vaal Neto passam-se para o MPLA.
Mesmo assim, no interior de Angola, não apoiados por qualquer país estrangeiro e sobrevivendo com o material bélico capturado aos cubanos e governamentais, bolsas do ELNA continuaram a resistir. Somente em Dezembro de 1985, a FNLA comunicou oficialmente que abandonava de vez a luta armada. Em Agosto de 1969 a UNITA realiza o 2º Congresso, durante o qual elege o imbinda Miguel N´Zau Puna para secretário-geral do movimento.
Em 1970, o Papa Paulo VI, que em 1967 havia estado em Fátima de Portugal, recebe em Roma Amílcar Cabral. Este seria assassinado em Conacri em Janeiro de 1973, por dissidentes do PAIGC em conluio com elementos da PIDE. O Papa Paulo VI recebe também na mesma altura Agostinho Neto e Marcelino dos Santos. Portugal responde com uma grande ofensiva no Leste de Angola, onde o discurso moderado de Marcelo Caetano colhe frutos imediatos.
Após um ataque à primeira Região do MPLA, mais de quatro mil guerrilheiros entregam-se às tropas portuguesas passando a integrar os “Flechas”; os quarteis do ELNA também se rendem. O Norte de Angola está sob controlo do Exército português, que inicia em 1970/71, o avanço pelo leste, sob o comando dos generais Costa Gomes, comandante-Chefe das FA em Angola e Bettencourt Rodrigues, comandante da Zona Militar Leste.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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