MULOLAS DO TEMPO – 30
RECORDANDO: Nós, bazungus no COMPLEXO PALMEIRAS de BILENE
- Odisseia “HAJA PACIÊNCIA” – 06 e 07 de Novembro de 2018 - nos 50º e 51º dias
Crónica 3288 – 22.04.2022, no PortVille de Maceió do Brasil – Republicação a 07.11.2022 em Lagoa do M´Puto.
Por T´Chingange
No lugar da Praia de Bilene no Complexo Palmeiras de Eduardo Ruiz – por aqui ficamos três dias e três noites, lugar aprazível, um pouco de frio por agora mas, que em Dezembro alberga milhares de veraneantes vindos da vizinha África do Sul. Podemos verificar as instalações de férias para os trabalhadores do Caminho de Ferro de Moçambique, lugar muito concorrido por famílias em tempo colonial a que chamavam de colónias de férias e que normalmente coincidia com as férias escolares. Nestes dias de pouca azáfama recordei por debaixo das casuarinas da praia poemas de Pablo Neruda estendendo em texto sua tão fluida forma de dizer: “Morre lentamente quem não vira a mesa, quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite uma vez na vida, fugir dos conceitos sensatos”.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. E, continuando a leitura sem desfalecer de sono, evitando a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que um simples acto de respirar. Pois bem, sinto-me como a formiga “pixica” que criada sobre folhas de cacaueiro, extermina as pragas sem fazer mal à árvore. Esta simbiose simples e sustentável pode ser a fortuna planeada do futuro: sobreviver comendo ácaros ou mopane (catato), nefastos como se, camarões de Bilene, o fossem.
Não há matope bom nem ruim. Tudo é a mesma coisa, aonde quer que o seja, é questão de sair da lama em volta porque matope não é barro, mesmo! Assim falava e ainda fala (creio) o Conde de T´Chinkerere, nobreza de faz-de-conta de um reino chamado de Xi-Colonos. Um meu amiga feito nas terras altas de Angola um lugar de montes e vales aonde a vovuzela soa ao longe como o berrante feito de chifres de boi dos brasis, que bem tocado contagia quem o ouve, gente ou gado a 3km de distância. Este “Zé Trovão de Arriaga - O Rei Do Gado", tem o nome comum de Valério Guerra.
Pude ver no entretém das poesias de Valério e Neruda, não muito longe e debaixo das casuarinas, um senhor já grisalho ditando ordens a uns quantos jovens e, terminando sempre com um “ámen” (assim seja), no qual era repetido. Em sequência, deu opas brancas a sete irmãos, eles e elas, já vestidos deslocaram-se para a água cor de esmeralda avançando até à altura da água pela cintura. Eu, curioso, firmava meus olhares neles, nos ditames de seita ou algo assim…
Aí, dois mais velhos guias colocaram os ditos irmãos dois a dois e após uma prece de mãos juntas que não ouvi, seguraram o corpo destes e acto contínuo, mergulharam-nos totalmente na água. Não sei ao certo qual as suas vocações religiosas mas era audível de quando-em-quando o nome de Cristo; o que me levou em crer serem protestantes baptistas, Luteranos ou afins. As cerimónias seguiram um ritual semelhante ao do baptismo de Jesus Cristo às margens do rio Jordão por João Baptista…
No lado Sul, um magote de gente multicolor maioritariamente composto de mulheres envoltas em capulanas garridas, cantavam lindos coros à sombra da mata de casuarinas. Levaram todo o tempo entoando canções em Changani - algumas mulheres dançando com mãos elevadas ao céu. Umas quantas iam até à água e voltavam saltitando de forma ritmada na areia fina, enquanto espanejavam o ar viradas ao infinito celeste. De toda esta gente destacava-se um homem grande, vestido com uma túnica azul bordada com arabescos.
A cabeça do "guru" estava recoberta com uma boina justa de desenhos intrincados, símbolos a dourado; do pescoço pendiam colares na forma de zingarelhos ou rosários com latas, ou talvez penduricalhos do Xipamanine de Xi-lingwine, actual Maputo. Este destacado personagem do oxalá, fez deslocar no se Deus-quiser o grupo em fila ordenada de fiéis levando-os a uma curta marcha até um determinado lugar. Aqui, deixou que se agrupassem ao seu redor fazendo uma prelecção inaudível do ponto aonde me encontrava.
Não sei se incluíram o Iemanjá nem se lançaram flores mas, informaram-me ser uma seita chamada de “Mazziottis”. Gostaria de me explicitar melhor quanto ao que vi à distância mas não me aventuro em suposições de candomblé, orixás ou oxalás. Este nosso mundo é tão cheio de convicções que só temos de respeitar as diferenças sem as repudiar. Se, se a prática for a essência do bem e da paz sem incitamento à luta, jihad, mutilação, perseguição ou incitamento ao ódio que assim o seja! Cada qual escolhe o seu tipo de macumba até que um dia cai na tumba. A ignorância é uma coisa muito perigosa e disto, infelizmente, todos temos um pouco.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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