NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3476 – 30.08.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila - no “Estado Livre de Fiume” em Grootfontein – No Otjozondjupa da Namíbia…
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Aconteceu em paz, divorciar-me de mim, dando a chave do cofre ao mestre da charrua da vida, pensei assim aqui e, neste lugar preciso aonde judas perdeu as botas. Às vezes fico meio periclitante com Ele, o Nosso Senhor. Mas, adicionando casos e acasos, coisas miúdas, estendo minhas quinambas, mexo os dedos grande e o pequeno do pé revendo-me no equilíbrio da realidade tão bem fabricada: com a destreza bóher de fugir intuitivamente aos espinhos das acácias dum tamanho quilométrico, um exagero de 99,999%! Isso, de uns bons 10 cm…
Até já estou ganhando olhos nos pés, talqualmente como o homem que teimou em plantar batatas no deserto e, que por via dum sonho, teve-as – um milagre feito em toneladas de tubérculos a que os cientistas não têm a devida competência opinativa para o subtrair – o milagre.
E, porque foi que viemos aqui, se não era necessário afastarmo-nos tanto, a um lugar tendo por testemunho absoluto o céu que nos cobre, para onde quer que se vá. Para provar, que o que tiver que acontecer acontece, haverá sempre o lema: um milagre em que as pessoas, não escolhem os sonhos que têm; foi em duas noites passadas em Windhoek seguindo um destino dormido na Guest House Willtotop de Vanda Potgieter, esperando assim seguir o rumo ainda por escrever.
E, numa singular legitimidade, partilho só um pouco de um reino emprestado, aonde todos são presumíveis herdeiros e arrendatários. Quem não acreditar que assim o é, que se lixe! Pois! Reino, aonde o tempo, também passa igual para todos - Segui na direcção de Okahandja, Otjivarongo, Otavi, Grootfontein com paragem neste Fiume Rust Camp de Otjikango com o rumo do Rundu no Okavango.
Pois foi a Vanda Kikas Miranda que amavelmente marcou minha reserva de estada no Rest Camp Fiume, o lugar que aqui descrevo com a surpresa de reavivar uma estória desconhecida. Bem! Aqui estou neste estado LIVRE de FAZ-DE-CONTA em África, em um lugar longe de tudo, Fiume Rust Camp situada na área administrativa de Otjikango.
Pesquisando a Wikipédia pude assimilar: Os cidadãos de Fiume lá da Croácia actual, de etnia italiana, um grande número emigrou por motivos étnicos ou razões ideológicas, fundando aqui, como em outros lados, "Comunas Livres de Fiume no Exílio". Numerosos fiumanos e, não sómente italianos, surgiram aqui e, desta forma, montaram bivaque após a Segunda Guerra Mundial
Tenho a dizer que a todas as perguntas que me possam fazer, não poderei dar todas as respostas porque nem sempre as estórias e lendas, conservam alguma relação com os factos, transformando-se até em puras fábulas. Será o caso de uma “Croácia de 14 km 2” em pleno mato da terra do nada, para satisfazer um sonho de alguém. As guerras provocam estas diásporas; alguns estabelecem-se algures, outros procuram algo que nunca irão encontrar, como no meu caso… Eu, que saí de Angola também tive este sonho: acampar-me na foz do Amazonas…
E, assim ungido de guerra "tunda munjila" (branco, vai embora), agora era o tempo de me ver no principio do nada, nada que resvalou num sempre. Tomamos o breakfast às sete horas do seguinte dia confirmando o legitimo cuidado de Jorn Gresssmann, o zelador-mor do Free State, uma simbólica herança, um perfeito sonho de um primogénito em terra de nome bizarros como Omatako, Okavarumendu, Otjssondu, Okakamara, ou Otjinoko. Já só restavam 440 km para chegar à Andara do Okavango. Mas antes, terei de descrever pela via da cábula Wikipédia, essa terra de Fiume, lá na Europa, no Mar Adriático…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Ainda em terras da Namíbia e antes de chegar ao Rundu, um destino base em minhas, nossas andanças, pernoitamos em uma fazenda quase tão grande como o original Fiume, uma terra situada na Europa, que já foi Italiana e uma cidade estado. Já foi Croata e, desde 1947, pertence à Jugoslávia. Pois isto parece irreal em África mas aconteceu!
Como disse, Fiume, foi uma cidade-estado da história contemporânea, entre 1920 e 1924, na actual cidade de Rijeka, na Croácia. Este Fiume Lodge e game farm, mantêm sua excêntrica soberania ostentando a bandeira da Croácia de forma simbólica.
Com metade da área daquela ex-parcela europeia tem (ou tinha) Jorn Gresssmann como zelador-mor de uns quantos habitantes khoisan residentes e uns quantos turistas ocasionais que por ali vão chegando. Os demais habitantes são bichos tais como girafas, elands, kudus, orixes, zebras, springboks, hartebests, e avestruzes entre outros, de mais pequeno porte.
Tive de abrir três portões até chegar ao conjunto de lapas, chalés bem ornamentados e cobertos a capim do okavango formando um complexo de apartamentos em circulo e, um outro conjunto formando a recepção, bar, restaurante e cozinha. Nas duas entradas controladas por vídeo, existem duas fiadas de arame sendo a interior alta e com fios ligados a corrente continua para evitar fugas de olongues por via de salto ou encosto.
Até este núcleo habitacional, tive o cuidado de ir a passo de morrocoi tendo-me desviado de um cágado e um sengue (lagarto grande) passeando ao longo da picada. A receber-nos lá estava Jorn desfiando seu austero calendário; deu-nos escassos minutos para inicio do jantar que impreterivelmente era servido às sete horas, inicio da noite, e dali deliciando-nos entre outros acepipes, carne de gnu e de eland fechando com creme de manteiga escocesa, assim ao jeito de baba de camelo. E. dali podíamos ver através das janelas de vidro e rede anti-mosquito os muitos kudus que ali vinham beber entre avestruzes e springbokes como se sentissem obrigação de se exibirem a nós, antes da noite. Foi mais um fim de dia com surpresa inesperada, um “enjoy you stay” no requinte da sempre agradável Windhoek lager.
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3474 – 27.08.2023 - Foi no ano de 1999
- Escritos boligrafados da minha mochila - dois himbas fotografavam a morte da minha infância…
PorT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Ainda nas margens do rio Cunene, para lá da picada pedregosa, sentados em penedo elevado, com uma expressão de circunstância infantil sorriam com naturalidade ao meu espanto. Eu, um turista t´chindere, nas terras do fim-do-mundo a ser fotografado por pastores hereros de tanga. Aqui há coisa! Estou a ficar chanfrado! Passado dos carretos! Háka. Himbas - cafecos do kunene.
Pressentia-se vagamente o aparecer da tarde aonde a calma esmorecia um pouco a sombra dos troncos retorcidos de embondeiro alongando-se pela terra gretada e poeirenta. No horizonte desenhavam-se seios erectos reluzindo fogo entre pedregulhos de onde nasciam cactos em forma de candelabros. O silêncio da planura ondulava uma aprovada expectativa impassível, estirando labaredas num céu incendiando o horizonte.
As narinas arfavam nervosamente o suave cheiro de capim que de pontas viradas ao céu davam término em abrupta falésia; lá em baixo, na margem fustigada pelas ondas de águas rápidas farfalhavam mornices de verão pisoteadas por “nemas” chifrudas em movimentos leves, até graciosos. Era o rio Cunene.
Naquele instante e depois – em todos os instantes, sentia que me afastavam de tudo de quanto amava, e chorei disfarçadamente como se nunca mais ali voltasse. Dissimuladamente, limpava-me assim, como se finge limpar o suor. De novo e agora, a nostalgia das terras do fim-do-mundo transcenderam no tempo fantasmagórico longos bocejos feitos admiração.
A partir dali iria passar por Fiume – um pedaço de estado livre, depois o “Epupa Falls do Okavango em Sepupa)” já no Botswana mais o Delta do Okavango. O rio Cubango ou Okavango que em seu curso, passou a a desbravar aventuras ora seguindo mansamente, ora rápidamente entre desenhadas figuras em rochas com espuma branca e, mais longe não pude ir, nem voar
Faltava um todo o terreno ou um ultra leve para prosseguir a ver as quedas feitas rápidos, deslumbrantes deste rio que vai para o Delta. Demasiado descuidado no agora, tempo de regenerações, usando pensos higiénicos fosforescentes dando bufadelas coloridas como os carroceiros boéres mais a sul; dos hábitos quase secretos que só eu mesmo abençoo entre as porcarias pálidas que se evaporam nas notícias mentirosas poluidoras do Mundo.
Não se deve abandonar o nada de que se goste, e por amor amarrámo-nos às coisas da natureza como se ama alguém que nos é querido. Naquela universidade ou diversidade, aprendemos que as plantas comunicam entre si, por isso o elefante tem de andar muito, e contra o vento para que a coisa apetitosa, deixe de o ser.
Eu explico: - As plantas saborosas ao elefante são devastadas até ao extermínio e estas por feromonas lançadas ao vento, avisam as demais da mesma espécie que rápidamente passam a ter um sabor desagradável, expelindo ou misturando na sua seiva fluidos repugnantes ao sabor; o paquiderme “Jamba” predador, tem assim de contornar a selva ocupando um grande espaço da mata. E. fiquei a saber da importância que tem o salalé na limpeza da floresta eliminando troncos e folhas em decomposição, criando nutrientes para outras espécies se desenvolverem com mais pujança.
(Continua)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3473 – 26.08.2023 - Foi no ano de 1999
- Escritos boligrafados da minha mochila - Aquele Bóere* das batatas do Vaal deveria ter mesmo olhos nos pés!
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Aqui há diamantes? Perguntei à suricata empinada numa pequena elevação que nada me disse, pudera! Sem se importar com essa brilhante pedra que ofusca gentes, fugiu para um dos muitos buracos ali espalhados; terra fresca denotando trabalho árduo para assim se refrescar daquele calor tórrido; calor que chega a ir a mais de cinquenta graus no pico do verão. Coisa para se dizer, Pópilas!
Pois aqui, damo-nos conta de que afinal, sempre há povos a descrever teorias ou filosofias novas clareadas por meio de metáforas que a natureza lhes ensina. Aquela de os pés dos bóeres têm olhos vuzumunava minha kuca com lantejoulas rupestes. Nestes espaços abertos dissociamo-nos dos conflitos sociais; das metáforas criadas pelo homem a justificar coisas sempre compreendidas numa forma de agradar.
As artes criativas dos homens continuarão a florescer com brilhantes expressões saídas da imaginação; novos níveis de conflito ou sedução e, porque a arte por vezes é a mentira a nos mostrar a verdade. Ué… Lembrei-me do professor Souares, um espiritualista com manias de mwata a enfeitar minha testa com unguentos de salsaparrilha e xixi de guaxinim fedorento, tentando resolver meus problemas de mau-olhado.
Este eterno conflito foi-nos legado pela inteligência que tende a evoluir no tumulto com velhas ou novas criticas - velhas teses ou teorias diferentes deste mwata Kimbanda da mututa que me quer desfrisar uns kumbús como assim, na saúde, na doença e o escambau… Um teste de vida de tendência evolutiva legada por Deus, porque pensar o contrário disto, será decerto uma imperdoável heresia. Nos vínculos efectivos do antes, agora, depois e, enquanto gente, vamos rever humanidades antigas de quando passamos de animais quadrupedes a pessoas com mais de 600 centímetros cúbicos de capacidade craniana. Se agora temos 1.500 centímetros cúbicos de capacidade, tudo leva em crer que no futuro, nossas cabeças serão tão grandes que só se nascera de operação cesária.
Este problema sempre presente e cada vez mais remanescente, não reside na natureza nem na existência de Deus mas, nas origens biológicas que pela mente cataloga o auge evolutivo na biosfera. Poderá dizer-se nesta pequena imagem de vida real que cada homem está por assim dizer num estreito nicho como numa burocracia de curral. A parede deste nicho esmaga-nos individualmente a personalidade levando-nos a não poder extravasar nossa euforia como se fossemos bois confinados só a mugir até serem defuntados com um urro levado na ponta dum facão. Por ali, entre os khoisans, busquimanos, que se saiba, nunca andou sequer um profeta escrevendo na areia qualquer mandamento…
As nossas atitudes em relação às coisas, reflectem critérios de valor fundamentais tornando a relação homem-coisa em algo cada vez mais transitório. Se eu fosse professor catedrático teria de vasculhar os termos para não falar tão fora dos parâmetros convencionais. A ideia de usar um produto-coisa uma única vez ou durante um curto espaço de tempo, substitui-lo ou deitá-lo ao lixo, contraria a sociedade ou os indivíduos com uma herança de pobreza.
As gentes do meu tempo, septuagenárias, que nasceram antes da invenção do plástico e do aparecimento do transistor, muito antes de haver computadores e inteligência artificial e ajuda dos algoritmos, não estão tão habituadas a produtos de utilizar e deitar fora; até conservam seus casamentos para lá dos cinquenta ou mais anos; preferem reciclar a vontade de fazer querer, em detrimento do só querer. Hodiernamente já nem vou a casamentos para não me sentir defraudado com a curta duração do umbigamento; quando muito, mando um pouco do meu laço de solidariedade com umas escassas centenas de kumbú para não o ser ovelha ranhosa na família…
Comecei esta em querer falar no homem das batatas da África do Sul mas tudo escorregou na ladeira mais fácil a fim de não perturbar as mentes, pois sempre ouvi dizer que a fé move montanhas. E, num lugar ermo como este do Calahári, aonde o estio é brutal, um homem semeou batatas no deserto e, porque acreditou em Seu Senhor, foi abençoado com toneladas de tubérculos. Contaram-me, vi até um filme que mostrava aquela arides. Ao seu redor havia descrença e a surpresa apanhou-os de boca aberta; Também eu fiquei confuso vendo tanta batata saída da terra. Terra que, com vento, só leventava pó. Este bóere do Vaal devia ter mesmo, olhos nos pés!
Bibliorafia: Bóere: Na África do Sul, os bôeres (africânderes) foram a base social principal do regime do apartheid, que durante muitas décadas vingou na África do Sul. Ao mesmo tempo, foram o grupo chave para o desenvolvimento económico da África do Sul e a posição de vantagem deste país na economia mundial… (Dados da Wikipédia…)
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3472 – 25.08.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila - Foi no ano de 1999
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Os conhecimentos milenares dos Khoisans, estão sendo estudados ao pormenor em algumas universidades da África do Sul por forma a conhecerem melhor sua tradição de estórias verbais com lendas e, dando a estes benefícios na forma sustentável sem os viciar. O Xhoba cacto inibidor do apetite vai através de convénio governamental contribuir para lhes criar hábitos de sedentarismo.
Labotórios, por todo o mundo, estão aprofundando formas de por via de cremes e milongos, colmatar a crise crescente de obesidade entre os cidadãos e, também para de certa forma, anular subtâncias provocadoras de adiposidades. Desconheço se os exploradores Tugas de outros tempos, davam importância a alguns factores relecionados com este povo bosquímano; se o fizeram ficaram relegados para segundas núpcias de estudo.
É provavel que estejam guardados em cadernos coloniais po via das explorações de Serpa Pinto (entre outros), pois que este recebeu a missão de estudar no Alto Chire a construção de uma linha de caminho de ferro que assegurasse a ligação do lago Niassa (Moçambique) com o mar. Nesse então, a coluna expedicionária era apoiado por uma forte coluna militar, com a finalidade de mais tarde se ligar no Baixo Catanga a uma outra coluna portuguesa ida do Bié, sob o comando de Paiva Couceiro.
Portugal deu início a várias acções de ocupação: entre 1887 e 1890; Artur de Paiva ocupou o Bié e Paiva Couceiro foi enviado para o Barotze com numerosos sobas prestando vassalagem a Portugal. Tendo isto em vista, os ingleses começaram a aliciar os chefes indígenas das regiões visadas, incluindo aqueles que já tinham prestado vassalagem a Portugal como os Macololos e os Machonas e até o célebre régulo de Gaza, Gungunhana.
O envio de tropas e de funcionários para as colónias de Angola e Moçambique, para todos os lugares onde se fazia sentir a sua falta era, porém, virtualmente impossível para Portugal. Por outro lado, o acordado na Conferência de Berlim dizia respeito fundamentalmente aos territórios junto á costa, já que o “hinterland” africano era muito mal conhecido. Daí as numerosas expedições organizadas de reconhecimento por parte de Portugal, Bélgica, França e Inglaterra no intuito de a estes, lhes ser reconhecida a soberania.
Os resultados da Conferência de Berlim, despertaram Portugal para a realidade. Se bem que o esforço estratégico tivesse sido orientado para África após a perda do Brasil, pouco se tinha feito por via da instabilidade na vida político-social da Metrópole, M´Puto e das extensas vulnerabilidades existentes. Aqui, no Karoo, na Ovobolândia, no Okavango e Kalahári de África, apaziguo rijezas adversas, relembrando a singularidade com sonhos do mundo.
Não existe ninguém que encontrando um espinho em seu pé não o retire após as primeiras dores; um amigo próximo disse-me que os pés dos bóeres têm olhos. Só entendi essa fala quando observei in situ um farmeiro de kimberley a andar de sandálias de pano colorido no meio do capim repleto de aranhas, centopeias, cobras e um sem fim de outros bichos rastejantes sem contar com os muitos picos espalhados a esmo pela terra barrenta.
Percorrendo o mato do Karoo africano, milhares de acácias com espinheiras do tamanho dum lápis, posso ver ao longe, morros suaves de um e outro lado dos rios Orange e Vaal. Nestas condições de apaziguar rijezas adversas do mundo, relembro a singularidade ainda não totalmente definida, fazendo-me num seixo redondo do Vaal. Seixo embrutecido que rebola no tempo só quando levado pela enxurrada desta mulola aonde me situo. Aqui há diamantes, dizem!
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3471 – 23.08.2023
- Escritos Boligrafados da minha mochila - Foi no ano de 1999
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Um amigo receitou-me pimenta Caiena para controlar a pressão arterial – passeava então o esqueleto no reino bushmen. Estando eu no Reino Xhoba, reino sem rei com cerca de 100.000 súbditos, pertença de vários países de África, não posso deixar de falar deles. Soube porque li em algum lugar que o anterior presidente da África do Sul, Nelson Mandela atribui a estes um território de quarenta mil hectares.
Ora se um hectare tem dez mil metros quadrados, quatrocentos ha darão 400 Km quadrados. Se para aí transplantarem o cacto Xhoba, vai dar muito cacto para amaciar barrigas inchadas por esse mundo. A maioria do povo bushmen também designado de khoisan, continua a viver em casas cobertas a capim em pequenos aglomerados, por vezes a centenas de quilómetros de distância da cidade mais próxima.
Estas palhotas são circulares tendo a altura de uma pessoa no seu centro. Para sua execução juntam uma boa quantidade de paus direitos que depois são curvados e enterrados no solo pelas extremidades. Estes são amarrados ao centro com mateba, uma casca retirada de uma árvore que entrelaçada faz de corda. Com outras varas mais finas e longas formam uns arcos progressivamente maiores à medida que são postos do centro da cobertura para o solo.
Estes paus tipo verguinhas mais finas, são amarrados aos outros mais grossos que estão na vertical tipo meridianos. E. porue é necessária uma prta de entrada, deixam um pequeno rectângulo por forma a permitir a entrada e saída de uma pessoa.
Os seus instrumentos são bem escassos pois com muita frequência, mudam de sítio por via de seguir a caça, seu sustento. Seu património pode bem ser transportado em uma mochila. Seu instrumento mais precioso será uma lança com ponta de ferro como nossos primitivos ascendentes o faziam. Envenenam-nas com banha de um verme que apanham ainda em estado de casulo.
Chegam a matar girafas com o uso de sua astucia e modo felino de andar na mata, pé ante pé e sempre nas mesmas pegadas, sem fazer estalar qualquer tronco seco. Como disse, usam lanças e arcos de flexas, transportando mantas para suportarem o frio das noites que chega a graus negativos. Seus pratos são feitos de aboboras e os copos de massala ou maboque.
São óptimos pisteiros e conhecedores de raízes cheias de água que espremidas são usadas directamente do produtor ao consumidor ou para vasilhas feitas de ovos de avestruz ou cabaças. As autoridades estão dando alguns apoios por meio de lhes facilitar a fixação colocando-os em sítios estratégicos com poços de água alimentados por energia solar!
Creio também que lhes fornecem mantas e facilidades de transporte para levar seus frutos a postos de venda na intenção de os tornarem mais “felizes” e com uma vida mais adequada aos dias que correm. Fazem artesanato a partir de espinhos de porco, ovos de avestruz, cascas de massala e lindos colares de missangas com frutos seos do mato. Usam uma quinda ou balaio maleável aonde colocam seus parcos pertences.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – DO KUNENE na terra do NADA
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3470 – 21.08.2023
- Boligrafando MISSOSSOS de OSHAKATI do KUNENE, mais a norte
- Foi no ano de 1999
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
NO KUNENE, Aquele jacaré era gente! Gente boa que nasceu em corpo errado em Ondjiva (antiga Pereira d´Deça) no lado de Angola!... Rodrigues, seu primeiro dono, deu-lhe o nome de SUNDIAMENO. Isto, quase-quase é um missosso, da literatura oral angolana, contos, adivinhas e provérbios com homens, monstros, kiandas de Cazumbi, animais e almas dialogando sobre a vida, filologia, religião tradicional e filosofia dos povos de dialecto quimbundo e ovibundo. Óscar Ribas, um escritor cego que tive o prazer de conhecer na Luua, foi o seu criador.
No fogo do pó levantado do chão vermelho, margens do Kunene, os kandengues himbas dançavam com um jacaré domesticado; desconhecia que um jacaré podia ser domesticado mas, os olhos meus, me diziam no seu ver, que aquilo visto, era mesmo de verdade verdadeira. Vejo e aprendo que a natureza muito nos ensina com seu riso de muitas flores riscando no firmamento cinza com branco a azul, musgos de nossas velhices coloridas a vermelho com laranja.
Pus a mão no meu cérebro buscando naqueles milhões de células apalpar qual daqueles cabelos feitos bissapas estavam fora do sítio para entender aquela cena inaudível, inacreditável! Sei que tudo em minha vida resulta de guardar sempre comigo a esperança monandengue; de espiá-la com olhinhos de a ver balouçada no arco de minha sobrancelha.
Como se chama esse jacaré! Perguntei ao jovem mais próximo. – Com a boca! Respondeu o pivete. Pintado de coisa ruim consegui domesticar meu frenesim raivoso, e continuei: - Sim! Mas tem nome, não tem? – Chama-se de Sundiameno. Disse! Fiz uma cara feia, de nariz torcido e, ele, vendo-me embrutecido repetiu. É mesmo de Sundiameno porque não é de fiar! A gente lhe desconfia, acrescentou.
– Nem nele, nem no pai dele! Concluiu. Esta conversa tola seguia um rumo desclassificado e, foi neste então que vi sentado num banco de pau feito e atado com matebas, um mais-velho de barbas credíveis e brancas, também chambeta de condição. Dirigi-me a ele e entabulei uma conversa séria, falamos do rio Kunene e de seus mistérios.
Foi este mais-velho kota, já século, que me descreveu alguns mistérios e, que passo a referir: - Olha mwadié (branco) este rio tem muito cazumbi e muito feijão branco. Um dia ajudei um gweta, t´chindele Rodrigues, branco assim como tu, que domesticou desde criança, um jacaré a apanhar diamantes para ele. Saiu daqui muito de rico! Afirmou isto e, em seguida, apontando para suas muletas de fibra sintética disse:
-Foi ele que mas ofereceu! No lugar aonde o rio se esconde, fizemos acampamento por muitos anos até que chegou a guerra da libertação e, ele seguiu com a sua gente (refugiados / retornados). Este segredo, eu conto a toda a gente! Conclui na sua sabedoria filosófica de cat´chipemba com bolunga Lubanguista. Por ali passaram gado, camiões e máquinas amarelas de fazer estradas. Abriram umas picadas e depois seguiram para Walvis Bay e Swakopmund da Namíbia. O mistério daquele jacaré estava quase desvendado por mim, mas, na dúvida sobrante, perguntei: - Então, este jacaré kianda, apanhava os feijões brilhantes? Talqualmente! Respondeu o kota num claríssimo português com pronúncia do norte do M´puto. E, continuou: - Pois, fui eu mesmo que fiquei com estas muletas e esse jacaré Sundiameno.
O mundo é por demais misterioso! Nunca que eu ia acreditar nisto se não visse! O mais velho de nome Oshakati Primeiro, ainda me disse outra coisa em que não acreditei (juro mesmo!): - Sabes que mais, disse ele. Esse jacaré toca guitarra! Acompanhava muitas vezes seu antigo dono a cantar fados duma tal de Amália, uma sua prima muito conhecida lá do M´puto! Isto era demasiado para a minha camioneta; meti-me no four-bay-four e segui para Ot´xivarongo. Conversando com um outro velho amigo de Oshakati Primeiro, piscólogo do Kalahári de nome Ot´xivarongo de Tuji, disse-me já ser conhecedor desta estória e, surpresa das surpresas, aquele jacaré era gente! Gente boa que nasceu em corpo errado! Juro que tudo isto me transcende! Agora que contei, está contabilizado…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – OTJIKOTO LAKE na terra do NADA
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3469 – 18.08.2023
- Boligrafando estórias de OTJIKOTO, perto do ETOSHA PAN - Foi no ano de 1999
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Otjikoto é um lugar aonde as musas lambem rochas - A poucos quilómetros a Norte de Tsumeb, na Namíbia, encontrei o angolano M´c Giver, zelador do buraco de sonho Otjikoto e tocador de baladas enlatadas, também anestesiadas de bolungas extracurriculares. Foi um fortuito encontro de amizade desértica. M´c Giver, tinha uns olhos visgosos tocando com gula a vida de simpatia numa velha viola feita em lata de azeite galo.
Aquele artefacto à qual chamou de “viola galo cantou” na qual fez aplicações com madeiras de cacto e buracos encantadores de assobios espaciais, havia sim, sonoridades extra particulares. Tanto assim que que ele, o M´c Giver teima em dizer terem sido trazidos do Kuito de Angola pois que, até exalavam cheiros de pólvora duma guerra que se extinguiu demasiado catingada É uma coisa assim nunca vista. Esta tecnologia de ponta deixou-me bem embalado em nostalgia na recordação do “Corimba show da Luua” – Um tocador ex-militar acantonado na vida …
Os turistas, saídos do Etoscha pela estrada longa B1, porque eram escassos, requeriam atenção desdobrada pelo tocador de baladas. Ali, num lugar distante de tudo, na terra do nada, um poço com água de fundura desconhecida, sobe e desce ao sabor dos quadrantes da lua, zuni uma pedra nas suas águas e por três vezes chispou na toalha lustrosa - xim-trás-pum. Estava parcialmente satisfeito o desejo do encontro com aquele, um especial buraco num vulgar dia e invulgar lugar a caminho e regresso do Etosha Pan. Pude averiguar ser o "Otjikoto", derivado da língua Otjiherero que significa "um buraco profundo". Os Khoisan chamavam o lago de "gaisis", que significa muito feio, porque tinham medo de pura cagufa desse grande buraco.
O Lago Otjikoto desempenhou um papel importante como posto comercial antes da chegada dos primeiros europeus tendo sido uma grande caverna de dolomita na área de Karstveld. O lago ficou exposto quando a cúpula da caverna, que agora fica no fundo do lago, desabou (uma teoria). Sua profundidade varia entre 62 mts nas laterais a 71 mts ao centro, embora haja locais onde a profundidade medida ultrapassa os 100 mts; até hoje, ninguém viu sua parte mais profunda.
O diâmetro é de aproximadamente 102 mts, com a superfície cobrindo 7 075 mts quqdados. O lago tem o formato de uma cabaça e, o que o visitante vê, é a cauda da cabaça. Até agora o que se sabe sobre o Lago Otjikoto, baseia-se no que foi retirado de suas águas - uma conquista de mergulhadores profissionais que, em seu tempo livre e às próprias custas, passaram inúmeras horas debaixo d'água para determinar o tamanho exacto do lago e descobrir os demais mistérios que ele contém.
Os mergulhadores estão actualmente com equipamentos modernos, ocupados na pesquisa do lago mistério e, suas cavernas subaquáticas, muitas das quais ainda são desconhecidas. O ambientalista Siegfried Agenbag compilou dados e factos sobre sua história, fauna, flora e sua infraestrutura técnica contemporânea nas proximidades, em análise aos rumores e segredos sobre aquelas águas escuras e sem fundo. Dizem até que, é sim um canal subterrâneo que liga ao mar por via de as águas subirem e descerem como se o fora maré habitual nos mares, por influencia da lua…
Despedimo-nos assim do M´c Giver angolano (eramos cinco) das areias e pedras de Otjicoto, do camaleão pré-histórico com picos ferozes e do louva-a-deus escandalosamente verde com a balada seguinte:
Num deserto cheio de vento - Espinheiras resistindo a tudo - A areia longa e solta na limpeza do ar - Da língua envolta em secura; …Na cabeça muitos sonhos - O tempo sem ida nem chegada - Moldura de gente, gente feita zebra - Fluidez imperfeita de uma vida…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”
- "DOS TEMPOS DE MU-UKULU*“ - Crónica 3467 – 17.08.2023
- Boligrafando estórias em NAMUTONI do Etoscha
–Ondundozonanandana - Foi no ano de 1999
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Para terminar a breve descrição da relação entre Namutoni do Etosha Pan na Damaralândia (hoje Ovambolândia, na Namíbia actual) e, a Batalha de Naulila no sul de Angola, acrescenta-se que este forte, também serviu de campo de prisioneiros resultantes da Batalha (Desastre) de Naulila entre os anos de 1914 e 1915.
O incidente de Naulila, influenciou profundamente a opinião pública de Portugal. Os defensores da entrada de Portugal na guerra contra a Alemanha ganharam esta causa por via deste acontecimento na África colonial. Naulila foi o grande catalisador do processo que levaria Portugal a entrar na Grande Guerra a 9 de Março de 1916.
As tropas metropolitanas (M´Puto), mal preparadas para a secura da savana, foram obrigadas a fazer centenas de quilómetros em marcha forçada em direcção à fronteira da Damaralãndia no rio Cubango, atravessando um território cada vez mais inóspito e habitado por povos crescentemente hostis.
Esta falta de preparação para repelir o ataque e, a falta de resistência das forças portuguesas em Cuangar e nos postos ao longo do rio Cubango foi explicada numa das sessões secretas que a Câmara dos Deputados do Congresso da República dedicou em 1917 à participação portuguesa na Grande Guerra.
Nessa sessão, o deputado Brito Camacho, fundador do Partido Unionista, afirmou que a chacina de Cuangar fora motivada por não ter o respectivo comandante recebido notícia do incidente de Naulila, e ter confiado numa informação de Portugal, expedida directamente de Lisboa, dizendo-lhe que estávamos em estado de neutralidade.
A colonia de Angola levou ao fecho da única fronteira ainda aberta da colónia alemã, já que pelo sul e pelo leste as forças britânicas da União Sul-Africana já a sitiavam desde a declaração de guerra britânica de 5 de Julho de 1914 e, por mar, a poderosa marinha britânica impunha um apertado bloqueio.
Com as comunicações cortadas e, sem rotas de reabastecimento, em Julho de 1915 a Damaralândia rendeu-se às forças da União Sul-Africana sob o domínio Britânico. O incidente de Naulila, de que resultou o corte do reabastecimento a partir de Angola, foi factor determinante na sua rendição. Em verdade, o Desastre de Naulila acabou por determinar a perda da colónia alemã, passando a ser um protectorado Sul-Africano.
É curioso recordar isto fazendo uma comparação com a recente independência de Angola, e as lutas que se travaram a sul entre a UNITA com a ajuda Sul-Africana e o MPLA naquela que foi a maior batalha em território Africano - a Batalha do Cuíto, que forçou à governação unilateral do território angolano pelo movimento MPLA ajudados pela Rússia, Cuba e Portugal-C.R. (Concelho da Revolução). E, tudo isso, resultou na independência da Namíbia com a entrega incondicional à SWAPO de San Nujoma em fins do século XX…
Notas: * MU-UKULU - de antigamente…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3468 – 18.08.2023
- Boligrafando estórias de RUACANÁ FALLS a Waterberg Prateou National Park. – Ondundozonanandana - Foi no ano de 1999
PorT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Das quedas do Ruacaná, fronteira de Angola com a Namíbia, só vimos o penedo escuro na forma de falésia escorrendo pequenos fios de água envolvendo árvores retorcidas, estendendo aqui e além suas raízes; ao nível da margem aonde nós estávamos estendia-se um lago manso irregular entre tufos de vegetação. Não muito longe do gado beberricando aproveitamos refrescarmo-nos nas águas do Cunene, o mesmo que há muitos milénios desaguava no agora seco lago do Etoscha.
Foi no regresso que tivemos a feliz sorte de ver uma mulher Himba, toda pintada de ocre vermelho com tiras de couro cruzando o peito desnudo e seus carrapitos de cabelo enlameado de barro. Foi um contacto fugidio á beira da picada que liga à povoação Ruacaná mas, no registo das retinas de todos nós ficou aquela figura de gente agora quase em extinção.
Foi neste percurso e a caminho de Ondangwa que tentamos abraçar um embondeiro majestoso mas, os quatro da tribo não conseguiram chegar à metade. A t´xipala amarelecida relembra a euforia daqueles dias mas que agora estão confinadas à caixa de sapatos do mukifo do soba; O mofo foi lá deixado para preservar o espírito das terras do Fim-do-Mundo junto às petrificadas árvores das terras de Kaokoland, Namíbia Twifelfontein. Rumando a norte para o Okavango, seguimos a direcção de Grootfontein, uma singela cidade no meio da grande chana de África e após o almoço, na revisão de mapas, julgamos de interesse ficar por ali a fim de conhecermos o Waterberg Plateou National Park.
E, porque gostamos do lugar, acabamos por alugar um chalé bem junto à falésia colorida do Plateou entre acácias e, porque não podíamos percorrer com o nosso 4x4 o planalto, inscrevemo-nos no safari da reserva; por lá andamos toda a manha desfrutando paisagens alargadas. O Cudu, Olongue, do buraco de observação, deu um pulo descabido ao clique da máquina fotográfica e desenfreou-se entre capim e pedras.
Já no Camp, o brai de carne estava melhor que nunca e, após tão suculento repasto veio a soneca de passar pelas brasas o tal cochilo. A tarde daquele dia, terminou com uma ascensão entre rochas de escorrida pintura natural em jeito de arco-íris e, seguindo a pista, fomos e viemos já ao cair da noite, de papo cheio de vistas soberbas. A contornar o chalé amiudadamente recebíamos a visita de saguins, bâmbis, capotas e um sem fim de pássaros, bicos de lacre, viuvinhas, celestes e o sempre presente monteiro´s ornebil com seu grande bico amarelo e, adunco.
O Park Nacional de Waterberg com sua bonita meseta, é um espaço protegido, situado bem no centro da Namíbia, ficando a 69 Km a este da povoação de Waterburg. Destaca-se pela sua elevação, bem acima da planície do Kalahári. Com os 405 Km quadrados de terreno circundante, foram declarados Reserva Natural no ano de 1972.
A meseta é em grande parte inacessível, pelo que, na década de 1970 várias das espécies em perigo de Namíbia, foram para ali trasladadas para assim as proteger de depredadores da caça furtiva. Em 1904, nas encostas da meseta, teve lugar a batalha de Waterberg, um marco de genocídio dos povos herero e namas (namaquas), perpetrado pelos alemães entre 1904 y 1907. A batalha saldou-se com a derrota dos hereros, muitos dos quais morreram no deserto. Esta zona faz ainda parte da Grande Namaqualândia, escassamente povoada pelo povo khoisan (bosquímanos) que tradicionalmente ali habita - região do semiárido chamado de Succulent Karoo…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
Não posso deixar de descrever sucintamente o forte Namutoni pois que faz parte do Park Etoscha, lugar aonde se bivacaram as tropas da Alemanha durante a segunda guerra mundial e que também teve uma forte acção durante as batalhas do sul de Angola quando da consolidação da fronteira com a Namíbia, do tempo em que para ali foram enviados muitos expedicionários portugueses. Teremos de recordar ao de leve esses tempos do início do século XIX, do que foi a batalha de Naulila e a leva de militares nesse então - Alguns, foram considerados, sim! Outros morreram desclassificados até ao tutano que virou cinza…
Em consequência da perda de prestígio das forças portuguesas as populações de Huíla revoltaram-se contra a ocupação portuguesa. A crise instalada resolver-se-ia com o envio de uma força expedicionária por Portugal sob o comando do general Pereira d'Eça. A Grande Guerra, originou um conjunto de conflitos com raízes na corrida à ocupação da África que se seguiu à Conferência de Berlim de 1884-1885. Por via da entrada de novas potências coloniais em África, a obrigação de ocupação efectiva do território, colónia de Angola, levou às campanhas de pacificação, as quais se prolongaram por décadas.
A colónia do Sudoeste Africano Alemão a sul de Angola que impôs novas fronteiras, limitando as pretensões portuguesas naquelas regiões interferiu na missionação portuguesa com o aparecimento de missões protestantes suportadas por organizações alemãs. As razões para a desconfiança mútua que se sentia eram sérias: em causa estavam as fronteiras entre as colónias de Angola e do Sudoeste Africano Alemão (Damaralãndia). Um consenso alargado na classe política portuguesa sobre a necessidade de defender as colónias africanas, traduziu-se no envio, em Setembro de 1914, de forças expedicionárias para Angola.
As forças comandadas por Alves Roçadas desembarcaram em Moçâmedes a 27 de Setembro e a 1 de Outubro daquele ano. Em Novembro de 1914, já após os incidentes de Naulila e Cuangar, foram enviados mais 2800 homens para Angola e em Dezembro outros 4300 militares. Nos anos seguintes, o efectivo continuou a ser reforçado. Dos eventos anteriores que levaram ao confronto de Naulila iniciou-se a 18 de Outubro de 1914, quando um pelotão comandado pelo alferes Manuel Álvares Sereno, em patrulha junto à fronteira com a Damaralândia, um território integrado no Sudoeste Africano Alemão, encontrou a uma dúzia de quilómetros do posto de Naulila uma pequena força alemã, capitaneada pelo Dr. Hans Schultze-Jena, juiz e administrador do distrito de Outjo, que tinha entrado em Angola sem prévio aviso às autoridades portuguesas.
De incidente em incidente, a indignação na colónia era enorme e os apelos à vingança sucederam-se. E, deu-se assim o ataque a Cuangar a 31 de Outubro de 1914. A primeira retaliação alemã surgiu logo a 31 de Outubro, quando uma força alemão, sob o comando do comissário de polícia Oswald Ostermann, do posto de polícia de Nkurenkuru, atacou Forte de Cuangar, um posto fronteiriço a leste de Naulila, destruindo o forte e matando, com recurso a metralhadoras, todo o pessoal que ali se encontrava e que não conseguiu fugir para o mato. Este incidente, que ficou conhecido como o "Massacre de Cuangar", marca o desencadear das hostilidades entre as forças portuguesas e alemãs ao longo da fronteira com a Damaralãndia, actual Ovambolândia e, tendo o forte de Namutoni como um lugar bivaque de base à retaguarda… Lugar que, por isso, requer um avivar da história Lusa-Tuga…
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3465 – 15.08.2023
- Boligrafando estórias em Okaukuejo do Etosha
–Ondundozonanandana - Foi no ano de 1999
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Ver África nesta sustentabilidade de Reserva Natural como o Etosha Park, requer não perder o bom senso e, sair do carro para acariciar um leão; já muitos ficaram por lá, descuidadamente esqueceram-se que fazem parte da cadeia alimentar e podem até servir-lhe de pasto. “Dizem os leões” que a carne do humano é doce e uma vez degustada, volta a quere-la; é por isso que, leões que comam gente terão de ser abatidos porque algures, voltarão a atacar…
A noite, aqui no Okaukuejo do Etoscha desce rápido; no lusco-fusco das 18 horas os portões encerram e só em caso de força maior se autoriza a saída pela noite. O buraco de observação de animais ficava relativamente perto, e bem pouco tempo depois, deram indicação de que uma manada de elefantes sequiosos estava a chegar; todos os restantes animais e até dois rinocerontes deram espaço ao verdadeiro rei do Etoscha.
O quadrado do “Camp” é todo cercado e tem um único portão por onde se sai e entra. Foi bom termos ficado nas duas tendas porque nessa noite os leões, provavelmente os mesmos que estiveram a beber no buraco, através das lonas da tenda podemos ouvir os rugidos misturados com choros de hienas, tudo isto se estava a passar não muito longe de nós e do arame farpado, o que perturbou na forma de medo as mulheres da nossa tribo, Isabel e Ibib.
Aquele barulho de mato zunindo o silêncio estrelado em escuro céu, não permitiu que as donas, dormissem tranquilas que, só falavam em víboras, escorpiões, aranhas, cobras de todo o formato, grandeza e perigosidade, centopeias e nos chacais comendo moscardos, borboletas e bichezas rastejantes de milhentas patas, junto às luminárias do camp.
Foi um alívio passar a seguinte noite num chalé moderno envolto em espinheiras de grande porte. Estes chalés têm boas acomodações; Têem cozinha apetrechada com pratos, panelas e frigideiras e todos os demais requisitos como travessas. Há normalmente uma mesa para o preparo de ligeiras refeições com cafeteira eléctrica, pacotes de açúcar, chá e café solúvel com os demais acessórios para o preparo de café normal.
Existe em um lugar central do Park um pequeno mercado que tem viveras para as necessidades básicas; fruta, legumes, massas, conservas e molhos de lenha ou carvão para quem quiser fazer churrasco de “Brai”. Há gelo à venda, cervejas e carne seca “biltong” de boi ou antílopes como o kudu e outros antílopes que, creio serem provenientes do abate local, assim feito como controle no número de machos e do tamanho nas manadas.
Logo ao romper do dia, após as seis horas e já matabichados, constatamos que aqueles dois leões que rugiram toda a noite, tinham morto uma jovem girafa e de recente, ainda por ali estavam deitados guardando a presa enquanto hienas e chacais circulavam nervosos ao seu redor. Foi este ruido que ouvimos toda a noite, não muito longe da cercadura do recinto aonde estávamos.
Nunca tinha visto tanta espinheira junta como aqui nas vastas áreas planas da Namíbia, terra das acácias um semideserto a que chamam de grande Calahári Aquela, não seria a única noite passada quase ao relento com chacais ensombrando tremuras de ventos medrosas entre candeeiros e farejadas sobrevivências. Despedimo-nos do Camp pelas seis horas da manhã com a abertura do único portão “main camp”, fazendo já conjecturas para a próxima paragem em Otjikoto lake e Waterberg Plateau National Park
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3464 – 13.08.2023
- Boligrafando estórias em Okaukuejo do Etosha
–Ondundozonanandana - Foi no ano de 1999
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
Assim foi: Pai António T´Chingange (condutor), mãe Ibib, dois filhos “angolanos” e Isabel a mãe de Lara, a caçula que ontem fez 22 anos (estamos em 2023 - o tempo ruge…). De Sul para Norte depois do Orange River, descansando no “Ai-Ais” e subindo o Canyon do “Fiche River” procurou-se pinturas rupestres, pegadas de dinossauro e vestígios de meteoritos.
No meio de triliões de anos petrificados, “rosnávamos em muxoxos” ininteligíveis admirações brilhando argumentos tirados à pressão duma nuvem feita visão. Há noite, entre zunidos e guinchos vindos da negra escuridão em assalto nocturno, olhávamos as fagulhas saltando da fogueira explodindo térmitas; improvisando jantar, assamos carne de “Orix” e “Biltong” que gulosamente deglutimos com rega de cerveja “Ansen”, “Whindooek Laager” e chá “Rooibos”.
No majestoso deserto do “Karoo”, um fragmento do Calahári. Já tinhamos passado por isto, mas num pois, e foi assim, e assado sempre recordávamos Upington, Augrabies e Moon Roc no Orange River: E aquilo! E, foi! Aconteceu! Assim repetíamos uma e outra vez o já muito descrito. E, dito e feito - fomos a caminho de Etoscha de Ondundozonanandana e Oshakati passando pelos buracos de Otjikoto lake bem ao lado da Estrada Nacional B.1 e, perto de Tsumeb – Por aqui andávamos…
A vida em África desperta com o nascer do sol e, é nas primeiras horas matinais que deveremos buscar os vários antílopes e os “big five” tais como o gnu, girafa, elefante, rinoceronte, zebra, kudu (olongue), impala, macacos, hiena e até mabecos. Com sorte, assistiremos ao banho de terra dos elefantes que junto aos buracos (bebedouros) quase fazem um teatro de coreografia divina, cores de pó em múltiplas facetas e contrastes com o sol do poente com os cheiros fortes que deles tresandam.
Já dentro do Etoscha, no Buraco Okaukuejo - só gente do staff pode sair da área do arame farpado depois do cair da noite. Não havia chalés disponíveis para aquela noite e o recurso foi montar as duas tendas que levávamos na mala do “four bay four”, no espaço disponível entre a cercadura da reserva e os balneários do campismo e caravanismo. O buraco de observação de animais ficava relativamente perto.
Pouco tempo depois deram indicação de que uma manada de elefantes sequiosos estava a chegar; todos os restantes animais e até dois rinocerontes deram espaço ao verdadeiro rei do Etoscha; cansado que estava da viagem não demorei muito a adormecer feito um cepo e fiquei muito indignado de não me terem acordado quando apareceram os leões a beber lá pelas dez horas da noite. O “Okaukuejo Camp“ em forma de quadrado deve ter uns 800 metros de lado, um agrupamento de chalés para turistas, uma zona de residências com telhados em capim para funcionários, e bem ao centro uma torre de onde se divisa o horizonte, ora mata, ora chana aberta em forma de clareiras.
Das várias vezes que por ali passei vi sempre os místicos leões, quase sempre em grupos de três ou quatro em lugares de vegetação rasteira. Em África, o sol põe-se depressa e de forma abrupta pelo que, convêm não se arriscar andar muito afastado do acampamento nas horas de quase fecho de portão escolhido para pernoitar, Okaukuejo, Halali ou Namotoni. Tenho ainda na retina, a planura de Okaukuejo, bem perto do acampamento base “main camp”, a agilidade de uma cheeta na perseguição de uma springbok…
Gazela que de rabo a abanar e orelhas atentas a qualquer ruído pastava; bem atrás, sorrateira, uma cheeta, pata ante pata, avançava com todos os cuidados de visão e barulho normalmente contra o vento; num dado momento e já muito perto da presa lança-se em correria; em simultâneo a gazela pula e pula em saltos coordenados ziguezagueando a linear corrida do felino. Desta fez a correria deu em nada pois o antílope soube sobreviver. Ali, a quebra de vigilância significa uma morte rápida.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3463 – 12.08.2023
- Boligrafando estórias em Okaukuejo do Etosha – Ondundozonanandana - Foi no ano de 1999
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto – (Dia da Lara)
Passeando na paisagem dos silêncios em sonho do “Naukluft”, sigo, seguimos todos e, até perseguimos as ilusões. Fora dali, nem tudo é justo e nem tudo é falso mas o que em mim perdura além das rugas, é o deserto, juro mesmo! Numa sociedade em que já ninguém tem tempo a perder, no deserto, foi e, é ali que eu me preencho longe dos atropelos, mensagens, redes Net e Facebook e o escambau, onde e aonde se oferecem amigos a granel; paletes, como dizem esses 10 mil amigos que nunca vi, só alguns pucos e, os que vi: esvoaçam ou esvoaçaram-se…
No Etosha, lugar de feitiço completo, pelas vinte e três horas apareceram os leões na poça de Okaukuejo; saí ensonado da tenda para de novo assistir ao majestoso mundo natural duma verdadeira África. O Etosha Pan, é um lago seco de 120 quilómetros formando o chamado Parque Nacional Etosha, um dos maiores parques da vida selvagem da Namíbia.
A vasta área é principalmente seca, mas após uma chuva forte, ela adquirirá uma fina camada de água parecendo uma miragem, que é fortemente salgada pelos depósitos minerais na superfície. O Etosha Pan é principalmente lama de barro seco dividida em formas hexagonais que à medida que seca, racha, e raramente é vista com essa fina camada de água cobrindo-a.
Foi aqui, no Etoscha, que vi a maior diversidade de animais – um lago seco que quando chove cria uma ténue camada de água que se esvai rápidamente deixando a referida superfície como uma grande panela salgada. No entanto, os rios na forma de mulolas, Ekuma, Oshigambo e o Omurambo Ovambo, são as únicas fontes sazonais de água para o lago. De tempo a tempos, sucede sim, chover chuva molhada na forma de milagre. No ar, fica um cheiro diferente de todos os outros, como pestanas torriscadas em cinza quente …
Timidamente, a natureza forma pequenas águas em charcos dos rios mulolas com sedimentos atingindo o lago seco que penetra no leito do mesmo ou se espraia em véu como já dito… As vastas zonas de poucos declives formam as chamadas planícies africanas, chanas ou anharas de clima extremamente seco. E, o curioso é de que a esta mesma latitude e para o lado poente temos os desertos junto à costa do Sul de Angola e Norte da Namíbia que são banhadas pela tão mencionada corrente fria de Benguela.
No Oshakati, paredes de pau-a-pique quase nas margens do Cunene agreste coabitamos com uma raça em extinção chamada himba. Naquele outro um dia, vesti-me de lama numa gordurosa cor ocre e dei um rápido mergulho no popa falls do fim do mundo, Ruacaná. Do outro lado, estavam as terras dos Kwanhamas mas, por ali fui ficando com os Ovambos lambendo feridas com “castle lager” (cerveja local).
Sentado num cepo de madeira petrificado, senti-me o senhor com a maior dor d´alma do mundo. Foi o preciso lugar e momento de começar a esquecer e ser esquecido. Pasmado assim no tempo, só continuo mais-velho. Naqueles dias de correria louca num quatro por quatro ou em um Toyota 1600, éramos donos do que víamos; tudo era nosso na vastidão. Da doce vista das pedras eternas entrecortadas com tufos de capim sobrevivente do nada, havia em nós um misto de atracção e raiva carregada de adrenalina.
O medo protector balançava alegria escondida, também curiosa tranquilidade impregnada de um silêncio pacificador; a coisa nunca sentida fora deste mundo, empolgava-nos a existência num esmagador pórtico num além sem fronteiras, de para além-de-tudo ou as terras do Fim-do-Mundo. Éramos uma mini-tribo procurando experiências de vida num ermo só nosso. Éramos cinco despeitados “Tugas mazombos de N´Gola” da diáspora. Todos sequiosos, desbravando o nada como se, se nos procurássemos ali, naquele agora…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO ”ETOSHA PAN”
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3462 – 11.08.2023
- Boligrafando estórias em Okaukuejo do Etosha - Em Ondundozonanandana - Foi no ano de 1999
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
Da tenda para o buraco de observação e, um céu carregado de estrelas que nos tremelicavam olhares, de entusiasmo, nem nos apercebemos. Era a tranquilidade da natureza envolta em muitas coisas a serem descobertas. Nos dias que se seguiram, percorremos as picadas assinaladas e, de forma a ver o maior número de animais, que íamos registando num prospecto.
O leão era sempre o mais procurado e, quando alguém os descobria assinalavam-nos aos demais colocando também um pionés (percevejo) no quadro-mapa (placard) da base Okaukuejo. Esta base era em verdade um buraco com água rodeado de disfarçadas bancadas aonde o visitante turista observava em segurança os animais da savana que ali iam beber.
É em verdade um conjunto de chalés e locais de campismo aonde os visitantes podem andar em segurança pois que está rodeado de duas fiadas de arame farpado e rede com corrente continua para os Big Five (Os quatro grandes animais) e qualquer um outro, que possa atacar o animal homem; É como se o fosse um galinheiro grande no meio de um deserto savana só que, neste caso eram os observadores (nós) que se mantinham encerrados entre as seis da tarde e as seis da manhã.
A adrenalina escorregava-nos a partir dos olhos, atentos a qualquer movimento ou montículo estranho no meio do capim. E, demos as voltas de Namotoni e Alali parando em um e outro para descansarmos, relaxando à sombra fresca das acácias, tomarmos um café ou comer-se qualquer coisa rápida porque, não havia tempo a perder.
Esta reserva do “ETOSHA PAN” foi há muitos anos atrás um lago abastecido pelas águas do rio Cunene que aqui as vazavam, trazidas do planalto central da Angola - à semelhança das águas do rio Cubango (Okavango) que desaguam no Delta do Botswana, um lago interior que também iremos visitar por terra e por ar. Por um acidente cósmico, o rio Cunene foi desviado do seu curso para o Oceano Atlântico.
Este antigo lago do Etoscha é agora uma das grandes reservas aonde se podem ver um grande número de espécimes, suplantando a meu ver, a Reserva do “kruguer Park” na África do Sul. Este é o melhor destino para quem quiser ver animais em quantidade e em curto espaço de tempo. É claro que temos o Quénia, N’Goro-Goro, Delta do Okavango, e muitas outras mais pequenas reservas mas, como o Etoscha não há igual.
Tínhamos ainda um longo percurso a percorrer em terras da Namíbia e, o nosso próximo destino era a casa do Mais Velho Miranda Khoisan e da Dona Elisabette (falecida recentemente – em 2023) na margem direita do Okavango no lugar do Shitemo. Sucede que a caminho do Rundu a maioria da tribo T´Chingas que era agora composta de Ricar Manhanga, Isabel Manhanga, Ibib - sobeta, Marco M´fumo Manhanga, todos decidiram variar o azimute ao rumo. Por vontade aplaudida do Soba, todos quiseram ir até às Quedas do Ruacaná em terras de gente Himba…
Com medo de estragarmos as recordações dum mar de areia fina já passado, movemos todos finas camadas de nostalgia ainda recente, adormecidas na memória fresca, de forma aleatória. Da muita coisa dum cada olhar de duna ondeando a nossa própria sombra como rugas conformadas com o tempo que não pára nunca. Ouvimos também, às vezes, estalidos numa estranha argola, as estrelas do nosso templo (nossa testa) e, a areia escorregando na ampulheta das nossas vidas…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA (HOODIA)
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3459 – 07.08.2023
- Boligrafando estórias em Swakopmund - Em direcção a Ondundozonanandana mais a Norte… Foi no ano de 1999
PorT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
Sei que tudo em minha vida resulta de guardar sempre comigo a esperança monandengue, de espiá-la com olhinhos de a ver balouçada no arco de minha sobrancelha. Hoje mesmo, primeira metade de Agosto de 2023, envolto nas visões da Jornada da Juventude Cristã, tive de as cortar, as sobrancelhas – sobressaiam para além e por cima dos óculos cor de tartaruga, cor de pobre, a lembrar o Lenine ou Álvaro Cunhal.
Gente de sabedoria que torceu as ideias dos outros sem antever que cada qual tem o seu próprio faro, sua forma de lançar caganitas como as cabras, kiákiákiá (minha forma de rir com soluços…). Ouvi o Papa nesses sete dias anteriores e até que gostei das alvissaras junto ao Tejo e Trancão com a ponte Vasco da Gama surgindo na majestade do acontecimento.
Nesta frescura Atlântica via rio, recordo a outra, uma corrente fria chamada de Benguela, que sempre esteve presente em minhas viagens pela áfrica subsariana. Nesse então, a corrente fria, já se fazia sentir há quase quinhentos e cinquenta anos atrás quando por aqui passaram os navegadores portugueses a caminho da Índia das especiarias (isto já foi dito). Ibib já dormia há quatro horas; eram horas de aproveitar ver arredores.
Iremos lanchar no Spur de Swakopmund, ver também o quanto já cresceu esta terra dum nada e como dizem os muitos cartazes, a visita não ficará completa sem uma visita ao famoso Café Anton com seu “coffe and cake” e seus clássicos e deliciosos como Schwartzwalder Kirsahtorte , Florentier e Apfelstrudel, a condizer com estes nomes nada usuais nas nossas dietas feitas com salsaparrilha e beldroegas
Com a gimboa na cabeça em pensamento da moamba de chuço ou capota do rust camp iremos a seguir e nas calmas ver nas calmas Walvis Bay, ver a waterfront e regressar pela tarde depois de vermos os voos em asa delta feito em pano de pára-quedas mais os elegantes flamingos nas lagoas que se situam entre Welvis Bay e o aeroporto da cidade.
Podemos assim ver de novo a área da lagoa, com um elevado número de flamingos que ali se juntam alimentando-se de crustáceos que ali se desenvolvem em natural maternidade. Às vários espécimes residentes que ali se abrigam, junta-se um elevado número de aves migrantes do intra-africano e Palearctic, uma das eco regiões constituídas na superfície terrestre a juntar às oito conhecidas da Europa.
Também da Ásia do Norte no sopé dos Himalaia, Norte da África e partes do norte e centro do Península Arábica que estes frequentam em suas respectivas águas tranquilas. De novo, posso aqui fazer-me todas as perguntas sem obter todas as respostas pela simples razão de que, nada pode acontecer sem que o tivesse querido Deus, correndo o risco de escutar outras opiniões que não estas e, na qual nenhuma autoridade tenho para lhes chamar de blasfémias.
Convem de novo recordar que o Kalahari, apesar de ser popularmente conhecido como um deserto, tem uma variedade de ambientes, alguns localizados em áreas verdejantes e tecnicamente não desérticas. Um deles, conhecido como o Succulent Karoo, é o lar de mais de 5 mil espécies de plantas, quase metade delas endémicas; aproximadamente 10% das suculentas de todo o mundo; elas, são encontradas aqui, no Karoo. Li algures que a razão por trás dessa alta produtividade e endemismo pode ser a natureza relativamente estável das chuvas.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
VIAGENS . 51
NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA (HOODIA)
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3461 – 09.08.2023
- Boligrafando estórias em Swakopmund e Cape Cross - Em direcção a Ondundozonanandana mais a Norte… Foi no ano de 1999
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
E, foi aqui neste fim de mundo paradisíaco de Swakopmund, mais exactamente no Café Anton da cidade de Swakopmund, que vim encontrar-me com o amigo ET – Eduardo Torres que para aqui veio trabalhar depois da saída de Angola no ano de 1975; ele, um Angolano de terceira geração que muito desenhou na obra do Cristo Rei do Lubango. Era importante que o encontro fosse aqui neste café, tantas vezes ponto de partida para expedições desbravadoras desta terra do nada em língua Ovambo.
O espaço do Café é muito agradável e bem decorado, acolhedor e com uma equipa de excelência. Nosso encontro era mesmo para tomarmos o café com acompanhamento de bolinhos e biscoitos que são ali uma iguaria diferente. É um ponto quase obrigatório para quem visita Swakopmund, para quem tem a intenção de chegar a algum lugar pois que, desde tempos idos, aqui se juntam as comitivas de desbravamento dum continente mal conhecido.
O poeta ET foi prestável em suas indicações e tirei até apontamentos para o que desse, e viesse, locais, nomes, telefones e pontos de interesse. Acho sim Eduardo Torres, um santo de pau carunchoso, com salalé, muito bondoso, amigo do amigo e poeta que exprime toda a sua majestade; calmo no falar, no comer, no caminhar, parecendo até ser tudo premeditadamente calculado para não dizer o que pensa, mas não diz – simplesmente quis esquecer partes de seu passado; também de sua casa que ficou para um general governamental…
Com ele atravesso em pensamento estes desertos que se estendem muito para lá do horizonte e, aonde parece nada acontecer. Afinal, escreve, escreve figas onduladamente poéticas como todos os poetas, rimando “bonitos nadas” – um nadista retintamente genuíno. Ele, é o top do Nadismo… Lendo-o sempre fica a sensação de que nem o pai morre, nem a gente almoça.
Mas ET, é de uma leitura supimpa em que quase sempre o amor rima com tambor. Ele e eu, do nosso jeito, amamos aquela excentricidade de Swakop. Ambos gostamos do café e, vai daí um chau-chau que se faz tarde - Mas ainda houve tempo para se ficar a saber, depois de tantos anos que ele nunca se deu conta de que os negros eram pretos; de que seus progenitores já o eram também e, nem se deu conta que estes sempre têm demasiada família, demasiados filhos, tios, tias, irmãs e avós. E, que se ele fosse preto, não sairia de sua casa, de sua terra, de sua pátria! Nem o Cristo Rei do Lubango a quem tanto se dedicou, lhe valeu (isto, sou eu a dizer)
Por bondade intrínseca nunca referiu que estes, os pretos faltavam ao trabalho todas as segundas feiras porque sempre havia o óbito duma avó, dum primo ou tio; uma família que nunca acabava. Esta é uma mokanda especial referente à terra do NADA cuja capital fica em Swakopmund, lugar aonde o coração do EDU, se prendeu nas ondulações das miragens do Naukluft.
Lembrei-me então de contar a ET a estória daquele velho senhor em Luanda: Um senhor fardado com um pijama às riscas, sentado num sofá de orelhas olhando para o infinito, babando-se pelo canto esquerdo descaído, insensível ao cérebro abanado por uma trombose. Com a lentidão das coisas graves e titubeadas com muxoxos – Hum, pois, não sabe; a kalashnikov, os turras, a febre do poder… E, eram bolas de trapos, meias surripiadas do pai a cheirar a sulfato de peúga! Mas, o que é que tem a ver o cú com as calças? Estão a ver o filme!?
E, tu ET, indiferente ao caruncho, que escreves poemas como quem cospe flocos de aveia a um periquito que já deu às de vila diogo, que deu o fora da gaiola. Uma coisa desconcertante sobre tuas vividas vivências. Gosto de ti assim bonitinho que nem um Santo Eduardo, assim saltitante no Naukluft por via de refrescar as glândulas lacrimais, pérolas de maldizer que são o fruto da muita encardida amizade, feitas para reactivar as antigas feituras de escarnio e maldizer à tua tão engenhoso maneira de suprires ou suprimires o tempo das verdades…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA (HOODIA)
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3460 – 08.08.2023
- Boligrafando estórias em Swakopmund e Cape Cross - Em direcção a Ondundozonanandana mais a Norte… Foi no ano de 1999
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
Viver assim num perfeito NADISMO titubeando versos amarelados ou mesmo cobertos de pó, envolto assim num mukifo de aposentos forrados com ele e, como se o fossem azulejos enquadrados na estória duma estação de caminho-de-ferro do M´Puto desactivada – Um NADA numa estação aonde já não passam comboios, faz muitos anos. Nestas viagens pensa-se e fala-se em coisas longínquas como que para preencher o espaço-tempo.
Naquela estrada de terra batida com sal, dura, do nada, verificamos haver muitas gaivotas voando; elas subiam e desciam bruscamente até esta estrada dura de sal escurecido. Achamos que havia qualquer coisa de diferente em essas manobras de voo e, observando mais atentamente podemos ver a elas, as gaivotas, deixarem cair qualquer coisa de seus bicos e, em seguida em voo picado descerem também acompanhando o pedaço de coisa.
Em realidade havia manchas no piso com umas cascas destroçadas. Vai daí paramos para ver o que era aquilo e eis que deparamos com dezenas de manchas húmidas que afinal, eram caracóis do mar com uma ou outra ostra. Aí estava nossa incógnita, um mistério. Eram gaivotas lançando bem do alto aqueles pequenos animais para assim se desfazerem no choque em contacto com o piso da estrada C34, quase na milha 72 do Dorob National park. Mistério bem interessante.
Assinalamos o rumo de sua procedência e metemos por uma picada de piso seguro até chegar ao mar. Deparamos logo com muitas algas lançadas ao mar com a maré e, tendo nelas esses caracóis com mais de cinco centímetros. Iam e vinham com a ondulação. Aquilo era um pitéu grátis e, assim foi: apanhamos o quanto podemos desses burriés gigantes para mais tarde cozinharmos no Dolfim Park.
Andávamos a medo pois que vimos bastantes marcas de bichos que o deveriam ser de chacais mas, a imaginação galgava para outras bestas como a hiena e o leopardo. Até confrontamos as pegadas com um livro que levávamos mas, nada o foi em definitiva certeza. Claro que ficamos vigilantes perante aquela vastidão e aonde as miragens era permanentes, cansando literalmente os olhos pois que até víamos nas dunas em terra, lagos de água bem azulinha; coisa nunca vista – muitas miragens…
E, afinal aonde nos encontrávamos. Bem! Estávamos já além da milha 72, perto de Cape Cross. Chegos ali, espanto - podemos ver milhares de focas, umas com crias outras cuidando delas lançando uivos guturais em tons variados. Guinchando suas forças. Uns chacais que espreitavam o descuido das mães focas para atacarem suas crias – algumas de nascimento recente. Vimos este acontecimento na mais tranquila função e, a mãe, correndo desajeitadamente para a tentar salvar, não o conseguiu…
O mais destacável, depois das miragens, depois dos medos, era o cheiro forte que já se sentia a um quilómetro deste promontório. Promontório muito farto de pedras roliças, grandes – penedos! Penedos em que, os corpos destes animais se confundiam com elas, as rochas escurecidas. O cheio era um misto de peixe apodrecido com gordura de sebo exalado de seus corpos.
É essa gordura que as protege do frio e lhe dão melhor agilidade para deslizar na água, fugir a tubarões e baleias que por aqui, as visitam com regularidade. Passados tantos anos, ainda posso sentir aquele cheiro. Mais à frente e já na via D 2301, podemos ver os esqueletos de barcos e peixes de grande porte – Talvez baleias. Entre o macabro e o belo, a Costa dos Esqueletos é o nome também conhecido como "As Portas do Inferno", repleta de ossos de baleias e até gente pirata que deram à costa…
– Lugar assombroso…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA (HOODIA)
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3458 – 06.08.2023
- Boligrafando estórias entre Welvis Bay e Swakopmund - Em direcção a Ondundozonanandana mais a Norte… Foi no ano de 1999
Por:T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
O vento sopra forte do lado de Dorop National Park trazendo areias por quilómetros e eu, galgava-os com receio de haver ali um furo de pneu, o carro teimava em desviar-se para a esquerda mas, em realidade era a força do vento quente que me forçava a preocupação – As nossas palavras são como sombras que nunca podem explicar por inteiro a luz de medos ou ansiedades que sempre transportamos connosco.
Nunca isentos de culpas e formulando nossos destinos, assim o deixávamos derramado, nosso ADN, na mistura do vento, do pó e quenturas com adrenalina; culpados de muitos nenhures ou pequenas coisas, assim formando grandes castelos. E, íamos sim, soprado vida na terra do nada na direcção de Walvis Bay, o principal balneário da Namíbia e um dos mais bem preservados exemplos da arquitectura colonial alemã no mundo.
Walvis Bay, foi fundada em 1892 como sendo o principal porto do Sudoeste Africano Alemão; um dos poucos lugares da África onde uma minoria considerável da população fala alemão e tem raízes germânicas. Fica no trajecto da Rodovia B2 e da Rede Ferroviária Transnamibiana, que vai Windhoek e a Walvis Bay. Tem seu próprio aeroporto e prédios notáveis, bonitos, um espanto no meio duma vastidão de areia.
Neste descobrir de novas coisas ficamos num aprazível mas modesto conjunto de bungalows situado junto ao mar e margem dum rio de areia, mulola de nome Swakop, o que deu origem a este nome à cidade tipicamente alemã aonde morou o ET, um amigo extraterrestre de nome Eduardo Torres. E, assim atirando palavras desprendidas, recordamos terras com vazios aonde a verdade e a mentira passam pela mesma boca como rastos de picada que viram lendas.
Aqui e ali no meio da secura do Karoo íamos pendurando como tufos de teias nas espinheiras do tempo nossos medos e angústias e coisas do mundo sem saber se tudo era o que parecia ser. Diz-se de que, quem quer falar de assuntos sigilosos vai para o deserto mas, nós, não arriscávamos limpar o lacre dos actos e pensamentos porque já tinhamos o coração endurecido na vulgaridade vivida.
Um pouco antes de chegar a Welvis Bay deparamos com lagoas repletas de flamingos – o Bird Sanctuary na estrada M36. O Naukluft e Sossusvlei com suas dunas mágicas foram ficando distantes, mais a Sul. Uma volta rápida a Welvis Bay, umas compras indispensáveis para curtirmos sobrevivência na noite que se aproximava e já a caminho de Swakopmund, assentamos arraial no Dolfim Park – um conjunto de chalés, bem confortáveis.
Da varanda deste chalé podíamos admirar a imensidão do Oceano Atlântico vindo saudar-nos com bátegas chapadas nas rochas – um recife que se estendia ao longo da costa, um cheio intenso a mar – um lugar bem aprazível aonde ficamos duas noites.
Esta frescura do Atlântico é devido à corrente fria de Benguela que já se fazia sentir há quase quinhentos e cinquenta anos atrás quando por aqui passaram os navegadores portugueses a caminho da Índia das especiarias. Por ordem do rei D. João II, Diogo Cão passou por aqui deixando padrões como o de Cape Cross, construído lá pelo ano de 1482 e, que fica a uns escassos 130 quilómetros mais a norte de onde agora nos encontramos…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA (HOODIA)
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3457 – 05.08.2023
- Boligrafando estórias em Sossusvlei - Em direcção a Ondundozonanandana mais a Norte… Foi no ano de 1999
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
Naquele momento, aquilo era o céu. Envoltos em azul vivo, escorregávamo-nos no vermelho longínquo tremelicando a cércea no horizonte das terras altas, o amarelo ouro das dunas e o preto das sombras, cada um de nós se sentia "um senhor do mundo". Sossusvlei ficou para sempre gravado na nossa memória.
Para trás (dias antes), ficava aquele pedaço de coisa caído do céu, uma bola de fogo rija como o titânio; um tal de Meteorit caído no meio do nada, como que uma pequena recepção feito bolo num imenso Calahári e aquele funil vulcão chamado de Brukkaros com cactos feitos árvores em paisagem lunar…
Na Namíbia a distância não se mede em quilómetros, mas em tempo e, percorrer todas aquelas distâncias é como completar uma missão impossível. Após pagarmos uns poucos "randes" a um homem fardado, entramos no tal lugar no meio de uma descampada savana de tufos secos de capim, chinguiços com picos medonhos. Lá estava aquela coisa pegada ao chão com 60 toneladas, uma liga de fusão vinda do Universo, dum infinito lugar.
Meteorit era o nome indicado com a referência de Hoba West, não muito longe de Grootfontein (em África tudo fica perto, é ali mesmo patrão, mwadié). Por falta de rede tenho de recordar agora, aqueles dias atrás… Toquei aquele titânio rijo e frio, embasbacado sentei-me observando-o por algum tempo. Sentado na duna recordava os anteriores dias anoitecidos num universo de estrelas – ali a noite cai rápido.
na
Posso imaginar quantos fotógrafos desejariam estar ali no Sossusvlei sem ninguém à volta por dezenas de quilómetros, sem qualquer ruído e acompanhados apenas pelo último raio de sol, pelas primeiras estrelas no céu imaculado da Namíbia e, o brinde no topo deste cenário, numa noite de lua cheia…
Entretanto a rede via telefone chegou; o telelé dava sinais de vida. Fui assim ao computador ocupar o tempo, li poemas, reli baladas e muitas tretas de fazer caretas; ouvi cantigas, li desaforos, coisas choradas, lamuriadas do M´Puto, cânticos gospel humedecidos, vídeos foleiros, alguns brejeiros e fui à China comer baratas, grilos e gafanhotos. E, eis que num dado momento o écran do maldito computer surge a perguntar-me se este senhor “sou eu”? Estou feito ao bife – de novo! Mas, aquele era sim, o respectivo e, a um sim tudo se normalizou…
De novo, juntei umas madeiras; preparei a carne e as argolas de borrabôs, aquele chouriço bóher, ali bem junto às lareiras que existem para esse efeito. Dispus a carne e as argolas de elevado teor de gordura e o cheiro despertou a fome no clã T´Chingange. Com tudo já torriscado no brai, passa-se para uma improvisada tampa a servir de bandeja e, cada qual se serve com uma papa de milho típica daqui - o milhipap…
No calor do tempo queimo cansaços, fracassos vazios, decepções e até solidões, com Windhoek Premium Lager (cerveja namibiana)! Obrigado a mim, a ti e a tu também (o ti é um, o tu é um outro)… Estou feito ao mataco de afundear em sofás e, lá tenho de o conservar com sal e vinagre na forma enrolada numa espiral contínua porque tudo quanto acontece, é na terra que sucede, num céu eterno e pacífico cumprindo-se na ordem natural aonde quer que estejamos…
(Continua...)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA (HOODIA)
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3456 – 04.08.2023
- Boligrafando estórias em Sossusvlei - Em direcção a Ondundozonanandana a Norte… Foi no ano de 1999
PorT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
As noites neste deserto de Naukluft – Sossusvlei, aliás, como em todos outros, ficam frescas assim que o sol desaparece no horizonte. Aqueles montes enormes de areia deixam em nós a sensação estranha do quanto somos pequenos. Tivemos de preencher uns papéis para recebermos autorização de entrar no parque dos diamantes. Não nos era permitido afastar-nos do trilho com outras recomendações a cumprir. Iriamos sair ainda de noite para chegarmos ao nascer do dia á Duna da Milha nº 45.
Recordar que NAMIBIA, em dialecto Ovambo significa terra do nada. Foi aqui que vi as melhores paisagens nas minhas viagens por África. Pois assim, saindo de Luderitz atravessei com o clã T´Chingange todo o Naukluft Park para chegar às grandes dunas do Sossusvlei, aonde me encontro. Bolas! Outra vez! Nesta viagem deve haver um anjo da guarda que me persegue mas, em qualquer momento falha sua visão e entro nos cadafalsos da penumbra do telefone e outros edecéteras.
Estou assim a pensar como irei restituir-me em outro António mudando o Lopes para Costa ou vice-versa – Pópilas... Lá terei de largar isto e fazer meu brai com o boerewors com carne de bovino e especiarias, sementes de coentro torradas, pimenta preta, noz-moscada e cravinho. Depois disto veio um vazio, estavam a estudar meu problema pois que mandaram o código de seis números para um telefone que nem era meu embora tivesse o mesmo nome. Creio que era um bafana muzungu destas lonjuras e eu, esperei dois dias soprando ventanias.
Acampamos em duas tendas e, em um espaço próprio no início da zona interdita; activamos uma fogueira comunitária e deliciamos o ouvido com os sons da noite. Saímos ainda noite em comboio de carros, jeeps 4*4 e, turismos como o nosso, um Toyota 1600. A claridade do lusco-fusco ia surgindo e, apanhamos o nascer do sol a meio da subida nessa duna da milha quarenta e cinco.
Em fila indiana gente de muitas latitudes, falando línguas diferentes estavam ali, tal como nós para saborear a natureza em toda a sua plenitude. O sol com o seu disco grande e amarelo ia subindo no horizonte do lado esquerdo; uns mundos de sombras movíveis rodeavam-nos como coisa galáctica; o amarelo e alaranjado das dunas contrastava com o preto carregado das sombras.
As figuras sinuosas das dunas a mudarem muito lentamente, a todo o instante por efeito do vento - algo nunca antes visto e em um palco de grande espaço, aonde também parecia nos movermos como numa ilusão sem infinito. Naquele dia casei com Sossusvlei; a fina cortina de areia desprendida pelo vento mais parecia uma seda ondulante de noiva roçando o meu rosto, os meus olhos, a minha boca.
Beijei a areia feita um véu, como se fora um deus menor e os sinos das cigarras disseminadas em esqueletos de árvores perpetuaram para sempre ao meu ouvido aquele som. Ali era um bom sítio para entregar a alma ao criador. Foi sem dúvida a mais bonita catedral que já visitei. Se por ventura viver 333 anos, quero lá voltar na segunda metade do meu percurso. Ali, o feitiço tem mais encanto, coisas que não se apagam da retina.
É esta, uma das imagens que afagamos nos dias de indulgência, nos dias de amarguras involuntárias, nos dias impregnados de incontidas revoltas. Valeu a pena subir aquele morro de areia ondulante – figuras sobre milhões de grãos de areia ora amarela ora amarelada ou avermelhada; levou talvez uma hora a chegar ao topo, dois pés para a frente deslizando um e meio para trás.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA (HOODIA)
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3455 – 03.08.2023
- Boligrafando estórias em Hardap Game Park. – Em direcção a Ondundozonanandana a Norte…
Foi no ano de 1999
PorT´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
A árvore quiver - O Aloidendron dichotomum popularmente conhecido como aloé-aljava ou simplesmente de quiver, é uma espécie de aloé arborescente da família Xanthorrhoeaceae. Está presente na natureza numa restrita área árida, que vai do noroeste da África do Sul até o centro-sul da Namíbia, revelando-se uma espécie muito resistente à seca e às variações climáticas, podendo acomodar-se em terrenos rochosos e secos e chegar à idade com mais de quatrocentos anos.
A quiver, pode atingir os nove metros de altura e seis de envergadura, crescendo num tronco único, produzindo folhas longas de vinte a trinta centímetros, carnudas e espinhosas nas bordas. Floresce no inverno, apresentando vistosas flores amarelas que podem ser ingeridas, tendo um gosto que se assemelha ao espargo. O tronco é revestido por uma película branca que ajuda a repelir os raios solares, formando pequenas escamas afiadas e cortantes.
Os pássaros tecelões aproveitam-se deste facto para nidificarem em seus ramos, ficando assim, ao abrigo de predadores. Quando não conduzo ou visito algo, esmiúço o viver da sociedade hodierna no tempo, para saber da verdadeira razão dos paradoxos entre um e outro tempo na mente das gentes, uns com fúteis caprichos duma vida cheia de multiplicidade bacoca e, muitos outros que só se limitam a ver os demais, criticando-os…
E, a vida que passa rápida fica muito preenchida de eventos efémeros em que gastam o que não tem em felicidade de cacaracá; Sim! Neste mato de capim tombado pelo vento, tiro daqui e dali umas fotos com uma Canon A1 já com saudades de avizinhar o futuro que cá por mim que rezo cristão, católico e apostólico, só fico no rascunho apócrifo na certeza da incerteza. Que sim, que não! Porque tudo fica difícil com as pessoas desigualando-se por mero capricho ou moda…
E, porque estou aqui por querer, averiguo o saber na deriva dos vocábulos bohere e wors, oriundos do africânder que significam respectivamente "agricultor" e "salsicha". Vi-me na foto do meu android e fiz-me gaifonas vendo as rugas enquadradas num diferente tempo, redondo e elástico, nem sempre alegre, nem sempre triste. Caramba, talvez aquele chá tenha posto umas três gotas de canábis (comprado na farmácia do M´puto) para encurtar pesadelos e restituir-me a lucides.
Enfim, tenho tido essa preocupação: de me equilibrar em meu esqueleto, mantendo-o ligado aos espirito. Entretanto e já no escuro da noite preparo um caldo verde para dar consolo ao apetite fora de portas, na varanda do chalé do Hardap Game Park, ouvindo os barulhos de fora, chiados dos macacos, os choros das hienas e muitos outros indefinidos gunchos intercalados que, creio serem de girafas.
Aqui, de noite todo o bicho canta para chamar a fêmea ou o macho, para saber a que distância por matemática ressonante ou, está dum qualquer abismo dando indicações a outros. Irei experimentar adicionar ao caldo verde o boerewors, aquela supra dita salsicha fresca tradicional bóher, em substituição do chouriço do M´Puto.
Ontem comi frango frito esfarelado com arroz integral e aquecido no forno e, para variar, gelado regado com amarula no final – o melhor licor do mundo. Comi biltong de kudu, de boi, ou olongo, e bebi suco de goiaba e massala de Moçambique – faltou-me o kimbombo de massambala, uma bolunga agradável que um moçambicano me ofertou no lugar de Benoni, (arredores de Johannesburg) há dias atrás
Percorro os dias assim, um caminho com gente chegando e partindo dizendo good morning só mesmo assim, sem muito mais dizer, sem muito mais saber; missangas de vida com malas atafulhadas de coisas: coisas que podem ser úteis tais como: o canivete Mike Giver, a lanterna no meio das cuecas para não quebrar, os cremes de amaciar a flôr-do-congo mais o pincel de amaciar as carunchosas unhas … E, assim lá no cú de Judas, eis que num dado momento o écran do maldito computer surge a pergunta de se; se este senhor “era eu”? Estou feito ao bife – de novo! Lá terei de dizer que não sou um robô e confirmar uns arabescos apócrifos. Amanhã vou tentar subir a duna da Milha 45, chau – mungweno!
(Continua...)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA (HOODIA)
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3454 – 02.08.2023
- Boligrafando estórias em Brukkaros e Hardap Game Park. – Em direcção a Ondundozonanandana mais a Norte… Foi no ano de 1999
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
Já que ficava em caminho fizemos um desvio para ver um vulcão extinto que o mapa indicava com o nome de Brukkaros. Devido à ausência de água potável e ao difícil acesso rodoviário, houve um certo receio em ir àquela montanha que se avistava de longe naquelas infindáveis rectas mas, aventurámo-nos; a viagem à Montanha do Vulcão Brukkaros também é difícil por ser demasiado pedregoso. Qualquer avaria, forçar-nos-ia a regressarmos a pé pois que ali não havia telefones e, os celulares ainda nem existiam; bola para a frente e, vamos ver no que dá.
A montanha é um grande vulcão extinto, um cone vulcânico com um diâmetro de cerca de 4 km2 tendo sido formado por uma explosão quando o magma ascendente encontrou as águas subterrâneas e as superaqueceu. É formado por uma pequena brecha castanha, acentuadamente avermelhada com leito indistinto e, composta por rochas fragmentadas que foram ejectadas daquela chaminé vulcânica de há cerca de 80 milhões de anos.
Eu, Ricar, Marco e Tilinha, tivemos de alcançar o topo do anel na forma de montanha, uns quinhentos metros verdadeiramente escalados até bufar todas as asneiras conhecidas mas, com dificuldade lá chegámos. A cavidade é drenada por um riacho que corre para o sul através da montanha circular até um vale estreito – quando chove. À sua cabeceira encontra-se uma cascata seca sobre a qual o ribeiro desce cerca de 45 metros.
Isto só imaginado pois só o é coisa real após a chuva, acredito que sim, sendo o leito do rio imediatamente abaixo da cascata a principal fonte de água (água que não vimos) mas, notou-se um brilho de humidade sim! E, porque avistamos macacos deduzimos que ali, haverá água; só que não descemos. Já chegava a loucura de subir até quase ao céu para vermos penedias pintadas a ferrugem e umas soltas árvores a que chamam de Quiver´s que crescem ao longo da base da cratera na forma circular tipo funil invetido.
Já refastelados nas instalações da barragem Dam Hardap Game fico atento á chaleira que fumega por cima do fogão eléctrico. O sol entra pela janela da kitchenette que liga à sala aonde estou sentado, melhor, afundado numa poltrona cuja tábua deve ter fundeado no acostamento de matacos de um quilómetro quadrado. Aqui há muita gente gorda e o melhor mesmo é nem repararmos porque, senão os contratempos surgem de soslaio vindos dum desconhecido lugar cheio de biltong, boerewors e coldrinks de coca-cola…
Os vapores do meu chá trazido do M´Puto serpenteiam até ao tecto de pinho em desenhos enrolados e fazendo uma cortina com raios digitalizados. Trata-se de uma velha cura legada pelo meu tio avó de nome Guerra, um composto de barbas de milho, pés de cereja, ipê-roxo, também conhecido como pau de arco e rooibos indígena. Curiosamente, a osga gorda instalada no canto do tecto lambuza-se de contentamento pois que é suposto os mosquitos aparecerem para se banharem no vapor quente, que ali se concentra.
Num espaço etéreo de virtual roxismo, o fumo enlaça visões de índios sioux, astecas ou apaches. O termo roxismo derivada de Roxo, o nome de uma senhora que pinta seus sonhos no computador metendo as pestanas em escandaloso verde e fazendo de óculos com adjacências estapafúrdicas, com madeixas de cabelo ruivos como se todos fossemos assim, vindos duma galáxia distante muito cheia de bolinhas translucidas e, numa forma espantada de arco-íris a condizer exataqualmente com a ideia de que efectivamente, somos uma ilusão.
Hoje mesmo, vou-me ensinando a ser gente tomando aqui e acolá, por onde calha, o saber dos mais sábios para ficar esperto. Nem sempre homem, nem sempre jovem, já mais velho, nos intervalos, aprendo a aprender a ser grande graças a esta aguda perspectiva de também ver e ler as coisas da frente para trás e tal como o camaleão, ter um olho aqui e outro mais longe para poder fazer selfies de mim mesmo (isto é só imaginação futura porque, a selfie surgiu anos depois…), bem ao jeito de Picasso. Lá fora as árvores têm formas de cactos pré-estóricos, aloe dichotoma (as tais Quiver´s)…
(Continua...)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – UM CACTO CHAMADO XHOBA (HOODIA)
- "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3453 – 01.08.2023
- Boligrafando estórias em Krabbehoft Guesthouse and Catering. Estávamos ainda em LUDERITZ … Foi no ano de 1999
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Amieiro do M´Puto
Necessitando de renovar minha paz por mais uns dias em país que não o meu, insurgia-me contra essa maçada de pagar expedientes ou emolumentos numa terra com padrões de meus ancestrais situados um pouco mais a Sul e no lugar de Elizabeth Bay. Foi quando vimos as duas hienas esgueirar-se na esquina salitrosa dum prédio roído pela maresia.
Chafurdavam em um conjunto de bidons fazendo de contentores com restos de comida, sobras do pasto de gentes, pasteis roídos de fartura com natas de engordar há mistura com salitrosos guardanapos empapados de óleo e espinhas de pescada. Neste encanto de desespero entre o mar e o deserto, rendilhamos nossos sonhos com muitas pedras roliças, daquelas que já andaram e desandaram milhares de vezes a recordar que somos uns nada comandados por mistérios…
Mesmo que rumine uma harmonia que me favoreça a dormir embalado pela mão de Deus, esta paz fica-me cara porque, aqui na terra, os homens pagam-se bem pelos expedientes. Regressando à teoria do pessimismo, terei de concordar que é certo o que se diz de que o que tiver que acontecer, acontece, e neste caso aproveitarei rever um oceano de quilómetros de acácias - longe do mar, desertos e bichos na firme vontade de não ser extorquido como um qualquer turista para ver pedras e ou atravessar uma curta ponte construída pelos colonos e ter de pagar pedágio, portagem ou sacanagem de coisas descolonizadas (roubadas).
Assim de como quem vai ao mercado das calamidades, feira da ladra para compra nossas coisas desviadas no furto, capiango da necessidade. Um escambau - Em áfrica, tudo é possível, tudo é da TIA - That Is África. Coabitando com este gozo de incertezas, preencho a inspiração sem doçura, um veludo negro cuspilhando-me num desconsolo na alma.
Mas, como “há males que vêem por bem” acoitei minha curiosidade em ver cavalos selvagens por esta grande área aonde as areias foram tomando conta das casas – cavalos que relincham em alemão porque foram eles que os deixaram por aqui; porque o eram em tempos, cavalgaduras deles, até que um dia em que os diamantes de sonho deixaram de aparecer a brilhar, Também a Guerra Grande que chegou até aqui destroçou vidas com brilhos cintilantes como as estrelas do céu que aqui, de noite, são aos triliões.
Sem me assustar com a calma tremeluzente que carrego, trotarei como aqueles cavalos a sobreviver alvoroços e daqui, segui, seguimos para Windhoek feito um naco grande de sabão p´ra macaco com almofadinhas de chita branca, carteira com dólares verdes numa forma de amaciar minha rigidez branca. Em terras de gente que, só parecem querer meu kumbú, irei rever meu Rundu, meus amigos fujões do outro lado chamado de Calai de Angola no Okavango.
Ver um rio de maravilha que desagua numa lagoa grande chamada de Delta. Outra corrida - Outra viagem! A vida é assim mesmo, como um carrossel. Recordar a estória do final do ano de 1975 de, quando um General de Pretória num dia intercalado das guerras independentistas, chega um indivíduo sem nome a Grootfontein; Este senhor levando um visto de trabalho em nome de João Miranda saído às pressas de Angola.
Do General que viu em João Miranda, o Tuga do Dírico, com o perfil certo para ser integrado no Batalhão Búfalo por falar a língua dos estalidos, bosquímanos, os Khoisans. Da companhia Búfalo que estava a ser organizada para intervir em Angola contrariando as investidas comunistas. Foi lá no Hotel Safari que me instalei em diferentes fases da independência de Angola. Lugar por onde irei passar de novo, rever o amigo Pimenta se ainda for vivo, enfim, lugar aonde pela primeira vez comi ostras no gelo e gelado dom pedro com Marula…
(Continua...)
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