CONHECER MELHOR O BRASIL – ALFORRIA
3ª Parte - Crónica 3387– 09.05.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
A partir do fim do tráfico Atlântico deu-se a falência do domínio senhorial com os escravos obtendo liberdade a despeito da vontade dos senhores, rompendo os laços de dependência por várias vias. A partir da década de 1860, outra forma de obtenção da alforria deu-se através do contacto entre abolicionistas, muitos deles advogados, e escravos , eu iam sendo informados sobre suas possibilidades de libertação pela via judicial, sobretudo depois das leis do ventre livre de 1871 e, das sexagenárias em 1885. Tais leis abateram de vez a inviolabilidade d vontade senhorial, sancionando a intervenção do Estado nas relações entre senhores e escravos reconhecendo legalmente as lutas dos cativos pela liberdade.
No ano de 2009 estive lá, na Serra da Barriga, um Quilombo que funcionou com fujões que a tudo se submetiam para atingir a liberdade. Montaram ali no Morro dos Macacos, como era conhecido nos escritos e falas do povo, um governo que se manteve por alguns anos. Do que vi e li, concluí o que a seguir descrevo. O termo de Muxima que é a saudade dos mwangolés - quimbundos, pode ler-se no quadro de entrada naquela Serra da Barriga. “Muxima dos Palmares” é uma homenagem aos Comandantes-em-Chefe que formavam o Conselho Deliberativo do Quilombo dos Palmares.
São eles: Acaíne, Acaiuba, Acutilene, Amaro, Andalaquituche, Dambrabanga, Ganga-Muiça, Ganga-Zona, Osenga, Subupira, Toculo, Tabocas, e seus principais líderes:-Aqualtune, Ganga-Zumba e Zumbi, Banga, Camoanga e Mouza, que resistiram depois da morte de Zumbi; aqui, são homenageados todos os negros e negras, guerreiros e guerreiras. Todos aqueles que ao longo de quatro Séculos lutaram (e ainda lutam) pela liberdade racial”. Uma outra placa com fundo preto e letras salientes reconhecido no final pelo Governador Alagoano, Engenheiro Ronaldo Lessa a 20 de Novembro de 2002: -“Homenagem aos Heróis Quilombolas que tombaram lutando pela liberdade em 06 de Fevereiro de 1694: Ganga Zumba, Dandaro, Acotirente, Andalaquituche, Aqualtune, Gana Zona, Ganga Muiça, Acaiúbo, Toculo”.
A SERRA DA BARRIGA - “CERCA DOS MACACOS”, o termo Sanzala ou Senzala em Angola é um povoado normal, enquanto que no Brasil, está conotada com as casas de tortura, da canga, dos grilhos, da chibata, da bola, da máscara de sino e correntes. Kimbo é o nome de sanzala na região de fala Umbundo em Angola, planalto Central com suas casas, libatas. Neste tema todo o mundo da actual lusofonia que banha os Oceanos Atlântico e Indico estão de pouca ou muita monta, relacionados com esse que foi o triângulo da escravidão. Temos assim São Tomé e Príncipe, Guiné Bissau, Cabo Verde, Cabinda, Angola no lado Atlântico e Moçambique do lado do Oceano Indico, como terras fornecedoras e o Brasil, como terra recebedora.
Até às vésperas da abolição, muitos senhores tentaram manter o controlo sobre a alforria, originando a geração de dívidas de gratidão, que resultassem na manutenção dos vínculos após o fim do regime. Estas manobras de diversidade não conseguiram conter as alforrias em massa que culminou no ano de 1888 cohartando as diligências dos senhores com seus representantes da lei; já poucos suportavam esta tão longa injustiça, dando total reconhecimento aos seus direitos de libertação.
Todo este trabalho de pesquisa, foi objecto de promessa minha ao fiel depositário do Guardião da cultura em União dos Palmares e Zelador do Museu de Maria Mariá, Senhor Paulo de Castro Sarmento Filho, que teve amabilidade de me mostrar o actual mocambo de Muquém, a Serra da Barriga e descrever o seu trabalho ainda em esboço duma Cartilha Pedagógica, num projecto de cultura viva.
Acompanharam-me nesta visita que durou todo um dia, a Dra Rosa Casado, natural daquela cidade de União, e f ilha de um dos últimos prefeitos de União dos Palmares. Ficou a promessa de uma futura visita aos mocambos de Cajá dos Negros e Palmeira dos Pretos, povoados em que ainda são visíveis os costumes antigos trazidos de África. Vivem da agricultura, da venda de artesanato, potes em cerâmica, feitos de forma manual. Estar ali, é o mesmo que estar em qualquer sanzala de Angola nos dias de hoje. Por todo o interior de Pernambuco, perto de Guaranhuns e Alagoas em União e Palmeira dos Índios, as características levam-nos à África longínqua da qual saí no ano de 1975.
Sintetizo aqui, o essencial com algumas e poucas introduções de meu foro - “A África revelada por Arnon de Mello” e publicado no jornal Gazeta de Alagoas. No século XVII, Alagoas oferece reduto para os negros formarem os inúmeros quilombos que prosperavam em todo o território brasileiro, mas que tiveram na Cerca dos Macacos da Serra da Barriga, nos Palmares, sua maior simbologia. O Brasil foi o país com a maior concentração de escravos negros do mundo com dados indicadores de 3,5 milhões. A liberdade, por meio de fuga, consolidava-se pela anormalidade da vida administrativa e económica da capitania de Pernambuco.
FIM
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