ANGOLA DOS MWENE-PUTO (M´Puto)
KUKIA DA VIDA - Crónica 3308 – 29.05.2022 – Republicada a 29.11.2022 em Lagoa do M´puto
Kukia é o nascer ou por do sol
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Lagoa do M´puto (M´Putulândia)
Diáriamente, sempre vai haver escolhas a fazer; elas podem determinar nossa felicidade aqui, no futuro ou no álem. As escolhas que fazemos hoje, mesmo já sendo kotas, são vitalmente importantes e contumazes. Os amigos que escolheu e ainda escolhe, a todo o momento explodem na singularidade dum extraordinário proceder ou de pensar. Tudo terá muito a ver com sua vida tornando-a um esplêndido crepúsculo ou um velho celeiro sem graça; por vezes, muitas vezes desilude-se deste e daquele mas, é forçoso continuar a fabricar amigos, mesmo que num repente fiquem amigos da onça…
Os amigos podem levá-lo a concentrar-se naquilo que é passageiro, ou conduzi-lo para mais perto de coisas vaidosas e até fúteis. Todos os dias você precisa escolher entre o nascer e o pôr-do-sol - a KUKIA DA VIDA. Ontem eu, o Santos e o Eduardo Torres reunimo-nos no meu Pátio Andaluz para se falar de coisas e até comer algo entre os intervalos das falas, melhor, gritando como moucos. A pilha do ouvido direito do EDU pifou (o esquerdo já pifou, faz tempo…) e num repentemente tivemos de aumentar os decibéis e, o vozeirão decerto incomodou meu vizinho Lestienne, um francês de França, macambúzio como meu ex-cão Columbo…
Como sempre nossa conversa de boi dormir, resvalou como sempre para as coisas de áfrica. Queiramos ou não, nós saímos d’África mas, África nunca saiu de nós! Pois, falo de Angola. A gente dá voltas e divaga, deita conversa fora mas, sempre iremos parar naquele item rasgado no tempo. A verdade, nunca o é de valor absoluto mas, na relatividade da afirmação o peso desta vem de quem a prefere num determinado tempo e, desta feita descarreguei nos meus amigos coisas do tempo do Carcamano com expedicionários, funantes, sertanejos e até negreiros.
Assim, contornando medrosas angústias, febres palustres, água estagnada, jacarés do Panguila ou do Cunene, exigiram-nos esforços na consolidação dum país que não pode ser nosso por via de coisas merdosas e, porque estávamos condenados ao esquecimento pelos governantes de hoje misturados com os idos e também estadistas emudecidos da cabeça; gente do M´Puto metropolitano e de Angola. Um Ex-combatente de Angola sofre agora de estresse de guerra; cumpriu o serviço militar sem saber até que tinha os pés chatos e agora a adicionar muitas mais mazelas à idade, vê-se à rasca com uma reforma de cacaracá…
CA - Angola ganhou condição de país quando na embala de Belmonte, Silva Porto, com 72 anos de idade se imolou envolvido à bandeira Portuguesa; isto foi muito antes de o arrastar da bandeira do M´Puto por muitos lados e pisoteada por gente que virou governante. Enquanto isso os resistentes daqueles tempos lambem as feridas de catanas ou G-três da história. Silva Porto desrespeitado pelo soba N´Dunduma, "O trovão", meteu-se numa barrica com pólvora e queimou-se - outros tempos! Em 11 de Novembro de 1975 concretizou-se um país cujas fronteiras foram delineadas por estes combatentes paulatinamente desprezados no tempo.
A maioria dos combatentes, fizeram o seu serviço em dose de camelo; viram morrer camaradas, ficaram apanhados do clima, mosquitagem, jibóias, gorilas e sanguessugas dos pântanos. Recalcados de tanta injustiça, perderam o medo naquelas florestas, chanas, e anharas, numa Angola tão rica e tão ingrata. Defenderam e mataram gente, construindo novas coisas, impondo regras sociais para conservar tal espaço.
E, foram Fiotes, Quiocos, Quimbundos, Umbundos. Hereros, Ganguelas, Muílas, Mucubais e Bosquímanos que, mudaram de alguma maneira o modo de estar dos magalas de Mwene-Puto; e tantas guerras para desenhar um mapa cor-de-rosa que nunca o chegou a ser, para nada*... Quantas mortes! O Mapa-Rosa africano começou a ser desenhado em 11 de Julho de 1890 com as campanhas de submissão do sobado do Bié e, passados 85 anos, em 11 de Novembro de 1975 concretizou-se um país cujas fronteiras foram delineadas por estes combatentes paulatinamente desprezados no tempo.
CA - Aquele chefe "O trovão", veio a sofrer represálias a 9 de Dezembro de 1890 por parte de Artur de Paiva, Paiva Couceiro e Teixeira da Silva- os Mwene-Puto com a ajuda do povo Ovibundo governado então pelo rei Ekuikui Segundo. Daí as boas relações com o povo do Bailundo que perduraram após esses 85 anos. Paiva Couceiro, foi em verdade o último sertanejo a percorrer as terras do fim do mundo, no Cuando - Cubango, Mucusso, Cuangar, Dírico e Sambia. Parece mentira mas, é verdade! Ao soba de Sambia de nome Palata de Massaca foi dado o nome de D. António Maria de Fontes Pereira de Mello, ao soba do Aimalua do Cuangar foi dado o nome de D. Luís Bondoso Pinto Ribeiro e Montes Claros e, N´Hangau do Dirico ficou a chamar-se D. Afonso Enriques de Aljubarrota Atoleiros e Valverde. Tudo o resto foi tempo perdido, Aos combatentes de ambos os lados ficou esta recordação como contentamento! As minhas falas de ontem foram mais que muitas caindo sempre no mesmo – Angola, Aiué…
*Nada: A complementar a Teoria do Nadismo; Carcamano: tempo de funantes e expedicionários no lidar com um filho de soba do Planalto Central revoltado, com esse nome; palavra castelhana carcamano, que na América Latina denota "pessoa decrépita"…
Ilustrações de Costa Araújo
O Soba T´chingange (Otchingandji)
RECORDAÇÔES ANGOLA
fogareiro da catumbela
aerograma
NAÇÃO OVIBUNDU
ANGOLA - OS MEUS PONTOS DE VISTA
NGOLA KIMBO
KIMANGOLA
ANGOLA - BRASIL
KITANDA
ANGOLA MEDUSAS
morrodamaianga
NOTICIAS ANGOLA (Tempo Real)
PÁGINA UM
PULULU
BIMBE
COMPILAÇÃO DE FOTOS
MOÇAMBIQUE
MUKANDAS DO MONTE ESTORIL
À MARGEM
PENSAR E FALAR ANGOLA