NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3510 – 31.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - “Tropas cubanas para Angola, já!” - Nossas vidas têm muitos kitukus…
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Cubanos em Angola para resolver os conflitos entre o MPLA, a UNITA e a FNLA!? Uma treta! As forças cubanas iam fundamentalmente para ajudar o MPLA. Luís Marinho da Revista VISÂO adiantou na conversa secreta entre Otelo e Fidel - Diz Otelo: “Foi uma conversa muito secreta, na qual Fidel começou por me contar que tinha recebido uma visita de Agostinho Neto, presidente do MPLA, que se mostrara muito apreensivo com o que estava a acontecer em Angola. Havia muitas forças em confronto: a FNLA, apoiada pelo Zaire e os americanos e a UNITA, apoiada pela África do Sul…”
E, continua: “…Quanto ao MPLA, Agostinho Neto temia que ficasse isolado, uma vez que também estava muito dividido interiormente. O MFA, via Rosa Coutinho, tinha evitado que o MPLA se afundasse. Tinha sido uma directiva do MFA. Agostinho Neto considerava que, se não houvesse apoio militar significativo, o MPLA seria esmagado. Segundo Fidel, Agostinho Neto já tinha contactado Costa Gomes, a quem pedira que as forças militares portuguesas ficassem em Angola, depois da independência, para arbitrar o conflito.”
E, continua: “… A resposta de Costa Gomes tinha sido muito evasiva e, Agostinho Neto não acreditava que o presidente português aceitasse o pedido. Desta forma, pediu apoio militar aos cubanos. Fidel Castro pediu a minha opinião (É Otelo que o diz), sobre isso, confessando que estava hesitante; garantiu-me que se as forças militares portuguesas ficassem em Angola depois de 11 de Novembro, não enviaria tropas cubanas para apoiar o MPLA. Caso contrário, estava disposto a envolver-se no conflito.”
E, continua: “…Eu disse-lhe abertamente que não acreditava que as tropas portuguesas podessem ficar em Angola depois da independência, tendo em conta a situação interna em Portugal, mas ofereci-me para levar uma mensagem ao Presidente Costa Gomes, a quem pediria que desse rapidamente uma resposta ao dirigente cubano.”
E Otelo, continua: “… No entanto, aconselhei Fidel a preparar as suas tropas para seguirem para Angola. Quando cheguei a Lisboa, no dia 31 de Julho, fui directamente para uma reunião do Conselho da Revolução, que só terminou por volta das seis da manhã do dia seguinte, 1 de Agosto. Apesar disso, falei com Costa Gomes no seu gabinete do Palácio de Belém, e expus-lhe a situação.”
E, continua: “… Só me disse que o assunto ficava com ele. Acho que Costa Gomes nunca respondeu a Fidel (mentira, digo eu…). De certa forma, esta conversa marcou o destino de Angola”. De facto os primeiros contigentes cubanos chegaram a Angola nos primeiros dias de Outubro. Foram transportados de barco e desembarcaram em Porto Amboim. Sabe-se que assim não o foi pois, entraram muito antes! Lá mais para a frente, vamos ficar a saber
Oficialmente, Cuba só respondeu ao pedido do MPLA em 5 de Novembro (Acho que foi bem antes com o envio de concelheiros e observadores…) . Foi então desencadeada uma operação de transporte de tropas, por via aérea, denominada operação Carlota, que, até à data da independência, 11 de Novembro, colocou em Luanda cerca de três mil soldados cubanos, afinal os principais responsáveis pela reviravolta registada na situação militar, favorável ao MPLA.
Por todo o lado, em Angola, de Cabinda ao Cubango, dia para dia, viam-se menos caras conhecidas da rua, no bairro, no trabalho; médicos, engenheiros, padeiros, contínuos, bancários. Davam o fora - bazavam de um momento para o outro sem nada dizer, talvez escondendo sua cobardia; não queriam ficar para assistir aos dez e onze de Novembro porque tudo era uma incógnita… Para trás iam ficando cidades fantasmas aonde só o vento uivava com alguns cães deixados ao abandono. Malange foi assim em um certo tempo, a cidade mártir, os relatos radiofónicos das emissoras, Oficial, Católica e Rádios Clube, eram de arrepiar…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3509 – 28.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - “Tropas cubanas para Angola, já!”- Nossas vidas têm muitos kitukus…
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Luanda - empresas e, até algo inédito, saído de gente que era publicamente notória como Deodoro Troufa Real, o arquitecto das rotundas (ainda vivo) assumindo posições Ad Hoc na Câmara Municipal de Luanda, toma foros de revolucionário proporcionando uma nova direcção de gestão no município; genéricamente, via-se por toda a Luanda muitas outras técnicas modenas de marketing com profissionais incitando ou anuindo-se à desobediência.
Usando modos nada comuns até então, expulsando homens de bem de forma irregular e, muitos edecéteras que sempre se relembram no tempo entre arrepios em nosso cerebelo… Só a 5 Junho de 1975, se operou uma primeira definição legal do estatuto de retornado, para determinar quem podia obter o apoio do Estado Português. Em primeiro lugar, devia ser cidadão português, segundo os requisitos da nova lei de nacionalidade de Junho de 1975.
Como em outros países, Portugal, ainda na charneira de se ter tornado um estado póscolonial, teve de redefinir os contornos do acesso à sua nacionalidade no contexto pós imperial ou colonial. Para ser reconhecido como retornado, devia-se também ter residido numa ex-colónia portuguesa, estar numa situação de carência e, por fim, ter chegado à antiga metrópole depois do dia 1 de setembro de 1974 .
Esta primeira definição foi complementada por uma resolução do 21 de outubro de 1975 estipulando absurdos que não se concretizaram. O M´Puto, era uma bagunça de governo tendo um chefe militar de nome Otelo Saraiva de Carvalho que se deslocou propositadamente a Cuba pedindo a Fidel de Castro a intervenção de militares dessa Ilha na ajuda ao MPLA. O estratego do 25 de Abril, na altura comandante do COPCON e governador militar de Lisboa empenhou-se na visita, cuja concretização, foi aprovada pelo Conselho de Revolução.
A ajuda de Cuba veio a acontecer mesmo antes do 11 de Novembro, por uma via revolucionária a que chamaram de PREC – Processo de Revolução em Curso que felizmente teve seu fim no 25 de Novembro de 75! Otelo Saraiva de Carvalho regressou de Cuba, mais entusiasmado com o sonho do Poder Popular. Otelo não escondia que Fidel Castro e Che Guevara eram dois dos seus ídolos, confessando que admirava muito a experiência da revolução cubana. A postura da Nação através do CR-Conselho de Revolução não o foi por isso, inocente.
Tendo apenas Raul Castro como testemunha, Fidel e Otelo dicidiram no sentido de Cuba enviar soldados em força para Angola, para mediar o conflito entre MPLA, UNITA e FNLA (uma falácia genuina, pois que só o MPLA veio a ser favorecido). Otelo aconselhou a Fidel preparar as tropas. No regresso a Lisboa, contou a conversa ao Presidente da República, o Marechal Costa Gomes (o rolha) pedindo-lhe que desse uma resposta urgente àquele líder cubano.
A resposta foi afirmativa na premissa de urgente. E, a hipocrisia deu nisto: Que se saiba, a resposta portuguesa nunca chegou a Havana. Costa Gomes afirmou que não se lembrava de nada. A revista VISÂO revelava em primeira mão os pormenores de uma conversa que se manteve secreta durante 20 anos: aquela em que o dirigente cubano anunciou a Otelo Saraiva de Carvalho, em Julho de 1975, o envio de tropas para Angola.
Segundo Luís Marinho da Revista VISÃO, a 19 de Outubro de 1975, um ou dois dias depois da Festa Nacional de Cuba (já não se recorda com exactidão do dia), Otelo foi convidado para um almoço privado com Fidel Castro e seu irmão, Raul. Num restaurante perto da estância turística de Varadero, chamado Los Canaviales, os três homens tiveram uma conversa que se manteria secreta. O assunto era Angola. A menos de cinco meses da data prevista para a independência da ex-colónia portuguesa, ganhava força o conflito militar entre MPLA, FNLA e UNITA, sem que Portugal conseguisse um mínimo de controlo. Otelo revela esse episódio, que influenciou no rumo do conflito angolano.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3508 – 27.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Às conversas no Mukwé entre os três da vida eirada de agora, T´Chingas, João e Oliveira do Mucussu, juntou-se-lhes o Teles da Ondjiva, caçador de pacaças naquele período de tempo já ultrapassado; os acidentes em nossa normal existência numa terra que pensávamos ser nossa, eram tempos torturados na mistura de assuntos comuns, de cacaracá.
No descuido de uma periclitante existência, pensavamos falando coisas defuntadas de nossa singularidade. Em plena Ovobolândia, as malambas, surgiam após um café pingado, umas gotas de bagaço ou medronho do M´Puto traficado na candonga do Rocha ou do Bicho de Ochakati.
Eu, T´Chingas, acabei por relembrar que aqueles dias na Luua, na feitura do caixote do baú das saudades futuras, era comum ver-se um furtivo vulto que saído das vielas dum musseque ou de carros que passavam nos bairros da cidade, atirando rajadas para o ar, para um qualquer lado. Lançavam àtoa para um qualquer jardim ou taipado, granadas da qual saiam afiados restos de molas da morte.
Mandavam obuses ou morteiradas, rockets, aleatoriamente para o ar que logicamente iriam cair num qualquer sítio, provocar estragos e mortes. Estando eu na ponta da ilha, perto do farol, guarda da baia da Luua, na conhecida Barracuda com a família, viam-se rolos de fumo, estrondos e balas tracejantes sulcando o ar do outro lado continental como se o fosse um fogo de artificio de feira popular feita festival.
Talvez Cuca, talvez Sambizanga, Terra Nova, Cazenga, Caputo ou Bairro Operário. Eram as ordens do DDT – o dono dquilo tudo, o Vemelhão almirante chamado de Rosa para assustar a malta. A malta, eramos todos nós, pode? Uma boa parte das armas usadas neste assustamento, eram das forças regulares do exército português dadas a esmo pelo MFA-NT, aos populares afectos ao MPLA – os camaradas.
Entretanto obrigavam a etnia branca a entregar todo o tipo de armamento. Sei que isto já foi dito mas, convem recordar: um tempo de muita manigância, farsas trabalhadas por operadores, locutores saídos de uma jihade de desinformação, factos novos entre coisas de guerra a que chamaram de monacaxitos, alarmes falsos tratados em comunicados alarmistas, assaltos a laboratórios de hospital.
Roubando corações de gente para incriminar o suposto inimigo de canibalismo. Aconteceu isto, algo inaudito, baixaria usada pelo MPLA, acusando a FNLA, os ditos fenelas, de canibais, comedores de corações humanos feitos em Indi Amins. Colando cartazes com estas e outras vísceras nas paredes das casas, quintais, junto a escolas e parques, nas avenidas e postes de iluminação.
Numa dada altura dá-se a conhecer um tal de senhor Falcão insinuando-se como líder dos gwetas, t´chinderes brancos, um manobrista laranja do MPLA… Aiué besugos meniés (falas antigas) ficando tresmalhados assim como autenticas formigas kissonde ou salalé abandonando seu ninho soàtoa. São tomadas por pseudo democratas, genéricos rufias, de punho no ar, instituições, correios, municípios, organismos oficiais, grupelhos organizados alterando a normalidade, originando um baixar-de-mãos nas empresas.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3507 – 22.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Em Luanda e no ano de 1975, uns nove meses antes do 11 de Novembro, as leis e ordens saiam já apodrecidas do Comando Militar; passeavam mortos pelas ruas como contestação ao ritmo de salto zulu, as fábricas iam fechando, os taxistas eram mortos de forma barbara; o ambiente era de se cortar à faca-catana escaldante na insegurança generalizada no presente do indicativo, tornando o gerúndio numa incerta loucura de futuro imprevisível…
Naqueles dias, o amanhã transtornava a sociedade numa ginasticada ideia de sem se saber como iria ser - a fuga. Os locais mais concorridos eram o Aeroporto de Belas e o Porto de Luanda. Destino: Um qualquer sitio - seja aonde for! Naquele tempo surgiram do nada, muitos rambos com fitas de cunhetes a tiracolo passeando desaforo e medo na companhia daqueles, alguns magalas esqueroidos, oficiais alferes, praças das NT e, salvo-seja "nossos irmãos" que diziam com frequência: Vocês colonos, vão-se foder!
E, foi… Aconteceu! A cidade suja, pegajosa e desnorteada, cheirava a cansaço, a suor, a medo e coisas mortas esfrangalhadas pelos cães vadios. Naqueles dias de catinga ouvia-se noite fora os martelos encerrando vidas, encafifando pertences e recordações. Também se ouviam rajadas lá para cima, mais ao lado e na outra banda das barrocas do Miramar. Da ilha de Luanda podia ouvir-se rebentamentos, colunas de fumos lá num suposto lugar do Sambizanga ou Bairro Operário…
Também do Bungo, do Caputo, do Cazenga, da Terra Nova. Não! Não havia naquela terra de N´Gola, mais lugar para os Tugas e assimilados a estes! Não venham agora com tretas e esquecimentos! Se antes era perigoso ser preto, agora era muito perigoso ser-se branco… Não! O passado vale pelos seus actos, pelas atitudes! Não me vou agora enganar no posfácio da vida, dispor-me a calar, engolir inverdades à força.
Bom! Eis que surgiu então um filho da puta com o nome de Rosa Coutinho que de raiva vermelha fez o que quis! Ele e seus pares do MFA pintaram e bordaram, gozaram à tripa forra com Spínola, fizeram dele um chinelo, um merdas muito cheio de prosápia armado em rambo, oficial de pingalim, monóculo e luvas reluzentes com um chapéu de banga, assim enfeitado de pedante de carnaval com um símbolo doirado. Um Mobutu Sese Seko do M´Puto…
O Consul americano em Luanda por via de desacatos, tiros e rixas, um pouco por todo o lado da Luua disse nesse então: “…os acontecimentos ilustram bem como não gerir uma crise”. Pois então! “As autoridades militares, inacreditavelmente foram simplesmente inaptas para lidar com a situação”. Pois claro! A merda foi calculada, premeditada e facilitada!
Como podíamos nós encarar esta situação e dar rumo a falsidades… Como ficávamos nós acantonados sem resguardo no Prenda, no Kazenga, no Palanca, na Calemba, na Cuca, na Maianga, no bairro Mota ou no bairro Popular, como? E querem que me cale! Nem morto… já em fins de 1974, inícios de 1975, os desacatos sociais na forma de guerrilha, aproveitavam o baixar de braços e armas das forças armadas portuguesas. As Forças Irregulares dos movimentos tendo o MPLA à proa do terror, situadas na Luua capital, e um pouco por toda a Angola, alastraram até às cidades e vilas como N´Dalatando (Salazar), Huambo (Nova Lisboa), Lobito, Benguela e Lubango (Sá da Bandeira).
Os acontecimentos procediam ao mais leve desaire, ao mínimo pretexto e na maior parte das vezes porque se pretendia que assim o fosse. Negativamente e de forma exponencial o MPLA e a FNLA aliciavam as populações a fazer alastrar a subversão a todos os centros urbanos fazendo correr boatos complicando a vida de normalidade. Havia boatos, muxoxos e muitos corpos na morgue trazidos das cidades e fazendas do Norte. Eu T´Chingas, convivi com isto pois morava bem perto da Morgue do Hospital Maria Pia bem ao lado da Maianga…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3506 – 19.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Ali no Mukwé, apanhando a brisa do rio Cubango ou Okavango, à sombra de uma marula, aleatoriamente, eu, T´Chingas, João Miranda ou Oliveira, retrocediamos as imagens de nossas vidas em Angola, trinta, quarenta ou cinquenta anos lá para trás. Recordavamos o que tantos equeciam ou faziam por esquecer com laivos de raiva misturada aqui e álem em falripos de covardia generalizada.
Covardia generalizada perante a postura oficial musculada do MFA através de NT – “Nossas Tropas” do M´Puto, estacionadas em Angola para dar segurança a todos. Tropas que tiveram como primeira missão desarmar os civis ditos “colonos”, gente de segunda e terceira geração que tinham a Mutamba da Luua como sua Capital, que nem conheciam a Lisboa da Metropole.
Em câmara lenta conseguíamos fazer ver o ínfimo pormenor nos filmes que corriam em nossas mentes. E, a vida surgia-nos num truque do espaço-tempo imaginário, calculado nas respostas silênciosas às estórias que nos pareciam agora saídas de ficção de um filme tétrico e tráico, Falas somando eventos com mentiras bidimensionais, manobras de diversão tridimensionais; falas que em seu tempo muito mal nos fizeram neste universo observável!
Em Março de 1975, oito meses antes do dia 11 de Novembro, data marcada para a independência, as autoridades coloniais de Lisboa, criam os organismos, o IARN e o QGA – Quadro Geral de Adidos cuja missão era proceder à “integração na vida nacional” no M´Puto, dos retornados que viessem das antigas colónias, através da implementação de um conjunto de medidas, em colaboração com organismos estatais e privados.
Assim, oito meses antes do 11 de Novembro de 1975, haveria que juntar pecúlios num caixote para levar a um qualquer sítio longe dali; não se sabia bem ao certo para onde ir e, como ir! Durante dias e durante noites, só se ouvia por toda a Luanda o barulho do martelo batendo o prego, a broca furando taipais do baú-caixão para guardar futuras saudades.
A foto do cachorro, do louro, da vizinha e das outras, lembrando o Mussulo, a Barra do Kwanza, a Ilha ou as Mabubas ou as lagoas do Lifune e Panguila. Foram tempos de se fazer caixotes, uma empreitada, percurso da tumba via kalunga ou pelos ares, bufando desesperos na ponte LuuaLix de quem ninguém poderia evitar pela força dum medo desenhado por balas tracejantes ferindo o escuro da noite.
Balas tracejantes que nem fogo de artificio furando cerebelos, fumos e sons, e nuvens de fumo ora pretos, ora brancos, cheiro de morte saindo dos bairros populares ao redor da Luua, dos Musseques Sambizanga, Rangel, Caputo, Catambor, Caznga, Morro da Cal, Bungo, da Corimba da Luua, entre outros… Num tempo em que ninguém media consequências, a moralidade em Angola e na Cidade de Luanda, Cidade Alta, Palácio do Governador ou do Alto Comissário, era uma batata apodrecida.
Nesse então, no M´Puto, o deputado socialista de Faro, Eurico Correia, alertava assim: Com a vinda dessa gente, “Aumentará o número de escorraçados de Angola, para não dizer retornados, e estes homens vão criar problemas gravíssimos, tensões enormes, no nosso país (M´Puto). São homens sem habitação, são homens sem trabalho, são homens com ódio no coração, homens que vêm com as suas famílias procurar uma nova vida, que já perderam lá”…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3505 – 18.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
PERFIL ETNO-HISTÓRICO DO POVO ANGOLANO - II*
(…)- Foram Estados fortes pela alma do seu povo, que sempre acreditou ser povo da terra dos destemidos, dos guerreiros. Ao lado das narrações, lendas e adágios, a canção testifica o passado: Kapalandanda wa lila; wa lilila ofeko yahe yilo ofeka yoku loya, ka loyele a tunde ko!... - Kapalandanda chorou, chorou pela sua terra... Esta é terra de combate, quem não luta, saía! O que fica consubstancia a mensagem secular do grito da liberdade "TERRA E LUTA ARMADA".
LUNDA-CHOKWE: Ocupa as província da Lunda, parte do Moxico e está também dissiminado nas províncias do Cuando-Cubango, Huíla e leste do Bié e compreende os Lunda-Lua Chimbe, Lunda-Demba e Chokwe. A tradição conta que os Chokwe, negando ser tributários do Rei Lunda, expandiram-se numa vasta região do Moxico, Bié, Cuando-Cubando e Huíla. Antes da sua expanção, os Chokwe permaneceram estreitamente ligados ao Império Lunda, até que fundaram vários Estados. São comerciantes, caçadores e apicultores, o que faz da área dos Lunda-chokwe um centro comercial importante com os povos do planalto central até aos princípios deste século.
NGANGUELA: Povoando as províncias do Cuando-Cubango, moxico e parte do Cunene e Huíla, o grupo étnico-linguístico Nganguela compreende os Luimbi, Luchaze, Bunda, Luvale, Mbuela, Kangala, Massi e Yavuma. Os Nganguela destacam-se como pescadores (os Luvale são exímios pescadores que não se deizam influenciar pela época do ano) e notáveis apicultores. Vivendo longe da costa do Atlântico e num habitat disperso, os Nganguela só foram dominados pelos portugueses a partir dos anos de 1920, dominação esta que sofreu resistência dos Bunda, chefiados pelo seu dirigente Muene Bandu, assim como dos Nhemba, com o Rei Chilhauku. Divididos em sub-grupos, não tiveram autoridade centralizada; contudo formaram importantes Reinos, dentre os quais se destacaram os Reinos do Kubango, de Massaka, ou da Raínha Lussinga, de Senge e dos Luvale, sob a prestigiosa dinastia Nhakatolo.
NHANEKA-HUMBI: Vizinhos dos Ovimbundu e dos Ovambo os Nhaneka-Humbi espalharam-se por Províncias da Huíla e do Cunene e compreendem entre outros, os Muíla, Humbi e Gambo. Dedicando-se à pastorícia e praticando uma fraca agricultura, de vida semi-nomada, tiveram reinos fortes que resistiram ao colonialismo.
OVAMBO: Ocupando a Província de Cunene, entre o paralelo 16ª e a fronteira com a Namíbia, é constituído por Kuanhamas, Kuamatuis, Evales e Kafimas. Praticando uma agricultura de subsistência, tem a sua base económica na criação de gado que, por factores climáticos e baixo nível de desenvolvimento, não se libertou da vida semi-nómada. Sente-se ainda o calor de Mandume, que conseguiu unir o povo e fazer resistência forte aos Portugueses até Stembro de 1917. A sua capital foi Onjiva, cujo nome foi novamente retomado em substituição de Pereira d`Eça, nome que fora dado pelos Portugueses.
HERERO: O Herero é também um dos grupos populacionais do nosso País que se espalha na Província de Moçamedes, Sul de Benguela e Oeste de Huíla. Tal como seus vizinhos Nhaneca- Humbi e Ovambo, dedica-se à criação de gado. Cada um vê no gado graúdo o seu capital e nas crias o seu lucro final.
KUANGAR-BUKUSSO: O grupo linguístico Kuangar-Bukusso ocupa toda a faixa Sul da Província do Cuando-Cubango. Agricultores pacientes devido à acção cíclica da estiagem, têm a sua economia na criação de gado. Também praticam a pesca nos rios Cubango e Cuando.
OS VASSAQUELE: Os Vassequele constituem um grupo numericamente muito reduzido, que se encontra na Província do Cunene e no sul do Cuando-Cubango. Caçadores infatigáveis, têm sido nómadas ao longo dos tempos. Porém com a influência dos povos Bantu, quase todos adoptaram a vida sedentária, fazendo pequenas lavras, sem terem deixado a caça e a procura de fruta e mel. Os Vassaquele possuem uma linguagem especial, caracterizada por "clics" ou estalidos. Foram os autores das maravilhosas pinturas que se encontram nos rochedos, em muitas grutas do Sul de Angola, como na gruta do Chitundo-Hulo no deserto de Moçâmedes.
Nota*: A étnia branca ariana que não faz parte deste rascunho etno, surge com o inicio da colonização com Diogo Cão no ano de 1480, espahando-se por todo o territário da actual Angola. Legou internacionalmente ao país o ideoma português como oficial, tendo sido o aglutinador dos demais povos que usavam e, que ainda usam outros dialectos no contexto de relação regional. Esta étnia (os t´chinderes, xi-colonos – 500 mil), em numero elevado, viu-se obrigada a abandonar o país por via de uma chamada de DESCOLONIZAÇÃO dirigida por Portugal e, após as guerras de Tundamunjila (Vai embora) e Civil, entre o MPLA e UNITA…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3504 – 17.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
PERFIL ETNO-HISTÓRICO DO POVO ANGOLANO*
Antes de prolongar os escritos sobre o tempo da Dipanda, de um passado recente (48 anos) em Angola convêm saber que a base ético-linguística do país, compreende os grupos populacionais BANTU e uma minoria não - BANTU, os VASSEQUELE. OS BANTU´S - Habitando não só Angola mas também a África Central, Meridional e Oriental. O povo Bantu constitui um grupo especial entre os negros da África. Eles têm três elementos comuns sobre os quais nenhuma contestação é possivel:
a) O mesmo sistema linguístico; b) Uma civilização base; c) Unidade nas ideias filosóficas. Na vastidão das áreas que ocupam, a arrancada rumo ao progresso não se deu num dia nem obedeceu, depois, a uma velocidede uniforme. Assim, no progresso histórico do desenvolvimento da sociedade, uns avançaram mais que outros. O povo Bantu desenvolveu a metalurgia, a agricultura, a criação de gado, a pesca, o que lhe dava uma ascendência económica e militar.
A influência do meio geográfico, o modo de vida e a influência linguística de outros povos fazem com que existam em Angola nove grupos étnico-linguísticas. Também conforme o grau de desenvolvimento, o crescimento demográfico e o nível de organização, os grupos ético-linguísticos mais fortes tinham formado Reinos que marcaram a sua história. Assim temos:
BAKONGO: O grupo étnico-linguístico Bakongo, ocupa o Norte e o Noroeste de Angola, na área que abrange Cabinda até às linhas do rio Dande. A língua falada é o Kikongo. Repartidos aquando da partilha do Continente Africano pelos países colonialistas, uma parte desse grupo passou para as actuais Repúblicas do Congo e Zaire. A tradição ancestral diz-nos que foi um chefe chamado Nimi a Lukeni que reuniu no passado todos os clãs que falavam Kikongo, fundando o Reino do Congo, com capital em Mbanza Kongo, situada na província Angolana do Zaire. Povo trabalhador e comerciante adoptou a moeda "nzimbu" que consistia de conchas marinhas, muito antes da chegada dos Portugueses, o que assegurou o apogeu comercial do grande Reino do Kongo. Dada a situação geográfica, foi o primeiro Reino contactado pelos portugueses, em 1482.
KIMBUNDU: Vizinho imediato dos Bakongo, a sul, entre os rios Dande e Cuanza, o grupo étnico-linguístico Kimbundu espalha-se de Luanda até aos Lunda-Chokwes e confina a sul com os Ovimbundu. Antes da população Portuguesa, os Kimbundu tinham formado os Reinos do Dondo, Matamba e Estados da Kissama, onde florescia a agricultura e o comércio. Primeiro grupo invadido militarmente pelos Portugueses, a partir dos meados do século XVI, a história nunca poderá esquecer-se dos seus grandes feitos heróicos na resistência contra a dominação estrangeira, sob o comando dos seus chefes, de que a Rainha Nzinga é expoente máximo do século XVII.
Compelidos de várias formas a conviver com os Portugueses durante séculos, os Kimbundu sofreram inflência Portuguesa, intensiva aqui e extensiva acolá, com a fundação das primeiras instituições escolares na área, o que afectou sobremaneira a sua base cultural Bantu. Em contrapartida, surgiram entre eles os primeiros passos da literatura em Angola.
OVIMBUNDU: Grupo étnico-linguístico mais numeroso, ocupa o Planalto Central de Angola nas Províncias de Benguela, Huambo, Bié, na maior parte do Cuanza Sul e no Norte da Huíla. A sua língua, umbundu não tem fronteiras no interior do País e marca presença forte no Zaire, na Zâmbia e na Namíbia. Grandes comerciantes e agricultores dedicados da África Austral, os Ovimbundu repisaram o sub-continente do Atântico ao Índico e promoveram um intercâmbio forte de experiências e valores culturais, o que marcou fundo a sua psicologia, que faz da convivência com outros povos a sua característica principal.
É históricamente conhecido como trabalhador, hospitaleiro e paciente, mas implacável quando lesado nos seus direitos. Durante a ocupação colonial, sofreu grande influência Cristã e atingiu o maior índice no País de alfabetização e de quadros intelectuais e técnicos de níveis básico, médio e superior. Os Ovimbundu formaram vários Estados antes da ocupação colonial,de entre os quais se destacaram os seguintes: Mbalundu, Wambu, Viye, Ndulu, Ngalangui e Chiaka. Estes Estados constítuiram uma divisão administrativa da vasta área e não do seu povo unido e amalgamado na língua, cultura, tradição e carácter comum do poder - o Poder Democrático.
Nota*: A étnia branca ariana que não faz parte deste rascunho etno, surge com o inicio da colonização com Diogo Cão no ano de 1480, espahando-se por todo o territário da actual Angola. Legou internacionalmente ao país o ideoma português como oficial, tendo sido o aglutinador dos demais povos que usavam e, que ainda usam outros dialectos no contexto de relação regional.
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3503 – 15.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Repito: Estudantes barbudos do M´Puto na visão de Ché Guevara, ao seviço do PREC – Proceso de Revolução em Curso, ensinavam a estes, os pioniros do MPLA (crianças / candengues), o manejo de armas de madeira a fingir AK-47 de Mikhail Kalashnikov, G3 ou Mausers… Estudantes estes, que regressados à Metrópole (M´Puto), teriam passagem administrativa garantida na sua Universidade ou Instituto - o tal de PREC, Revolução parva saída do 25 de Abril de 1974 e, que só terminou a 25 de Novembro de 1975, data posterior ao 11 de Novembro (14 dias depois) – Dia da Indepêndencia de Angola.
Convem aqui fazer uma leve referência a esta data de 25 de Novembro, que tardiamente e com intervenção de oficiais cientes daquela aberração acabaram com esse grupelho liderada por Otelo Saraiva de Carvalho… No M´Puto, os militares moderados viram-se forçados a iniciaram a ofensiva contra o estado caótico da nação, tomando posição a partir do posto operacional da Amadora, liderado por Ramalho Eanes.
Um pelotão blindado do RC do Porto movimentou-se até à Base Aérea de Cortegaça, onde estavam os 123 oficiais que abandonaram a base de Tancos uma semana antes. Jaime Neves, pouco depois das 19h do dia 25, saiu com uma força do RC da Amadora cercando as instalações da Força Aérea em Monsanto.
Enquanto o M´Puto seguia sua senda na procura da ordem institucional, teremos de recuar agora à Luua, a capital de Angola lembrando no entanto que o politico Mário Soares, lider do PS do M´Puto, que tardiamente, se apercebeu do estado caótico do rumo que o país levava, decididindo anuência a esta intervenção militar do 25 de Novembro de 1975 em Portugal e, que por fim, acabou com a bandalheira esquerdoida.
Em Angola surgiu o Poder Popular! E surgiu o Kaporroto, o kuduro e a vitória é certa. Eles já tinham inventado o monstro Imortal, o Valodia e o Monacaxito… Tudo era planificadamente certíssimo! Melo Antunes, Rosa Coutinho e uns quantos que nesse então ainda não tinha dado à sola para o álem (mas, que acacabaram por ir sim…)
As makas organizadas eram-no com o objectivo de criar o caos, provocar pancadaria e depois a vitimização com características de sofisticada mentira. Isso mesmo! Meter tudo ao barulho, pressionar psicologicamente supostamente as autoridades com vinculo à lei e ordem criando condições de favorecimento ao MPLA por parte dos militares do MFA das NT, e CCPA – Comissão de Coordenação do Programa do MFA e o Alto-Comissário.
Às tantas, já se fazia tudo às claras. Até o Idi Amim Dada se dava conta de tudo isto! Em um encontro de Melo Antunes com Henry Kissinger, aquele responsável português e a pedido do Secretário Americano disse que era difícil de lidar com Agostino Neto (era só mesmo para agradar àquele diplomata da USA…). Esse cérebro guia dos demais, chamado de Melo Antunes, foi dizendo a Kissinger que era difícil de classificar politicamente Agostinho Neto como um comunista ortodoxo!
Agostinho Neto, íngrato àquele e tantos outros esquerdoidos do M´Puto tiveram de engolir a falácia que este usou: à coisa dada ao MPLA, (Angola) teve a desfaçatez de dizer que a liberdade, não se recebe, arranca-se! Mas, que grandes mentiroso! Neto, com laivos de poeta (diga-se de baixo coturno…), dava dicas torpes de mau agradecimento aos militares revolucionários do M´Puto, quando em verdade, tudo recebeu destes (traidores…) Mas que pulha! Bem feito, cambada! Alguns não gostaram, diga-se… Assim e com João Miranda do Mukwé, algures no Shitemo, acabamos as falas da tarde com uns goles de gim com água tónica para espantar mosquitos…
GLOSSÁRIO: - *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante e depois dos longos anos da crise Angolana, após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional; Banga – estilo, vaidade excessiva; Tuji – excremento, merda; Mwangolés – os donos de angola, os generais que se apossaram da Nação Angola por via de seu poder libertário; Muxoxo - expressão com som de língua com palato em forma de estalo em desdém pelo dito; Mututa – da bosta, de ralé; Maka – confusão, rixa, alvoroço; Missosso – Conto breve de cariz popular em Angola; Kituku - mistério; Kaporoto – Vinho bolunga feito a martelo, de fermentação rápida com pilhas de lanterna; Uuabuama - maravilhoso; Oshakati – Nome de terra ao Norte da Namíbia; Lodge – Hotel de superfície, conjunto de casas para turistas; Rundu – Cidade do Norte da Namíbia, fronteira com Angola no rio Okavango; Grootfontein- Cidade da Namíbia que acolheu os refugiados de Angola, Xirikwata – pássaro que come jindungo…
(Continua...)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3502 – 12.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata” - Nossas vidas têm muitos kitukus…
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
E afinal, que foi feito do Tenente Fernando Paulo? Pensando nele demo-nos conta que era o fim do império colonial. E isso, nós (Eu, João Miranda e Oliveira do Mucusso) queríamos que acontecesse sim! Que fiique claro, também ansiávamos pela independência. Mas, e mais mas nagativos, tão seguidos, mostraram de forma paulatina as feras sendo largadas das jaulas com a lei 7 barra 74 do MFA. A Luua eclipsava-se! O resto de Angola esfrangalhava-se ficando uma terra sem lei nem roque…
Tarde piaste! Momentos de muita inocente incerteza; abandonar tudo, entregar a chave do carro ao jardineiro da casa, o cão pastor alemão à Mariana, uma exemplar serviçal ao nosso serviço, na Caála; O mesmo que aconteceu a tantos, maioritariamente brancos na pele. Na Luua, de Kalash ou G3 na mão, a lei e a ordem, a justiça eram coisas transgredidas, inexistentes ou mesmo anedóticas pela pior das negativas…
Estávamos na segunda metade do ano sem graça de 1975 - Vai haver maka, porrada mesmo! (assim diziam). E era um virar a arma para o ar e despejar cunhetes átoa para assustar branco; balas oferecidas pelas nossas gloriosas forças - NT do M´Puto a mando do Rosa Coutinho. O medo controlava a população da Luua desorientada, assustada como um kissonde pisoteado com o apoio e fervor revolucionariamente denso do MFA importado do M´Puto - Do povo unido jamais será vencido! Que povo era esse?
A anarquia fazia-se sentir em todos os lados, nos meios urbanos ou mato com pequenos núcleos de população, Em Malange, No Huambo, no Kuito, em um qualquer lugar com picada de acesso. E, agora vamos fazer o quê para o M´Puto? Talvez Brasil!? Quem sabe – Austrália ou Argentina! “As NT - Nossas Tropas”, já não eram nossas; davam cunhetes, canhões, paióis inteiros e até carros de combate numa perfeita cooperação de entreajuda FAP- FAPLA mandando prólixo os acordos de Alvor, da Penina e Nakuru… Estes, forneciam abertamente ao MPLA, as fotos aéreas em progressão dos supostos “inimigos”- FNLA e UNITA…
As NT, davam tudo, até as coordenadas do alvo numa logística total oferecida a custo zero ao MPLA. Com escassos soldados e mal apetrechados do MPLA, o MFA por via das NT, davam a estes impreparados militares, por vezes cheios de liamba no corpo: carros, granadas, morteiros, armas de repetição, mapas e fardamento; tudo, tudo sem garantir o que quer que fosse à gente de étnia branca e mestiça de terceira e até quarta geração; gente que não conhecia outra qualquer terra para poder viver…
“As NT - Nossas tropas” organizavam planos de voo com dados de meteorologia e até furtavam casas aos colonos e afins em apoio ao MPLA: Isso! Saque dos haveres de colonos que saíam desordenadamente de suas casas, abandonando tudo. Há testemunhos vivenciados na Avenida Brasil, na Vila Alice, na Avenida dos Combatentes, Zona do Kinaxixe, Bairro do Café e, um pouco por toda a Luanda de então. Um perfeito saque, em plena luz do dia Uma frieza ímpar ultrajando a história de Portugal Ultramarino.
O MPLA da Luua, por sugestão do Vermelhão Almirante Coutinho, inventava a maka! E, eram makas sobre makas, paralisações descabidas. Inventaram os pioneiros que eram trabalhados em marcha no esquerdo e direita por jovens estudantes do M´Puto! Estudantes barbudos na visão de Ché Guevara, ensinando a estes o manejo de armas de madeira a fingir AK-47 de Mikhail Kalashnikov, G3 ou Mausers…
Muitos dos “libertadores” sonhavam com a casa, o carro, os privilégios e as posições dos colonos. Conquistaram-nas e tornaram-se piores do que estes. Desculpar-se-ão com a guerra do TUNDAMUNJILA formando esquemas para transgredir os limites da legalidade. Uns quantos, continuam ainda a roubar o país quarenta e oito anos depois, enquanto o povo olhando as velhas fotos amarelecidas, passam-nas em sua máquina de pensar. Já desbotadas, tombam com elas, a vontade de querer, definham-se desmilinguidos em camadas de pó de sonho…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3501 - 10.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata”
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Recordo que nos dias que ali passei no Mukwé e, num dos almoços feito pelo cozinheiro Kafundanga, tendo Tata kadinguila seu auxiliar, também engraxador das botas do patrão João, eu, armado em bravo macho quis provar do jindungo onoto chamado de xirikwata da casa e, tendo a Dona Elisabete de forma bem convincente que este dito, edecéteras e tal, que o era muito bravo, que tivesse cuidado com aquele “cahombo” de fogo, estando eu habituado àquele viagra, obviamente não o temia.
Logo a seguir, nossas conversas adiantavam noticias velhas e já carcomidas: Em Angola os vindouros mwangolés,“ conquistaram a independência de borla”, tornando-se piores do que os colonos… Dizem que a conquistaram mas, foi só um chavão para encobrir todas as benesses recebidas dos capitães e generais de aviário do M´Puto…
Em Kampala, o presidente da OUA, Idi Amim Dada, insistia para que a data da independência fosse mantida sendo Portugal a responsabilizar os nacionalistas por um não acordo - coisa inaudita, de rir!. O Secretário-geral da UNITA presente à conferência acusou as FAP/MFA de não se oporem à entrada de armamento e mercenários a ajudarem o MPLA …
Acontecia sim, em Luanda, no Lobito, Sá da Bandeira e Pereira D´Eça. Nesta Pereira D´Eça (a actual Onjiva) o comandante português entregou o aquartelamento a elementos do MPLA tendo-os vestido com camuflados do exército português, uma clara desobediência e afronta para esta região afecta à UNITA - Um povo Ovambo ou Ovibundo.
Este procedimento foi de uma nítida e grosseira degradação moral para as autoridades portuguesas ali sediadas e numa declarada provocação ao Movimento da UNITA. Manuel Resende Ferreira em "Segredos da Descolonização de Angola" disse a proposito: - Ainda havia esperança e soldados que não nos abandonavam (lembrando a população maioritariamente branca e assimilados).
Referia-se ao Tenente Fernando Paulo e alguns dos seus homens que resolveram desobedecer ao comando para protegerem um grupo de refugiados no Chitado. Para o efeito, criaram ali uma zona de segurança à revelia de seus comandantes do MFA.
O comportamento da UNITA teve forçosamente de mudar de táctica e, seu posterior comportamento no Lubango e áreas do Sul que, levaram a desconsiderar tanto o Movimento como o seu Presidente Jonas Savimbi que por ali conviveu em tempos de estudante. São aqueles os heróis esquecidos, homens às ordens do Tenente Fernando Paulo, soldados de Portugal que abandonam o Exército Comunista Português para protegerem cidadãos em apertos e, que perdento tudo, corriam também o risco de perdar a vida.
Lutar assim, em rebelião, contra a anarquia das tropas, sempre referidas como NT – Nosas tropas, facto vivenciado por todo o território, desde o Cunene a Sul até o Miconge, o ponto de fronteira mais a Norte de Cabinda. Eu e Miranda ressaltamos bem esta postura como fenómono postumo mas, quem éramos nós para vaticinar o passado defuntado e politicar a enviesada saída do M´Puto pelos homens que antes tinham sido heróis. Heróis bem diferentes, como esse do Spínola da banga vaidosa, desmedidamente parva e até caricata, usando luva, monóculo tipo Eça de Queirós, botas de montar lustradas e um pingalim – fetiches de túji que também por vaidade o levou a escrever isso de “Portugal e o Futuro” – Que futuro?
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3500 – 08.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata”
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Aqui no Mukwé, a casa do senhor Joâo Miranda e da Dona Elisabete, fica a uns escassos 50 metros da margem do rio Okavango; podíamos até gritar às pessoas do outro lado que era Angola; gente pastoreando e de vez em quando lá avistávamos uma canoa que passava na labuta da pesca ou simplesmente deslocando-se, não sei se à revelia dos guarda-rios ou se por anuência destes, por o serem também familiares, ora subindo ora descendo o agora manso e alguns rápidos suaves do rio.
Dona Elisabete, logo nas primeiras horas do dia inesperava-nos com um cheiroso café da qual nunca não mais quis esquecer do seu sabor. A casa situada na parte superior da borda rio era totalmente em madeira tendo os quartos de habitação situados no piso superior; a madeira estalava de noite e qualquer movimento parecia ranger, toda ela.
A azáfama continuava ao lusco-fusco com as ordens meio esganiçadas para seu cozinheiro Kafundanga ouvi. O ranger da madeira, soalho da casa, ao mais leve movimento e o ressonar de toda a tribo mais os da casa, era uma sinfonia de sossegada intranquilidade. No ar havia cheiros de kibaba, o mogno de Angola misturado com takula e undianuno…
Aquilo é que era mato, os cheiros e ruídos não tinham barreiras nem fronteiras e sentir o cheiro de Angola ali tão perto, já por si era uma inebriante adrenalina mista do roceiro e sertanejo T´Chingange - o próprio, pesquisador e explorador fingindo não ser espia…
Estava enganado com aquele jindungo da xirikuata. Com ele, transpirei, chorei e até parece que o meu cérebro borbulhou no cocuruto da careca - malvado jindungo do churrasco. Que vergonha! O riso de todos contemporizava com fausto e taciturnas gargalhadas nas sofridas mordidas mas, também deu azo a que não mais me esquecesse de tamanho veneno empolador de lábios e cérebro deixando raspas no cerebelo.
Do outro lado do rio - Angola, a guerra estava brava e coisa já contada, que as indicações do presidente Sam Nujoma neta banda da Ovobolândia, eram a de não deixar passar ninguém para o lado de cá, Namíbia. Eu ouvi isso porque estava lá nessa assembleia reunião com militares e comerciantes. “Tiro neles”, assim o disse às margens do Okavango e das redondezas, Nyangana, Nyondo, Mukwé, Andara Divundo e Machari. Aviso quase dirigido a mim que dissimulei de matumbo, em nem
Como disse, aqui no Mukwé acontecia às tardes na companhia de Gin com água tónica - nossa conversa a três, Miranda, T´Chingange e Oliveira do Mucusso, a conversa começava aos soluços, de novo a animar retirando de cada qual as verdades. Por vezes em muxoxos, os candengues pioneiros do MPLA, transmitindo falas de seus pais, referiam com audacidade de Hojy Yá Henda (um suposto herói). Era eu mesmo a falar, recordando coisas ouvidas da Luua antes do 11 de Novembro de 1975…
Naquele jeito de revolucionários importados da tuji cazukuteira, fomentada e fermentada nos musseques pelos PREC´S (Processo de Revolução em Curso), o lema era ficar com a mulher do colono, com sua casa, com seu carro e edecéteras – tudo, um desvario alimentado pela midia do M´Puto…
Isso mesmo! - Desvario social da Metrópole, noticias enviesadas na mentira incentivando até o ódio pelos patrícios, um virar as costas à família, retirando-os das molduras da sala, colocando em seu lugar a Catarina Eufémia que, nem nunca viram a não ser dos relatos do PREC, pelas televisões estatais e afins do M´Puto e, pelo MFA com seus generais da mututa e magalas de nova geração com trancinhas na mioleira…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3499 – 07.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata”
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Estudioso ao jeito de ermitão, mergulho nas barrocas mais fundas do saber para interpretar sapiência, ensaiando-me no mundo em que habito. Eu, que nem quero lembrar que algures morri em Kaluquembe na Curva da Morte e, que por isso só choro, uma forma honrosa de pintar a tela de pintura do passado… Preocupando-me sim com a RAIZ que alimenta a árvore – Zeca, meu mano, diz que muito cavo para contar quantas são, as raízes, como se alimentam, se são ou não envenenadas por ervas daninhas que, sempre crescem do nada, fazendo secar veios de vida…
Estou a escrever bué de falas contendo o mel de ukamba, gelado de morango, cheiros aromáticos com mirra e alfazema e da madeira takula que cheira a chocolate com capim santo, também chamado de principe ou caxinde. Das terras deste maravilhoso mato, das vendas tascas, shop de João Miranda do Divundo e Shitemo e outras mais, aonde faziam pão amassado na noite, ao ritmo dos cantares da coruja e de muitas bichezas desconhecidas…
Vendas tabernas, mukifos ou shop´s com o chão muito cheio de farinha de fuba, varrida com sarravo de mateba e um chinguiço fazendo de cabo semi torto amarrado mesmo na própria casca mole; num paraíso verde com marulas e acácias de espinhos e vagens parecendo a fava rica que todos no M´puto conhecem por alfarroba… Como diria Zé Mamoero da Maianga sentir-me fascinado por pessoas extraordináris da qual jamais esquecerei por seu carinho boé, dado pela concha feita com suas mãos juntas, que recebi e empanturrei no meu muxima de contente - aiué.
Foi assim mesmo que reiniciamos aqueles tempos - TEMPOS PARA NÃO ESQUECER – Assim aconteceu: Sentados no alpendre da casa do Mukwé, totalmente feita em madeira, kibaba ou zazange das matas do Cubango, e ainda falando do século XX, olhando o mesmo rio Cubango (Okavango); rangíamos falas assim como o soalho feito com reforço de undianuno sentados em cadeiras de takula…
Recordar agora como se fosse anteontem, que o soba de Sambia de nome Palata de Massaca foi dado por consentimento o nome de D. António Maria de Fontes Pereira de Mello, que, ao soba do Aimalua do Cuangar foi dado o nome de D. Luís Bondoso Pinto Ribeiro e Montes Claros e, ao N´Hangau do Dirico que ficou a chamar-se D. Afonso Enriques de Aljobarrota Atoleiros e Valverde. Parece mentira mas, é verdade! Acho até que andaram a gozar com o futuro – Nós…
Ao sabor de um café colhido, secado, torrado e moído no local, T´Chinange, João Miranda e Oliveira do Mucusso, conversávamos sobre a terra da qual fomos obrigados a abandonar. Os três, eramos da mesma opinião: Muitos dos “libertadores de 75” os mwangolés de hoje, sonhavam com a casa, o lugar de director, o carro, os privilégios e as posições dos colonos, até alguns que so vendiam peixe frito ou carne seca lá no mato, talqualmete!
Podem até dizer outras coisas mas, o tempo assim como o azeite em água, trás a verdade ao de cima. E aqui, longe no tempo, lembrávamos sim, o passado para que no futuro não só chovessem inverdades, manobras e coisas ruins que sempre teimam subrair as versões fidedignas. A conversa começava de novo a animar retirando de cada qual as verdades situadas nas ranhuras do cerebelo, tal e qual como o poejo cresce entres as fissuras dum chão cimentado…
Assim, ouço e falo cativo, vestido com os meus panos, agarrado aos búzios, amuletos, à undenge ami mu moamba, desse antigo lugar – Mayanga da Luua ai-iu-é, no uuabuama chão colonial, hoje independente, chão Angolano. kuatiça o Ngoma! Assim os ouço ao longe, ao perto, no apeto, consolando muxima ami, que velozmente envelhece, que ainda dá batidas ora, leves, ora fortes do atu, no seu Kimbundu. Malembelembe ainda tece esteiras, missangas, planta flores coloridas no quintal iguais ao jardim da Dona Elisabete no lugar de Shitemo com capim caxinde debaixo de tamarindo…
GLOSSÁRIO: Kituku - mistério; Kúkia – sol nascente; Ndandu – parente; N´dongu - canoa; Ngana NZambi - Senhor, Deus; Malembelembe - muito devagar, com cautela; Undenge ami um moamba - minha infância de moamba; Uuabuama – maravilhoso; Kuatiça o ngoma! – Toquem os tambores……
(Continua…)
O Soba T´Chingange
O mito do Orçamento
- As teorias da VITIMOLOGIA, DA MENTIRA E DA RECIPROCIDADE, sempre formulam um discurso sem substância…
Crónica 3498 – 06.10.2023
Por: T'Chingange (Otchingandji) na Lagoa do M´Puto
No Mundo, tudo está ficando muito igual no trato da mentira e, em uma qualquer vez, numa nova vez, sempre se lhe juntarão formas diversificadas nos diferenciados edecéteras. Num repente estratégico ela, a mentira passa a ser um mito enfiado na logística como se o fosse um tema de crédito saldado duma banal excentricidade.
Tal como as contas certas, a mentira na sua voracidade, encaixa sem esforço num novo orçamento, assim haja taxas suficientes – simples! Amarfanhados, os mitos sempre ficarão na mesma sacola do pão que sem o fermento certo e ajustado, se tornará pedra ao segundo ou terceiro dia. Pouco a pouco nos habituaremos à mentira tal como ao pão rijo do qual sempre se poderá fazer umas sopas de leite ou uma açorda.
Aqui no M´Puto, pela sobrevivência, até nos mitos somos verdadeiramente pobres. E o mito “socialista” ficará no saco misturado com as côdeas de ambição que ao jeito de partido-estado nos forçam na falsa suavidade feita lei. Os PALOP`s estão também cheios destes mitos: em Angola tomam o nome de “gasosa”, no Brasil o mito dos “sesta básica” e aqui “salário miserabilista”.
Em psicologia social, reciprocidade refere-se a responder uma acção positiva com outra acção positiva, e responder uma acção negativa com outra negativa. Acções recíprocas positivas diferenciam-se de acções altruístas visto que ocorrem somente como decorrência de outras acções positivas e diferenciam-se de uma dádiva social.
A sociedade torna-se assim em uma bolha vitimista, que a ser retratada fica sujeita a um PRR - O tão propalado Plano de Recuperação e Resiliência, um programa de aplicação nacional, com um período de execução até 2026 e que visará implementar um conjunto de reformas e investimentos destinados a repor o crescimento económico sustentado! Assim o dizem.
O objectivo de convergência do M´Puto com a restante Europa, ao longo da próxima década, permanentemente revogados, tornar-se-ão nesse mistério de queixa das gentes que convém desmistificar para bem da sociedade. O valor de ordens que sustentam a sociedade, é uma realidade objectiva criada pelas leis da natureza em que na igualdade das pessoas, sempre aparecerão algumas mais iguais. Tenho a certeza!
O factor pobre e rico, não tem de ser aqui evidenciados porque assim o dizem: O povo é um todo. Há sim outros indicadores que recaem sobre os líderes que concederão a seu belo prazer a esperança ou expectativa de sempre, darem respostas positivas futuras a seus pares, compadres e a costumeira corrupção, já tão vivenciada na partidocracia ou psocracia…
Lembrarei aqui os dizeres de um amigo chamado de José Canhoto: “Uma traça invisível corrói a minha mente fazendo-me perguntas às quais não sei responder porque para as respostas às verdades com as quais sou questionado não as tenho, e as poucas que conheço são relativas. O paraíso celestial não existe é uma ilusão, e quando alguém o atinge é sempre na terra e por breves momentos, e não depois de morto”. Mais diz:” Há alturas em que não me importo que me roubem o mundo desde que me deixem saborear a viver o momento”.,,
O Soba T´Chingange
Em Angola, contornando medrosas angústias, febres palustres, jacarés e onças, entre várias molestias de paludismo cerebral, as guerras exigiram aos intervenientes, guerrilheiros, voluntários ou governamentais magalas da Metrópole, muito sacrifício. Assim o sejam no rumo da libertação ou seguindo a ideologia, de uma sentida crença ou por obrigação forçada por via de obrigatoriedade.
Seguir directamente para o céu, directamente do produtor para o inferno feito fogo ou uma nuvem de algodão envoltos nessa kukia chamada de pôr-do-sol - fim de vida. Defenderam e mataram gente, construindo novas coisas, impondo regras sociais para conservar tal espaço. Fiotes, Kiokos, Kimbundos, Umbundos. Hereros, Ganguelas, Muilas, Mucubais, Bosquimanos, Magalas Tugas ou expedicionários do M´Puto.
Militares ou guerrilheiros que mudaram de alguma maneira, o modo de estar e de pensar, na sequência desses outros mais antigos magalas chamados de expedicionários da Metrópole e, que, aos milhares, também consolidaram um território dos Mwene-Puto e Mwangolés, morrendo por isso…
Gente que veio a presidir ao país e que também seguiu essa senda da vida defuntada na kukia da vida e, que também não ficou para semente. Todos, ou quase, percebemos que no livre jogo das forças, governos e governistas com afins circunscritos, hoje, interessa sim, adquirir a qualquer custo um poleiro digno governamentalista. O mundo está muito amalucado! Enquanto isso os resistentes daqueles tempos, lambem as feridas de catanas ou G-três da história.
NAS FRINCHAS DO TEMPO – NO REINO XHOBA - (HOODIA)
"DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3496 – 01.10.2023
-Às margens do Cubango - “Missão Xirikwata”
- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018
Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto
Hoje, aqui no Mukwé, vou só relembrar coisas já ultrapassadas para me distrair na conversa: Naqueles muitos dias de dipanda aproveitava-se o espevitar da inteligência limpa de quem só tinha coração de ouvir. Nos tempos mangonhosos da idade maisvelha, sem precisar condicionantes de pôr mais minha conversa no ar, cada qual ouvia o que cada um tungava na sua maneira. Se der um tiro no passado, posso bem ser apanhado com uma bazuca do futuro e, deixando a sequência das coisas soterradas em uma cova sujeita à criatividade dos contadores muitas vezes fraudulentos. Também sujeito à critica de gente com os neurónios falaciosos num empenhamento de visão de Pilatos, senão coisa pior, assim do tipo Estalinista ou Leninista…
Cadavez, quando um ria, outro ria também só à toa. Agora, ali, Teles Ferrujado simpatizante do glorioso “Eme”, meu mais-velho amigo da Chibia, Capunda-Cavilongo das terras do fim-do-mundo. Contava seus dias de caça; tinha muito de esperto caçador e com muito mais de velhos anos, ainda estava vivo! Mentia também em suas calmas, esfregando sua barba rala e crespa, companheira de muitos segredos, de mentira, mesmo embrulhada por vezes em kafufutila de bombô com açúcar. E, eu até gostava de ouvir sem franzir o sobrolho. Falava dos muxitos, das pacaças, desenhando aquela sua luz de verdecida vaidade de pontaria no centro do querer. Eu e mano Fernando Teles Ferrujado amigos do tempo do tundamunjila sabíamos que os espíritos antigos, depois de tanta guerra necessitavam de descansar .
Nós mesmo queríamos esquecer essa encruzilhada de muita maka e muito sangue. É que as lições da vida têm de ser sempre passadas a limpo, só nossa morte é quem pode ficar em rascunho - li isto nos guerrilheiros do Luandino. Teles me olhou muito mais macio, falar suave de caça de bichos não é o mesmo que a guerra do kwata-kwata e mata-mata de gente; Teles era bom e se via nos olhos dele, medo de acordar outros medos.
Longe das anharas da Chibia, do Calai e Munhango de Angola, sentíamos então o cheiro do grande rio que descia ora barrento das chuvas, ora escuro na junção das chuvas com sombras. Só sentíamos mesmo o cheiro dos longínquos Québe, Cuito e Okavango. E, eu era de novo o Mazombo guerrilheiro gweta da Unita a afogar-me naquele cheiro de sol e mangue com o vento do mato e do zungal aonde cassumbulavamos com garimpeiros. Assim contava coisas legitimamente enferrujadas, como que aproveitando pregos retorcidos de antigas tábuas de caixão ou porta duma administração de posto colonial.
Um, não era igual ao outro, nem um era como o outro ou contra o contrário do outro porque tudo o que se passava era só assim, mais nada, era como era, mais nada. De coração grande e espinhoso, esta cumplicidade, fugidos do mundo, nenhuma mata ia poder nunca lavar catinga de geração recordada nos encontros com o Fernando Teles da Chibia que sabia fazer biltong (carne seca com ou sem jindungo), como ninguém. Carne seca para vender nos seus chimbecos, mukifos de taipa cobertos a zinco, espalhados por ali, sítios de gente dispersa…
Teles o caçador, um conhecido dibengo, zebra, voltou à sua terra da Chibia na Quipungo, levando seus candengues Hugo e Carmita, faz tempo, nunca mais que soube da sua vida mesmo buscando no FB nada de nada! José Manuel Fernandes Teles, seu verdadeiro nome, bazou mesmo! Num dia de mãos cheias nas falas de tempos lembrados ao sabor de uma moamba bem à maneira kaluanda, com os respectivos quiabos, gimboa, saca-saca da folha de mandioca e funge, escafedeu-se ué…
Tudo feito pelo ajudante de cozinheiro Tata kadinguila do Mukwé, bem à maneira de como os trabalhadores da construção faziam no meu antigo bairro da Maianga e Malhoas da Luua. Lembrei que em kandengue assistia curioso ao fazer daquela cola de sapateiro como minha mãe Arminda dizia. Agora, íamos fazer igual para relembrar. E, na hora de almoço sentados, em bancos de pau ferro undianuno, e umas quantas tábuas grossas e soltas de kibaba a fazer de mesa, improvisávamos no quintal relembrando bem aquela forma de vidas biscateadas.
Com os calos de nossas mãos fazíamos bolinhas de funge acinzentado e molhando na lata de dendem besuntávamos, levando à boca com prazer deglutindo, Aiué. Estávamos mesmo recordando nossas juventudes. Amanhã vai mesmo ser peixe bagre ou tigre seco para matar saudades… Dona Elisabete anuiu, quersedizer, disse que sim. Aqui, entre amigos e no lugar do Mukwé os dias iam passando falando coisas, umas àtoa e outras bem afincadas em nossa lembraduras (tempo atado nos fundilhos da memória)! Estavam reunidas as condições para falarmos da recente guerra de TUNDAMUNJILA, cada qual falando suas furúnculosas recordações …
Glossário: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes, durante os longos anos da crise angolana, e após o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional, Tundamunjila: mandado embora, sair à força em contra-vontade; bazar: Cassumbular: - ser matreiro e ligeiro em tirar algo de outrem; kazucutar: viver de expedientes, viver à toa; Zungal: - capinzal, erva áspera de charco ou pântano.
(Continua…)
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