DA PRAIA EM TEMPO COM FRINCHAS - Com 77 anos feitos ontem, sinto-me palhaço no particípio passado mas, não dono do circo…
Na savana alentejana sem abetardas. Crónica 3311 – 05.06.2022 - Republicada a 02.12.2022 na praia alentejana do M´Puto.
Malamba é a palavra
Por Soba T´Chingange (Ochingandji)
Passada a horta do Torrica dobrando já a curva da ribeira de Messejana, no monte de Vasa Talegas interroguei-me sobre este nome já pouco usado na linguagem corrente; isto significa uma bolsa de ráfia ou pano-cru aonde se levam coisas normalmente comida, um pedaço de broa, chouriço e frutas a serem usadas como suprimentos em uma tarefa de ceifa, aqui em plena planície alentejana. Neste percurso doirado da falsa savana esperava ver abetardas, sisões, toutinegras ou grous bem ao nascer do dia, mas só consegui ver nas ruínas do Monte dos Reguengos os peneireiros das torres, gaviões pretos, o tartaranhão-caçador mais o cortiço de barriga negra.
O resultado do cultivo de cereais e sequeiro em regime de rotação origina a permanência de aves que não se vêem com frequência em outros lados. Nesta fingida estepe cerealífera pode com sorte, ver-se o roliceiro, o milhafre real em tempos mais frios, o peneireiro cinzento, garças boiadeiras, mas desta feita, vi em meu passeio matinal a presenteira cegonha branca e castanha no topo do convento de S. Francisco em ruinas. Na barragem do Reguengo pude apreciar os lindos patos-reais e mergulhões e até poupas mais a tarambola dourada.
Enfim, um felizardo libertado como aqueles corvos grandes e pretos ondulando seus voos entre mesetas, carros desventrados e trastes espalhados como num cinema de pradaria abandonada com muito funcho, muito carrasco e rascassos. A sombra do Alentejo é só a que vem do céu, abrigue-se aqui menina debaixo do meu chapéu. Pensei nisto no galgar de metros pensados e com o firme propósito de emagrecer, de ter saúde o quanto baste para desbaratar os triglicéridos no lugar dos Maldonados, gente que dizem ter-se endinheirado aqui e nas fazendas em áfrica.
Colhi umas quantas espigas de trigo e fiz um ramalhete com folhas de louro, colhidas no convento abandonado do tal de S. Francisco com um belo brasão na frontaria. Neste entretém deparei com um cão arrebanhando umas quantas cabras na direcção do Monte do Filipe; olhei ao redor e voltei olhar mais à frente procurando o pastor e, nada de gente! Era o rafeiro alentejano que só e mansarrão conduzia o rebanho pelas verduras, duma forma terna e eficaz, conduzindo-as até o lugar que ele, o cão, sabia ser o certo!
O alentejano cidadão, é terno e rude, é tudo ou um deserto; o que nós quisermos, comodistas, papistas ou comunistas; gente às direitas que por vezes se vê obrigado a andar às arrecuas, gente com honradez. De tudo tem como nos mistérios do Evangelho de Jesus Cristo que num domingo de missa, recorda o Martírio de sua morte no Monte Gólgota ao longo dos anos e dos séculos, como se por aqui tivesse andado como o fez na Galileia e Vale do Jordão.
Nunca ninguém o viu passar por aqui no Vale das Talegas mas, também daqui se faz ouvir o sino das Ave-Marias da Igreja Matriz da Praia (entenda-se por Messejana). Foi pena que este Nosso Senhor, o Jesus de Nazaré não tivesse dado uma mãozinha a Dom Sebastião que daqui levou mancebos para essa tal de Alcácer Quibir para matar gente com espadas na forma de cruzes alongadas e, para matar os infiéis - nem por misericórdia voltaram à sua aldeia azul e branca a não se Beringel.
Isto porque a Beringel, regressou um braço conservado em sal, um claro aviso dos Mustafás para não mais ali voltarem. Entenderão agora do porquê ficar taciturno ao ver aquele braço alado segurando uma espada quebrada – símbolo da Vila. Entro no adro da Misericórdia e abençoo-me na cruz que serviu para fingir mais uma vez a morte teatral da ascensão de Cristo! Ainda lá estavam os cordames que o amarraram; não sei se gosto destas representações, assim quase ao tipo dos sacrifícios das Filipinas e, porque estou farto de ver mortes via TV – acontecimentos inexplicados de terror da Ucrânia! Vamos andando, um dia de cada vez neste calvário real!
Na linha tortuosa das ruas, casas com barras azuis a limitar em branco as portas, os indícios moçárabes perfilam sombras dos telhados lusos. No turbilhão da história com foices, defini os limites da ordem de Santiago com os cristãos fustigando mouros com suas espadas em forma de cruz. E, foi em Alcácer Quibir que se deu início ao reverso da história e, já lá vão 443 anos; Aqui, tal como em Beringel, por volta do meio-dia, os perfumes do campo de funcho, poejo e espargo silvestre, adensam seus cheiros a recordar tais nobres tropelias… (nem falo das foices abrilistas para não ferir meus compadres…)
O Soba T´Chingange
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