Segunda-feira, 31 de Outubro de 2022
UCRÂNIA . I-II-III-IV-V

 

A GUERRA DOS ABSURDOS, DAS RUINAS . Partes I.II.III.IV.V

UCRÂNIA - Espiando algum desdém duma parte do Mundo...

Cronica 3284 - 17.04.2022, no FortVille da Pajuçara de Maceió – Republicação a 31.10.2022 com actualizações

Porucrania1.jpgT'Chingange

ucrania2.jpg PARTE I - Viver é muito perigoso!…

Nesta guerra da Ucrânia, Putin, está vendendo a alma ao diabo. Está vendendo também a alma dos outros, do Mundo! Viver, que seja só um sentimento de cada vez, dá para ver sim que este mundo está louco! Mas, todos estaremos loucos neste Mundo? Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são mais que muitas, muito maiores e diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça para entender seu total…

Tudo, nem imaginado, sucede acontecendo e o sentir forte da gente de só se puder viver perto dos outros, sem perigo de ódio. Qualquer amor nesta guerra maldita, já é um pouquinho de saúde, um descanso de loucura… Conforme a crença de que Deus está em tudo! Mas tudo se vai vivendo demais, remexendo-se. Tudo o que foi é o começo do que vai vir, toda a gente está num “ai Jesus”… E, aumentando o desamparo da minha vergonha, digo e repito: Viver é muito perigoso!

Ucrania7.jpg PARTE II – Reflexão ortogonal!...

Imagine-se que eu fosse sacerdote, e um dia tivesse de ouvir os horrores provocados por Putin em confissão na primeiríssima pessoa. O facto de um morrer em vez do outro e, o de um viver em vez do outro, ou todos morrerem numa fragmentação, assim do nada, então!?

Há gente que morre, gente que luta, há gente que se estilhaça, gente que se apaga e … mire e veja, que tenho medo porque todo o caminho da gente é resvaladiço. Deus resvala? Ah, para não chorar, para no mínimo ter um pouco de felicidade, é preciso sabermos tudo, formar alma, formar consciência porque para penar, melhor não a ter.

Mire? Veja? Debaixo deste extraordinário, mesmo longe, a gente lambe a guerra. E porque Deus resvala, nós no rasto dos misseis, acompanha a morte com drones assassinos sem os poder perseguir… De dia é um horror visível, a noitinha refresca e no escorropichar do frio as labaredas fumegam-nos como se o fôramos um tição lagrimando fagulhas. Não se tem onde se acostumar firmando os olhos - toda a firmeza se dissolve indispondo-se num enjoo sem poder conservar um nojo.. Morreu, enterra!

Mas o mundo fala com tanto sonho desmanchado, que se esfiapa na neblina das nuvens de bombas, no movente frio de Abril… O demónio anda na rua… Quando rezo penso nisso tudo; até na Santíssima Trindade. Eu, padre de confessionário, de faz-de-conta acabei assim nesta tristonha estória: Como já tinha comprado meu pano preto de luto manejável pedi desculpa ao Nosso Senhor, peguei na Kalashnikov e descarreguei toda a minha fúria nele, o Putin

Ucrania8.jpg PARTE III – No momento exacto em que espeitava as estrias…

Espiando o Mundo com excepções, esbarrando no arrebentar nas manivelas da vida e, sem a mira certa de enviar um grão de morte ao certo lugar... Espalha-se o terror entre fumaças dançantes nas labaredas de fogo do inferno, de muitos enfeites, de destruição...  Entre um e mais outro zumbido e muitos estrondos, dentro daquele quarto, desventrado, ouvia gritos de matar e súplicas de morrer...

Esperando que a guerra não passasse ali de novo, sufoca-se na espera. Ansiado no desespero estrelejava, sentado na beira da mesa com o revólver pronto, ao alcance da mão, com bala na câmara espera-se para matar a guerra. Em último caso para se matar! Caiu num pasmo... Escrever num momento destes? O revólver era o comando no constante revirar no remexer da guerra transpirando medo...

Não sou coisa, nem cão mas, uivo o que me força mesmo a ter ódio da vida, que me leva a ser covarde e corajoso em simultâneo. Háh o que não pode entender nesta hora, isso de ser capaz de se, me matar!... O zum-zum da guerra acontecendo era o que lhe estorvava o direito de pensar... Fui salvo no momento exacto em que espreitava as estrias daquela arma de cano curto! Nome dela, da arma, esueci…

Ucrania9.jpg Parte IV - Há dias em que confio em Deus.

- O Provérbios 3:5, 6 do livro sagrado assim o diz! Há razões de sobra para confiar em Deus, pois Seu amor por nós é total. Sendo assim, é tempo de confundir os mísseis e drones de Putin e alterar suas coordenadas para caírem lá fora de portas e, não para onde vão... Sendo assim ando à espera de um milagre que confunda as letras Z de Zorro e V de Vitória e, se matarem lá entre eles...

O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e afrouxa, sossega e desinquieta. O que a vida quer da gente, é coragem! O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e ainda mais alegre no meio da tristeza. Pode!?

Pópilas! Só de olhar para ele, o diabo Putin, nele vejo o vulto da guerra. Apesar de tudo o que sabemos sobre Deus, sobre Sua fidelidade, Seu cuidado e amor por nós, ainda assim, às vezes, temos - tenho dificuldades para confiar; este é o caso! E, porque tem que ser assim Dizem os livros! E, não somos nós que fazemos esses livros!

Há dias em que confio em Deus. Então acordo com a doce sensação de que Ele está sorrindo para mim. Mas, em outros, não consigo confiar. Em geral, não volto para casa ao final do dia porque estou nela todo o dia mexendo os pés, cansado de pouco fazer a não ser escrever, e estressado pelo que vejo só porque o não deveria ver, deprimido quando me esqueço de o não estar, sobrecarregado à toa, em verdade! Coisas de velho...

É tão fácil - esquecermo-nos de que Deus é grande e poderoso, de que Ele Se preocupa connosco, supre e resolve nossos problemas. Aí é!? Qualquer dificuldade nos rouba a paz e nos tira o sono. Isto é comum a todos e, por coisa pouca se podermos colocarmo-nos no lugar daquela gente com frio, com fome, sem coisa alguma! Digo para Ele como se o fora ainda candengue, criança...

Posso adivinhar que você ou eu, já passamos por isso sem o querer. Que por vezes, seus dias amanhecem sombrios por semanas. Que de repente, uma nuvem num manto cinzento cai sobre seus dias. E, fica com a estranha sensação de que tem coisas demais para fazer e não vai dar conta de tudo ou nada tem para fazer e, entorpece na pasmaceira.

Ucrania10.jpg PARTE V – Espiei o desdém do mundo…

Dois meses de assassinatos na Ucrânia, sob o olhar compassivo do resto do mundo, estamos vendo um "sete de filmagem" de uma guerra ao vivo e ninguém faz nada de concreto para fazer o agressor mudar de ideia. Bem me parece que a ONU deverá ter um braço armado para fazer cumprir suas determinações...Ufa! Por fim lá aparecem armas inteligentes vindas do Ocidente, às mijinhas…

O maior medo da humanidade é abrir a cortina do conhecimento e descobrir que tudo o que acreditava nunca existiu! Tudo o que ouvimos são opiniões e não factos comprovados... Tudo o que vimos são perspectivas, não são verdades ou realidades; dirão que são narrativas – mentiras e mortes andam juntas.

E, quando a noite chega, um qualquer, apaga a luz ao deitar-se, culpa-se de problemas com a família ou algo pior, esquecendo ser o objecto mais precioso do amor Dele, da Natureza. Confiar em Deus não significa que Ele fará sua vontade, significa que você confia que a vontade Dele é a melhor para você. Um dia, não são dias...Aiué, então?! Hó Deus, juro mesmo, acho que Nosso Senhor, vai-te castigar!

Pópilas! Só de olhar para ele, o diabo Putin, nele vejo o vulto da guerra. Apesar de tudo o que sabemos sobre Deus, sobre Sua fidelidade, Seu cuidado e amor por nós, ainda assim, às vezes, temos - tenho dificuldades para confiar; este é o caso! E, porque tem que ser assim Dizem os livros! E, não somos nós que fazemos esses livros!

Todos nascemos mais ou menos errados e imperfeitos, mas só os conscientes e racionais procuram ao longo dos tempos ter consciência dos seus aspectos negativos e aperfeiçoá-los.

O tempo não passa pela amargura mas, a amargura passa pelo tempo… Hoje que chove, aqui e álem, 31 de Outubro de 2022, passados que são mais de oito meses, ainda não chegaram os tais chapéus genuínos protectores dos drones, desses paráguas de anular neutrões ou coordenadas do GPS. A guerra é um negócio.

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:31
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Domingo, 30 de Outubro de 2022
N´NHAKA . XIX

ANGOLA, TERRA DA GASOSA . V

CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES

Lembranças de escritos antigos - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002) – Crónica 3283 de 16.04.2022 em PortVille da Pajuçara de Maceió – Republicada a 30.10.2022 na Lagoa do M´puto

N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…

Por mocanda11.jpg T´Chingange

dracma5.jpg Neste lugar de encantos atarraxados, na área de serviço de Cabo Ledo, as cervejas são retiradas de grandes caixas de isopor, esferovite; dessas que se usam quando vamos para o campismo mas, de maiores dimensões. É dali que retiram as verdadeiras gasosas de beber, pepsi-cola, mission, cucas e taifal ou sagres do M´Puto. Ali perto há um aquartelamento militar; foi por aqui que entraram os primeiros militares cubanos que deram formação às primeiras tropas organizadas do MPLA. E, foi Carlos Fabião, Flávio Bravo e Agostinho Neto que acordam os pormenores da participação Cubana na Operação Carlota, a que ficou conhecida como a Batalha de Luanda.

Pois foi aqui que entraram e depois saíram entre Maio e Junho nessa Operação Carlota; oficiais que por ali passaram tais como: Abelardo Colomé Ibarra, Lopes Cubas, Freitas Ramirez, Leopoldo Cintras Frias ou Romário Sotomayor. Foram estes e os jovens da Academia Militar de “Ceiba del Água” que mais tarde deram os pormenores já descritos em várias fontes. Cabo Ledo teve uma forte intervenção naquela que ficou conhecida por “a Batalha de Luanda”.

No entretanto da observância vêem-se uns quantos militares roçando as donzelas; um deles, de patente rasa vem até nós pedir uma gasosa a fim de poder ir até Luanda visitar sua namorada; treta ou não, em seguida bazou de nós indo pela certa cravar outro, indícios firmes do pouco salário que recebem. Já perto do rio Calamba, começa a ver-se newas, maboqueiros, embondeiros e cassuneiras; podem ver-se muitas destas, altas e esguias palmeiras já em fase de vida terminal -alguém esclareceu que por tanto retirarem sua seiva para fazer marufo, elas definham até à morte.

quiçama01.jpg Atravessamos a Reserva da Kissama sem ter visto uma simples capota, nem tampouco um camundongo ou mesmo um dilengo (coelho). Começamos a descer para Porto Amboim, um antigo e importante porto de pesca e início da linha de comboio que trazia em tempos o café da CADA, uma empresa exportadora de café robusta. Foi ali na “Boa Lembrança” da CADA, que passei minha lua-de-mel como soe dizer-se, no ano de 1970. O sol kúkia, descia já no horizonte valorizando a ampla baía com o mesmo nome.

Neste local de muita azáfama piscatória no tempo dos Tugas, podia ainda ver-se alguma movida na arte de secar peixe, pesca da lagosta e lá mais adiante, ao dobrar do promontório e na foz do rio Cuvo as deliciosas e grandes ostras. Compramos ao Tadeu Matrindindi um saco de ráfia, daqueles usados no transporte de carvão lá no M´Puto. Custou-nos cem kwanzas ou seja o equivalente a dois €uros e vinte cêntimos. E, se havia ostras! Dias depois voltamos ali, atravessamos em uma improvisada jangada de paus de binga, amarrados com mateba, numa lagoa da foz do rio Cuvo e nós mesmos, eu, Jimba, Zito e o vizinho Candimba apanhamos mais um saco daqueles.

quiçama0.jpg À medida que espetávamos o bordão no fundo, sentíamos as ostras, um rochoso crocante, depois era só mergulhar e apanhar à lagardere… Foram dias de folgadas lembranças como se ainda candengue estivesse a apanhar na Samba da Luua as mabangas para o isco a usar na apanha das mariquitas ou roncadores. O banco de calcário ostrífero era impressionantemente vasto por ali. Fazendo uma fogueira na ilha de areia daquela foz, pudemos fazer abrir aquelas deliciosas ostras, meter-lhe uma porção de sumo de limão e, depois degluti-las. A acompanhar tivemos as frias, cervejas Hanson, Heineken, Sul Africanas e a Cuca angolana.

Recordo agora o Jimba (já falecido) a apontar uma farta planície, uma imensidão de capim, as terras de seu pai e aonde cultivavam algodão em idos tempos. Agora podiam ver-se umas quantas cabeças de gado nemas bem perto de um quartel com parque militar; estafadas Urais e Ifas soviéticas usadas na guerra recém terminada -  há quatro meses…    

quiçama03.jpg Posso agora, 47 anos depois do 75 recordar: E, foi na Praia de Sangano um pouco a norte de Cabo Ledo que desembarcaram os primeiros homens comandados pelo General Raul Diaz Arqueles. Ali descarregaram os primeiros complexos móveis de defesa antiaérea “Strela”. Os instrutores deste equipamento sofisticado, estavam a ser coordenados pelo Coronel Trofimenko que a partir da Republica do Congo Brazaville enviavam numa primeira fase, pequenos aviões para aterrizar na pequena pista de aviação da Kissama em Cabo Ledo.

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)     



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:45
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Sábado, 29 de Outubro de 2022
MALAMBAS . CCLXX

TEMPOS CINZENTOS – GERINGONCIÁVEIS. Ando a semear assobios mas, nos intervalos da vida, durmo!

Crónica 3282 de 15.04.2022 em PortVille da Pajuçara em Maceió – Republicada a 29.10.2022 em Lagoa do M´puto

Por GALO1.jpg T´Chingange

roxo117.jpgAR - Quando o capim cresce num jardim, só pode ser mesmo por efeito de abandono. Esta noite, no meio de bois, vacas e capim, ouvi sumido nos sussurros por entre trastes do conforto dum sonho, uma perereca a coaxar e, notei até que estava lambendo com gosto a cal de paredes cafeladas, saboreando seu bolor, um mofo, como se o fosse um pão de sete dias esquecido algures num escuro húmido, já com estalactites e estalagmites penicilinicas. Será que é mesmo uma perereca? Será que é mesmo uma necessidade da perereca?

Nós sempre queremos respostas para tudo que não entendemos na perfeição como por exemplo esta: “Qual o tipo de gafanhoto que João comia no deserto?”. Vale a pena conferir! Para uma resposta curta e simples podemos encontrar no texto bíblico de Marcos 1,6: “João vestia-se de pelos de camelo e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre.” (Marcos 1,6) Bíblia de Jerusalém. Eram cortadas as cabeças e pernas desses insectos, que depois de secados ao sol era salgado e servido com uma espécie de "manteiga", uma espécie de gordura vinda do leite. Hoje temos o conhecimento, pelo dizer dos nutricionistas que no gafanhoto, cerca de 75% são proteínas.

Os sonhos são assim mesmo, imprevisíveis, Alexandre Fleming: o pesquisador que descobriu o poder dos fungos do género Penicillium, não lambeu fungos porque não era sapo ou perereca mas foi assim de forma acidental que se descobriu a penicilina. Alexander Fleming, em 1928, pesquisando substâncias capazes de combater bactérias em feridas, esqueceu seu material de estudo sobre a mesa enquanto saía de férias. Ao retornar, observou que suas culturas de Staphylococcus aureus estavam contaminadas por mofo e que, nos locais onde havia o fungo, existiam halos transparentes em torno deles, indicando que este poderia conter alguma substância bactericida

roxo3.jpgAR -  Não sabemos se o sabor era apetitoso, mas o sustento do organismo humano como alimento era satisfatório ao comer gafanhotos. Provavelmente o gafanhoto Locustra que devorava as plantações, foi o tipo de gafanhoto com que João se alimentou no deserto. Estes gafanhotos devoradores que apareciam em nuvens atacando as poucas plantações da Palestina foi à espécie que João encontrou no deserto e lhe serviu de alimento para saciar sua fome. O texto de Joel 1,4 narra à presença desta praga em Israel.

Podemos assim conhecer os segredos da vida nos hábitos de João Batista e concluir: Vivendo uma vida simples, sem desperdício de alimentos, nos aproximaremos dos caminhos de Deus… A penicilina de Fleming tornou-se disponível para a população civil na década de 40 do século XX. Tal achado, comprovadamente inofensivo para as células animais, foi isolado, concentrado e purificado em laboratório alguns anos depois, por Howard Florey e Ernst Chain: mesma época em que estes três pesquisadores ganharam o prémio Nobel de Medicina por suas descobertas, estas capazes de impedir a morte e complicações de doenças como pneumonia, sífilis, difteria, meningite, bronquite, dentre outras.

fotografo1.jpg Na época da Segunda Guerra Mundial, esta substância foi produzida em larga escala, por fermentação, salvando milhares de vidas. Actualmente a penicilina é utilizada de forma menos frequente em razão de seu uso indiscriminado – causando a selecção das bactérias e consequentemente, ao longo do tempo, resistência a este antibiótico.

Assim, hoje a Amoxicilina é o antibiótico mais amplamente utilizado no tratamento de doenças bacterianas. Como é que num sonho poderia eu saber ou não saber, se era eu mesmo e se estava até em ocasião de boa-sorte. Porque diz o ditado que nossa vida tem sempre um rumo de linhas tortas, coisa até já confirmada matematicamente com teorias encavalitadas da relatividade e, aonde o fim, não é fim!

Que numa evolução quântica não há fim de mundo, não há fronteiras nem bordas nem tampouco redondez e, porque na azáfama da vida, o deve e haver não existe – é uma fantasia de vida… Assim de repente parei; fiquei devendo sem me lembrar de pagar. A gente de agora anda tão devolvida de tudo que nem pode adivinhar a honestidade de cada qual. Tudo passa, noé!? O sofrimento do passado pode sim virar glória, assim como sal em cinza, geringonciável!

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 16:12
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Sexta-feira, 28 de Outubro de 2022
KALUNGA . XXXIII

KIANDA COM ONGWEVA NAS FRINCHAS DO TEMPO - XVIII de várias partes…

– Crónica 3281 de14.04.2022 em pajuçara de Maceió – Republicação a 28.10.2022 em Lagoa do M´Puto

– Segredos do Conde de Sant German no Museu do Prado em Madrid…

Ongweva é saudade  

Por roxo135.jpgT´Chingange (Ochingandji) – No PortVille da Pajuçara em Alagoas do Brasil e Lagoa do AlGharb

roxo182.jpgAR - As nações do mundo não se vincularam no reconhecimento do novo país chamado de Rodésia, auto proclamado por Ian Smith. Esta iniciativa prescreveu em 1979 com a entrada do bispo Abel Muzorewa que se torna chefe do governo, constituindo a primeira administração bi-racial (uma utopia africana). O governo de Muzorewa não logra durar muito e, novas eleições são convocadas, desta vez com total liberdade de acção para o bando terrorista de Mugabe.

Naturalmente, com o beneplácito dos areópagos internacionais, a 2 de Dezembro de 1987, Robert Mugabe, o marxista e seus bandoleiros do famigerado “processo político” é nomeado como o primeiro chefe executivo. Mugabe, apaparicado pelos senhores do globo, não tarda em implantar a sua ditadura de partido único através da perseguição, intimidação e eliminação física de opositores. O alvo preferido foi a população branca, fazendeiros e os negros que não aderiram à “revolução”.

roxo92.jpgAR -  Um território outrora pacífico e em franco desenvolvimento, é rapidamente transformado num espaço de opressão, violência, corrupção e ruína económica. Tal como em Angola, uma boa limpeza étnica só o é, desde que feita por negros contra brancos, que é sempre vista com olhos gordos de compreensão. A farsa da obra-prima da ONU e dos senhores do G7 deste planeta vão, paulatinamente continuar em cartaz na terra africana encharcada com o sangue de inocentes (um mundo cão).

Eis as excelsas realizações dos arrojados descolonizadores - “exemplares”, com certeza! Tive de descrever este panorama para chegar à kianda Zachaf Pigafetta Roxo, ao seu irmão Januário Pieter e ao Conde de San German, um destacado embaixador itinerante enigmático no quanto baste. Pois, é ele que me descreve as coisas aqui expostas, connosco comodamente sentados em um amplo salão do Prado e, enquanto os demais vêm e revêm os muitos quadros ali expostos.

Fui assim, inteirado por ele de que as Sereia Roxo e Oxor, eram procedentes do lago Niassa; com sua singularidade provenientes da tetravó Zachaf Pigafetta que por ali permanecia em uma ONG mas, só até que um dia, tiveram de dar o fora! Não havia condições nem para assombrações! O irmão Januário Pieter, que se manteve sempre por perto, tornou-se para mim um extraordinário consultor. A ele devo ter sido registado para o mundo como o único Niassalês em Paris, no primeiro encontro em Jablines de França. Absolutamente, não há nada, que ele não saiba! E, foi também quando pela primeira vez fui à Disneylândia com minha neta Lara! Creio que no ano de 2009 (Tinha ela uns oito anos…)

Ian Smith.jpg Eu estava por saber que uma sereia tem de ter sempre uma irmã gémea porque convêm de vez em quanto baralhar os espíritos malévolos; esses que serpenteiam entre difusas brumas como os ácaros do facebook. Brumas que por via de uma arte ficam acrilicamente voláteis, belas e disformes, misto de sonho com pesadelos tidos em luar longínquo parecendo até duma outra galáxia. Depois de tudo isto entendo as formas e contornos reluzidos em perfumadas ondas de quem pinta sem pinceis. Isto só mesmo de bruxas, kiandas ou calungas, falei…

Zachaf Pigafetta a tetravó, desta vez, já no pátio exterior do Museu, falou comigo sem aquela irreverência de kianda superior e, descendo à terra barrenta, à sombra de uma mafumeira (sim! é curioso mas, havia ali essa árvore), quase que me segredou ter sido em Harare que nasceu sua Neta de última geração Assunção Roxo. E, foram exactamente nas coordenadas de 17° 50' S 31° 03' mas salientou que não quer agora, nesta vida de hodiernidade, perturbar sua tetraneta (Nem ela sabe!...)  

roxo109.jpgAR -  Nunca se viram cara a cara mas foram-lhes transmitidas veracidades que nem ela Roxo se apercebe e, porque é através do vento soprado que lhe faz chegar as ondas de cinco gigabaites, aquela genica e vontade de papar léguas, mais o gosto pelas longitudes. Em sonhos conversam muito mas, logologo destes são esquecidos, porque ela só é kianda por vezes e, nestes sonhos de ilusão fosfórica. Notei que não me queria dar muitos mais pormenores. E foi graças à insistência do Conde de San German que ela, tetravó de Roxo se decidiu a abrir comigo…

roxomania4.jpgAR - Nota recente: *A kianda Oxor nunca foi vista por mim ao vivo mas, estive lá bem à sua porta no lugar do entroncamento, terra de fenómenos e assombrações – Se estava com uma nevralgia ou artrite, não pude cheirar o cheiro intenso da canfora, dos cremes usados para aliviar dores como o diclofenaco ou dietilamônio. Falando com Humberto Delgado durante o almoço, senti que havia um torcicolo para decifrar com a kianda gémea de Roxo… Assim, ao invés de fataça comi enguia, bem boa!  

**Ilustrações de Assunção Roxo…

 (Continua…) 

O Soba T´Chingange (Otchingandji



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:08
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Quarta-feira, 26 de Outubro de 2022
N´NHAKA . XVIII

ANGOLA, TERRA DA GASOSA . IV

CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES

Lembranças actuais de escritos antigos - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002)

– Crónica 3280 de 12.04.2022 – Republicada a 26.10,2022 na Lagoa do M´puto

N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…

Por  ÁFRICA11.jpg T´Chingange – Em PortVille da Pajuçara de Maceió

A lufada de ar quente da chegada a Luanda foi há dias atrás; neste meio tempo li levemente a obra do sociólogo Paulo de Carvalho com o subtítulo desta crónica e que, só por si, revela a preocupação na mudança das coisas. O desejo de Kianda do Maurício dos Santos Pestana (Pepetela) também vem demonstrar que hoje as vivências fazem-se num confronto de ambivalência e das coisas confundidas no seio deste povo; o mesmo sol da secura e aridez que amadurece os produtos e, a chuva que tudo inunda, é a mesma que os rega.

dia207.jpg A linguagem mitológica, a verdade das coisas é colhida entre o falso e o verdadeiro, baralhando o conceito da razão; no entretanto destas divagações de um Niassalês, que sou eu, vamos a caminho do Sumbe, (Ex Novo Redondo), lá aonde se situa o Cantinho do Inferno. Até ao Sumbe são 320 quilómetros. Passada a Samba, vem o Rocha Pinto, a Corimba, o Benfica, o Futungo, os Morros dos Veados e da Cruz. Aqui, a capela foi promovida a Museu da História da Escravatura.

Em verdade, a criação deste Museu tem razão de o ser pois que foi dali, pertença do reino de N´Gola que saíram milhares de escravos para o Brasil. Chegados aqui, que fique claro que quando o Diogo Cam chegou à foz do rio Kongo surpreendeu-se com a prática dos indígenas comercializarem as suas gentes; usavam os prisioneiros de outras tribos, das guerras constantes que mantiam entre si, transaccionando-os como uma qualquer mercadoria.

Esta prática usada entre as muitas tribos em África e particularmente em Angola, veio a calhar para colmatar a falta de mão-de-obra para nas muitas culturas em expansão no grande território do Brasil; os engenhos da cana-de-açúcar estavam carentes de gente no seu trato, no amanho das longas extensões de terras como o café, algodão ou cacau. A partir daqui surgiram empresários negreiros que sem controlo, fizeram fortunas tratando as gentes oriundas de várias partes, ocasionando riquezas desmedidas de agentes em Angola e Brasil. A palavra infortúnio ainda não estava inventada…

cos0.jpg Foi esta disseminação de gente de tez negra para as américas que originou a grande diáspora alterando os conceitos de raça por via normal de miscigenação. Na escola básica, aprendi que no Mundo havia quatro principais raças, a branca, a negra, a amarela e a vermelha. Os sociólogos tiveram muita dificuldade em estabelecer padrões na sua classificação e, muito rápidamente o conceito de raça humanizou-se simplesmente em raça humana; nesta questão fica bem evidente a globalização com a forte participação portuguesa.

Continuando a viagem, usando a visível marcação do meio-fio e, quase sem buracos chegamos ao rio Kwanza. Aqui o controlo é mais refinado, mais pelos veículos do que propriamente pelos passageiros, a ponte suspensa tem alguma relevância mas, a destoar sucede o facto de alguns militares que por ali estavam espairecendo preguiça, nos terem abordado pedindo gasosa, a mesma pedinchice que sempre nos acompanhou por todo o lado e, desta feita perante o nosso semblante de surpresa, o militar de camuflado ao jeito explicativo e indicando os demais companheiros, encostado ao varão da ponte disse:

- Kota, ajuda só… é para levantar a moral! E, com este pretexto desinibido de vergonha escorregamos com cinquenta kwanzas correspondendo a duas frescas cucas e ainda sobram cinco kwanzas para o engraxador do Sumbe… Cabo Ledo fica em plena reserva da Quiçama mas, até aqui não vimos qualquer espécie de bicho. Acerca da área de serviço aonde paramos, a de Cabo Ledo, trata-se de um amontoado de chinguiços amarrados com mateba e cobertos a capim e, só simplesmente amontoado.

dia141.jpg Estas estruturas da área de serviço, têm “empresárias de sucesso” que superintendem caixas térmicas com gelo e frias sagres, taifel, hansen ou cuca. A acompanhar há galinha assada no espeto, talqualmente e, umas batatas-doces assadas no fogo. É quase uma paragem obrigatória pois que o calor é intenso. As empresárias de sucesso, amigas de Bien e Xico seu primo, com rudimentos falíveis de higiene aprendidas no funaná Bye Bye My Love, cursadas em sobrevivência, transformam a fome em petico de espanto. O frango no espeto marchou sem entretantos e, com muito jindungo; deu para notar as onduladas conversas de sussurradas popias de muitos atarraxados encantos…

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:30
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Segunda-feira, 24 de Outubro de 2022
PARACUCA . LVIII

MULOLAS DO TEMPO 29

RECORDANDO: Nós, bazungus no COMPLEXO PALMEIRAS de BILENE

- Odisseia “HAJA PACIÊNCIA” - 5 de Novembro de 2018 - 49º dia (uma Segunda Feira)

Crónica 3279 12.04.2022Republicação a 24.10.2022 em Lagoa do M´Puto

Por tuiui3.jpg T´Chingange – No PortVille de Maceió do Brasil e AlGharb do M´Puto

arte3.jpg Na cidade de Macia, já conhecida de outros tempos, tentamos ficar nos aposentos meio inaproveitados de José Lourenço, aonde já tinha ficado em anos anteriores mas, não foi possível contactar com seu sogro Pai de Santo, pai de Anita, o zelador do património, nem do bafana que por lá costuma estar. Houve desencontros de telefonemas e, como o Pai de Santo, sempre anda descuidado entre fraldas, não foi possível vislumbrá-lo. O que tem de ser é que vale! Batemos no portão de chapa largo, espreita o pátio e de novo me vejo a dar outra solução, plano B - ficarmos na Praia do Bilene, lugar também meu conhecido de anteriores andanças que fica a mais ou menos trinta quilómetros de Macia.

Assim, tive de recordar minha empregada Mery de Kampala: Vocês, os bazungus velhos como o patrão e, seu amigo Reis das Vissapas com seus carros de tracção às quatro rodas, vestidos com roupas muito cheias de bolsos, quase soldados expedicionários, sempre lhes faltam as pilhas na hora de dar à luz. Ué, como é então? Patrão (só faltou dizer muzungu) nós no Uganda não temos kitar yabulo de xelin, dinheiro para bafunfar só átoa. Desta vez até que tinha razão: a luz falhou. Bem! Da outra vez a garoupa de 3,5 quilos comprada no Xai-Xai de Gaza afinal estava imprópria para consumo; do velho bóher das barbas ao Samuel do hotel abandonado até ao Paulo da igreja, todos me levaram na reles curva da ignorância; o podre da garoupa que não tinha cheiro, no após forno, estava moído, intragável, coisa pútrida.

Daquele outra vez querendo agradar ao Patrão do Ricar, José Lourenço e sua filha Cristina, dei com os burros na água fazendo o papel de otário. Os patrícios do Índico do Xai-Xai, cuspiram-me na consciência de mwangolé mazombo e, francamente, não gostei. Quem gosta de ser enganado? As minhas visitas nobres tiveram de comer salsichas de lata para não desfazer o acolhimento. Havia um compromisso de “jaquinzinhos” trazidos de Maputo pelo gerente-mor do “Luar de Macia” – o doutor da mula ruça com alvará comprado numa tabanca da Guiné, pois desaconteceu. Vamos para Bilene, que já se faz tarde para a missa…

Mu Ukulu02.jpeg No meio destas confusões, para acalmar os assobios enviesados, resolvemos sim, assistir a uma missa em português e dialecto “Changani” à chegada a Bilene, um dos 60 dialectos falados em Moçambique na zona de Gaza. Os cânticos com a participação de missa cheia tiveram duas horas de duração, entusiasmando-me a basculhar esse mundo da fé. Para se ter uma vida espiritual, não é necessário entrar para um seminário, nem fazer jejum, abstinência ou castidade; basta ter fé e aceitar Deus. A partir daí, cada qual se transforma no seu caminho, passando a ser o veículo dos seus milagres.

E, fomos à missa porque queríamos assistir de novo às explosões de fé bailada, ao som de cânticos com muitas vozes, um espectáculo a não perder, com batuque. E, para encontrar Deus, basta olhar ao seu redor; podemos vê-Lo ao nosso lado, no cacimbo, na estrada, uma borboleta que esvoaça ou numa minúscula planta. Se tivermos a fé do tamanho de uma semente de alpista, podemos fazer milagres movendo pedras e, ser capaz de dominar o corpo e o espírito. Aqui, as gentes foram de enorme gentileza oferecendo-nos assento; só as damas Ibib e Marga usaram dessa bondade – afinal sempre há gente boa, aleluia!

missosso2.jpeg Sendo hoje segunda, 5 de Novembro, aqui estou sentado defronte desta magnifica manhã e, tendo um mar bonito da praia do Bilene do Distrito de Gaza, recordando o ontem recente para não me fugir da memória, falando também com a osga que sempre me olha inchando o papo e, salpicando falas na forma de estalidos como se fosse de origem khoisan. Impressionante, não sei como se desloca mas, sempre aparece curiosa e falando-me baixos guinchos, por respeito, acho! E, se Deus salva as almas, e não os corpos, teremos de ser nós a resguardarmo-nos porque, nem sempre é necessária a culpa para se ficar culpado e, embora o Senhor esteja em toda a parte, comigo e com ela, ámen…

É de ter em conta de que Ele, o Nosso Senhor, às vezes parece não ter tempo para nos olhar de frente mas, deixa para lá, outros dias virão. E, foi hoje que visitamos a casa museu de Eduardo Ruiz com uma mulemba radiante mesmo em frente do seu Complexo Palmeiras. Uma amabilidade na forma de gente que fez o favor de nos esclarecer sobre o problema que áfrica atravessa de momento. Também ele quer vender seu Complexo por dois milhões de meticais, tendo o banco calculado seu património em oito milhões. Tudo tem um porquê!

JINDUNGO2.jpg E, foi na casa de Eduardo Ruiz que a febre de melhor condutor de África dita no início pelo El Comandante caiu na temperatura. Isto há coisas, nem lembra ao diabo, este acontecido. Afinal era sim este senhor o maior corredor de ralis daquele tempo. E, vimos suas vestimentas, suas fotos, seus chapéus e luvas de protecção e símbolos com taças mais os diplomas das marcas com quem ele correu, representou. Não fiz reparo ao nosso Comandante mas, foi sim o culminar de uma ousada vaidade despir-se perante outras evidências. Aqui, a pópia de nosso El Comandante escorreu de suores frios pela crista murcha de encrespamento, Háka patrão…

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:28
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Domingo, 23 de Outubro de 2022
MAIANGA . XXIV

“TAMBULA CONTA – Maianga, é lugar de muitas e boas águas”

- FUI BAPTIZAR-ME DE NOVO NO S. FRANCISCO EM PIAÇABUÇU

. Crónica 327809.04.2022 em Piaçabuçu – Republicada a 23.10.2022 em Lagoa do M´Puto

Por piaçabuçu02.jpg T´Chingange – Na foz do Rio São Francisco

Piaçabuçu1.png PIAÇABUÇU - Piaçabuçu é um município do estado de Alagoas, no Brasil. O curioso deste nome é o de que é a única palavra escrita em português com dois “Ç” de cedilha. "Piaçabuçu" é um termo de origem tupi que significa "piaçava grande", piaçá de folha acerada da palmeira com que se faz as vassouras e buçu de grande palmeira que existe na região. Este dia foi dedicada ao aniversário de uma grande amiga de nome Margarida e também do recordar de meus ancestrais que morreram em milhares nas trincheiras, naquela que ficou conhecida como a batalha de La Lys travada na 1ª grande guerra em Flandres da França – 9 de Abril…

A história da região do rio São Francisco, iniciou em 1660 com o português André Dantas com a penetração rumo ao interior de Alagoas. O povoado surgiu a partir de uma capela que Dantas mandou construir em homenagem a São Francisco de Borja. Foi pertença da capitania hereditária de Francisco Pereira Coutinho. Este município de Piaçabuçu tem o maior banco de camarão do Nordeste, resultado do volume de material orgânico jogado ao mar pelo rio São Francisco, o rio da integridade brasileira.

piaçabuçu01.jpg Piaçabuçu foi elevada a vila e município em 1882, tendo sido desmembrada de Penedo. O município, institui em 1983 por acção do Governo Federal, os projectos de protecção às tartarugas e aves migratórias. Nas areias da foz do S. Francisco existem dunas que em seu conjunto mais se parecem inseridas em um deserto; têm a particularidade de se moverem pelo efeito do vento, um caso única em Alagoas.

Com altas dunas, fazem em seu conjunto, um belo contraste com o mar. Já tive oportunidade de subir às maiores dunas do mundo, no lugar de Sesriam no deserto namibiano do Sossuvley na cadeia de montanhas de Naukluft Park. E, foi a Duna 45 que sempre ficou colada às minhas lembranças… para além de todas as notícias convém recordar que Piaçabuçu teve também o seu ciclo do arroz. Já em 1834, principiou o cultivo de arroz, neste vale do rio e, após a Independência do Brasil (1822), seu cultivo ganhou força nas terras da região do baixo São Francisco, entre outras, enriquecendo rapidamente cidades como Piaçabuçu, Penedo, Igreja Nova. Até hoje, Piaçabuçu é a segunda maior produtora de arroz de Alagoas.

piaçabuçu03.jpg Grande parte da economia da cidade gira em torno do turismo, em especial do passeio ofertado por diversos barcos particulares à foz do Rio São Francisco, que banha a cidade. Um dos mais famosos barqueiros locais é conhecido como o Delta do São Francisco. Neste cenário de indescritível beleza quando suas águas se encontram com o mar, com dunas de areias claríssimas e várias lagoas de águas mornas, enquanto o estudante, musico, cicerone e entreteinar de bordo local de nome Luís levava seu lote de turistas a ver uma das dunas moventes, eu e Ibib, ficamos bem por debaixo da larga sombra aonde o cheiro nos convidada a ficar para provar as iguarias

E, comodamente sentados podíamos ver lá na duna mais alta do local, Luís, o manager, explicar, cantar, inventar, historiar e até tirar umas fotos fazendo beleza como quase estando na ponta do Titânik fazendo levantar no ar as sedas de cada qual, esvoaçantes; Três sobreviventes coqueiros lá no lado norte, na direcção de Deserto Feliz, uma nova cidade e bem perto de Cururipe, coqueiros sobreviventes, assistiam como nós aos suprimento de carências na resiliência como soe dizer-se de Luís, o cantador de baladas e música freelancer de forros de sopé da serra.

piaçabuçu2.jpg Comemos espetadas de pilombeta, um peixe pequeno oriundo daquelas águas baixas das lagoas, queijo de coalho assado no carvão e na companhia de frescas Skol resguardadas do calor. A conselho do ocasional marujo do jacaré dos rios, comprei por quinze reais uma especial cachaça com bagas de cambuí… O fruto cambuí é consumido in natura, bem como em sucos, tortas, compotas e geleias, entre outros usos. São atribuídas ao fruto propriedades terapêuticas como adstringente, antidiabético, hipoglicemiante, antioxidante e anti-séptico.

piaçabuçu04.jpg O Cambuí, é também rico em carboidratos, lipídeos e proteínas. Acho que devo ter todas estas maleitas e, assim o usei botando um niquinho no café e, assim, levantei as mãos com os dedos abertos e no vento das dunas fujonas, bati todos juntos chispando um uiui com estalo de cangaceiro, que coisa boa que desce e sobe rápido e em simultâneo… O dia foi lindo mas terminou como todos os dias; cansado fui cedo para a cama pensando nas velas quadradas das canoas que outrora via naquela foz do São Francisco e, hoje não vi!… Fui!

O Soba T´Chingange  



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:43
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Sábado, 22 de Outubro de 2022
MISSOSSO . LI

NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…

COM FALA KALADO - Crónica 327716ª de Várias Partes – 08.04.2022 em Pajuçara – Republicada a 22.10.2022 em Lagoa do M´puto

Por aqualtune.jpgA - T´Chingange – No nordeste brasileiro e AlGharb do M´puto (Com Aqualtune)

tonito19.jpg Chegada a hora do café e dos digestivos, era suposto haver discursos na forma de agradecimento mas, e devido ao facto do Exmo. Cidadão estar no estado já descrito e, porque sempre ficava apoquentado de irrequieto quando tudo ficava demorado, Rosa Casado, a chefe de protocolo, deu indicações que o senhor Comendador iria retirar-se a fim de dar andamento aos seus tratamentos e, que as individualidades presentes, (nós), iriam para o d´jango do jardim para e após ou durante o café serem estabelecidas as linhas programáticas da Fundação Zumbi de N´Gola para o tempo que restava, até se findar o ano civil.

Após Rosa Casado ter segredado algo propedêutico ao ouvido do Exmo. Comendador, este de novo levantou sua mão direita para dar homologação às palavras de sua muito distinta auxiliar, dona de muitos segredos oriundos de Garanhuns, Petrolina e Serra da Barriga por ser filha de um antigo prefeito da Cidade de União dos Palmares – António Ribeiro Casado. Todos de pé, assistimos à saída do filantrópico cidadão acompanhado daquela outra senhora com bata branca com uma cruz vermelha ao peito…

O gigante negro Lother, que até então se mantinha afastado, bem no canto e ao lado do tal chefe de cerimónias com laçarote, este, ao tocar de novo o sino como que dando por terminado o repasto, Lother caminhou na direcção da cadeira ergonómica que, com suavidade, rodou noventa graus, levando seu patrono ao seu mukifo … Estando eu atento em todo o tempo ao semblante do meu antigo companheiro de guerra do Maiombe pude reparar…

zem4.jpg Pude notar duas lágrimas caindo por sua face; havia momentos de lucidez e, nesses momentos, era tomado pelas carências de perdoar o justo pelo certo e também porque não mais seu luar, poderia pôr a noite inchada. Por momentos até relancei a hipótese de estar a fingir para ludibriar a Intelligence secreta que sempre parecia estar presente em seus passos desde que saiu matumbola de Angola, seu país de origem… União dos Palmares é considerada uma das principais cidades de Alagoas e é conhecida por ser "A Terra da Liberdade", pois foi nela, mais precisamente na Serra da Barriga aqui descrita por vezes como Serra dos Macacos, aonde foi dado o primeiro grito de liberdade por Zumbi dos Palmares.

Em sua memória surgiu a festa da Consciência Negra festejada a 20 de Novembro, dia de sua morte. Tive esta lembrança na deslocação para o d´jango aonde iriamos estabelecer as tais linhas programáticas da Fundação. Do muito que ali se debateu, a mim, Zelador-Mor, conselheiro, fiquei de coordenar o vinte de Novembro, de coordenar toda a logística de convites às muitas personalidades do mundo dos PALOPS, cabendo a cada um dos outros nove membros eleger três figuras públicas internacionais nas áreas de governo, cultura e diplomacia global. 

adalberto junior unita.jpg Não vou aqui entrar em detalhes do foro interno mas e, no que toca à minha escolha apontei os nomes de Marcial N´Dachala e General Kamalata Numa, ambos da UNITA*** e, José Eduardo Agualusa, escritor conceituado a nível internacional. Na altura certa se saberá publicamente os outros nomes num total de trinta, tendo várias correntes politicas e visões diferenciadas para e, em altura própria conferenciarem seus pontos de vista, da Paz e da guerra, dos pontos dentro e fora das quatro linhas que balizam os conceitos de democracia.

Também ficará a meu cargo a popularíssima Corrida Palmarina do Jumento Alagoano no último domingo de Dezembro de cada ano civil; uma cavalhada que entusiasmará por certo todos os tropeiros deste mundo. Esta festa de cariz popular terá decerto a filiação da autarquia e muitos aficionados das gestas heróicas dos tempos idos, das tropas de muares cruzando os lugares mais recônditos deste brasil. Esta terá também a participação das gentes dos actuais quilombos adstritos à governança de Paulo Sarmento, Assistente do Rotary Internacional, Distrito 4390.  

No século XVII, Alagoas oferecia reduto para os negros formarem os inúmeros quilombos que prosperavam em todo o território brasileiro, mas que tiveram na Cerca dos Macacos da Serra da Barriga, nos Palmares, sua maior simbologia. O Brasil foi o país com a maior concentração de escravos negros do mundo com dados indicadores de 3,5 milhões. A liberdade, por meio de fuga, consolidava-se pela anormalidade da vida administrativa e económica da capitania de Pernambuco. Palmares, perdurou por 64 anos, capitulando no ano de 1696 e é o governador da capitania que relata ao rei D. Pedro II do M´Puto, o pacífico, a morte de Zumbi dos Palmares…

esquindiva1.jpg Nota ***: - Por via de altercações ao programa editorial acrescento agora – 22.10.2022 à lista de convidados Adalberto da Costa Júnior, o verdadeiro ganhador das eleições em Angola mas que por via de fraude grosseira não pode usar das prorrogativas de Presidente. O seu a seu dono: Kwacha!…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:37
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Quinta-feira, 20 de Outubro de 2022
N´NHAKA . XVII

ANGOLA, TERRA DA GASOSA . III

CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES

Lembranças actuais de escritos antigos - “havemos de voltar” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002)

Crónica 3276 de 07.04.2022 escrita na Pajuçara de Maceió – Republicação a 20.10.2022 na lagoa do M´Puto

N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…

Por t´chingange 0.jpg T´Chingange

selo10.jpg Bien, Humberto Cunha do Sumbe, engenheiro civil formado em Cuba em tempos de dipanda, chorou ao despedir-se de mim e Ibib no mesmo aeroporto “4 de Fevereiro” (antigo Craveiro Lopes ou de Belas). Eu, que me fiz forte na altura, relembro agora que também fiquei esfiapado das pestanas, com humidade por arrumo dos preparos finais. Foi exactamente na sala que nesse então, reparei, essa sala ter perdido o tecto falso; podia ver-se os tubos semi descarnados e em desalinho, dispondo-se encavalitados em todos os sentidos. Este intróito sendo de saída é só uma pescada de rabo na boca porque a descrição que se segue é o começo da visita ao CANTINHO DO INFERNO

Fiquei sem saber se os tubos levavam dentro outros fios ou águas negras; Se eram condutas de ar condicionado ou fios de comunicação! Só faço este reparo para verem o quanto havia de descaso numa sala de entrada e saída de gente a quem se necessita dar uma boa imagem; Os tempos de guerra finda há quatro meses, supõe-se não ter dado manobra de embelezamento às estruturas de aparência. Tinha saído de Angola nesta mesma sala em Agosto 1975 com uma guia de marcha sem volta, emanada pelo Alto Comissária em Angola e, no meio de tanta agitação, tanto caixote espalhado a esmo, nem reparei se havia ali, ou não, tecto falso.

Havia sim controlo sanitário, alfândega, controlo de polícia de fronteira e bagagem. Quem tivesse kwanzas ou outra moeda de sobra, era ali depositada por confisco sumário; não era permitido retirar do território qualquer divisa sem estar superiormente declarada. Consegui passar despercebido ao lado desta desorganizada rigorosidade. Nossas malas dispostas no exterior eram assinaladas por cada um dos passageiros que só depois de o dizer qual a sua mala ou malas, eram carregadas até ao avião da TAP. Compreende-se, pois nesse então e ali, não havia ainda os métodos modernos de visão do tipo de raio xis…

selos3.jpg Pois de vacina nas mãos é-nos indicado o sítio de carimbação; gente improvisada, vestida de bata dá valia aos papéis amarelos e, depois das boas chegadas por parte das autoridades com chapéu de dourados arabescos, vem a secção da bagagem aonde a dita gasosa agiliza as vistas. Isto aconteceu na chegada com o surpreendente pedido de gasosa sem sabermos nesse então o que seria isso; O Zito mais avisado disse ao Jimba (já falecido) que era uma gorjeta para não empatar; neste momento já tinha vinte euros na mão para desanuviar a mercadoria e, assim aconteceu…

O primeiro impacto com os destapados buracos de rua foi logo ali em frente ao aeroporto 4 de Fevereiro, esgotos a correr a céu aberto, bem à saída da base da Força Aérea e, entre esta e o bairro que já foi novo quando os cubanos o construíram. Os bolos de batata-doce, de mandioca e banana assada com outras iguarias por ali estão expostos, no meio do espezinhado lamaçal, em cima de improvisadas caixas. Mais ao lado há uma secção de lavagens de carros, uma mangueira que verte água que por seu lado escorre para este improvisado mercado das calamidades.

selos7.jpg O desenrasca funciona paredes meias com os supostos sítios nobres. Luanda aí está! Passando no antigo largo Afonso Henriques, e bem em frente aonde funcionou o sindicato metalúrgico para meu espanto, vejo um grande buraco a jorrar água limpa aos borbotos e uns quantos jovens a fazer daquilo uma estação de lavagem para carros, baldes, esfregonas, sabões e tudo no tecnicamente imperfeito. Os carros eram de alta cilindrada, vidos fumados e acessórios xispéteo… O sinaleiro da Maianga faz milagres para dar ordem ao trânsito, é desrespeitado e até chamado de nomes de macaco para símio. Os vendedores de antenas parabólicas, chinelos e quinquilharias chinocas não largam as janelas dos carros aqui e em qualquer cruzamento com ou sem sinais. Patrão compra só, é barato! 

E, vi porque ninguém me contou: coleiras de cão, peúgas, pó de pulgas, chapéus quicos e até batatas fritas. Os Libaneses resolvem o problema de despachar o negócio usando crianças a venderem de tudo e também CêDês produzidos em estúdios suspeitos do Cazenga ou kazukuteiros do Sambizanga, saídos do Tira-biquíni e Dona Xepa e outros com esquemas com bangula, um salve-se quem poder que a morte vem aí, é certa…

sumbe1.jpg Bem ao lado da casa do Chico Massa aonde ficamos por uma noite, cruzamento da rua de João Seca com a rua da Maianga, o imbondeiro, continua lá, mas muito rodeado de chapas altas. Posso ver daqui a antiga oficina do meu cunhado Paulino Branco, o homem das cambotas (já falecido), bem junto à antiga avenida Craveiro Lopes; sei que do outro lado está a morgue aonde em tempos de candengue vi pedaços de atrocidades, mas, olhando para cima consigo ver umas quantas múcuas. De lá de dentro sai um barulho de esmeril guinchando raivas afiadas – é uma fábrica de grades anti ladrão para colocar em janelas, portas e demais vãos de casas e edecéteras.

Nota: mais lá para o final colocarei um glossário para se lembrarem de quando não eram kaluandas…      

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)              



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:24
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Quarta-feira, 19 de Outubro de 2022
A CHUVA E O BOM TEMPO . CXXIV

NAS FRINCHAS DO TEMPO

- Nova maneira de aprender novas verdades!... Com atitude….

Crónica 3275 – 06.04.2022 em Pajuçara – Republicação a 19.10.2022 na Lagoa do M´Puto

Por pajuçara02.jpg T'Chingange – Na Pajuçara de Alagoas do Brasil e Lagoa do M´Puto

pajuçara02.jpgHoje dia seis de Abril, perfaz 42 dias de guerra na Ucrânia; guerra que teve início em 24 de Fevereiro do ano que decorre, 2022. O sargaço aqui na praia da Pajuçara tomou-a por completo e, ir para a água límpida, só após atravessar uns cinco metros em denso escuro das algas que inevitavelmente têm pequenos paus, plásticos, canudos e rótulos de passoca, mais folhas velhas do mangue; em tempo de chuvas, é o caso, é normal surgirem estas manchas que a braveza do mar faz soltar e trazer aos poucos para a areia, forçadas pelas correntes de fundo.

Mas, após esta pequena barreira de mau aspecto, sujo, a água tem a cor de esmeralda até chegar aos arrecifes, aonde as grandes ondas se desfazem em uma linha de espuma e, ao longo destes; na maré rasa o mar fica um espelho como se o fora uma grande piscina, ora translucida ora transparente ou meia baça e na cor de esmeralda. Bem cedo ouvem-se as ordens ritmadas vindas das doze silhuetas que remam a cana de um para outro lado, exercício matinal que tem início ao romper do dia, cinco horas e dez minutos da manhã com o sol a despontar do lado do farol; e, se andam rápido!

Ginasticando minha talassoterapia, cabeça de fora de água, assisto à azáfama dos donatários dos chapéus que aos poucos vão dando colorido à praia. Primeiro vêm o alinhamento de seu espaço; uns medem a paços, fazem um risco com o pé na areia, medem nove andamentos para um dos lados e assim esburacam a areia segundo os definidos alinhamentos. Alguns só tomam as referências habituais e logologo surgem os chapéus quadrados com uns quatro metros quadrados ou uns outros ainda maiores, hexagonais com um e meio metros de raio.

Pajuçara2.jpg E, surgem as pequenas mesas de plástico, duas ou mais cadeiras de recostar e um balde para o lixo. No espaço de uma meia hora dispõem uns 14 chapéus: cada donatário usa sua própria cor e normalmente têm números pintados como se o fossem mesas referenciadas duma esplanada. Minha cadeira e minúsculo chapéu ficam quase imperceptíveis, no meio do grande bazar que se monta pela manhã e desmonta pela tarde. Usam carros carregados à mão como se o fossem paus de arara sem máquina que irão ser depositados em lugares próprios para os estacionar, não longe da praia dos Sete Coqueiros…

Bem por detrás da fiada de altos edifícios, estando eu em um deles, existe a cidade antiga de casas baixas com ou sem quintal e é em alguns logradouros destas casas em banda, que guardam seus apetrechos, normalmente cobertos com uma lona de plástico. Do andar aonde me encontro ouvem-se de noite os cânticos dos granisés, capotas, codornizes e, até perus. Aqueles chapéus de praia são enterrados na praia em buracos bem fundos; para o efeito usam umas especiais enxadas com dois cabos que com forte ligeireza vão espetando e tirando areia para o lado até chegar à certa fundura.

pajuçara04.jpg Bem na sombra e por debaixo das amendoeiras da índia dispõem a caixas térmicas contendo as tapas que irão servir ao longo do dia. Têm até fogão para esquentar, gelo para esfriar e muita cerveja a estalar de fria. Mexendo-me com gestos aleatórios de ginástica variada aprecio durante uma hora, podendo ir até à hora e meia a este frenesim de trabalho. Meu espaço preferido é o do Alam, um simpático moreno que bem pela manhã me dá um longo adeus desde a areia, um bom dia e falas que por vezes não entendo direito, devido à lonjura. Agora, ele é o Alain Delon.

Ele queria saber quem era esse tal de Alain Delon e tive sim, de explicar que era um artista francês do cinema; ele desconhecia! Li em recente notícia que este, escolheu ter uma morte assistida o que, surpreendeu todo o mundo! Sabe-se que em época de crise aumenta o número de suicídios. Há quem afirme que esse é um fenómeno real, enquanto outros dizem não passar de mito. Apesar de toda controvérsia a respeito, é necessário reconhecer que algumas circunstâncias podem levar algumas pessoas a esse acto. Nesse sentido, o risco de que tirem a própria vida aumenta consideravelmente quando enfrentam, por exemplo, problemas financeiros... O que não parece ser este caso… O mundo enlouqueceu!

Pajuçara3.jpg Já sentado em minha cadeira distribuo alguns grãos de jinguba favorecendo a pomba “papoila” sem pernas completas, corto uma maça e depois uma laranja, vou até à água limpar o mike guiver multiusos e disponho-me a ler, melhor, a triturar o livro “ grande sertão, veredas” de João Guimarães Rosa. A senhora Rita Fiuza passa, pára e manda um convite para minha mulher Ibib ficar à espera a fim de irem tomar café e deitar conversa fora na esplanada do centro comercial Unicompras. Aproveito dizer que esta senhora é nos episódios de Fala Kalado com sua Fundação de Zumbi de N´Gola uma personagem no papel de psicóloga de meu amigo, (nem tanto) de outras guerras… “Para tirar o final, para conhecer o resto que falta, o que lhe basta, que menos mais, é por atenção no que contei, remexer vivo o que vim dizendo. Porque não narrei nada à toa: só apontamento principal, ao que crer posso…” Usando falas de Guimarães, me explico: por agora é tudo!

Entretanto nesta republicação em terras Lusas e a quase oito meses de guerra na Ucrânia (19.10.2022) Putin decreta Lei marcial nos quatro territórios, Kherson, Zaporizhhia, Donets e Lugansk, ilegalmente anexados recentemente à Russia. Em Kherson o exército Ucraniano parece estar prestes a ocupar a cidade…   

 O Soba T´Chingange (Otchingandji)

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:14
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Segunda-feira, 17 de Outubro de 2022
PARACUCA . LVII

MULOLAS DO TEMPO28

RECORDANDO: Nós, bazungus no XAI-XAI no Blue Dolphin Resort, Praia - 2ª de 2 Partes

- Odisseia “HÁJA PACIÊNCIA” - 4 de Novembro de 2018 – 48º e manhã do 49º dia - (dia 5, uma Segunda Feira)

Crónica 3274 – 06.04.2022Republicação a 17.10.22 em AlGharb

Porxiricuata5.jpgT´Chingange – No PortVille de Maceió do Brasil

INHASSORO 394.jpg This is África - Esta África tem estas indefinições para baralhar o turista habituado a ver uniformidade na urbanidade e sanidade. Por aqui podiam ver-se farmeiros “Bohers”, Sul-Africanos ou Rodesianos das bandas do Zambeze resistindo no tempo, fazendo turismo junto ao mar, bazungus como nós; Só que eles em geral continuam grandes, gordos, de olhos azuis vivendo seus costumes de andar descalços, como que atestando ser esta a sua terra. Também aqui estava verificando ao pormenor condições de aconchegar a velhice pisando areia burilada entre casuarinas.

Neste então um prego no pão podia ficar por cinquenta meticais, uma água grande cinquenta, e uma cerveja 2 M ou laurentina entre os cinquenta e sessenta meticais. Não é assim tão barato mas, a beleza do lugar parecendo sempre tão distante da civilidade, justificava a carestia. Ao longe as dunas divisoras do Índico tormentoso com choupanas penduradas nas encostas, isoladas entre si, ressalvam o caro das serventias. Num mundo perdulário de vagas promessas e compras sem troco, o acaso vira penumbra de carência: Não tem troco patrão! Sempre a mesma coisa…

Sem subsídios, velhos vagando pelas estradas resvalam conhecimentos de antigos expedientes a troco de meticais. Os profissionais, anunciam suas habilidades na permuta de convincentes percentagens; na terra de cegos, quem tem um olho é rei. Nos povoados não se vêm raparigas como as das cidades, perfumadas e com vestidos de seda; só capulanas, mesmo! Samora Machel, o pai da nação, tem a cara em todos os meticais. Na praça com o seu nome uns quantos catraios arrimam-se num banco escuro que já foi branco por debaixo de uma mangueira de uns trinta metros de altura; ao redor desta, dezenas de frutos ainda verdes, caídos na força do pau e pedra.

INHASSORO 262.jpg Um buraco de incineração de lixo resiste ao tempo por detrás do shoperite (mercado local) não muito distante da caixa de multibanco Millenium. Ao redor da praça muitos e pequenos mukifos na forma de casas apresentam-se a vermelho financiado pela “vodacom”. Tem tanto vodacom publicitado que ficamos sem saber qual é verdadeiramente casa dos telemóveis, dos celulares. Num largo de matope bem ao lado do shoprite naquela rua sem fim, “os chapas” recolhem fregueses com destinos vários: Xokwé, Chicuacuanda, Macia, Bilene ou Chissano.

E, aqui estamos nós e por gosto, de deserto em deserto, de terra em terra, de risco em risco colhendo os frutos das sementes, dos amigos construídos ao relâmpago, tornando-nos ricos porque em todo o lado nos chamam de patrões… Aquele que tem medo de correr riscos em sonhos de um novo agora com vontade e perseverança, torna-se pobre – são as balelas que dizemos quando recordamos aqueles momentos. O que posso dizer é de que nós adoramos áfrica mas ela, África, perdeu o encanto por nós bazungus; o que lhes interessa mesmo são nossos dólares, euros e outras divindades. Mas, em verdade é a de que todos homitem dizer isto!

Um amigo meu, angolano, preto de pai e mãe chamado de Isomar dizia: (…) Nunca a Europa “recebeu” tanta riqueza de África como após a chamada "independência dos Países Africanos"; os novos-ricos africanos apressam-se a “esconder” na Europa os produtos da sua criminosa delapidação, para gáudio dos Europeus - contrariando aquilo que eles próprios evocaram e prescreveram na convocação para a luta de libertação nacional. "Eu ir a Portugal algum dia?.. Nunca!.. Nem morto!"

niassa4.jpg – Disse em 1980, na idade de ouro do partido único do M, angola, erguendo o punho direito bem alto em sinal de sacro-juramento, em pleno comício em Benguela, um dos então carismáticos dirigentes da "Revolução Angolana", familiar próximo do Eduardo dos Santos. Ainda não muito longe no tempo, ele próprio, não só era frequentador assíduo e brioso de Portugal e "empresário português", como também era o orgulhoso presidente de uma agremiação desportiva portuguesa em Angola. Quase meio século mais uns pozinhos depois, podemos indagar se o IDH dos povos africanos subiu ou regrediu? Somos melhores tratados hoje pelos nossos irmãos dirigentes?

Já a caminho da praia do Bilene fizemos uma paragem na Cidade de Macia e esticando as pernas num jardim podemos apreciar o cacto de Machel, em verdade tem outro nome mas ocorreu-me chamar-lhe assim porque está situado na praça do fundador de Moçambique Samora Machel, bem ao lado do shoprite. Desde o café da Dona Ana em frente ao mercado shoprite e, do outro lado da estrada nacional nº 1, observo o movimento norte-sul e inverso, entre vendedores de castanha de caju que correm a cada paragem de carro, “os chapas", táxis vindos de muitos lugares. Após tomar o café expresso por quarenta meticais (1,11 euros), rumei ao longo do mercado de mukifos seguros com chinguiços ao alto e cobertos com chapas de zinco em desalinho, cartão, plásticos multicolores, a condizer com o mercado das calamidades… Nesta cidade de Macia, cruzamento para outros lugares rumo a Norte além Xai-Xai e Limpopo, seguiremos para a Praia do Bilene. A meio da tarde estaremos lá - as casuarinas, esperam por nós…

paulo7.jpg Glossário: shoprite: centro comercial; Vodacom: rede de telemóveis de Moçambique; Chapas: táxis combis, pequenos autocarros ou machimbombos; Mukifo: casas cubículos, anexo dos fundos, lugar reservado da casa. Mwadié – Branco; Mujimbo – boato, diz-que diz; Missosso – Conto breve de cariz popular em Angola; Tambulakonta – Toma nota, fica atento; Capulanas: - panos vistosos que servem de vestidos enrolados ao corpo; Bazungus: - turistas brancos, gringos; Mercado das calamidades: - alusão a um ex-mercado de Luanda em Angola aonde havia de tudo, desde pneus roubados a carros ou acessórios…(Após um roubo, dois dias depois poderia encontrar-se esse produto lá mas, adquiri-lo tinha o custo sem desconto mesmo que  fosse para o dono da coisa…)  

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:03
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Domingo, 16 de Outubro de 2022
N´NHAKA . XVI

ANGOLA, TERRA DA GASOSA . II

CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES

Lembranças actuais de escritos antigos - “Havemos de voltar”Foi em Julho de 2002

– Crónica 3273 de 05.04.2022 – Republicada a 16.10.2022 no AlGharb do M´Puto

N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…

Por soba02.jpg  T´Chingange

caricocos.jpg Voo TP, destino Luanda – Uma lufada de ar quente ao sair do Douglas no Aeroporto Internacional de Luanda, “Quatro de Fevereiro” em Belas. Momentos antes na acomodação da aterragem, já lusco-fusco, circunsobrevoavamos a Luua e, ali estava ela cheia de pontinhos de luz dando indicação do crescimento emancipado para mais além do que se poderia imaginar em 11 de Novembro de 1975 e, lá estava a ponta da ilha Mazenga e sua bonita baia de luz reflectida em nuances multicolores, os barcos, edifícios e, também uma nova coisa chamada de plataforma petrolífera, mesmomesmo na embocadura.

Do Morra da Cruz e em círculo, passando por Viana até quase ao Cacuaco, tudo é Luanda, não se distinguindo aonde acaba o musseque e começa a cidade; o centro perdeu-se numa imensidão de cubatas e, aí temos a grande metrópole com quase cinco milhões de habitantes (2002), a transbordar nas barrocas e linhas de água, que já o foram. A catinga sente-se no ar à mistura com estagnados descuidos de águas negras a céu aberto e, sem impedimento de se o notar; o costume habitua-se no urbanismo da normalidade…

Noutro dia e, à luz clara da manhã fresca deu para pisar o pó e as escorrências, sentir os cheiros fortes de mabanga e peixe frito em óleo de dendém, odores de lixo desentulhado com muita gente circulando, fazendo não sei o quê, talvez queimando o tempo e, cruzando arrepiadamente sobrevivências por todo sitio, ruas definhadas, esburacadas, ondulando o passeio, que o não é mais; asfalto malé, aiué…

mirangolos.jpg Na encosta do Prenda cortava-se a carapinha num telheiro meio chapa, meio palha e pedaços de taipa quase que meio por fazer e, mais ao lado neste pseudo cabeleireiro, lá estava a tabuleta “Salão de senhoras Dona Xepa” e no letreiro podia até ler-se: desfrisam-se cabeças. Se havia cor no imóvel, tinha fugido, faz tempo!... Vou tentar cronicar o que vi e, fazer retrato do que me apercebi com as inerentes dificuldades dum branco de segunda, quase preto por defeito e ousadia, que não esquece o calor daquela terra de quando ainda candengue pisou todo aquele espaço.   

Espaço que também me viu crescer amulatado de jeitos, crioulo mazombo de imperfeição. Mas, diga-se, o calor continua também naquelas gentes, com vontade de agradar; a amizade faz-se rápido, flui mais repentinamente num abraço de empatia como doença de querer. Desta feita assim ganhei mais um amigo de nome Humberto, rebaptizado de “Bien”. Foi ele o meu cicerone durante vinticinco dias e, é a ele a quem esta crónica é dedicada por agradecimento…

Foi ele, engenheiro Bien, formado em Cubano, natural do Sumbe, que me levou desde a foz do rio Dande, bem perto do Caxito, até ao dito Cantinho do Inferno. Aqui voltarei na descrição chegado seu próprio momento e, para não me perder no fio da meada dizendo do resto aonde me levou que, assim será na ordem cardial e para Sul com o Porto Amboim, Sumbe, antigo Novo Redondo, Canjála, Lobito, Benguela e Baia Farta.

moka31.jpg Bien, ex-comandante, formado em Cuba, técnico de Construção Civil. Como tantos outros neste momento (2002) está no desemprego mas, sempre há um mas, desenrasca a vida peneirando diligências aqui e ali furando o esquema; comprou uma roulotte e, lá para os lados do Sambizanga tem uma catorzinha a vender peixe frito, banana assada, pasteis e cachorros quentes de pastas coloridas oriundas dos tomates e outras especiarias, mais cerveja cuca quando a há e, também quando calha, se acomoda com ela nas ternuras do farfalho…

Bien, o ex-comandante, engenheiro de desenrasca, diz que são necessidades fisioterapeutas. Só que lá no Sumbe e Benguela também tem mulher e filhos, pois! Mancomunou a vida aqui e ali soldando avarias pelas técnicas aprendidas em Havana e, ali nas facilidades acostumadas de suas terras, comunga tudo com as saias desprendidas e a isto, disse-me não ser de ferro. Em verdade, há trechos em que nossa vida amolece a gente, tanto, que até num referver de bom desejo, no meio da razão sempre vem um benefício…

Passados que são mais de vinte anos, recordo de novo nesta data para que conste na Torre de N´Zombo do Kimbo, a biblioteca base desta existência…

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)               



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:38
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Sexta-feira, 14 de Outubro de 2022
N´NHAKA . XV

ANGOLA, TERRA DA GAZOSA . I

CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES

Lembranças actuais de escritos antigos - “havemos de voltar”  

Crónica 3272 em Coimbra – Republicação a 14.10.2022 em Lagoa do M´Puto

N´nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios em zona plana e húmida, horta…

Por roxo135.jpgT´Chingange no AlGharb do M´Puto

roxo92.jpg Matrindindi é uma carocha de perfil pré-histórico, talvez um normal insecto coleóptero do género do escaravelho, só que este é muito mais extravagante, de cor escura e com muitos picos; mais parece obra deformada de bruxa ruim; O Land Rover pisava-os sem alternativa e sucediam-se estalos chocantes como de castanhas a rebentar no calor da fogueira (estávamos no ano de 2005, em Porto Amboim)

Quatro anos depois - Coimbra. Já estávamos quase, quase no ano de 2009. O tipo tinha pinta de kazukuteiro, barba grisalha com mancha ruiva de mata ratos ou maconha. Falava com um casal de meia-idade na paragem do machimbombo do mercado municipal; todos esperávamos o nº 7 do Tovim.

matrindindi00.jpgO dito casal tentava não lhe dar atenção e fiquei com a nítida impressão que o sicrano estava cambulando uma gasosa para alimentar o vício. Subiram no machimbombo. O fulano deu-me prioridade e eu, sério, recusei com um obrigado e, vi com os meus olhos que este dito cujo, tirou a carteira de couro, fingiu passar um cartão no traga bilhetes e na maior, seguiu para um banco lá atrás, depois de cumprimentar um perneta de muletas ao lado.

Fiquei intrigado e com raiva pensativa dele, pois que me distraiu de pensamentos recentes de coisas vistas, e que tentava reter em memória. Uma voz suave de senhora falou do tejadilho, Floriano Peixoto número um e, seguiu-se a dois mais a Cruz de Celas. O casal desceu. Aquele tipo, quando viu a saída do casal também se levantou e com estes, saiu. Reparei com mais pormenor no rabo-de-cavalo amarrado por um elástico fazendo banga de estilo ladino. Deixei de os ver na esquina da Caixa Geral de Depósitos.

roxo90.jpg Como os pensamentos voam mais rápido que caneta com dedos, anotei no telemóvel o que antes tinha lido no muro perto da Universidade para não esquecer: - A morte serve-se a quente! E havia um A com um círculo a circunscrevê-lo, tudo em cor azul - Não a deixes arrefecer! Logo por debaixo a tinta preta.

Ao sair da Dolce Vita vi uma carrinha de caixa aberta pintada a camuflado apetrechada para a mata tendo nas portas os seguintes dizeres em círculo a contornar um coração vermelho com uma mola curva, varando este: - “Corpo especial de vigilância. VERGAMOLAS”; tal e qual como a carrinha 4 * 4 que eu idealizei para o “Kimbo Ot´xicoto Lodge” em terras de Sumbe bem perto do rio Cubal.

Aida em pleno centro histórico de Coimbra, tirando uma foto à torre Almedina alguém querendo uma informação perguntava-me se eu era dali ao que respondi não. Repeti mentalmente, só para mim: - Não sou daqui, não sou daqui, não sou daqui! Mentia-me.

roxo102.jpg Lembrei-me do livro que tinha na mesinha de cabeceira do meu mais contemporâneo amigo José Eduardo Agualusa. Parecia estar a fazer-me uma entrevista: Pópilas! Mas, tu cantas o hino do puto “ os meus egrégios avós”. Logo, logo…, os teus avós eram angolanos. E, a falação continua comigo a responder: - Não! Eu sou mesmo daqui! Sou um Tuga Niassalês! Deixa-te de finfias meu. Tu és um angolano nascido no M´Puto.

roxo213.jpg Já estava noutra, lembrando-me do sonho futuro que ainda era presente, a minha cubata no platô do Cantinho do Inferno muito perto da foz do rio Cuvo, na praia dos matrindindes. A serra do Chamaco via-se ao longe, como teta saliente na cordilheira, no caminho de Seles e, na vasta região uma floresta de espinheiras, acácias com picos medonhos, pau-ferro, babosas, newas, matebas, lengues e lungwengus e um letreiro na escola da Canjala “havemos de voltar”

Ilustrações de Assunção Roxo

O Soba T´chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 21:56
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Quinta-feira, 13 de Outubro de 2022
PARACUCA. LVI

MULOLAS DO TEMPO 27

RECORDANDO: Nós, bazungus no XAI-XAI no Blue Dolphin Resort, Praia - 1ª de 2 Partes

- Odisseia “HÁJA PACIÊNCIA” - 4 de Novembro de 201848º dia - (um Domingo)

Crónica 3271 – 04.04.2022 em Maceió – Republicada a 13.10.2022 em AlGharb do M´Puto

Por xai xai02.jpg T´Chingange – No PortVille de Maceió do Brasil e Lagoa do AGharb

tuiui3.jpg Fomos para lá para ficar junto ao índico e assim tomamos bivaque no aprazível Blue Dolphin Resort… Xai-Xai é a capital da província de Gaza em Moçambique. A povoação foi fundada em 1897 com o nome de Chai-Chai, sendo elevada a vila em 1911. Em 1922 passou a designar-se como Vila Nova de Gaza para logo em 1928 mudar o nome para Vila de João Belo, em homenagem a um antigo administrador português. A vila foi elevada a cidade em 1961, para depois da independência nacional voltar ao nome original, desta vez com a grafia Xai-Xai.

Dista 224 km, a nordeste, de Maputo, situada no vale do rio Limpopo, sendo banhada por este rio alguns quilómetros a montante da sua foz. Moçambique tem uma costa fenomenal e, para além de bonita tem como que um perfume preso em um frasco que se não o usarmos naquele tempo e espaço próprio, ficaremos com dormências na saudade dum porquê não viu isto e aquilo. Pelas muitas carências e falta de trabalho, os habitantes inventam ganhar dinheiro fazendo falcatruas, desenterrando carros, cobrando e, logo a seguir tapam o buraco para outro incauto cair na rede; se me contassem nem acreditava…

Numa vasta planície aonde o Limpopo transborda seu leito quando abunda a chuva, a natureza trata de si: morre um capim, nasce outro. Silenciando alguns instantes, abasteci de calma o estouro da ira em pequenos contratempos; nesta pequena coisa, Chico Xavier, o espirita, possivelmente neutralizou-me os actos com seu perfume metido num frasco de nitrofuranos. A partir dos setenta anos, as pequenas coisas da vida gratificam na continuidade; é o cheiro matinal do café que fumega num alpendre aonde caem flores de cajueiro mais o sol que nasce com quentura por detrás de um trilião de acácias de picos medonhaveis…

xai xai5.jpg Surge o rio Limpopo e naquela curta ponte tivemos de pagar a respectiva "quinhenta", portagem estabelecida por quem de direito, fazendo justiça à nobreza do rio adicionando carecidas necessidades. Em Chiboma paramos p´ra fazer necessidades e meter conversa com amigos de tempos antepassados. As mulheres de capulanas garridas cercaram-nos oferecendo produtos vários, o negócio sobrepunha-se à vontade de comer, talvez sim, ou não, porque elas estavam em algazarrada diversão; no chão estavam desordeiramente expostos os produtos da Machamba.

Demos boleia a Lussinga deixando-a na machamba, um mistério de mulher procurando o fantasma de seu marido e da família só falada porque o resto esfumou-se no tempo das falas dela como a luz fumegando no branco frio do capim, as rolas que gemem, capotas que riscam chão desprendo dele calor de cazumbi. África dos grandes espaços, mulheres curvadas plantando milho nas lezírias contornadas com verdes arbustos de massalas. De pé lançavam uma sachola, cabo comprido, o ferro ancho furando o nó do pau sem cunhas, abrindo buraco no chão, atirava um milho para lá, a seguir tapa com o pé, tudo sem dobrar a espinha, técnica apurada na experiência do pontapé…

Xai-Xai no Blue Dolphin Resort Praia, é um óptimo destino de mergulho, especialmente para iniciantes e crianças com seu recife calmo e protegido, dizia assim num poster grande já semi esfolado pelo arenoso vento. Após se ter percorrido uns quantos quilómetros a passo de caracol, seguindo carrinhas de caixa aberta com suas cargas de colchões, cadeiras de plástico, penicos e plásticos coloridos encimados por bicicletas; tudo queria saltar pela força do vento com areia quente das terras sem chuva por vezes e, noutras com demasiada.

xai xai6.jpg Se és um mergulhador entusiasmado, então vais adorar mergulhar em Xai-Xai O recife offshore corre paralelo à costa por quase um quilómetro e, na maré baixa, expõe um enorme poço de rica vida marinha. Vários pequenos afloramentos rochosos é o lar de uma variedade de peixes incluindo borboleta, wrasse, peixe leão, enguias morais, estrelas-do-mar e até tartarugas que são vistas com regularidade. Xai-Xai é um óptimo destino de mergulho, especialmente para iniciantes e crianças com seu recife calmo e protegido. Apanhei e comi ostras metidas em conchas da Shell – nas mesmas formas que vi em Santiago de Compostela encimando a porta de Portugal 

Nas cidades e lugarejos, ao longo da via principal e demais artérias, desordenadamente vende-se de tudo, coisas de comer do lado esquerdo e apetrechos de casas ou indústrias artesanais do lado direito, tudo se encontra exposto ao tórrido sol. Peixe seco, batatas, quiabos, pimentos e demais géneros são amontoados em bacias, antigos baldes de tinta ou amachucadas latas de azeite galo com preço certo para facilitar trocos; ao lado dos moveis um mukifo de esteiras mostrando quadros com queimadas do mato, moldes em ferro para fazer tijolos em barro ou argila, pneus usados já com jantes e por detrás de tudo um amontoado de carcaças de velhos carros indicando haver ali um mecânico. Isto é áfrica (this is áfrica…)…

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:28
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Quarta-feira, 12 de Outubro de 2022
KALUNGA . XXXII

KIANDA COM ONGWEVA NAS FRINCHAS DO TEMPO - XVII de várias partes…

Crónica 3270 de 02.04.2022 no PortVille da Pajuçara em Alagoas do Brasil – Republicação a 12.10.2022 no AlGharb do M´Puto

Desabafos do Conde de Sant German no Museu do Prado em Sevilha…

Ongweva é coração com saudade 

Por salazar03.jpgT´Chingange (Ochingandji) – Em Alagoas do Brasil e Lagoa do M´Puto

Ian Smith.jpg Em 1965, na sequência de demoradas e infrutíferas negociações com o governo britânico, Smith declara a independência da Rodésia. É o Conde de Sant German que continua descrevendo sua experiência em África: Cumpre ressaltar as páginas elogiosas que Ian Smith dedica a Salazar e a Portugal a quem rende sincera homenagem à nação euro-ultramarina que, com a nobreza da simplicidade e a força de seu carácter, cumpria a missão histórica do povo. Muitos, acapachar-se-ão na retorica do ditador sem contudo demonstrar esse acto de coarctar a bem da Nação, como era apanágio dizer-se em causa pública.    

Claro que não falava para uma plateia de estudantes encapuchados com suas novas ideias, novelos de linhas políticas emancipalistas no tanto quanto chega. Nós, eu e Januário somente o ouvíamos! Salazar, defendia com determinação os seus legítimos direitos e interesses perante os mais fortes do mundo. Ele, Salazar, foi um estadista excepcional, cuja craveira intelectual e moral deixaram nele, Ian Smith uma impressão única e indelével. Aqui, eu falei: - tomara termos hoje no M´Puto gente com a craveira dele!

Niassa1.jpg Foi o Conde de San German que destrinçou esta parte da estória que os historiadores pulam por conveniência ou falta de caracter. A Grã-Bretanha, empenhada na sua demissão histórica, anuncia a dissolução da Federação das Rodésias e do Niassalândia com vista à formação de Estados “independentes governados por maioria negra. Smith é o único do seu partido, lá em Londres, a manifestar oficialmente a sua desconfiança em relação à proposta explicitada por alguns lordes. Para ele, a Inglaterra, no afã de obter a simpatia de afro-asiáticos, Estado-Unidenses e Soviéticos, estaria disposta a liquidar o seu “problema colonial” com o abandono puro e simples da população branca; não há outra forma de o dizer…

E, continua: - os mesmos indivíduos que no conflito mundial de 39-45 deixaram a paz dos seus lares para irem arriscar as próprias vidas no socorro à Grã-Bretanha. Foi o caso dele! Em 1964, dez anos antes da abrilada portuguesa, Ian Smith é eleito primeiro-ministro. Numa visita oficial a Lisboa encontra-se demoradamente com Salazar e este diz-lhe declaradamente que os rodesianos seriam traídos pelos ingleses.

NIASSALÂNDIA1.png Esta novidade apanhava-me de supetão pois sempre me pareceu ser Salazar um tanto ou quanto submisso às directivas diplomáticas dos fleumáticos britânicos. Mais disse que enquanto ele fosse Presidente do Concelho em Portugal, prestaria o auxílio necessário a Salisbúria (a actual Harare). Pouco depois, aqueles a quem Fialho de Almeida chamou de “carrascos ruivos do Tamisa”, concretizariam o que o estadista português preconizava. Sabemos agora que na surdina diplomática, alguns de seus compatriotas Tugas se enfeudavam em secretas manobras de desestabilização.  

A lembrança deste encontro profético em São Bento ficou para sempre gravada na sua memória, plenamente convencido de que, se Salazar tivesse vivido dez anos mais, a Rodésia teria sobrevivido. Em 1965, na sequência de demoradas e infrutíferas negociações com o governo britânico, Smith declara a independência da Rodésia. Sua vida política passa então a reger-se quase que exclusivamente por duas constantes: a neutralização dos efeitos das sanções impostas pela ONU, sob a batuta de Londres e Washington; e o combate ao terrorismo e à guerrilha de obediência comunista que faziam a sua desumana entrada no território.

niassaland4.jpg E é agora e por intermédio desta kiandisse, assim calhou, que me é dado conhecer toda a arte de velhacaria que invadiu o dito mundo moderno através dos arautos da verdade, os primos Ingleses e americanos que continuam a ditar leis aos outros povos, sabendo à partida que é tudo uma utopia ou farsa. Nós, que estamos vivendo os problemas que nos cercam, podemos dar a importância devida ao que engloba este nosso recente passado para rectificarmo-nos ou ponderarmos sobre o nosso futuro tão incerto.

niassaland00.jpg Sabemos bem o que ocorre hoje nestes territórios que ascenderam à independência às pressas, de uma gestão catastrófica de puros ditadores e, do silêncio ensurdecedor dos órgãos de informação internacionais como que, obedecendo a uma nova ordem mundial. Estas falas em um amplo corredor do Museu do Prado foram insólitas mas, até que foi bom inteirar-me delas mesmo que fugindo um pouco à ideia da estória com as calungas. Decerto iremos apanhar o rumo à estória das kiandas que se segue…Também fico curioso.  

(Continua…)                            

O Soba T´Chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:40
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Terça-feira, 11 de Outubro de 2022
MOAMBA . LI

MOAMBA DE QUINTA – ALGURES NO BUCO-ZAU2ª Parte

CABINDA NO ANO DE 1968 (FOI HÁ 54 ANOS) - ANGOLA

Crónica 3269 - No PortVille da Pajuçara de Maceió – Republicação a 11.10.2022 no AlGharb do M´Puto

Por CABINDA5.pngT'Chingange – Na Pajuçara de Maceió E AlGharb do M´puto

cabinda7.jpg Naquela terra, este sítio, só o nome subsiste ao salalé; ficaram restos de troncos e, alguns já só eram tábuas avulso ladeadas ou cobertas por capim, abraçados por trepadeiras canibais. Naquele desalinhado jardim, um verdadeiro refúgio de cobras de mamba negra e cipó mais surucucu, kissonde e elefantes num fim de missão medalhada a medos, fiz amizade com um Gorila do Maiombe.

O dito cujo, sentado no topo das tabuas por aparar, olhava para mim de peito feito, sorrindo de susto ousado; Seguiram-se outros instantes muito cheios de adrenalina e assim na crescente empatia tornamo-nos amigos! Ao cair da noite o meu amigo gorila a quem dei o nome de Felizmino, lá estava naquele sítio, topo das tábuas; num cada vez mais aproximados fizemos amizade dando-nos ao luxo de trocar sons de guinchos e rapidamente aprendeu o dóremifasolasi com topariobé na mistura!

Num jogo de esconde e foge comprava sua amizade oferecendo-lhe bananas ouro e prata mais de maça, Foi um entendimento superior às nossas competências chegando no escorrer do tempo em um tu-cá tu-lá de irmãos. Um dia fiz uso de um estratagema, meti numa cabaça uma boa quantidade de jinguba e prendi-a com um baraço e arame a um chinguiço saliente de entre as tábuas do tal ex-Anibal, o madeireiro. Felizmino não resistiu à tentação, meteu a mão na cabaça, encheu seu punho e,…nada de largar; assim ficou prisioneiro da sua própria gula.

maun8.jpg Reganhando o dente aos poucos amaciou empatia com minha pópia já não de todo desinteligivel. Soltei-o com afagos e carinho ficando a partir de então amigos. Ele e eu guinchávamos amizade e por este acontecido dei ao Felizmino o sobrenome de Gorigula. Fora de portas d´armas e arame farpado eu e Gorigula fomo-nos isentando de medos, conservando gestos subservientes de baixar a cabeça procurando um afago de catar amizade.

Um dia apareci com um baralho de cartas e, na mesa improvisada espalhei os paus, as copas, os ouros e catanas e, num repente surpreendemo-nos a jogar sem regras. Entretanto falava-lhe das minhas alegrias, num faz de conta e, ele se desentendia largando as copas; entre paus cambalhotava-se como um doidão e, eu gesticulando graças sem coreografia como só mesmo para espantar suprimentos da fala. Estávamos com uma dança com doidos quando da mata veio grande alarido, rebentamento de granadas, rajadas e bazucadas; era uma emboscada!

Escorreguei entre lianas, cipós húmidos e folhagem impregnada de aranhas até que, parei na berma, justamente ali na curva da morte aonde os restos dos camaradas se dispunham desalinhavados ao longo da picada do Massabi. Morreu o Rodrigues mais o Junça! Estes tempos amachucados da estória, foram apertados - as vergonhas alheias da vitória ficaram na certa numa luta que continuou sempre muito traída. Até cheguei a pensar que Deus era ateu, uma heresia de todo o tamanho, diga-se em abono da verdade.

mai7.jpg Do Felismino Gorigula ficou um sonho incompleto! Em verdade ele falava espanhol – o sacana enganou-me por completamente. Ele era do MPLA, um genuíno filho da mãe …Pulando em cima dos troncos da serração do Aníbal, com braços abertos gesticulava uma catana cortando o vento com fúria como se fosse um ninja. De uma das mãos lançou um ás de copas que baloiçou até meus pés e ouvi mesmo: La vitória és cierta! La lucha continua! O Gorigula tinha sido um companheiro do Ché Guevara; Quem ia adivinhar!? Vim a saber muito mais tarde. Desconsolado ainda pude ver-me na lagoa do Bumelambuto a fumar liamba com o Alexandre Tati e seus Mpalabandas, para consolidar infortúnios de salalé…

Agora, longe daquele lugar, revivendo juventude desperdiçada e por coisa nenhuma duma guerra que em nada resultou para além da independência, que virou de tundamunjila (thunda mu n´jilla), vai para a tua terra branco de segunda, gweta e mazombo, assim foi e assim segui meus rituais cristãos de missionação na diáspora botando cazumbis nas malambas e crenças de N´Zambi. Quase quatro anos perdidos… Encafifado num reencontro de meus folgados calções zuarte amarelos e as encarquilhadas sapatilhas de marca “michelin” ainda sigo com os olhos feito ouvidos e afiados, olhando a etiqueta do espólio feito no RI2O da Luua. Na etiqueta que tirei da caderneta militar consta o ano de 1966 – Escola de Aplicação Militar, Huambo… Fui!    

bay0.jpg  Glossário:

Fiote:- Natural de Cabinda, Imbinda; Bikwatas: - Coisas, trastes; Alambamento: - Casamento: M´palanda: - Libertador de Cabinda, defensor de seus direitos; Salalé: - Formiga que se alimenta de madeira apodrecida; Turra: - Guerrilheiro; Muxoxo: - Um estalar de palato com queixo inferior descolando a língua formatando assim um desdém sonoro mas, sussurrado; T´chindere: - Branco; Topariobé: - Vai à tuge; M´Puto: - Portugal… 

 O Soba T´Chingange  



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:53
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Segunda-feira, 10 de Outubro de 2022
MOAMBA . L

MOAMBA DE QUINTA – ALGURES NO BUCO-ZAU1ª Parte

CABINDA NO ANO DE 1968 (FOI HÁ 54 ANOS) - ANGOLA

Crónica 3268 - No PortVille da Pajuçara de Maceió – Republicação a 10.10.2022 no AlGharb do M´Puto

Por CABINDA2.jpg T'Chingange – Na Pajuçara de Maceió

CABINDA3.jpg Algures no Buco-Zau -- De uma das mãos lançou um ás de copas que baloiçou até meus pés e ouvi mesmo: La vitória és cierta! La lucha continua! O Gorigula tinha sido um companheiro de Ché Guevara… Naqueles longínquos anos de entre sessenta e setenta do século passado, o XX, todo metido na Mata do Maiombe, tropeçando na força das circunstâncias e num entretanto que só durou quatro anos, a guerra foi um conjunto de acidentes suados a paludismo.

De um para outro lado, subindo e descendo rios procurando rastos com o soba Mateus à frente, barafustando com o ar e cortando capim à catanada, pisando charcos infestados de sanguessugas, larvas com milhões de patas e escorpiões pretos e pré-históricos a fingir de lagostins. Buscando turras num secalhar perdido entre a bruma e o cacimbo, o gozo da liberdade corria como se a vida fosse um jogo de poker, num azar de tomar pastilhas vermelhas para anular maleitas com micróbios fosfóricos na única água estraganada que havia.

CABINDA5.png Com as costas das mãos afastávamos as bicharias visíveis e, em seguida engolíamos aquilo escorrendo da mão ou numa qualquer folha verde a jeito com um comprimido vermelho de mataratos. Guardando soberania da pátria do M´Puto, camuflados ensopados até o tutano, assim seguíamos em fila de pirilau, duas granadas presas ao peito, uma G3 em riste mais uma cartucheira repleta de balas para o que desse e, viesse.

Atrás uns dos outros na forma de pirilau, ouvíamos os gritos da floresta, o piar dos pássaros e o grasnar de fantasmosas, sombras que se moviam como olharapos entre o ripado verde com troncos disformes e veias salientes segurando esguios troncos sequiosos de luz, outros disformes esfarelando-se na velhice como abatises para alimentar bichezas rastejantes; a mente medrosa fazia-se ali num jardim de cânticos surdinando mugidos e muxoxos numa raiva sossegada.

CABINDA4.jpg O barulho do helicóptero chega zunindo e na forma de parafuso baixa suave até ao centro da mata, uma clareira junto ao rio Luáli, um afluente do Chiloango. Buco-Zau era um lugar rodeado de um escandalosamente verde variado e húmido, um conjunto de casas e armazéns rodeados de árvores majestosamente nobres e, mais além um conjunto de cubatas unidas por um terreiro, uma quase colina rodeada de cacaueiros e um ou outro pé de cafeeiro aonde já se podiam distinguir bagas vermelhas.

As casas grandes como as do M´Puto, umas com beira outras sem ela, pertença de administradores e capatazes T´chinderes, dispunham-se alinhadas com cobertura de zinco já na cor de um castanho enferrujado. Enquanto a casa principal da roça era coberta a quatro águas em telha de canudo luso ou marselha e sacadas a quase todo o seu redor, as outras, mais modestas, eram cobertas só a zinco mas, e também com folhas de palmeira ripada e entrelaçada na forma de loando.

cabinda8.jpg Pretos em tronco nu cruzam-se com bikwatas ou ferramentas pendendo dos ombros enquanto as mulheres envoltas em panos com a esfinge de Mobutu, Mugabe ou do Idi Amim, levam quindas na cabeça, acanguladas de grãos. Dos corpos musculosos daqueles Fiotes (Imbindas), a catinga suada escorre-lhes como brilhantina escura e luzidia como pele de mamba brilhante, pegando-se ao cacimbo intensamente chovediço.

Depois de um gim com água tónica, numa daquelas paragens de soberania no Necuto, tirei uma foto com a Charlotte, uma negra que fugida do Congo Zaire pediu boleia ate ao sítio do primo, com quem tinha promessa de alambamento. A foto com aquela negra de feições árabes crê-se ter ficado em uma caixa de sapatos na guerra posterior do tundamunjila. Isso! A guerra do setentaecinco-pkp! Subindo o rio Inhuca, chegamos ao Sanga Mongo, um lugar para lá das traseiras do tempo, mais longínquo do que as Bitinas e a antiga Serração do Aníbal Afonso que naquele agora só existia no nome.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:44
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Domingo, 9 de Outubro de 2022
MOKANDA DO BRASIL . XIX

Reino do Kongo e N'Zaire

Crónica 3267Pajuçara - 30.03.2022 – Republicada a 09.10.2022 em Lagoa do M´Puto no AlGharb

Porangola colonial.jpgT´Chingange - Pajuçara, FortVille de  Alagoas, Brasil e Lagoa do M´Puto

aqualtune.jpg Agora que ando a rever a estória ficcionada do Kilombo dos Palmares, recordo que Aqualtune foi uma princesa africana escravizada no Brasil e líder quilombola à frente de um dos 11 mocambos dos Palmares...

Aqualtune terá liderado, em 1665, uma força de dez mil homens na Batalha de M`bwila (na actual Angola), entre o Reino do Kongo/N'Zaire e Portugal, tendo sido capturada por via da derrota...

Sua experiência e resiliência de N'Gola, foi fundamental na consolidação do Estado Negro, da suposta República de Palmares. Foi a avô materna de Zumbi e mãe de Ganga Zumba, tio deste...

niassa11.jpg N´Zumbi degolou seu tio por via de discordar da diplomacia que este encetava com os governantes, agentes do Reino do M'Puto.

Dizia-se então que o "macaco, mesmo coberto com a pele de um leão, é sempre um macaco". É este, um eufemismo africano. pelo que, não me julguem de coisas já ditas por muitos, em tempos periclitantes... Por alguma razão aquele Kilombo, era conhecido por Morro dos Macacos.

A estória pré-moderna de Angola tem início no ano de 1556 nas margens do rio Dande. Neste ano, dá-se uma batalha entre forças de N'Kongo e N'Zaire e os ambundos (m'bundos) de N'Gola. Foi o início da história de consolidação dos reinos divididos.

Mu Ukulu55.jpg Em 1581 N'Gola Kilwanje tornar-se rei dos territórios do Dande, Dombe e Matamba tendo a ilha de Luanda como banco central - Os n´zimbos e caurins, conchas da Mazenga. Com o tempo vamo-nos reconstruindo...

N´Zumbi, nasceu livre em terras do Nordeste em 1655 e morreu a 20 de Novembro de 1695. Em homenagem a todos os negros que lutaram para se libertar do jugo da escravidão, o Brasil considerou este dia como Feriado Nacional “O dia da Consciência Negra”.

Naquele tempo distante não havia a impunidade aos políticos que cometiam crimes comuns; o menor desaire pagavam com a vida ou eram lançados nas calendas da escravidão – vendidos ao desbarato como coisa ruim enriquecendo os negreiros.

mocnda10.jpg O Foro Privilegiado não podia acobertá-los porque era instituição ainda não inventada. O único direito absoluto do parlamentar de então era usar alpercatas com tiras de hiena e umas peles mal curtidas a servir de tapa rabos e uns dentes de facochero a alindar as orelhas. Não existia o direito intocável à livre manifestação nem o Foro de S. Paulo estava previsto como sendo o futuro com gente “sem terra” a tomar posse dum qualquer pedaço de terra levando somente um estandarte vermelho para assegurar imunidade das autoridades. Fora do direito à plena expressão, qualquer delito era naqueles idos tempos, punido exemplarmente – com prisão. O voto popular (um mecanismo de escolha) não existia nem era passaporte para bandidagem …

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:20
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Sábado, 8 de Outubro de 2022
MISSOSSO . L

NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…

COM FALA KALADO - Crónica 3266 15ª de Várias Partes – 28.03.2022 m Maceió – Republicação a 08.10.2022 no AlGharb do M´Puto

Por  zulu1.jpg  T´Chingange – Na Pajuçara do nordeste brasileiro e Lagoa do M´Puto

araujo158.jpgCA - A hora aprazada para o almoço com o Comendador, ex-coronel Fala Kalado, era invariavelmente às 12 horas e 30 minutos pelo que tivemos de suspender a visita ao Morro dos Macacos, também conhecido por Serra da Barriga e assim, chegados à entrada do Imbondeiro, um cipaio com cofió, armado com uma espécie de arcabuz, mas moderno, mistura de metralhadora FP com Kalashnikov que, com apresentação de armas à maneira tradicional, nos deu triunfal entrada na casa d`jango do patriarca da Fundação Zumbi de N´Gola…

Havia câmaras por todo o lado e duas fiadas de arame que me pareceu electrificado pois que reconheci haver uns quantos isoladores ao longo da cerca exterior. Já era sabido por mim ter de manter segredo das instalações pelo que nem foto, eu na qualidade de Zelador-Mor ou um qualquer, poderíamos dali tirar. Na antessala do d´jango coberto a capim, um espaço de piso em tijoleira vermelha, já ali estavam esperando a comitiva dos ilustres, da qual eu fazia parte, Andrey Blazhe biólogo da Bulgária, a psicóloga Rita Fiuza, o Arquitecto Luiz Cateriangongo, o geólogo Patriniche de Gusmão e o historiador Vizeu Antunes.

araujo176.jpgCA - Podia assim depreender estar perante a primeiríssima Reunião Magna para assim se selarem os compromissos de fidelidade à causa. Havia outros elementos dos quais dois fardados a rigor e com medalhas pendentes em seus peitos. Suas fardas eram até um pouco estapafúrdias pois que em tudo se assemelhavam às mesmas vestimentas usadas nas colónias com chapéus feitos em cortiça bem ao jeito dos antigos exploradores em áfrica; também usavam calções folgados do tipo zuarte a condizer com suas balalaicas de muitos bolsos e, suas divisas eram flechas; um tinha duas, o outro, quatro.

Os cumprimentos foram rápidos e após tomarmos uma bebida de bolunga feita de múcua e leite azedo, um pouco ácido até, mas bem refrescante, assim como uma praxe de boas vindas todos entramos a tomar nossos lugares marcados. Estranhei todos eles beberem aquilo que sendo bom, não era habitual e também eu mesmo no meu papel de alta instância, desconhecia – em verdade até bebi a medo, não fosse um daquelas mistelas venenosas; mas, ficaria mal não o fazer! Pópilas, isto de descrever ao pormenor todas estas traquinices, arrepia, arriscar a vida só por um entretém…  

araujo182.jpgCA - Era uma mesa bem comprida. No total eramos dez pessoas e dispusemo-nos segundo as placas a assinalar nosso lugar, oito civis e dois militares-cipaios. Um chefe de cerimónias lá bem no canto, com lacinho e tudo, tocou um sino e ai vem ele. A chefe de cerimónias Rosa Casado, ladeando o Ex-Coronel, Comendador, sentado em uma cadeira de rodas tipo poltrona e, também uma senhora vestida de branco e com uma cruz vermelha no peito, entraram na ampla porta, na que tinha a bandeira actual de N`Gola bem por cima. Um gigante negro parecendo o auxiliar do Mandrak, Lothar, fazia deslocar a cadeira-espacial poltrona.

Aí estava o Comendador FK! Até chegar ao topo da mesa, seu lugar, veio com a mão levantada ao jeito de saudação. Todos nós estávamos perfilados junto a seus lugares e só quando a poltrona encostou à mesa é que todos se foram sentando. O Comendador, ex-Coronel tinha um semblante aberto de sorriso e olhando para mim bem do lado direito, acenou a cabeça como em cumprimento especial à minha pessoa, o seu antigo camarada da guerra do Maiombe, furriel Mike da Companhia do M´Puto 1734. O tempo sentia-se rugir em nossos esqueletos.

xiricuata1.jpg Rosa Casado, a chefe de protocolo, fez uma prelação rápida mencionando ser este um momento alto e explicitando as vontades do Comendador ditas ou escritas de quando lucido de seu perfeito juízo pelas consequências dessa tão vil doença de alzheimer. Andrey Blazhe,o biólogo da Bulgária, disse estar já bem avançada uma vacina contra Alzheimer em seu laboratório mas ainda havia muito por fazer. O almoço foi de muitos pequenos requintes, servido por gente de laçarote e destacou-se sim a tal falada muamba de galinha de angola; em verdade eu acho que era faisão bem apodrecido! No final, tiramos uma foto ladeando o distinguido Comendador para que o registo fosse feito com as alvissaras da Torre do N´Zombo…

Podia aqui perder-me em descrições mas, só direi que na mesa e a ladear o excelentíssimo FK estavam os oficiais cipaios de flechas verdes, depois vinha eu, O zelado-Mor do lado direito e tendo em frente o Presidente do executivo da Fundação, Arrais de Cantanhede. O salão era amplo, no tecto havia asnas de madeira trabalhada e, num dos topos, como já disse, havia a bandeira de Angola. No outro topo estavam as fotos em grande de N´Zinga, do Zumbi e Aqualtune. Nas laterais havia quadros de distintos reis de Angola, como Mandume, Ekuicui II, Ana de Sousa, Kiluange Kiassamba, Jinga Ambandi, Jinga Malaio, Jinga Amora e dois destacados cidadãos conhecidos por Kaparandanda e Ganga-Zumba…

lustrações de Costa Araújo

(Continua…)

O  Soba T´Chingange

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 17:39
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Sexta-feira, 7 de Outubro de 2022
MOKANDA DO SOBA . CXCIV

ANDAMOS A VIVER DIAS MENTIROSOS

Crónica  3365 de 07.10.2022

Por  arau1.jpg T´Chingange (Otchingandji) em Lagoa do M´Puto

UCRANIA4.jpg Andamos a viver dias mentirosos. Acho que Deus Nosso Senhor, não quer consertar nada a não ser pelo completo contrato da morte pois permite que seus súbditos na terra descumpram a palavra dada sem que o Sol se ponha, uma espada de aflição muito cheia de ranhuras de aflição. Dou conta disto por ver o que se descumpre quebrando qualquer regra de bom entendimento – cuspir repetidamente no próprio verbo.

Numa de diabo contra satanás, Putin contra o cidadão comum que nada fez para ficar arruinado com pontaria GPS de um míssil, dum obus que aleatoriamente manda um tiro curvo a cair aonde calha. Quantos de nós estão consumindo a palavra piedade, sofrendo com a urgência de não entender a dor.

ucrania1.jpg  Qualquer, um pacato cidadão lá no lugar de sua moradia, no dar dois passos no eirado que lhe resta repentinamente a morte surge; do nada e na forma de fuzilamento esvai-se da vida varado com muitas balas, muitos estilhaços, restos de destruição, uma outra Guernica que ninguém acreditava acontecer de novo e, por nada, talvez um quase nada…

E, quem somos nós para excomungar Nosso Senhor e os chefes da Guerra, se nós nem escapulário temos para tornar os olhos avessos, sem púlpito nem qualquer poder de estilhaçar um Não! Os donos da Guerra sem temor a Deus, sem justiça no coração que surgem a judiar o Mundo, a estragar e rasgar o que há de rasgável na alma das gentes. Tiros altos, revoantes, que surgem como pássaros de balas a cair num aleatório lugar.

araujo1.jpgCA -  Coisa nunca vista ou prevista, bombas caindo ao calhas, também em sítios prévios, um sítio destinado, matando conforme o querem, matança de genocídio de arruinar, só por arruinar; e, atiram nos bois, nas vacas, no gado tão manso. Nesta hora a gente força um escape, pode ser que sim, que se tenha sorte mas, mesmo assim sofrendo muitas mortes…

Sim! Pode ser até que tenhamos sorte, pode ser porque estamos longe! O pensar caladíssimo do Ocidente perturba-me mesmo que elas as balas, não façam zumbido revoado em minha cabeça. E, se afinal todos estamos condenados à morte porquê omitirmos as dos outros. Escrevo esta missiva feita crónica para o Senhor Oficial, o Comandante em Chefe das Forças Armadas.

Não vale a pena ficar na retaguarda porque a morte não tem alçado frontal, nem tardoz – vem num aí, num ui e, juro, careço de querer calma. Os cacos continuam caindo do alto! Ando sofrido a espiar o desdém do Mundo. O Sol Kukia, não tem como se abraçar a nós, nem se pode esperar isto. O tempo escasseia-me muitas vezes, para poder redigir histórias escondidas, antigas, chamar nomes feios a gente que tem dois olhos, duas pernas e até duas orelhas como eu.

UCRANIA6.jpg Nessas alturas de revolta subitamente levanto voo, plano como um albatroz e por aí vou fora, sem parágrafos ou pontos finais, com diálogos dinâmicos, que só o serão na ficção correndo o risco de se tornarem fissão com neutrões atómicos! Falo para o boneco! Creio que também aqui “A guerra, que mata e estropia tantos, alimenta um punhado de pessoas, que se tornam ou tornarão insultuosamente ricas e prepotentes” – São estes que agora governam o Mundo.

Convém agora saber que uma bomba nuclear é um dispositivo explosivo que deriva sua força destrutiva das reacções nucleares, tanto de fissão (bomba atómica) ou de uma combinação de fissão e fusão (bomba termonuclear) – Destruição mutua assegurada…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:28
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Quinta-feira, 6 de Outubro de 2022
PARACUCA . LV

MULOLAS DO TEMPO 26

RECORDANDO: Nós, bazungus no SAVORA LODGE - Odisseia “HÁJA PACIÊNCIA” - 45º e 46º dias, parte 2 - (02 e 03, segunda-feira  em Novembro de 2018…) - Crónica 326424.03.2022 em PortVille de Maceió – Republicação a 06.10.2022 em AlGhab do M´Puto 

Por 

macuta com soba.jpg T´Chingange – No PortVille de Maceió do Brasil e Lagoa do M´Puto

matrindindi1.jpgCA - Ainda no SAVORA LODGE – Conversando com dois praticantes de mergulho, sul-africanos, de quem anotei os nomes de Arthur Muhamed e Charlie Wanderley e, porque tiveram a amabilidade de nos oferecer um peixe grande parecido com a cavala da costa de Portugal, contaram-nos algo bizarro que aqui deixo escrito para salvaguarda de outros futuros bazungus (turistas), amantes das pescarias. O que descreveram mais agudizou em mim a opinião de que não é ali, Moçambique, o melhor lugar para se ter a assertiva tranquilidade.

Posso explicar pelo que disseram: Duas noites antes decidiram divertir-se em uma discoteca em uma localidade que agora se me escapa o nome, talvez Inharrime; um copo e outro copo e logologo apareceram ali a meio da noite a polícia local. Coincidiu naquele momento estarem já de saída quando e abordados por dois matulões fardados lhes foi dada ordem de prisão. Levaram-nos para uma delegacia policial que mais parecia uma venda de mato improvisada para ser cenário de um filme de gângsteres. Se calhar até era.

INHASSORO 281.jpg Ali ficaram amarrados por uma hora em cima de um enxergão sebento. Quiseram saber do porquê estarem presos daquele jeito ao que na forma desinteressada lhes foi comunicada terem audição para o seguinte dia, na presença do inspector e um advogado por via de eles serem estrangeiros. Meia hora depois foi-lhes dito que tinham sido denunciados como portando droga e já o tinham confirmado: havia dois pacotes de tal produto, assim e assado, tudo mentira de faz-de-conta mas, eles em verdade ficaram a tremer de medo.

Bem que disseram que não de forma repetida; chegado o momento certo do plano o polícia foi-lhes dizendo que para saírem daquele imbróglio poderiam proceder até airosamente sem seguir com o tal inquérito, coisa regulamentada com decreto, quesitos regulamentares e edecéteras embrutecedores. Que lhes fosse dada umas soluções que a aceitariam duas vezes sem pestanejar, afirmaram os encarcerados “bifes”. Como podemos resolver isto para sairmos daqui rápido? Um riso de escarnio e maldizer foi a resposta seguida de um muxoxo e uma cuspidela para fora da janela, janela também muito sebenta de cores horripilantes (parecia sangue, disseram eles).

INHASSORO 136.jpg O polícia foi, o policia veio e voltou, até que falou: o chefe diz que se cada um de vocês pagar cinco mil meticais, não fazerem denuncia e edecétera e tal, tudo ficava como entre amigos; a outra solução era ir a tribunal e ficarem sujeitos a tantas outras nefastas situações. Eles, Arthur e Charlie quase em uníssono disseram que sim, que pagavam mas, não tinham ali dinheiro, só cartões. A resposta foi a de que não há problemas, vocês deixam um papel assinado com uma ocorrência normal, levamos-vos até uma caixa multibanco e após termos o dinheiro, poderão ir tranquilos e, no vosso carro. O curioso é que até lhes foi dito que se porventura fossem parados num qualquer controlo, mais à frente, mostrassem esse papel que assim, teriam logologo via livre.

Prometi-lhes que não contaria esta triste odisseia, o medo era visível neles e, só nos contaram porque também eramos bazungus como eles. Não foi uma razão assim tão ponderosa no acreditar porque a cada trajecto nosso, tinhamos cenas a contar – terra em que ver um polícia é quase ver um bandido fardado ao jeito dos macacos volantes que acossavam o cangaceiro Lampião, lá no Brasil de há 82 anos atrás – pois foi em 1939 que cortaram a cabeça a esse rei que se tornou uma figura mítica entre o povo…

O lugar de Zavora seria mais bonito se não houvesse estas verídicas passagens a contar. Em África as amizades tornaram-se imprevisíveis e acreditar num talvez, pode causar bastantes dissabores. Tal como em Angola houve tantas e tantas passagens de sócios que formaram empresas, tudo na lei e depois aconteceu num qualquer amanhã apresentarem-lhe um oficioso papel a lhe retirar a sociedade, a residência, a seriedade por via de uma qualquer inventação. Tudo reconhecido pelo tribunal da comarca, do Juiz e demais cadeias de gente desclassificada e, carimbo de homologado!

INHASSORO 394.jpg Há casos que ainda nem foram retirados do baú porque sempre vem ao de cima atitudes, procedimentos nojentas de cambalachos, subornos e coisas inconsequentes de gente do Governo, gente do topo, uma real merda fedorenta! Connosco da odisseia “Haja Paciência” voltou a acontecer na estrada, sermos parados entre Zavora e Inharrime e, lá tivemos de pagar suborno de metade da multa por excesso de velocidade! Ainda havia coisas por acontecer – serão contadas no decorrer destes quase desabafos e, só para quem neles quiser acreditar.

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 19:53
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Quarta-feira, 5 de Outubro de 2022
PARACUCA . LIV

MULOLAS DO TEMPO25

RECORDANDO: Nós, bazungus no SAVORA LODGE - Odisseia “HÁJA PACIÊNCIA”

- 45º e 46º dias (02 e 03 de Novembro de 2018…)  

Crónica 326323.03.2022 em Maceió – Republicação a 05.10.2022  no AlGharb do M´Puto

Por mocanda9.jpgT´Chingange (Otchingandji) – No PortVille de Maceió do Brasil e Lagoa do M´Puto

luis15.jpg SAVORA LODGE – Estamos a ficar longe no tempo para poder recordar todos os detalhes e, se não houve rascunhos naquele então, ainda mais difícil fica. Sei que a caminho de Inharrime na Estrada Nacional nº1, tomamos uma estrada de terra à esquerda com piso em argila regularizado. Anotei a indicação lá no início do troço de Savora Lodge, cursos de mergulho aquático no Pacifico; passamos por várias pequenas povoações destacando-se nelas as igrejas pela cruz de estrutura modesta mas bem conservadas e, com um átrio frontal, nalguns casos ajardinados.

Divisando-se já as dunas da costa podia ver-se de longe pequenas manchas ao jeito de casas entrecortadas no meio da vegetação rasteira muito característico desta costa por via da humidade sempre presente da brisa marítima. De um e de outro lado da picada, havia lagoas muito cobertas de vegetação rodeadas de mangue e com grandes áreas da praga aquática chamada de jacinto. Chegados lá no topo da duna aparcamos os carros e fizemos inscrição para duas noites. O ambiente era de aficionados da pesca à linha e de mergulho podendo ver-se estirados nas cordas os fatos emborrachados da prática de mergulho bem como as barbatanas de pés longos.

Almoçamos na esplanada disfrutando do Oceano Pacifico e, por momentos lembrei-me daquela outra esplanada chamada de “Two Oceans” bem no estremo sul de áfrica, mais propriamente no Cabo Boa Esperança ou das Tormentas. Mas aqui e pela primeira vez provo a primeira cerveja de mandioca conhecida do mundo. Cerveja lançada pela empresa Cervejas de Moçambique, dona das marcas Laurentina e 2M. Quando José Moreira, administrador da empresa, anunciou a criação desta cerveja de mandioca ao mundo deu-lhe o nome de Impala; No dizer dele, tinha um sabor parecido ao das cervejas de malte, tendo a vantagem de poder ser oferecida ao povo por um preço mais baixo.

nauk03.jpg Aquela cerveja foi desenvolvida com um duplo objectivo: para ser consumida pelas camadas mais pobres da população, que se alimentam sobretudo desta raiz, e para ajudar os pequenos agricultores do Norte de Moçambique a escoarem os excedentes de mandioca que ficavam a apodrecer nos campos. Podia imaginar Manuel Teixeira, o criador desta cerveja, sentado na esplanada do restaurante Piri-Piri, em Maputo, também a recordar no seu tempo: pedia uma cerveja Laurentina ou uma 2M e os empregados traziam-lhe um prato de camarões para acompanhar - «Eram os nossos tremoços»! Tal como nós em Angola no Baleizão ou na Biker, com Cuca ou Nocal e, com os acompanhamentos de carapau frito e até dobrada com feijão.

Naquele então dizia ele, Manuel Teixeira: Foi há mais de 35 anos e a cidade, então chamada Lourenço Marques, era a capital da província ultramarina de Moçambique. O empresário português, que ao longo das últimas décadas viajou para o país regularmente e, que foi testemunha da prosperidade da época colonial, da miséria dos anos da guerra civil (Moçambique chegou a ser o país mais pobre do mundo) e do renascimento da última década em que os índices de crescimento atingem os sete por cento ao ano.

busq5.jpg Podia rever-me num esboço gatafunhado encontrado ao calhas e a cores, amarelo, azul e descolorido, uma escrita misturada de experiências, com contas de somar, subtrair e cambiar. Faço isto por vezes para ver quanto gastei em Euros, agudizando-me na curiosidade de ver contas de números altos em dólares, randes, kwachas, xilins tanzanianos, pulas, dólares zimbabwanos e agora, meticais.

Bom! Se não era um gatafunho meu, só poderia ser de Mary a minha antiga empregada de Kampala, e dai, ainda mais curioso ficava porque ela dizia assim: Patrão, mas…, a gente de Kampala não vai em safaris como vocês muzungos (brancos); só mesmo os bazungus (turistas) que gostam mais dos animais do que das pessoas! Gostam de leões, de crocodilos, e até das cobras! N´Zambi me livre, só mesmo de pensar já estou de arrepiada, diria ela agora. Eu não gosto, diz Mary e, continua com suas falas: tornei-me até muito amiga das cabras que dão leite de beber, porque só gostava mesmo do meu namorado que as guardava. Pois! Disse eu, aquele bafana para quem tu tanto falas ao microondas…

dia147.jpg Mas, os bazungus velhos assim como o patrão e, seu amigo Reis das Vissapas com seus carros de tracção às quatro rodas, vestidos com roupas muito cheias de bolsos que parecem soldados como antigos expedicionários, e com o equipamento de combate pendurados, binóculos, máquinas de vídeo, celulares, bengalas e garrafas de água. Ué, como é então? Eu sou assim mesmo? Ela, nada disse, só mesmo oscilou os braços e fez um muxoxo a comprovar ser verdade com um sorriso de quem canta vitória.

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:01
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Terça-feira, 4 de Outubro de 2022
KALUNGA . XXXI

 KIANDA COM ONGWEVA NAS FRINCHAS DO TEMPO - XVI de várias partes…

– Crónica 3262 de 22.03.2022 em PotVille de Maceió – Republicação a 04.10.2022 em AlGharb do M´Puto - Em Madrid, no Museu do Prado com Jerónimo Pieter e, um tal de Conde de Sant German.

Ongweva é saudade  

Por t´xipala1.jpg T´Chingange (Ochingandji) – No PortVille e Lagoa do M´Puto

roxo68.jpgAR - Dando uma volta no tempo avancei para estórias mais recentes pelo que aparentemente mudo o rumo mas, é só uma marola no contexto e, porque o espírito da gente é cavalo que escolhe estrada. Assim, lendo as memórias de Iam Smith que interessaram particularmente aos portugueses, euro-africanos genuínos e pioneiros, cumpre ressaltar as páginas elogiosas que este dedica a Salazar e a Portugal.

Salazar, a quem rende sincera homenagem à nação euro-ultramarina que, com a nobreza da simplicidade e a força do carácter, cumpria a sua missão histórica do povo, defendendo com determinação seus “legítimos” direitos e interesses perante os mais fortes do mundo. Sobre Salazar, dizia ser este um estadista excepcional, cuja craveira intelectual e moral deixaram nele uma impressão única e indelével.

E, foi o Conde de San German que destrinçou esta parte da estória que os historiadores pulam por conveniência ou falta de caracter. A Grã-Bretanha, empenhada na sua demissão histórica, anuncia a dissolução da Federação das Rodésias e da Niassalândia com vista à formação de Estados “independentes governados por maioria negra”. Smith é o único do seu partido a manifestar oficialmente a sua desconfiança em relação à proposta explicitada por Londres.

roxo61.jpg AR - Para ele, a Inglaterra, no afã de obter a simpatia dos afro-asiáticos, Estado-Unidenses e Soviéticos, estaria disposta a liquidar o seu “problema colonial” com o abandono puro e simples da população branca - os mesmos indivíduos que no conflito mundial de 39-45 deixaram a paz dos seus lares para irem arriscar as próprias vidas no socorro à Grã-Bretanha; que foi o caso dele (Ian Smith).

Em 1964, dez anos antes da abrilada portuguesa, Ian Smith é eleito primeiro-ministro. Numa visita oficial a Lisboa encontra-se demoradamente com Salazar e este diz-lhe declaradamente que os rodesianos seriam traídos pelos ingleses; que Portugal prestaria o auxílio necessário a Salisbúria. Pouco depois, aqueles a quem Fialho de Almeida chamou de “carrascos ruivos do Tamisa”, concretizavam o que o estadista português sentenciara.

Ian Smith.jpg São estas periclitãncias esquecidas por quem faz estória com agá, que me levam a fazer desvios ausentando-me até das lides e bizarrias de minhas personagens de Zachaf Pigafetta e seu irmão Januário Pieter. Em verdade neste momento estavam a consultar com apoio de uma lupa, literalmente embebidos num quadro mais esguio que aqueles já vistos em Toledo e Granada. Era o Baptismo de Cristo, pintado por El Greco (inconfundível por esticar as figuras…)

Sem me desgrudar do Conde de San German, absorvia por completo sua quase palestra a dois; o tema portava agulhas e fios que com sovelas consertava minhas alpercatas cerebrais. Cinco estrelas! Continuando: - A lembrança daquele encontro profético em São Bento ficou para sempre gravada na sua memória, plenamente convencido de que, se Salazar tivesse vivido dez anos mais, a Rodésia, hoje Zimbabwé, teria sobrevivido.

roxo67.jpgAR -  Em 1965, na sequência de demoradas e infrutíferas negociações com o governo britânico, Smith declara a independência da Rodésia. Sua vida política passa então a reger-se quase que exclusivamente por duas constantes: a neutralização dos efeitos das sanções impostas pela ONU, sob a batuta de Londres e Washington; e o combate ao terrorismo e à guerrilha de obediência comunista que faziam a sua desumana entrada no território com a anuência de seus patrícios. Como sempre digo, aqueles primos, americanos e britânicos não se podem ter por amigos o tempo inteiro, são perigosamente esguios…

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:03
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Segunda-feira, 3 de Outubro de 2022
A CHUVA E O BOM TEMPO . CXXIII

MALAMBAS DA GLOBÁLIA – M´Puto, cativações, guerras e os infiéis

Crónica 3261 21.03.2022 na Pajuçara de Alagoas do Brasil. Republicada a 03.10.2022 em Lagoa do M´Puto

Por dia220.jpg T'Chingange

garrafão tuga.jpg Começo por dizer que o acto ou efeito de cativar, é a retenção de parte das verbas orçamentadas para despesas com a consequente redução do orçamento disponível para determinados serviços ou organismos. É em verdade um instrumento de controlo orçamental que de certa forma logra o cidadão. É a vida real de todos nós, o dedo duro governamental que mantem os políticos na pedinchice mantendo assim o barco-nação a flutuar na divida e, sem chegar ao nível zero da linha de manobra.

Prometo-te 100, faço publicidade desta monta mas, só levas 60! E, todos ficamos com aquela pulga na orelha, dos tais 100. A maior parte de nós está-se olhando no umbigo, isso são técnicas financeiras e edecéteras mas, em realidade os serviços por encolhimento de verbas não prestam um bom serviço e nós, sempre nós, reclamando demoras, encafifados na casa, no curral como diz meu compadre. Assim é, por via dum covid 19, 20, 21 e 22, até ver. Aceitamos aquilo que os políticos nos impingem por ser um regime de excepção e, assim ficamos lisos e sendo como se requere e a bem da nação porque parece que nem vêm tão mal ao Mundo.

edu12.jpg Bem! No caso do M´Puto, estes políticos do governo têm tido a ajuda “made in selfie” do próprio presidente conhecido pelo “Celito”. Assim, a pandemia deu formato ao medo a conter-se na contestação, dando jeito aos gestores de topo encapelarem seu pedantismo. Num acto cívico do quanto baste, mesmo sem portarem vestes de escapulário, também e de forma sistemática em um acto cínico no quanto baste trambicam-nos dando-nos missa!

Prometem até mais que uma vez dizendo-nos a palavra certa para nos tolher num pseudo “tabu do endividamento” – Vamos gastar e, quem vier a seguir que feche a porta. Tivemos um Guterres que foi prá ONU depois dum pântano, um Sócrates que está por ir, um Barroso que foi para a Comissão Europeia, um Gaspar que foi para o FMI e agora um Costa que se prepara para ir para a tribuna da Europa… É assim!  Claro que há mais mas, em verdade, o molho de brócolos fica para todos nós porque eles, sabem como se resolver… 

E, assim, depois de Bagdad, do Afeganistão, da Síria, da Líbia, do covid x 3, agora com a guerra da Ucrânia; menos mal que sempre teremos os submarinos do Paulo Portas para nos assegurar as águas territoriais, os “barrigas de jinguba” para lançar tambores de napalm e os migues entregues à GNR para cobrir o espaço aéreo. Estamos safos e habilitados a mais umas “bazucas financeiras“ de apoio aos muitos refugiados que virão, e ainda bem, dar jeito ao reequilíbrio financeiro. Terra, mar e ar estão razoavelmente representados…

dia82.jpg Tudo se está descomplicando seguindo num deixa ver como fica, não obstante as opiniões estapafúrdias de uns quantos generais armados em comentaristas nas televisões sensacionalistas no quanto baste, falando besteiras, heróis que ninguém sabiam existir e agora mandam palpites a favor de Putin (estamos bem entregues…) como se este fosse um santo. Merda para estes tantos míopes que à nossa custa dão ares de sabichões; melhor seria ficarem no silêncio de suas palermices. Enquanto isto para descomplicar as muitas e variadas sanções, tornam o Paquistão no quintal traseiro da China.

Esquecem-se que ainda por aí andam os chiítas, os sunitas, os ìsis, os talibãs e os boko harams. Já nem acredito em ninguém. Para além do Costa só o Costa prontíssimo para mais uma corrida, uma maratona afinando-se nos jogos de aprimorarem a nossa liberdade de movimentos, fabricando manobras de diversão e coisas comezinhas como a energia, a TAP, a Refer dos comboios, barragens e centrais de carvão desactivadas que de novo se têm de reabilitar. Tudo num mesmo saco para suprir a fragilidade da nossa democracia, nossa cultura, mentiras ecológicas, também estórias que dão a facilidade de tudo proibir e tudo se taxar.

costa13.jpg O Estado cada vez mais engravidado, é que nos diz o que podemos ou não fazer, alterando a vulnerabilidade nos conceitos definidos no genérico paradigma; a demagogia misturada com a propaganda que sempre nos leva ao princípio da condescendência. Assim condicionados aos ziguezagues, se condicionam os ditames sancionados em nosso pensamento – toma e embrulha! Engodos a aposentados, mais uns tostões aos funcionários e promessas aos desempregados de longa duração. Tudo muito igual – pois se até o Biden dos USA entrou com os dois pés e se está saindo perneta! Ainda se queixam da SHARIA; vamos estrepar-nos…

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:13
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Sábado, 1 de Outubro de 2022
MOAMBA . XLIX

O MUNDO ESTÁ ENGRAVIDADO DE PROMESSAS... Muamba de Domingo

– ASSINAR EM CRUZ - 20.03.2021 em Pajuçara de Maceió

Crónica 3260Republicada a 01.10.2022 no AlGharb do M´puto

- O MUNDO ESTÁ ENGRAVIDADO DE MEDOS COM  PROMESSAS...

Por baú1.jpgT'Chingange – No Nordeste brasileiro e no AlGharb do M´Puto

Zelensky.jpg Virando notícias do Mundo neste domingo, 25º dia da invasão à Ucrânia, a Rússia, para além de massacrar a Ucrânia na maioria das cidades com variadas formas de matar, dá a notícia de poder enviar um engenho supersónico, uma bomba de alto poder de morte que atinge em 5 vezes mais que a velocidade do som. Uma nítida provocação a todo o Ocidente que recriminou em uníssono monstruosa intervenção. Hoje, um outro dia primeiro de Outubro, que republico este texto a fim de ficar nos arquivos da Torre de N´Zombo do Kimbo e perfazendo 220 dias de guerra estupida, dá para notar que com a farsa dos referendos em Donetsk e Lugansk no leste e Kherson e Zaporizhzhia no sul, a Rússia, a paz no mundo, estará longínqua.

Depois da tomada a Crimeia em 2014 com a passividade do resto da Europa e do Mundo, deste modo, Rússia toma de assalto cerca de mais 15% do território total da Ucrânia anexando como terra sua estes novos territórios. Nesta grosseira forma de amedrontar os países da Europa e do resto do Mundo, frisa que esta coisa de matar pode atingir Londres em escassos 25 minutos e um pouco mais Nova Iorque

baú2.jpg Desta forma piso espaços fazendo todas as estradas, mas quando o vento dá para trás pode bem trazer tristezas nas fumaças agravando as labaredas e brasas. Que o pariu! Por vezes, não muitas, pego no silêncio, meto-o ao colo e, sem abrir boca vou dizendo: Eu, não sou donde nasci; sou de outro lugar – silêncio de um sentimento quase feito em decreto.

E foi!? E, é!? Foi sim nesse lugar de nenhures assinado com uma cruz que meus destinos foram fechados. Ontem, dia 31 de Setembro, Volodymyr Zelensky pediu oficialmente adesão à NATO. Se eu mandasse aceleraria o processo para assim o vir a ser, rápidamente - membro da NATO! Mas estou em crer que o medo vai tolher a moleirinha de nossos dirigentes acagaçando-se com um maluco que diz querer acabar com o Mundo não Russo. Sendo assim, que o seja, vá de retro Satanás ou inventem um escaravelho que encha de moscas o cérebro daquele verme feito gente chamado de Putin…

bordalo5.jpg Guardo sim, tudo em um baú de lata cor verde, com pequenas flores, forro já amarelecido pela cola em tecido de chita, umas ripas encastradas com cravos de tremoço, carcomidas, segurando um fecho pregado com pontas de paris, pregos e percevejos de cabeça chata já enferrujados.

Tábuas de cipreste ou eucalipto para dar cheiro e espantar traças, um aloquete a dar silêncio às memórias trancadas em seu miolo. Um fecho de enfeites com um lado macho e outro de fêmea onde aquele encastra; vaidades singelas de humildade destinadas a um porão junto com demais caixotes.

Todos os becos e travessas saindo das picadas da minha vida, guardo ali com os ventos de todas as almas. Vou vos dizer: Isto é algo sitiado dum estado que antes doía e prazia e, hoje no relembrar daquele antes, daqueles anos com tempos de estropelias, com guerras e gentes militares ou militarizadas que influíram um sentir que de somas em soma, só subtraíram no espairecimento.

baú de coiro2.jpg Assim fazendo em alguns casos, do mofo uma raiva, minha penicilina dali saiu, das estalactites dos fungos do baú, substância antibiótica “penicillium notatum” propriedades descobertas por Fleming em 1929, mas só divulgadas em 1941, quatro anos ante da minha singularidade acontecer … Lembram-se do “Evangelho da Esposa de Jesus”, um papiro controverso que sugere que Jesus era casado com Maria Madalena? Novas pesquisas sobre a tinta do documento parecem apontar para a possibilidade de que ele seja autêntico. Porém, os resultados ainda não foram publicados e a origem do papiro continua sendo questionada. E, enquanto andamos entretidos com malambas apócrifas enredadas em mentiras e interesses de resiliência, o Diabo feito gente de nome Putin come-nos as raspas de misericórdia metendo jindungo para espairecer vaidade

baú3.jpg Se é o que é, estou quase perdido! É qua a vida está assim, vou explicar: Eu, nós, vocês, vosmecês, o senhor ou senhora, vossas excelências, empurram tudo para trás mas, e num repentemente, tudo nos volta a rodear fincando-se bem em frente feito fantasma, caveira segurando uma foice. Termino dormindo nos ventos, fazer agora mesmo o sinal da cruz, a assinatura real e oficial do nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques… Fui!

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:09
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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