NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3495 – 30.09.2023
– Em Mukwé, Andara e Shitemo às margem do Cubango - “Missão Xirikwata”
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Pedro Rosa Mendes, repórter galardoado do "Público", partiu em Junho de 1997, com uma bolsa de criação literária do Centro Nacional de Cultura, mochila às costas, máquina fotográfica e gravador, atravessando o continente Africano de costa a costa, à semelhança de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, por picadas, rios e caminhos de areia, lugares por onde andei por várias vezes e em distintas datas.
Mendes, regressaria três meses e meio depois desta viagem, carregado de histórias bastantes diferentes das que aqueles exploradores certamente encontraram. Histórias de ódio e de horror, de crueldade, num continente onde nesse ntão decorria uma guerra sem fim à vista, aniquilando muita gente. "Baía dos Tigres" é um relato dessas histórias, no suplemento Leituras, do "Público" de então.
Encontrou pela certa os mil estilhaços da história, autenticidade que por certo lhe exigiu tudo, tal como eu vivenciei nos países limitrofes como: olhos, ouvido, pele, coração, sangue, suor, lágrimas, coisas simples, primeiras e últimas, como nascer a caminho da incerteza e até mesmo a morte, decrevendo ambos a seu modo, o que somos apenas com palavras…
Viagens de T´Chingange de agora e "Baía dos Tigres" de Rosa Mendes, daqueles tempos, fizeram fricção, ficção, romance, crónica, ou poesia, em documentos densos ou infernais. Como acontece aos homens, o ser-se assim, vem do muito fundo no respirar do cacimbo - uma extraordinária viagem ao fim da vida dos homens.
Também a viagem ao inacreditável mundo habitado por homens com pernas de pau, com braços de turquês em ferro, sem dentes, sem orelhas, sem pele, ou mesmo sem rosto … Viagens sem horário, por vezes sem os comuns "vouchers" com pequeno almoço incluído e sem a bebida fresca tomada na esplanada à hora que se quer… Foi útil ter uma visão diferente do que se estava a passar no terreno, no entanto, pareceu-me tendencioso em seu livro no julgamento de Miranda comerciante, retratando-o como um brutamontes. Comparou-o a um Bóher “Mamburra” mal formado o que me pareceu ser um exagero de todo.
Tratamento tal e, só porque tinha pertencido à companhia Sul-Africana “Os Búfalos” o que, não era motivo étnico para tal, parecendo coisa encomendada com direito a carimbo de gazosa do falso governo de N´gola sob tutela do MPLA. Creio que, tudo tinha de ser ser descrito para preservar a onda esquerdoida que grassava no M´Puto e, subsidiada para tal, no quadro de interesses com desvios ideológicos na defesa das convulsões partidárias da corrida ao poder. Isto, aconteceu, acontece e irá acontecer num trato de Lua/lix (Luanda/Lisboa)…
Ainda no Shitemo e, no lugar de Andara um dia à tarde, observei a chegada de dois camiões TIR de grandes dimensões usados para transporte internacional de cargas repletos de sacos de farinha de mandioca – fuba, tendo sido depositados num amplo armazém bem na margem do rio, creio que num lugar chamado de Nyondo. No outro dia, um pouco antes do meio-dia fiz companhia a um sobrinho de Dona Elisabete que normalmente distribuia pão na região e, quando paramos no mesmo armazém, reparei que se tinham evaporado todos os mantimentos ali depostos no dia anterior.
Nada perguntei mas, logicamente deduzi que naquela noite tudo foi passado para a outra margem para o Calai, Jamba ou Mucusso em silenciosas canoas. Era por aqui que se passava o grosso dos mantimentos não obstante haver ao longo do rio Okavango postos militares de observação e guarda; O termo "só para Inglês ver" ajustava-se aqui, na perfeição. E, felizmente, o povo Ovambo sabia preservar a sua existência partilhando os dias menos bons. De cartão da Unita camuflado no forro dos calções, regozijei-me por observar esta vivência no silêncio das terras do Fim-do-Mundo.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3494 – 27.09.2023
– Em Mukwé, Andara e Shitemo às margem do Cubango - “Missão Xirikwata”
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Nunca fiquei a saber se os jornais locais deram noticia com foto do aperto de mão entre mim T´Chingange e San Nujoma, o presidente do Movimento de Libertação da Namibia que se tornou o Presidente do novo país, Namíbia. O encontro do Shitemo, mesmo à magem do rio Okavango ou Cubango, em principio, era um encontro entre o líder e militares da Ovobolândia, os guardadores responsáveis da segurança nesta natural fronteira.
Esta reunião neste rio fronteira, aconteceu também com os mais destacados comeciantes da região de entre o Rundu e Divundu dos quais Miranda, o personagem que sempre destaco em minhas falas empregnadas de cacimbada catinga, numa forma ou jeito nada erudita ou de destaque literário. Ao certo, nunca soube se a Swapo ou o Departamento de Segurança Interna da Namíbia estava vigiando os meus passos, um turista bazungo.
Sim! Um turista bazungo com passaporte de muzungo (branco) português disfarçado com colete de zuarte, um quico besuntado de raspas de biltong e restos, destroços de pão duro rask, muitos bolsos, um canivete macgyver e um crachá da UNITA – um galo em cerâmica dado a mim, por mérito creio, pelo meu herói de nome Alcides Sakala e, assim muito bem seguro com boas linhas, cosido no forro deste traje de caçador de elefantes.
Para o que desse, viesse ou conviesse assim levava escondido meu distintivo de convicta afeição e convicção mas, o certo é que não tive qualquer contratempo em minhas andanças, nas descritas verdade turísticas de bazungu, um verdadeiro matumbo a fingir de autoguerrilheiro de boligrafo, em pleno segredo numa odisseia passifica que só agora desvendo. Assim, compartilhando com a natureza, bichos e afins, só eu e José Pedro Cachiungo um dirigente do galo negro em funções em Lisboa, sabia chamar-se de “Xirikwata – o pássaro comedor de jndungo”…
Não obstante a postura dos governantes de Windohek mostrarem dureza no trato, as autoridades regionais faziam vista grossa às movimentações que o comércio local fazia com a UNITA, com a Angola do outro lado dos rios Okavango, e Quando. Em realidade de um e outro lado eram gente com o mesmo passado, falando os mesmos dialectos, uma região conhecida por Ovobolândia com família distribuída por ambos os lados, do Calai ou Mucusso.
Constatei que o comércio floria em prosperidade, talvez de forma corrompida mas, tudo se vendia. No Divundo, tivemos necessidade de comprar mantimentos no shop do Miranda ao cuidado de sua filha Ana Maria e, de todos os pacotes de bolacha que compramos só um estava no prazo de validade. Foco isto porque era uma prática comum, região não vigiada pelas autoridades que nada queriam ver por vista grossa em troco de uma bateria para o carro ou de um saco de mandioca.
Esta quase inconfidência, pode até considerar-se uma falta de cortesia de minha parte sendo sempre tão bem acolhido pela família Miranda e, sempre a custo zero mas, que me perdoem por esta lisura em minha franqueza – foi uma época, um tempo. Em terras do fim do Mundo vale tudo; com a minha missão de xirikwata africana, nada de anormal sucedeu em minhas transacções mas ouvimos sim, relatos de coisas mal paridas e defuntadas em agruras de por dá-cá-aquela-palha…
O encontro com Pedro Rosa Mendes, autor do romance ficcionado de “Baia dos Tigres” desaconteceu aqui em Divundo em Junho de 1997, no shop da Ana Maria de Andara. Fiquei a saber antecipadamente as agruras de Pedro Rosa Mendes descritas em seu livro, lidas mais tarde e da periclitância da guerra que se julgava não ter fim; não fiz muitas ondas porque o meu percurso de passeio não tinha o mesmo objectivo que o dele e, também não sabia o que ele viria a descrever em suas crónicas faladas via rádio todos os dias com o M´Puto. O meu anonimato prevalecia a tudo naquele então – Não podia mesmo fazer ondas nem cavalgar surf em seco…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
O ser humano sendo contraditório, sem que eu mesmo possa fugir à regra gosta de pequenos deuses, afeições apenas para acalmar a consciência como “chaveiros”, “amuletos, “figas”, “estrelas” entre outros. Por repetição faz isso de forma automática e por isso acaba acreditando em sua intuição. Faz anos que ando com um dente de facochero preso ao fio colgado no meu torcicolo para fazer fugir as bruxas e cinquenta dólares feitos bissapas todos amarfanhados no forro de um casaco para subsistir no mundo, estando à rasca. Sim, lembrei! Apontei algures seu nome mas, com o ronco da pacaça fazendo frente ao leão, meu coração pulou de medo juntamente com o papel de embrulho gorduroso de envolver manteiga no lugar do Mukwé…
Coisas mal oleadas com negócios de madeiras, diamantes, chifres de elefantes e muita aventura em frente dos olhares de hipopótamos. É Miranda que me chama à atenção das muitas infra-estruturas militares que ali existiam e que tiveram grande intervenção no desenrolar da guerra em Angola. Assim falávamos, cheirando o churrasco do brai em fim de tarde, enquanto se bebia gim com água tónica para nos esquindivar dos mosquitos.
Relembrando Luandino, digo taqualmente como ele afirmou: - “as lições da vida têm de ser sempre passadas a limpo, só nossa morte é quem pode ficar em rascunho”. João Miranda, um chefe do mato, o senhor dos anéis num lugar esquecido mas muito especial pelo envolvente mistério de sua fuga de Angola. veio a fazer parte do batalhão Búfalo chefiando os bushmens na investida Sul-africana a Angola, naquele distante ano de 1975.
Naquelas reuniões de falas de beira rio, as verdades toldavam a mentiras e, a mentira mais descarada que ali ouvi foi a de Oliveira, um amigo que por ali conheci e que ia e vinha até o Mucusso, aonde estava umbigado, com uma dama com o conhecimento da UNITA. Pois não é que num belo dia pensou ter morto uma zebra e, estando a abrir a mesma, depois de separarem seu couro com um rasgão ao longo da barriga, qual é o espanto de num entretanto de distracção ela, a zebra, levantar-se e fugir com as peles a dar a dar batendo-as, como se asas ou orelhas de elefante, o fossem. Esta peta, ouvida com atenção de verídica ficou-me entalada na mente até hoje… E, ainda hoje ao lembrá-la, me rio…
Ás margens do rio Zambeze no Zambezi River Lodge e Mudumo National Park Mudumo National Park revejo-me nos muitos dias insólitos, encontrando factos mágicos na revisão de amigos que me fazem medir o tempo com quartilhos e rasas como se feijões o fossem! Amigos, que nem todos o são na forma mais estrelada ou requintda por empatia, que na maior parte das vezes são traduzidos nos cheiros de África catingados só na suficiente rasura para parecer que não o sendo exóticos de todo, assim se tornam gente esquisita…
Lembrar-me aqui em terras agrestes de áfrica, que em Portugal após 75, o meu telefone estava grampeado pela Secreta Tuga - Foi o tempo de em Portugal se dar luta sem justificação plausível à UNITA durante aquela guerra na sequência do primeiro conflito de tundamunjila* e, que culminou numa outra guerra acabada na Batalha de Kuito Cuanavale. Portugal estava naquele então totalmente submisso ao governo do MPLA, movendo-se por interesses de lesa-pátria e por esquerdoidos que se perpetuaram no tempo. Sabiam de todos os nossos passos e, até mesmo em kizombas de amigos aonde estranhos, pareciam a sondar tudo sobre nós e o Movimento UNITA que virou Partido de âmbito Nacional. Foram tempos espantados de inquietude.
Ficou em fundo um ruído de música do Congo que os militares camaradas ouviam na rádio Mandumbe,... “Ai bábá ninique sala, táta rafael” Passados já uns largos anos sinto um frio nos pés no momento exacto em que um mabeco, sarapintado de castanho sujo, surge num repente por detrás da bissapa e acácias de picos medonhos. A vida faz pouco das previsões colocando por fim nelas, palavras no lugar de silêncios. Aiué
Miranda, o ex oficial do Batalhão Bufalo, agora (naquele então) um conceituado comerciante do Mukwé, Andara e Shitemo apresentou-me ao presidente San Nujoma, que por ali andava em missão de soberania, pessoa simpática e simples Um helicóptero chegou bem perto da escola local do Shitemo no Ndonga Linena River Lodge, dele desceu este velho senhor de barba branca, alpercatas e um chabéu de palha já com falripas soltas. Também trazia um bastão, que julgo ser de distinto pau…; nem parecia ser um presidente. Gostei dessa pessoa simples - tinha sim, nos pés, umas alpercatas michelin de calcar matacanha. Mantenho ainda a imagem do encontro à margem desse Cubango em Shitemo na maior lucidez…
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3491 – 22.09.2023
– De Kasane a Catima Mulila no Hotel Zambezi River Lodge
- Escritos aleatórios boligrafados da minha mochila – Antes e entre os anos de 1999 a 2018
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Através da Wikipédia pude saber mais sobre o Mudumo National Park. Está situado a aproximadamente 35 quilômetros a sul de Kongola fazendo fronteira com Botswana a oeste, e com várias áreas de conservação comunitárias. Todo o parque é plano, com terras arenosas e sem morros ou montanhas. Um curso de rio fossilizado, o Mudumu Mulapo que fica no centro do parque; é um canal sazonalmente seco, que drena das águas as florestas de Mopane no interior, mais a leste. A estrada C49 atravessa o parque ligando as aldeias de Kongola e Sangwali.
Exuberante, natural, é uma aventura a ser feita com um 4x4, para enfrentar as picadas arenosas, sinuosasmente acidentadas. Local aonde o pôr do sol é incrivelmente belo, sentindo-se com agrado a brisa fresca do único amenizador de temperatura, o poderoso rio Cuando. Uma experiência inesquecível que deve ser feita com uso de repelente de mosquitos.
Também, não esquecer levar protetor solar, um bom suprimento de água e, um jerricam com combustível extra. Lugar para não nos escravizarmos, escondendo o medo no bolso posterior. Aconcelho por isso serem dois veículos com tracção a fazer este trajecto de aventura pois que o lugar, é bem inóspito.
Pensar nas coisas ruíns, não é a filosofia certa para derramar por ali. Não adianta procurar o que o destino lhe reserva no futuro, porque é assim como ter a herança dum relógio roscófe embrulhado em papel besuntado de quicuanga e, que o rato roerá a qualquer momento.
Uns dias atrás um amigo meu fazia reparo àquilo que eu dizia; a de que nós sempre seremos um fruto de mudança. Bom! Com ou sem essa minha teoria de transitoriedade, nós seremos sempre os mesmos, só os pensamentos mudam. Neste nosso curso de enfrentar os conhecimentos, todos os dias serão uma prova à adaptabilidade humana, só que aqui, um descuido pode bem ser aproveitado por um tronco camuflado que num repente vira leopardo, ou um tufo de capim que se torna numa leoa em busca de alimento para suas crias. Nos paladares destes predadores felinos, nós seremos um doce repasto.
E, sabendo que a curiosidade por vezes mata, pude rever-me assim em confronto com meus silêncios de viagem, subjugar-me a modificar meu carácter para subsistir à sabedoria vulgar, feito quase num monangamba. Claro que os sonhos duns não são realidades dos demais. O itinerário seria rumo ao acaso em primeira mão, omitindo a proposito, coisas para segurança do ocaso de gente ainda viva e, que são alguns dos meus heróis - gente incógnita que não abandonaram seus ideais de liberdade.
Digo isto porque me desloquei à Namibia em certa altura, numa missão secreta de observação da logistica em apoio ao Movimento ao qual pertencia – a UNITA e, a partir da Ovobolândia; percorri o rio Okavango em toda a sua extenção a partir de Ot´xakati, Ondângua, Rundu e Calai, Mukwé, Andara, Divundu, Faixa de Kaprivi, Ómega e Catima Mulilo aonde agora volto, despoluido de respeitabilidade e responsabilidade. Pouco a pouco irei retirando as pedras dos meus sapatos, estirpar os furúnculos escondidos num monte de salalé
Tive um contácto esporádico com San Nujoma ex-Presidente da Namíbia aquando de uma reunião com comerciantes nas margens do rio Okavango e fuga minha a um encontro com um jornalista da Rádio Comercial do M´Puto que escreveu uma odisseia no livro “Baia dos Tigres”, um tal de nome Mendes. Baia dos Tigres livro de Pedro Rosa Mendes da Sá Editoras que descreve a odisséia na travessia de Angola em plena guerra. O não encontro foi em Divundu, num cruzamento de estradas que seguem para Botswana e Zâmbia / Zimbabwé através da faixa de Kaprivi. O livro reverêencia a Ana Maria Miranda, a pessoa que me convidou a tal encontro, que recusei… Ana - filha de Miranda, ex-oficial da Companhia Búfalo da A. do Sul, o mesmo que sabe falar por estalidos…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3490 – 21.09.2023 – De Kasane a Catima Mulila no Hotel Zambezi River Lodge
- Escritos boligrafados da minha mochila, – Aleatóriamente no após 1975 e, entre os anos de 1999 a 2018
PorT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
A caminho de Katima Mulilo, cruzamos parte do Caprivi Game Reserve, uma faixa apresentanda no mapa como um dedo indicador apontando o Botswana. Com cerca de 180 Km de extensão com floresta de folha larga; a faixa, foi desenhada pelos britânicos em Berlim para poderem ter acesso a todas as suas possessões; Na sua maior extenção, esta faixa são duas linhas paralelas com 32 km de largura. Eles, os britânios, tinham a pretenção de unir Cape Town ao Cairo.
A faixa estende-se pela fronteira do Sul de Angola desde o rio Cubango ou Okavango até o rio Zambeze em Catima Mulilo e, que vai até Kasane de onde estamos saindo, lugar de encontro com o no rio Cuando, aqui chamado de Shobe. Vamos em sentido contrário ao rumo de Vitória Falls. O Delta do Okavango fica já do lado do Botswana, com ilhas dispersas, desaguando por assim dizer, naquilo que à séculos, foi um mar interior.
Já em Katima Mulilo resolvemos fazer compras no maior supermercado da cidade, pertencente ao Sr. Coimbra (já falecido), um refugiado Tuga ido de Angola logo após o 25 de Abril no M´Puto e sequente guerra do tundamunjila em N´Gola; parece que este senhor tinha uma qualquer ligação com a PIDE do M´Puto e numa primeira etapa de sua fuga assentou bivaque em Windohek, no Safári Motel do Sr Pimenta. Depois, rumou a Norte aonde se tornou aqui – em Catima Mulilo, um bem sucedido comerciante.
Tomamos contacto esporádico com a família Coimbra que tomava conta do negócio e depois dirigimo-nos até às margens do Zambeze aonde assentamos arraiais no Hotel Zambezi River Lodge de características tipicamente africanas e com acomodações para visitantes de mochila para camping, como nós. Foi bom ficar ali sentado na margem daquele Zambeze ainda manso cruzando pensamentos das terras do Fim-do-Mundo que no correr dos tempos pareciam ser só uma ilusão.
Éramos os exploradores bazungus, como diria a minha empregada Mery de Kampala: modernos com algumas mordomias como um canivete macgyver que tudo resolve e, seguindo as peugadas de Silva Porto, Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo ou Roberto Ivens. E, como foi bom pisar aquelas terras, ver manadas de elefantes raspando a terra impondo poder abanando as grandes orelhas a meter medo. Ao cair da noite fizemos o nosso brai com aquela carne saborosa de caça.
Carne comprada no supermercado da familia Coimbra, carne que só ali existia por aquelas paragens. E, como gostaria de repetir no futuro esta volta e mais uma vez - pensava assim ali sentado na beira do Zambeze admirando a kukia (pôr-do-sol) e, olhando-me nas rugas espelhadas nas quietas águas do Zambeze. E, só para mim, recordava o passado, da guerra do Tundamunjila de N´Gola, uma rebalderia chamada indevidamente de descolonização …
Recordava os Movimentos de Libertação, em particular da UNITA à qual pertenci e, que aqui descreverei de forma muito sintética, suficientemente sumária para preservar personagens como Dachala, Alcides Sakala, Zé Kat´chiungo e Adalberto da Costa Júnior; um mano Coordenador, que se salientou em Portugal na defesa da Unita tonando-se por voto popular e, com elevado mérito, em Presidente da UNITA e Presidente de Angola segundo os fieis relatos de vários Observadores Internacionais e dados internos do agora partido do Galo Negro – dados fidedignos e aferidos…
Isto de repetir o passado, acontece sim, porque o é necessário e, para no mínimo, ressarcir a verdade. Verdade que afeta bem mais de um milhão de gente maioritariamente boa e, indevidamente relegada ao esquecimento da razão - os chamados refugiados e retornados! Irei assim, decrevendo aos poucos, para não vulgarizar ou agudizar num só lote tal infortúnio e, inserindo-os nas várias viagens de agora e de mais tarde, aleatoriamente dum passado truculento e, até faladas em sentido contrário como se o fora uma marcha-à-ré, pois que quase foi assim que percorri o caminho que não nos levou a Dar-es-Salaam na Tanzânia. Bom! Isto será de atemporal descrição e, numa posterior forma de odisseia que fragmentada, bem pode remoer um futuro, num agora!
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3489 – 19.09.2023 No Shoba Safari Lodge de Kasane
- Escritos boligrafados da minha mochila, em KASANE, às margens do Cunene e Shobe – Entre os anos de 1999 a 2018
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Pois! E, porque me deparei com falas de lugares já passados e, não descritos aqui, abro um parêntesis para tapar e rever essa lacuna: Dias atrás muitos cheios de pó, chegamos a Nata no Botswana, bifurcação tendo pela esquerda via Namíbia, lugar aonde já passamos de Epupa Falls e Delta do Okavango e, pela direita atravessando várias reservas até chegar a Kasane às margens do rio Shobe que em Angola se chama de Cuando. Pois foi por aqui que viemos até aqui – a Kasane.
Pernoitamos ali, em Nata, no Pelican Lodge aonde se recolheu informação com outros aventureiros bazungus, de qual o melhor caminho a seguir e outros detalhes. Tinhamos a opção de acampar ou ficar em um dos chalés e, optamos por alugar dois destes. O alojamento dispõe de restaurante à la carte onde comemos à base de carne de caça, uma sempre boa opção.
Aqui o Pelican, oferece passeios panorâmicos para o Santuário de Pássaros em Nata dentro das Salinas Makgadikgadi mas, nossa intenção era continuar até o santuário do Shobe e Kazungula. Durante o Jantar, um grupo de bailarinos tradicionais deu uma prova da dança tipicamente africana com tambores com alguns detalhes de danças usadas pelos mineiros na tradição da dança "gumboot" do Soweto e Lesoto; cantar e dançar os ritmos do Botswana - Diversão especialmente dirijida para um grupo de bazungus idos da europa, ali hospedados.
Era suposto encontrarmos muitos animais no percurso, um domingo, ao atravessarmos as reservas de Tamfupa, Sibuyu, Kazuma e Nogatsaa mas, os quilómetros foram desvanecendo a avidez e os olhos já cansados de tanta secura entre um gole e outro de água de garrafa, foram escorrendo conversas de profecias ainda mal entendidas.
E, veio à tona aquelas profecias sobre a Inglaterra e África do Sul; aquela que diz que a Inglaterra será atingida por 7 pragas quando a 3ª Guerra Mundial estiver próxima. Isto já o foi contado lá atrás, por isso passarei à descrição da tal Ilha com uma bandeira gigante do Botswana no meio do Shobe e, na qual andamos vendo confortavelmente no barco do Shoba Safari Lodge de Kasane.
Aquela ilha que tem o nome de Sidudu/ Kazakili Island esteve até há questão de poucos anos em disputa na definição de fronteiras pois que a Namíbia reclamava como sendo sua mas, o Tribunal Internacional deu posse definitiva ao Botswana. Aqui está a justificação de tão grande mastro naquela planura tão verde e tão cheia de animais.
Pudemos assim ver as margens do rio Cuando a confrontar com o parque Kasika da Namíbia e o canal Shobe no lado do Botswana. Esta missão exploradora serve somente para revestir-me de uma armadura contra as megalomanias daqueles que julgam possuir todas as chaves de abrir todos os becos, todas as quelhas, todas as picadas sem declarar seu próprio fisco à sua alma. Sei porque digo isto mas, saiu, saindo…
O Rio Cuando e o canal Shoba desaguam no rio Zambeze e, é aqui em Kazungula, mesmo ao lado, que confinam quatro países: Botswana, Namíbia (ponta da faixa de Kaprivi), Zâmbia e Zimbabwé. Foi um dos momentos altos como uma odisseia das potholes (buracos); aí estão os bazungus, mais que muitos, a pagar caro para ver a natureza. Há gente de todas as nacionalidades mas, maioritariamente da Comunidade Europeia. Troquei impressões com três espanhóis que amavelmente nos deram indicações sobre trajectos por conhecer. Bola pra a fente! Agora sim, iremos de volta ao Okavango passando por Catima Mulilo…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3488 – 17.09.2023 No Shoba Safari Lodge de Kasane
- Escritos boligrafados da minha mochila, em KASANE. – Entre os anos de 1999 a 2018
Por:T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Estamos a ficar longe no tempo para poder recordar todos os detalhes e, se não houve rascunhos daquele então, ainda mais difícil fica de desenhar a paisagem Landscape. Em um daqueles dias às margens do Shobe, rumamos por uma estrada de terra com piso em argila regularizado com brita que depois virou areia; estávamos no Shobe National Park, bem do outro lado da Namíbia.
Anotei a indicação lá no início do troço de, que nós bazungus, iriamos ficar à nossa conta e risco! Valeu a pena o susto de por vezes ficarmos enterrados porque, de repente lá estavam, um leão e uma leoa à sombra de uma grande árvore comendo ou guardando um elefante de pequeno porte, já todo esfalelado, coisa pouco usual tratando-se de um elefante.
Porventura aquele paquiderma, estaria adoentado ou teria sofrido um grave acidente. A lei da vida e da morte ali, não contempla assistência da parte de qualquer instituição cinegética ou veterinária. Até nós corríamos esse risco de entrar na cadeia alimentar. Ao seu redor umas quantas hienas espeando o fim de repasto dos reis da selva. No ar, circundavam os abutres negros querendo também fazer parte do repasto; num lugar mais distanciado também havia mabecos – uma cadeia alimentar na lei da natureza nua e crua – o aviso lá de tráz, na entrada, tinha razão de assim o ser.
Quanto ao passeio de barco - passeio de aventura terreste de muitas estrelas, com uma óptima relação no custo-benefício, sentimos o conforto e a segurança de uma viagem organizada pela secretaria do Shoba Safari Lodge. Momento único, numa vontade sem certeza, certeza de voltarmos a ter uma tão grande oportunidade de criar memórias duradouras, que nos acalentam sonhos em voltar para ver mais.
Nas longas horas de jornada ao longo de terra árida, chinguiços ressequidos, caímos em devaneios de profecias, falamos pelos cotovelos dizendo falas desprovidas de sentido ou fora do reino de aventura. Agora que já se passaram uns longos anos de estio literário, relembro o que alguém, não sei quem, o disse: Que a Inglaterra será totalmente aniquilada, até mesmo a sua terra irá queimar como uma invasão liderada pela Rússia que vai invadir a Europa, através da Turquia e usar armas terríveis.
Costuma ser assim, cada qual diz o que lhe vem nas falas avulsas porque leu e, ou com edecéteras de kazumbis repassados por adivinhos ou pastores que por norma sempre vão mais álem do que plantar batatas no meio do Karoo e, mais se disse que a África do Sul também entrará em uma guerra civil em um ano de eleições, após a morte de um líder negro; que será exibido em um caixão de classe nos Edifícios da União. Líderes mundiais virão homenagear. Será!?
Em Kasane, nas voltas e andanças tarde do dia, cheios de gases, corpos curvados e cheios de ideias com turbulências no cerebelo e fome, antes que fosse noite, fomos comer ao Pizza Coffee do paquistanês em Kuzungula. Já noite, na tenda “tipo Livingston” podia rever-me nos muitos esboços coloridos gatafunhados, coisas que vi, quilómetros precorridos, sugestões e pagamentos a encontrar ao calhas e a cores, amarelo, azul e amarfanhado no descolorido, colados a shwingame (pastilha elástica).
Uma escrita misturada de experiências em blocos boligrafados, esquecidas com contas de somar, subtrair e cambiar. É fundamental ter dólares! Sem isto, a apologia de se ir ao acaso tolhe o instinto, cega a fé, mesmo que se repita muitas vezes o valha-me Deus. Faço isto por vezes para ver quanto gastei em Euros, agudizando-me na curiosidade de ver contas de números altos em dólares, randes, kwachas, pulas e dólares zimbabwanos e deparei com as falas de lugares passados que terei de descrever nas próximas crónicas e, aqui repostas, para não transtonar o cerebelo em minha sequência de escritas…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
Em África as viagens em camiões trucks, conhecidas como "Overland Tours" são muito famosas. Cruzei com estes grupos animados no Cruger Park da África do Sul, Ai-Ais a Sul da Namibia, no Fixe River - canyons, no Sossusvlei, na Costa dos Esqueletos, em kasane e Kazungula do Botswana no Etosha Pan e em Victoria Falls. Sossusvlei, na Costa dos Esqueletos, em kasane e Kazungula do Botswana no Etosha Pan e em Victoria Falls.
Muitas vezes, cruzando fronteiras proporcionando uma experiência verdadeiramente profunda, vendo muitos lugares fora dos roteiros mais conhecidos, sua forma de vida, sua alimentação, bem como os exotismos pantacruélicos que você quer conhecer porque alguém falou. Enfim: coisas positivas e algumas até bem deprimentes pela má gestão dos dirigentes de topo. Tive essa experiência através de inúmeras viagens em carros alugados.
Essas empresas, condicionam o número de pessoas em cada passeio relativamente baixo, mantendo acomodados satisfatoriamente de 12 a 18 pessoas, o que significa terem o espaço necessário nas janelas tendo sempre a atenção pelo contacto pessoal com seus guias. Embora os arranjos dentro de cada passeio variem um pouco, em princípio, oferecendo esses passeios de duas maneiras: em acampamento ou “alojados” sendo o primeiro, a opção menos onerosa e, da que mais gosto.
Nas vistas largas das terras planas e verdes que bordeiam os canais do Rio Cuando e Shobe, e no chamado Shobe National Park, vimos bem mais do que 200 elefantes e muitos antílopes como olongos, gungas, facocheros, búfalos, impilas, jacarés e vários hipopótamos entre outros e, também aves de grande porte como o peru africano, várias espécimes de patos e pássaros multicolores. Pudemos avistar no meio de uma vasta e plana ilha, no meio do nada verde, uma bandeira enorme do Botswana em um gigantesco mastro. Esta ilha, só recentemente foi considerada por um tribunal internacional como pertencente ao Botswana…
Sempre caía naquela satírica forma de dizer: - Os angolanos estão cheios de razão, os Tugas deveriam não só ter levado para o M´Puto (Portugal) as suas estátuas, Diogo Cão, Maria da Fonte, Norton de Matos entre outras mais e, também os prédios, escolas, pontes, hospitais, estradas, igrejas e barragens pois que sempre, sempre o são rebaixados; ter deixado Angola exactamente como a encontrou Diogo Cam, 500 anos antes do achamento! E, assim andarmos, para a frente e para trás que nem Kiandas feitas salalé tresmalhado, por via da intuição feita cinco estrelas duns caçadores caçados por traição sabuja, vilipendiados até, para não dizer roubados. Também traídos, até pelo povo enganado pelos generais de aviário e a mídia esquerdoida do M´Puto. Actos nunca ressarcidos...
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA) Shoba
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3476 – 14.09.2023, No Shoba Safari Lodge de Kasane
- Escritos boligrafados da minha mochila, em CASANE, às margens do Cunene/Shobe
– Entre os anos de 1999 a 2018
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Estas tendas do Shobe Safari Lodge de Casane, até tinham chave electrónica para nelas entrar, uma coisa de cinema composta por duas camas, mesinhas de cabeceira, uma pequena mesa de centro, uma outra com espelho no topo e ainda outra para guardar malas e coisas menores. Também havia um ventilador que, nos foi bastante útil porque o calor aqui é para fazer de sauna.
De noite, o tempo arrefece a ponto de termos de nos tapar pelo frio. Na gaveta da cómoda havia cinco preservativos. Sukwama! Exclamei - era isto mesmo que me fazia falta, aiué! A tenda tinha um avançado por cima do sobrado a fazer de varanda com mesa e cadeiras para seis pessoas mas tinhamos de ter cuidado com os babuínos, e outros macacos mais javalis facocheros pois que afoitamente nos vinham roubar as coisas do seu agrado.
Para fazermos nossos assados na churrasqueira brai, tinhamos de estar com um olho na carne e outro nestes caçadores furtivos. E, como gostavam de batatas fritas! Até os javalis vinham quase às nossas mãos para comer, embora houvesse avisos no sentido de nada se dar aos animais. Ao nosso redor surgiam facocheros, macacos babuínos, saguins, bâmbis, capotas e perdizes.
Os elefantes faziam-se ouvir por perto. Os kwés-kwés, uns pássaros pretos e grandes lançavam piares agudos ainda o dia não o era, só lusco-fusco. Também os turistas, homens e mulheres e gente outra auxiliar dos camiões super truck apetrechados para fazer safaris, que se dispunham a sair cedo, começavam a falar alto, desmontar tendas, agrupar ferros, juntar panelas, cadeiras, mesas e toldos entre outros corotos, imbambas e chuveiros de lona como os usados por funantes, comerciantes e exploradores do tipo de Hermenegildo Capelo ou Robert Ivens.
Pois assim, não tínhamos como não acordar lá pelas cinco e pouco! Talvez um dia me inscreva numa destas odisseias – em Espanha há especialistas em atravessar África desde o Cairo ou Madrid a Cape Town, nesta forma de estar no mundo. Assim que o sol nascia lá no horizonte, o calor começava a ondular o cacimbo; podíamos apreciar isto nas luzernas entre a vegetação alta e empoeirada. Bem do outro lado das bissapas muito cheias de chinguiços podíamos ver a azáfama dos bafanas auxiliares dos carros apetrechados para a áfrica profunda. Desarmavam ferros, juntando-os de forma ordenada na parte inferior do machimbombo Truck-safari.
Carros com camas, farmácia, pratos e tudo o que compõe uma cozinha, frangos e carne para assar, maças da cidade do Cabo e feijões do Quénia, vários tipos de pão, café e arcas frigoríficos para atulhar isto mais verduras e, do outro lado, ferros de armar suas tendas; grupos de gente que depois tomam assento lá no alto do machimbombo truck para ver a vida do mato passar, os condomínios de pássaros suspensos nas acácias.
Ao peito dos coletes de zuarte amarelo suave de muitos bolsos, pendiam seus binóculos, suas camaras fotográficas e outros zingarelhos próprios de verdadeiros bazungus (turistas). Era bom andar mastigando chwingame, uma pastilha elástica que depois de mastigada era um bom vedante para tapar furos do radiador mas, agora as tecnologias de ponta são outras; não mais é necessário levar umas borrachas extras e arames para encurtar tubos de refrigeração ou pendurar argolas e chapas desprendidas com o sacolejar dos ripados da picada, ao jeito de tábua de lavar em selha, coisa desesperante.
Só para lembrar: As lonjuras complicam-nos o mataco que a dado momento já nem tem posição certa tornando o excesso de profiláctico em olfáctico dando comigo a abanar as orelhas e engolindo cacos de vidro como um faquir. Estas paragens na aventura, odisseia, tonam-se necessárias. O zelo da quilometragem conjugando a hora com o dia, da noite que cai e da luz que se esvai. É fundamental termos um bom lugar para pernoitar, consultar no telemóvel ou perguntar por um aceitável sítio aonde pousar. A seguir, iremos ver os elefantes às centenas.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3475 – 12.09.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila, em CASANE, às margens do Chobe – No Shoba Safari Lodge de Kasane
Entre os anos de 1999 a 2018
PorT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Saltando no tempo, vejo-me debruçado sobre os funis feitos na terra pela formiga-leão, os nossos conhecidos fuca-fucas de Angola. Pois, assim debruçado no Shobe Safari Lodge bem na margem do rio Shobe, concertávamos ideias sobre o que fazer e ver nesta parte norte do Botswana. Os alojamentos dos principais módulos, estavam todos ocupados e restou-nos ir para as tendas com os requisitos de um chalé normal com água, energia e chorrasqueira brai, e seviço de hotel…
O nome da região Shobe, deriva do rio que corre ao longo do norte do parque aonde ficamos; em verdade é uma continuação do rio Cuando que saindo do estremo do Leste de Angola, atravessa a faixa de Caprivi passando a formar fronteira entre a Faixa de Caprivi da Namíbia e Botswana que passa a formar fronteira com a Zâmbia e que toma este nome de Shobe.
Proseuindo o Cunene/Shoba, dá encontro em Kazungula a escassos quilómetros de Casane com o rio Zambeze fazendo aqui, fronteira a Leste com o Zimbabwé. O rio Cuando é um rio que nace no Planalto Central de Angola e corre para sueste, formando parte da fronteira entre aquele país e a Zâmbia de uma forma caprichosamente ondulada e, formando ilhas na envolvência de muitos charcos, tal como o Delta do Okavango do rio Cubango…
Durante este percurso, o leito do rio Cuando, ainda em Angola, é formado por ilhas e canais, com uma largura que varia entre cinco e dez quilómetros. O rio Cubango/Shobe, tem 800 km de comprimento. até encontrar o rio Zambeze; aqui também de uma forma muito tortuosa formando à semelhança do Leste de Angola muitas ilhas e, tendo muito fartura de animais, destacando-se os elefantes, hipopótamos e crocodilos…
E assim feito, menino de alegria suburbana, descalço como um candengue de musseque com aduelas de barril do M´Puto, baptizado com água do Bengo, limpo, arrumadinho e de colarinho ajeitado na hora de berridar a ver paquidermes, hipopótamos, javalis, jacarés e veados à centena senão milhares. Na volta sou todo feito em pó asombroso . A alegria de contemplar e de compreender é a linguagem a que a natureza me excita, na preocupação pela dignidade com a saúde num quanto baste e, com o suficiente dinheiro para poder comprar as alfaces ou o paio defumado saído dum pata-negra.
Feliz de quem atravessa a vida prestativa sem o medo estranho à agressividade e ao ressentimento, capiangando a necessária felicidade, porque para se ser membro irrepreensível de uma comunidade de carneiros é preciso antes de tudo, também ser carneiro. O esforço para criar uma comunidade neste meio, sem a qual não podemos viver nem morrer neste mundo hostil.
E, de forma íntegra, tornar-se em um sofrível no meio dum impossível. Para seres favorável a alguém, tens de descartar outro alguém. É uma regra que sempre me provoca rebeldia. Tivemos batata frita, biltong e tostas rijas rusk que nem paracuca que depois se dissolviam nas humidades. Um grande balde com gelo, servia para nele meter todas as bebidas por forma a mantê-la frescas durante o esplendor.
Foram mais de três dias divertidos aqui no Shobe Safari Lodge de Casane - olhando até pelos pés e cotovelos: boligrafar também a boa forma de preencher o tempo sobrante, sempre à coca do surgimento de um facochero feito javali ou porco ou um bambi dócil com macacos a querer roubar sabão e barafustar mais álem, por aquilo não ser o weetabix, a farofa do seu breakfast. Neste então esperávamos a hora do seguinte dia para, a partir daí, darmos a volta em barcaça a uma áfrica como se assim fosse, a primeira vez – no rio Cubango ou Shobe …
(Continua...)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3474 – 11.09.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila, “de Maun a Francistown - Botswana ” – Entre os anos de 1999 e 2010
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Aqui em Botswana, Estrada Nacional A1, com colares massai de contas azuis e bagos de feijão maluco de Angola penduradas ao pescoço, escrevo no imaginário, coisas loucas a condizer com o não menos chanfrado Ernest Emingway, salvo as proporções, claro! Sou um homem do mundo. Já viajei e vi muitas coisas nos anos e meses que passei noutros lugares, assim como missangas, conto-os enfiados em um fio de náilon a fazer de pai-de-santo.
Formando frases curtas e sinceras, tento rematar-me nas voltas certas para driblar de outro jeito meu passado. Sim! De outro qualquer modo ele, o passado pode reconhecer-me. Aiué! Aprendo com as formigas grandes, kissondes que em andamento seguro, arrastam pelo pó do chão seus ventres escuros sem discutir com Deus por assim andarem, sempre se arrastando.
África de exotismo quanto baste com coisas e animais incomuns aonde a adrenalina delira em pavores loucos, inundados e imundos de situações fatídicas, substituindo o ar dos pneus por capim cortante de chá caxinde. A coragem indomável de conhecer a África profunda, surgia-me naturalmente desde que ainda moço me tornei kandengue de N´Gola, ao devorar um cacho de bananas oferecido por meu tio “Nosso Senhor” chegado do M´Puto, ao som do apito grave e longo do vapor “Uige” da Companhia Nacional de Navegação.
Com meu pai colono de papel passado e creditado na tal CNN e, assim, crescido na idade, não foi necessário beber kat´chipemba com pólvora, uma mistela incendiária que deixa as entranhas em chamas para enfrentar os matos com coragem. Nestas voluntárias tarefas de aventura com aflição ou maka, os vómitos de radicais experiências foram surgindo entre bichos cambulando cacimbos com marufo de kassoneira,
Pois! Ofertas de N´zambi e gente com vestes de loando, amuletos reluzentes, tilintando seus toucados e penduricalhos nos artelhos; de muitos, por demais, zingarelhos. Então, falando com meus botões nas longas viagens, nas frinchas dos tempos e das falas, neste mundo confuso, serei sempre um genérico cidadão ou um sem-terra por não me poder definir como genuíno nessa escolha; assumidamente, não pertenço a lugar nenhum. Serei pois um Pai de Santo sem mukifo permanente.
Lendo na Wikipédia, Francistown aparece como a segunda maior cidade da Botswana, com uma população de cerca de 114 mil habitantes, descrita como a "Capital do Norte". Está localizado a cerca de 400 km a norte da capital Gaborone, na confluência dos rios Inchwe e Tati, perto do rio Shashe (afluente do Limpopo) e a 90 km da fronteira internacional com o Zimbabwe.
Aqui, região do Delta do Okavango, a adrenalina delira loucos pavores, inundados e imundos de situações fatídicas, renovando o ar da coragem de conhecer a África profunda, surgindo-me naturalmente, sem o uso de uma bomba pneumática desde que ainda moço me tornei kandengue maduro conduzindo uma biscicleta aos solavancos da pequenez, um pé atravessando o quadro do zingarelho para adultos mas, que eu dominava como se o fosse um matrindindi, feito gafanhoto, num vaivem de pernas sem concluir o curso do circulo.
As provas de habitação por humanos aqui em Francistown, remonta ao tempo de N´Debele, um M´Fumo (chefe) que surgiu na área em 1820 com sua cultura de Bulawayo e, trazendo o conhecimento para o Kalanga, área do nordeste do Botswana. Reportado, Nyangabgwe, foi a aldeia mais próxima para Francistown de ter sido visitado pelos europeus, para prospector ouro, ao longo do rio Tati. A actual cidade foi fundada em 1897, como um assentamento perto da mina Monarch. Foi aqui exactamente que me relembrei de ter renascido como Niassalês no bojo de um vapor que o tempo também enferrujou – NIASSA… Francistown foi o centro da África Austral do primeiro ouro, encontrando-se ainda rodeada de antigas minas abandonadas.
(Continua...)
O Soba T´Chingange
Hoje, o certo é de que quanto mais se sabe mais se sofre. Há fastio de inteligência! Há tédio! Há vontade de mandar tudo fora e partir vidraças, emudecer brilhos, despedaçar bocejos. Mas, desde quando um carneiro tem orgulho? Tão abarrotado de civilização, espreito os meses farejando raças sob o abrigo de suas telhas ou, carraças em suas orelhas.
Muita água feita oceano com barcos à vela e vapores… Andamos assim, somando falas ao longo da distância, coisas que ocorreram antes e durante os longos anos da crise Angolana, após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional; assuntos correspondendo à diáspora de muitos angolanos e afins chamados de refugiados, retornados e transtornados, espalhados pelo mundo, como se o fossem salalé tresmalhado, pontapeados por ideários gravadas à exaustão no excepcional computador - nosso cérebro.
A cada ai, a cada ui, aparecerão centenas de comentadeiros a decifrar porque assim tossiu, assim baliu, assim mugiu, lendo nas entrelinhas e supondo ter nas cuecas maços de falsas notas verdes, feitas dinheiro… Neste deserto que atravesso, Botswana, vejo figuras rarefeitas entre bandos de estorninhos migrantes, diluídas na essência ondulada dum ar que tremelica no calor da miragem, também do que se pode ver em uma falha, na textura de uma velha casca de árvore com um lagarto pré-histórico camuflado de fenda. Pode!?
Lugares de sermos confundidos como caçadores de elefantes por tanto pó salobro das tortuosas picadas, expostas ao sol impiedoso; ao calor abrasador dos dias e dos frios cacimbos húmidos a envolver noites com manto de espesso escuro; bem perto uma hiena parece chorar ao redor de uma carcaça fedorenta, carniça de vida sobrevivente. Lugares longinquoas de grandes metrópoles, com gente empoleirada até ao céu. A caminho de Francistown– Vou – Vamos! O sol tem ondas de ferroadas quentes que machucam na ida da vinda de nossos dias…
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3482 – 07.09.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila - Em Maun Rest Camp, cidade de Maun no Delta do Okavango…
PorT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Nas terras do fim-do-mundo do Botswana, não se olham os prazos; é só deixar correr o tempo, tomar uns quantos cafés, à tardinha gim com rum ou cachaça e antes do deitar para retemperar um chá rooibos ao redor da grande fogueira situada ao centro do terreiro e roer biltong de olongue (Kudu) – os contornos da cubatas viam-se difusos com noite adentrada pintada nos contornos das luzes parcas.
Um milhão de insectos a tremelicar ao seu redor como uma aurea despegada dum anjo negro imaginado no contorno do céu estrelado; Aqui, como em qualquer outro sítio de áfrica, convém que o anjo seja negro para tornar tudo genuíno. É natural conveniente que os santos por aqui sejam negros, noé!? Estivéssemos nós no Atlas de Marrocos e tomariamos chá de menta saudando em Salame Alikan, Alikan Salame…
Cada terra tem seu uso, cada gente tem seu fuso. Em Maun, na paz de espírito desta áfrica profunda disse para mim mesmo: - Vou ter que me gramar desta forma, para o resto da minha vida. Agora, com ou sem pecados, travamos um combate incessante contra os poderes das trevas - um vírus . A mente é o campo onde a batalha será decidida para o bem ou para o mal.
Mas, o problema que vem sempre dos outros é aí que estamos tramados, mesmo sabendo que a hipotenusa é a raíz da soma do quadrado dos catetos... Isto pró vírus, já era... Estas impressões que comandam os sentimentos e medos, ditarão nossas escolhas direcionando as decisões... Impressões que comandam hoje os sábios que, queiramos ou não, ditam a actual Intoxicação digital no Mundo... E, é a noite que chega com sonhos assombrosos.
Pensando na espera do sono, a noite é assim mesmo, dá para pensar e, o tempo não passa pela amargura mas, a amargura passa pelo tempo. É preciso segurá-la enquanto existe! Alguns idosos, como eu, em outro fuso horário, vão á janela algures num dos tantos lugares a despedir-se do tempo vazio tendo como vizinho próximo a árvore, talvez um carvalho mas aqui, no Botswana, será um imbondeiro chamado de baobá ou uma acácia de espinhos medonhos.
De dentro do imbondeiro, alguém pergunta: - Para onde estás a olhar? Para a árvore - é a reposta. E o que vais fazer agora? Olhar para o imbondeiro? Quem é esse imbondeiro? – É essa árvore gorda! No sonho num entretanto meu amigo Santos, natural de Pé-na-Cova, um ferrenho benfiquista, lá na Lagoa do M´Puto, corre sua maratona entre os correios, a padaria do venezuelano e a peixaria junto da igreja matriz e, todos os santos dias repete a dose do anterior dia… Enfastiado, adormeço…
Maun - Surge um outro dia. Há que lavar os dentes, banhar-me no WC dos caniços, cheirar o cacimbo da manhã, acompanhar-me do café com leite numa caneca de esmalte e comer aquele pão biscoito duro chamado de rusk, meter as imbambas (bikwatas) na mochila, binóculos, o canivete e câmara fotográfica e contornar os hipopótamos da lagoa do Delta, uma entre muitas e, bem de longe, o suficiente para não se sentirem perturbados segundo plavras do guia fardado de zuarte, com um lindo bordado com flexas, colorindo a manga esquerda.
Há dias e dias! Há dias de um irritado pessimismo e outros de tão naturalmente optimistas que como um carneiro jogamos orgulhos contra obstáculos de repetidas coisas, eternas repetições de males antigos, males de imaginações insatisfeitas, amargas desilusões sem fermento na tristeza. Sem vontade de tormentos, certo! E, aquelas muitas pedras na beirada verde mexem-se, levantam as cabeças e saúdam-nos com um fiquem longe que sou perigoso. Eram eles, os hipopótamos em dezenas, marcando seu território, literalmente cagando para nós – espargidos na água meia turva… Pelo anos deles, sai sua personalidade e, por fim, o dia na lagoa Xaxaba, acabou …
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3481 – 05.09.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila - Em Maun Rest Camp, cidade de Maun no Delta do Okavango…
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Aqui andamos remendando longos silêncios remoídos na sustentação das mentiras ou verdades sobre africanos, sua terra e sua origem, gente com gestores, chefes sofríveis por desclasificados; como entender tudo numa longínqua aridez de secura politica, geográfica e climática, um investimento de leveza desocupada, fazendo nada ou parecendo nada fazer, subsidiada pelo G7. Os cadernos coloniais referem que nestas suas correrias e naquele tempo de descobertas, estes, vendiam ao desbarato dentes de elefantes, borracha, escravos e mel.
Recordar que o major de infantaria, o sertanejo Alexandre de Serpa Pinto, realizou a viagem de Luanda ao Natal, em 1879; que também, os oficiais de marinha Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, em 1885 exploraram todo o sertão de Moçâmedes a Quelimane, num percurso de 4.500 milhas no intuito de ligar Benguela de Angola à Beira de Moçambique passando por Tete às margens do rio Zambeze e, terminando ali às margens do Oceano Indico.
Estas viagens causaram a admiração da Europa e glorificaram o nome de Portugal mas… Mas, tem sempre um mas! Naquele tempo havia um Inglês que dizia que aquilo era tudo dele – do país dele chamado de Reino Unido; chamava-se Cecil Rodes e este, pretendia fazer uma linha de caminho-de-ferro desde a Cidade do Cabo nas terras descritas pelos portugueses como do Adamastor ou das Tormenta até ao Cairo no Egipto.
Pois este, não fez, nem deixou fazer. Um imbróglio que mete o tal mapa Cor-de-Rosa que nunca desabrochou como flor. E, tudo apenas para numa farsa diplomática cortar o mapa Tuga a meio... Sabemos desde esses tempos idos que este "rail" chega à Tanzânia mas, diga-se que mais depressa chegaram os portugueses com o CFB (Caminho de Ferro de Benguela) à fronteira do Zaire no rio Luau (antiga Republica Popular do Congo)...
Em terras do fim do mundo, no Botswana, convêm relembrar que os aborigenes habitantes ancestrais, foram os bosquimanos (bushmens), khoisans, caçadores-recolectores que se espalharam pelo grande Kalahári e Karo. Em uma outra minha viágem anterior, tive oportunidade de observar estes indígenas errantes no seu meio natural. Foi no Kalahári Gemsbok National Park entre Twee Rivieren e Bokspits, um lugar ermo, divisão de fronteira, picada em mulola de um rio seco aonde só corre água quando chove: paramos ali para fornecer água a esses pequenos seres de tês parda, secos de carnes, vestindo pequena tanga tapa-rabos. Andava então à procura do caracal – um gato grande com as orelhas empinadas, que acabamos por avistar.
Deslocavam-se em pequenos grupos com algumas lanças, apetrechos simples aonde as mulheres se distinguiam por levar ornamentos na forma de zingarelhos nos artelhos. Enchemos suas cabaças entre linguajar de estalidos do geito de makankala misturados com sopros de suspirose aspirações gututrais do qual nada entendemos.
As mulheres levavam corotos, imbambas de cozinha e trastes envoltos num saco em cabedal que era suportado nas costas por uma tira que se ajustava à testa. Agradou-me ver as várias etnias, brancos, negros e mestiços, muçulmanos e cristãos, laborarem o progresso sem tumulto. Ao invés disto, em Angola a gadanha da morte feito catana, para muitos e, para vergonha de Portugal, coisas manobradas por capitães de aviário em uma abrilada enviesada, felizmente, não chegou aqui ao país Botswana.
Admirei-me até, nesse então, ver organogramas, gráficos que representam a estrutura formal do governo, com algumas caras brancas, coisa que a propósito foi posta de lado em Angola, terra dum Tundamunjila vergonhoso chamado indevidamente de descolonização; Ali, em Angola, a maldade, chegou antes do tempo. Por isso a necessidade de filosofar falas, porque no consciente do povo subjugado – NóS - fica a repulsa, nojo, repugnância e asco de governantes que se perpetuaram imerecidamente no poder do M´Puto…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
Botswana, território que começou a ser desvendado por exploradores a partir do século XVIII, deram-lhe o nome de Bechuanaland mas, após a sua independência em Setembro de 1966, toma o nome de Botswana com junção do prefixo "bo" que quer dizer homem em língua Bantu a de "Tswana", nome da tribo mais numerosa daquelas paragens
Realizando regulares eleições ao invés de outros muitos povos de África, é considerado um exemplo de estabilidade política. Botswana é um grande planalto árido situado bem no interior de África meridional. É daqui que saem para o resto do mundo os mais puros diamântes dando ao povo um modo de vida melhor equilibradao do que a grande maioria dos países do continente negro.
Os principais grupos étnicos são os Tswanas, Kalangas, Khoisan entre outros dos quais os brancos nativos dali e indianos que para ali foram idos do Quénia, Zâmbia, Tanzânia, Ilhas mauricias, África do Sul e principalmente do Zimbabwé aonde a instabilidade ditada por Robert Mugabe (já falecido) a isso obrigou.
Aquela osga era-me familiar, dei-me conta de que só ela sabia alguma coisa da minha origem, minhas andanças. Sim! Quase percebi, chamar-me de Niassalês – sentia-me reduzido a um ponto de interrogação; acho mesmo que aquela gorda osga via pessoas que mais ninguém via ou conseguiria ver. Nesta questão de instantes o tempo murchou-me a vontade de entender se o pior era eu não suportar o balanço das potholes (buracos) ou as quezílias do tipo de entre gémeos.
O Botswana em 1966, era a segunda nação mais pobre do mundo. Desde então, transformou-se numa das economias mais consistente, com um alto rendimento nacional dando ao país um padrão de vida modesto. Apesar de sua estabilidade política e considerável prosperidade, o país está entre os mais atingidos pela epidemia do HIV/AIDS; estima-se que cerca de um quarto da população, seja seropositiva.
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3479 – 03.09.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila - Em Maun Rest Camp, cidade de Maun no Delta do Okavango…
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
À entrada da fronteira do Botswana em Popavalle ou Popa Falls, um posto fronteiriço, deparamos com o aprumo de agentes aduaneiros que nos atenderam duma forma surpreendentemente civilizada ao invés de outras anárquicas fronteiras aonde tudo se resolve com uns quantos dólares de gasosa.
Com os restos de murmúrios falsos, tinhamos a ideia formada de que o Botswana era um país esquecido com muitos burros mortos na estrada e desordenadas lixeiras, a comparar com outros países aonde impreparados chefes exibem arrogância impregnada de devaneios mal curtidos mas, foi um total engano.
Conhecer a terra é em verdade um laboratório de vida constante porque nos purifica e regenera. O corpo é em verdade o pára-choques das emoções recolhidas da terra. Estes kimbos, na forma de quilombos com paliça em circulo e, a contornar palhotas redondas, rondáveis feitas a barro com bosta de boi chapados à mão nos entrelaçados chinguiços amarrados a mateba (casca de àrvore ou arbusto) - a taipa; numa vastidão de capim ralo, formavam conjuntos harmoniosos.
Algumas cubatas, ficam circunscritas com cercas de paus, chinguiços duros dispostos em ciculo e, com uma só entrada, enterrados e afiados nas pontas viradas ao céu, com o fim de proteger das feras a quem ali vive. As lembranças de coisas passadas podem confundir-se com o hodierno numa amalgama de engravidadas verdades e no exacto momento de sobrevoar o kimbo grande de Maun, feito cidade de paliças no Botswana, desfrisei essas visões à mistura com os horizontes verdes de água silenciosamente parada deste Delta do Okavango.
Falo na qualidade de gente feita zebra, nem preto, nem mulato, nem branco de verdade porque o tempo desclassificou-me no quente vento da saudade. Saudade desnorteada no sonho encardido, juntando umas lágrimas ao Delta do Okavango e, lembrando a Angola da Lua da minha infância suburbana, amulatada do bairro da Maianga, inícios do Catambor…
No Delta do Okavango, cidade de Maun instalámo-nos em duas tendas do tipo campanha militar no Maun Rest Camp. O Motsentsela Tree Lodge tinha melhores acomodações mas nós preferimos sentir a natureza mais próxima através duma lona esverdeada ao jeito daquelas vistas em filme do Tarzan e, assentes em um estrado de madeira; os banheiros eram uns caniços esparsos instalados a meio do Rest Camp, sem qualquer cobertura o que, para alguns utlizadores, os inibia em usar, principalmente durante o dia destapado do escuro.
Maun é uma das cidades mais caracteristicas de África mantendo a tradição de construção redonda feitas em taipa de barro e paus cruzados, sendo cobertas a capim de canudo grosso caracterisico das margens do rio Okavango. No dia seguinte alugamos uma avionete e sobrevoamos o Delta a duzentos metros de altura vendo do ar, todo o tipo de animais desde o hipopótamo ao elefante, distribuidos em grupos naquela enorme extenção de charcos serpenteados por verdura, ora rasteira, ora de árvores de grande porte.
O explendor da biodiversidade estava ali espalmado ao redor fazendo-nos imensamente pequenos num pantanal maravilhoso (opântano do Okavango). Vivendo os dias no limite, queriamos que as coisas perdurassem assim seduzidas. Já distantes do Sul de Angola, linha de Calai, Dirico ao Mucusso, extravasando a face oculta do meu personagem "espia", mantinha-me fiel aos princípios éticos recolhendo vivências dos povos circundantes a Angola.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3478 – 02.09.2023
- Escritos boligrafados da minha mochila - no “Estado Livre de Fiume” em Grootfontein – com palavrório erudito.…
Por T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
O que importa mesmo reter é o revelar de relações entre as coisas, mesmo partindo de hipóteses falsas, premissas incertas. Na minha leitura diária pude verificar que segundo Mário Bunge um entendido em filosofia da física, que todo o coro de ideias científicas, serão avaliadas à luz de resultados a partir de tipos de testes a saber: 1-metateóricos, 2-interteóricos, 3-filosóficos e 4-empíricos. E, não se faz nenhum exame empírico a uma teoria senão depois de ela ter passado no crivo dos três primeiros testes. Estes carolas torram nossos neurónios a começar pelo palavrório da sua função erudita.
Nessa conjugação, o metateórico apoia-se na forma de conteúdo da teoria, particularmente a sua consistência interna. O teste interteóricos procura analisar a compatibilidade da nova teoria com outra. Só depois virá a prova filosófica situada no campo da respeitabilidade metafísica e epistemológica dos conflitos e pressupostos da nova teoria à luz de algum sistema filosófico. Cada um destes palavrões requer pesquisa apurada para penetrar nos neurónios e, de forma acertada, ser arrumada nos gavetões certos da compreensão. Mas, aqui em áfrica. o melhor mesmo, é termos os pés de Bohér com os olhos bem abertos para não nos espetarmos em qualquer espinho que atinja o coração.
Voltando à odiseia estória que nos dá voltas à mioleira, podemos saber lendo que depois da Segunda Guerra Mundial, a 3 de Maio de 1945 as tropas alemãs de ocupação foram substituídas pelas tropas do Exército Popular de Libertação da Jugoslávia. Nos primeiros dias do novo governo, vieram acompanhados do fuzilamento em massa dos ativistas do Movimento Autonomista.
O símbolo da cidade, a águia bicéfala, retornou ao uso apenas em 1998. No final do ano 2004, um grupo de fiumanos fundou a "organização virtual Estado Livre de Fiume" com a ideia de reunir os fiumanos pelo Mundo numa identidade própria. Como se pode concluir em história, quando tudo chega até nós já passou por um filtro e, muitas vezes tem a respeitabilidade “Ad Hoc” e de forma arbitrária.
Só depois e com as críticas de entendidos na matéria, é que surgirá o tal de “racionalismo” de pretensão universal com um simples “A priori”. Por hoje fico-me por aqui sem entrar no campo da logicidade plausível. Não fiquem assim matutando e, tentar entender as dificuldades da interpretação das coisas com a suprema “Teoria da Incerteza” ou um simples “Só sei que nada sei” para se refastelar nas palavras com frustrados sonhos.
Teremos sempre de ter em conta que os homens e mulheres com projecção viram monumentos da história; nestas projecções se acoitarão bichezas menores e qualquer animal inferior que por ali ande, fará suas necessidades aonde quer que calhe, porque as bitacaias feitas matacanhas, sem conceitos de alma penetram sim, nos olhos dos pés. Mas, sempre voltando à base daquele espaço, sabe-se que entre os cidadãos de Fiume de etnia italiana, um grande número emigrou por motivos étnicos já quase nos finais da segunda guerra mundial.
Aconteceu assim, fugir-se às ideologias de Hitler e suas perseguições aos judeus com outras razões ideológicas, que hoje nos causam forte repulsa. E, tendo sido a Namíbia, um território colonial alemão, aqui fundaram suas "Comunas Livres de Fiume no Exílio" e, à qual aderiram muitos fiumanos; surgir assim daqui, um território colonial mais brando nas questões politicas, penso eu, neste nome e, num lugar tão distante.
Para terminar esta estória bem intrincada, é deveras curioso encontrar assim, vastos territórios com uma aparente autonomia especial! Já deparei com isto às margens do Orange - Um território chamado de Orândia com moeda própria, bandeira e outros requisitos de gestão diferente do resto do país – África do Sul; também do espaço Casino de Sun City e Pilanesberg com um estatuto especial e do espaço e, Farm Parys- Free State às margens do rio Vaal perto de Potcheftsroom.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
Como se fosse um cofre, viemos futurar o destino em África, olhando dentro dele, ver o que já foi passado quando se abre e que, após seu fecho, só se pode pressentir o que poderá vir a acontecer, nada mais! Os segredos de Deus só a Ele pertencem! Na voz do bom senso, terei de esperar o amanhã, sem mais nada ter que fazer.
Que se saiba foi o único ser humano que subiu vivinho da costa até o grande salão de São Pedro - foi mesmo esse Eliseu! Que eu saiba, só o designado santo homem, numa forma fenomenal subiu aos céus de forma côngrua ainda em vida; ele tinha uma forte vontade de ir para junto de Deus e, foi em espiral que fez sua derradeira viagem astral. Creio que por lá ficou! Muitos acham que Elias, que também subiu ao céu em carro de fogo, cavalos de fogo e, edecéteras! Seria um ET? Porque não! Aqui, na terra dos espinhos longos, pensa-se em tudo…
A incerteza sempre irá prevalecer porque o condão do saber e do sempre querer, estarão encerrados na ilusão do que somos: nada!Nunca iremos descobrir tudo e melhor será, este assim. Antes que me perca em devaneios, volto à cidade de Fiume, em Croata Rijeka (ambos os nomes, em português, significam "Rio"), que recebeu autonomia pela primeira vez em 1719, quando com o decreto do imperador Carlos VI foi declarada porto franco. Em 1779, nos tempos de Maria Teresa da Áustria foi fundado o Corpus Separatum. Desde então, e até 1924, Fiume existiu como entidade autônoma com elementos de um Estado.
Com a derrota do Império Austro-Húngaro na Primeira Guerra Mundial, o status da cidade de Fiume tornou-se um problema internacional: a assim chamada "questão de Fiume". Durante a controvérsia entre o Reino da Jugoslávia e o Reino de Itália, as forças internacionais propuseram a fundação de um Estado independente. Em 12 de Novembro de 1920 o Reino de Itália e o Reino de Jugoslávia firmaram o Tratado de Rapallo, com o qual as duas partes reconheciam a total independência do Estado de Fiume e prometiam respeitá-la.
Com tal acto foi fundado o Estado Livre de Fiume, o qual existiu com duração de quatro anos. Agora que me estiquei nesta explicação, acho que terei de ir até ao fim prestando homenagem a esses sonhadores e exploradores fiumanos que tiveram essa sorte de o não serem expulsos numa farsa chamada de descolonização do TUNDAMUNJILA* (referente a Angola)… Sendo assim a todos os refugiados e retornados de Angola, poderemos chamar de TUNDAMUNJILANOS por obra e graça de um tal CR – Concelho da Revolução do M´Puto…
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