NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3583 – 29.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977”- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Justino Pinto de Andrade, elemento da Revolta Activa, preso antes do 27 de Maio, conta na primeira pessoa, “Na noite de 23 de Março levaram, para nunca mais voltarem, inúmeras pessoa: Ademar Valles, irmão de Sita Valles, o engenheiro Rosa, que nada tinha a ver com o 27 de Maio, o Cachimbo, um laranja do MPLA que havia assassinado o engenheiro Betencourt Faria, em seu Observatório da Mulemba…
Também o comandante Bogalho, combatente do MPLA, que se juntou a Chipenda em Lusaka… O Bogalho foi trespassado pelas balas ou então, como se ouviu dizer, pelas baionetas dos seus algozes. Foi uma verdadeira “noite das facas longas”. Para muitos e em demasia, foi mesmo o fim! E,, só depois de se localizar o local do enterramento de seus corpos, só então, se poderá cicatrizar essa ferida de tamanho descomunal…
A frase proferida por Agostimho Neto que ficou para os vindouros foi a de: “amarrem-nos aonde forem encontrados”. Manuel Ennes Ferreira um preso político do processo OCA, torturado, relembra: “Às 07h 30 do dia 27 daquele Maio, cheguei ao liceu N´Zinga M´Bandi para dar aulas. As movimentações na rua e os tiros, colocaram os alunos e os professores em polvorosa”.
Dali por três dias, voltei e fui à cantina da universidade para almoçar. O general N´Donzi chegou e, da porta apontou para o Fuso e o Jorge Basófias; como estava na mesma direcção, gelei! Alguns dias depois segui o mesmo caminho, São Paulo e Campo do Tari”
As mulheres detidas eram alvo de violência psicológica e sexual. Nos interrogatórios os agentes e guardas apareciam e, “sobre os seus corpos desnudos despejavam a mais torpe violência” revela Américo Cardoso Botelho, em “Holocausto em Angola”. A comandante do Batalhão Feminino, que tinha conduzido o ataque à cadeia de São Paulo para libertar os apoiantes de Nito Alves, que impedira depois o fuzilamento dos militares da Revolta Activa e da OCA pelas forças revoltosas, acabou por ser detida.
Quando a situação mudou e as tropas fieis a Neto passaram a controlar os acontecimentos, deixaram que aquela , porque estava grávida, tivesse a criança mas, depois, espancaram-na durante três dias e três noites, segundo o livro “Purga em Angola no 27 de Maio de 1977” de Dalila e Álvaro Mateus . Disseram: “ Ela cantava sem parar – a voz enlouqueceu-lhe mas, nunca parou de cantar até ser fuzilada”
Os interrogatórios eram feitos com as detidas nuas ou seminuas . Usavam os mais variados instrumentos para penetrar as vaginas das detidas. A uma portuguesa branca, obrigaram-na a despir-se para limpar com a roupa o sangue nas selas onde decorriam os interrogatórios. Os guardas voltavam a atirar aquela água suja para o chão , obrigando a limpar de novo.
Enquanto isso lançavam impropérios e davam-lhes pontapés aonde quer que fosse. A uma das prisioneiras, massacraram-lhe tanto os joelhos com uma tábua que doente meses ficou desvalida, quasequase sem conseguir andar. Outra foi colocada no centro de um grupo de agentes e militares, inteiramente nua, sob uma forte iluminação, “sendo alvo dos piores insultos com apreciações jocosas de seu corpo, seguida de agressão física”– conta Américo Botelho…
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange, de outros referidos em texto e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3582 – 24.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Herminio Escórsio continua sua descrição quando da visita à Fortaleza de São Miguel: “O único que não veio falar comigo, envergonhado, foi o David Aires Machado (Minerva), até então Ministro do Trabalho. O Zé Van-Dunem perguntou-me pelo pai e, disse-lhe que o velho Mateus estava desfeito, que nem ele, nem ninguém, esperavam que ele, Zé, se metesse numa encrenca tão grave. O Zé, por fim, pediu-me para, ao menos, olhar por seu filho”.
Sou eu a falar: Neste entretanto o rapto de meu pai, (gente simples e alheia a tudo como tantos outros), estava a ser efectuado junto aos Correios da Maianga, um modesto “segurança nocturno do Banco de Angola” e que, em exercício, por ali passou fardado, como sempre fazia, noite após noite. Não foi no sítio errado, mas numa hora de azar,
Aconteceu quando por toda a Luanda se faziam altercações com fuzilamentos sumários nas ruas, nos largos, nos hospitais e cadeias. Meu pai Manuel Monteiro, recorda que a uma pergunta feita, deu uma resposta, ao qual logologo o meteram amordaçado em uma carrinha do tipo toyota hiace. A pergunta foi a, de se estava bem com o presidente Agostinho!?
E, a resposta dada foi Sim! Mal sabia ele que aquele era um grupo afecto a Nito Alves (deduziu isso, por via das falas que se lhe seguiram). Bem! O resto já foi contado lá atrás e o caso, nem é relevante para o contexto geral e neste acontecido de tanta projecção nacional e internacional (fim da minha fala…).
A repressão estende-se ao ano de 1978. Nas muitas petições a Agostinho Neto feitas por notáveis é referida a violência. dos guardas, as péssimas condições de alimentação e higiene nas prisões, com ratos, baratas, aranhas e outras bichezas coexistindo com os presos e, em celas superlotadas.
A comida é servida em pratos de alumínio já retorcidos e, sujos como se o fossem cachorros. O arroz e feijão tinha gorgulho e em alguns casos, são obrigados a beber água das latrinas. Nos campos para onde eram levados os presos, a vida era duríssima. No campo do Tari, “passávamos fome, tinhamos muito frio.
A saudade morava dentro de nós com a permanente incerteza; a raiva era mais que muita e o medo demasiado teimoso. “As ratazanas que mais pareciam coelhos aguardavam nossos descuidos para nos ratarem as orelhas dos pés. Nos sonos inquietos havia gritos”; é José Reis, um ilustre desconhecido que sim o conta, mais tarde.
Com tanta falação interna e internacional, Neto distancia-se da DISA, de seus métodos com excessos cometidos levando-o a extingui-la em Julho de 1979. No ar de boca em boca, na vizinhança sempre se ouvia alguém dizer: “O meu filho desapareceu”. E, era forçoso assim, acabar com as testemunhas incómodas. Com a lei 7/78, Neto institui na prática, oficialmente, a pena de morte para quem cometia crimes lesivos à segurança do Estado…
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3581 – 22.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
CHE com 47 anos de idade (ano de 2024), filho de José Van Dunem e Sitta Valles, sobrinho de Francisca que foi Ministra da Justiça e da Administração Interna do XXII governo do M´Puto (Portugal) e, com quem foi educado, descreve assim sua estória de vida: “Nasci em Luanda em Fevereiro de 1977, três meses antes do 27 de Maio. Com o desaparecimento de meus pais, de outros familiares e amigos próximos, fui levado para o M´Puto…
Perante a falta de informação sobre o paradeiro de meus progenitores, estando Luanda em contexto de caça aberta ao homem com fuzilamentos em grande escala por todo o território de N´Gola, meus avós maternos decidem levar-me para Portugal em Outubro desse fatídico ano, juntando-nos à minha tia Francisca. Por fases, fui descobrindo essa parte do meu passado…
Durante a minha infância contavam-me apenas o indispensável. A partir da minha adolescência, o meu tio João, um irmão mais novo de meu pai, desempenhava um papel importante na revelação dos acontecimentos. Também ele, tinha estado preso, detido em Cuba e levado para Luanda, sobrevivendo à chacina. Regressei a Luanda pela primeira vez em 2005, com 28 anos…
Tinha noção que o meu retorno seria uma questão de tempo. Tinha a consciência que os meus pais se tinham em Angola, batido com dignidade e determinação pela edificação em Angola para uma sociedade justa, em que a solidariedade pudesse substituir o egoísmo e ou a exclusão…
Entendi que não fazia sentido não lutar pelo mimo projecto de sociedade na terra onde nasci. Em 2009, decidi que não devia protelar mais e que era chegado o momento certo para voltar a Angola. Parece-me importante desmistificar a versão criada pelo poder…
Cabe aos especialistas trazer alguma luz sobre o 27 de Maio e fazer também a avaliação do papel histórico que a minha mãe Sita, também o meu pai e, muitos outos camaradas seus, como Juca Valentim, Nito Alves, Monstro Imortal, Bakalov e tantas outras figuras tiveram no período da luta pela independência e neste processo do 27 de Maio em particular”.
Sabe-se que Sita naquele momento de desvario, tentou enviar uma carta à missão soviética através da mulher de seu irmão Ademar. Onambwé, um dos chefes da DISA, sabe e diz à mulher de Ademar que se lhe tivesse entregue essa carta, o marido seria poupado. Entretanto, Sita e José Van-Dunem são capturados. Entram no Ministério da Defesa de mão dada sendo de seguida levados para a Fortaleza de São Miguel. Sita é ali violentada, violada, e selvaticamente torturada. Recusa ser vendada na altura do sumário fuzilamento.
Herminio Escórsio, chefe do protocolo da presidência nesse ano de 1977, afirma:- Fui à Fortaleza de São Miguel aonde encontrei o Zé Van-Dunem descalço e coberto por um lençol, o Juca Valentim e o Nado. Ainda falei com o Jacob João Caetano (o Monstro Imoral), chefe do Estado-Maior-adjunto da FAPLA e outros quadros… AGORA FALO EU: COM A MINHA KIZOMBA! EU ME ENGANEI, TE DOU RAZÃO. EU SABIA – SEI, MAS TU VÊ SÓ MERMÃO (salvo o seja), MINHA KIZOMBA TEM TUJI DE SALALÉ, NO MUTUÉ AMI DO ESQUECIMENTO DE MUITOS, MAZÉ TAMBÉM DE MUITOS ANOS - CADAVEZ JÁ É DOCUMENTO
llutrações de Costa Araujo
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
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O Soba T´Chingnge
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3580 – 19.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
A um deixe para lá senhor TC (de Tenente Coronel), descanse, ele reclamava: Foi assim mesmo, dizia isto para nózes (plural de nós) com duas lágrimas estancadas no rosto, que secavam em seguida. E, desse jeito continuou: - «Presos atirados pelas escadas e, no pátio, espancados só átoa. Berravam e pediam por amor de Deus, não fiz nada…
Quase sem vida eram atirados para dentro de viaturas. Até um mercenário norte-americano, lembro bem, comentou no pormenor: Yes yes, era em um bairro chamado de Bungo bem à beira mar. Você não colabora - vejo-me obrigado a entregá-lo aos militares. «Os detidos passavam para os militares, e para as torturas.» baia de S. Pedro da Barra, uma faixa de terra entre a linha do Caminho-de-Ferro e o mar.
«Carlos Jorge, Pitoco e Eduardo Veloso chicoteiam o Costa Martins, batem-lhe com um pau com espigão de ferro, massacram-lhe as costas com correias de uma ventoinha de camião. Ao chicote chamavam Marx e, ao espigão, Lenine. Também o puseram numa sala, junto a uma máquina de choques eléctricos. Só cheirava a carne queimada.»
Este Tenente-Coronel estava mesmo nas últimas; nem sei se estes nomes existem mesmo. Junto com o ranho e as excrescências tossicadas pude ver grossas pastas de sangue. Os cuidados esmerados daquele grupo de gente já não alcançariam êxito de vida para aquele imortal.
Naqueles tempos ainda nem sabíamos que usavam a propaganda de forma exaustiva na falácia de tudo vir a ser uma liberdade linda em Angola! Não! Não conhecíamos as filosofias do mal… Nos intervalos dos lapsos de memória quase petrificado, posteriormente, este velho Tenente-Coronel, ex-vizinho, esfarrapado de mente falava no tempo desencontrado - os efeitos da Luua no quarto decrescente, penso eu-de-que!
Babando-se pelo canto esquerdo descaído, insensível ao cérebro abanado por uma trombose, com a lentidão na descrição das coisas graves, titubeava muxoxos – Hum, a kalashnikov, a febre do paludismo, dos malvados da UNITA… E, tudo era na mistura com bolas de trapos, meias a cheirar a sulfato de peúga, impregnando a desconversa!
Entre a vida e a morte, as diferenças estão nos pormenores pois algumas são demasiado trágicas e outras, por demais sofríveis… Ele teve a sorte de morrer num ai, repentinamente - a bala do monacaxito… Aquele senhor fardado com um pijama às riscas, sentado num sofá de orelhas, olhava para o infinito, definitivamente.
Saí daquele para um outro lugar, lugar de Chokola num jeep willis até Catima Mulillo aonde apanhei um voo até Lusaka. Ainda estou em crer que aquele velho senhor não era esse tal de Monstro Imortal do MPLA mandado matar por Agostinho Neto. Seja como for, para mim o Tenente-Coronel fardado de pijama às riscas deixou de ser Imortal, defuntando-se.
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
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O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3579 – 17.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
É verdade que Ele, o Nosso Senhor nos dá Sua paz, mas isso só se trata daquela espécie de paz que provém do espirito: “isso está certo? É isso mesmo o que eu devo entender?”. Será que em cada dia tenho de incentivar meu ânimo para resistir àquilo que sei estar errado!? E, claro, alegrar-me-ei no caminho cristão legado por meu pai Monteiro de sobrenome…
Lembrar-me agora daquele ex-vizinho, que feito Tenente-Coronel, se fardava com um pijama às riscas sentado num sofá preto de orelhas. Passado dos carretos, já kota, era alto em sua juventude mas agora curvado com o peso das traquinices do seu MPLA, tornou-se num espeto seco, desmilinguido, invulgarmente marreco e bexigoso por tantas ruindades frutificadas na violência - vicissitude da política.
E, o tempo foi passando. Em um momento de lucidez perguntei ao TC por seu nome e veio de lá a resposta: Monstro Imortal! Ué? Fiquei de boca aberta pois que este figurão tinha sido morto na guerra dos fraccionistas naquele ainda recente ano de 1977, ano em que meu pai Manuel, foi para o M´Puto com uma bala no corpo.
Isto, há coisas que só acontecem acontecendo! Constava-se que o tinham cegado mas nada lhe perguntei porque o delírio da velhice pode bem dar para estas divagações; ele via mal, mas via! Sendo assim deixei-o a falar entre dentes; -Aquele cabrão do Pedalé (Pedro Tonha) nem teve coragem para me fazer perguntas.
Deixaram-me ali a gemer para um gravador, enquanto apertavam o garrote - Iam e vinham; iam e vinham. Atiraram-me ao mar de um avião mas sobrevivi! Será? A história coincidia com os muxoxos mas aqui, num lugar do cú de Judas, já ninguém lhe dava ouvidos. Todos sabiam que tinha chegado em uma avioneta trazido por um homem loiro; talvez uma ONG falsificadora! Pensei eu. Deve ter sido salvo por um submarino soviético, só pode!
Agora que diz coisa sem coisa, todos os desculpam de coitado, nem sabe o que diz, nem sabe o que fala! Muito cheio de catolotolo a dado momento fica apontando a miragem do seu sonho referindo-se ao porto da Luua: aonde dinamizava homens para não carregar as bikwatas dos colonos brancos e mazombos- gente zebra…
Sobressaltado, com os olhos muito abertos falava pró vazio: Hoje vai haver maka! Repetia a todo o instante. E, punha-se a rir no canto do beiço babado, contando centenas de mortos e ordens de carrega nos unimogues dos Tugas, ofertas do MFA - leva na vala. Nosso Coronel, fazemos como então, com os feridos? - Leva tudo junto e, bota neles cokteil molotov!
Esbufarado com as kinambas a tremer dava ordens. Ordens são ordens e, rapidamente dali e acolá saiam frotas de carros goteando sangue nas ruas da Luua até chegar à casa mortuária da Avenida Craveiro Lopes ou Avenida de Lisboa. A lamparina dele acendia e apagava num repentemente junto à Delegacia de Saúde, ali bem perto da mortuária, assim com tecnologia nova, de correia de defuntação. Creio que era sim, muitos diabos a torcê-lo pelas maldades.
Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
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O Soba T'Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3578 – 18.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Meu pai Manuel, passou coisas inimagináveis em Angola e, já kota, teve de voltar ao M´Puto com a vontade de ficar, por força desse dia 27 de Maio no ano de 1977. Estava pintado de manchas já negras de sangue, guiado por duas canadianas. Assim o vi, no aeroporto da Portela de Lisboa (actual Humberto Delgado), perna pendurada e ainda com uma bala junto à rótula do joelho.
Lá na Luua os mortos eram tantos e, por tantos lados, que o médico Boavida do Banco de Angola o mandou para o M'Puto; não fossem os pseudo médicos cubanos cortarem átoa a mesma! E foi no Hospital de Torres Novas do M´Puto que tirou a dita cuja - a bala! Teve a sorte de não gangrenar!
E li algures de que «As forças de segurança prenderam muita gente jovem que, na manhã de 27 de Maio de 1977, andava nas ruas de Luanda. Centenas deles foram levados para um Centro de Instrução Revolucionária na Frente Leste e os dirigentes locais assassinaram-nos friamente.» - Nas Faculdades desapareceram cursos inteiros. No Lubango, dirigentes e quadros da juventude foram atados de pés e mãos e atirados do alto da Tundavala.»
Os tamancos de pinho do M´Puto de meu pai, não eram suficientemente quentes para animar o dia que se seguia naquela terrinha chamada de Barbeita e, vai daí, meu pai tentou a Venezuela e o Uruguai mas as facilidades só lhe surgiram para a África - Terras Ultramarinas de Portugal. Deram-lhe passagem de colono após preenchimento de impressos timbrados com a esfera armilar.
Através da Companhia Nacional de Navegação zarpou no tal vapor Mouzinho de Albuquerque por volta do ano de 1950. Nós, família, ficamos a morar no Rio Seco da Maianga da Luua, início do Catambor. Nos fios de gastas crenças, tão corcovado, tão enrodilhado em suas macias filosofias de mineiro de volfrâmio, recordo meu pai Manuel, suspirando baixinho…
Revendo sua miúda indecisão de viver, vendendo volfrâmio para dar rijeza aos canhões de Hitler, assim - para sobreviver na “graça de Salazar”, guerra acabada, houve necessidade de mudar o rumo à vida. Um dia, com um trejeito de esforço, endireitou-se emperrado e cresceu! E, falou: - Amanhã vou à Companhia Colonial de Navegação inscrever-me - Vou para Angola! E, foi…
Ora sucede que passados muitos anos, nesse 27 de Maio de 77, veio da Luua inchado de porrada e com uma bala nos joelhos. E, vêm agora tornar heróis os Otelos e tantos guedelhudos a fingir que nos libertaram no VINTICINCO. Não posso entender o significado de nossas vidas, fingindo ou imaginando ter sido assim como um colchão coberto de cravos vermelhos num caixão e rosas, porque Cristo nos chama para às mais exigentes e ousadas periclitãncias como a sempre desconhecida morte! E, as FP-25 - Que negócio foi esse?
Esperei-o no Aeroporto. Seguro por duas muletas parecia um Cristo! Tirou essa bala e, não mais voltou… Impôs-se assim uma forçada regra de vida: - A liberdade de sermos saudáveis ou morrer por coisas impensáveis… Sim! Meu pai padecia ser um matumbola (morto vivo) e, até me belisquei para ter a certeza de que isto não era só um suspiro. Em verdade, eu também sabia bem que João Jacob Caetano, o lendário Monstro Imortal, tinha morrido com um garrote do n´guelelo, um triste fim de um herói…
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
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"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3577 – 13.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Um novo livro escrito por Carlos Taveira detalha os horrores e o dia a dia na prisão de São Paulo de Luanda antes e depois do 27 de Maio de 1977. Quando o “autocarro do amor” chegava à prisão de São Paulo de Luanda os presos sentiam o terror e o medo de que eles poderiam ser os próximos a serem levados para a morte num local desconhecido.
Carlos Taveira, o autor do livro, que esteve ali detido mais de dois anos disse: Que recordou como os presos jogavam xadrez comunicando de cela para cela através das sanitas nas celas que eram buracos no chão e serviam de câmara de eco. Taveira foi preso em Dezembro de 1976 sob acusação de pertencer à Organização Comunista de Angola, OCA, que se opunha à presença soviética e cubana em Angola, portanto antes da tentativa de golpe de Nito Alves em 27 de Maio de 1977.
A cadeia foi tomada de assalto por elementos ligados a Nito Alves para soltar os seus apoiantes que ali se encontravam presos.“vivemos debaixo de fogo quatro ou cinco horas”, recordou Taveira sublinhando que os apoiantes de Nito Alves apoiavam “ideias opostas da OCA” por se considerarem marxistas da linha soviética…
Os apoiantes de Nito, “quando entraram disseram-nos que nos iam matar nesse dia”. Membros da chamada Revolta Activa que ali se encontravam detidos foram também ameaçados de morte pelos aderentes de Nito Alves . “Quando nos puseram contra uma parede”, recordou – pareceu-nos ser o fim…
“Todos os que entraram depois do 27 de Maio passaram pela sala de torturas; alguns foram barbaramente torturados e alguns morreram de tortura, enquanto outros eram levados simplesmente à noite para serem mortos”, recordou. O escritor disse: Até ao 27 de Maio, “não havia tortura” na prisão porque o dirigente da policia politica DISA, que lá se encontrava, Helder Neto, “não acreditava nisso”
Helder Neto, preferia tentar “recuperar“ os presos para trabalhar com eles. “Helder, suicidou-se no 27 de Maio – só depois se deu início na tortura em cheio", contou. “Havia entre nós um grande medo. Cada vez que aparecia o tal “autocarro do amor” para levar gente para ser fuzilada havia um ambiente de terror”. Disse recordando que, numa noite foram levados 16 ex-políciais para serem fuzilados. “Foram levados debaixo de pancada até ao “autocarro do amor” e os 16 numa noite desapareceram”, recordou.
Agora, sou eu que digo: Meu pai Manuel - “o cabeças”, que foi para a praia errada chamada de Angola num vapor chamado de Mouzinho de Albuquerque no ano de 1950, como colono, ali ficou até este 27 de Maio de 1977. Na ida para o Banco de Angola aonde exercia a função de segurança noturno, foi desapossado de sua arma walther P99, raptado e levado para lá do aeroporto de Belas aonde o encheram de pancada, vulgo porrada; e, havia ali, uns quantos mais, amontoados, esperando o toque final – a morte…
Ali, no chão, desmaiado, num magote, deram-lhe um tiro de rajada atingindo decerto os demais! Era noite. Teve a sorte de uma aleatóriria bala não lhe ter atingido órgãos vitais, alojando-se no joelho. Arrastou-se pela noite até se recolhido por uma patrulha mista de cubanos e militares do MPLA. O médico do Banco de Angola (Boavida), não vendo possibilidades de Manuel ser socorrido ali, no Hospital Maria Pia e, por via de estar repleto de muita gente moribunda, deu-lhe uma licença a prazo, metendo-o no avião da TAP a caminho do M´Puto. . Dias depois fui esperá-lo no Aeroporto da Portela em Lisboa, ainda com a bala no corpo…
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
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O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3576 – 10.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
A última execução em massa de pessoas por via da tentativa do que foi, um golpe, teria ocorrido a 23 de Março de 1978 com pelo menos 15 peoas. “Alguns dos prisioneiros foram condenados à morte ou à prisão por um tribunal especial, mas nenhum foi submetido a nada que se poesse assemelhar a um julgamento imparcial”.
A 10 de Abril , o governo negou alegações feita em carta aberta por um partido politico. Alegava-se que 30 mil pessoas haviam desaparecido durante os anos de 77 e 78, em consequência da Revolta dos Fraccionistas. O governo do MPLA, limitou-se a admitir “excessos lamentáveis”, declarando compartilhar “a legitima preocupação das famílias das vitimas, interessadas em saber o que acontecera aos seus parentes “.
O governo do MPLA mais disse – “que, talvez fosse criada uma comissão para tratar do assunto.” Em realidade, nada foi feito e, as indicações posteriores de gente desgarrada do processo e, despeitada com seus superiores, declarou no exílio da diáspora, aquele número ser de 80 mil… O jornalista angolano, Tonet, em entrevista à Deutsche Welle falou do acontecido na primeiríssima pessoa: Eu estive envolvido no 27 de Maio, a minha família esteve envolvida, a partir do meu pai, que foi preso.
Dois tios meus estiveram presos e foram enterrados vivos, sem qualquer tipo de julgamento”, disse. “Matemática e juridicamente falando, eu ainda estou preso”, denunciou o angolano. “Porque a gente não tem formalizado, sequer, nenhum mandado de soltura, como não tem nenhuma acusação.
A DISA, a polícia política da altura do chamado “28 de maio”, alusão ao período logo após o 27 do golpe, sob a direcção de Ludi Kissassunda e Onambwé e, tendo como principais executantes António Carlos Silva, Carlos Jorge, Pitoco, Inácio Osvaldo, Eduardo Veloso, Norberto Castro Pereira, Margoso, José Maria, Manuel Carmelindo, José Vale, Nascimento, Domingos Cadete, Victor Jeitoeira, Cristian André, José Baião, João e Henrique Beirão, Zeca França, José Baião, Júlio Rasgado, Miguel de Carvalho, entre outros, prendem, torturam e matam sem qualquer controlo.
As cadeias ficam sobrelotadas; os presos são alvo de todo o tipo de sevícias: espancamentos com martelos, paus, barras de ferro, soqueiras, cintos, chicote, pedaços de mangueira cheios de areia, mesas, bancos, cadeiras, bancos; violentamente amarrados com os braços atrás das costas até perdem a sensibilidade dos braços e mãos.
Os presos são suspensos e deixados cair no chão, com os braços e as pernas amarradas; queimados com pontas acesas de cigarros, também um torniquete colocado na cabeça e, que à medida que é apertado, causa fortíssimas dores e a perda de consciência; choques eléctricos nos genitais, etc, etc…
A imaginação dos algozes não tinha limites em sua bestialidade. O sangue corre às golfadas como um mar, os gritos de dor dos seviciados são insuportáveis… Alguns dos prisioneiros foram condenados à morte ou à prisão por um tribunal especial, mas nenhum foi submetido a nada que se assemelhasse a um julgamento imparcial.”
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3575 – 07.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Nito Alves foi ministro do Interior de Angola desde a independência em 11 de Novembro de 1975, até à data em que o presidente Agostinho Neto aboliu o cargo em Outubro de 1976. Fazia parte da linha dura do Movimento Popular de Libertação de Angola e tornou-se conhecido internacionalmente devido ao golpe de estado falhado, conhecido por Fraccionismo, de que foi mentor em 1977 .
Nito Alves opunha-se a Agostinho Neto nos temas da política externa de não-alinhamento, socialismo evolutivo e multirracialismo. O que mais parece chocar na repressão que se seguiu à alegada tentativa de golpe de Estado contra o primeiro presidente angolano após a independência, Agostinho Neto . é que as vítimas não foram inimigos do governo – mas sim membros do MPLA.
MPLA, partido no poder e, assim, sendo da própria família política e da direcção do país. O desconhecimento sobre o que aconteceu às vítimas da repressão do regime do Presidente Agostinho Neto, nos dias que se seguiram ao que terá sido uma tentativa de golpe, corrói. O cálculo dos mortos varia. A Amnistia Internacional fala em 40 mil, o jornal angolano Folha 8, em 60 mil…
A chamada Fundação 27 de Maio calcula em 80 mil. Fontes da DISA (Direcção de Informação e Segurança de Angola) referem-se a 15 mil mortos. Se nos ficarmos pela média, pelos 30 mil, são dez vezes o número de mortos do Chile dos anos 1970 de Augusto Pinochet, na própria família política o MPLA. Sem julgamento.
Saidy Mingas, fiel a Agostinho Neto, na madrugada de 27 de Maio de 1977 (sexta-feira), entra no quartel da Nona Brigada para tentar controlar as tropas de Nito Alves; Foi a sua última missão. O então Ministro da Administração Interna sob a presidência de Agostinho Neto é preso pelos soldados fraccionistas e levado com Eugénio Costa e outros militares contrários à revolta para o musseque Sambizanga, onde são posteriormente queimados vivos.
Sita Valles é talvez a mais conhecida das vítimas da purga do MPLA – ela, o marido José Van Dunem, comissário político do Estado-maior e Nito Alves, ex-ministro do Interior. Mas, de uma forma ou de outra, a repressão que se seguiu ao 27 de Maio de 1977 deixou marcas na vida de grande parte dos angolanos, relata o jornalista independente William Tonet. “Directa ou indirectamente, a maior parte dos angolanos daquele tempo está envolvida no 27 de Maio.
Ela, Zita Valles, deu ao horror seu rosto. Sita Vales foi fuzilada às 5 da manhã de 1 de Agosto de 1977. Um tiro em cada perna, um tiro em cada braço, o corpo caiu na vala previamente aberta antes de ser dado o tiro de misericórdia. O corpo, ou o que dele restava: Sita Valles havia sido torturada e violada múltiplas vezes pelos homens da DISA.
Rebelde até ao último minuto, recusou a venda e obrigou os homens do pelotão de fuzilamento a enfrentarem o seu olhar. A portuguesa, nascida em Cabinda, tinha então 26 anos e trocara uma vida confortável em Portugal e um curso de medicina para regressar a Angola, país que considerava ser o seu e para defender a ortodoxia soviética em supostos tempos de democracia.
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Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
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O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"DOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3574 – 04.05.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA DA LUUA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Hermínio Escórcio, chefe do protocolo da presidência, descreve mais tarde como sucederam as manobras dessa revolução: “ Na manhã do dia 27 estava em casa quando me apercebi que a Rádio Nacional de Angola - RNA, havia sido tomada. Fui para o meu gabinete no Palácio e de lá telefonei para o Futungo de Belas (Presidência da República).
De caminho pude avistar o Onambwé e o Delfim de Castro que, dentro de um tanque, se dirigiam para as instalações da RNA, onde já estava no ar o programa radiofónico “kudibanguela”. Depois da retomada da RNA fui o primeiro dirigente a lá entrar”. Continuando: “saí da rádio e fui até à Avenida Lisboa para ver se havia rastos de sublevação. Liguei a Neto, disse-lhe que estava tudo calmo e, ele prontamente afirmou: “Então posso ir até aí!”
Disse-lhe que por uma questão de segurança, talvez fosse melhor ficar pelo Futungo. Dito isto, acrescentou que ia chamar a imprensa para fazer o ponto da situação. Mal sabia ele que o Saidy Mingas, o Eurico e o Garcia Neto já tinham sido mortos. Também desconhecia que alguns comandantes haviam caído em emboscadas montadas pelos Fraccionistas à 9ª brigada.
Neto, quando soube de tudo isto, ficou completamente transtornado”. Neto vai à televisão e proclama o salvo-conduto para o banho de sangue: “Não haverá contemplações… Certamente não vamos perder tempo com julgamentos”. Os fuzilamentos sumários passaram logo a ser norma. Convêm dizer aqui que os cubanos após retomarem a Rádio Nacional, abrem fogo sobre todos os amontoados de população que eventualmente estavam ao lado dos revoltosos e, acto contínuo retomam o controlo das cadeias.
Mila Coelho, mulher de Rui Coelho fuzilado a 2 de Junho de 77 e, que na altura era chefe do gabinete do Primeiro-Ministro Lopo do Nascimento, conta assim: “Esperava Rui, vindo de Argélia e a 1 de Junho com a tragédia do 27 a decorrer, notei nele muita intranquilidade. No dia seguinte, dois de Junho, vieram buscar-nos a casa”.
“Dois soldados armados de metralhadora, exigiram que fôssemos com eles. Levaram-nos para o Ministério da Administração Interna aonde permanecemos toda a tarde, sentados em um banco corrido. Nessas horas falamos pouco; estávamos horrivelmente destroçados.
Era já noite quando nos foram buscar; meteram-nos num cubículo escuro. Pela madrugada levaram-nos para a Cadeia de S. Paulo. A separação de homens para um lado, mulheres para o outro afastou-nos definitivamente um do outro para nunca mais nos virmos”…
Em causa estavam no fundo divergências ideológicas entre Agostinho Neto, adepto de uma via “terceiro mundista” para Angola, com características semelhantes à argelina, e Nito Alves, advogado da ortodoxia soviética. Em Angola não podia haver contra revolução popular e, por isso, Neto, o presidente poeta, foi irredutível: “Não haverá perdão para quem penssasse de forma diferente da linha oficial do MPLA”.
Apesar da dimensão do massacre, o tema é tabu, explica José Milhazes: “É que alguns dos intervenientes ainda estão no poder. Quero recordar que o presidente José Eduardo dos Santos, naquela altura, era já um membro da direcção do MPLA e que participou directamente no conflito”, lembra o comentador e historiador português.
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
(Continua…)
O Soba T´Chingange
NAS FRINCHAS DO TEMPO
"LUANDA NOS TEMPOS DE DIPANDA*“ - Crónica 3573 – 30.04.2024
“FRACCIONISTAS DO MPLA – O 27 DE MAIO DE 1977” - Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji) – O NIASSALÊS em Lagoa do M´Puto
Cumcamano, disse eu depois de dizer um chorrilho de grossas asneiras ao pisar bosta de elefante já meia desfeita; assim era este paradisíaco sítio cheio de coisas “good” e, logo a seguir às cubatas feitas de barro e capim entalado em chinguiços. Paus tortos na vertical atados a mateba em outros paus tortos horizontais. Com dois por dois metros, dei-me a matutar de como caberia ali um par de gente sem ficar com os pés de fora.
Era só mesmo para dormir; as outras divisões eram um amplo mato a seguir à clareira avermelhada. Para ir ao cagadoiro, era só seguir o carreiro que levava ao buraco. Saltando um pouco no tempo sem definir datas ou horas exactas, o chefe Miranda referia algumas agruras do mato do Calai, Dírico e Mucusso, posturas antigas nunca esquecidas, a querer relembrar as surucucus de Angola, um pensamento, da sua fuga…
Neste meio tempo de reestruturação da UNITA e construção da JAMBA, vamos desviar a atenção para a Capital Luanda aonde Agostinho Neto se vê em apuros com um suposto golpe de estado. O golpe que ficou conhecido como o Fraccionismo, teve uma data a memorizar esses eventos: - O 27 de Maio!. Quatro homens do MPLA lideram um suposto golpe de Estado contra Agostinho Neto.
Esses homens foram: Bernardo Alves (Nito), Jacob Caetano (Monstro Imortal), José Van-Dunem e o comandante Bakaloff. Situando-nos a 27 de Maio de 1977 e, após as insistências da URSS a Agostinho Neto a fim de aderir ao marxismo-Leninismo, veio a consumar-se com a criação do MPLA-PT. Não obstante, Neto continuava uma pedra no sapato do regime soviético, que na altura era chefiado pela “tróica” de Nicolau Podgorni/Kossinguine/Brejnev.
O episódio é conhecido por Revolta dos Fraccionistas - “dos Frac´s” na linguagem popular. Num discurso após o golpe, Neto afirma que por detrás da rebelião, estivera “uma embaixada estrangeira em Angola”. Para os analistas políticos não restaram dúvidas em apontar de forma comedida o embaixador Kalilnini como sendo o autor intelectual do episódio.
Já dominando os pontos chaves na Capital – Luua, como a emissora de rádio, o golpe aborta, mercê da rápida intervenção militar cubana ao lado de Neto. “Monstro imortal”, armado com uma metralhadora, entra no Palácio da Cidade Alta de Luanda, com o propósito de dar ordens de prisão ao presidente angolano; assim não foi, porque Neto, estava no Futungo de Belas…
Monstro Imortal é preso de imediato. Na onda posterior de repressão, são presos, torturados e passados pelas armas na forma sumária, seguindo-se-lhe milhares de pessoas, incluindo os mentores do golpe, depois de serem sujeitos a dolorosa tortura física. Conta-se que a Nito e o Monstro Imortal, lhes foram arrancados os olhos, ainda em vida.
O último relatório da Amnistia Internacional sobre o golpe de 27 de Maio relata o desaparecimento de prisioneiros – “Noite após noite, durante os meses seguintes, ambulâncias e outros veículos saíam da prisão de Luanda e de outras cidades”. Prisioneiros que foram enviados para o campo de reeducação em Calunga -Moxico, afirmariam que muitos outros prisioneiros foram sumariamente executados, morrendo à fome ou simplesmente, foram alvejados ao tentarem fugir…
Nota1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e da revista descartável do semanário Expresso do M´Puto…
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O Soba T´Chingange
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