Quarta-feira, 30 de Novembro de 2022
PARACUCA . LXI

MULOLAS DO TEMPO32

RECORDANDO: Em Komatipoort … Acho que Deus nunca foi a África!

Odisseia “HAJA PACIÊNCIA” – Recordando o 09 de Novembro de 2018 – no 53º dia, uma Sexta-feira…  

Crónica 3309 – 31.05.2022 – Republicada a 30.11.2022 em Lagoa do M´Puto

Por  tuiui3.jpgT´Chingange – No AlGharb do M´Puto

Malambas2.jpg Acho que Deus nunca foi a África! Tenho de deixar aqui minha revolta pelo facto de ficarmos bem convictos de sermos roubados por gente sujeita à sobrevivência mas, usando já as técnicas de ladroagem com abuso de resiliência. Atravessar Moçambique foi das piores experiências, pois fomos roubados ou enganados e, até por policiais; digo isto convicto de que a maioria de quem me lê, vai achar que estou a ser excessivo.

Também estou ciente de que o mundo ocidental vai continuar a dar ajuda sem fiscalizar o término destas ajudas e, que por norma, caem na mão de gente que se apodera indevidamente das dádivas (gangues de rapinagem). Antes de chegarmos à África do Sul, passagem por Maputo e já com o jeep estropiado por nos terem metido gasóleo com água, deparamos com obras na via principal de acesso a Ressano Garcia; as indicações na estrada eram por demasiado caóticas e perdidos, houve uns candengues que nos deram indicação por um lado que o não era.

Um Mais-Velho, mais à frente, acenou-nos para pararmos e, como já íamos quase parados pelo mau piso do desvio, parámos mesmo. O Kota disse que não seguíssemos esse rumo porque os candengues estavam a levar-nos para um sítio de tocaia ou de emboscada para nos roubarem: disse que nos atirariam pedras e roubariam tudo ao seu alcance. Ficamos atónitos e até desconfiados mas acreditamos na palavra deste senhor Mais-Velho.

komati2.jpg Cumprindo suas indicações, foi o melhor que fizemos mas, tudo por obra e graça dum Espirito Santo de quem até, já falávamos asneiras – as orelhas deste espirito deveriam estar a arder; por fim e, como já foi dito, podemos chegar ao paraíso aonde o carro deu misteriosamente ou por milagre o soluço final. Já dentro do Komati River Chalets de Mpumalanga, tendo a recepção bem ali ao lado de nós – Ufff!

Um Paraíso quanto à organização, beleza natural e qualidade em relação a tudo o que visitamos no resto de África. E, bem ao lado do Cruger National Park, foi uma bênção para quem necessitava de relaxar da odisseia, da prosápia alheia, da conversa mole com caganças balofas e coisas desaforadas -Turista sofre! Komatipoort é uma cidade situada na confluência dos rios Crocodilo e Incomati, na província de Mpumalanga na África do Sul.

dia141.jpg A cidade situa-se a 8 km da entrada Crocodile Bridge Gate do Parque Nacional Kruger, a apenas 5 km da fronteira com Moçambique e 65 km da fronteira com o Essuatíni (antiga Suazilândia). É uma pequena cidade, sossegada, com ruas arborizadas, uma das cidades mais quentes da África do Sul e, onde a temperatura do ar atinge por vezes os 50 °C com a temperatura de Inverno a rondar os 24 °C. Foi nesta cidade que em 1984 foi assinado o Acordo de N´komati*.

Komatipoort tem a dupla vantagem de estar perto de Essuatíni (em suázi: Swatini) e do Cruger; Essuatíni, anteriormente conhecido como Suazilândia, é um país pequeno mas bem interessante, pacífico e próspero, limitado a leste por Moçambique e em todas as outras direcções pela África do Sul. Suas capitais são M´babane (administrativa) e Lobamba (legislativa). O país e seu povo recebem seus nomes de Mswati II, um rei do século XIX em cujo reinado o território de Essuatíni foi expandido e unificado. Vale a pena cruzar este pequeno país encravado na África do Sul.

cruzeiro0.jpg Andados quase 10.000 quilómetros até aqui, quase fim da Odisseia, teríamos ainda de passar por uma última privação e desta feita nesta terra tão agradável em estar, mais um roubo feito por moçambicanos fora de portas, aqui em Komatipoort e na caixa multibanco. Um grupo organizado de rapazolas, bem vestidos, falando português fluentes, pretos com sotaque de Maputo, no subterfugio de uma diligência solicitando desculpas, não sei como, vêm o código PIN, trocam o cartão por outro igual e num repente vemo-nos sem o acesso ou interditados. De imediato telefonei para o banco a impedir o uso de meu cartão só para áfrica e emitido em Johannesburgo. Mesmo assim limparam-me 280 Euros! Foi o fim da picada e, ainda hoje me parece obra de muitos capetas a tapar-me os olhos, clonarem-me o cartão num repentinamente – Aconteceu e desaconteceu – bola práfrente…

Como curiosidade: *O Acordo de Nkomati foi assinado em 1984 entre o governo de Moçambique, liderado pelo então Marechal Samora Machel, Presidente da República Popular de Moçambique, e pelo Presidente da África do Sul, Pieter Botha. Este acordo tinha por intenção pôr termo à guerra civil em Moçambique. Para tal, os signatários do dito acordo concordaram em deixar de apoiar a RENAMO (responsabilidade da África do Sul); Deixar de apoiar o ANC (responsabilidade de Moçambique). Apesar disto, cada parte continuou a agir por conta própria, e os guerrilheiros da RENAMO prosseguiram com a guerra civil em Moçambique até que em 1992 foi assinado o Acordo Geral de Paz, em Roma, apoiado pela Comunidade de Santo Egídio.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:30
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Terça-feira, 29 de Novembro de 2022
KWANGIADES .XXXVI

ANGOLA DOS MWENE-PUTO (M´Puto)

KUKIA DA VIDA - Crónica 3308 – 29.05.2022 – Republicada a 29.11.2022 em Lagoa do M´puto

Kukia é o nascer ou por do sol

Por araujo158.jpgT´Chingange (Otchingandji) – Na Lagoa do M´puto (M´Putulândia)

amigo da onça.jpg Diáriamente, sempre vai haver escolhas a fazer; elas podem determinar nossa felicidade aqui, no futuro ou no álem. As escolhas que fazemos hoje, mesmo já sendo kotas, são vitalmente importantes e contumazes. Os amigos que escolheu e ainda escolhe, a todo o momento explodem na singularidade dum extraordinário proceder ou de pensar. Tudo terá muito a ver com sua vida tornando-a um esplêndido crepúsculo ou um velho celeiro sem graça; por vezes, muitas vezes desilude-se deste e daquele mas, é forçoso continuar a fabricar amigos, mesmo que num repente fiquem amigos da onça…

Os amigos podem levá-lo a concentrar-se naquilo que é passageiro, ou conduzi-lo para mais perto de coisas vaidosas e até fúteis. Todos os dias você precisa escolher entre o nascer e o pôr-do-sol - a KUKIA DA VIDA. Ontem eu, o Santos e o Eduardo Torres reunimo-nos no meu Pátio Andaluz para se falar de coisas e até comer algo entre os intervalos das falas, melhor, gritando como moucos. A pilha do ouvido direito do EDU pifou (o esquerdo já pifou, faz tempo…) e num repentemente tivemos de aumentar os decibéis e, o vozeirão decerto incomodou meu vizinho Lestienne, um francês de França, macambúzio como meu ex-cão Columbo…

silva00.jpg Como sempre nossa conversa de boi dormir, resvalou como sempre para as coisas de áfrica. Queiramos ou não, nós saímos d’África mas, África nunca saiu de nós! Pois, falo de Angola. A gente dá voltas e divaga, deita conversa fora mas, sempre iremos parar naquele item rasgado no tempo. A verdade, nunca o é de valor absoluto mas, na relatividade da afirmação o peso desta vem de quem a prefere num determinado tempo e, desta feita descarreguei nos meus amigos coisas do tempo do Carcamano com expedicionários, funantes, sertanejos e até negreiros.

Assim, contornando medrosas angústias, febres palustres, água estagnada, jacarés do Panguila ou do Cunene, exigiram-nos esforços na consolidação dum país que não pode ser nosso por via de coisas merdosas e, porque estávamos condenados ao esquecimento pelos governantes de hoje misturados com os idos e também estadistas emudecidos da cabeça; gente do M´Puto metropolitano e de Angola. Um Ex-combatente de Angola sofre agora de estresse de guerra; cumpriu o serviço militar sem saber até que tinha os pés chatos e agora a adicionar muitas mais mazelas à idade, vê-se à rasca com uma reforma de cacaracá…

araujo160.jpg CA - Angola ganhou condição de país quando na embala de Belmonte, Silva Porto, com 72 anos de idade se imolou envolvido à bandeira Portuguesa; isto foi muito antes de o arrastar da bandeira do M´Puto por muitos lados e pisoteada por gente que virou governante. Enquanto isso os resistentes daqueles tempos lambem as feridas de catanas ou G-três da história. Silva Porto desrespeitado pelo soba N´Dunduma, "O trovão", meteu-se numa barrica com pólvora e queimou-se - outros tempos! Em 11 de Novembro de 1975 concretizou-se um país cujas fronteiras foram delineadas por estes combatentes paulatinamente desprezados no tempo.

A maioria dos combatentes, fizeram o seu serviço em dose de camelo; viram morrer camaradas, ficaram apanhados do clima, mosquitagem, jibóias, gorilas e sanguessugas dos pântanos. Recalcados de tanta injustiça, perderam o medo naquelas florestas, chanas, e anharas, numa Angola tão rica e tão ingrata. Defenderam e mataram gente, construindo novas coisas, impondo regras sociais para conservar tal espaço.

E, foram Fiotes, Quiocos, Quimbundos, Umbundos. Hereros, Ganguelas, Muílas, Mucubais e Bosquímanos que, mudaram de alguma maneira o modo de estar dos magalas de Mwene-Puto; e tantas guerras para desenhar um mapa cor-de-rosa que nunca o chegou a ser, para nada*... Quantas mortes! O Mapa-Rosa africano começou a ser desenhado em 11 de Julho de 1890 com as campanhas de submissão do sobado do Bié e, passados 85 anos, em 11 de Novembro de 1975 concretizou-se um país cujas fronteiras foram delineadas por estes combatentes paulatinamente desprezados no tempo.

araujo174.jpg CA - Aquele chefe "O trovão", veio a sofrer represálias a 9 de Dezembro de 1890 por parte de Artur de Paiva, Paiva Couceiro e Teixeira da Silva- os Mwene-Puto com a ajuda do povo Ovibundo governado então pelo rei Ekuikui Segundo. Daí as boas relações com o povo do Bailundo que perduraram após esses 85 anos. Paiva Couceiro, foi em verdade o último sertanejo a percorrer as terras do fim do mundo, no Cuando - Cubango, Mucusso, Cuangar, Dírico e Sambia. Parece mentira mas, é verdade! Ao soba de Sambia de nome Palata de Massaca foi dado o nome de D. António Maria de Fontes Pereira de Mello, ao soba do Aimalua do Cuangar foi dado o nome de D. Luís Bondoso Pinto Ribeiro e Montes Claros e, N´Hangau do Dirico ficou a chamar-se D. Afonso Enriques de Aljubarrota Atoleiros e Valverde. Tudo o resto foi tempo perdido, Aos combatentes de ambos os lados ficou esta recordação como contentamento! As minhas falas de ontem foram mais que muitas caindo sempre no mesmo – Angola, Aiué…

*Nada: A complementar a Teoria do Nadismo; Carcamano: tempo de funantes e expedicionários no lidar com um filho de soba do Planalto Central revoltado, com esse nome; palavra castelhana carcamano, que na América Latina denota "pessoa decrépita"…

Ilustrações de Costa Araújo

O Soba T´chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:40
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Segunda-feira, 28 de Novembro de 2022
N`NHAKA . XXIII

ANGOLA, TERRA DA GASOSA . IX

CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES

“Angola, quanto tempo falta para amanhã?” Escritos antigos - Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi - 22 de Fevereiro de 2002)

– Crónica 3307 de 27.05.2022 (45 anos depois da morte de mais de 30.000 Nitistas – a matança)- Republicação a 28.11.2022 na Lagoa do M´Puto

N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…

Por n´tundo3.jpg T´Chingange – (Otchingandji)

n´tundo1.jpg Em terras de matrindindi! Matrindindi é uma carocha de perfil pré-histórico, talvez um normal insecto coleóptero do género do escaravelho, só que este é muito mais extravagante, de cor escura, dorso azul e com muitos picos e patas longas; mais parece obra duma formatada bruxa ruim promovida a grilo, salvo seja. O Land Rover do Cadinho do Sumbe, pisava-os sem alternativa, eram muitos a passear descuidadamente na picada, sucedendo-se os estalos como o de castanhas a rebentar ao calor do fogo. 

Era suposto falar hoje do 27 de maio de 1977 mas o tema ainda é “quase tabu” em Angola, desconhecido por muito jovens e, porque não quero hoje tocar em coisas nefastas vou passear pelos matos; o que mudou mesmo foi o ressurgir de novas formas de roubar ao erário público destroçando paulatinamente a economia angolana, levando o povo ao desemprego, usando formas tristes de rebuscar nas lixeiras os desperdícios dos ricos que mantêm o sistema…

A serra do Chamaco via-se ao longe como teta saliente na cordilheira e, no caminho de Seles com uma vasta região de floreta de espinheiras, acácias de picos medonhos, babosas, newas, matebas, uma ou outra cassuneira, lengues, lungwengué da qual se fazem cordas de muita resistência. Em terras e N´Gunza Kabolo, soba antigo que deixou bom nome, avançamos pelo matagal, por onda a guerra se fazia sentir escassos meses atrás; a comprovar lá estavam as carcaças enferrujadas de camionetas, machimbombos, Ifas e Urais de fabrico russo.

n´tundo4.jpg Calcorreando desvios, contornando maboques, upapas e lenwenue de bagas curativas das feridas de matacanhas, cheiramos a braveza da natureza a contornar o rio Lua e o Caçosso com n´nhacas de belas hortas até se chegar ao rio Cubal. Não vi os macacos pulando entre as bimbas, coisa normal de tempos idos mas, que a guerra decerto os fez correr para não serem comidos.

Havia sim goiabeiras mangueiras e gajajeiras que ainda serviam para alimentar as acantonadas tropas da UNITA. Num tom de saudosa lembrança a voz esganiçada de Vitória* tipo cana rachada fazia-se ouvir: Vou ti bater minina; pertencente à OMA – Liga da Mulher Angolana afecta ao MPLA foi sobrevivendo com o slogan de victória ou morte; ali estava ela anafada e impregnada de bolunga feita em álcool de caporroto, de casca de banana, mandioca ou batata mas, no entanto lembrava-se das tareias que levou por causa da menina Dina, filha do patrão Cunha.

caatinga2.jpg Um grande abraço selou a saudade, daqueles tempos em que perseguiam os macacos e metiam matrindindes em frascos de nescafé. Isso de quando iam apanhar minhocas do rio Caçosso colocando-as em latas de leite Nido para o tio Francisco ir à pesca lá na foz do Cubal. Apanhamos sape-sape (graviola) tirando deles as sementes, dispusemos em uns frascos de azeitona para plantar no M´Puto e também umas melancias gentias chamadas de tanga – vi estas em grande quantidade quando andei pelo Kalahári…

Os Bushmen usam-nas para fazer o “Kalahári thirstland Liqueur”. Aqui usam-nas para fazer de xuxú nos variados cozinhados: aproveitamos trazer uns cambungues (papaia) e ukeluá-muflé – folha de abóbora para fazer esparregado e, no regresso junto ao Caçosso apanhámos as tais bagas vermelhas que no tempo passado servia para colar os selos nas cartas - por isso ainda as conhecemos por árvore da cola. 

matrindindi00.jpg Da aldeia do Caçosso só existiam ruínas (não vem no mapa) mas, a mulembeira ainda lá estava, menos imponente porque a cortaram parcialmente. Dali seguimos até ao Cantinho do Inferno; o porquê deste sítio se chamar assim deve-se ao facto de numa baixa pantanosa as camionetas mercedes, chevrolletes, magiros e Fordes ficarem ali atascadas dias e dias na via que vinha do Planalto Central. A escassos quinhentos metros lá estava a casa mãe da fazenda de algodão (em abandono) que dava guarida a todos aqueles camionistas que por ali vinham com suas cargas e, ali tinham parada forçada pela chuva e atoleiro. Cantinho do Inferno, funcionava pois como pensão, restaurante e a boa-atenção do Patrão Cunha (Já falecido) …   * Nota: Vitória, entusiasta da OMA, morreu encharcada em cachaça no ano de 2004 - dois anos após esta odisseia…

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)        

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:01
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Domingo, 27 de Novembro de 2022
KALUNGA . XXXV

KIANDA COM ONGWEVA - XX de várias partes…

– Crónica 3306 de 21.05.2022 – Republicação a 27.11.2022  em Lagoa do M´Puto

MUXIMA NAS FRINCHAS DO TEMPO - Falar do futuro, até para as kiandas é tabu…

Ongweva é saudade

Por  roxo3.jpg T´Chingange (Ochingandji)Em Arazede do M´Puto

roxo225.jpg Falar do futuro, até para as kiandas é tabu - metem-no em sapatos quedes envolto em meias já debotadas e assim abandonados ali ficam na poeira do tempo como se estivessem arrumados num canto da arrecadação. Aos comuns viventes não se pode transmitir o amanhã, só o agora, lei básica da vida; caso contrário aparecem uns lacraus vindos do álem, misteriosamente oxorizados (coisas de Oxor). O Universo tem regras que por mais que queiramos, não estão ao nosso alcance engravidá-las. É aqui que surgem os mambos longínquos com soldados Mafulos, por via das falas da Kianda Januário Pieter também este, tio tetravô de Roxo, nascido às margens do lago Niassa, um meu antiquíssimo patrício…

E, os mambos de Januário, o Pieter, nem sabermos como, quando e aonde ia, ou vai buscar tantas falas sem medo de gastar seu reservatório das magias como se houvesse lá na cuca-armazém, uma fábrica de empacotar chwingames; fala do tempo, das revoltas da embocadura do rio Kwanza, das guerras dos Tugas e Mafulos de Loanda, n´gwetas e dos desentendimentos com a rainha N´Zinga, mais outros personagens do distante Kongo do Zombo, das terras de Kassange e da Matamba…

roxo223.jpg Parece que neste entretanto vazamos para outro lado que não era o tal de Museu do Prado. Estávamos no centro da antiga Madrid da época da Casa de Habsburgo em la Plaza Mayor, ladeados por pórticos. Nas proximidades ficavam o barroco Palácio Real mais o Arsenal Real, que exibe armas históricas mas, nem sei como do nada transladamos para aqui! Quem se mete com kiandas fica kiandado ou oxorizado.

O velho Januário Niassalês o tio das manas, descreve as festas axiluandas de então com kimbandas e t´chinganges pisoteando a terra, levantando poeira de encorajar kotas, jagas, sobas e m´fumos que iam chegando em alvoroço dos Dembos e de lá mais além do Kassange. Como se ali estivéramos senti que iam passando cabaças com malavo de cassoneira e, a cada grito dado pelos dançarinos guerreiros, o povo em uníssono gritava kwata mwana-pwó, kwata mwana-pwó. Arrepiei-me com medo como num repentemente estivesse rodeado de jacarés do kwanza, amarelados de muxima, pode!?

roxo224.jpg Era a preparação duma guerra contra os Tugas n´gwetas entrincheirados em Massangano por ordem dos Mafulos Holandeses. Morgan Tsvangirai o pai de Roxo ficou avençado pelos Mwana-Pwós com o posto de tenente de segunda linha; mandava os escravos m´bikas do kimbo fazer tarefas de manutenção e limpeza ao forte, zelar pelos n´dongos de pesca e translado de coisas para a Kissama e das patrulhas de soberania aos mares parados com lagoas até o Morro dos Imbondeiros e dos Elefantes da Maianga e Samba. Também tinham a caça e a pesca ao seu cuidado.

Assim transladado naqueles tempos vi M´fumos; iam chegando aos poucos como emissários da rainha N´Zinga M´Bandi da Matamba e do rei do Kongo Garcia II que, embora sendo cristianizado pelos Portugueses, com eles andava desentendido após a chegada dos Mafulos. Teriam estes prometido a eles poderes maiores com auxílio de armas do tipo de canhangulos ou pederneiras. Eram preparativos duma união para fazerem o grande e final assalto a Massangano. Só podia ser!

Naquela fortaleza os Tugas resistiam aos holandeses tapando-lhes as vias de comunicação ao mercado de escravos lá do interior fazendo emboscadas ou tocaias usando azagaias venenosas, um método aprendido com os índios do brasil, uma cana comprida que depois de soprada, dela saia um dardo mortífero. Por isso aquele mato metia demasiado medo aos Mafulos. É aqui que entra o Senhor Maurício de Nassau que desde o Recife Brasileiro mantia o negócio das peças m´bikas para os seus engenhos de assucar.

roxo215.jpg Neste arraial com a vida acontecendo muito de repente Redufina Kabasa mãe negra da Kianda Roxo estremava-se ensinando a sua filha maneiras de comportamento e era vê-la brincar com candengues brancos e pardos no átrio da missão! Bem cedo se destacou nas habilidades de colorir os jogos de desenho, os riscos da cabra cega; qualquer argila era motivo para dali sair pintura ou escultura bem à moda dos trabalhadores de talha do pequeno altar da igreja da muxima!

Ilustrações de Assunção Roxo

Glossário: Kianda: Calunga, fantasma; Muxima: saudade, lugar de romagem; quedes: sapatos de pano; da macambira; Mafulos: Holandeses; Mambos: Atitudes, procedimentos; Cuca: cabeça; Chuingame: pastilha elástica; N´gweta: branco; axiluanda: nascido na ilha de Luanda; Kimbanda: Médico tribal, curandeiro;  T´Chingange: feiticeiro, secretário e cobrador do rei ou Mwata; malavo: vinho de palmeira; M´fumo: chefe da aldeia; Cassoneira: tipo de palmeira ; Kwata: agarra, Mwana-pwó: pombeiro branco, sertanejo, colonos; antigos taberneiros brancos; M´bika: escravo; N´dongo: canoa; Kissama: reserva animal, lugar com animais selvagens; Canhangulo: arma artesanal, de carregar pelo cano; Kiandado: enfeitiçado;  Oxorizado: virado do avesso, vaporizado…  

(Continua com “fricção”…)

Por: Soba T´Chingange (Ochingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:43
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Sábado, 26 de Novembro de 2022
GUARARAPES - 6

A SAGA DO AÇÚCAR – AS AGRURAS DE OLINDA COM OS MAFULOS

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA

Crónica nº 3305 de 19.05.2022Republicação a 26.1.2022 em Lagoa do M´Puto

Por araujo 29.jpgT´Chingange (Ochingandji)Em Arazede do M´Puto

A figura pública de Figueiroa, revista como herói na tomada de Pernambuco -  Brasil

matias20.jpg  Matias de Albuquerque, 1° Conde de Alegrete, nasceu na Vila de Olinda, sede da Capitania de Pernambuco, no Estado do Brasil, da qual seu irmão era donatário, na última década século XVI.

Em tempo de D. João IV. Este monarca, deu ordens a Figueiroa que recrutasse 500 infantes da ilha da Madeira e Açores para tal envolvimento militar em terra de Pernambuco… Determinou aos oficiais de primeira linha fidalga, que “a gente vadia, ociosa, e de pouca utilidade à Coroa, fossem arregimentadas e levados à luta do Brasil” porque “ He grande o aperto e necessidade daquelle estado”. Convém dizer-se que não é verdade que o reino se tivesse esquecido dos revoltosos de Pernambuco; o que sucedeu foi de que não se tinha reunido toda a diplomacia para ter sucesso e só reactivou à pressa após Inglaterra* ter declarado guerra à Holanda.

Aqui D. João IV actuou rápido em força e a todo o custo sobrecarregando o povo em taxas de guerra adicionais. O açúcar fazia-lhe falta para custear tudo isso e ainda salvaguardar as fronteiras Ibéricas da impetuosidade dos vizinhos Castelhanos. Em 1647, Francisco de Figueiroa chega à Bahia. Em 4 de Agosto de 1648 reúne-se às tropas sob o comando de Francisco Barreto de Pernambuco e, é a 19 de Fevereiro de 1649 que toma parte na segunda batalha de Guararapes com o posto de Mestre-de-Campo do seu terço de guerra.

matias21.jpg Francisco Barreto, após aquela grande batalha, escreveria ao rei a 11 de Março de 1649 enaltecendo os três Mestres-de-Campo, Vieira, Figueiroa e Vidal da seguinte forma: - “Procederão com tão assinalado valor que depois de Deus, foram eles a causa de alcançar vitória pelo que merecem as mercês que justamente podem esperar tão “leaes vassalos”, por seus merecimentos”.

Figueiroa, tendo sido soldado, capitão, almirante, governador de Cabo Verde, ouvidor em Angola e Mestre-de-Campo na batalha de Guararapes, por rogo seu foi designado de fidalgo com a comenda da Ordem de Cristo depois das formalidades das “provanças” para a sua admissão na Ordem de Cristo e, após a consulta da Mesa da Consciência e Ordens o ter aprovado a tal merecimento. Coisas tiradas a ferros, sabe-se lá do porquê!

Recorde-se que em 1630, tropas mercenárias da Companhia das Índias Ocidentais invadem a capitânia de Pernambuco dominando toda a região do Nordeste do Brasil por vinte e quatro anos, ou seja, até ao ano de1654. Insatisfeito com a situação, os naturais da terra sob a liderança de João Fernandes Vieira, um senhor de engenho, nascido no Funchal, inicia em 1645 a reconquista do território devolvendo-o à soberania Lusa em 1654.

matias23.jpg Em Olinda sede da Capitânia de Pernambuco governava Matias de Albuquerque; este, procurava concertar os esforços da defesa no porto de Recife só que, o General Mafulo Theodoro Waerdenburch, seguindo o plano traçado com os mandatários da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, desembarcou suas forças na praia de Pau Amarelo a Sul do Recife num total de 3000 homens. Marchou sobre a vila de Olinda tendo vencido Matias de Albuquerque no combate de fogo à Vila de Olinda queimando nobres edifícios avaliados em milhares de cruzados.

Matias de Albuquerque, perante tamanha força, impossibilitado, e de coração esfrangalhado retirou para o lugar de Capiboaribe a uma légua de distância do Recife, fortificando o sítio com 4 peças de canhão e 200 homens de armas. Inicia-se assim a guerra da resistência pernambucana com a fundação da Arraial do Bom Jesus aonde permaneceram por cinco anos utilizando tácticas de guerrilha aprendidas com os indígenas (Índios da região)...

bruno27.jpg Naquele Arraial do Bom Jesus, compareceram com seus comandados, Luís Barbalho, Martins Soares Moreno, Filipe Camarão com seus índios e Henrique Dias com seus negros quilombolas resolutos a manter uma guerra de vinte e quatro horas por dia no espírito de todos com um sentimento nativista. Mas, entretanto há o revés de em Abril de 1632, Domingos Fernando Calabar, um mestiço cazucuteiro, dado ao embuste, com o desprezo dos demais, é acusado de contrabando, passando-se assim por acossado para o lado dos invasores Mafulos…

NOTAS: *INGLESES – observe-se aqui a interferência desta nova potência na Europa e Globália, estabelecendo regras de fiscalização DESDE ENTÃO aos demais países entre os quais PORTUGAL, que sempre manteve subserviente aos sus caprichos e, ao longo da história

 (Continua…)

O Soba T´Chingange (Ochingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:56
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Sexta-feira, 25 de Novembro de 2022
MUJIMBO . CXXIX

ANGOLA – TESTEMUNHO DE ESTÓRIAS ANTIGAS... MICONGE VELHO, CABINDA

- Acreditei que estava a participar na revolução angolana - de 2 Partes

Crónica 3304 – 17.05.2022 – Republicação a 25.11.2022 na Lagoa do M´Puto.

Por  CABINDA2.jpg Soba T´Chingange em Arazede e Lgoa do M´Puto

CABINDA3.jpg Estávamos em 1968, em Maiombe de Cabinda. O alferes Martins das operações Especiais transparecia empatia logologo ao primeiro contacto. Sua pele mestiça indicava o quanto tinha de mazombo a condizer com nossas condições de singularidade, filhos de colonos. Nos seus crioulos procedimentos referia seu pai lá das terras de Barroso atrás dos montes no norte do M´Puto; sua mãe caluanda e descendente das gentes da Matamba, era também referida com orgulho envaidecido nas linhagens de nobreza N´Zinga em nossas conversas; nobreza que a administração colonial dissipou nos tempos após a rebelião de Mandume entre outros kaparandandas do Mu Ukulu (gentes do antigamente)… 

E, porque sua mãe era quase minha vizinha pois que morava fronteiras meias entre a minha rua da Maianga e o quase musseque de Catambor e muito perto até do colégio aonde andou antes de mim, João das Regras e também do mercado de Martins e Almeida – Martal. Este facto foi motivo de conversas a promover empatia repentista entre a guerra e seu transcurso. Este alferes Martins, veio acompanhado de mais três especialistas em tiro curvo de morteiro e bazuca com mais uma macaca Cheeta chamada de Grafanil.

CABINDA5.png A Cheeta talvez porque tenha sido nascida em um quartel com este nome de Grafanil, ganhou fama no Centro de Instrução de Comandos de Luanda e, como fiel companheira do alferes de Operações Especiais, destacou-se em operações ao lado de seu dono, instrutor e também fiel inseparável militar excêntrico. Desta feita e no lugar de Miconge*, antiga Administração do Sanga Planície; desconfiei haver maka a resolver por perto com o rótulo de “extraordinariamente secreta”.

Fiquei a saber que Martins, sempre era acompanhado em operações conjuntas com ex-turras designados de TE´s e GE´s- Tropas e grupos especiais que lidavam em Cabinda e Leste respectivamente. Fiquei a saber que a Cheeta “Grafanil” era perita de esperta, dom natural em antever perigos, detectar barulhos estranhos e cheirar à distância a catinga de guerrilheiros arregimentados nas clandestinas picadas do Maiombe e outras matas de Congos e Zâmbia…

Que eu saiba só ele Alferes Martins tinha uma autorização do Alto Comando Militar para se fazer acompanhar aonde quer que o fosse de uma macaca gorila, um primata selvagem (embora treinada…); vai daí, ficando curioso, observei Martins ter-se reunido com o Chefe Jorge dos TE´s. Ao final do dia foi-nos dito que a segunda secção do segundo pelotão e a quarta secção do quarto pelotão iriam fazer uma patrulha com este Oficial de operações especiais.

cabinda8.jpg O outro dia chegou e, ficamos em pulgas com as explicações caindo a conta-gotas para estas duas Secções. Eu, Furriel Mike comandaria a minha secção a quarta do quarto pelotão. Creio que esta decisão partiu do excêntrico alferes pois que curiosamente, éramos: a 2ª Secção do segundo pelotão (Furriel Liló, mestiço de Luanda…) e, a 4ª Secção (Furriel Mike, mazombo Niassalês de Luanda…) do quarto pelotão. Feita uma análise, os comandantes, eramos todos, os intervenientes da incorporação de Angola (Província).

O saber: - 1 Oficial de Luanda, 2 secções de ex-turras TE´s - Cabindas, 3 especialistas em tiro curvo e bazuca de Malange e nós, Mike e Filó, comandantes de Secção da Luua… No dia seguinte fomos dormir todos a Miconge Velho, lugar encostado à fronteira e tendo até ali bem peto um marco em ferro colocado por Gago Coutinho quando em tempos idos se marcaram os limites do território enclave de cabinda e, segundo o Tratado de Simulambuco e outros dois adstritos a este… Foi já aqui que o Alferes Martins explicou a todos como seria feita a operação com todos os detalhes: Eu, Mike ficaria em um lugar de encosta a cobrir a retaguarda e fuga ou retirada com os 3 peritos de Malange que tratavam por tu os morteiros e bazuca. Filó ficaria no sopé do morro e na picada de acesso à estrada principal aonde se faria a emboscada. Martins e Jorge dos TE´s fariam a emboscada no meio do capim alto ao longo do caminho e por onde chegaria a malta do MPLA para fazer investida ao quartel de Miconge em Sanga Planície…   

fig3.jpg Aconteceu: Naquele outro dia e no caminho que conduz a Dolizie (Congo Brazaville) o Alferes Martins e seus, nossos homens das NT fariam essa emboscada ao movimento que agora luta contra os Fiotes da FLEC; Os mesmos que ainda não atingiram a sua independência. Após aquela emboscada que originou catorze mortes do lado do inimigo MPLA, os dias que se seguiram foram de música empolgada relembrando até o Che Guevara. E, formam uns quantos dias a seguir choros de música fúnebre na emissora de Brazza… Não mais se levantaram depois desta façanha com o Alferes Martins e a Nossa Gente; correu tudo bem e sem baixas! A retirada foi rápida e ainda posso cheirar, 54 anos depois e ouvir aquela azáfama de guerra. De nada valeu, pois foi logologo e após o VINTICINCO que a NT – Nossas Tropas (Do M´Puto) o primeiro quartel a entregar-se ao inimigo! MICONGE ficará na estória por este feito, esquecendo aquele outro de 54 anos antes…

:::::

*Miconge: - Fronteira Norte de Cabinda perto do Dinge, o primeiro quartel a entregar-se ao MPLA pelas forças do M´Puto após o 25 de Abril de 75, lugar aonde a tropa do M´Puto entregou as Gê-três e botas aos guerrilheiros por ordem do Rosa Coutinho (O Vermelhão).

O 25 de Novembro de 1975 no M´Puto: A Crise de 25 de Novembro de 1975 foi uma movimentação militar conduzida por partes das Forças Armadas Portuguesas, cujo resultado levou ao fim do Processo Revolucionário em Curso - PREC e, a um processo de estabilização da democracia representativa em Portugal. Wikipédia

(Continua… 2ª Parte de Miconge Velho…)

O Soba T´Chingange   



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:09
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Quarta-feira, 23 de Novembro de 2022
MISSOSSO . LVII

KILOMBO – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA

FALA KALADO NA SINGULARIDADE DOS KALUNDU**

"A história de um fracasso"- Crónica com ficção 330322ª de Várias Partes – 16.05.2022Republicação a 23.11.2022 na Lagoa do M´Puto

Por malamba1.jpg T´Chingange Em Arazede de Coimbra do M´Puto

n´guzo1.jpg

Voltando à singularidade do Nelito e de sua façanha em desviar um dacota da DTA para Brazaville na Republica Popular do Congo, diga-se: Numa altura em que Angola e os angolanos já não queriam mais viver sob domínio colonial português, não se compreende que o 4 de Junho de 1969 nunca tenha merecido a importância devida por parte da direcção do MPLA, porque foi uma iniciativa saída da sua base clandestina da Luua. Pois foi assim que apanhou completamente de surpresa os “camaradas” no bombom de Brazaville.

A PIDE fez circular nas instituições da governação Tuga, que “no dia 4/6/69, pelas 15.30, o avião C-3 matrícula CR-LCY, da DTA, da carreira Luanda/Sazaire, com 5 tripulantes e 12 passageiros a bordo, foi obrigado a mudar de rumo para Ponta Negra”. Aquela acção foi levada a cabo por três “criminosos armados”, a saber: -Luís António Neto, luandino, o “Lóló” Kiambata, luandino; Diogo Lourenço de Jesus, funcionário do Laboratório de Engenharia de Angola, Luandino e Manuel Caetano Soares da Silva, vulgo NELITO, luandino, solteiro e funcionário da Imprensa Nacional de Angola.

DTA1.jpg Dos três kamundongos nacionalistas que participaram nesta acção de luta contra o colonialismo português, apenas Luís Neto Kiambata se encontra vivo, tendo em Novembro de 2020 afirmado seu desencanto com o actual presidente João Lourenço subestimando-o com muxoxos no termo de matumbo; Diogo de Jesus e Nelito Soares, por ironia do destino, foram mortos pelas tropas Tugas, poucos anos depois e, em circunstâncias distintas.

O Diogo de Jesus, foi atingido por um obus no leste de Angola antes de 1974 e o segundo, Nelito Soares o FK* foi assassinado à queima-roupa na Vila-Alice pelos comandos Tugas já depois do 25 de Abril de 1974. Assim se pensava ter sido, até o misterioso encontro entre o T´Chingange Niassalês nos aeroportos Internacional e do Terminal Doméstico numero dois de Guarulhos. Foi, e ainda o é, graças ao “Morro da Maianga” que consegui descortinar um pouco mais a minha alhada… uma meia inventação saída do meu bairro…

DTA2.jpg Aqueles três Camundongos queriam vir a ser reconhecidos ao jeito de como o foi Ché Guevara na Ilha de Cuba. Também eu em candengue seguia de forma empolgada a estória quase épica duma tão lendária figura, descrita duma forma que o tempo desmanchou na verdade que conhecemos hoje; sabemos assim que de grandioso, este médico frustrado argentino só o foi na figura de livros de comiquitas tal como o foi “Lampião” do cangaço brasileiro, o Zé do Telhado do M´Puto ou o Bill Kid nos Estados Unidos da América.

E, é aqui que um ex-defunto de nome Nelito Soares e hoje, Ex-Coronel, recuperado em vivo como Fala Kalado se diz ter andado com o Che Guevara em um lugar perto de Ponta Negra com o nome de Luvungi da RPC- República Popular do Congo - lá para trás no tempo. E, foi exactamente no 25 de Abril de 65 que Nelito se encontrou nesse lugar com um grupo de 14 guerrilheiros; três dos quais, Ramón, Dreke e Tamayo saídos de Cuba com passaportes falsos e, desde Moscovo via Dar-es-Salam na Tanzânia com termino em Luvungi do Congo Braza.

Do grupo original formado pelos três idealistas internacionais Ramón, Dreke e Tamayo, nomes fictícios importados de Cuba por Fidel de Castro e a mando de Moscovo só “Dreke” liderou missões bem-sucedidas em África, a saber, nas guerras de libertação da Guiné/Cabo Verde e República da Guiné. Ficara acertado que, no início, Dreke se iria apresentar como o chefe; Guevara seria o "doutor Tatu", médico e tradutor…

zumbi8.jpg Pois foi na chamada 2ª Região Militar, Zona B. que se deu o encontro de Ernesto «Che» Guevara com o MPLA de Brazzaville. Nelito aqui ficou, na designada “Base das Pacaças” - base guerrilheira do MPLA em território do Congo mas, supostamente designada de Cabinda - de 1965. Estavam lá, Henrique «Iko» Carreira, Daniel Chipenda, Jonas Savimbi, Tomás Medeiros, Nelito Soares, Jorge Serguera - o "Papito" e, o piloto cubano Samidey, Benigno Vieira Lopes «Ingo». Quanto a Ché e segundo um relato de Dreke: "Não ficou ali famoso como guerrilheiro, mas como médico. Como fazem os nossos na ilha em Cuba e outros países, saindo pela manhã, visitando os lugares e distribuindo os poucos medicamentos que tínhamos – kamoquina, rezoquina e bolachas amarelas de quinino"…

Notas: *Esta é uma estória inventada só no que concerne às mentiras…

**kalundu – É uma divindade ou espirito justiceiro, presente na natureza

(A entrevista com o Brigadeiro N´Dachala, continuará…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:12
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Terça-feira, 22 de Novembro de 2022
MUGIMBO CXXVIII

*PRIORIDADE MÁXIMA*

- Crónica 3302 em 16.05.2022 – Republicada a 22.11.2022 em Lagoa do M´Puto

Por MUJIMBO01.jpgT'Chingange em Arazede de Coimbra do M'Puto

Introdução: - Cada um de nós deveria ter uma BAZUCA sem a ilusão e, COMPADRIO carunchosamente facilitado pela fricção corrupta...

MUJIMBO2.jpg Mergulhados em um mundo mediático, publicista e consumista, corremos todos os dias o risco de priorizar o que é secundário. Governo e vendedores de fantasias enchem-nos a paciência sem dó. Muitas coisas são importantes, mas é fundamental estar-se constantemente vigilante na avaliação do topo da lista. Somos sempre estimulados a desejar aquilo que não é realmente necessário, a criar falsas necessidades.

Não podemos viver autocentrados quando o alerta nos torce a mente enganando  nossas urgências e necessidades. Assim, o que é mais importante na vida assume uma posição secundária e passamos a trabalhar, lutar e investir nosso tempo e energias a correr atrás daquilo que é supérfluo ou ilusório...

Sabemos que precisamos priorizar o que é autenticamente importante. O problema é que dar prioridade àquilo que é mais importante, nem sempre brotará espontaneamente de nós. Normalmente, o que em nós pulsa, é o desejo de auto realização correndo o risco de virarmos marionetas.

MUJIMBO3.jpg Queremos afirmação e pensamos que sejam o fruto de nossas conquistas: “Minha beleza, minha inteligência, minha casa, meu celular, meus diplomas, minha profissão…” E, quanta decepção se encontra quando priorizamos o que não nos é assim tão necessário…

Nossa única prioridade real na vida deve ser o de "viver com dignidade e liberdade". No fim de tudo, o que importa é se você colocou a sociedade, seu próximo ou vizinho e família em primeiro lugar...

Com fé, a prioridade surge; e, até encontrará forças e sabedoria para enfrentar qualquer tipo de circunstância! Ao dar o primeiro, o melhor e o mais importante é esse lugar de seu lado positivo no pensar; e, verá assim que tudo o mais se encaixará, naturalmente...

ama3.jpg Sua realização e afirmação não estão no que dizem as vozes deste mundo cheio de propagandas vazias, mas no que diz a palavra da sua humilde e honrosa postura. Sempre é tempo para tomar um novo início com o rumo certificado em mente de progresso.

Comece agora a buscar o reino de seu templo, seu pensar como PRIORIDADE MÁXIMA. Faça disso seu maior interesse e veja cumprir-se em sua vida a promessa com o verbo certo, em um qualquer novo dia: “Essas coisas lhes serão acrescentadas” sem a necessidade de se esquecer...

O Soba T'Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:48
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Segunda-feira, 21 de Novembro de 2022
MISSOSSO . LVI

NO KILOMBO – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…

NA SEDE BAOBÁ de FALA KALADO

– NA SINGULARIDADE DOS KALUNDU***

- Crónica com ficção 330121ª de Várias Partes15.05.2022 – Republicação a 21.11.2022 em Lagoa do M´puto

Por araujo18.jpg T´Chingange – Em Arazede de Coimbra do M´Puto

dachala1.jpg Rosa Casado, a chefe de protocolo da Fundação Zumbi de N´Gola na sede do baobá - lugar do Imbondeiro entre União dos Palmares e o Morro da Barriga, telefonou-me para o número da secreta dando-me indicações que o senhor Brigadeiro e Porta-Voz da UNITA, Marcial Adriano N´Dachala, iria estar à minha espera no d´jango do jardim Imbondeiro. Fiquei verdadeiramente ansioso por este encontro já agendado mas sem data prévia. Há bem uns trinta e dois anos que não nos víamos; era eu nesse então, Presidente do Comité da Lagoa do M´Puto na Diáspora…

Neste agora e, desde a morte de Jonas Savimbi que Marcial N´Dachala se encontrava distante da politica activa. Reapareceu na véspera do Congresso da UNITA como director da campanha do candidato Lukamba Paulo “Gato” de quem é muito próximo. Ao longo da sua trajectória política, N´Dachala, desempenhou funções diplomáticas como representante adjunto da UNITA em Portugal, depois de ter estado no Senegal como bolseiro. Regressou ao país (Angola), na sequência dos acordos de Bicesse, tendo sido colocado como Secretario Provincial do Huambo.

É agora o brigadeiro reformado e responsável da pasta da Informação na sua função de Porta-voz do Partido do Galo Negro que, fez saber recentemente ter valido a pena ter “fé” num desfecho realista: O parecer favorável por parte do Tribunal Constitucional ao seu 13º congresso que foi, apesar do “pouco” tempo que restou para início da campanha eleitoral, a saída lógica, após tanta insensatez, embargo e procedimentos inauditos dentro do que é a lógica institucional…

Dachala5.jpg Ao som de marimbas tocadas por gente ao vivo que aprendeu seu manuseamento bem á maneira de Cangandala, demos um forte abraço; abraço de manos velhos que a estória desavisou no tempo de inquietude, na perseguição e outros contratempos a que agora chamam de resiliência – um colorido de romantismo de vulgar pieguice. Mais kotas, recordamos momentos passados, reuniões frutíferas, muitas falas e, resiliências propositadas!

Recordei-lhe assim, olho no olho como auto felicitação por chegarmos até aqui com um galo de cerâmica no peito cantando nossa margem de intervenção. Eu como um Major Niassalês dentro das instâncias honoríficas, e ele, muito justamente como Brigadeiro aposentado em exercício político… de todos os itens agendados em minha cabeça, por agora só lhe fiz quatro perguntas:

garças7.jpg

P1. de T´Ching…: - Apesar de o TC se ter desmarcado de um alegado projecto de acórdão que foi posto a circular nas redes sociais, a UNITA tenciona agilizar mecanismos de fiscalização à ética deste poder?

  1. de N´Dachala: - Decerto que sim! Iremos formatar numa declaração acusando as autoridades de “terrorismo institucional ao banalizar o poder jurisdicional”, pedindo que o Procuradoria-Geral da República instaure um inquérito para imputar responsabilidades

P2. do T´Ching…: - É sabido; “aliás, a exemplo do Congresso anulado, o TC levou meses até o anotar”, salientei… Isto tem alguma normalidade?

  1. de N´Dachala: - Não mas, não podemos comer nossos próprios fígados (numa postura diplomática continuou…): mas, deixar claro que o processo foi “bem encaminhado”. (Outrossim, explicou…) que, a exemplo do nosso partido, as organizações políticas que também realizaram congressos ordinários depois da UNITA, como são os casos do MPLA, FNLA e PDP-ANA, também ainda, não o tinham sido anotados pelo Tribunal Constitucional. “Estávamos calmos; esse processo de espera não atrapalhou de forma nenhuma o nosso programa”, frisou.

DTA4.jpg

P3. do T´Ching…: - Dá para perceber que o companheiro está um refinado diplomata com essa contenção de impulsos sem chamar o nome certo aos bois?!

  1. de N´Dachala: - Para mim, para o Partido, foram cumpridos, escrupulosamente, tudo aquilo que mandam os estatutos do Galo Negro. Na sequente abertura do ano político 2022, o Presidente, Adalberto da Costa Júnior, proferiu uma mensagem à Nação, no pavilhão multiusos do complexo Sovsmo, em Viana – Um momento alto de nossa existência!

P4. do T´Ching…: - Nossas intervenções irão continuar mas, eu que tenho estado vendo o panorama de longe e coadjuvado por gente precavida como Fernando Vumby aconselho prudência à nossa UNITA…! Depois desse discurso à nação por Adalberto da Costa Júnior, o brutamontes de João Lourenço, ficou muito cheio de raiva. Provavelmente vai até recorrer ao CAP =Tribunal Constitucional, para se vingar do banho que levou do ACJ...! O Indivíduo é rancoroso e vingativo...! Nada de excessos de confiança nestas instituições de Angola…! Este regime do M é capaz de tudo!

  1. de N´Dachala: - Sabemos disso sim; que o sistema judicial Angolano está DOENTE. Na senda do que fez o presidente fundador, Jonas Savimbi, do que fez o general Lukamba, do que fez o doutor Samakuva, a UNITA actuará! É um reiterar com um naturalmente - outros adjectivos terão de dar corpo a este pronunciamento.”

***Kalundu: - Uma divindade ou espirito justiceiro, presente na natureza…

(A entrevista,  pode continuar…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 20:13
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Domingo, 20 de Novembro de 2022
MISSOSSO . LV

NO KILOMBO– NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…

COM FALA KALADO – NA SINGULARIDADE DOS KALUNDU

- Crónica com ficção 3300 – 20ª de Várias Partes – 13.05.2022 – Republicação a 20.11.2022 na Lagoa do M´Puto

Por mess04.jpgT´Chingange – Em Arazede de Coimbra do M´Puto

ROXO133.jpgAR - Na minha qualidade de Zelador-Mor da Fundação de Zumbi de N´Gola fiz uma visita relâmpago ao CDB - Centro de Documentações no lugar de Baobá (Imbondeiro) – lugar de entre União dos Palmares e o Morro da Barriga no estado de Alagoas do Brasil. O historiador Vizeu Antunes, responsável pelo sector, deu-me liberdade de poder consultar os arquivos da Fundação e assim, livre de outros deveres poder ver e analisar antigos dados para assim, prosseguir minha tarefa de entrevistar gente de nomeada na ainda estória recente de N´Gola. E, vasculhando cadernos de apontamentos entre múltiplas anotações recolhi dados ainda mal decifrados no contesto da semântica histórica. Fala Kalado, o agora Comendador - um Ex-Defunto de nome Nelito Soares e hoje, Ex-Coronel, recuperado em vivo e, que andou com o Che Guevara em um lugar perto de Ponta Negra chamado de Luvungi da RPC- República Popular do Congo lá para trás nos anos de 1964 ou 1965.

É aqui que ele encontra Jonas Savimbi, um negro bem negro e, os rumos, lentamente, viraram em novos azimutes. Ainda não tenho bem a exacta certeza de como tudo aconteceu mas e como diz Murphy em seu princípio, o que tiver de ser, assim será na convicção de que escrever o futuro dum morto matumbola* é bem periclitante, quase impossível. Nelito Soares era funcionário da Imprensa Nacional de Angola - Cidade Alta da LUUA… Para muitos é apenas o nome de bairro luandense; combateu, de armas na mão, contra o estado colonial, sem ter visto realizado o sonho da Angola independente, tendo sido morto pela tropa portuguesa no seu Bairro da Vila Alice. Tal como eu, foi estudante na EIL – Escola Industrial de Luanda e fez seu Curso de Sargentos Milicianos na Escola de Aplicação Militar de Nova Lisboa (EAMA)– Huambo.

roxo91.jpgAR - Bom! Nelito, um incorporado nas tropas regulamentares coloniais na região de Cabinda, tal como eu, T´Chingange, um seu colega de armas e, também incorporado na Companhia de Caçadores 1734 de Beja do M´Puto, protagonizou, com mais dois compatriotas, o desvio, para o Congo Brazzaville, de um avião comercial – um “Dacota da DTA” que seguia de Luanda para Cabinda, com passageiros a bordo no ano de 1969 (04 de Junho). O avião que deveria aterrar em Cabinda foi desviado para Ponta Negra. Longe estava, então, Nelito Soares de imaginar que, seis anos depois, num outro dia, com a Independência à porta, havia de ser morto por elementos Comandos das Forças do M´Puto – as únicas que dignificaram o M´Puto em Angola…

Nelito1.jpg NELITOEm frente à então sede nacional do MPLA, a cujos ideais aderiu numa altura conturbada de tomada do poder por este partido/movimento a maka, aconteceu! Ainda mal estruturado este Movimento do “M da vitória ou morte” aterroriza a população de Luanda às ordens “encapotadas” do General de Aviário Rosa Coutinho do MFA - um antigo prisioneiro da FNLA no rio Zaire. Nelito Soares, foi também no bairro da Vila Alice que cresceu e viveu até deixar o país para se juntar, em Brazzaville segundo a estória mal contada, à Luta Armada de Libertação Nacional, protagonizada pelo MPLA.

Era, então, funcionário da Imprensa Nacional. Eram tempos de clandestinidade, sem cartão de militante, nem discursos, muito menos promessas. Angola em um prazo muito curto, virou às avessas por força e graça do “glorioso MFA – salvo seja”. Havia falas surdinadas, salões de baile, ou bailes de jardim ou em locais de trabalho e, num repente depois dum VINTICINCO NO M´PUTO, tudo mudou – Cravos para uns, espinhos para outros, que num repente viram RETORNADOS. Mais tarde os boatos, os rebentamentos nos musseques, a rebelião SAIDA DO NADA, para trabalhar o medo, o apelo à fuga dos brancos

ROXO187.jpgAR -  Manuel Soares de Silva, nome de registo, filho de Luís João Soares da Silva e de Isabel Severina da Silva, nasceu em Luanda, a 19 de Setembro de 1943, tendo falecido em 27 de Julho de 1975. Assim se pensava mas, pelo que já foi contado, saiu morto pela fronteira Sul de Namacunde com o beneplácito de segredo do médico Kimbanda Kassessa. A parti daqui as intermitências da morte sugere segredo de resiliência e, do nada (…) instala-se em Brasil negociando com armas aos traficantes dos morros ao redor de S. Paulo e Rio de Janeiro mas e, sempre com seu novo nome de Fala Kalado.

Seu estudo secundário fê-lo na antiga Escola Industrial de Luanda, onde funciona agora o Instituto Médio Industrial de Luanda (Makarenko), na Vila Alice. Um militar de “veia lusa” afirma que: Esse Filho da Puta foi abatido em 75 nas escaramuças “escaramuças, é favor” – aonde o MPLA emboscou e assassinou vários militares… E, vêem-me agora com panfletos de merda em ode a um terrorista mal fabricado. Malditos reaccionários - fodam-se! Fantoches travestidos em progressistas.

roxo137.jpg AR - Comuna, é mentiroso compulsivo, seja da URSS seja da CHINA, Coreia do Norte ou o raio que os parta! Foram eles sim, quem arregimentou e armou uns quantos candengues “PIONEIROS” que metralharam um Jeep de Comandos Tugas PELAS COSTAS (confirmo que assim foi! Eu estava na Luua neste então), matando logo dois e ferindo gravemente outros dois. Mesmo assim conseguiram levar o Jeep até ao Quartel dos Comandos do Cazenga! Ali, mal viram o resultado desta enorme COBARDIA do MPLA os COMANDOS, a seguir, deram a resposta. A chegada de 2 Companhias dos Comandos desde o Cazenga dignificou o acto de afronta da Vila Alice; esta é a verdade!…Bem! Menos mal que só ressuscito o morto NELITO nesta estória como um Ex-defunto MATUMBOLA!

*Matumbola: - Na superstição de gente bantu, é um morto-vivo - indivíduo ressuscitado por artes mágicas, que cumpre ordens dum suposto feiticeiro kalundu que o trouxe à vida - Uma divindade ou espirito justiceiro, presente na natureza…

Ilustrações de A. Roxo - AR

 (Continua…)

 O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 12:46
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Sábado, 19 de Novembro de 2022
N´NHAKA . XXII

ANGOLA, TERRA DA GASOSA . VIII

CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES

“Angola, quanto tempo falta para amanhã?” Escritos antigos - Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi - 22 de Fevereiro de 2002)

– Crónica 3299 de 12.05.2022 – Republicação a 19.11.2022 na Lagoa do M´Puto

N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…

Por kota0.jpg T´ChingangeEm Arazede de Coimbra do M´Puto

roxo201.jpg Passando o dia nas quedas da Binga e já quase noite, retornamos ao Sumbe, a casa do Sr. Pais da Cunha, pai de Balbina, nosso anfitrião e sogro do Jimba; pela noite teríamos os jogos do Mundial de Futebol 2002. Situada na rua da Resistência, sector impar; o kota Pernambuco estava nos fundos do quintal queixando-se de dores e tremuras - tudo indicava que fosse paludismo, tomara! Dormia ali no relento da sacada no anexo.

Pernambuco, sempre foi um dedicado serviçal mas, agora a idade tornou-o corcunda mais propriamente depois de ser submetido a uma intervenção no hospital de Luanda por pseudo médicos cubanos. A vida por ali andava testada no fastio de sem cerimónias de consciência, andava muito próximo da morte como se assim o fosse coisa normal. Este comportamento social estava muito mudado para pior e em relação aos anos que por ali vivi e até o 13 de Agosto de 1975, quando da minha saída na ponte “Lualix”.

piram3.jpg Disse cá para mim nessa altura, que se calhar não voltaria a ver o kota Pernambuco e, em verdade, morreu pouco tempo depois envolto creio numa apatia de deixa andar para ver como fica, quando se sentia já o cheiro do além ainda em vida. Quando me lembro ainda fico triste. Jimba, marido de Balbina veio a morrer tempos depois e, após ter andado a ser tratado nos hospitais do M´Puto mas seu destino aligeirou-se entre fragilidades, fraquezas de coração e das bichezas cancerígenas…

Aquele velho de nome Pernambuco que tanto se dedicou lá na cozinha do Cantinho do Inferno, anos e anos a fio fazendo comezainas de gente fina como lagosta suada entre outras maravilhas pantagruélicas, ali estava que nem um enjeitado, definhando-se nas carnes dia após dia sem uma atenção mais esmerada pelos circundantes; aquela falta de atenção pelos demais fez-me ver a cruel postura da vida naquela angola acabada de sair da guerra dos misseis monacaxitos.

mirangolos.jpg Apercebi-me que a morte chegava mais rápido ali do que em outro qualquer lado, coisa de pensamento ainda envolto naqueles tempos em que a Novo Redondo se chamava “o cemitério dos brancos” e sem aquela atenção dos demais, a morte já vulgarizada de comum como se assim fosse uns continuados descuidos de humanidade que num repentemente levou Pernambuco… Lá naquele quintal, vou continuar a vê-lo na insignificância dos fundos, para sempre. Mas e agora, o casula Xingu e a Fati também estavam com indicio de febre; foram ao hospital e deram-lhe medicação para a febre tifóide. Tive dúvidas de ser isso e, creio terem-lhe dado este medicamento pelas águas insalubres do rio Cambongo.

A febre tifóide é uma doença infecciosa, transmissível e desencadeada pela bactéria Salmonella Typhi. Isso deixou-me na altura preocupado pelo que beber água só mesmo engarrafada. A doença, que apresenta gravidade variável, está relacionada directamente com as condições de saneamento básico em uma região e com os hábitos de higiene de cada indivíduo. Assim sendo, sua incidência é maior em áreas associadas a baixos níveis socioeconómicos, ocorrendo num maior número de casos nas regiões quentes e sem o devido tratamento.

mocanda9.jpg Numa destas noites Chiquinho saiu a ver novidades pelas ruas mal iluminadas do Sumbe e ao chegar teve a expressão: o holocausto está escuro! Nas noites que ali permanecemos, o galo do vizinho Cadinho cantou a todas as horas ímpares, começou à uma e terminou lá pelas cinco da manhã. Com o calor a apertar de noite tive de me levantar e banhar-me com o caneco de esmalte e, espreitando lá para o quintal do Cadinho pude localizar o galo cantor no meio de uns carros desarranjados com os motores descarnados, vielas soltas com os pistões a servir de varas aos galináceos, restos de geleiras, fogões e corotos vários todos caiados de neve saída dos galináceos, perus e patos…

Pude também ver já com o dia a despontar, no meio daquele conjunto de estralhos e zingarelhos o esqueleto de uma máquina de costura Oliva entre outras imbambas misturados com as baterias, cambotas, restos de macaco e chatarra de pneus, motores de arranque com muito fio enrolado em cima de uma mesa escura de óleo queimado, esqueletos de motorizadas e bicicletas e até um said-car. Também havia um fogão desmantelado, uma geleira que fazia de prateleira a latas besuntadas de óleos a granel. Enfim, todas as imbambas a um qualquer momento davam jeito e tanto que, em um dos dias o Bien, Humberto Cunha, foi lã buscar uma mola helicoidal para adaptar no seu carro hibrido, o mesmo talqualmente, que nos levou ao Lobito.

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)    



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:04
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Sexta-feira, 18 de Novembro de 2022
KAZUMBI ANTIGO
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA
“AS INTERMITÊNCIAS AMARGAS DA MORTE”
Crónica 3298 de 11.05.2022 - Republicada a 18.11.2022  em Lagoa do M´puto
“CAZUMBI: - Feitiço; coisas azaradas; má sorte; milongo envenenado; azar".
Pordia183.jpgT´Chingange – Em Arazede do M´Puto

cazumbi6.jpgDesfolhando aleatoriamente o álbum de família e amigos, torna-se evidente que a morte não arredou pé do seu compromisso com a humanidade e, eis que exactamente num dia, dão-me a notícia de que algures numa rua de Johannesburg um amigo próximo vitimou-se de morte em acidente, de carro, varado por um tubo solto, mal acondicionado dentro de seu carro; não sei mais pormenores porque não é nesta periclitante situação de infortúnio que se perguntam detalhes "de como foi".

Tinha que ser! Fugiu da África do Sul com medo de morrer nas mãos dos novos senhores no após a independência e, logologo numa visita ocasional à família morre em um acidente quase descabido. Não foi noticiado nos meios de comunicação mas, nem toda a gente do mundo pode abanar a tranquilidade dum país decretando dois dias de luto nacional ou ter referência especial nas manchetes do dia nos écrans da TV. As obras de Deus sempre são assinadas com o cunho da adversidade.

cazumbi7.jpg Lembrar agora que no Portugal prófundo que se pensava ter dado morte ao carrasco primeiro-ministro, o povo maior, vacinado e emancipado após ter vilipendiado o "engenheiro" um líder tão contestado, ao invés do veto sagrado dão-lhe o voto sondado. Por vezes as coisas não são loisas, nem todos os Sócrates os são genuinamente. Aquele amigo defuntado na África do Sul, originário da Madeira, decerto não tinha pensado estacionar ali seus ossos. Ele que pelo seguro era um tri-cidadão, resguardado na vida com três passaportes, não previu a morte desta forma.

Português da Madeira por nascimento, brasileiro por crescimento, veio a usar seu fim de vida com o terceiro passaporte, o da África. Meu amigo de nome Moreira não se precaveu com um quarto passaporte para o paraíso e irei sempre recordá-lo por uma frase dirigida a mim, e que ao longo de muitos anos me martelou negativamente. Dizia ele com experiência que "amigo, é aquele que me mete dinheiro ao bolso"; não contestei em sua vida essa afirmação mas, decerto, do muito que arrecadou, nada, agora levou.

cazumbi2.jpg A espada de Dâmocles (o que foi rei por um dia) no dizer de Saramago – o Nobel, suspensa por um fio, cairá um dia nas nossas cabeças. Só peço que não me surpreenda ela, a espada, como um velho mísero, nem tão pouco me apanhe num qualquer asilo como indigente. Quantas pessoas, estóicas, dignas, corajosas, optam pelo suicídio estando assim a dar uma lição de civilidade. Porque é que os políticos (alguns de topo) não seguem esse estoicismo dando-nos uma bofetada sem mãos, morrendo politicamente, entenda-se!

Porque não o fazem, se são tão honestos nas convicções. Já sei! Iriam ser afectados no seu foro ético e moral! O povo Tuga, afortunado por seus ancestrais, encerram-se agora numa malcheirosa penumbra de confessionário optando em sondagem na escolha do seu carrasco. É demais, e do mesmo. Vá-se lá entender tal estirpe! Tanta treta para tudo terminar em maioria absoluta…

cazumbi0.jpg E, ainda falam em uma geração àrrasca - Geração àrrasca foi a minha. Foi uma geração que viveu numa terra que teve de abandonar porque afinal já tinha dono. Uns eram turras e outros filhos do Puto, besugos. Também era proibido ser diferente ou pensar que todos eram iguais com acesso à saúde, ao ensino e à segurança social. Meu amigo de nome Moreira não se precaveu com um quarto passaporte para o paraíso acabando por ficar lá na África…

O Soba T´Chingange (Ochingandji)


PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:36
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Quinta-feira, 17 de Novembro de 2022
GUARARAPES - 5

RECIFE – A SAGA DO AÇÚCAR – TOMADA DE LOANDA PELOS MAFULOS

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA

Crónica nº 3297 de 10.05.2022,em Arazede do M´Puto – Republicação a 17.11.2022 em Lagoa do M´Puto

Por soba40.jpgT´Chingange (Ochingandji)  

A figura pública de Figueiroa foi contestada quando ainda era governador de Cabo Verde mas, na saga Atlântica, como herói na tomada de Pernambuco, passou a ter uma forte ligação com a história…

suku0.jpg Na sua relação com Angola, interessa descrever o seu trajecto de vida. A vinte e dois de Janeiro de 1639, Filipe III, rei de Portugal sob o domínio de Castela, nomeou Pedro César de Mendonça Governador e Capitão-General dos Reinos do Congo e N´Gola. Francisco de Figueiroa que já era um destacado homem, reivindicador de seu posto de fidalgo da corte, foi nomeado Almirante, o segundo posto depois do de General e simultaneamente Ouvidor da Colónia, um alto cargo nesse então.

Nesta expedição a terras de África embarcou como soldado António de Oliveira Cadornega que mais tarde, entre 1860 e 1861, se reactivaria a história das guerras Angolanas escritas por si, em três volumes da Agência Geral do Ultramar. As duas naus “Rei Dadid e Santa Catarina” chegariam a Loanda em 18 de Outubro desse ano de 1639.

madeira01.jpg No dia 30 de Maio de 1641, parte do Recife uma expedição de 21 navios comandada por Cornelis Cornelis Zonjil com 3000 homens, marinheiros Mafulos (Holandeses) e infantes mercenários de várias nacionalidades da Europa de então a soldo da Companhia das Índias Ocidentais, todos eles experimentados nas guerras de Flandres e Alemanha.

Estas forças de guerra tinham por objectivo tomar Loanda, ocupar N´Gola e dominar o mercado de escravaria da região, importante mão-de-obra para os engenhos de Pernambuco em seu poder. Ao largo da baia de Loanda, a 23 de Agosto desse ano, esta esquadra é avistada de terra, do lugar sobranceiro de fortaleza de São Miguel e parte alta do insípido caserio daquele esboço de cidade já com quase 4000 almas.

maful1.jpg Os moradores com seus governantes, arraia-miúda de desterrados e escravos evacuaram a cidade levando os haveres possíveis, refugiando-se no arraial de Kilunda do Bengo. Esta fuga teve redobradas dificuldades por terem à-perna os nativos descontentes flagelando os mwana-pwós e o governador Pedro Cézar. Este governador tinha-se revelado um homem de má índole, inepto no mando de gente e detendo haveres por corruptas e enganosas tramóias.

No dia 25 de Agosto de 1641 os Mafulos com toda aquela gente de olho azul, vestida de ferro, tomam posse de todo aquele caserio e fortaleza sem grande contratempo. Na manhã de 17 de Maio de 1643, dois anos depois, os Mafulos, contrariando acordos de relação comercial dúbia por parte de alguns portugueses, atacam por isso mesmo, de forma inesperada, o arraial do Bengo.

maful2.jpg A usura do governador Pedro Cézar tinha transbordado em traquinices resultado daqui a morte de alguns dos defensores. O próprio governador e o Ouvidor Francisco de Figueiroa foram presos e levados para Loanda. Estes “ilustres desclassificados” na visão de pontos de vista dos cronistas de então, foram embarcados para o Recife; estes, com mais alguns destacados comerciantes negreiros, compraram a sua liberdade a troco dos seus baús carregados de jóias, ouro e património de indevida apropriação à igreja e seus pares, ricos negreiros não colaborantes.

A soltura de Figueiroa ficou-lhe em mais de 15 mil cruzados pelo que, pode assim regressar ao Brasil tendo-se instalado em Bahia de todos os Santos por algum tempo. Figueiroa regressa à Madeira em uma escolta de navetas a cinco navios que regressavam da Índia aportando no Funchal para reabastecimento. D. João IV, tendo notícias de que a holanda preparava uma armada destinada a reforçar as guarnições holandesas de Pernambuco e Bahia; sabendo disso, deu ordens musculadas para que Portugal enviasse tropas de infantaria para tais destinos pois que se estava a tornar demasiada tardia a ajuda solicitada por Pernambuco. Em Lisboa formaram-se 100 infantes em 2 caravelas; no Porto, outras tantas de Viana do Minho, Aveiro, Algarve, e Setúbal. Ao mesmo tempo dava ordens a Figueiroa que levantasse 500 infantes da ilha da Madeira e Açores para tal envolvimento militar…

madeira3.jpg

GLOSSÁRIO: Mafulo: - Holandês em dialecto kimbundo de Angola

NOTA: A reconquista de Angola virá logo a seguir, pois que foi do Recife que saiu Salvador Correia de Sá e Benevides com uma frota de naus, que libertou Loanda do jugo Mafulo - * Pode agora entender-se a importância destas ligações entre a Metrópole, Brasil, Ilhas Atlânticas e Angola… Factos quase desconhecidos no mundo português da aqui referida Globália

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Ochingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:15
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Terça-feira, 15 de Novembro de 2022
GUARARAPES - 4

RECIFE – A SAGA DO AÇÚCAR

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – CAXEIROS E O OURO BANCO

Crónico nº 3296 de 09.05.2022 – Republicação a 15.11.2022 para o Kimbo Blogue

Por Fraternidades3.jpgT´Chingange (Ochingandji)

vieira2.jpg Os Tugas, resgataram a prática do uso escravo podendo de forma sintética mencionar o padre António Vieira quando refere “Sem açúcar não há escravos e sem escravos não há açúcar”. Como já foi dito, a Madeira como berçário de novas práticas sociais foi nos primórdios da expansão Lusa, o primeiro e mais importante mercado receptor de escravos africanos. À ilha chegaram os primeiros escravos guanches e marroquinos que contribuíram para o arranque económico do arquipélago e a diáspora Lusa.

Depois, foi o pau-brasil, e os caixotes de nobres madeiras que serviam para transporte do ouro branco. Nos dias de hoje, ainda se podem apreciar mobílias feitas de boas madeiras levadas do Brasil como o jatobá, jacarandá, sucupira ou angico; estas madeiras, curiosamente eram tão-somente a estrutura dos “caixões” para transportar 300 quilos de açúcar. Talvez por isso se designe aos contadores ou administradores das remessas de “caixeiros” pois, mais não eram somente do que zeladores dessas caixas de açúcar.

Os maiores e melhores organizados destes caixeiros eram os imigrantes ou colonos de ascendência judaica, essa grande diáspora unida à semelhança dos Ilhéus que por via da inquisição levaram famílias inteiras a se refugiarem nas praças do Norte da Europa como Amsterdão, Antuérpia, Rochela, Londres ou Bordéus. Por iniciativa própria e por sobrevivência, estabeleceram redes de negócio familiares que vieram a ser considerados como o principal suporte da rede comercial resultante dos descobrimentos.

olinda4.jpg Esta rede comercial é em realidade uma verdadeira contradição com os comportamentos da expansão cristã, o que me leva a salvar a teoria de que em negócios tudo é possível. Nesta rede comercial, Angola, aparece como principal consumidor de vinho da Madeira a par com o Brasil, país irmão. Há escritos de caixeiros referindo fornecimento de 100 pipas de vinho da Madeira no ano de 1651, poucos anos após Salvador Correia de Sá e Benevides ter escorraçado os Mafulos de Loanda.

No Funchal, em São Vicente do Brasil, Pernambuco, Bahia, Luanda e Santiago de Cabo Verde por via do negócio do vinho, há novas apetências surgindo por isso uma chusma de pequenos burgueses. São estes os vértices do mundo Português, a Lusofonia actual que dá agora importância com consciência às praças dum antigo recheio colonial. Muitos de nós de genes mestiça, somos o fruto deste fado chamado de diáspora; o fruto desses antigos mestiços, capitães, mestres e serviçais, escravos duma sanzala qualquer, servindo sempre um senhor.

vieira1.jpg O senhor do engenho ou navegador aventureiro da rota do cabo, de um sonho, uma saga. A retórica com manipulação de novos discursos, para serem históricos, terão de se basear nessas evocações, fundamentos na reposição da verdade. É para isso que servem os grandes homens, a quem vulgarmente chamamos de estadistas. Pernambuco com o contributo da Madeira foi a capitânia que gerou o nativismo mais virulento da história brasileira.

A batalha de Guararapes com João Fernandes Vieira mestre de campo nomeado pelo rei D. João IV, virá sempre à tona quando se relembra esse distante passado que deu nome ao futuro luso-brasileiro e angolano. Também há um importante factor de mudança em termos de tonalidade democrática pois que aqui começa a mistura do povo, lavradores e trabalhadores braçais com fidalgos, funcionários do reino, comerciantes, ouvidores e artesãos entre fiorentinos, genovezes ou flamengos originando um modelo especial com apego à terra e o conceito de brasileiro.

guararapes3.jpg Esta saga que originou a Globália, foi e continuará a ser uma característica sem igual da colonização missegenada de Portugal no Mundo. O mundo das nações do G7 e outros que advirão, deverão obrigatoriamente enaltecer este predicado na história da colonização do povo português ao invés de os menosprezar. Tudo o exposto demonstra bem a mescla de gentes, e também o surgir de um linguajar de escravaria com estratos subalternos do engenho e a relação entre o patrão, coronel ou fazendeiro. Surge assim a par de João Fernandes Vieira outros nomes como Gerónimo de Ornellas e Francisco de Figueiroa, todos eles Madeirenses a não esquecer porque engrandeceram o mundo Lusófono. A figura pública de Figueiroa foi contestada quando ainda era governador de Cabo Verde mas, na saga Atlântica, como herói na tomada de Pernambuco, passou a ter uma forte ligação com a história…

reci1.jpg 

GLOSSÁRIO: Mafulo: - Holandês em dialecto kimbundo de Angola

NOTA: A reconquista de Angola virá logo a seguir à Saga do Açúcar pois que foi do Recife que saiu Salvador Correia de Sá e Benevides com uma frota de naus, que libertou Loanda do jugo Mafulo

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Ochingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:09
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Segunda-feira, 14 de Novembro de 2022
N´NHAKA . XXI

ANGOLA, TERRA DA GASOSA . VII

CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES

Lembranças de escritos antigos - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?”

– Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002)

– Crónica 3295 de 04.05.2022- Republicação a 14.11.2022 para o Kimbo

N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto aos rios, horta…

Por chai4.jpgT´ChingangeEm Lagoa do M´Puto

deserto5.jpg Cambongo Negunza, é o nome do rio que desagua a norte do Sumbe e é dali que sai a água, sugada do rio, que sem tratamento segue para a rede da cidade chegando aos soluços, quando chega, sempre barrenta. O viveiro, em tempos verdejante e com muitas mudas de árvores e plantas para as ruas e jardins da urbe está agora mais que desprezado, acabado; vêem-se umas rosas de porcelana ressequidas no meio de tufos que definham no castanho, tendo o rio a dois paços. Mais à frente e do outro lado da estrada o tio Chico* vende petróleo a caneco.

De calções desbotados, camisa solta, mostra a velhice que se aproxima rápido; pés inchados indiciam ácido úrico e mazelas que se esborracham no chinelo de dedo grande, as manchas são mais que muitas coloridas de terra colada à gordura do querosene adocicado na terra do pó que se levanta com o vento e quando passa as relíquias de dodge, chevrollet, carrinhas ford ou camiões Scania mas, e também Urais dos militares russos; tudo faz levantar pó que se agarra ao transpirar da gente desde o cachaço às matubas do mijo mal pingado…

cafu14.jpg Tio Chico sentado no seu velho mercedes branco atende com rabugice os candengues que trazem latas, mulheres embrulhadas em panos com as esfinges de Eduardo dos Santos*, Mobutu e Mugabe, bafanas desocupados de trabalho efectivo que desenrascam só no leva e trás dos recados de quem vende chita e zuarte lá nas lojas do burgo. A crise da luz faz aumentar o consumo do querosene avermelhado. Cada caneco despejado, tem uma descarga de um monte de nomes fazendo vírgula com sundiameno e ponto e virgula com topariobé entre os recados e devolução de trocos em moedas de luínhas e notas surradas de kwanzas…

Tio Chico já com seus mais de setenta anos de idade sobrevive assim com a ajuda do irmão Cunha que prospera no negócio de venda de bebidas, bolungas, pneus, géneros alimentícios e outras candongas; dá para notar que o cumbú do tio Chico anda malé mesmo. Ué, beber água!? Só do Luso! Também aparece água da Chela de rótulo azul que diz ser da nascente natural – a condizer lá está colado o rotulo com o mapa minúsculo de Angola com a bolinha do sítio e o dizer: “Produto de Angola”…

O mercedes do tio Chico, tinha tanta terra dentro dele que seus sobrinhos Zito e Chiquinho até disseram que se podia ali plantar mandioca ou até cana-de-açúcar; um exagero bem condizente com o galinheiro chique de Mercedes Benz. Saídos dali, fomos até às Quedas da Binga no rio Queve ou Cuvo situada a uns oitenta quilómetros do Sumbe. De geleiras de isopor, esferovite cheias de gelo e cerveja, escolhemos lugar sombreado do parque e entre mergulhos lá íamos comendo iguarias feitas de esparregado de folha de abobora, folha de batata-doce e croquetes de peixe do rio Cambongo e ostras da foz do Cuvo.

sumbe1.jpg Estando ali na Binga e vendo a ponte meio derrubada pelos cubanos quando do avanço da forças vindas da África do Sul, fomos ao topo dos rápidos ver de perto como se fazia agora a travessia e constatamos haver uma grandes chapas de ferro grosso a ligar os pilares e muros que resistiram ao original desmantelamento por efeito de minas; Os militares de plantão não nos deixaram tirar fotos mas, sempre acabamos por fazer alguns registos fotográficos.

Visitamos um velho conhecido da antiga JAEA e que neste então se chamava de INEA. Passou de Junta a Instituto mas de relevo só mesmo o nome porque os buracos por todo o lado eram mais que muitos. Visita feita, tratamos de nos regalar nas águas frescas a montante das quedas com algumas ilhas e penedos a rodear-nos. Mais acima da corrente as donzelas tomavam banho com as mamas a leu, luzidias de negro, pulavam e gesticulavam-nos adeus, a mim e ao Zito. Assim metidos na água, até parecíamos, o Tarzan branco na minha pessoa e o auxiliar do Mandrak, o Zito Lothor preto, como se estivéramos numa cena de filme.

angola5.jpg Na merenda, pude observar a boa conservação do parque, muros caiados, terreno limpo e um vigilante a não permitir que a garotada se acercasse de nós pedinchando a famosa gasosa e, foram fotos debaixo da cachoeira, um sengue que mansamente se deslocava na margem de lá deixando rasto na areia ali depositada, a espuma da água compondo brancura. Recordei neste então a minha estada ali em lua-de-mel no ano de 1970 – naquele agora pareceu-me mais majestosa pelo muito caudal de água. As cervejas, sagres e castle da África do Sul estavam de arrepiar frescura sequiosa. Por debaixo do imbondeiro e ladeados por marulas, mutambas e upapas, nelas riscamos corações com flexas entre muitos outros nomes já ali encarquilhados no tempo com casca. Quase noite, retornamos ao Sumbe, casa do Sr. Pais da Cunha*, pai de Balbina, nosso anfitrião e sogro do Jimba*

Notas*: Tio Chico, Jimba, Pais da Cunha, Eduardo Santos (o presidente), todos já falecidos (14.11.202)

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)   



PUBLICADO POR kimbolagoa às 08:50
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Domingo, 13 de Novembro de 2022
KALUNGA . XXXIV

KIANDA COM ONGWEVA NAS FRINCHAS DO TEMPO - XIX de várias partes…

– Crónica 3294 de 04.05.2022 – Segredos de sua tetravó Zachaf Pigafetta Roxo no Museu do Prado em Madrid…

Republicação a 13.11.2022 em Lagoa do M´Puto

Ongweva é saudade

Por zedu4.jpgT´Chingange (Ochingandji)

tukya13.jpgCA - Quase tudo que vou dizer é mentira mas, tende a ser verdadeira. Como disse, foi graças à insistência do Conde de San German que ela, tetravó de Roxo se decidiu a abrir comigo: Sua mãe (de Roxo) kianda negra foi Redufina Kabasa Tsvangirai que se umbigou com um tal de Morgan Tsvangirai. Que nasceu preta-preta retinta mas, no correr dos dias foi ficando assim branquela como o é hoje. Ela a kianda Assunção Roxo deu seu primeiríssimo alerta de vida nas águas do lago Chivero, que fazia fronteira com a fazenda farm de Morgan Tsvangirai.

Pois, tranquilamente disse-me que sua mãe era preta retinta, casada com esse tal de Morgan Tsvangirai, que ganhou a primeira volta nas eleições em confronto com a múmia Mugabe, após vários dos seus apoiantes terem sido assassinados. África é assim mesmo, inconstante, de revoltas permanentes e, aonde o poder vira tribal, mesmo brutal. Zimbabwé era um território farto em acontecimentos irreais (confirmei isto mais tarde a duras penas no lago Kariba). Foi isto que os motivou a transladarem-se para o Kwanza e ficar ali bem perto de Massangano, também um lugar de muita magia, da antiga.

paradi2.jpg Massangano, aonde os espíritos ainda conferenciam muxima por ser um pambu-n´jila (lugar de afectos especiais com bwé Muxima). A múmia Robert Mugabe venceu as eleições convocadas para o dia 28 de Junho de 2008, sendo reconduzido mais uma vez ao poder, desta feita pela sexta vez consecutiva, por desistência do pai de Roxo. Esses foram momentos conturbados mesmo para Morgan Tsvangirai*, e até para kiandas como nós, disse sua tetravó Zachaf Pigafetta Roxo. Com o apoio internacional, houve uma partilha de poder que durou cerca de quatro anos.

Este Governo de Unidade Nacional revelou-se ineficaz para acabar com as fortes tensões e evitar confrontos sangrentos entre os apoiantes de Mugabe e Tsvangirai. Em 30 de Junho de 2013 Robert Mugabe foi novamente reeleito, apesar da oposição adocicada.

massangano1.jpg Talvez seja a sina de África ter gente que nunca chega a crescer em definitivo – são na grande maioria crianças até quase morrer e morrem até, sem curriculum vitae… Ficam sábios quando recebem a estrema unção dum quimbanda credenciado nas bocas do Mundo. Acho que Nosso Senhor não andou por ali e ficaram só abençonhados por aquele branco chamado de Livingstone. Em 2018, passei por lá e vi que a nota, dinheiro de maior valor tem três pedras empilhadas no lugar da esfinge dum possível estadista – Vale zero! Os kinguilas vendem-nas aos magotes para malucos coleccionadores, a preço de banana podrida…Aiué!

Posso agora entender do porquê esta kianda Roxo andar assim tanto de um para outro lado irrequieta, sem saber desta sua dupla vida mas, compartilhando xispanços de tinta com maestria. Xispanços de pinceis electrónicos na forma de gigabaites que se traduzem em cores holográficas, fosfóricas e ate cibernéticas; pinturas do paralém de assombros que só kiandas podem executar. A surrealidade está-lhe no equinócio de singularidade primaveril.

muxima1.jpg Pois! Com tantas nuances – de cada uma das diferentes gradações pode ter uma cor entre o seu claro e o escuro periclitante que, teria mesmo de acabar esta intrincada estória no equinócio de primavera, uma óptima sinalização para quem vive no lugar dos espantos, fenómenos dum Entroncamento. Convém lembrar que o primeiro dia da primavera, o que ocorre todos os anos entre os dias 20 e 21 de Março, este ano, aconteceu no dia 20 de Março de 2022 às 15h33. Pude ver isto nos astros…

Equinócio é uma palavra em latim que aglutina dois termos com significados diferentes. Aequus significa "igual" e nox, "noite". O termo quer dizer literalmente "noites iguais", isto porque nessa altura a noite e o dia têm sensivelmente a mesma duração, 12 horas. Nesta altura da estória tenho de confessar que a kianda Oxor nunca foi vista por mim ao vivo mas, estive lá bem à sua porta no lugar do Entroncamento, terra de fenómenos e assombrações – Se estava com uma nevralgia ou artrite, não pude perceber o cheiro intenso da canfora, dos cremes usados para aliviar dores como o diclofenaco ou dietilamônio. Mas, falando com “Humberto Delgado” durante o almoço das enguias, senti que havia um torcicolo para decifrar com a kianda gémea de Roxo… Assim, ao invés de fataça comi enguia, bem boa!

zebra1.jpg NOTA*: - Morgan Richard Tsvangirai já desfaleceu, quersedizer, morreu em 2018! Foi em verdade, um sindicalista, activista de direitos humanos e político do Zimbabwé, antigo primeiro-ministro do país, depois do acordo de divisão de poder que foi estabelecido com o então presidente Robert Mugabe depois das eleições presidenciais, em Setembro de 2008…

(Continua com “fricção ficção”…)

O Soba T´Chingange (Ochingandji) – Na Lagoa do M´Puto

Equinócio é uma palavra em latim que aglutina dois termos com significados diferentes. Aequus



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:00
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Sábado, 12 de Novembro de 2022
GUARARAPES – 3

RECIFE – A SAGA DO AÇÚCAR

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA - O bodo dos pobres na “Folia do Divino” - ILHA DE SANTA MARIA nos AÇORES

Crónica nº 3293 de 03.05.2022 – Republicação na Lagoa do M´Puto a 12.11.2022

Por açores1.jpgT´Chingange (Ochingandji)

praia3.jpeg Saíram deles MADEIRENSES, os canaviais com seus canais de rega, engenhos e rodas motrizes. O seu contributo na feitura do Brasil teve início com a libertação do Maranhão (S. Luís) que se deu no ano de 1642 tendo António Teixeira de Mello como libertador enquanto em Pernambuco e, pelo ano de 1645, João Fernandes Vieira organizava resistência armada aos Holandeses (Mafulos); para tal, em 1646, recebeu do rei D. João IV a carta de patente de mestre-de-campo para chefiar um terço da Infantaria formada nas Ilhas.

Ficaram a seu comando, 500 homens recrutados na Madeira, Ilha do Pico, S. Miguel, Faial e Graciosa no Arquipélago dos Açores. Este terço era constituído por quatro companhias de 125 homens. Os combatentes Madeirenses que se bateram nas campanhas de Bahia e Pernambuco contra os Mafulos, receberam tenças ou cargos administrativos como recompensa pelos serviços prestados; assim, se alicerçou as instituições régias de soberania local defendendo-a de corsários franceses, castelhanos e os aqui referidos Mafulos.

madeira2.png Por via do novo Tratado de Madrid que substituiu o já desusado trato de Tordesilhas, constituiu-se como primordial, a efectiva ocupação do território por gente Lusa. Em 1746 foram enviados casais Açorianos para terras do Sul; estava em curso o estancar de gente de Castela que ao longo dos anos se tinha instalado na foz do Rio Prata, actual Uruguai, uma parte da grande Cisplatina.

Florianópolis passou a ser nesta corrente migratória a 10ª ilha dos Açores em terras do Brasil. É curioso dizer-se agora, ano de 2022, estarem as evidências culturais de sua origem mais vivas do que em sua terra mãe através das festas do Espirito Santo e os mistérios em honra do “Divino”, festa de Pentecostes que no calendário católico têm lugar cinquenta dias após a celebração da Pascoa. A tradição foi difundida nas ilhas por influência da Rainha D. Isabel (1276 a 1336).

açores2.jpg Tive oportunidade de assistir anos atrás à coroação de um Imperador na Ilha de santa Maria dos Açores e, nesse dia fui ao bodo dos pobres; ”folia do divino” que ocorre em toda a Ilha e que foi transposta para Santa Catarina do Brasil. Em S. Vicente, persiste a tradição do bodo, mesa farta no dia do Divino Espírito Santo aonde ninguém paga e ainda leva merenda ou bolo para suas casas.

Na ilha de Santa Maria comprovo porque vi, em Santa Barbara e Vila do Porto, aos fins-de-semana andarem uns mordomos com vestimentas brancas como as das irmandades, fazendo peditório para esta época de quermesse. Por vezes gente vinda da diáspora da globália saudosa desses costumes dá alvissaras ofertando tudo para esta festa e, são inúmeros os voluntários a ajudar nas muitas actividades.

açores4.jpg Neste triângulo Europa (Portugal), África (Angola) e Américas (Brasil), no que concerne ao conjunto de países dos PALOP´s (Países ou estados autónomos de língua oficial portuguesa), a Madeira e os Açores, estão no princípio de singularidade dos usos como um laboratório experimental da sociedade Atlântica. Há neste conjunto de tradições laivos de cultura Guanche levadas das ilhas Canárias de Tenerife e Gomera tais como bordados e trabalhos manuais com uso de madeira… Convém aqui lembrar que no mundo Mediterrânico, crescente fértil e em África em geral existia de há muito tempo a escravidão entre tribos como coisa natural, mão-de-obra barata entre etnias branca e preta.

Isto aqui referido está descrito nos testamentos da Bíblia, no livro do Géneses em que os vencidos eram tornados à condição de escravos, em troca de suas vidas; gente da tribo de Canã; este gesto era tomado como “humanitário” e, fez parte de todos os códigos da antiguidade como o de Hamorábi, e o direito Romano que serviu de referência ao mundo Português, mas não só, até o século XIX. Entender-se assim a forma de servilidade tão característica nestes grupos de gente Lusa ancestral com origens diversificadas. Tudo isto para concluir que a escravidão foi introduzida na América em 1492 pelo próprio Colombo e conquistadores que se lhe seguiram pois que, em suas naus já levavam escravos. Foi, no entanto, a partir de 1501 que os introduziram em São Domingos. No Brasil, só se comprova a existência de escravos a partir de 1531, na Capitânia de São Vicente.

açores3.jpg 

GLOSÁRIO: Mafulo: - Holandês em dialecto kimbundo de Angola

NOTA: A reconquista de Angola virá logo a seguir à Saga do Açúcar pois que foi do Recife que saiu Salvador Correia de Sá e Benevides com uma frota de naus, que libertou Loanda do jugo Mafulo

O Soba T´Chingange (Ochingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 11:29
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Sexta-feira, 11 de Novembro de 2022
MISSOSSO . LIV

NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…

COM FALA KALADOCUITO CUANAVALE . MAVINGA

- Crónica com ficção 3292 19ª de Várias Partes – 26.04.2022, na Pajuçara do nordeste brasileiro – Republicação a 11.11.2022 na Lagoa do M´Puto  ( Dia da Independência -  Há 47 anos...)

Porguerri3.jpgT´Chingange 

Numa01.jpgGeneral Kamalata Numa da UNITA 

Continuação das falas com o General Numa da UITA (ficcionada)

P: - A Batalha de Cuíto Cuanavale ocorreu entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988. Foi a batalha mais prolongada que teve lugar no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial. Que nos diz acerca desse evento?

G: - A batalha de Cuíto Cuanavale continua a ser reivindicada á revelia dos generais da UNITA que nela participaram; sempre será uma fractura entorpecida da verdade, quase um tabu no enaltecer de vaidades. Subsiste sempre aquilo que já se verificou na estória e, que ficou conhecido como o “Síndroma de Estocolmo” que, pode bem aqui, ser chamado de “Síndroma do Cuíto”

Por que isso aconteceu? Abro aqui um parêntesis para e em síntese, explicar o que é isso de “Síndroma de Estocolmo”: Algo que nem eu conhecia ao pormenor - Foi um caso peculiar que permitiu a observação de um estranho fenómeno em que os militares, passam a ter fortes afectos pelo próprio agressor (UNITA) após casos sérios de violência física, psicológica ou guerra forçada e prolongada. O soldado patriota, passa a ter um relacionamento de lealdade e solidariedade com seu agressor. A teoria consiste em acreditar que, apesar das adversidades apresentadas, o inimigo (UNITA) está de alguma forma tentando proporcionar algo bom. A vítima, MPLA, pensa não ter possibilidade de escapar da situação, uma vez que está em situação de vulnerabilidade – É o sistema de defesa da mente humana a buscar uma maneira de aliviar a situação.

mavinga2.jpg P: Para além da fuga de Luanda em 75, ouve mais tarde aquela que ficou conhecida como a “Grande Marcha” dos sobreviventes da UNITA à perseguição das forças ditas governamentais! Correcto?

G: - Ainda lembrando: No dia 8 de Agosto de 75, a UNITA em Luanda, teve de evacuar todos os seus ministros do Governo de Transição. Dá-se o genocídio da UNITA no Pica-pau com o assassínio total de todos os seus ocupantes. A perseguição continua até 17 de Agosto de 1975, obrigando todos os dirigentes, demais elementos e simpatizantes, Umbundos a fugir para onde quer que fosse para se manterem vivos. Em verdade, quem instalou a lógica da guerra foi o MPLA com a supervisão, beneplácito, oferta de material bélico e logística do MFA, dos portugueses …  

P: - Perto de Vila Flôr a cerca de 40 km do Huambo, na noite de sete para oito de Setembro de 1976, Canhala foi cercada, atacada, saqueada tendo o governo do MPLA massacrado toda a população. Foi assim, general?

G: - Isso! Não podendo admitir o erro, o MPLA atribuiu aos “fantoches da UNITA” a responsabilidade pelo massacre; quando, na verdade, a UNITA se encontrava desmantelando para Sudeste. Até final de 1976, embora desfalcada, a UNITA resiste a três operações dos cubanos e MPLA “Tigre” no Leste; “Kwenda” a Sueste; “Vakulukutu”, no Cunene. Neste ano, Savimbi envia para Marrocos 500 homens que, a coberto do apoio do Hassan II, recebem treino militar – em Março do ano seguinte, no 4º Congresso da UNITA, estes homens são nomeados comandantes do exército semi-regular da UNITA.

mavinga1.jpg P: - Pelo que sei também ouve actuação de topas congolesas al lado das topas ditas regulares do MPLA, Certo!?

G: - É verdade! À coligação MPLA/cubanos juntam-se tropas congolesas com um total aproximado de 10 batalhões que passam a actuar no Centro/Sul de Angola, praticando a politica de terra queimada e, na qual ficou a ser conhecida por “Ofensiva Ngouabi”, de Marien Ngouabi, presidente do Congo e que, em Setembro de 76, visitou oficialmente Angola. Entre as aldeias mártires da “Ofensiva Ngouabi”, contam-se Quissanquela, Capango, T´Chilonga, T´Chiuca e Mutiete. Nesta última, foi sumariamente executada toda a população masculina.

P: - A República Popular de Angola é admitida na ONU e reconhecida por vários países. Portugal seria o 88º membro a reconhecê-la. E, Como ficou a UNITA, general?

G: - Nesse mesmo mês, o comité político da UNITA abandona Huambo e inicia a retirada par Sudeste, com cobertura de uma coluna Sul-africana. Savimbi está no Leste e inicia, juntamente com duas mil pessoas, aquilo a que se veio a chamar a “Longa Marcha”. O líder da UNITA, Jonas Savimbi, viria a atingir o Cuelei, a 28 de Agosto, milhares de quilómetros percorridos, apenas com 79 resistentes.

mavinga3.jpg P: - General, parece que tudo se acertou em 1991 com o tão desejado “Acordo de Paz”.

G: - Pois ouve sim uma pausa quando se sentaram à mesa nessa data, Alicerces Mango e Lucamba Paulo Gato pela UNITA e, Pitra Neto e o general Ika pelo MPLA. Foi nesse então que a UNITA exigiu um governo de direito democrático que nos levou a Bicesse; isto só foi possível após o último assalto ao Cuíto Cuanavale.

Mas, em verdade, foi a Batalha do Lomba em 1987, ganha pela UNITA que levou o MPLA a sentar-se à mesa de negociações. Se não fosse assim, nunca o MPLA cederia!

mavinga4.png P: - General, para terminar, qual foi a decisão que mais pesou na mudança da guerra?

G: - Naquela batalha do Lomba houve por parte de Savimbi a decisão de eliminar todas as fontes de abastecimento ao combustível petróleo. Foi sim decisivo na quebra de logística do MPLA que pretendia ser o dono da história e seguir subserviente à mentirosa versão russa. Mas, é sabido que os interesses económicos estão acima de qualquer outro ideal. E, aqui os americanos deram a volta – que ninguém mecha com seu petróleo. – Adeus USA, adeus América… Teremos de terminar aqui, com a oferta de alta tecnologia americana a Savimbi que sem falhas o localizou e, matou… Há sempre algo desconhecido que nos espera… Abraço!...

(Continua…) 

O Soba T´Chingange (Otchingandji)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 15:40
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Quinta-feira, 10 de Novembro de 2022
MISSOSSO . LIII

NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…

COM FALA KALADO – A TRAIÇÃO DO ALVOR - Crónica com ficção 3291

18ª de Várias Partes 25.04.2022 ,na Pajuçara do Nordeste brasileiro

– Republicação a 10.11.2022 na Lagoa do M´puto

Por ÁFRICA17.jpgT´Chingange

vaca0.jpg Aquele encontro em Lindoya com o General Kamalata Numa da UNITA, acabou em churrasco com a promessa de me dar uma entrevista sobre o tema Angola… Dizia então que se “Deus quiser como é de norma dizer-se entre cristãos” iriamos aqui estar de novo. Desta feita e, de comum acordo, falamos no exacto dia em que se comemora o Vinticinco de Abril no M´Puto (48 anos passados), o qual com todas as vicissitudes deu origem à independência de Angola. A entrevista começa assim do nada e, em uma data apelidada aqui de Vinticinco:  

P**: - General, como pode ver agora essa data de Vinticinco de Abril de 1975 que foi tão marcante para a liberdade no espaço da Lusofonia?

G**: - O regime instaurado em Portugal a 25 de Abril de 1974, tudo tem feito para minimizar os crimes cometidos contra a nova nação Angola, traindo logo à partida o Acordo de Alvor e, que ainda tanto apregoam e, pelos quais é directamente responsável; promovendo a propósito, o mito de que a Revolução dos Cravos foi uma “revolução sem sangue”. Por outro lado, passados que são 48 anos, ainda não ouve um alto dignatário do Governo do M´Puto que mencionasse este desaire que culminou na entrega da governação ao MPLA.

Numa01.jpg P: - General, para além do mais, estão hoje (dia do Vinticinco) condecorando com a ORDEM DA LIBERDADE no M´Puto o vilão que tudo fez para desvirtuar todas as eventuais boas intenções do Concelho da Revolução, um oficial vermelho chamado de Rosa Coutinho?

G: - Em 15 de Janeiro de 1975 foi assinado esse acordo que refere, “Acordo de Alvor” que deveria corresponder à transição de poderes de Portugal para os três movimentos emancipalistas reconhecidos. Portugal, tomou logo partido pelo MPLA pois que já antes deste acordo, se tinham reunido em Argel para consertar os procedimentos a que viemos a assistir. As consequências são por demais conhecidas e, assiste-se a uma permanente campanha de imunda falsidade da história com branqueamento de crimes com o apoio da pseudo “elite de Abril”, infiltrada nas escolas, universidade, fundações e observatórios, em quase todos os meios de comunicação de massas e até na figura principal do Estado Português.

P: - Como General da UNITA, como vê o desenrolar de todo o processo em Angola após o Vinticinco?

G: - Quem levou a guerra a Angola foram os portugueses que logo buscaram os russos para os coadjuvarem na mudança fornecendo-lhes toda a “aptidão” na técnica de guerra de sublevação. Chamaram a seguir os cubanos que entraram em solo angolano muito ante da data estipulada para a independência, o 11 de Novembro de 1975. Fizeram do MPLA e à revelia do povo, o representante de toda a população residente no território. Temos assim o MPLA/Governo, como o agente do neocolonialismo em Angola. Por detrás de tudo estão as decisões tomadas em Argel pelos militares portugueses, de esquerda. 

P: - Reconhece ter havido golpe baixo, senão traição, por parte de Portugal?

G: - É por demais conhecida a ida de Otelo Saraiva de Carvalho a Cuba

solicitar intervenção armada e a figura sinistra de Rosa Coutinho que tudo fizeram para que o rumo de Angola resvalasse na guerra entre irmãos. E, estava escrito naquele acordo que em Angola se formaria uma Assembleia Constituinte no prazo de nove meses. Nada disto aconteceu!

P: - Em Abril de 1975 Jomo Keniata organiza a Cimeira de Nakuru no Quénia, na qual a UNITA, MPLA e FNLA acordam na formação de um exército nacional único. O que falhou depois disto?

G: -Bem! Nesse mesmo mês (Abril de 75) Savimbi chega a Luanda. Cerca de dois meses depois, o MPLA destrói um quartel da UNITA na capital., chacinando militares e civis ali bivacados – este episódio ficou conhecido por “MASSACRE DO PICA-PAU, nome do bairro que albergou o quartel. Definitivamente o MPLA, pelas ordens de Rosa Coutinho, o cunhado de Agostinho Neto, não queria nenhum dos outros Movimentos intervenientes no “ACORDO DE ALVOR” em Luanda. Eu direi que este foi o mais escandaloso “DESACORDO” na estória recente que envolve países dos PALOPS.

adalberto junior unita.jpgP: Em Luanda, nesse então, havia provocações originando a fuga de brancos e assimilados, mazombos como eu. A lei, a ordem, a justiça eram coisas quase inexistentes ou anedóticas pela pior das negativas. Que tem a dizer a isto?

G: - Luanda ficou entregue a gente impreparada, gente racista como Lúcio Lara entre muitos outros e “miúdos pioneiros” que faziam querer tomar o controlo de tudo… Para o MPLA, era incontestavelmente seu líder Agostinho Neto, um medíocre poeta com formação universitária em Coimbra – O homem escolhido pelos generais e afins do MFA (dizem agora, ter sido o menos mau!). A UNITA também se retira de Luanda para o Huambo, antiga Nova lisboa. O MPLA fica dono e senhor da capital, a Luua.

P: - Muito antes do 11 de Novembro de 1975, desembarcam os primeiros cubanos que passam a apoiar o MPLA contra a FNLA tal como o combinado entre Fidel de Castro e Otelo Saraiva de Carvalho; hoje deve saber-se como tudo se processou?

G: - Assim foi! O pseudo-herói do VINTICINCO de Abril do M´Puto, conhecido pela rebelião dos capitães assim procedeu. Mas, em verdade já havia em Angola e Congo Brazaville cubanos em treinamento para ultimar sua entrada em Angola e, muito antes do 11 de Novembro. Esta força ajudou o MPLA contra a FNLA; força da FNLA que avançou para tomar Luanda, uma coluna na qual se incluíam mercenários de várias nacionalidades, portuguesas incluídas tal como Santos e Castro um oficial superior nascido em Angola; também havia um elevado número de zairenses - sete ingleses, dois americanos, um cipriota, um escocês e um sul-africano que são feitos prisioneiros e, que num julgamento sumário, mais tarde, foram fuzilados

toledo20.jpg P: - Houve na África Portuguesa, uma limpeza étnica da população branca, promovida pela União Soviética com o total apoio dos partidos da esquerda portuguesa: - PCP e PS. Que tem a acrescentar a isto General?

G:- Em verdade, o Relatório Final da Comissão de Peritos estabelecido conforme a Resolução 780 do Conselho de Segurança das Nações Unidas* definiu a limpeza étnica como sendo: “Uma política propositadamente concebida por um grupo étnico ou religioso, para remover a população civil de outro grupo étnico de uma determinada área geográfica, através de meios violentos ou que inspirem terror”. Pois foi isto que aconteceu com Umbundos e Brancos… As evidências e as provas de crime são tantas que, não restam dúvidas de que a descolonização da África Portuguesa foi uma limpeza étnica da população branca, Quiocos e Umbundos, promovida pela União Soviética com o total apoio dos partidos da esquerda portuguesa: - PCP e PS.

Ver Nota***

Notas- 1*: Ver documenta – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇOES UNIDAS – Relatório Final da Comissão de Peritos Estabelecido Conforme a Resolução 780 do Conselho de Segurança (1992). 27 de Maio de 1994; 2**: - P de pergunta, G de General; 3***: - Nesta data o M, movimento governo, continua no poder tendo sufragado João Lourenço como Presidente do MPLA/Angola, com fraude. Batota verificada mas não aceite pelos apêndices de Tribunal Constitucional e Eleitoral, tendo recusado as provas da victória, sem sequer as lerem. A prova de que foi ganhador Adalberto da Costa Júnior, Presidente da UNITA…

(Continua… Sobre Cuíto -Mavinga) 

O Soba T´Chingange (Otchingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 07:59
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Quarta-feira, 9 de Novembro de 2022
PARACUCA . LX

MULOLAS DO TEMPO31

RECORDANDO: Nós, bazungus no COMPLEXO PALMEIRAS de BILENE

- Odisseia “HAJA PACIÊNCIA” – Recordando o 08 de Novembro de 2018 – no 52º dia

Crónica 3290 24.04.2022, no PortVille de Maceió do Brasil – Republicação a 09.11.2022 em Lagoa do M´Puto

Por dia23.jpgT´Chingange

FK2.jpg Este episódio que agora descrevo foi escrito na Praia da Pajuçara do Brasil, no ano de 2019. Porque foi neste agora que vi no verso da nota de pagamento no Utengule Coffee Lodge na cidade de Mbeye da Tanzânia. Pagamos 333 dólares (duas Pessoas) por duas noites e dois dias - 8 e 9 do mês de Outubro do ano de 2018. Fiquei com a referência de ter sido Kofi Annan, o representante da ONU que inaugurou suas instalações - na recepção a sua foto ocupa lugar de destaque. Ora, como este manuscrito não o fiz passado a limpo na altura, descrevo-o agora por ter alguma relevância em pormenores quase esquecidos. Dito isto passo à descrição daquele dia  08 de Novembro do ano 2008 de saída para Moçambique.

Por engarrafamento, a uns escassos quilómetros da fronteira de Ressano Garcia, o medo de ficarmos no caminho apoderou-se de nós, condutor e passageiros. Isto porque o Nissan 4x4, foi abastecido em uma bomba de um chinocas com uma elevada percentagem de água misturada no gasóleo. O jeep deixou de corresponder ao acelerador, engasgava-se e andávamos aos supetões. Desligou e pegou por várias vezes mas, tornava-se evidente que iriamos parar por aí em um qualquer sítio.

moça4.jpg Muito à rasca conseguimos chegar até à recepção do Lodge bem perto da fronteira e logo ali do lado esquerdo do Crocodile River em Komatiport de Mpumalanga. O carro ali ficou parado em definitivo mas, a sorte, fez com que o marido de uma funcionária da recepção, mecânico de profissão, auxiliasse no busílis e, logologo acontecer ao melhor condutor de áfrica! Este senhor mecânico, depois de verificar com um computador o problema, conclui que teria de se tirar todo o combustível porque um sensor ficou totalmente desactivado – pifou!

Felizmente o problema ficou sanado com a instalação desse novo sensor, graças a Deus para que nada se escape destas periclitãncias com ajudas milagrosas. Atravessar Moçambique foi das piores experiências, fomos roubados ou enganados, até por polícias… Antes que me esqueça, terei de lembrar que em todas a fronteiras africanas surgem gentes oferecendo facilidades, acostumados que estão a ludibriar o branco, inventam dificuldades para vender facilidades. Bom, prosseguindo!

Mu Ukulu37.jpg Também posso ver por todo o mundo este procedimento, advogados do diabo que se aperfeiçoaram em tramóias de rocambolescos procedimentos e, que feitos com o mundo do crime lavam em seguida todas as instâncias de criminalidade… Nas fronteiras de África surgem uns bafanas assessores de turistas, normalmente com um crachá pendurado no pescoço e, assim que paramos o carro, cercam-nos literalmente e, na forma de alcateias de mabecos, que mesmo sem nosso consentimento nos dão indicação do que fazer e como fazer, pedindo papéis do carro e edecéteras pessoais.

Às tantas, estamos entregues a uns quantos que tratam das mesmas diligências. Ficamos sem saber se estes, estão ou não feitos no compadrio com os funcionários da Aduane porque entram e saem dos espaços administrativos, como se dali o fossem, parecendo-nos agilizarem os trâmites para daí, obterem uma gasosa…

kamangula4.jpg Queiramos ou não, isto perturba sobremaneira o turista europeu não habituado a estas práticas aparentemente desordenadas e, sempre nos vêm à ideia estarmos a ser surripiados exactamente pelo facto de sermos brancos. Entretanto na Europa, ao mínimo incidente com gente não ariana será motivo de muito falatório em TV e jornais, como se todos os fossem os paladinos da verdade. Acho que Deus não vai salvar áfrica! Tenho de deixar aqui minha revolta pelo facto de ficarmos bem convictos de sermos roubados por gente sujeita à sobrevivência usando as técnicas de ladroagem com abuso da tão propalada  resiliência. Trafulhas, enfim!

Não andem de carro por áfrica; usem só a via aérea… E, nunca acredite num talvez! Pela certa vai ter muitos mais prejuízos; saiba dizer não – é fundamental. O maior talvez foi o do Ferry que nunca chegou para podermos atravessar o lago Caribe; e, foi o dono da instalação, aonde ficamos, na beira do lago, um bóher que nos disse: Em África nunca acreditem em um talvez! Bem! Nosso guia “el comandante”, muito habituado a estes pormenores, segundo sua pópia nobre, um nato filantrópico deu 10 Euros e 200 Kwachas a uns vendedores de diligências… Um valha-me-Deus pago por actos dispensáveis que me infernalizou toda a viagem…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 14:27
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Terça-feira, 8 de Novembro de 2022
GUARARAPES – 2

RECIFE – A SAGA DO AÇÚCAR

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA

Crónica nº 3289 de 23.04.2022 na Pajuçara de Maceió, de Alagoas, Brasil

– Republicação a 08-11.2022 em Lago do M´puto

Por palops1.jpgT´Chingange (Ochingandji)

vieira1.jpg O governo do Brasil Holandês (Mafulos*) capitulou a 26 de Janeiro de 1654 tendo sido então o mais importante registo da História Militar de toda a América do Sul; depois deste acontecimento há a salientar de relevante saga, a libertação dos cinco países americanos por Simon Boliver. Após a capitulação de Recife, os moradores aclamaram a liberdade contra a dominação holandesa e, a 7 de Outubro de 1645, os homens de guerra de Pernambuco lavraram certidão de aclamação a João Fernandes Vieira como Governador da liberdade.

Chegado aqui, terei de retroceder no tempo a fim de conhecer a saga do açúcar nas então capitanias, nomeadamente a de Pernambuco. Em 2009, numa das celas da prisão para políticos, em Recife do Brasil, “A praça das cinco pontas”, agora transformada em casa da cultura, comprei um livro que fala da saga do açúcar - como tudo começou na relação histórica entre as ilhas da Madeira, Açores e o Brasil. O açúcar vingou no Nordeste Brasileiro por força da intervenção madeirense tendo, entre outros pioneiros o nome destacado de João Fernandes Vieira, um mestiço que em 1645, já era o maior proprietário de engenho do açúcar em Pernambuco.

vieira2.jpg Deve-se principalmente a ele, Vieira, a restauração de Pernambuco com a retirada do Conde de Nassau, o governador Holandês que a partir de Olinda geria o império da Companhia das Índias Ocidentais. Vieira assumiu o Brasil como terra sua e as suas atitudes tomaram foros do que se veio a designar “o nascimento do conceito brasileiro”. Antes de continuar a descrição da Saga, convém dizer que O Mafulo Maurício de Nassau foi em verdade muito importante na história do Brasil de então pois que introduziu novos processos de gestão de uma visão mais avançada para a época. O mercantilismo e o atributo de subsidiar o investimento, fez crescer vários negócios no Nordeste brasileiro.

A Madeira, foi o início - As ilhas da Madeira e Açores tiveram na introdução do açúcar no Brasil e, a implícita emancipação pelo conceito em se ser brasileiro. Esta gesta de gente que lutou pela liberdade contra os Holandeses por alturas de 1640, enfrentou do outro lado do Atlântico – Angola, os mesmos Mafulos* que em paralelo com a rapina de Olinda, se apoderaram da cidade de Loanda. Esses intervenientes salientaram-se como heróis que a história quis esquecer; muitos morreram em prol de terras que escolheram para ser suas; supostamente, uns em Brasil, outros, no reino de N´Gola, uma esquina nesse então, esquecida do mundo.

madeira2.png A descoberta da Madeira aconteceu em 1420 e, a 8 de Maio de 1440 o infante D. Henrique lançou a base de estrutura no conceito de posse, dando a Tristão Vaz carta de Capitão de Machico. Esta foi a primeira capitânia a ser atribuída a gente que por feitos se tornou de “linhagem Lusa” defendendo-se assim um sistema institucional que deu corpo a novas terras. A formação do Brasil colonial, foi à semelhança de Machico, também, partindo da atribuição da capitânia, a de S. Vicente, ”a Nova Madeira” na costa Atlântica das terras de Vera Cruz. Aqui nasceu a grande metrópole que é hoje, São Paulo com mais de vinte milhões de almas.

Na capitânia de S. Vicente foram construídos os primeiros engenhos açucareiros; mestres madeirenses às ordens dum senhor governador de nome António Pedro Leme, terá sido o pioneiro no plantio das primeiras socas de cana oriundas da Madeira. Com aquelas primeiras mudas de cana-de-açúcar, se formaram os primeiros canaviais dando-se início à saga do açúcar na faixa litorânea Paulista. Os Madeirenses, foram assim, os primeiros colonizadores e, isto, foi só o início. No decorrer dos anos, foram até às imensas regiões do Sul aonde se situa agora o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; mais tarde e com maior impacto tomaram raízes mais afincadas no Nordeste Brasileiro

madeira1.jpg O facto de a Madeira ter sido modelo de referência para o espaço global da Lusofonia Atlântica, não tem sido reconhecido ou, divulgado. Esta migração humana que arrastou consigo um universo de conceitos, tecnologia, usos, costumes, cultura e novos conhecimentos e até pesquisa no campo da flora, silvicultura em geral, teve um impacto de evidente progresso. Não é sem razão atribuir-se a Portugal o início do conceito de globalidade; em verdade este mérito tem tudo a ver com os genes Lusa.

Nesta primeira pedra da gesta Lusa em terras mais além de Sagres, houve impactos negativos mas, os de mais-valias para o Mundo valorizaram o arco-íris final. A pequenez da Ilha Atlântica e sucessivas crises naquela tão difícil empinada topografia levou os ilhéus a buscar outros destinos menos trabalhosos e mais auspiciosos; primeiro foram para os Açores e Canárias mas, mais tarde, em precárias embarcações quinhentistas sulcaram com gentes continentais terras longínquas como Curaçau, Venezuela, Brasil, Angola e África do Sul, levando consigo um modelo de virtude social, político e económico.

GLOSÁRIO: Mafulo: - Holandês em dialecto kimbundo de Angola

O Soba T´Chingange (Ochingandji)



PUBLICADO POR kimbolagoa às 22:09
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Segunda-feira, 7 de Novembro de 2022
PARACUCA . LIX

MULOLAS DO TEMPO30

RECORDANDO: Nós, bazungus no COMPLEXO PALMEIRAS de BILENE

- Odisseia “HAJA PACIÊNCIA” – 06 e 07 de Novembro de 2018 -  nos 50º e 51º dias

Crónica 328822.04.2022, no PortVille de Maceió do Brasil – Republicação a 07.11.2022 em Lagoa do M´Puto.

Por monteiro8.jpgT´Chingange

moc3.jpg No lugar da Praia de Bilene no Complexo Palmeiras de Eduardo Ruiz – por aqui ficamos três dias e três noites, lugar aprazível, um pouco de frio por agora mas, que em Dezembro alberga milhares de veraneantes vindos da vizinha África do Sul. Podemos verificar as instalações de férias para os trabalhadores do Caminho de Ferro de Moçambique, lugar muito concorrido por famílias em tempo colonial a que chamavam de colónias de férias e que normalmente coincidia com as férias escolares. Nestes dias de pouca azáfama recordei por debaixo das casuarinas da praia poemas de Pablo Neruda estendendo em texto sua tão fluida forma de dizer: “Morre lentamente quem não vira a mesa, quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite uma vez na vida, fugir dos conceitos sensatos”.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. E, continuando a leitura sem desfalecer de sono, evitando a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que um simples acto de respirar. Pois bem, sinto-me como a formiga “pixica” que criada sobre folhas de cacaueiro, extermina as pragas sem fazer mal à árvore. Esta simbiose simples e sustentável pode ser a fortuna planeada do futuro: sobreviver comendo ácaros ou mopane (catato), nefastos como se, camarões de Bilene, o fossem.     

miran04.jpg Não há matope bom nem ruim. Tudo é a mesma coisa, aonde quer que o seja, é questão de sair da lama em volta porque matope não é barro, mesmo! Assim falava e ainda fala (creio) o Conde de T´Chinkerere, nobreza de faz-de-conta de um reino chamado de Xi-Colonos. Um meu amiga feito nas terras altas de Angola um lugar de montes e vales aonde a vovuzela soa ao longe como o berrante feito de chifres de boi dos brasis, que bem tocado contagia quem o ouve, gente ou gado a 3km de distância. Este “Zé Trovão de Arriaga - O Rei Do Gado", tem o nome comum de Valério Guerra.

Pude ver no entretém das poesias de Valério e Neruda, não muito longe e debaixo das casuarinas, um senhor já grisalho ditando ordens a uns quantos jovens e, terminando sempre com um “ámen” (assim seja), no qual era repetido. Em sequência, deu opas brancas a sete irmãos, eles e elas, já vestidos deslocaram-se para a água cor de esmeralda avançando até à altura da água pela cintura. Eu, curioso, firmava meus olhares neles, nos ditames de seita ou algo assim…

mopane1.jpg Aí, dois mais velhos guias colocaram os ditos irmãos dois a dois e após uma prece de mãos juntas que não ouvi, seguraram o corpo destes e acto contínuo, mergulharam-nos totalmente na água. Não sei ao certo qual as suas vocações religiosas mas era audível de quando-em-quando o nome de Cristo; o que me levou em crer serem protestantes baptistas, Luteranos ou afins. As cerimónias seguiram um ritual semelhante ao do baptismo de Jesus Cristo às margens do rio Jordão por João Baptista…

No lado Sul, um magote de gente multicolor maioritariamente composto de mulheres envoltas em capulanas garridas, cantavam lindos coros à sombra da mata de casuarinas. Levaram todo o tempo entoando canções em Changani - algumas mulheres dançando com mãos elevadas ao céu. Umas quantas iam até à água e voltavam saltitando de forma ritmada na areia fina, enquanto espanejavam o ar viradas ao infinito celeste. De toda esta gente destacava-se um homem grande, vestido com uma túnica azul bordada com arabescos.

MISSOSSO15.jpegA cabeça do "guru" estava recoberta com uma boina justa de desenhos intrincados, símbolos a dourado; do pescoço pendiam colares na forma de zingarelhos ou rosários com latas, ou talvez penduricalhos do Xipamanine de Xi-lingwine, actual Maputo. Este destacado personagem do oxalá, fez deslocar no se Deus-quiser o grupo em fila ordenada de fiéis levando-os a uma curta marcha até um determinado lugar. Aqui, deixou que se agrupassem ao seu redor fazendo uma prelecção inaudível do ponto aonde me encontrava.

OXO188.jpg Não sei se incluíram o Iemanjá nem se lançaram flores mas, informaram-me ser uma seita chamada de “Mazziottis”. Gostaria de me explicitar melhor quanto ao que vi à distância mas não me aventuro em suposições de candomblé, orixás ou oxalás. Este nosso mundo é tão cheio de convicções que só temos de respeitar as diferenças sem as repudiar. Se, se a prática for a essência do bem e da paz sem incitamento à luta, jihad, mutilação, perseguição ou incitamento ao ódio que assim o seja! Cada qual escolhe o seu tipo de macumba até que um dia cai na tumba. A ignorância é uma coisa muito perigosa e disto, infelizmente, todos temos um pouco.

(Continua…)

O Soba T´Chingange 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 06:31
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Sábado, 5 de Novembro de 2022
N´NHAKA . XX

ANGOLA, TERRA DA GASOSA . VI

CANTINHO DO INFERNO – TERRA DE MATRINDINDES

Lembranças de escritos antigos - “Angola, quanto tempo falta para amanhã?” – Em Julho de 2002 (quatro meses após a morte de Savimbi – 22 de Fevereiro de 2002)

– Crónica 3287 de 20.04.2022, em PortVille da Pajuçara de Maceió – Republicação a 05.11.2022 em Messejana do M´Puto

N´Nhaka: - Do Umbundo, lameiro, plantação junto ao rio, horta…

Por araujo160.jpg T´Chingange –(Otchingandji)

araujo1.jpg CA -Já estamos no Sumbe, terra do eclipse e da eleição de misse 2001, um ano atrás, mas ainda lá está o jardim que proporcionou mostrar a fantasia com lençol de água escorrendo em cascata e, muita luz de coloridos brilhos. Tudo para trabalhar pela televisão as invencionices de lavagem da governação sem os desmandos, roubos e superfacturamento que a nomenclatura vinha praticando. Agora está tudo seco, o fingimento de beldades já sem águas escorrendo, deu lugar à terra crua e vermelha no lugar da grama - as árvores definham por falta de água!

Água, aiué…foi aparecendo nas torneiras em alguns dias entre as cinco e seis horas da manhã, depois, adeus… Não deu para tomar banho de chuveiro; na casa do pai de Balbina, Pais da Cunha o caneco funcionou todo o tempo. A luz da lâmpada também só aparecia nos dias ímpares; com gasosa até podiam dar-nos uma fase por mais algum tempo. O mundial de futebol de 2002 (vinte anos atrás) estava a decorrer. Todos desejavam a victória do Senegal e, só depois o Brasil – Os Tugas já estavam de fora.

arau44.jpgCA - Os grandes discos de antenas parabólicas proporcionavam aos mais abastados da cidade do Sumbe verem o canal de África – RTP Internacional entre outras e de todo o mundo. Xingú, o mais candengue da família Pais, nas falhas de energia lá ia a correr até à casa do gerente do gerador ligar a fase pirata da zona par; aconteceu até levar uma lata de gasóleo, o necessário para o gerador funcionar.

Era uma luta pelos vistos! É que nem sempre os vizinhos estavam nos ajustes indevidos para que o gerador funcionasse na borla devida. Mas, nestes dias a febre do futebol fazia milagres de luz para sempre se verem os gooolos. Em um dos vários dias comemos de vela acesa, talvez a gasosa do lado impar tivesse sido mais substancial. Até foi bom que acontecesse a escuridão porque tivemos oportunidade de assim entabular divagações com ajustes de posturas nos muxoxos e kazumbis.

araujo179.jpgCA - No meu sentido de inserir palavras nesta descrição, frases e estruturas sintácticas, fui acumulando palavras novas oriundas do kimbundo, do umbundo e outras maneiras de linguajar tendo sempre como base o português do M´Puto com as declinações e palavras novas, inventadas até e, u oriundas do tronco bantu. Sendo assim um misto de narração, inventação, conto ou testemunho de reportagem, coloco em meus próprios sonhos, as vontades de reconciliação com um profundo agradecimento a todos os que me proporcionaram dias tão diferentes.

Envolto em ideias díspares, quase psicografava em vontade, nas contradições, algumas das sanguinolentas, macabras até e, que sem o devido tato, poderiam resvalar para ressentimentos; acontecia assim ao falar com o filósofo Pipocas, um responsável do património local do MPLA que de tanto beber, se esqueceu dele mesmo – pifou em sabedoria!

araujo158.jpgCA -  Pipocas era em verdade um símbolo kazukuteiro descartável, ágil e de falas suaves, peneirava-se na beleza das malambas, esperto, agressivo no beber, desconsiderado ou desclassificado por raiva, ciúme ou desdém, poucos o tinham em conceito concebido mas, tinha sim uma mente aguda: Ginasticando suas manigâncias da vida definhava-se na permanente curtição do álcool, vinho Camilo Alves, cerveja, cachaça e outras mistelas de bangasumo e capo-roto.

Pipocas, tinha sido comandante mas, por ter arrecadado o dinheiro dos mortos de guerra saiu dos mecanográficos e, por ali está agora comandando os imóveis, remexendo continuamente mugimbos almoxarifados, efémeros de quanto baste para encantar linguistas; isto, antes de rodopiar os olhos liambados de coisa ruim. É um personagem típico dum grande palco que é Angola, passando os dias num faz de conta divagando e bebendo frias cucas; e, assim sua cuca se adia, sempre adiado nas obrigações. (…Com ele, Pipocas sóbrio, tive conversas bem interessantes, senti-lhe uma arguta esperteza, ideais bem formulados, revelando ter principios de sábia concertação social de elevada erudição – acima da média …)     

Ilustrações de CA -Costa Araújo

(Continua…)

O Soba T´Chingange (Otchingandji)    



PUBLICADO POR kimbolagoa às 10:52
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Quinta-feira, 3 de Novembro de 2022
GUARAPES – 1

RECIFE – A SAGA DO AÇUCAR

FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA19.04.2022 na Pajuçara de Maceió, de Alagoas – Brasil – Republicação a 03.11.2022 em Messejana do M´Puto

PorSoba T´Chingange brasil.jpgT´Chingange

guararapes1.jpg Foi há 374 anos - O Dia do Exército no Brasil é celebrado em memória à Batalha dos Guararapes, que ocorreu a 19 de abril de 1648, no estado de Pernambuco. Foram as principais acções bélicas ocorridas no Nordeste brasileiro contra a presença dos holandeses (Mafulos) na região. O berço da nacionalidade e do Exército Brasileiro tem neste local de Guararapes os factos que passaram à história como o inquestionável marco e, a partir do qual se desenvolveu o embrião do sentimento de nação brasileira. Deste modo irei reeditar a SAGA DO AÇUCAR inserido aqui no item GUARARAPES para se entender essa gesta heróica que originou o conceito de brasileiro e o início de uma nação

O dispositivo das forças Patriotas comandadas por Francisco Barreto de Menezes era o seguinte: O flanco direito era protegido pelo terço (ou grupamento) do índio Felipe Camarão, oculto na restinga de mato existente dentro dos alagados; O flanco esquerdo era protegido pelo terço (ou grupamento) do negro Henrique Dias, ocupando a parte central do Morro do Oitizeiro; No centro, ocupando a parte baixa junto ao córrego da Batalha, entre o Oitizeiro e o Outeiro, o terço dos brancos comandados por Fernandes Vieira; e em reserva, mais a retaguarda, o terço de Vidal de Negreiros.

António Dias Cardoso lançou um destacamento avançado pela Estrada da Batalha, composto por 200 a 300 homens e estabeleceu o contacto com os holandeses. Passou a retardá-los, atraindo-os para o Boqueirão, fazendo-os pensar que estavam em contacto com a principal força dos Patriotas. Mas era uma isca para atrair os holandeses (…). Pesquisa histórica revela que a palavra PÁTRIA foi pela primeira vez, mencionada em território brasileiro no texto “Compromisso Imortal”, relacionado com a invasão holandesa e assinado por 18 líderes locais em maio de 1645. Em homenagem a esses heróis, o Comando da 7ª Região Militar instituiu a saudação PÁTRIA, com a resposta BRASIL, em maio de 1998, a qual foi estendida pelo Comando Militar do Nordeste para toda a sua área de jurisdição.

guararapes2.jpg Em Setembro de 1645, os “Luso-brasileiros” isolaram a capital do Brasil Malufo deixando seus habitantes à míngua; Johan Nieuhof, alemão residente em Recife, testemunha que “os gatos e cachorros, dos quais havia em abundância, eram considerados finos petiscos. Viam-se negros desenterrando ossos de cavalo, já muito podres, para devorar o tutano com incrível avidez”.

Algumas atrocidades entre os citiados atingiram foros de bestialidade como alguns descritos existentes no Instituto Ricardo Brennand; descrevem actos cometidos pelos holandeses e índios antropófagos seus aliados: - Foi-lhes entregue para alimentação, corpos das vítimas feitas por seus soldados. “Selvagens Tapuias a quem animavam como a tigres ou lobos sangrentos, e diante de seus olhos, comiam os corpos mortos daqueles que haviam matado”.

guararapes3.jpg João IV não tinha efectivamente escolha quanto à decisão de resgatar Pernambuco para Portugal porque, sem o açúcar do Brasil, não teria como pagar aos exércitos incumbidos de defender a fronteira continental dos beligerantes espanhóis. A perda do Brasil, envolveria o desaparecimento de Portugal como nação independente. Os Mafulos tinham em seu contingente militar, mercenários franceses, alemães, polacos, húngaros, ingleses, e de outras nações do Norte, todos versados e experimentados nas clássicas guerras de então da Flandres e Alemanha. Desconheciam a tocaia, a guerrilha de arco e flecha, o ataca e foge em matos difíceis; para eles era uma guerra desmoralizante pois nem sempre divisavam o inimigo.

Um cronista de nome Pierre Moreou, testemunha presencial daqueles dias de cerco no Recife em contínuo bombardeio de artilharia feito pelos insurrectos Luso-brasileiros refere: “Todo o Brasil é povoado com numerosos guerreiros, sabem como subsistir e vivem do que a terra produz de forma abundante, prescindindo dos produtos da Europa o que é impossível aos Holandeses (Mafulos) que não têm senão soldados de carreira, recrutados em diversas nações, mais comprados que escolhidos de cuja fidelidade não se pode fiar. Pouco adaptados aos costumes e ao clima diferente de seus países, não conhecem atalhos e nem o local apropriado para emboscar.

reci1.jpg Os Luso-brasileiros (portugueses) ao contrário, nasceram aí em sua maioria, e são robustos, um mesmo povo, os mesmos costumes, as mesmas crenças e compleição auxiliando-se uns aos outros, não deixando de valorizar a terra aproveitando-se dela. Conhecem os menores recantos e bastava-lhes esperar seus adversários em determinados locais e, abatê-los. Enquanto decorriam as vitórias nos Montes Guararapes pelos insurrectos de Pernambuco a moral das tropas Holandesas entravam em declínio descrevendo-se assim os acontecidos: - “ Os combatentes Luso-brasileiros por natureza ágeis e de grande firmeza nos pés, são capazes de avançar ou bater em retirada com grande rapidez, com ferocidade natural constituídos que são de brasileiros Tapuias, mamelucos, etc.,... Todos filhos da terra"…

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 23:59
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Quarta-feira, 2 de Novembro de 2022
MISSOSSO . LII

NO KILOMBO DO ZUMBI – NA FUNDAÇÃO DE ZUMBI DE N´GOLA…

COM FALA KALADO  Crónica com ficção 3285 17ª de Várias Partes

18.04.2022, na Pajuçara do Nordeste brasileiro – Republicação a 02.11.2022 na (Praia de) Messejana do M´Puto

Porsoba40.jpgT´Chingange

tiradentes1.jpg No dia 21 de Abril, comemora-se como feriado no Brasil o “Dia de Tiradentes”. Este feriado faz alusão à morte do mineiro mais conhecido na história por Joaquim José da Silva Xavier. Tendo referido há dias um antigo companheiro da UNITA como convidado a estar presente nas festividades do Kilombo Zumbi, lá para Novembro, mais propriamente no dia da “Consciência Negra”, para minha surpresa recebi um telefonema do Park Lindoya às margens da Lagoa Manguaba pedindo-me para ali me deslocar pois que havia alguém ali hospedado a querer contactar comigo!

Adiantei que não iria sem me dizerem qual o fim do encontro e o nome da pessoa em causa. Quando mencionaram seu nome fiquei bem admirado e até pensando num golpe de um qualquer maluqueiro. Era nem mais que o General Kamalata Numa da UNITA - queria estar comigo! Engasgado disse que daria uma resposta mais tarde e, tirando-me de cuidados fui até ao local já meu conhecido e, sim, era ele mesmo - muito mais velho, claro!

 GARANHUNS1.jpgNossa relação tinha sido bem passageira quando Kalakata o militar pertencente ao Comité da Caála, ainda vivo, me apresentou a este militar de patente rasa. Nessa altura exercia eu as funções de Secretário de Relações Públicas; por inerência tinha muitos contactos com gente próxima à organização política de topo e muito próxima a Jonas Savimbi mas e, a partir daí nunca mais nos vimos, 47 anos já passados!

Apresentados de novo, inquieto pela inusitado encontro, demos um abraço cordial e assim sentados tomando um suco de graviola foi-me dizendo que estava ali a convite de um familiar a fim de assistir às festas Juninas e, que vinha para ficar uns três meses pois que fazia questão de estar presente no já referido “Dia de Tiradentes” para o qual também tinha sido convidado pelas competentes autoridades.

GARANHUNS2.jpg O General fez-me inúmeras perguntas ao qual respondi com algum detalhe depois da minha forçada saída de Angola através da ponte “Lualix” no longínquo ano de 1975. Agradeceu-me pelo convite inserido nos trabalhos da “Fundação de Zumbi de N´Gola” e, enaltecendo dentro do que lhe era possível saber, do meu contributo como Zelador-Mor na Fundação de Zumbi de N´Gola tendo como benemérito a figura por mim recuperada na estória do Coronel emérito Fala Kalado, agora Comendador…

Adiantei-lhe que para o efeito contava com sua presença e do possível contributo nos previstos simpósios, seminários e as inerentes conferencias de participantes que ainda não estavam totalmente catalogadas, nem convites formulados mas, que já havia sim, um esboço de planeamento pendente dos conferencistas com os demais convidados de relevância na dissertação da “Civilidade Bantu”, tais como políticos, escritores, jornalistas e individualidades do foro africano e, ou mundial. A seu pedido fui esclarecendo-o do que foi a Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira: que foi uma revolta no ano de 1789, de carácter republicano e separatista, organizada pela elite socioeconómica da capitania de Minas Gerais...

GARANHUNS3.jpg Ela foi baseada nos ideais do Iluminismo e teve influência da Revolução Americana, que resultou na independência dos Estados Unidos. Que no século XVIII, Minas Gerais era a capitania mais próspera do Brasil... Que devido ao grande volume de extracção, o ouro começou a entrar em decadência. Nesse cenário, o Visconde de Barbacena em 1788, deu a ordem de realizar uma “derrama” – mecanismo utilizado por Portugal para realizar a cobrança obrigatória de tributos.

Esse foi o estopim para a elite local antecipar os preparativos para a revolta. Na verdade, a conspiração nem chegou a ser iniciada, pois foi descoberta após autoridades coloniais em Minas Gerais receberem denúncias. Para resumir, o alferes dentista, acabou por ser cortado aos pedaços com exibição de seus desgarrados pedaços de carne como se o fosse de um cordeiro sacrificado para exemplo… Depois dum herói negro de nome Zumbi, de um herói branco de nome Xavier Tiradentes, é tempo de se encontrar um herói pardo, cafuzo, mameluco, mazombo ou matuto*… O encontro acabou em churrasco e a promessa de me dar uma entrevista sobre o tema Angola… Iremos ler, se Deus quiser como é de norma dizer-se entre cristãos…

GARANHUN01.jpg * NOTA: Estamos a 02 de Novembro de 2022 - Esta republicação tem por objectivo repor as crónicas na ordem do Kimbo que por um erro técnico não foram inseridas na Torre de N´Zombo. Por via disso, muita coisa alterou recentemente no Brasil. Após eleições a 30 de Outubro do corrente ano de 2022 o matuto Lula tonou-se presidente pela 3ª vez, vencendo com vantagem de menos de 2% ao actual Jair Bolsonaro. Está assim encontrado o terceiro herói desta inventação: LULA DE  GARANHUNS...

O Soba T´Chingange

 



PUBLICADO POR kimbolagoa às 13:33
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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