NAS ADUELAS DO BAÚ
DOS TEMPOS DE DIPANDA * - MEMÓRIAS DE UM GUERRILHEIRO – COM ALCIDES SAKALA
- Crónica 3655 – 09.01.2025
- Escritos boligrafados, aleatoriamente após 1975 e, ou entre os anos de 1999 a 2018 - “Missão Xirikwata”
Por: T´Chingange (Otchingandji)** – O NIASSALÊS em Arazede do M´Puto
Neste hiato de tempo entre o ano de 2000 e os sequentes anos do presente século que entre, durante, e após a morte de Savimbi, deram continuação ao projecto desse líder que sempre o será recordado como um exemplar patriota, não obstante haver desaires em seu percurso. Memorias e escritos de personagens que engrandeceram a UNITA destacando-se como lideres, guerrilheiros, conceituados militares e, ou diplomatas de craveira…
E, relendo memórias de um guerrilheiro de Alcides Sakala posso lembrar: De rio em rio, muxito em muxito, como leões cautelosos, agachando-se por debaixo de espinheiras, espevitavam odores do embaciado ar da manhã. Pé ante pé galgavam mais uns metros penetrando o olhar por entre as copas das árvores, captando helicópteros das Forças Armadas de Angola.
O cerco apertava os guerrilheiros resistentes da UNITA. As descrições dos ouvidos dando conta ao menor estalido de um graveto, ou um chinguiço ressequido partindo o silêncio da mata. Ali, todos os ruídos significam um perpetuar da vida ou a morte. São sobrevivências que nos levam aos rios da salvação nem sempre fáceis de transpor.
Passo às descrições do livro do meu ilustre mano, mais velho na aparência do que na idade verdadeira. Também é a homenagem a um homem que merece ser referenciado, porque ele é parte integrante da história contemporânea de Angola. Foi dele que recebi um galo em madrepérola que orgulhosamente ostentei na lapela.
Do embrulho atado em meu baú com entrançadas e improvisórias matebas releio de novo partes do livro: “...Para nossa surpresa a delegação do Governo era dirigida pelo General Implacável. Mesmo assim, o ambiente manteve-se calmo e distendido. O facto de ter sido o General implacável a dirigir a delegação das FAA distendeu ainda mais o ambiente.
Estávamos sentados, frente a frente, em uma mesa construída de paus frescos, com a delegação do Governo de Angola. Vinham bem vestidos, fardados a rigor e com bom aspecto físico, luzidios e perfumados. Alguns gordos demais para as circunstâncias. Era um contraste físico extraordinário. Mas, mais do que o aspecto físico, o mais importante era o simbolismo político desse acto. Os nossos corpos falavam por si e transpareciam a dura realidade das dificuldades em que vivem os guerrilheiros.
Tinhamos os corpos debilitados mas uma inteligência esmerada e vigilante para a defesa dos nossos legítimos interesses. Divididos por essa longa e difícil guerra fratricida, resultante de um nacionalismo fracturado, acirrado pela Guerra Fria, selávamos com o governo do MPLA, nas margens do rio Luconha, uma nova parceria, como aliados para a construção da paz e da reconciliação nacional.
Ficavam, assim, para trás, os nossos mortos, os heróis da resistência de Angola, os protagonistas da grande epopeia de combate pela conquista da liberdade e da democracia, entre os quais o timoneiro da Revolução dos pobres de Angola, Jonas Malheiro Savimbi, Presidente Fundador da UNITA, tombado heroicamente nas matas do leste no dia 22 de Fevereiro de 2002.
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Nota 1: *Dipanda é o somatório das coisas positivas e negativas que ocorreram antes e, durante os longos anos da crise Angolana e, na diáspora de angolanos espalhados pelo mundo.
Nota 2: **Texto elaborado a partir das anotações do baú de T´Chingange e, do livro de Alides Sakala
(Continua...)
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