FÁBRICA DE LETRAS DO KIMBO
“O elefante de Maximiliano“
D. João III ofereceu ao arquiduque da Áustria, seu primo Maximiliano II, um elefante asiático oriundo da Índia. Estava-se em pleno século XVI e o paquiderme empreendeu uma viagem que do Oriente o trouxe a Lisboa e de Lisboa o levou a Salsburg. Empreendeu um percurso que “é uma metáfora da vida humana” descrita por José Saramago em seu livro “ Viagem do Elefante”. Trata-se de um conto vulgar com uma notória lacuna: O amor! A O paquiderme nesse percurso longo, não teve o ensejo de topar com uma elefanta, que a acontecer originaria uma invulgar estória de amor e quanta ternura não seria bom observar ver as trombas de ambos carinhosamente enroladas em um laço fraternal. Tentei averiguar junto do meu grande amigo Januário Pieter, estacionado algures em incerta parte, privilégio de uma kalunga e, lá pela nonagésima vez o tele-móvel deu resposta do outro lado. Admirou-se desta minha chamada, não escondendo o desagrado com a minha pessoa tão desavinda em suas obediências.
Maximiliano II
Por ser um assunto tão antigo, “os dados históricos eram escassos “ mas Januário foi peremptório de que o dito monstro de bicho passou por Valladolid onde o arquiduque Maximiliano era desde algum tempo regente. O elefante teria embarcado num porto da Catalunha, mais propriamente em Tarragona seguindo por mar até Génova; dali seguiu à pata até Salsburg passando por Verona, Trento e Insbruk; antes de chegar a Salsburg teve de passar por terras da Germânia aonde se deu um incidente diplomático na fronteira num sítio chamado de kiefersfelden. A razão de ter sido aqui, foi porque era mais apropriado levar o bicho por terras planas e à guarda de rebeldes descendentes da ordem dos templários; Não obstante a ordem destes frades, cavaleiros guerreiros ter sido extinta em 1312 pelo papa Clemente, seus descendentes relegados pela sociedade fizeram modo de vida acompanhar os cristãos que peregrinavam para Jerusalém e Santiago de Compostela. Este caminho que era vigiado por forças regulares à ordem do próprio papa viu-se com o dilema de autorizar a passar por aquelas terras tão desconhecido animal; isto requereria autorização do Papa Paolo III que entretanto pela Bula "Regimini Militantis Ecclesiae", tinha criado a Companhia de Jesus. Esta nova Ordem não tinha instruções explícitas para o trânsito de mercadorias ou bichezas tão estranhas como esta.
Absorvido por estes conhecimentos de Januário Pieter, estupefeito com tamanha base de dados, pedi à kalunga que abreviasse. Olha, disse ele retomando a palavra: para que possas entender tudo o que se passou torna-se necessário dizer-te que parte dos militares, besteiros, arcabuzeiros e lanceiros que levavam o animal eram judeus voluntários que aproveitaram tal tarefa para fugir à perseguição que se fazia sentir em terras da Lusa ibéria. D.João III tinha introduzido ainquisição em Portugal em 1536, obrigando à fuga muitos mercadores judeus e cristãos-novos. Após dias de acantonados num arraial de fronteira com averiguações inconclusivas acerca dos inquiridos e após o pronunciamento de um kimbanda médico especialista em animais feras e afins, lá chegou a ordem de Paolo III. Já em Salsburg, o pobre do animal talvez por nostálgico frio, acabou por defuntar-se passado um ano. Seu cipaio tratador, um malaio de olhar vesgo e andar chambeta regressou ao reino seguindo em uma chalupa a partir de Veneza e já em Lisbona seguiu em uma nau a caminho da sua Índia, os demais tropas de milícia sendo judeus de raça e casta ficaram por lá naquela fria e austera Austria com excepção do mestre de Besteiros que regressando a Belmonte da Serra da Estrela, fez o relato da aventura e, o almoxarife das serventias que acabou por se tornar um rico comerciante de pimenta e demais especiarias na cidade de Diu, lá na índia aonde se tornou grande amigo de João de Meneses, Alcaide-mor de Albufeira, capitão de Tânger e 14º Vice-rei da Índia. Ao elefante, esfolaram-no, tendo feito das patas recipientes para pôr guarda-chuvas ou bengalas, ficando duas delas nos aposentos do representante cardinalício como cuspideiras. Triste destino! Aquelas patas que o sustentaram durante milhares de quilómetros são transformadas em objectos, ainda por cima de mau gosto - no fundo, é a vida de todos nós. Desejando boas luzernas ao meu prócere kianda, despedi-me meio macambúzio, pensativo.
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