Quarta-feira, 8 de Novembro de 2023
VIAGENS . 101

NAS FRINCHAS DO TEMPO 

 "DOS TEMPOS DE DIPANDA“ - Crónica 3512 – 06.11.2023

 “Tropas cubanas para Angola, já!” - “Missão Xirikwata”  Às margens do Cubango

- Escritos boligrafados da minha mochila – Aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018

Por: T´Chingange (Otchingandji) – Em Lagoa do M´Puto

cuba01.jpg N´Zambi a tu bane n´guzu mu kukaiela”, Deus dá-nos força para seguir… Cidade de MALANGE- Cem mortos, é assim que o Furriel de Transmissões Agostinho Pinto, colocado em Malange encabeça a descrição de seus dias ali passados:  “No dia 28 de Maio de 75, estando em escuta via rádio com  os   meus   homens,   o malanjino Abílio Araújo mais o Luís Nabais Moreno, acontece  pelas 16h30 horas ouvirem-se as primeiras morteiradas. Pode ver-se por cima dos telhados, Malanje começar a arder…

Aconteceu no trajeto curto para o quartel naquele dia, sermos revistados por guerrilheiros do MPLA, armados de kalashnikov, crianças – algo insólito! Naquele   cenário   de   guerra desregada e louca,  tudo poderia acontecer.  Senti-me o militar mais inútel, tão diminuído e  baralhado nesta confusa ficção. Tudo acabou por se resolver com uns maços de tabaco e alguns angolares. Em nossos postos, só conseguimos sair da escuta por volta das dezanove horas.

Malambas3.jpg Porque o  recolher   obrigatório   estava instalado, já não  fui para   o   meu quarto alugado da cidade, aonde vivia; ali já não havia, condições de segurança. Do batalhão (BART 6323), desloquei-me à CCS. Pela primeira e única vez passámos fome; na   messe   de   sargentos   só   havia bolachas e chá, pois o comércio estava   fechado,   a   farinha   tinha esgotado, não havia pão e os trabalhadores do comércio e serviços, dada a situação de guerra civil, poucos  arriscavam sair de casa.

Era mais que evidente  não estarem reunidas as mínimas condições de segurança para o povo e por precaução evidente, o recolher obrigatório era para respeitar. No dia seguinte já se contabilizavam para cima de 100 mortos e desalojados sem fim. Estávamos na messe dos sargentos em pleno recolher obrigatório e, de repente, vejo um jovem africano, que não   teria   mais   de   15/16   anos,   a correr, desrespeitando o recolher obrigatório para ir para a sua casa, no bairro da Catepa, quando ouço uma   voz   da   FNLA   a   perguntar: "quem   vem   lá?". 

máscaras3.jpg Suponho que era a voz do mercenário “Passarão”, assim era conhecido o terror rambo da FNLA, que andava à civil   e,   de   metralhadora   kalashnikov, de boina e cabelo comprido. O miúdo respondeu "é camarada", o que foi a resposta errada, no sítio errado, à hora errada… O termo camarada era sentença   de   morte,   cheirava   a   MPLA. Ouve-se uma rajada e o rapaz caiu de imediato, assassinado a sangue frio.

E, nós, militares, impotentes! Podem calcular a revolta que todos sentimos, mas não havia ordem para actuarmos descontentando-nos no vexame de cobardes; o mínimo   que   fizemos   por   aquele adolescente foi chamar a ambulância para levantar o corpo  que jazia inerte. Essa imagem, que tenho gravada na minha memória, vai acompanhar-me até ao resto dos meus dias.

guerra11.jpg A partir dessa noite, a nossa primeira tarefa do dia – minha, do Abílio,   Araújo   e   do   Luís   Nabais Moreno   –   era ir todos   os   dias   às sete   da   manhã   à   morgue   ver quantos brancos e conhecidos tinham morrido na noite anterior. Um   ritual   macabro,   eu   sei,   mas era mesmo assim. A cidade estava totalmente desventrada dos bombardeamentos.   A   12   de   junho   de   1975,   parti   na   coluna   militar para Luanda, tendo regressado a Lisboa no dia 24 Junho de 1975” (fim de citação).

Entretanto, seu chefe supremo, o Coronel de aviário, Otelo Saraiva de Carvalho, chefe do COPCOM e influenciador do PREC, estava em Cuba preparando o discurso  do grande dia de Cuba a 26 de Julho, data do assalto ao Quartel de Moncada, com o tradicional comício presidido por Fidel Castro. Otelo, falou, para 600 mil pessoas, segundo números oficiais, numa fala  de 20 minutos. Mais tarde fez questão de assinalar: ”Destaquei a importância da liberdade de escolha do povo e da sua capacidade de intervenção política”. O discurso foi transcrito, na íntegra, no Gramma, jornal oficial do PC cubano, ao lado de Fidel, que durou uma hora e vinte minutos.

(Continua…)

O Soba T´Chingange



PUBLICADO POR kimbolagoa às 18:00
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Temos um Hino, uma Bandeira, uma moeda, temos constituição, temos nobres e plebeus, um soba, um cipaio-mor, um kimbanda e um comendador. Somos uma Instituição independente. As nossas fronteiras são a Globália. Procuramos alcançar as terras do nunca um conjunto de pessoas pertencentes a um reino de fantasia procurando corrrigir realidades do mundo que os rodeia. Neste reino de Manikongo há uma torre. È nesta torre do Zombo que arquivamos os sonhos e aspirações. Neste reino todos são distintos e distinguidos. Todos dão vivas á vida como verdadeiros escuteiros pois, todos se escutam. Se N´Zambi quiser vamos viver 333 anos. O Soba T'chingange
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