TAMBULACONTA CABINDA
-La vitória és cierta! La lucha continua! Cumcamano, o Gurigula tinha sido um companheiro de Ché Guevara…
Crónica 3430 – 21.06.2023 -– “Maianga, é lugar de muitas e boas águas”
Por T´Chingange – Na Pajuçara
As revoluções acontecem em um qualquer intervalo de tempo ficando num foco, num documento, num pestanejar de olhos e, normalmente, de forma alheia aos nossos anseios, vontades ou mesmo pensamentos. Pode-se assim afirmar que nenhum terrorista nutre algum sentimento de dúvida acerca de sua nobreza nas convicções. Naquele exacto momento, ele, o terrorista, achava estar certo porque tinha um apego sentimental a uma crença, a uma causa.
Depois daquela experiência, assente em ideias mais engravidadas, poderia levantar dúvidas de se valeu a pena lutar, matar e actuar com risco de morte por aquela causa por via de ser esclarecido no tempo certo do amadurecimento. Na ilusão da mente, por sedução ou obrigação nossa vida trambolha-se, confunde-se ou procede confusamente perante a obrigação de lutar por algo. Andei quatro anos lutando por algo que afinal vim a saber que nem era a minha pátria, pensando sim, que o era! Um território que ainda continua lutando para se tornar independente porque o foi, uma anexação, fruto de um tratado que não o foi respeitado – Simulambuco de Cabinda.
Por motivo de força maior e a bem da nação, fui mobilizado por recrutamento a servir o exército regular dum território designado por Província Ultramarina de Angola. Politicamente estava em causa defender o território dito nacional e, prestadas as provas fiz a devida instrução passando de soldado a cabo miliciano e depois furriel. Já como furriel fui enviado para Cabinda para ser integrado numa Companhia de Infantaria do M´Puto (calhou ser a CC 1734 de Beja). A partir daqui, de vestimenta camuflada ou em zuarte amarelo, comecei a ter práticas terroristas. Armado e em fila de pirilau procurava outros terroristas para aniquilar ou aprisionar.
Da incorporação de Angola, fomos quatro furriéis; éramos dois brancos, um de Luanda (eu) e outro de Moçâmedes, um mestiço mais um negro, ambos de Luanda, e meus ex-colegas de estudo da EIL e Escola Comercial. Nosso destino foi a norte – Maiombe! Por ali andamos nas filas de pirilau com o soba Mateus à frente cortando o capim e naquela mata cerrada (a segunda do Mundo) aonde havia e ainda há gorilas. Para além de cuidar em me preservar isso da dignidade, do ideário, da ética eram edecéteras longínquos só ouvidos.
Um e mais outro dia de G3 às costas, umas quantas granadas ofensivas seguras á cintura junto com os cartuchos suplementares, fiscalizávamos soberania ao longo da fronteira com o Congo Braza e o Congo Zaire, em movimentos medrosos no meio de um mar de muitos verdes; no meio de órbitas cósmicas só desejávamos que uma qualquer mira de tiro certeiro não nos mandasse para outra Galáxia, Saturno ou Plutão.
Estas operações de jogar às sortes nosso destino, repetiam-se regularmente a nível de pelotão ou de companhia, com ou sem apoio de helicópteros… No fundo eu era sem dúvidas um terrorista buscando outro terrorista, gente buscando gente. Simplesmente ficou uma memória isenta em valor último, de uma dignidade em cada um de nós terroristas de lá, e terroristas de cá, sem definirmos as razões da mudança, do porquê porque já foi.
Mas, há um mas, fiz amizade com um gorila sim! Um gorila com quem até joguei cartas num lugar de Aníbal Afonso, uma antiga serração bem perto da fronteira com o Congo Braza. Uma amizade que depois de tanta afeição aconteceu um inesperado. Ele e eu guinchávamos amizade e por este acontecido dei ao Felizmino o sobrenome de Gurigula. Fora de portas d´armas e arame farpado eu e Gurigula fomo-nos isentando de medos, conservando gestos subservientes de baixar a cabeça procurando um afago de catar amizade.
Um dia apareci com um baralho de cartas e, na mesa improvisada espalhei os paus, as copas, os ouros e catanas e, num repente surpreendemo-nos a jogar sem regras; entre paus cambalhotava-se como um doidão e, eu gesticulando graças sem coreografia como só mesmo para espantar suprimentos da fala. Algures no Buco-Zau nas Bitinas da Serração do Aníbal Afonso. O gajo, de uma das mãos lançou um ás de copas que baloiçou até meus pés e ouvi mesmo: La vitória és cierta! La lucha continua! Cumcamano, o Gurigula tinha sido um companheiro de Ché Guevara…
O Soba T´Chingange
O Mundo actual tornou-se um espaço complicado
- A teoria da VITIMOLOGIA - Vitimização pela cor é um discurso na contramão…
Crónica 3429 - a 20.06.2023
Por T'Chingange (Otchingandji) na Pajuçara de Maceió (Nordeste do Brasil)
Em Kizomba-Diáspora-Angola, um grupo social do qual sou administrador, (página iniciada por mim já algum tempo), pude ler uma referência ao dia da CRIANÇA AFRICANA e, estranhando ser especificamente um outro dia, havendo já um DIA DA CRIANÇA – de todas as crianças, insurgi-me contra o facto de se diferenciar nos dias e nos géneros étnicos. Porque li: “Comemorado 15 dias depois do Dia Mundial da Criança, o Dia Internacional da Criança Africana chama-se a atenção para a realidade de milhares de crianças africanas que todos os dias são vítimas de violência, exploração e abuso.” - Este dia é celebrado a 16 de Junho já que foi neste dia, em 1976, que se registou o massacre do Soweto, em Joanesburgo, na África do Sul.
O meu chamamento foi assim descrito “Porquê haver um dia distinto para a criança africana!? Não basta o dia da criança - de toda a criança... A ser assim teríamos bem uns trezentos e cinquenta e um dias da criança. Posto isto, decidi fazer auscultação e pesquisa do assunto tão badalado nos dias que correm e, pude chegar à escrita que se segue.
As pesquisas de vitimização constituem um importante instrumento para estimar a prevalência da vitimização pelos chamados crimes tradicionais, de opinião, causa tendencial ou por influenciação tão em voga. E o papel da sua autocolocação em risco. Chamar a atenção para a necessidade de se atender às necessidades hipotéticas de supostas vítimas, por danos históricos, causas passadas ou por desvios padrão no comportamento social no intuito de obter benesses através de ressarcimento.
E, por sequência ter assistência psicológica, ficar em realce, ter melhor cotação para algo, criação de centros de atendimento com dinheiro públicos, ou outras, pondo em detrimento outras visões ou conceitos pré-formatados. Tudo apresentado por meio de um sistema de palavras postas de uma maneira lógica ou dedutiva, em que a pena ou dó, pode deturpar a natureza e causas pelo apelo sistemático à vitimização. Um tema do maior interesse social nos dias de hoje.
Vitimização pela cor é um discurso na contramão dos movimentos anti-racistas insurgindo-se de forma permanente e, recorrendo a vitimização por vezes fantasiosa, usando a cor da pele à falta de outro suporte como justificativa para a falta de oportunidade, entre muitas outras vertentes sociais para obter mais-valias.
Vitimização torna-se assim em uma bolha vitimista, que tem de ser retratada sem esse mistério de queixa que convém desmistificar para bem da sociedade. O valor de ordens que sustentam a sociedade, é uma realidade objectiva criada pelas leis da natureza em que na igualdade das pessoas, sempre aparecerão algumas mais iguais. O factor cor, não tem de ser aqui evidenciado. Há sim outros indicadores que recaem mais sobre os líderes de países africanos...”
Resta saber se efectivamente a UNICEF pactua com esta postura discriminatória porque pude ler: «««Todos os anos este dia* merece a atenção da UNICEF e de outras organizações mundiais que organizam eventos variados, tendo em vista a defesa dos direitos da criança em África e no mundo". In Google»»»
Nota* Pergunta-se: qual o dia?
O Soba T´Chingange
T’XIPALA DO M´PUTO - O PRINCIPIO DA MENTIRA – Parte 2
TAP - TROIKA AÉREA PERNICIOSA - Mau-olhado
- Crónica 3428 – 19.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) no mukifo do Conde do Grafanil
O valor de ordens que sustentam a sociedade, é uma realidade objectiva criada pelas leis da natureza em que na igualdade das pessoas, sempre haverá algumas mais iguais. Estes, dedicarão a maior parte de suas energias a explicar como verdadeira tal e qual como a estória da “Alice no país das maravilhas”, sem se limitarem ao espaço que temos à nossa disposição!
Seguindo o estudo académico do Professor Fernando G. Sampaio Reitor da Escola Superior de Geopolítica e Estratégia - Cidadão Emérito de Porto Alegre (Brasil) e, tendo chegado às falas com muitos “itens” dos quais já foram revelados lguns, pelo que continuamos com os restantes (alguns dos quais de forma abreviada) e, que se seguem: TEORIA DA MENTIRA (2001)…
Íten7. Portanto, a Mentira não e uma falsa opinião, nem um engano ou descuido ou questão de crença. Mentir, é um acto deliberado.
Íten8. Tanto é deliberado, que se pode mentir dizendo a verdade, contanto que se queira enganar o outro com o que esta sendo dito, pois, o essencial na questão é que a mentira seja levada sempre, no sentido de fazer crer, ao alvo da mentira, aquilo que se deseja para ele - o alvo
Ítem9. A mentira é, pois, muito ligada à noção de crença, daí derivando para a questão da formação da opinião.
Íten10. De onde concluímos que a mentira é destinada a criar um clima, na opinião pública ou geral que favoreça o emissor da mentira e, naturalmente, desfavoreça o alvo do emissor.
Íten11. A mentira deve, pois, criar um ambiente, que seja positivo para aqueles que se valem dela e isto implica em prejuízo ou derrota por parte dos que aceitam esta mentira.
Iten12. Voltando ao aspecto estratégico da questão da Mentira, vejamos o seguinte: se precisamos tomar decisões para traçar uma estratégia, é necessário que venhamos a obter as informações necessárias e corretas, para que possamos tomar as decisões acertadas. Caso contrário, nossa Estratégia fracassará.
Íten 12A. Eis, aí, a base onde se insere a utilidade da Mentira, para o adversário que resolve derrotar-nos: Sabemos que a nossa conduta é determinada, basicamente, por dois elementos: a) o nosso desejo; b) as informações que dispomos, para realizar o nosso desejo, o que nos leva ao seguinte esquema: desejo e informação conduz ao vector de conduta…
Íten13. Se um inimigo, adversário ou mesmo o próprio organizador das decisões estratégicas, não tiver acesso às informações básicas e corretas para a condução das operações (seja em que plano for, tanto suas operações militares quanto comerciais ou políticas), a sua conduta resultará inadequada e a sua estratégia falhará.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL
– TROPEIROS
2ª Parte - Crónica 3427 – 18.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por:T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
O Brasil não existia como país antes da chegada do Rei D. João VI. Em 1808, as terras de Vera Cruz, eram um conjunto de províncias com pouca ligação entre si. Não havia a ideia de unidade. Em verdade, a invasão de Portugal pelos generais de Napoleão, resultou na fuga apressada da corte portuguesa para o Brasil.
Na hora crucial do embarque, muitos nobres da corte, tiveram de embarcar só com a roupa do corpo. D. João VI que é tomado como um rei bobo, feio e gordo bonacheirão, baixo e desajeitado, foi ele, no entanto, o verdadeiro estadista que originou o Brasil de hoje. Foi para a sua época tão inovador que, as interpretações depreciativas chegaram ao ponto de o apontarem como o covarde “Dom João charuto”- uma ingratidão histórica…
Desde meados do século XVII, havia o entendimento pelos países da frente ascendente da Europa, de que as colónias não deviam ser geridas pelas metrópoles e, a fim de alterar isto, D. João e o diplomata D. Rodrigo de Souza Coutinho, tiveram a astúcia de aproveitar o infortúnio para reformar o decadente Portugal em um Império; o país Brasil, foi elevado ao estatuto de Reino Unido com Portugal, os Algarves e terras d´aquém e, além-mar tendo D. João VI como Imperador.
Chegados aqui, teremos de ir agora ao inicialmente proposto, falar dos tropeiros que nesse então tinham tanta importância para estas terras tão carecidas de meios de comunicação neste tão grande território, o Brasil. Foi curiosamente, na área de gastronomia que os tropeiros ficaram referenciados nos dias que correm; os pratos por eles criados por uma necessidade ou resiliência como se reverencia hoje, têm o nome de “feijão tropeiro”, “carreteiro de charque” ou “ feijão carreteiro”…
Confecção derivada dos produtos que levavam no dorso das mulas xucras como já o foi dito – carne de charque, carne de sol e mandioca ou macaxeira como é aqui conhecida em Alagoas do Nordeste. Nestas filas de burros xucros e mulas, entre os companheiros da tropa da fila longa de pirilau corria de quando em tempo, uns frascos, garrafas com um líquido ardente e cheiroso: a cachaça! Esta bendita quentura de líquido estava sempre presente, ora para esquentar, ora para entorpecer a dor de dente ou para espantar a gripe e, ainda para desinfestar parasitas da pele e goela ou curar arranhões, um nítido protesto para ser bebida de forma regular.
A cachaça de cana misturada com fumo (tabaco) era usada como emplastro contra picadas de mosquito, dos variados insectos ou cobras. O dono das tropas para fazer qualquer transporte, por norma ajustavam o frete; o condutor destas tropas não tinha de ser necessariamente o dono do pedaço. Algumas fazendas tinham sua orgânica de tropeiros que para além de condutor da tropa eram angariadores conhecidos por alguns como “homens pobre-livres” mas o mais justo, era serem vistos como “aqueles que vivem do negociar”. Ou aina como “negociantes de tropa”.
Estes condutores de tropa, faziam ponte das fazendas de café levando o produto até os agentes comerciantes intermediários que faziam a cotação pois tinham a vila ou cidade para negociar; os tropeiros estavam deste modo subordinados ao fazendeiro, no entanto havia sim, entre eles alguns proprietários de terras e escravos com algum poder de manobra; por vezes também conduziam sua própria tropa e eram ricos de verdade.
Alguns sociólogos de cordel reconheciam que os tropeiros, não ascendiam com facilidade nas sociedades ocupando cargos públicos. Cargos que lhes valesse de prestígio, dada a profusão de sua extrema mobilidade em suas actividades. Embora houvesse ricos nesta actividade, não há muitos relatos, notando-se até, certa tendência para ocultar sua actividade e, que segundo relatos de então ou posteriores biografias, o eram homens que originaram famílias que “enobreceram”.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
T’XIPALA DO M´PUTO - O PRINCIPIO DA MENTIRA – Parte 1
TAP - TROIKA AÉREA PERNICIOSA - Mau-olhado
- Crónica 3426 – 17.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) no mukifo do Conde do Grafanil
A mentira, usada na forma sofisticada de sonegar a informação, terá de se aceitar como uma nova corrente de democracia (inovadora’). Será?! Plastificando nossa mente, após conhecermos narrativas espantosamente dissimuladas, assim acaba por virar uma verdadeira revolução de indignação, Lá teremos de estudar esta genérica maneira de estar, socializante! No intuito de me inteirar de como as tricas podem bem suplantar as troikas, dei-me ao trabalho de pesquisar tudo o que é sabido acerca da mentira, seu uso e nuances adjacentes, sem sair do plausível em questão de “seriedade”.
Nesta balela costumeira e vezeira como se coisa vulgar o fosse, sairá decerto muito mal na teoria da ciniquisse (vocábulo novíssimo). Chego assim a dados credíveis em tese, de aceitar que, governar, é fazer crer, de acordo com a famosa frase atribuída a Maquiavel. Deste modo consultei via net o Professor Fernando G. Sampaio Reitor da Escola Superior de Geopolítica e Estratégia - Cidadão Emérito de Porto Alegre tendo chegado às falas com muitos “itens”, que se seguem: TEORIA DA MENTIRA (2001)…
Íten1. Governar é fazer crer, famosa frase atribuída a Maquiavel, que nos leva ao centro deste debate, que denominamos de Teoria da Mentira, no sentido em que a Mentira, como instrumento, possui o seu próprio corpo de normas, sua própria estruturação e metodologia, já experimentada, ao longo dos séculos, na arte de governar e, por extensão, na subversão dos governos e das instituições.
Íten2. O conhecimento da Teoria da Mentira é Estratégico. Julgamos fundamental ao estudioso da estratégia no conhecimento do funcionamento da Mentira, já que, não podemos basear nenhuma estratégia em falsidades, em erros, em inverdades, pois então, esta estratégia, estará definitivamente fadado ao fracasso.
Íten3. Por isto, estamos com o professor Robert A. Dahl, que em sua análise política afirmou que “pretender uma análise objectiva da política pressupõe que se dê valor à verdade... é preciso acreditar que vale a pena distinguir o verdadeiro do falso”.
Íten4. É justamente, então, que entra a Teoria da Mentira: o objectivo da mentira é impedir-nos de distinguir o verdadeiro do falso. É confundir, é iludir, é enganar e, assim, nos levar a tomar decisões erradas (para nós), mas que beneficiam quem criou e espalhou a mentira.
Íten5. A mentira é, portanto, arma valiosa no arsenal de qualquer beligerante ou assemelhado e serve, tanto para a guerra como classicamente entendida, como para a propaganda política podendo ter utilidade, assim, tanto no conflito externo como nas lutas políticas internas.
Íten6. O que é mentir? Por definição, a mentira é o discurso contrário à verdade, efectuado com o objectivo de enganar. Daí concluímos que o elaborador da mentira conhece a verdade e efectua deformações intencionais sobre o verdadeiro, para atingir o seu objectivo.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL
– TROPEIROS
1ª Parte - Crónica 3425 – 16.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Dom José de Carvalho e Mello, o Marquês de Pombal já no tempo de D. José I tinha feito uma leitura da situação do Portugal decadente e, fez saber da necessidade de se mudar a capital e a corte para o Brasil, de onde vinham os grandes recursos da balança comercial. O facto de a França estar numa viragem cultural e política, por via da revolução de 1789, que terminou com a realeza magnânimo e promíscua com a decapitação de Maria Antonieta e, mais tarde as invasões Napoleónicas, favoreceram a concretização da ida da corte, do ainda príncipe regente D. João VI, para o Brasil.
De forma apressada fizeram-se ao mar, com protecção da marinha Inglesa, um dia antes da chegada das forças francesas com o comando de Junot. Lisboa, a capital do Império, era uma beleza vista do rio Tejo mas, dentro das ruas e ruelas, o bafio e o mau cheiro era deprimente; pela noite atirava-se pelas janelas de Alfama, Mouraria e outros bairros, penicadas de dejectos humanos, urina ou águas saponáceas.
Foi neste quadro que, D. João VI, sua corte, nobres, algum clero, dependentes privilegiados, largaram do Tejo. As Musas e Ninfas, Tágides daquele rio deveriam estar muito ocupadas em um qualquer outro lugar; talvez andassem encavalitadas nos botos do Amazonas. O dia 27 de Novembro de 1807 naquele cais da Ribeira foi agitado; com as presas nem tudo se pode levar para bordo, as forças francesas já tinham passado a linha de Torres. Na viagem com tempestades, imundice, água estagnada, velas rasgadas, mastros podres, carne bolorenta e piolhos a viagem fez-se, até que a 7 de Março de 1808 no início da tarde, parte da esquadra do Príncipe Regente chega à baia de Guanabara no Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, à semelhança de Lisboa, era deslumbrante com seus morros de escandalosa verdura e 60 000 habitantes, dos quais 13 000 eram escravos, os excrementos também aqui, corriam com água suja pelo meio da rua; também aqui se atirava tudo para essa sargeta, com porcos chafurdando e galinhas repenicando. Havia muitas crianças deambulando, pois naquele tempo só havia o coito interrompido como salvaguarda da linha zero; a era ”light”, o látex, o método tântrico e o sexo digital viriam muito mais tarde. Havia bostas largadas por bestas, cavalos e mulas dos muitos tropeiros almocreves.
Pois é destes almocreves tropeiros que ocuparei as falas seguintes. Tropeiro é o termo referido na historiografia brasileira à actividade relacionada com tropas de mulas criadas nos campos de elevada salinidade, terras planas do Rio Grande do Sul. Devido à salinidade estes pastos foram criadouro de manadas de mulas reservando os bons pastos para o outro gado dos quais se extraia leite, peles e a própria carne. Devido a existirem muitos burros xucros, termo para definir animais ainda selvagens, aproveitaram sua rusticidade para transportarem em seu dorso mercadorias. Em verdade também não havia vias e os charcos eram mais que muitos dificultando o uso de carroças.
As mulas xucras podiam percorrer cerca de dois mil quilómetros subindo e descendo encostas agrestes e suportando invernadas agressivas nos campos do Paraná. Saídos do Sul, chegavam a Sorocava, cidade situada perto de São Paulo, exércitos de tropeiros conduzindo suas mulas, concentrando-se naquela que era a maior feira a Sul do Brasil no início do século XIX. Os condutores destas tropas tinham uma dieta que consistia na própria carga que as mulas carregavam: carne-seca, charque, carne de sol, feijão e angu de milho, farinha de mandioca, café, açúcar e melaço deste, na forma de rapadura – produtos metidos em sacos de sisal para se ajustarem ao dorso das mulas cargueiras.
Calcula-se que cerca de vinte mil muares eram negociados anualmente nessa feira anual de Sorocava, havendo anotações de se transaccionarem 100 mil no ano de 1850. Dom Pedro II, neto de D. João VI, era neste então o imperador do Brasil, entre 1840 e 1889, período no qual o país passou por muitas transformações como a Guerra do Paraguai e a abolição do trabalho escravo. Da feira de Sorocava eram comercializadas milhares destes animais para o resto do Brasil e, li que na região de Jaguari de Minas Gerais foram importadas 12 mil destas “bestas”. Sem trem nem estradas, o recurso era adquirir estes animais para transportarem grandes cargas em longas distâncias.
As chamadas tropas eram compostas pelo condutor-chefe, companheiros, cozinheiros fazendo-se acompanhar por cães; estes eram usados para evitarem a dispersão das mulas xucras. Algumas destas mulas eram designadas de madrinhas, porque por hábito tornavam-se experientes na condução do restante lote de muares sendo dispostas de forma intercalada para melhor gestão da fila de pirilau de mulas, umas atrás das demais. Estas mulas eram normalmente enfeitadas com arreios de prata, guizos no peitoril e chapéu de plumas na cabeça. Talvez não o fossem em todo o percurso mas assim eram arreadas de bonitas para fazerem boa figura na feira.
(Continua)
O Soba T´Chingange
T’XIPALA DO M´PUTO - O PRINCIPIO DO CINISMO
GALAMBICES - Mau-olhado - KAICÓ é gelo com açúcar!
KIBOM é um sorvete; BALEIZÃO era um gelado...
- Crónica 3424 – 15.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) no mukifo do Conde do Grafanil
Karl Marx gostava de Kaicó! Com sua balalaika de vestir, referia-se ao “novo homem” que deveria emergir do triunfo da ideologia comunista. Isso aconteceria depois do triunfo histórico dos oprimidos sobre os opressores. Mas, que tem o Kaicó a ver com comunistas? É que eles também gostam do Olá e do KIBOM! A criação do novo homem, para Marx, era vista puramente em termos materialistas. O “novo homem e a nova sociedade” seriam possíveis apenas pela derrota do capitalismo. Os meios de produção como fábricas e terras, por exemplo, não deveriam ser propriedade de uma pessoa, mas de toda a sociedade .
Pois é! Alguns aproveitaram-se! Era o cinismo puro de quem vende água com açúcar consumindo-a só para fingir. É aqui que teremos de ir analisar essa forma de estar que não sendo nova, sempre engana. Há quatro razões de, porque os "cínicos" são assim chamados. Primeiro por causa da indiferença de seu modo de vida, pois fazem um culto à indiferença e, assim como os cães, comem e fazem amor em público, andam descalços e dormem em barris nas encruzilhadas.
A segunda razão é que o cão é um animal sem pudor, e os cínicos fazem um culto á falta de pudor, não como sendo falta de modéstia, mas como sendo superior a ela. A terceira razão é que o cão é um bom guarda e eles guardam os princípios de sua filosofia. A quarta razão é que o cão é um animal exigente que pode distinguir entre os seus amigos e inimigos. Portanto, eles reconhecem como amigos aqueles que são adequados à filosofia, e os recebem gentilmente, enquanto os inaptos são afugentados por ele, assim como os cães fazem, ladrando contra eles.
No marxismo, para se chegar ao “novo homem”, é imperativo que se transformem primeiro as condições externas dos oprimidos. A história, contudo, não está do lado da visão marxista do homem - Danou-se!? Então, para conhecer o cinismo ou ciniquismo (palavra nova), teremos de ir até Diógenes, o filósofo que se tornou um mendigo habitando nas ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema uma virtude; teria vivido num grande barril, um lugar de fingir ser uma casa, e perambulava pelas ruas carregando uma lamparina, durante o dia, alegando estar procurando por um homem honesto. Pópilas, afinal isto de se ser cínico já vem lá muito detrás.
Em cada lugar em que a revolução foi vitoriosa, quer na Rússia, na China ou em Cuba, o que se verificou não foi o surgimento do “novo homem" usando o cinismo até à exaustão, assim o surgimento do “novo opressor que curiosamente também gostam do KIBOM; chegou o Maduro à Venezuela, que curiosamente ou nem tanto, também gosta do Kaicó. Dizem os papalvos que com ele gravitam, que o mesmo é vítima de uma visão superficial do homem ocidental porque não levam em conta o verdadeiro pecado... E, o mundo começou com pecado, lembram-se! Só que ele, Maduro, moita-carrasco, finge que Cristo é um grande seu amigo para lá do molusco – O mundo vai-se calar de cansado e vamos, que vamos.
Soube-se que o Kibom, o Baleizão, o Kaicó naquele tempo não existiam para todos, porque o gelo era demasiado caro. Ele, o Diógenas continuou a buscar o ideal cínico da auto-suficiência, uma vida que fosse natural e não dependesse das luxúrias da civilização. Até custa acreditar que naqueles tempos houvesse isso de civilização mas, fogo à peça: Por acreditar que a virtude era melhor revelada na acção e não na teoria, sua vida consistiu-se numa campanha incansável para desbancar as instituições e valores sociais, do que ele via como uma sociedade corrupta; custa até acreditar nestas versões que tudo indica, ser uma grande inventação.
O cinismo espalhou-se durante a ascensão do Império Romano no século I, tornando-se em um quase movimento de massas, e assim, os cínicos eram encontrados mendigando e pregando ao longo das cidades do império. A coisa pegou! Mas, a doutrina finalmente desapareceu no final do século V, embora alguns afirmem que o cristianismo primitivo adoptou muitas de suas ideias ascéticas e retóricas. Que falta nos faz o “se bem me lembro – Vitorino Amnésico”. A auto emancipação do marxismo falha porque espera, ao mesmo tempo, muito e muito pouco: muito do homem, que consistentemente transforma sua capacidade criativa em fins de poder e, isso revolta alguns! É porque alguns são mais iguais que outros, NOÉ!?
Assim, antes de sermos brancos ou negros, ricos ou pobres, educados ou sem estudo, somos criaturas que gostamos de Kaicó, de Olá, de Baleizão ou de KIBOM sem termos de ir à loja do povo pedir solicitudes! E, porque hoje é de feira amanhã forçosamente será uma outra feira!? Com ou sem comunistas, o tempo continuará, sabem! Elementar - Tomara que não chova, chuva molhada... Amanhã penso comer um KIBOM como se fora Baleizão... Mas, ir a Cuba - nunca mais!... Só mesmo a Cuba libre. Ser enganado uma vez, chega!
Resumo: CINISMO: É A FILOSOFIA A SERVIÇO DA ÉTICA BASEADA NAS ATITUDES
FUI…
O Soba T'Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – XICULULU DO M`PUTO
TEMPOS CÍNICOS – Crónica 3423 – 14.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Para os muçulmanos hodiernos, Fátima – a Santa, é a filha mais velha de Maomé. Isto, se não for cinismo, é quase uma heresia, um absurdo ou contra-senso. É assim como uma picada de alforreca, daquelas malignas, que deixam riscas para justificar que, a mortificação do corpo desta ou outra forma, foi originária de Deus para superar o espírito. Se nos abstrairmos de maldade, de gazes radioactivos do xénon ou crípton poderemos encontrar formas menos sofisticadas de sonegar alguma informação e, de uma vez, gerir o silêncio, o que nos levará a ficar com a mente plastificada.
Se não formos desta para melhor, uma contradição cínica, nunca encontrarei verisimilhanças com a verdade de uma morte não provocada nas características da nossa essência. Se as pessoas compreendessem que os direitos humanos só existem na imaginação, não haveria o perigo de a nossa sociedade colapsar, falir, desmoronar ou implodir…
Nós, gente, não possuímos direitos tão naturais quanto as aranhas, osgas, hienas ou elefantes; estaremos portanto sempre e, como gente, a correr o risco de colapsar – kiákiákiá, um faz-me rir. Pude ler mais ou menos deste jeito, no livro de Yuval Harari espicaçando minha veia erudita. E, porque dependemos de mitos, e os mitos ultrapassam-nos, quando as pessoas deixam de neles, acreditar. Não é interessante este cinismo?!
Uma vontade feita ordem imaginada, não pode ter sustentação se não tiver a existência de seguidores ou verdadeiros crentes. Sabemos que um só sacerdote, muitas vezes, realiza o trabalho de uma boa centena de soldados, quando no meio de uma guerra ou em mudanças de cariz social, se rebatem conceitos de princípios políticos.
Os juízes, os agentes policiais, soldados e carcereiros, não conseguem manter uma ordem em suas tarefas se seguirem essas mesmas ordens imaginadas, na qual não acreditam. Sendo assim, alguns ou muitos de nós, teremos de tomar como verdadeiras essas ordens, para que tudo não fique em suspenso de deixar prescrever a realidade e, até acreditar entre aspas que sim, pode haver alternativa a um plano só imaginado.
Se transpusermos estes principios para o nosso hodierno viver, no pequeno rectângulo chamado de Portugal, veremos que as actividades políticas de governo, de cai governo, de vamos ver como tudo fica, é quase como investir num mercado de acções, activismo de um verdadeiro cinismo porque o é antidemocrático e, de absoluto desprovimento de sentido. Chegados aqui vamos recordar o filósofo grego que fundou a escola cínica e que vivia metido numa pipa…
Ora, foi um tal de Diógenas que, visitado por Alexandre - o Grande, encontrou o mestre das falas relaxando ao Sol, bem no cimo de sua pipa. Engraçado! Alexandre, o Grande, perguntou o que podia fazer por e ele, Diógenes respondeu ao conquistador todo-poderoso -“ Sim, pode fazer algo por mim: - Por favor chegue-se um pouco para o lado, porque me tapa a luz do Sol”. Bem! Podemos transportar este cinismo colocando no lugar de Diógenes o nosso Primeiro-ministro Costa e como Alexandre o nosso presidente Marcelo R. Sousa.
Isto se, considerarmos a vivência actual em que verificamos que “nem o Estado morre, nem a gente almoça”. É por isso que os cínicos não constroem impérios e, será por isso que, uma ordem imaginada só pode ser mantida, se grandes segmentos da populaça, em especial da “elite socialista”, do actual “Estado de forças”, acreditassem verdadeiramente nela, a ordem imaginada. Só mesmo para concluir: O cristianismo não teria durado 2023 anos, se a maior parte dos bispos, padres e afins, não acreditassem em Cristo…
Nota: Diógenes de Sinope, conhecido como Diógenes, o Cínico, foi um filósofo da Grécia; um discípulo de Antístenes, antigo pupilo de Sócrates. Ele acreditava que a virtude, era melhor revelada na acção e não na teoria…
O Soba T´Chingange
FRINCHAS DO TEMPO – NO DIA DE CAMÕES
– Crónica 3422 – 13.06.2023
MINHA SINGULARIDADE POR UM DIA - “T´CHINGANGE”
Por T´Chingange (Otchingandji) na Pajuçara de Maceió
Por um dia fui Camões! Posso explicar: O quinto Centenário da morte do Infante D. Henrique teve dez anos de festividades um pouco por todo o mundo da lusofonia que culminou a dois de Junho de 1960 o ano de seu falecimento, Foi neste ano que se instituiu a Ordem do Infante D. Henrique. Depois deste intróito relembro o ano de 1954, ano em que em Luanda, toda a mocidade estudantil do nível preparatório participou em sua comemoração na Escola Primária nº 8, junto à Liga Africana da Vila Alice. Creio que tinha os meus nove anos de idade e, quando a minha capital do Império era a MUTAMBA…
Teria os meus nove anos quando me escolheram para ser a figura principal do teatro escolar da Luua na Escola nº 8 da Vila Alice – a figura teatral era a do Infante Dom Henrique, o propulsor da navegação portuguesa. Estudava eu na Escola de Aplicação e Ensaios situada na rotunda de D, Afonso Henriques, situada bem em frente do Sindicato dos Metalúrgicos, início da Rua do Cazuno que ligava a Mutamba à Cidade Alta com o Palácio do Governador, passando pela Casa dos Rapazes; era também o início da Avenida Álvaro Ferreira, que passava mais acima pelo Cine Restauração e a Escola José Anchieta aonde estudou meu irmão Zé Kitunda e, tendo na parte posterior o belo jardim do Parque Heróis de Chaves. A mesma terminava no alto e de frente do Hospital Maria Pia
O Cine teatro Restauração passou a ser a Assembleia Nacional depois da independência a 11 d Novembro do ano de 1975. Bem perto ficava o Largo Serpa Pinto de onde saia uma rua que subindo, ia dar ao Liceu Salvador Correia, uma rampa bem acentuada e aonde os candengues da Maianga, iam fazer corridas de fórmula um de fingir em rodas de rolamentos. Esta Luanda antiga ainda só deveria ter uns 90.000 habitantes pois que todas as ruas da Maianga estavam por asfaltar desde o sinaleiro bem perto ao Colégio Moderno aonde também andei algum tempo.
Nesta escola ocorreu até então a maior concentração de alunos do ensino primário das escolas do distrito de Luanda da então Província Ultramarina de Angola. Sendo eu a figura de destaque em representação de Camões, tive de apresentar os vários cenários descritos na obra do maior poeta português. E, foram as cenas do Reino de Castela e de Leão, de Egas Moniz, do Adamastor com Bartolomeu Dias mais Vasco da Gama, da Índia e da Ilha dos Amores.
Os versos que já sabia de cor, fingia ler “As armas e os Varões assinalados, que da Ocidental praia Lusitana, por mares nunca dantes navegados, chegaram mais álem da Tapurbana”. O grande átrio da Escola nº 8, estava repleto de candengues de bata branca, batendo palmas, rindo e exercitando o conhecimento para lá dos horizontes da Mutamba. Posso ainda sentir o cheiro forte do grude da cola de marceneiro que colou ao meu rosto barbas e bigode, e também sentir o tecido branco de zuarte em foles, esticado com farinha de trigo e passado ao ferro de engomar; tecido teso que era a bonita coleira ondulada, que o poeta usava.
Involuntariamente, fui snifado com aquela cola que talvez evoluísse; contínuo sem saber se me alterou partículas dos músculos moles e, até do meu cerebelo. Ver o Tonito filho da Dona Arminda do Rio Seco da Maianga, vizinhos do Almeida das Vacas um antigo degredado colonial, naquele papel maior da história, era algo fora de previsão. Bom! Agora com os meus 78 anos de idade passo até recordar esse evento com um brilho no canto do olho. Ainda haverá gente por aí na diáspora que se lembrará desses idos tempos…
Nesse dia de festa, foi dado a cada um dos alunos assistentes ao teatro um saco de guloseimas e até houve distribuição de sapatos quedes, patrocínio de publicidade da fábrica Macambira. Gostava de usar estes quedes na gimnástica dada pelo Professor Montês na Escola Industrial de Luanda; em verdade sempre que se proporcionava, usava-os com agrado, pois eram leves e frescos.
E, porque pude ser lembrado por mais um dia das Comunidades, posso falar ao de leve o quanto senti ser desgarrado de uma terra que era minha e, só porque era filho de colonos idos pela Companhia Nacional de Navegação num barco de nome Mouzinho de Albuquerque e, também por ser branco fui quase obrigado a abandonar. Só ao de leve posso lembrar que anos mais tarde (1975), me ofertaram um bilhete de avião na ponte Luualix, só de ida para o M´Puto! Algo feio que os generais de aviário fizeram, numa visão tão contrária àquela epopeia de Camões. Não tinha de o ser assim, pois foi mau para quem foi e para quem ficou. Fui!
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL – QUILOMBOS
3ª Parte - Crónica 3421 – 12.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Nem sempre a relação entre quilombolas (moradores do quilombo) eram as melhores, dependendo muito do seu lí der ou do Concelho de Mais-Velhos que no d`jango (lapa grande) determinavam as leis ou regras. Por vezes havia contratempos com os escravos residentes de linhagem e, origem de parte diferentes, de onde eles, ou seus ancestrais, saíram.
Em geral, os quilombos possuíam economia própria e tinham algum sucesso no comércio de seus excedentes destacando-se destes o quilombo Moquim no norte fluminense entre outros espalhados pelo país em áreas de mineração a céu abeto, combinando com a agricultura de subsistência o garimpo de pedras preciosas e ouro. Entre estes e as sanzalas próximas, surgiam vendeiros e taberneiros dando aos quilombos melhor condição de fixação de vida.
Muitos quilombos do Maranhão envolveram-se em agitações políticas entre a população livre que, após a independência entre 1838 e 1841 foram intensas, designando-se na história com o nome de Balaiadas. Mais a norte de São Luiz do Maranhão, grupos de quilombolas organizaram-se em comunidades camponesas construindo sua memória com identidade protegidos pela imensidão das matas atlântica e amazónica.
E, sempre no sentido Norte, estenderam sua influência e organização aos quilombos vizinhos do vizinho território de Suriname e outros centros urbanos dispostos ao longo da costa marítima com uma forte interferência de índios indígenas com os quais se miscigenaram. A partir da metade do século XIX, estes grupos tomaram cada vez mais um carácter reivindicativo, reunindo escravos de uma mesma fazenda, negociando directamente as condições de cativeiro.
Como uma associação de Mais-Velhos, discutiam sua progressiva liberdade com o senhor “coronel”- o dono do sítio, ou um outro posto de mando social á revelia das instituições governamentais. Em outos casos os quilombos, passaram a desafiar a legitimidade da ordem esclavagista forçando os representantes da autoridade a alterarem os propósitos ou procedimentos que até aí não eram contestados.
Neste contexto as insurreições escravas, assessoradas pelos quilombolas forjavam técnicas de fuga colectiva quando a negociações ficavam emperradas; Manuel Congo, foi um dos líderes escravos que montava novas estratégias de fuga através das matas circundantes próximo ao lugar de Vassouras no vale da Paraíba – actual estado com a capital em João Pessoa. Em 1867 em Vianna do Maranhão, quilombos, desceram do morro para agitar a escravidão das sanzalas, exigindo a abolição na sua forma mais simples de soltura.
Na repressão aos quilombos actuavam milhares de capitães-do-mato (capatazes de fazenda), e a maior parte de efectivos policiais com ou sem volantes, das vilas e cidades de todo o Brasil. Os capitães-do-mato usavam cães de fila para perseguir fugitivos e, eram-no muito eficazes pelo faro, pelo porte e pela fúria. O quilombo de Vila Matias em Santos, liderado por Pai Filipe, sobressaiu em seu movimento abolicionista paulista tonando-se peça fundamental nas estratégias de soltura no eixo São Paulo - Santos. O quilombo urbano de Jabaquara situado em plena Cidade de Santos, foi símbolo maior pelas alianças assumidas entre escravos e movimentos abolicionistas tendo um forte peso no término de escravidão em todo o Brasil.
FIM
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – XICULULU ANTIGO
TEMPOS CUSPILHADAS – Crónica 3420 – 11.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
NÃO SIRVAS A QUEM SERVIU, NEM PEÇAS A QUEM PEDIU - Diz a Lei de Murphy "Se alguma coisa pode dar errado, assim o será!" - Se usarmos a analogia de Darwin pela “Selecção Natural” para definir sociologicamente a humanidade, constatamos de que, os mais ricos ou fisicamente mais bem constituídos estarão sempre em melhor posição para sobreviver ou vencer, em detrimento dos mais pobres, débeis, vulneráveis ou impreparados. Os experientes e instruídos vencerão sempre os seus oponentes menos municiados intelectualmente nos desafios que a vida tiver para oferecer, quando estes se candidatarem a testes selectivos ou psicotécnicos.
As pessoas que já nasceram vencidos, vergados pelo infortúnio ou por e via de sua incapacidade financeira, tibieza ou destreza, tornam-se presas fáceis de exploradores e oportunistas. A grande maioria do mercado de trabalho tecnologicamente não qualificado, contenta-se com profissionais de segunda ou terceira. Não existem segredos de vida escritos em compêndios ou cartilhas em que se aprenda como sobreviver neste mundo cão.
O ideal será que cada um satisfizesse as suas necessidades independentemente das suas habilitações. Mesmo estes, em um lado qualquer do globo, encontrarão quem os sugue de forma desmesurada, não lhe dando acesso ou recursos para passar de certos limites, tornando-os permanentemente dependentes. Salvo raras excepções o destino destes temerosos, será sempre o de serem empregados dos outros…
Contrariamente às leis da natureza que ilusoriamente nos fazem acreditar porque nascidos pelo mesmo local, nossas vivências e destinos serão igualitários. Assim não é! Assim não o será! Nada poderia ser mais falso quando os dogmas são imbuídos na ilusão dum universo restrito no conceito dum Deus. Alguns eleitos terão o condão de viverem rodeados dum luxo que o dinheiro pode comprar. Alguns mais corajosos ainda terão o atrevimento, ousadia e a veleidade de pensarem que reúnem as condições para se aventurarem a fazer alpinismo social sem umas cordas na forma de cunhas.
A grande maioria fica-se pelo caminho, vencidos e desencorajados, pois os trilhos estão minados com engodos: ou me serves ou…. E, aqui a frase fica sempre camuflada num muxoxo (uma exclamação de bater com a língua no palato…) incompleto. Alguns muito bem preparados psicologicamente conseguem heróica e atrevidamente chegar ao topo mas nunca serão aceites pelas elites que falam ou parecem ter um Deus exclusivo…
O único factor que mantem o equilíbrio mundial, impede revoltas e que as massas trabalhadoras se apoderem das riquezas que elas próprias geram para enriquecer terceiros, é a ESPERANÇA de que as sociedades por moto próprio se tornem reformistas, humanitárias, fraternas, solidárias e igualitárias. Normalmente vão dar-se mal com esse hipotético socialismo! É que isso, não existe!….
E, como ninguém enriquece apenas pelo suor do seu rosto e fruto do seu trabalho, só existem três formas de chegar a esse desiderato, ou pela exploração do trabalho de terceiros pagando-lhes ordenados miserabilistas, de forma fraudulenta, por meios ilícito, ou através de um golpe de sorte acertando no totobola, lotaria, raspadinha ou euro milhões. Há sim, um outro meio: - Entrar na política…
Todos querem ser ricos; assim, foi inteligentemente criado por estes que “a riqueza não traz felicidade”. Na mente dos pobres ou remediados existe a triste ilusão de que um dia a sorte lhes baterá á porta e que também poderão comer caviar, faisão ou lagosta, regando as suas opíparas refeições com champanhe D. Peringnon. Sim! Que até podem comer picanha todos os dias da semana… Na labuta fora de seus países como emigrantes, irão regressar á Terra Prometida um dia e à medida que envelhece dá-se conta das leis! Das leis imutáveis pelas quais o mundo está organizado e construído que, são apenas duas, ou se nasce rico ou pobre, uns mandam e fazem as leis, outros obedecem e cumprem-nas. O ser-se criado de quem já serviu não se augura em um bom fim. O seu, a seu dono! Fui…
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – “MILAGRANDO A VIDA”
TEMPOS CUSPILHADAS – Crónica 3419 – 10.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
A felicidade, a realidade do conhecimento, os fundamentos e a aplicação da justiça ou existência de Deus, cria conflitos intermináveis em opiniões na tentativa de se ultimarem todos os impasses. Uns, por virtude de inteligência, são prudentes, outros acreditam na resolução pela força e, outros sempre continuarão fanáticos desconhecendo a propósito, o lado da opção certa.
Agora mesmo ocorreu-me aquela estória de uma tal senhora estar a ser infiel ao marido; eles eram sim, casados de papel passado e no regime de adquiridos. Comentava-se que o marido sabia mas fingia não saber! Ora, ora, diz um comum amigo perante isto: “Cornos que dão de comer - deixá-los crescer”. Cismando nisto, até acabo por concordar que há gente bem metafórica. Vejo até neste acaso uma quase parábola certeiríssima – que serve como uma luva…
Achei assim que neste contexto, a paródia quase parábola é tão verdadeira que se pode aplicar a muitos outros casos, como fonte de razão. O modo como tudo fundamentamos, como construímos a imagem, contribuirá para se ver o mundo na perfeita razoabilidade em assim se viver no engano. Neste correr de ideias que coamos em nossos comportamentos “chifrudos”, não nos damos conta no quanto somos servis à opinião na forma de narrativas …
Quantas e quantas vezes, ficamos por dizer o que nos apraz para não contrariar a opinião de alguém a quem temos respeito, amizade ou simples obediência. Na maioria das vezes somos susceptíveis a abrir mãos de nossa própria vontade, vivência ou juízo de valor baseado num ponto de vista pessoal ou subjectivo, em troca de reproduzir um quadro geral de imagens, dizeres ou esquemas que consideramos insuportáveis; uma plausível explicação da realidade que pode ser física, social, histórica mas e, principalmente da realidade política.
Posso jurar que tenho procurado ser o mais frontal mas, sempre evito machucar por subestimação quem pensa de forma diferente; a propósito, mudo o rumo da conversa optando por defraudar minha opinião para não desjustificar-me na convicção. Não raras vezes, me surpreendo procurando leituras que me justifiquem, sem usar um método de falsidade.
Critico-me muitas vezes e até procuro investigar-me da justeza, pelo surgimento duma qualquer ideia que me circunscreve. Talvez por isso, nem sempre consiga manter o brilho com o certo vigor na formulação desse sentido, o que nos descapacita pela mordaça. Quantas e quantas pessoas se portam assim e, por isso aqui transcrevo só para que conste porque daqui não virá mal á nação.
Para que conste e a bem da nação, era como se dizia antigamente, no tempo em que empenhavam as barbas pelo uso das palavras. Claro que me perturba analisar as raízes da mentira que tantos repetem até que pela força, se torne verdade – uma pura alquimia de falácia. Isto de assim viver sem tumulto, não é fácil; a tarefa de explicar os fundamentos de algumas visões no mundo, cada vez se torna mais difícil.
Mais difícil e, que nos obriga a construir uma ou mais narrativas por forma a nos ajudar a evitar replicar outras opiniões, que sabemos de antemão o serem verdades inequívocas. É demasiado enfadonho encolher ombros como um deixa andar, animado de voluntariedade na espontaneidade do pensamento, todo e qualquer frescor de concepção. Deve ser tarde para mudar!
Ilutrações aleatórias de Assunção Roxo...
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL
– QUILOMBOS
2ª Parte - Crónica 3418 – 09.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por lT´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Antes de me alargar sobre os Quilombos no Brasil, convém saber que a palavra "Quilombo" tem origem nos termos "kilombo" do Quimbundo ou "ochilombo" do Umbundo de Angola, presente também em outras línguas faladas ainda hoje por diversos povos Bantus que habitam a região da Guiné, Congo, Zaire, Angola e quase toda a África Austral. Eram conjuntos de libatas, cubatas ou embalas - lugar aonde os funantes (exploradores), descansavam após andarem dias pelo mato recolhendo mel, cera, marfim e outros produtos adquiridos no interior de África.
Os funantes, negociantes portugueses que, abandonando a costa marítima de Angola, iam comercializar mato afora, ajudados por seus auxiliares pombeiros ou moçambazes que falavam a língua dos indígenas, utilizavam os kilombos para descansarem. No Brasil, foi em Alagoas na Serra da Barriga que se congregaram em sociedade e governo (à revelia) que de certo modo, guardavam os antigos sistemas organizativos africanos que foi o já falado Quilombo dos Palmares.
Nos Quilombos, a vivência, seja em Angola ou Brasil não difere muito daquilo que hoje se chama de sanzala ou kimbo que, quando situadas na periferia de uma cidade tomam o nome de musseque (Angola) ou favela (Brasil). Em verdade, são efectivamente os “escravos modernos”, fornecendo mão-de-obra barata aos senhores da selva de cimento; é tão-somente uma outra forma de escravatura, mais livre, mas sendo os verdadeiros serviçais ou a “arraia-miúda” da urbe que reaproveitando desperdício dos ricos constroem seus bairros de lata, cartão e variados desperdícios de obras.
Embora a escravidão no Brasil tenha sido oficialmente abolida a 13 de maio de 1888, alguns desses agrupamentos chegaram aos nossos dias, por via do seu isolamento. Outros transformaram-se em localidades, como por exemplo Ivaporunduva, próximo ao rio Ribeira de Iguape, no estado de São Paulo. No Brasil, mais propriamente no estado nordestino de Alagoas, no correr do tempo, qualquer representação teatral de índole popular entre afro descendentes, maioritariamente negros, suas danças dramáticas, arraiais ou folguedos com autos de representação carnavalesca, chaganças, reisadas ou umbigadas, em tempos de festas, período dos Santos Populares (festas juninas) ou natal, atribuíram o nome de dança dos quilombos.
Na realidade actual, um Quilombo do interior brasileiro, é um conjunto de casas dispersas aleatoriamente, em um aglomerado próximo de casas feitas em taipa e cobertas a capim rodeadas de currais e galinheiros ou mesmo paliça para rebanhos de ovelhas, porcos ou cabras e também currais para alojar muares ou outro gado; animais que dão o sustento a cada casa, a conjugar com os produtos da lavra ou n´haka (termo angolano) em terras mais húmidas junto a alguma nascente ou borda de rio e também na azáfama de garimpo na busca de ouro (Poconé no Pantanal ou Amazonas). Curiosamente há entre estes, alguns grupos, gente cigana com as características da antiga Hungria ou Croácia e, outros estados europeus de onde emigraram; nota-se na forma de vestir, na consanguinidade fechada entre eles e na forma de comercializarem seus pecúlios...
No Brasil, os quilombos oitocentistas diferenciavam-se pelo tamanho e pelo tipo de relação que mantinham com a sociedade esclavagista. Um pouco por toda a parte, havia os pequenos quilombos próximos a fazendas e, de pequenas cidades; seus membros formavam grupos que viviam do saque de áreas vizinhas. Neste contexto, ainda hoje podemos verificar procedimentos análogos tanto nos meios rústicos, campos do interior, como urbanos, executados por gente das favelas ou cortiços dos arrabaldes.
Lugar aonde se acoitam gangues de meliantes bem organizados e armados, por vezes com potencial de fogo superior às polícias intervenientes. Surgem amiudadamente helicópteros e policiais actuando nesses sítios indicados que por norma ficam em encostas de morros, no leito de antigos riachos, terenos de má condição para se fazerem obras de boa execução segundo normas de segurança e, aonde tudo parece estar na ilegalidade; há gatos (geringonças) de ligações eléctricas fora do controlo, há tubos de água a abastecer grupos sociais sem contador e tubos de esgoto mal dimensionados, conduzidos para sargetas ou águas pluviais pertencentes à rede municipal. Na maior parte dos casos nem pagam IPTU (IMI) – imposto sobre imóveis…
O aqui descrito também se verifica no novo país de Angola, aonde prevalece o desenrasca com garranchos nas linhas eléctricas e gatos com gatinhos que por vezes produzem catástrofes derivados de curtos circuitos ou enchentes em tempos de chuvas intensas. Um deus dará, dirão mas, assim o é! E, surgem acampamentos de sem-terra, dos sem-tudo por lados que parecem pertencer à dita União, ou seja do Estado Federativo do Brasil, nas margens de rios ou de estradas nacionais; Quase em todos os casos, estes ajuntamentos estão refecidos com bandeiras vermelhas ou brancas e, parece que quase sempre há gente de colarinho branco a servir de tutores e, que por norma os usam como diversão política, tomando terras supostamente sem aproveitamento. Os órgãos de informação tratam este assunto com pinças delicadíssimas por via de poderem entrar num foro de cariz ideológico governamental e, colidindo com interesses mal assimilados pela grande maioria d moradores – jogos políticos…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
T’XIPALA DO M´PUTO - UM JACARÉ NO CAMINHO
FALAS, SÓ ÁTOA
Mau-olhado - Crónica 3417 – 08.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji) no mukifo do Conde do Grafanil
Desfragmentando o meu disco a fim de dar arrumo a todas as mokandas, cheguei a uma amalgama de inventações que o passado escorregou no fermento duma história de diáspora, que não quer ficar esquecida. Meus pais iam ver seu amigo Boni Boni; amigo, era assim mesmo que também me tratava! Ele, o branco mais preto da Catumbela, falando, em prosa, em gíria e na contraluz do discurso directo, arrevesava os verbos do seu jeito jeitoso. Foi quando, numa altura que só chovia, chegamos ao rio Catumbela que tinha jacarés pra caramba, parecendo pedras com olhos reluzentes.
Eram tantos que por volta de 1949, eu ainda era um pivete candengue, após chegar vivendo uma enchente; vou contar mais ou menos do jeito que eles lembram: “Os Bonis”, conhecidos de meus pais e, que no tempo foram ficando amigos, até que tiveram de fugir em um dia, às águas barrentas com jacarés boiando só átoa. A casa com o nome de “SANTI” feita de adobe ao jeito de taipa com ripas cuzadas e barro chapado com mão; vi que por isso mesmo, não resistiu à enxurrada naquela que era a “travessa da verdade”, que logologo ali, chamei de jacarelândia do Boni…
Foi ali mesmo, na Catumbela, no húmido bafo de crocodilos, casa de taipa esfolada, que lhe nasceu o filho mais velho, filho do velho Bonifácio, Boni Boni Torrado, trespassando de três gerações. “M´bika a mundele, mundele ué” (Filho de escravo, escravo é). Bem-disposto, Boni candengue, filho do pai dele, agita no tempo e conta do mais velho pai, bem na forma de como o quer lembrar... Seu herói, usava a filosofia pulverizada, chispando fora o supérfluo – é este filho pivete que já homem diz para mim, sacudindo a chave de grifes de apertar tubos e porcas do seu bedford…
Ele seu pai herói, vou-te-falar, tinha uma bomba tipo FLIT que lhe fabricava ideias – que até fazia arco-íris mesmo por cima das carcaças de geleiras e cambotas na mistura com pistões pintadas de cagadelas brancas marca gaivotas; isso mesmo, um arco-íris como aquele negócio que aparece no céu na chuva cacimbada! Juro (eu próprio) que nem acreditei mas, só fingi, que sim senhor, credito mesmo! - A vida tem os seus segredos, diz ele, Boni filho, no café boteco junto do largo Maria Neno Ovava, enquanto sorve um copito de s’bell, do verdadeiro Whisky da Catumbela.
Os dias passaram na maré de guerras crispadas de recentemente, até que, a independência chegou num repentinamente, os amigos foram bazando de forma dramática; a confusão chegava do sul, do norte e, muitos outros lados; viu-se e desejou-se fazendo das tripas coração para fugir de tudo, mano. É o Boni filho contando!
Nem tudo pode ser mau todo o tempo, concluiu antes mesmo de contar nem sei o quê de seu fim. O que vai acontecer de ruim na vida da gente só pode mesmo ser para melhorar! Que é isso; falas de quê? Ele, melhor, o pai dele só falou no sobreviver, que ia misturando umas quitetas, arroz e folha de mandioca, que o Kamba fintador Cadimbinha trazia do Alto Liro nas horas menos dramáticas entre os intervalos de fogo cruzado; Xis versus Ypson e, desentendia tudo na vice da versa.
Há pois, os búfalos do Sul passaram por ali com tudo, mais bazucas, sabes? Estava mesmo confuso mas entendi, coisas de guerra que também vivi, sim senhor… Foi quando das falas já nem entendi se era o Boni Pai se o Boni Filho. Mas, nem interrompi, deixei só. Teve de usar uma pópia musculada pois, nos contratempos de muito para além dum problema que, surgiam noutro e, na confusão então não tinha sentido. Tudo se tornou maka, mas diferentementemente. Tudo ficou por demasiado na confusão de maka e, no café aonde vendia s´bell whisky da Catumbela, num havia mais. Surgiram t´xipalas novas de muitos lados; o controlo de tudo foi ficando cheio de pequenos ferimentos, adoecendo mesmo. Num dia teve mesmo de fugir à frente dum barulho de tanques de guerra, saiu derramando seu código genético na areia.
Já no fim da restinga do Lobito, carregado de medo, a brancura da pele tornou-o reaccionário – e, ele nem sabia o que era isso! Bom! Passados uns anos ouvia na rádio - “morena de Angola que leva o chocalho amarrado na canela, será que ela mexe o chocalho ou o chocalho mexe com ela”. Assim lembrando o onze de Novembro de 2005, já no M´Puto, 30 anos após o dia da independência, diz ele: “ a bela mulata remexendo… Deixando requentar o feijão no tacho... Na Catumbela”… Na Catumbela?! Nessas cantigas da mututa da libertadura, basou, apanhou o barco e foi para Elvis Bay – só ele mesmo…
Haka! Já era ele mesmo meu amigo Boni Filho, falando: Agora não tem mais cana-de-açúcar, nem s´bell; a própria fábrica do açúcar da Cassequel é um montão de ferro velho e a praça do Império do Lobito, tem uma traineira encalhada no meio; A restinga é só mesmo aquele barco empoleirado, fim dos Tugas. Bonifácio Filho, caçador de catuitas, recorda versando e prosando aqueles tempos de fisga, do antigamente. Como meu pai falava: Se o Xicaça me topava, gritava para o ouvir... Ah! Seu Chiquinho Catava, desta vez, não se vai rir!... É o Boni filho a recordar – o kota Boni, meu pai morreu, faz tempo. E, afinal no Catumbela rio continua correndo chuva, molhada, “Nas claras águas de cacimbo, o rio dilata-se na paisagem de cana sacarina, palmeiras de dendên, e bimbas de copas nas águas. Ficou só um “havemos de voltar” -“bichinha danada, minha camarada do emepelá”
O fim acabou assim mesmo, só átoa – Háka…
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Bibliografia – Catumbela, terra de jacarés de António Gonçalves Rodrigues (o Bonifácio Boni, pai)
Glossário
M´bika a mundele, mundele ué - o escravo de branco também é branco; jacarelândia – abundância de jacarés no rio Catumbela e vila do mesmo nome, na travessa da verdade; Maria Neno Ovava – praça pública com obra escultórica alusiva à musa e água situada em frente aos Correios da Catumbela; S´bell – marca de Whisky muito apreciada pelos Sul-africanos; bimba – árvore de beira-rio de 3 ou 4 metros de altura, tronco mole de extrema leveza, usada para construir jangadas; quitetas – amêijoas, berbigão; Kamba – amigo como irmão (Kimbundu); fintador – dado a truques; búfalos – referente ao batalhão invasor da A. do Sul; catuitas – pássaro bico de lacre (bico vermelho); Tuga – Português; Haka! – Exclamação (Umbundo); emepelá – MPLA, movimenta emancipalista e implicacionista…
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL – QUILOMBOS
1ª Parte - Crónica 3416 – 07.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Quilombo é um agrupamento de gente em um improvisado espaço como se fora um bivaque militar mas, neste caso eram em sua forma inicial composto de escravos fujões. Como o próprio nome indica em seu linguajar, eram fugitivos da escravidão de um senhor de engenho, fazenda, roça de café ou outro tipo de exploração, normalmente agrícola. Era a forma mais comum de resistência à opressão escravista (esclavagista); refugio à fuga de grupos de escravos seguindo trilhos na mata e correndo riscos vários até ali chegar.
Prática que foi comum em todas as sociedades escravistas da América do Sul e Central conhecidas, possuindo nomes diversos, palenques ou cumbes nos territórios espanhóis, marrons na área inglesa, grand maronage, na parte francesa e quilombos ou mocambos no Brasil. Por norma eram cubatas feitas de capim ou em taipa dispostas em círculo e tendo no meio uma grande e alta cubata na forma de lapa ou Jango (termo angolano) e aberta dos lados, que servia de ponto de reunião e convívio da “tribo”…
Lapa ou Jango, era o lugar aonde conferenciavam decisões de defesa e sobrevivência. Pude observar isto no ”Morro dos Macacos” na Serra da Barriga, um quilombo próximo de União dos Palmares do estado de Alagoas. Na conjuntura do século XIX confundiu-se entretanto algumas características especificas aos quilombos do Brasil Monárquico.
Se os quilombos sempre estabeleceram relação com a sociedade esclavagista no século XIX, essa interacção fez-se ainda com mais intensidade em função do desenvolvimento económico e social do país, genericamente, devido ao crescimento das cidades com população livre e pobre, para além do surgimento de uma opinião pública antiescravista e posteriormente de um movimento abolicionista.
O quilombo de Iguaçu no Rio de Janeiro, teve algum relevo na forma de organização e actuação de outros quilombos periféricos às grandes cidades. Ali e, por todo o século XIX, escravos aquilombados em vários acampamentos provisórios às margens dos rios Sarapuite e Iguaçu, foram bem-sucedidos pelo beneficio da topografia da região, cercada por água e manguezais que logicamente dificultava qualquer retaliação a uma qualquer acção por parte destes fujões.
Mantinham assim um contacto permanente com barqueiros, taberneiros e comunidades das sanzalas das imediações de fazendas vizinhas. Seus produtos, especialmente lenha, carvão e extracção das lavras, como fruta silvestre e, de cultivo das hortas, eram escoados para os mercados chamados de feiras; também o era no seio mercantil envolvente à corte endinheirada que faziam vista grossa quanto à origem da coisa. Esta prática de não querer saber a origem do produto, mantem-se até aos dias de hoje, permitindo a sobrevivência de muitos trabalhadores ocasionais vulgarmente conhecidos por camelós.
O quilombo Malunguinho, nas imediações da cidade do recife, reuniu não só escravos fugidos mas também, índios e brancos fora-da-lei, entre os anos de 1817 e 1835. Como é de calcular saiu daqui uma miscigenação composta de pardos, mazombos, mestiços matutos e mamelucos, prática social que obrigou os etnólogos a considerarem haver aqui uma Raça Humana em detrimento das quatro cores de raças, anteriormente referenciadas nas escolas do ensino básico.
Nas matas de Catucá, por quase duas décadas, mantiveram uma organização militarizada, estabelecendo uma série de relações com apoio a outros segmentos e sectores da população que os acoitavam, informando-os sobre movimentos de tropas regulamentares do reino ou volantes ocasionais e que, com eles negociavam. Esta prática deu também certa originalidade à política hodierna em que tudo tem um preço e o pode ser sim mercantilizado num contexto bem original-abrasileirado com venda ou troca de opinião, valores ou votos; um mercado de assinaturas ou narrativas trocadas, negociadas, vendidas ou cedidas a eito e sem jeito.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
A NUDEZ DA VIDA – COISA APÓCRIFAS E PEIAS DE SISAL
“Somos uma sopa nutritiva…”
Crónica 3415 – 06.06.2023 na Pajuçara de Maceió - Brasil
Por:T'Chingange – (Otchingandji)
Na era tecnocientífica dos nómadas digitais e inteligência artificial, com a robótica e o tal de 5G, a liberdade adquiriu um novo sentido à semelhança de um adulto emergindo da infância fumada com papel de celofane, embrulhando barbas de milho de fingir cigarros fumados por adultos; agora há sim uma gama de escolha muito mais ampla de todos os produtos imaginados, assim o seja esses tais de cigarros electrónicos que devem matar mais que os normais. Sendo assim, temos um número maior de utentes e intervenientes, seja na admiração, seja no compartilhamento de risos e responsabilidades.
Nada demonstra que nos tenha sido atribuído um destino ou um propósito especial, ou que nos tenha sido outorgado uma segunda vida depois de terminada a que presentemente, cada qual, vive. Por uma qualquer razão, uns cientistas dizem que fomos criados não por uma inteligência sobrenatural mas, pelo acaso e pela necessidade, numa espécie de entre milhões de outros existentes na biosfera da terra. Bem! Eu, não considero plausível esta tão simplória forma de singularidade.
Outros, dizem que fomos criados por extra terrestes que nos harmonizaram tal como somos e, num ciclo de tempo que já o foi mais avançado do que hoje na tecnicidade Ipso facto, uma expressão latina que significa “pelo próprio facto” ou seja, que um certo efeito é uma consequência directa da acção em causa, um blàblàblá, filosófico na arte de engavelar ciências.do facto. Se lermos Gênesis 2,7 o texto diz: Então Iahweh, Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente. Foi Jahvista que modelou esta história no segundo capítulo da Bíblia.
Por isso, antes que a terra me coma, eu como a terra em comprimidos de argila, posso explicar: A frase hebraica que a Bíblia traduz como “argila do solo” é “apar min-hadamah” - apar pode ser traduzido como “poeira” e min-hadamah como “do solo”. APAR é o mesmo vocábulo usado para a frase muito conhecida por nós, presente em Génesis 3,19: pois tu és pó e em pó te tornarás. Numa época muito passada e, de muita tecnicidade em conhecimentos nucleares, isso da fricção de iões e catiões e edecéteras que nem convém escalpelizar, bem que podemos tagarelar que nossa destruição, um destes dias acontece, talqualmente como aquela grande explosão fez da mulher de Ló uma estatua de sal (ou pó).
Pópilas! Se aquela atomicidade de então já fala isso, comparando a nuclearidade de hoje que é exponencialmente mais elevada, estamos mesmo muito lixados, quilhados, tramados mesmo! Feito ao bife. Prefiro acreditar no Deus omnipresente e omnisciente e seu filho Jesus, que há dois mil e vinte e três anos, os homens chicotearam como se o fora um animal e, que pregaram numa cruz de madeira de oliveira, pregos artesanais batidos na forja com aquela maldade de raiva torcida em cordas de folhas de cacto, do mesmo sisal com que hoje se fazem as nossas peias - Baraço, correia com que se prendem os pés dos animais de carga.
Ainda há outros científicos que afirmam que nossa origem vem duma alga. Afinal, temos mais facilidade para aceitar a ideia de que os seres vivos se originaram e evoluíram a partir de outros seres vivos. Essa visão fundamenta a teoria da biogénese. As moléculas orgânicas dos seres vivos teriam evoluído a partir de organizações moleculares acreditando-se na hipótese da evolução gradual dos sistemas químicos (também conhecida como Teoria heterotrófica).
As narrativas da ciência são tão variadas que há um sem número de versões arcaicas impregnadas de religiosidade que confundem as ideologias com cientificidade. Digam o que disserem, eu sempre irei dizer que a Natureza e Deus são um só mistério que nós humanos nunca nos iremos definir por completo. Nada indica que Eva e Adão fossem símios; eram alvos e sem pelos como os nossos primos peludos chamados de chimpanzés e orangotangos. As muitas versões irão continuar apócrifas no meu raso entendimento. Creio que só o somos enquanto somos depois, viramos nada. Somos sim o final de muitas curvas e contracurvas derivados desses tais de australopitecos com um cérebro que evoluiu até se criar a presente civilização.
É que na atmosfera da Terra Primitiva não havia oxigénio (O2) nem n nitrogénio (N2), sendo o ar composto de gases como metano (CH4), amónia (NH3), hidrogénio (H2) e vapores de água (H2O). Ora não havendo oxigénio, não havia uma camada protectora de ozónio (O3) e, isso significava que além da luz visível, a superfície do Planeta era bombardeada por raios ultravioletas com a temperatura, bastante elevada. Sob o efeito adicional de tempestades eléctricas constantes, as moléculas mais simples teriam sofrido reacções químicas e alcançado níveis de organização mais complexas produzindo uma "sopa nutritiva" repleta de açúcares simples, aminoácidos, ácidos e nucleosídeos. Agora para confundir ainda mais, diz-se que o mundo não tem bordos, não tem fim e, há até um buraco negro que anda a chupar energias. Isto complicou…
Fui!
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL
– CANDOMBLÉ
4ª Parte - Crónica 3414 – 05.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Ainda sobre candomblés e, para terminar, sempre relacionando estes fenómenos sociais às tradições de raiz bantu, recordar-se agora que na cidade de Rio de Janeiro, a presença deste povo de N´Gola foi preponderante na primeira metade do século XIX, aonde a expressão candomblé teve mais evidência.
Nas últimas décadas desse século, um número expressivo de escravos baianos chegam ali pelo tráfico interno esclavagista. Isto, não significa que “casas de fortuna, zungus, cangerês e casas de feiticeiros”, como eram chamados, não reunissem adeptos para cerimonias religiosas afro-brasileiras próximas aos candomblés da Bahia.
Repare-se na novidade de apresentar estas culturas na progressão de afro-africanas para afro-brasileiras, mais-valias de origem da costa africana e mais propriamente dos reinos de N´Gola de Matamba, Muxima e Benguela. Entre muitos feiticeiros da cidade do Rio de Janeiro no século XIX destacou-se na década de 1870 um famoso curandeiro e adivinho com o nome de Juca Rosa.
Este, em suas cerimónias, estavam presentes práticas de diferentes origens, iorubás, católicos e bantus. Recorde-se que em Angola em meados do século XX sobressaiu o nome de Sambo, um ervanário, raizeiro e curandeiro do planalto central de Angola. Eu, que saí de Angola no ano de 1975, ainda tomo chás que ele indicou para tomar a fim de atrapalhar o avanço de vária malazengas; habitualmente tomo os chás de “caxinde e de brututo” para estabilizar meu esqueleto. E, a ele devo a prática de comer a terra antes que ela me coma - a argila verde…
Mas, e quanto a Juca, a casa dele, era frequentada por muitas pessoas, em geral negros pobres mas, também representantes da elite e até nobreza. Em redor de seus ritos e cânticos, havia animais a serem sacrificados, havia velas e um altar disposto para teatrar a imagem de Nossa Senhora e do Senhor do Bonfim.
Havia muitos tambores chamados de macumbas, fumos com cheiros de ervas com arruda e outras de tranquilizar espíritos mais o preparo de banhos e feitura de amuletos, uma verdadeira parafernália de poderes defumados e perfumados. Em outras partes do Brasil oitocentista, o chamado candomblé seria conhecido por outras designações como: Batuque no rio Grande do Sul, e xangô em Recife e Alagoas.
Para além desses locais de cultos organizados, a vida religiosa dos descendentes de africanos, escravos ou libertos do período Imperial, era fortemente marcada pela crença do sobrenatural e no poder de determinados objectos para protecção, sorte e felicidade. Por isso, a força de tantas festas religiosas, do culto aos santos, das promessas, das bênçãos e responsos, betinhos e patuás e bolsas de mandinga.
Mandinga, era a designação de um grupo étnico de origem guineense, praticantes do Islão, com o hábito de carregar junto ao peito pendurado em um cordão, pequeno pedaço de couro com inscrições de trechos do Alcorão, que negros de outras etnias denominavam patuá (pópia). Do outro lado do Atlântico, em Angola, podem ser verificadas as mesmas práticas só que, mudando nos nomes tais como kazukuteiros e gente dada ao trambique, raizeiros ou curandeiros que fazem milagres…
FIM
O Soba T´Chingange
FRINCHAS DO TEMPO
– HOJE É O MEU DIA – Crónica 3413 – 04.06.2023
MINHA SINGULARIDADE ACONTECEU A 04.06.1945 - “T´CHINGANGE”
PorT´Chingange (Otchingandji) na Pajuçara de Maceió
Toda a forma de governo legítimo é por norma mediadora e, por assim ser, não o será objecto de história definitiva. O que sabemos e bem, é de que a política, promete! Pois é da natureza da política prometer. Em uma falível definição filosófica, a política tem a ver com a transição entre experiencias concretas e o espaço de todos ao perder de vista a horizontalidade de espectativas futuras.
Nossa presença concreta neste mundo de todos os dias, é sintetizada em duas realidades: passado e futuro. E, não haverá passado nem futuro sem a participação na memória da esperança em surgir alguém que o seja um definitivo libertador; nosso imaginário tem de ter fé para que assim o seja. Quanto ao meu futuro, estou bem firme na HORA EXTRA.
– O que vier, já o será de mais-valia se não inventarem para aí uma especial eutanásia temporal ou me obrigarem a devolver algo da minguada aposentação… E, aquele definitivo libertador, segundo um conceito religioso presente no cristianismo, encarnar-se-á no verbo, assim o seja, enfatizar-se em Deus ficando homem como o Jesus descrito da Bíblia; um recurso a superstições, emergindo só de consciência numa estória.
E, como um presente iluminado em sonho, que numa o será numa verdadeira história – só plausível num entendimento igual ao turbilhão que levou Elias para o céu ainda em vida…Dessa forma projectar-se das coisas passadas para as coisas que virão. Aos limites impostos pelas ilusões com periclitãncias do presente, sempre haverá uma fé, mesmo que escassa, de que as coisas mais cedo ou mais tarde, irão melhorar.
Nossa presença, numa qualquer actualidade, consiste em se manter em erro lógico de espírito de contradição, permitindo à política ser a condição moderada e, pendente de conduzir a comunidade para uma criação possível.
Entre memórias de espectativas, recordações e esperança ou entre passado e futuro, o poder indicará a dependência originária de nossa entrega, porque o âmbito da política, não parte da noção de harmonia ou homogeneidade tendo de se conter no conceito de definir entre amigo e inimigo!
Acho que li algures uma máxima de sabedoria grega, que convêm até não se perder de vista ou esquecimento que diz: “quando se é mortal é preciso pensar como mortal” e, terem forçosamente de ir mais além disso acrescentando: “é preciso agir como mortal”, saber e manter presente que o homem insuficiente só pode gerar formas de governo provisório.
Na natureza humana, a mente totalitária, será preciso modificar. E, porque estamos a vivenciar isto em nossos dias, interessa apelar à perfeição politica porque sabemos bem que uma pessoa tomada pela imaginação totalitária, não admitirá a ideia de representatividade indirecta. É isso justamente que fractura nossa insuficiência na participação directa com implicação no abandono da lei (leia-se lei constitucional). Aqui nunca haverá essa utopia da já falada “mediação”. Resumo: a maior parte dos países do globo está sim, a ser governada por “homens insuficientes”
O Soba T´Chingange
CONHECER MELHOR O BRASIL
– CANDOMBLÉ DO BRASIL e TOCOISMO DE ANGOLA
3ª Parte - Crónica 3412 – 03.06.2023 - N´Guzu é força (Kimbundo)
Por T´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Outra base institucional para a censura aos candomblés apoiava-se num artigo da Constituição (nº 179º), o qual se garantia a “todos” a liberdade religiosa, fixando a condição para o exercício desse direito, ou seja, o respeito à religião do Estado Brasileiro e, à “moral pública”. No entanto, no dia-a-dia repressivo, foram os códigos das posturas municipais, os mais accionados.
A partir de 1830, legislaram sobre a proibição ou cancelamento dos candomblés, batuques, zungus, maracatus “danças de pretos” e “casas de dar fortuna”. As penas envolviam multas, um certo tempo no chilindró e por vezes açoites se, o infractor fosse escravo. As opiniões e acções sobre os candomblés, assim como os batuques negros, nunca conseguiram unanimidade, servindo até de pressão a jogos de interesses não declarados com incidência nos libertos.
No seio de algumas das autoridades não suportavam as livres apropriações negras dos santos católicos, usando musicas e danças como supersticiosas e ofensivas à “moral pública”, à ordem e às leis, havendo algumas tolerâncias segundo a tradição colonial, evitando assim males maiores tais como revoltas. Essa tolerância, proporcionou o arrastar dos costumes proporcionando os canais de suas afirmações ao longo do século XIX.
Entretanto e fazendo um salto ao outro lado do Atlântico encontramos no início do século XX, um dos maiores movimentos cristãos em Angola chamado de “Tocoismo” pelo que, segundo mussendos de Mais Velhos, se faz alguma luz sobre o patrono desta corrente, Simão Gonçalves Toco nascido em 1918 na localidade de Sadi-Zulumongo (N´Taia, Maquela do Zombo, província do Uíge, Angola), tendo recebido o nome kikongo de Mayamona. Após frequentar o ensino primário na missão baptista de Kibokolo, concluiu os estudos liceais no Liceu Salvador Correia em Luanda.
Terá acontecido um acto milagroso que o despoletou à sua missão religiosa: foi o encontro com Deus em Catete a 17 de Abril de 1935. Em 1942, decide partir para Leopoldville (Congo Belga) para colaborar com a missão local e dirigir um coro musical já aqui descrito. Graças ao trabalho que lhe fora reconhecido no âmbito da missão baptista e do coro, no ano de 1946, é convidado, junto com outros dois “indígenas” - Gaspar de Almeida e Jessé Chipenda Chiúla, para intervir nos trabalhos da Conferência Missionária Internacional Protestante, realizada de 15 a 21 de Julho desse ano, na localidade de Kaliná em Leopoldville, Congo Belga.
Simão Gonçalves Toco e muitos dos seus seguidores foram presos pelas autoridades belgas, sob a acusação de alterar a ordem pública. Em Janeiro de 1950, são deportados do Congo Belga e entregues, no posto fronteiriço de Nóqui (província do Zaire), às autoridades portuguesas. Procuram dar por terminado o movimento daquilo que consideravam ser uma "seita perigosa", dividindo o grupo em grupos menores que serão dispersos, no âmbito da política de povoamento colonial vigente à época, em distintos colonatos e campos de trabalhos forçados por toda a colónia.
O líder Toco, é enviado numa primeira instância pelo Vale do Loge e, após passagens por Luanda, Caconda e Jáu, é enviado para a São Martinho dos Tigres, na província de Namibe - Moçâmedes. Pouco tempo depois, é enviado para trabalhar como assistente num farol em Ponta Albina, na mesma região. Em 1961, quando tem início as campanhas de libertação de Angola no norte do país, as autoridades portuguesas, conhecedoras da capacidade de mobilização do profeta, ordenam a sua ida para o Uíge, uma região fronteiriça com o Congo. Por meio dele, pretendeu-se chamar a população que tinham fugido para as matas na sequência de acções militares.
Simão Toco consegue mobilizar milhares de conterrâneos, mas a desconfiança das autoridades portuguesas relativamente às suas intenções faz com que se decidam por enviá-lo para um segundo período de exílio. Desta feita, é enviado para a ilha portuguesa de São Miguel, nos Açores, onde trabalhará como assistente de faroleiro na localidade de Ginetes. A sua permanência nesta ilha portuguesa demorará 11 anos mas no entanto, não esmorecerá no seguimento de sua missão. Ao longo deste período, Simão Toco intercambiará milhares de cartas com os seus seguidores em Angola, com quem construirá um movimento de carácter nacionalista.
Simão Toco é finalmente autorizado a regressar ao seu país ainda colónia, o que acontece a 31 de Agosto de 1974, quatro meses depois do 25 de Abril da tal revolução dos cravos. Recebido pelo então governador em transição, o Almirante Rosa Coutinho, Simão Gonçalves Toco vê finalmente reconhecida a liberdade de expressão e de culto do seu movimento…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
FÁBRICA DE LETRAS DA KIZOMBA – “MILAGRANDO A VIDA”
TEMPOS CUSPILHADAS – Crónica 3411 – 02.06.2023
- Subsidiamo-nos por bagatelas…istopassa, deixandar
Por ´Chingange (Otchingandji) – Na Pajuçara de Maceió
Nossas vidas são estórias armadilhadas de segredos, de não digas nada, istopassa, que não é importante; juntando lixo com luxo procura-se sossegar a vida andando entre os pingos da chuva, agradando como a história diz, a gregos e a troianos; não fales porque te podem queimar, e edecéteras medrosos, para poder levar uma vida mais fácil!
Em dado momento, somos carneiros que seguimos como manda o governo, o líder, a religião, subsidiando-nos por bagatelas… Não há maneira de sair deste imbróglio de viver a modernidade, falar da história tão engravidada de idiotas erros de cálculo e, ficar-se indiferente, assobiando para o lado - parecendo concordar com tudo, para não obstruir uma amizade, duas e, ou muitas mais.
Talvez, cada um de nós interveniente na contestação, se interrogue: - serei eu que estou errado? Mas, então porque é que as pessoas (a maioria) não falam!? Que indiferença é esta de não se ser metal ou metalóide, de se ser ou não e, dar a conhecer - ser de esquerda ou de direita; ficar assim escondido na obscuridade, simplesmente encolhendo os ombros da precaução.
Embatocar num deixandar- Nem carne nem peixe – uns morcões! Mas que raiva! E, as forças provocatórias de mudança, para pior ou melhor, que libertam o mundo das formas que ninguém tampouco poderia imaginar. Ninguém quer forjar a revolução procurando uma dependência humana – mas depois queixam-se: Ai que a vida está cara! É mesmo, a precaução não tem ombros…
O carapau está ao triplo do preço; e, muitos outros têem de ir ao mato defecar, suportar o mau cheiro dos excedentes de todos e carregar baldes de água sob o inclemente sol. É mesmo uma grande chatice, atiçada por fungos, bichos de pé com salmonelas, a modernidade alheia a passear.
Nesta modernidade, os académicos não conseguem evitar os factores não materiais como a ideologia ou a cultura. E, em dada altura sabe-se por suficientes provas, de que as guerras nem são provocadas por haver escassez de alimentos ou por pressões demográficas, mas por um qualquer doido desmotivado de fé e, porque simplesmente assim o quer.
Eu, que sou vitima de uma revolução, por muito que lhe remexa, não encontro pistas reveladoras de uma verdade verdadeira. E, surgem novas obrigações, novas habituações, novas modas e exigências do qual não conseguimos mais viver sem elas – as modernidades. Agora que tudo é feito por computador, não há mais cartas, escasseiam os selos, também escasseiam os balcões…
Os balcões de atendimento e, num repentemente estando onde quer que seja, no sossego, o zumbido de um drone faz-se ouvir, passa para lá, volta e gira, talvez filme, talvez leia, talvez vigile. Isto já me passa dos limites. É sim a modernidade, uma vida mais fácil, uma vida melhor – o futuro. O plano é esse!? O futuro tona-se paulatinamente num dos principais actores no palco da mente humana…
O Soba T`Chingange
TEMPO COM CINSAS – A Democracia tende para o Totalitarismo
Crónica 3410 – 01.06.2023
Por T´Chingange (Otchingandji…) Na Pajuçara de Maceió - Brasil
Resumidamente: A Democracia é um regime político em que os cidadãos usam seus direitos políticos participando igualmente, enquanto o Totalitarismo é caracterizado por um dirigente, que se apoia num único partido (ou uma maioria), deixando o povo em conflito e, culpando sempre um “outro” nos desaires.
Sendo assim, o totalitarismo pode bem ser considerado um acontecimento típico de modernidade que surge encapotado ou trasvestido, entrelaçado com muitas e diversificadas leis, acordos, relatórios ou despachos que saem da base como picos de um cacto de matriz democrática.
Assim sendo, a modernidade chega ao limite da inventação no que leva a perguntar se não herdamos no imaginário, entre muitas, um das formas fraudulentas de conceber “a política”. Esta referência à imaginação totalitária advém de uma noção equivocada de que a verdade absoluta deve ser resolvida por um acto político com uso à mentira ou narrativa; uma exposição de factos, uma narração, um conto ou uma história.
Narrativa ou mentira em que a realidade vem embrulhada em celofane. Surge assim a intenção firme de como fazer promessa em dar apoio com 100 ficando assim assinado e noticiado mas, na prática desses 100 cativam-se na fonte 50, defraudando obviamente as espectativas de um prometimento. Usar deste jeito, uma prática extractivista do trabalho do povo (+ de 50% do produto) - actividades de colecta mais além dos habituais produtos naturais, sejam eles de origem animal, vegetal ou mineral…
Este acto de sub-reptícia é um tipo de encoberta violência que mesmo sendo morna, não pode ser simplesmente compreendida como um subproduto da imaginação totalitária mas que, está sim na sua raiz socialista! Teremos por isso de fazer uma reflexão filosófica investigando conceitos à medida que eles se apresentam na forma constante de variedade de fenómenos observados.
Fenómenos que surgem não por mero capricho de curiosidade intelectual mas, pelo firme desejo de compreender experiências de governação seguindo um ideário pré concebido na inverdade, um pecado quase capital – técnica socialista!
E, interrogamo-nos: - mas que tipo de democracia é esta que nos força a aguentar passivamente a “engolindo sapos”, provocando uma desordem na razão pelos fenómenos que surgem com erros de caprichos. Caprichos com a bastante arrogância que nos levam em crer que sua capacidade especulativa passa de prenúncio a anúncio de um problema real.
Condição que consequentemente se tornam em “actos políticos totalitários”. É isto que vivenciamos hoje em Portugal em que a fórmula E= mc2 (Estado = Marcelo x Costa ao quadrado) é simplesmente clausurada. Neste ensaio banalizado em bomba atómica teremos de considerar os factores de fragilidade impostos pelo próprio limite do medo – um delicado limite pessoal de quem pode, mas, não quer!
O medo é que guarda a vinha; assim ficamos…
O Soba T´Chingange
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