FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“Tempo de pererecas“
Lá fora chove desabridamente fazendo balançar os dois espanta-espíritos, o vento assobia na direcção do agreste encapelando ondas de assustar, só de ouvir a zoada do mar cercano para lá do coqueiral, da calema espumando raiva, talvez. Os mistérios do mundo são mais que muitos; mesmo com tantas usuras e ganâncias, os maus da fita ainda não conseguiram empacotar o sol p´ra vender como droga; entretanto o gretado do terreno vai ficando lamacento e as pererecas já se fazem ouvir com sua rouca coaxaria. Adicionando vida aos meus anos e, à maneira dos cronistas Fernão Lopes, ou Zurara reconstruo a minúcia duma trapalhada vida, do tempo em que era a religião que mantinha as gentes unidas a uma mesma fé, que por crença ou medo, acabou por moderar os excessos ainda assim cometidos, limitando a violência e impedindo que vários senhores nos destruíssem por completo. Sobre os restos do império Romano, bárbaros, godos e muçulmanos, construíram a Europa que por domínios senhoriais e organizações eclesiásticas levaram os cristãos à confissão e à comunhão pascal. O mundo rola indiferente às crises dos governos, às gripes cíclicas, os erros repetem-se com novas formas e outros conceitos, das leis feitas em consenso com interesses nem sempre claros ou excessivamente obscuros.
Com o tempo assim taciturnado conferi minhas agruras com Januário Pieter* queixando-me de suas tropelias e desmandadas brincadeiras recordando-lhe que agora os tempos são outros, temos fraldas descartáveis, viagens rápidas e descartáveis rapidinhas por falta de tempo, fragmentado em minutos e segundos de descaradas ousadias numa orgia vulgarizada, daquelas em que o amor se confunde no sexo, acto do ato, com uma febre que arde sem se ver. No meio de tantas contradições hodiernas, Januário aquietou-me falando de coisas tão antigas que já ninguém fala e, dei-lhe largas. Meu amigo T´Chingange, foi lá para trás, no ano de 1215 no Quarto Concílio de Latrão o décimo segundo ecuménico, com o Sumo-pontífece Inocêncio III que condenou o Catarismo, impôs a obrigação da assistência à missa pascal obrigando os cristãos à confissão e comunhão pascal que tu falaste. Tento seguir o “liber de conservanda sanitate” de Januário; sinto por zelo ter de ouvi-lo por devoção a N´Zambi, nosso alto magistrado de desresolvidas contendas. Respeitosamente pedi a Januário que pulasse mais à frente desses profilácticos anos de antanho.
Rua em Albaicín - Granada
Bem, correndo no tempo como pedes, posso dizer-te que Tariq Ibu Ziad invadiu a Ibéria com o seu exército de berberes e expulsou os visigodos de quem vós, portugas, descendeis. Têm a tolerância dos Almorávidas que nos dominaram até o nascimento de Portugal. Pieter conseguia despertar em mim um estranho interesse por esse tempo de califas; dos mouros que nesse então eram tão cultos e tolerantes. Estou a lembrar-me de Alhambra no reino de Granada seu bairro de Albaicín e dos jardins da Generalife, uma ilha de mouros entre cristãos que sobreviveram às suas ofensivas durante mais de dois séculos; Muhammed Ibn Nasr foi o seu grande califa e, sua marca perdurou. Muitos de vós tendes sangue muçulmano, sois mestiços do tempo misturados de visigodos com mouros e escravos africanos com arianos da mais fina estirpe. Ninguém pode seguramente afirmar como Hitler. – Eu, sou um puro ariano.
(Continua…)
*Januário Pieter:- Um personagem amigo, um sábio que me assiste e complementa conhecimentos...Um fantasma feito guia Kalunga; o homem que nasce da morte metaforizada com mais de 300 anos.
O Soba T´Chingange
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