NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3490 – 21.09.2023 – De Kasane a Catima Mulila no Hotel Zambezi River Lodge
- Escritos boligrafados da minha mochila, – Aleatóriamente no após 1975 e, entre os anos de 1999 a 2018
PorT´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
A caminho de Katima Mulilo, cruzamos parte do Caprivi Game Reserve, uma faixa apresentanda no mapa como um dedo indicador apontando o Botswana. Com cerca de 180 Km de extensão com floresta de folha larga; a faixa, foi desenhada pelos britânicos em Berlim para poderem ter acesso a todas as suas possessões; Na sua maior extenção, esta faixa são duas linhas paralelas com 32 km de largura. Eles, os britânios, tinham a pretenção de unir Cape Town ao Cairo.
A faixa estende-se pela fronteira do Sul de Angola desde o rio Cubango ou Okavango até o rio Zambeze em Catima Mulilo e, que vai até Kasane de onde estamos saindo, lugar de encontro com o no rio Cuando, aqui chamado de Shobe. Vamos em sentido contrário ao rumo de Vitória Falls. O Delta do Okavango fica já do lado do Botswana, com ilhas dispersas, desaguando por assim dizer, naquilo que à séculos, foi um mar interior.
Já em Katima Mulilo resolvemos fazer compras no maior supermercado da cidade, pertencente ao Sr. Coimbra (já falecido), um refugiado Tuga ido de Angola logo após o 25 de Abril no M´Puto e sequente guerra do tundamunjila em N´Gola; parece que este senhor tinha uma qualquer ligação com a PIDE do M´Puto e numa primeira etapa de sua fuga assentou bivaque em Windohek, no Safári Motel do Sr Pimenta. Depois, rumou a Norte aonde se tornou aqui – em Catima Mulilo, um bem sucedido comerciante.
Tomamos contacto esporádico com a família Coimbra que tomava conta do negócio e depois dirigimo-nos até às margens do Zambeze aonde assentamos arraiais no Hotel Zambezi River Lodge de características tipicamente africanas e com acomodações para visitantes de mochila para camping, como nós. Foi bom ficar ali sentado na margem daquele Zambeze ainda manso cruzando pensamentos das terras do Fim-do-Mundo que no correr dos tempos pareciam ser só uma ilusão.
Éramos os exploradores bazungus, como diria a minha empregada Mery de Kampala: modernos com algumas mordomias como um canivete macgyver que tudo resolve e, seguindo as peugadas de Silva Porto, Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo ou Roberto Ivens. E, como foi bom pisar aquelas terras, ver manadas de elefantes raspando a terra impondo poder abanando as grandes orelhas a meter medo. Ao cair da noite fizemos o nosso brai com aquela carne saborosa de caça.
Carne comprada no supermercado da familia Coimbra, carne que só ali existia por aquelas paragens. E, como gostaria de repetir no futuro esta volta e mais uma vez - pensava assim ali sentado na beira do Zambeze admirando a kukia (pôr-do-sol) e, olhando-me nas rugas espelhadas nas quietas águas do Zambeze. E, só para mim, recordava o passado, da guerra do Tundamunjila de N´Gola, uma rebalderia chamada indevidamente de descolonização …
Recordava os Movimentos de Libertação, em particular da UNITA à qual pertenci e, que aqui descreverei de forma muito sintética, suficientemente sumária para preservar personagens como Dachala, Alcides Sakala, Zé Kat´chiungo e Adalberto da Costa Júnior; um mano Coordenador, que se salientou em Portugal na defesa da Unita tonando-se por voto popular e, com elevado mérito, em Presidente da UNITA e Presidente de Angola segundo os fieis relatos de vários Observadores Internacionais e dados internos do agora partido do Galo Negro – dados fidedignos e aferidos…
Isto de repetir o passado, acontece sim, porque o é necessário e, para no mínimo, ressarcir a verdade. Verdade que afeta bem mais de um milhão de gente maioritariamente boa e, indevidamente relegada ao esquecimento da razão - os chamados refugiados e retornados! Irei assim, decrevendo aos poucos, para não vulgarizar ou agudizar num só lote tal infortúnio e, inserindo-os nas várias viagens de agora e de mais tarde, aleatoriamente dum passado truculento e, até faladas em sentido contrário como se o fora uma marcha-à-ré, pois que quase foi assim que percorri o caminho que não nos levou a Dar-es-Salaam na Tanzânia. Bom! Isto será de atemporal descrição e, numa posterior forma de odisseia que fragmentada, bem pode remoer um futuro, num agora!
(Continua…)
O Soba T´Chingange
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