RECIFE – A SAGA DO AÇÚCAR
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – CAXEIROS E O OURO BANCO
Crónico nº 3296 de 09.05.2022 – Republicação a 15.11.2022 para o Kimbo Blogue
Por T´Chingange (Ochingandji)
Os Tugas, resgataram a prática do uso escravo podendo de forma sintética mencionar o padre António Vieira quando refere “Sem açúcar não há escravos e sem escravos não há açúcar”. Como já foi dito, a Madeira como berçário de novas práticas sociais foi nos primórdios da expansão Lusa, o primeiro e mais importante mercado receptor de escravos africanos. À ilha chegaram os primeiros escravos guanches e marroquinos que contribuíram para o arranque económico do arquipélago e a diáspora Lusa.
Depois, foi o pau-brasil, e os caixotes de nobres madeiras que serviam para transporte do ouro branco. Nos dias de hoje, ainda se podem apreciar mobílias feitas de boas madeiras levadas do Brasil como o jatobá, jacarandá, sucupira ou angico; estas madeiras, curiosamente eram tão-somente a estrutura dos “caixões” para transportar 300 quilos de açúcar. Talvez por isso se designe aos contadores ou administradores das remessas de “caixeiros” pois, mais não eram somente do que zeladores dessas caixas de açúcar.
Os maiores e melhores organizados destes caixeiros eram os imigrantes ou colonos de ascendência judaica, essa grande diáspora unida à semelhança dos Ilhéus que por via da inquisição levaram famílias inteiras a se refugiarem nas praças do Norte da Europa como Amsterdão, Antuérpia, Rochela, Londres ou Bordéus. Por iniciativa própria e por sobrevivência, estabeleceram redes de negócio familiares que vieram a ser considerados como o principal suporte da rede comercial resultante dos descobrimentos.
Esta rede comercial é em realidade uma verdadeira contradição com os comportamentos da expansão cristã, o que me leva a salvar a teoria de que em negócios tudo é possível. Nesta rede comercial, Angola, aparece como principal consumidor de vinho da Madeira a par com o Brasil, país irmão. Há escritos de caixeiros referindo fornecimento de 100 pipas de vinho da Madeira no ano de 1651, poucos anos após Salvador Correia de Sá e Benevides ter escorraçado os Mafulos de Loanda.
No Funchal, em São Vicente do Brasil, Pernambuco, Bahia, Luanda e Santiago de Cabo Verde por via do negócio do vinho, há novas apetências surgindo por isso uma chusma de pequenos burgueses. São estes os vértices do mundo Português, a Lusofonia actual que dá agora importância com consciência às praças dum antigo recheio colonial. Muitos de nós de genes mestiça, somos o fruto deste fado chamado de diáspora; o fruto desses antigos mestiços, capitães, mestres e serviçais, escravos duma sanzala qualquer, servindo sempre um senhor.
O senhor do engenho ou navegador aventureiro da rota do cabo, de um sonho, uma saga. A retórica com manipulação de novos discursos, para serem históricos, terão de se basear nessas evocações, fundamentos na reposição da verdade. É para isso que servem os grandes homens, a quem vulgarmente chamamos de estadistas. Pernambuco com o contributo da Madeira foi a capitânia que gerou o nativismo mais virulento da história brasileira.
A batalha de Guararapes com João Fernandes Vieira mestre de campo nomeado pelo rei D. João IV, virá sempre à tona quando se relembra esse distante passado que deu nome ao futuro luso-brasileiro e angolano. Também há um importante factor de mudança em termos de tonalidade democrática pois que aqui começa a mistura do povo, lavradores e trabalhadores braçais com fidalgos, funcionários do reino, comerciantes, ouvidores e artesãos entre fiorentinos, genovezes ou flamengos originando um modelo especial com apego à terra e o conceito de brasileiro.
Esta saga que originou a Globália, foi e continuará a ser uma característica sem igual da colonização missegenada de Portugal no Mundo. O mundo das nações do G7 e outros que advirão, deverão obrigatoriamente enaltecer este predicado na história da colonização do povo português ao invés de os menosprezar. Tudo o exposto demonstra bem a mescla de gentes, e também o surgir de um linguajar de escravaria com estratos subalternos do engenho e a relação entre o patrão, coronel ou fazendeiro. Surge assim a par de João Fernandes Vieira outros nomes como Gerónimo de Ornellas e Francisco de Figueiroa, todos eles Madeirenses a não esquecer porque engrandeceram o mundo Lusófono. A figura pública de Figueiroa foi contestada quando ainda era governador de Cabo Verde mas, na saga Atlântica, como herói na tomada de Pernambuco, passou a ter uma forte ligação com a história…
GLOSSÁRIO: Mafulo: - Holandês em dialecto kimbundo de Angola
NOTA: A reconquista de Angola virá logo a seguir à Saga do Açúcar pois que foi do Recife que saiu Salvador Correia de Sá e Benevides com uma frota de naus, que libertou Loanda do jugo Mafulo
(Continua…)
O Soba T´Chingange (Ochingandji)
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