FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
LENDAS DO INTERIOR BRASILEIRO
Mandacaru em flôr
O Vaqueiro Misterioso
O sol do sertão queima o solo sem piedade. Mandacarus (cactos) resistem imponentes, tornando-se o único verde no meio de toda a caatinga. Neste cenário agreste, aparece a figura misteriosa de um vaqueiro surgindo do nada; ao longe, de imagem quebrada no ondulado da quentura, vem o retrato do sertão cortando o desespero, trajando vestes rotas, chapéu cambaio sobre o rosto tisnado. Montando sua égua esquálida, traz um ar de cansaço, sôfrego de sem esperança, como mais um valente dos resistentes. Quando surge no horizonte, o Vaqueiro Misterioso é a própria visão do apocalipse. Conforme se aproxima dos povoados sertanejos ou das fazendas, a imagem do vaqueiro retêm-nos na retina seu semblante trôpego de gestos lerdos. A sua égua dantesca, no inferno da seca, a mais valente das bestas, partilha consigo o perfil do indomável corisco. O Vaqueiro Misterioso emprega-se como ganhão pelas fazendas, tornando-se no mais hábil na lida, e a força de meia dúzia de homens. Embrenhando-se na caatinga atrás do gado fugitivo, traz no laço quantos se lhe deparam, sem dar mostras de fadiga. Tão logo, encerrada a tarefa, recebe a paga e parte sem destino, deixando frustrados os fazendeiros que tudo dariam para mantê-lo ao seu serviço, pois sabem, igual a ele não existe homem igual no sertão.
O Vaqueiro misterioso
Mas, quem era aquele vaqueiro? De onde vinha? Para onde vai? Ninguém sabe ao certo. Por isto é chamada de Vaqueiro Misterioso. Tão afamada é esta figura, que os violeiros, repentistas do sertão cantam o seu “DNA” nas praças dos vilarejos, ilustrando suas façanhas na literatura de cordel, místicas de feiras. Finalizada a separação do gado, o nordeste ilumina-se para a sua festa mais tradicional, a vaquejada. Homens viris mostram o canto triste de vaqueiro, a que chamam de aboio. Após o som dos aboios, dá-se início à vaquejada. Quando os animais são soltos, surge do nada, o Vaqueiro Misterioso, como um corisco ou zorro. Surge intrépido montado na sua égua branca. De repente reluz apenas a sua brava imagem, a derrubar pela cauda, os mais possantes bois. Seu corpo trespassando a gravidade, como voando no galope do vento, põe no chão o mais feroz dos marruás. Sua sombra entrelaça-se ao corpo, no enfrentar do mais bravo dos bois, pondo-lhe o tapa-olhos, fazendo-o balir como um cordeirinho manso. Aos aplausos, o Vaqueiro Misterioso encerra a sua actuação. É o grande herói da festa. Sobe ao palanque, onde recebe a fita amarela com selo garrido de campeão, cruzando seu tronco. Humildemente sorri, e acto contínuo, joga a fita à mais bela das donzelas que por ele suspira.
O cowboy do sertão
Todas elas se debatem para ficar com a fita de tão viril herói; muitas delas, entregariam a ele o seu coração, mas a todas o misterioso andarilho ignora. Após ser aclamado por todos, come e bebe como nenhum outro é capaz. Canta ao lado dos violeiros partilhando com todos a sua fugaz alegria. Após o rega-bofe, prepara sua égua e parte, assim como veio, se vai distanciando no horizonte. Atrás de si, gritando, perguntam-lhe pelo nome. Não responde. Ninguém sabe nem ficará a saber. Era o Vaqueiro Misterioso, que desaparece no meio da caatinga, carente de chuva. Ainda guardo um pouco de carne seca, daquela que ele portava em sua bolsa de couro que trazia presa à cintura. Foi nesse então que me disse chamar-se Cícero. Foi dele que extrai estórias de Lampião, um herói sempre presente em suas andanças. Prometi encontro com ele em Juazeiro do Norte, mas não tenho certeza absoluta desse encontro.
Mussendo: Conto de raiz popular, do Kimbundo de Angola
Referência bibliográfica. Jeocaz Lee-Meddi - Adaptação livre de para textos de Brasil, Histórias
(Continua…)
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