"O REENCONTRO EM WASHINGTON"- JANUÁRIO PIETER*
Amendoeira de orixás
Amendoeira mediterrânica
Eu e Januário deslocamo-nos até uma esplanada e, já comodamente sentados à sombra de uma grande amendoeira de orixás (figueira da Índia) detivemo-nos a apreciar por algum tempo a robustez e os figos carnudos caídos no passeio; em pequeno comia disto em Luanda, no Parque Heróis de Chaves que agora deve ter outro nome, disse eu; assim que saíamos da escola pulávamos como macacos a buscar os frutos mais amarelos e polpa rachada, porque eram os mais gostosos. Após este entretêm de ocasião lancei a pergunta a Pieter: - Mas afinal o que vieste fazer aqui a Washington, num país que nasceu muito depois de ti? O que é que isto tem a ver contigo e teus mussendos? Em resposta, referiu algo de interesse que desconhecia: -Vim festejar a festa do "Gigante da Revolução Americana", um português que para aqui veio trazido pelos piratas em criança e que depois se tornou um herói americano. Como é isso?! Retorqui confuso por tal descrição, acrescentando: - O que é que isso tem a ver contigo? Malembe-malembe. Eu explico e, disse Pieter:
Peter o Hércules da Virgínia
-É isso que ouviste,... Um meu descendente foi raptado por piratas na Ilha Terceira dos Açores no lugar de Porto Judeu, muito perto do Ilhéu das Cabras tendo sido largado não se sabe bem do porquê no porto de City Point na Virgínia com a idade de cinco anos; aquele meu descendente tornou-se um gigante em bravura de lutas posteriores e veio daí a ser conhecido pelo "Hércules da Virgínia" em missões de batalha ao comando de George Washington. Este gigante com mais de dois metros e 120 quilos de peso fez a diferença na tomada dum bastião e estandarte na batalhade Stony Point no ano de 1779. Este feito, faz a viragem da guerra a favor dos homens de Washington perante os Ingleses. Peter, destaca-se por sua valentia entregando a bandeira do inimigo a George Washington, a mesma que proporcionou o simbolismo da independência dos Estados Unidos. George Washington consagrou-o o "maior soldado da América" posteriormente no ano de 1781 salientando: "Sem ele teriamos perdido duas batalhas cruciais, talvez a guerra, e com ela a nossa independência".
Este cidadão é homenageado em New Bedford da Virgínia pela comunidade portuguesa a 15 de Março e eu estou aqui como miondona para assistir a essa festa. Ouvi com toda a atenção o que esta kianda mais velha que a Muxima me disse e não me contentei com este sumário de vida pelo que exigi mais detalhes. A história é um pouco longa e confunde-se agora como uma lenda. O que te posso dizer por agora é que aquele catraio abandonado no porto é recordado por um comerciante de então como sendo uma criança que falava uma língua diferente, assim parecida como o Castelhano. Parecia ser filho de gente abastada pela roupa europeia que vestia e também por ter nas fivelas dos sapatos as letras P.F. Foi acolhido pelo Juiz Anthony Winston que o recrutou para uma sua plantação de algodão. Por ter a pele escura, o capataz da plantação colocou-o quando já homem, a trabalhar junto dos escravos aonde veio a destacar-se como o melhor dos ferreiros. A noite ia caindo; o resto da história, com pena minha iria ficar para outro dia e, foi marcando novo encontro para o espelho de água da Rotunda que fiquei de escutar o resto da história. Ao se afastar, disse-me: - Não te apoquentes por mim, porque tenho todo o tempo do mundo e,.. assim se foi envolto num cacimbo nebuloso. Fiquei a admirá-lo no seu andar "chambeco", chutando o ar, ondulando sabedoria acumulada.
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*Januário Pieter:- Um personagem amigo, um sábio que me assiste e complementa conhecimentos...Um fantasma feito guia Kalunga; o homem que nasce da morte metaforizada com mais de 300 anos (386 anos para ser exacto - Ver crónica de Kwanza e os Mafulos de 22de Julho de 2009).
Glossário: - mussendo: estória contada com foro de lenda ou imaginada; não faz história com h mas, baseia-se nela para descrever ocorrências do tempo em que não havia escrita; a fala do povo era contada em mussendos à sombra da mulembeira, ideias deambulantes da cabeça de cada um, mais velho; pelo kota de respeito que tem sabedoria porque constrói arco-Íris. Aquela era a biblioteca de então; malembe-malembe: - devagar, devagarinho; nas calmas meu; miondona: - espírito tutelar convocado para as encruzilhadas, os eventos de maior gabarito.
(Continua...)
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